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HISTÓRIA-MILITAR

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Sumário 
1. NOÇÕES HISTÓRICAS ....................................................................................... 2 
2. CONCEITO ........................................................................................................... 3 
3. DIREITO PENAL MILITAR E DIREITO PROCESSUAL PENAL MILITAR ........... 4 
4. CARÁTER ESPECIAL DO DIREITO PENAL MILITAR......................................... 5 
5. COMENTÁRIOS AO CPM .................................................................................... 6 
6. PREVISÃO CONSTITUCIONAL ........................................................................... 8 
7. LEI SUPRESSIVA DE INCRIMINAÇÃO ............................................................... 9 
8. MEDIDAS DE SEGURANÇA .............................................................................. 15 
9. LEI EXCEPCIONAL OU TEMPORÁRIA ............................................................. 16 
10. TEMPO DO CRIME ......................................................................................... 17 
11. LUGAR DO CRIME ......................................................................................... 18 
12. TERRITIRIALIDADE – EXTRATERRITORIALIDADE ..................................... 19 
REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 21 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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1. NOÇÕES HISTÓRICAS 
 
Fontes: 1.bp.blogspot.com 
Evidências históricas permitem deduzir que alguns povos civilizados da 
antiguidade, como Índia, Atenas, Pérsia, Macedônia e Cartago, conheciam a 
existência de certos delitos militares e seus agentes eram julgados pelos próprios 
militares, especialmente em tempo de guerra. Mas foi em Roma que o Direito Penal 
Militar adquiriu vida própria considerado como instituição jurídica. 
As origens históricas do Direito Penal Militar, como de qualquer ramo do Direito, 
são, principalmente, as que nos oferecem os romanos. A política foi sempre dominar 
os povos antes de tudo pela força das armas e depois consolidar a conquista pela 
Justiça das leis e sabedoria das instituições. 
Teve, assim, o exército romano o seu Direito Criminal. Para as faltas graves da 
disciplina, o Tribuno convocava o Conselho de Guerra, julgava o delinquente e o 
condenava a bastonadas. Esta pena às vezes era aplicada com tal rigor que 
 
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acarretava a perda da vida do condenado. Tais penas estavam ligadas a certos crimes 
e atos de covardia. 
Nós também copiamos essa aflição física dos romanos, com a triste reminiscência no 
art. 184 do Regulamento de 20 Fev 1708 e o castigo corporal no Brasil somente foi 
abolido, inicialmente pelo Exército por meio da Lei n.º 2.556, de 26 Set 1874, art. 8º 
e, na Marinha (Armada), pelo Decreto n.º 3, de 16 Nov de 1889, art.2º. 
 
Fonte: www.pilotopolicial.com.br 
2. CONCEITO 
 
Fonte: 3.bp.blogspot.com 
 
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“É o complexo de normas jurídicas destinadas a assegurar a realização dos fins 
das instituições militares, cujo principal é a defesa armada da Pátria”. 
A preservação dessa ordem jurídica militar, aonde preponderam a hierarquia e 
a disciplina, exige obviamente do Estado, mirando a seus possíveis violadores, um 
elenco de sanções de naturezas diversas, de acordo com os diferentes bens 
tutelados: administrativas (disciplinares), civis e penais. As penais surgem com o 
Direito Penal Militar. 
3. Direito Penal Militar e Direito Processual Penal Militar 
 
Fonte: 1.bp.blogspot.com 
 
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As normas de Direito Penal Militar são conhecidas como de direito penal 
material ou substantivo e as de Direito Processual Penal Militar como de direito penal 
formal ou adjetivo, ou, simplesmente, de direito processual. As normas de Direito 
Penal Militar são as reunidas no Código Penal Militar (CPM) e as de Direito Processual 
Penal Militar, no Código Processual Penal Militar (CPPM). 
O direito material regula as relações entre as pessoas e o direito processual 
entre as pessoas e o Estado-Juiz. Assim, sempre que tivermos a violação de um 
direito material aquele que se sentir prejudicado poderá buscar do Estado-Juiz a 
chamada prestação jurisdicional, ou seja, o processo e o julgamento daquele que 
violou a norma de direito material e com a sua conduta causou-lhe um dano ou 
prejuízo. 
4. Caráter especial do Direito Penal Militar. 
 
Fonte: 3.bp.blogspot.com 
O Direito Penal Militar é um direito penal especial, porque a maioria de suas 
normas, diversamente das de direito penal comum, destinadas a todos os cidadãos, 
 
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se aplicam, exclusivamente, aos militares, que têm especiais deveres para com o 
Estado, indispensáveis à sua defesa armada e à existência de suas instituições 
militares. Esse caráter especial, ainda, advém de a Constituição Federal atribuir com 
exclusividade aos órgãos da Justiça Castrense (art. 122, CF/88) o processo e o 
julgamento dos crimes militares definidos em lei. 
Há, como exceção a esta regra, o processo e o julgamento dos crimes dolosos 
contra a vida praticados por militar contra civil, os quais por força da Lei n.º 9.299/96 
são da competência da Justiça Comum. Assim, tais fatos continuam possuindo a 
classificação de crime militar, e, portando, devem ser apurados por meio de IPM, 
contudo será a Justiça Comum e não a Auditoria Militar, no âmbito do estado, a 
competente para o processo e o julgamento de tais crimes. 
 
