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1 Sumário 1. NOÇÕES HISTÓRICAS ....................................................................................... 2 2. CONCEITO ........................................................................................................... 3 3. DIREITO PENAL MILITAR E DIREITO PROCESSUAL PENAL MILITAR ........... 4 4. CARÁTER ESPECIAL DO DIREITO PENAL MILITAR......................................... 5 5. COMENTÁRIOS AO CPM .................................................................................... 6 6. PREVISÃO CONSTITUCIONAL ........................................................................... 8 7. LEI SUPRESSIVA DE INCRIMINAÇÃO ............................................................... 9 8. MEDIDAS DE SEGURANÇA .............................................................................. 15 9. LEI EXCEPCIONAL OU TEMPORÁRIA ............................................................. 16 10. TEMPO DO CRIME ......................................................................................... 17 11. LUGAR DO CRIME ......................................................................................... 18 12. TERRITIRIALIDADE – EXTRATERRITORIALIDADE ..................................... 19 REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 21 2 1. NOÇÕES HISTÓRICAS Fontes: 1.bp.blogspot.com Evidências históricas permitem deduzir que alguns povos civilizados da antiguidade, como Índia, Atenas, Pérsia, Macedônia e Cartago, conheciam a existência de certos delitos militares e seus agentes eram julgados pelos próprios militares, especialmente em tempo de guerra. Mas foi em Roma que o Direito Penal Militar adquiriu vida própria considerado como instituição jurídica. As origens históricas do Direito Penal Militar, como de qualquer ramo do Direito, são, principalmente, as que nos oferecem os romanos. A política foi sempre dominar os povos antes de tudo pela força das armas e depois consolidar a conquista pela Justiça das leis e sabedoria das instituições. Teve, assim, o exército romano o seu Direito Criminal. Para as faltas graves da disciplina, o Tribuno convocava o Conselho de Guerra, julgava o delinquente e o condenava a bastonadas. Esta pena às vezes era aplicada com tal rigor que 3 acarretava a perda da vida do condenado. Tais penas estavam ligadas a certos crimes e atos de covardia. Nós também copiamos essa aflição física dos romanos, com a triste reminiscência no art. 184 do Regulamento de 20 Fev 1708 e o castigo corporal no Brasil somente foi abolido, inicialmente pelo Exército por meio da Lei n.º 2.556, de 26 Set 1874, art. 8º e, na Marinha (Armada), pelo Decreto n.º 3, de 16 Nov de 1889, art.2º. Fonte: www.pilotopolicial.com.br 2. CONCEITO Fonte: 3.bp.blogspot.com 4 “É o complexo de normas jurídicas destinadas a assegurar a realização dos fins das instituições militares, cujo principal é a defesa armada da Pátria”. A preservação dessa ordem jurídica militar, aonde preponderam a hierarquia e a disciplina, exige obviamente do Estado, mirando a seus possíveis violadores, um elenco de sanções de naturezas diversas, de acordo com os diferentes bens tutelados: administrativas (disciplinares), civis e penais. As penais surgem com o Direito Penal Militar. 3. Direito Penal Militar e Direito Processual Penal Militar Fonte: 1.bp.blogspot.com 5 As normas de Direito Penal Militar são conhecidas como de direito penal material ou substantivo e as de Direito Processual Penal Militar como de direito penal formal ou adjetivo, ou, simplesmente, de direito processual. As normas de Direito Penal Militar são as reunidas no Código Penal Militar (CPM) e as de Direito Processual Penal Militar, no Código Processual Penal Militar (CPPM). O direito material regula as relações entre as pessoas e o direito processual entre as pessoas e o Estado-Juiz. Assim, sempre que tivermos a violação de um direito material aquele que se sentir prejudicado poderá buscar do Estado-Juiz a chamada prestação jurisdicional, ou seja, o processo e o julgamento daquele que violou a norma de direito material e com a sua conduta causou-lhe um dano ou prejuízo. 4. Caráter especial do Direito Penal Militar. Fonte: 3.bp.blogspot.com O Direito Penal Militar é um direito penal especial, porque a maioria de suas normas, diversamente das de direito penal comum, destinadas a todos os cidadãos, 6 se aplicam, exclusivamente, aos militares, que têm especiais deveres para com o Estado, indispensáveis à sua defesa armada e à existência de suas instituições militares. Esse caráter especial, ainda, advém de a Constituição Federal atribuir com exclusividade aos órgãos da Justiça Castrense (art. 122, CF/88) o processo e o julgamento dos crimes militares definidos em lei. Há, como exceção a esta regra, o processo e o julgamento dos crimes dolosos contra a vida praticados por militar contra civil, os quais por força da Lei n.º 9.299/96 são da competência da Justiça Comum. Assim, tais fatos continuam possuindo a classificação de crime militar, e, portando, devem ser apurados por meio de IPM, contudo será a Justiça Comum e não a Auditoria Militar, no âmbito do estado, a competente para o processo e o julgamento de tais crimes. 5. COMENTÁRIOS AO CPM PRINCÍPIO DA LEGALIDADE “Art. 1º - Não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prévia cominação legal.” Conceito O artigo em questão estabelece o chamado princípio da legalidade, com correspondência integral no art. 1º do Código Penal Comum. 7 É o princípio das Reserva Legal, embasado na máxima de Feuerbach, Nullum Crimen, Nulla Poena, Sine Praevia Lege, originário da remota Magna Carta de 1215, imposta pelos barões ingleses ao rei João Sem Terra. Para MIRABETE, entretanto, a causa próxima do princípio da legalidade está no Iluminismo (Séc. XVIII), tendo sido incluído no art. 8º da Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, de 26.08.1789, nos seguintes termos: “Ninguém pode ser punido se não for em virtude de uma lei previamente estabelecida e promulgada anteriormente ao delito e legalmente aplicada”. No Brasil, foi inscrito na Constituição de 1824 e repetido em todas as Cartas Constitucionais subsequentes. O Princípio da Legalidade que estrutura o art. 1º do Código Penal Militar de 1969, também incluso o texto do Código Penal comum de 1969, antepara e protege a liberdade individual do Militar e do cidadão, contra a prepotência do estatólatra (Ramagem BADARÓ). As palavras crime, pena e lei, como lembra DELMANTO, têm sentido amplo neste artigo. “Assim, a expressão crime compreende também as contravenções e, a palavra pena inclui as mais diversas restrições de caráter penal (penas privativas de liberdade, restritivas de direito, penas de multa que são conversíveis em detentivas etc.), como lei devem ser entendidas todas as normas de natureza penal, elaboradas na forma que a Constituição prevê, abrangendo não só as do CP como as das demais leis penais especiais”. Cabe salientar que a pena de multa não está prevista atualmente para os crimes militares. Já por ocasião dos estudos da Comissão elaboradora do CPM de 1944, a pena de multa foi julgada inadequada aos crimes militares, contra o voto do eminente Desembargador Sílvio Martins Teixeira, que a acolhia, por entender que a mesma já estava prevista em várias leis militares. 8 6. Previsão Constitucional O princípio da legalidade ou da reserva legalestá prevista na carta Magna, art. 5º, inc. XXXIX. Sílvio Martins TEIXEIRA lembrava que “na Doutrina do nacional – socialismo, ou autoritária, o Estado não podia tolerar que o indivíduo empregasse impunemente suas forças e capacidades contra a conservação e o desenvolvimento da coletividade, abroquelando-se no texto da lei, sem lhe respeitar as intenções”. E prosseguia dizendo que, “de acordo com esse critério, no memorial prussiano, foi declarado ser imprescindível conceder-se ao juiz a faculdade de preencher, em certos limites, as lacunas da lei”. Com esses argumentos, a Comissão incumbida da elaboração do projeto nazista formulou, na segunda leitura, o seguinte dispositivo: Incorre em pena quem pratica um fato que a lei declara punível, ou quem, segundo o conceito de uma lei e a sã maneira de ver de um povo, merece punição. Se ao fato não foi imediatamente