5. COMENTÁRIOS AO CPM 
 
PRINCÍPIO DA LEGALIDADE 
 
“Art. 1º - Não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prévia cominação 
legal.” 
 
Conceito 
O artigo em questão estabelece o chamado princípio da legalidade, com 
correspondência integral no art. 1º do Código Penal Comum. 
 
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É o princípio das Reserva Legal, embasado na máxima de Feuerbach, Nullum 
Crimen, Nulla Poena, Sine Praevia Lege, originário da remota Magna Carta de 1215, 
imposta pelos barões ingleses ao rei João Sem Terra. 
Para MIRABETE, entretanto, a causa próxima do princípio da legalidade está 
no Iluminismo (Séc. XVIII), tendo sido incluído no art. 8º da Declaração dos Direitos 
do Homem e do Cidadão, de 26.08.1789, nos seguintes termos: “Ninguém pode 
ser punido se não for em virtude de uma lei previamente estabelecida e 
promulgada anteriormente ao delito e legalmente aplicada”. No Brasil, foi inscrito 
na Constituição de 1824 e repetido em todas as Cartas Constitucionais subsequentes. 
O Princípio da Legalidade que estrutura o art. 1º do Código Penal Militar de 
1969, também incluso o texto do Código Penal comum de 1969, antepara e protege a 
liberdade individual do Militar e do cidadão, contra a prepotência do estatólatra 
(Ramagem BADARÓ). 
As palavras crime, pena e lei, como lembra DELMANTO, têm sentido amplo neste 
artigo. 
“Assim, a expressão crime compreende também as contravenções e, 
a palavra pena inclui as mais diversas restrições de caráter penal (penas 
privativas de liberdade, restritivas de direito, penas de multa que são 
conversíveis em detentivas etc.), como lei devem ser entendidas todas as 
normas de natureza penal, elaboradas na forma que a Constituição prevê, 
abrangendo não só as do CP como as das demais leis penais especiais”. 
Cabe salientar que a pena de multa não está prevista atualmente para os crimes 
militares. 
Já por ocasião dos estudos da Comissão elaboradora do CPM de 1944, a pena de 
multa foi julgada inadequada aos crimes militares, contra o voto do eminente 
Desembargador Sílvio Martins Teixeira, que a acolhia, por entender que a mesma já 
estava prevista em várias leis militares. 
 
 
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6. Previsão Constitucional 
O princípio da legalidade ou da reserva legalestá prevista na carta Magna, art. 5º, 
inc. XXXIX. Sílvio Martins TEIXEIRA lembrava que “na Doutrina do nacional – 
socialismo, ou autoritária, o Estado não podia tolerar que o indivíduo empregasse 
impunemente suas forças e capacidades contra a conservação e o desenvolvimento 
da coletividade, abroquelando-se no texto da lei, sem lhe respeitar as intenções”. 
E prosseguia dizendo que, “de acordo com esse critério, no memorial prussiano, 
foi declarado ser imprescindível conceder-se ao juiz a faculdade de preencher, em 
certos limites, as lacunas da lei”. 
Com esses argumentos, a Comissão incumbida da elaboração do projeto nazista 
formulou, na segunda leitura, o seguinte dispositivo: Incorre em pena quem pratica um 
fato que a lei declara punível, ou quem, segundo o conceito de uma lei e a sã maneira 
de ver de um povo, merece punição. Se ao fato não foi imediatamente aplicável 
nenhuma lei penal, será ele punido de acordo com a lei cuja ideia fundamental melhor 
se adapte. Conclui-se, portanto, na esteira de DELMANTO, que do enunciado do art. 
1º do Código Penal Militar resultam duas regras fundamentais: 
 A da Reserva Legal (ou da Legalidade), visto que somente a lei, elaborada na 
forma que a Constituição permite, pode determinar o que é crime e indicar a 
pena cabível. Lei Federal, elaborada de acordo com o processo legislativo 
discriminado a partir do art. 59, e seguintes, da Constituição Federal. 
 A da anterioridade. Para que qualquer fato possa ser considerado crime, é 
indispensável que a vigência da lei que o define como tal seja anterior ao 
próprio fato, assim como a cominação da pena. 
Corolário das regras acima, impõe-se ainda: 
 A irretroatividade, pois considerando-se serem as leis editadas para o futuro, 
as normas penais não podem volver ao passado, salvo se para beneficiar o 
agente (CF/88, art. 5º, XL). 
 