aplicável nenhuma lei penal, será ele punido de acordo com a lei cuja ideia fundamental melhor se adapte. Conclui-se, portanto, na esteira de DELMANTO, que do enunciado do art. 1º do Código Penal Militar resultam duas regras fundamentais: A da Reserva Legal (ou da Legalidade), visto que somente a lei, elaborada na forma que a Constituição permite, pode determinar o que é crime e indicar a pena cabível. Lei Federal, elaborada de acordo com o processo legislativo discriminado a partir do art. 59, e seguintes, da Constituição Federal. A da anterioridade. Para que qualquer fato possa ser considerado crime, é indispensável que a vigência da lei que o define como tal seja anterior ao próprio fato, assim como a cominação da pena. Corolário das regras acima, impõe-se ainda: A irretroatividade, pois considerando-se serem as leis editadas para o futuro, as normas penais não podem volver ao passado, salvo se para beneficiar o agente (CF/88, art. 5º, XL). 9 A taxatividade, visto que as leis que definem os critérios devem ser precisas, marcando exatamente a conduta que objetivam punir, não se aceitando leis vagas ou imprecisas, nem o emprego, pelo juiz, da analogia ou interpretação extensiva para incriminar algum fato ou tornar mais severa sua puniç 7. LEI SUPRESSIVA DE INCRIMINAÇÃO Art. 2º - Ninguém pode ser punido por fato que lei posterior deixa de considerar crime, cessando, em virtude dela, a própria vigência de sentença condenatória irrecorrível, salvo quando aos efeitos de natureza civil. Retroatividade de lei mais benigna § 1º - A lei posterior que, de qualquer outro modo, favorece o agente, aplica- se retroativamente, ainda quando já tenha sobrevindo sentença condenatória irrecorrível. Apuração da maior benignidade § 2º - Para se reconhecer qual a mais favorável, a lei posterior e a anterior, devem ser consideradas separadamente, cada qual no conjunto de suas normas aplicáveis ao fato. Remissão O Código Penal comum tem disposição idêntica no caput do art. 2º. Seu parágrafo único, trazido a lume pela Lei 7.209/84, tornou incontestável que a retroatividade benéfica não sofre limitação alguma, tem redação similar ao § 1º do CPM, mudando apenas a parte final do dispositivo que, neste, trata da sentença condenatória irrecorrível e, naquele, trata da sentença condenatória transitada em julgado, o que nos parece, data venia, ter o mesmo sentido. 10 O Código Penal Militar revogado (Dec.-lei 6.227, de 24.01.44), tinha disposição idêntica no art. 2º, caput, e o seu parágrafo único, na mesma esteira do CP/1940 que mandava aplicar – apenas ao fato não julgado definitivamente – a lei posterior que favorece o agente sem suprimir crime ou atenuar a pena. Noção Fonte: staticsp.atualidadesdodireito.com.br/ Em sentido amplo, o art. 2º do Código Penal Militar consagra o princípio Tempus Regit Actum, o que está em perfeita harmonia com a garantia da reserva legal (CF, art. 5º, XL e XLI). Ou seja, a lei rege os atos praticados durante sua vigência. Especialmente, trata o referido art. 2º do CPM da Abolitio Criminis, que é a supressão da figura criminosa, entendendo o legislador que a ação antes prevista como delituosa, não é mais idônea a ferir o bem jurídico que pretende tutelar. Ora, com a descriminação do fato, não tem mais sentido o prosseguimento da execução da pena, nem a mantença das sequelas penais da sentença. DELMANTO explica que caso seja aprovado e entre em vigor projeto de lei que extingue o crime de adultério, tal ato deixaria de existir como crime. 11 O Código Penal Militar, da mesma maneira que o Código Penal, dispõe ser possível a retroatividade e a ultratividade da lei. Hipóteses de conflito de leis penais no tempo Novatio Legis Incriminadora: A Lei nova torna típico fato anteriormente não incriminado. Por força da garantia do art. 5º, XL – CF, tal Lei não pode ser aplicada aos fatos a ela anteriores. Abolitio Criminis: (CPM, art. 2º) – A abolitio criminis faz desaparecer o delito e seus reflexos penais, permanecendo, entretanto, os civis. A obrigação de reparação, que tem previsão no art. 159 do Código Civil, para aquele que, por ação ou omissão ou culpa, causa dano a outrem, fundamenta-se no diploma penal castrense, no art. 109, I, que “torna certa a obrigação de reparar danos resultante do crime”. A Abolitio Criminis é uma das causas de extinção de punibilidade prevista no art. 123, inc. III. Novatio Legis in Pejus: A terceira hipótese refere-se à Lei nova mais grave que a anterior (Lex Gravior). Vige, no caso, o princípio da irretroatividade da Lei Penal mais severa. Exemplo: Lei 9.839, de 27.12.99, que passou a impedir a aplicação da Lei 9.099/95 (que criou os Juizados Especiais Criminais) na Justiça Militar e, de sequência, afastou do âmbito da Justiça castrense os institutos despenalizadores da suspensão condicional do processo e da exigência de representação do ofendido nas lesões corporais de natureza leve e nas culposas. Novatio Legis in Mellius: A última hipótese é de Lei nova mais favorável que a anterior. 12 Além da Abolitio Criminis, a lei nova pode favorecer o agente de várias maneiras, seja cominando pena mais branda em qualidade (detenção, em vez de reclusão), ou quantidade (de um a quatro anos, em vez de dois a oito), eliminando circunstâncias qualificadas ou agravantes previstas anteriormente etc. Sílvio Martins TEIXEIRA lecionava que: de diversas formas pode uma nova Lei beneficiar o agente de um crime. Assim por exemplo: o fato não é mais considerado crime, passando a ser classificado como contravenção ou deixando de ser punido; circunstâncias perdem o caráter de agravantes; são admitidas outras excusativas de responsabilidade ou novas justificativas dos fatos considerados crimes, é diminuído o prazo para a prescrição. Competência para aplicação da lei nova DELMANTO enumera duas hipóteses a considerar para a aplicação da lei nova, dependendo de já ter sido ou não julgado o caso em definitivo. 1ª Hipótese: Se a condenação já transitou em julgado, a aplicação da lei posterior compete ao juiz da execução. Em se tratando de crime militar, a execução da sentença e os incidentes de execução devem ser resolvidos pelo Juiz-Auditor da Auditoria por onde correu o processo ou, nos casos de competência originária do Superior Tribunal Militar, pelo seu Presidente, nos termos dos arts. 588 e590 do Código Penal Militar. Ao preso provisório ou condenado da JUSTIÇA MILITAR, aplicar-se-ão igualmente a disposições da Lei 7.210, de 11/07/74, Lei de Execução Penal, quando recolhido a estabelecimento sujeito à jurisdição originária, nos termos do parágrafo único do seu art. 2º. 13 JurisprudênciaSúmula 611, STF: “Transitada em julgado a sentença condenatória, compete ao juízo das execuções a aplicação da lei mais benigna”. Precedentes no STF: RTJ 85/786,RT 87/447 E 1.067; 88/1.082 E 1.098, 90/451, 92/881, 90/881, 94/564, 95/758 (MIRABETE, Manual 1989:70). Maurício KUEHNE apresenta as seguintes decisões: Execução Penal: Réu condenado pela Justiça Militar por crime de roubo a estabelecimento bancário. Competência do Juízo da Execução Penal – o suscitado – para prosseguir na execução (STJ – CC 7.309-SP – J. em 27.03.89, DJU 16.03.90, p. 3.075) Conflito de competência. Execução da pena. Juízo competente. 1. Os sentenciados recolhidos a estabelecimento penal sujeito à administração estadual, ainda que condenados pela Justiça Eleitoral, Militar ou Federal, terão suas penas executadas pelo Juízo de execução comum do Estado. Penal Militar. Execução da pena. Fonte: www.patosnoticias.com.br 14 O militar condenado, com sentença transitada em julgado, se cumpre a pena em estabelecimento militar, sujeita-se ao regime ao regime de cumprimento da legislação especial e não à de que trata a Lei de Execuções Penais (LEP, art. 2º, parágrafo único). 2ª Hipótese: Se o processo ainda está em julgamento, dependendo da fase em que se encontrar, caberá ao juiz, ou ao tribunal com que o processo estiver, a aplicação da nova lei. Se for militar federal, ao Juízo de qualquer uma das doze Circunscrições Judiciárias Militares enunciadas pelo art.2º da lei 8.457, de 04.09.92 – Lei da Organização Judiciária Militar da União, ou Superior Tribunal Militar; se MILITAR ESTADUAL, pela Auditoria Militar do seu Estado, ou Tribunal de Justiça. É a conclusão a que se chega à vista dos arts. 124, parágrafo único e art. 125, §§ 3º e 4º da Constituição Federal. Apuração da maior benignidade O Código Penal Militar manda que se considerem a lei posterior e a anterior, separadamente, cada qual no conjunto de suas normas aplicáveis ao fato para definir a de maior benignidade. Segundo Álvaro Mayrinck da Costa: “cabe ao juiz, a análise do caso in concreto, à luz de uma e de outra, visto que pode ocorrer que convenha a aplicação da primeira ainda que em pena mais grave que a segunda que apresenta pena menos severa.” Para DELMANTO, “há casos em que a opção entre a lei nova e a velha só pode ser decidida por uma apreciação subjetiva e não objetiva. Em tais hipóteses, pode-se e deve-se aceitar que o próprio réu, por intermédio do seu defensor, aponte qual das leis aplicáveis lhe parece ser a mais favorável”. 15 Habeas corpus. Exigência de representação nos crimes de lesões corporais leves ou de lesões culposas (Lei 9.099/95, art. 88). Incidência residual no âmbito da Justiça Militar, em face da superveniência da Lei 9.839/99. Consumação da decadência. Extinção da punibilidade. Pedido deferido. São ainda aplicáveis à Justiça Militar, para efeito do que determina o art. 5º da Constituição, os institutos de direito material previstos na Lei 9.099/95, especialmente as medidas despenalizadoras pertinentes à exigência de representação nas hipóteses de lesões corporais leves ou de lesões corporais culposas (art. 88) e à suspensão condicional do processo penal (art.89), desde que os delitos militares tenham sido praticados antes da vigência da Lei 9.839/99. Se o ofendido, no prazo legal, deixa de formular a representação a que se refere o art. 99 da Lei 9.099/95, opera-se, em consequência da sua inércia, a decadência do direito de postular a instauração da persecutio criminis, circunstância esta que enseja o reconhecimento da extinção da punibilidade do agente. A Lei 9.839/99 – que torna inplicável à Justiça Militar a Lei 9.099/95 – não alcança, no que se refere aos institutos de direito material, os crimes militares praticados antes da sua vigência, ainda que o Inquérito Policial Militar ou o processo penal sejam iniciados posteriormente. O sistema constitucional brasileiro impede que se apliquem leis penais supervenientes mais gravosas, como aquela que afastam a existência de causas extintivas da punibilidade, a fatos delituosos cometidos em momento anterior ao da edição da lei mais severa. 8. MEDIDAS DE SEGURANÇA Art. 3º - As medidas de segurança regem-se pela lei vigente ao tempo da sentença, prevalecendo, entretanto, se diversa, a lei vigente ao tempo da execução. O Código 16 Penal Militar em vigor inclui, neste artigo, as medidas de segurança no Título I – Da Aplicação da Lei Penal Militar. Embora haja quem as considere como sanção penal, as medidas de segurança não são penas, não têm o caráter retribuitivo do mal com o mal, não significam repressão pela infração de leis penais vigentes na época em que o fato foi praticado. São medidas necessárias à garantia social e do próprio indivíduo que se torna perigoso. Diferente do crime, que é punido de acordo com a lei vigente na data em que foi cometida a infração, as medidas de segurança nada têm a ver com a lei que existia à época em que o ato foi praticado, pois sendo o seu objetivo a segurança atual, a lei aplicada é a que vigora na data em que é determinada a sentença. Se a lei se modifica depois que foi decretada a medida, mas antes de ser posta em execução, ela será aplicada de acordo com a modificação, ou seja, de acordo com a lei vigente na época em que se executa. Pena é a que o Código relaciona como Principais (art. 55) ou Acessórias (art. 98), não se fazendo menção, nos referidos artigos, às medidas citadas. Por outro lado, quando o código afirma que tais medidas são reguladas pela lei em vigência ao tempo da sentença, ou pela existente no momento da execução, se diferente da anterior, está afirmando que a nova lei retroage, o que é inconcebível, visto que a Constituição Federal, em seu art. 5º, XL, declara taxativamente em termos gerais que a lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar o réu. Logo, a lei vigente ao tempo da sentença só retroagirá se for mais benéfica. 9. LEI EXCEPCIONAL OU TEMPORÁRIA “Art. 4º - A lei excepcional ou temporária, embora decorrido o período da sua duração ou cessadas as circunstâncias que a determinaram, aplica-se ao fato praticado durante sua vigência.” Segundo DELMANTO, o princípio da retroatividade benigna não é aplicável em casos de leis excepcionais ou temporárias. As leis excepcionais são as promulgadas para vigorar em situações ou condições sociais anormais (ex. guerra, estado de sítio, 17 epidemia etc.), tendo sua vigência subordinada à duração da anormalidade que as motivou. Leis temporárias são as que têm tempo de vigência determinado em seus próprios dispositivos. Ambas têm Ultratividade, que é a capacidade de aplicarem-se ao fato cometido sob seu império, ainda que revogado pelo decurso do tempo ou uma vez superado o estado excepcional que as originou. O que possibilita a punição, segundo MIRABETE, é a circunstância de ter sido a conduta praticada durante o prazo de tempo em que ela era exigida e a norma necessária à salvaguarda dos bens expostos naquela ocasião especial. Esta ultratividade visa a frustar o emprego de expedientes tendentes a impedir a imposição de suas sanções a fatos praticados nas proximidades de seu termo final de vigência ou da cessação das circunstâncias excepcionais que a justificaram. 10. TEMPO DO CRIME “Art. 5º - Considera-se praticado o crime no momento da ação ou da omissão, ainda que outro seja o do resultado.” O Código Penal Militar determina o tempo do crime de acordo com a Teoria da Atividade, a qual, segundo MIRABETE, é aquela que o considera como sendo o momento da conduta (ação ou omissão). Assim, teríamos,por exemplo, o momento em que o agente efetua os disparos contra a vítima ou atropela o ofendido (no homicídio doloso ou culposo), ou ilude o ofendido, com manobra a fraudulenta, para obter vantagem ilícita (no estelionato), ou deixa de prestar socorro ao ferido (omissão de socorro), pouco importando a ocasião em que o sujeito passivo venha a morrer, ou o agente obtenha a vantagem indevida etc. O fundamento desta teoria é a de evitar a incongruência de o fato ser considerado crime em decorrência da lei vigente na época do resultado, quando não o era no momento da ação ou omissão. Análise separada merecem os crimes permanentes como a deserção (CPM, art. 187) e o sequestro ou cárcere privado (CPM, art. 225), em que, tanto a ação como a consumação, prolongam-se no tempo enquanto o agente estiver ausente de sua 18 Unidade ou privando a vítima de sua liberdade. Incidindo lei nova mais severa durante o tempo da privação da liberdade ou da ausência do militar, a lex gravior (a lei mais grave) será aplicada, pois o agente ainda está praticando a ação na vigência da lei posterior. Idêntico raciocínio deve ser feito ao crime continuado (CPM, art. 80) quando um ou mais dos delitos componentes forem praticados na vigência da lei posterior mais severa. Como exceção à regra Celso DELMANTO cita a prescrição, que segue normas próprias especiais (CPM, art. 125, §2º). A regra incidirá, entretanto, com relação à redução do prazo prescricional para o agente menor (CPM, art. 129). 11. LUGAR DO CRIME “Art. 6º - Considera-se praticado o fato no lugar onde se desenvolveu a atividade criminosa, no todo ou em parte, e ainda que sob a forma de participação, bem como onde se produziu ou deveria produzir-se o resultado. Nos crimes omissivos, o fato considera-se praticado no lugar em que deveria realizar-se a ação omitida.” Quando a conduta típica (ação ou omissão) e o resultado danoso ocorrem num mesmo lugar, não existem dificuldades na fixação do lugar do crime. Entretanto, nos chamados crimes a distância ou de longa mão, que são as infrações em que a conduta típica se dá em um país e o resultado ocorre em outro, a questão merece análise mais apurada. Por exemplo, A dispara, através da fronteira, contra B, que cai morto no país vizinho; ou C induz D em erro num país, a fim de que este realize em outro, ato de disposição patrimonial prejudicial a seus interesses; ou E se apodera de um avião que sobrevoa o território de um Estado, obrigando seu piloto a variar o rumo e a aterrissá- lo em outro, solicitando, com êxito, o resgate de uma terceira nação. Onde foi cometido o homicídio, o estelionato e o sequestro aéreo, respectivamente em cada um desses casos? 19 Existem três Teorias que podem explicar tais situações: Teoria da Atividade, pela qual lugar do crime é aquele em que se iniciou a execução da conduta típica, que é a posição do nosso Código, em relação aos crimes omissivos, já que considera praticado o fato no lugar em que deveria realizar-se a ação omitida; Teoria do resultado, pela qual lugar do crime é aquele em que se produziu o evento; Teoria da Ubiquidade, pela qual é tido como lugar do crime tanto aquele em que se iniciou sua execução, como aquele em que ocorreu o resultado, que é a posição do nosso Código, em relação aos crimes comissivos. Nos casos dos crimes a distância, envolvendo países diferentes, resulta um conflito de jurisdição, de caráter internacional que será resolvido pelo art. 8º do CPM, que estabelece que a pena cumprida no estrangeiro atenua a pena imposta no Brasil pelo mesmo crime, quando diversas, ou nela é computada, quando idênticas. 12. TERRITIRIALIDADE – EXTRATERRITORIALIDADE “Art. 7º - Aplica-se a lei penal militar, sem prejuízo de convenções, tratados e regras de direito internacional, ao crime cometido, no todo ou em parte, no território nacional ou fora dele, ainda que, neste caso, o agente esteja sendo processado ou tenha sido julgado pela justiça estrangeira. Território nacional por extensão §1º - Para os efeitos da Lei Penal Militar consideram-se como extensão do Território Nacional as aeronaves e os navios brasileiros, onde quer que se encontrem, sob comando militar ou militarmente utilizados ou ocupados por ordem legal de autoridade competente, ainda que de propriedade privada. Ampliação a aeronaves ou navios estrangeiros 20 §2º - É também aplicável a Lei Penal Militar ao crime praticado a bordo de aeronaves ou navios estrangeiros, desde que em lugar sujeito à administração militar e o crime atente contra as instituições militares. Conceito de navio §3º - Para efeito da aplicação deste Código, considera-se navio, toda embarcação sob comando militar.” A lei penal militar se aplica aos crimes praticados a bordo de aeronaves ou navios apenas quando estes, sendo estrangeiros, se encontrem em local sob administração militar e atentem contra as instituições militares. A questão da territorialidade e da extraterritorialidade se insere no chamado direito penal internacional. Para Paulo GUSMÃO, geralmente o direito tem eficácia em todo o território do Estado que o sancionou, pois a eficácia extraterritorial das leis depende da vontade do outro Estado, admitida através de leis ou tratados internacionais. Para ele, território é a parte da superfície terrestre que o Estado exerce, soberanamente, a sua autoridade e na qual encontra-se a sua população. É formado pelo solo, subsolo, espaço aéreo que o recobre, ilhas e mar territorial que o banha, quando o mar lhe serve de fronteira, como é o caso do Brasil. 21 REFERÊNCIAS CAPEZ, FERNANDO. Curso de Processo Penal. São Paulo: Saraiva, 1997. . CÓDIGO DE PROCESSO PENAL. Dec.Lei nº 3.689 de 03-10-1941, São Paulo: Saraiva, 1998. . DELMANTO, ROBERTO. Código Penal. Rio de Janeiro: Renovar, 1991. . CONSTITUIÇÃO FEDERAL. São Paulo: Saraiva, 1998. . FRANCO, ALBERTO SILVA, e outros. Leis Penais Especiais. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1995. . GRECO Fº, VICENTE. Manual de Processo Penal. São Paulo: Saraiva, 1997. . MARQUES, JOSÉ FREDERICO. Elementos de Direito Processual Penal. V.4, São Paulo: Bookseller, 1997 . NORONHA, E.MAGALHÃES. Curso de Direito Processual Penal. São Paulo: Saraiva, 1997. 22 . TOURINHO Fº, FERNANDO DA COSTA, Prática de Processo Penal. São Paulo: Saraiva, 1997. . XAVIER DE AQUINO, JOSE CARLOS & NALINI, JOSÉ RENATO. Manual de Processo Penal. São Paulo: Saraiva, 1997. . NUCCI, Guilherme de Souza, Manual de Processo Penal e Execução Penal. 5 [ ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1997.
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