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 A taxatividade, visto que as leis que definem os critérios devem ser precisas, 
marcando exatamente a conduta que objetivam punir, não se aceitando leis 
vagas ou imprecisas, nem o emprego, pelo juiz, da analogia ou interpretação 
extensiva para incriminar algum fato ou tornar mais severa sua puniç 
 
7. LEI SUPRESSIVA DE INCRIMINAÇÃO 
 
Art. 2º - Ninguém pode ser punido por fato que lei posterior deixa de 
considerar crime, cessando, em virtude dela, a própria vigência de sentença 
condenatória irrecorrível, salvo quando aos efeitos de natureza civil. 
 
Retroatividade de lei mais benigna 
§ 1º - A lei posterior que, de qualquer outro modo, favorece o agente, aplica-
se retroativamente, ainda quando já tenha sobrevindo sentença condenatória 
irrecorrível. 
Apuração da maior benignidade 
§ 2º - Para se reconhecer qual a mais favorável, a lei posterior e a anterior, 
devem ser consideradas separadamente, cada qual no conjunto de suas 
normas aplicáveis ao fato. 
 
Remissão 
O Código Penal comum tem disposição idêntica no caput do art. 2º. Seu 
parágrafo único, trazido a lume pela Lei 7.209/84, tornou incontestável que a 
retroatividade benéfica não sofre limitação alguma, tem redação similar ao § 1º do 
CPM, mudando apenas a parte final do dispositivo que, neste, trata da sentença 
condenatória irrecorrível e, naquele, trata da sentença condenatória transitada em 
julgado, o que nos parece, data venia, ter o mesmo sentido. 
 
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O Código Penal Militar revogado (Dec.-lei 6.227, de 24.01.44), tinha disposição 
idêntica no art. 2º, caput, e o seu parágrafo único, na mesma esteira do CP/1940 que 
mandava aplicar – apenas ao fato não julgado definitivamente – a lei posterior que 
favorece o agente sem suprimir crime ou atenuar a pena. 
Noção 
 
Fonte: staticsp.atualidadesdodireito.com.br/ 
 
Em sentido amplo, o art. 2º do Código Penal Militar consagra o princípio 
Tempus Regit Actum, o que está em perfeita harmonia com a garantia da reserva legal 
(CF, art. 5º, XL e XLI). Ou seja, a lei rege os atos praticados durante sua vigência. 
Especialmente, trata o referido art. 2º do CPM da Abolitio Criminis, que é a supressão 
da figura criminosa, entendendo o legislador que a ação antes prevista como 
delituosa, não é mais idônea a ferir o bem jurídico que pretende tutelar. 
Ora, com a descriminação do fato, não tem mais sentido o prosseguimento da 
execução da pena, nem a mantença das sequelas penais da sentença. DELMANTO 
explica que caso seja aprovado e entre em vigor projeto de lei que extingue o crime 
de adultério, tal ato deixaria de existir como crime. 
 
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O Código Penal Militar, da mesma maneira que o Código Penal, dispõe ser possível 
a retroatividade e a ultratividade da lei. 
 
Hipóteses de conflito de leis penais no tempo 
Novatio Legis Incriminadora: A Lei nova torna típico fato anteriormente não 
incriminado. Por força da garantia do art. 5º, XL – CF, tal Lei não pode ser aplicada 
aos fatos a ela anteriores. 
Abolitio Criminis: (CPM, art. 2º) – A abolitio criminis faz desaparecer o delito e seus 
reflexos penais, permanecendo, entretanto, os civis. 
A obrigação de reparação, que tem previsão no art. 159 do Código Civil, para aquele 
que, por ação ou omissão ou culpa, causa dano a outrem, fundamenta-se no diploma 
penal castrense, no art. 109, I, que “torna certa a obrigação de reparar danos 
resultante do crime”. 
A Abolitio Criminis é uma das causas de extinção de punibilidade prevista no art. 
123, inc. III. 
Novatio Legis in Pejus: A terceira hipótese refere-se à Lei nova mais grave que a 
anterior (Lex Gravior). Vige, no caso, o princípio da irretroatividade da Lei Penal mais 
severa. 
Exemplo: Lei 9.839, de 27.12.99, que passou a impedir a aplicação da Lei 9.099/95 
(que criou os Juizados Especiais Criminais) na Justiça Militar e, de sequência, afastou 
do âmbito da Justiça castrense os institutos despenalizadores da suspensão 
condicional do processo e da exigência de representação do ofendido nas lesões 
corporais de natureza leve e nas culposas. 
Novatio Legis in Mellius: A última hipótese é de Lei nova mais favorável que a 
anterior. 
 
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Além da Abolitio Criminis, a lei nova pode favorecer o agente de várias 
maneiras, seja cominando pena mais branda em qualidade (detenção, em vez de 
reclusão), ou quantidade (de um a quatro anos, em vez de dois a oito), eliminando 
circunstâncias qualificadas ou agravantes previstas anteriormente etc. 
Sílvio Martins TEIXEIRA lecionava que: de diversas formas pode uma nova Lei 
beneficiar o agente de um crime. Assim por exemplo: o fato não é mais considerado 
crime, passando a ser classificado como contravenção ou deixando de ser punido; 
circunstâncias perdem o caráter de agravantes; são admitidas outras excusativas de 
responsabilidade ou novas justificativas dos fatos considerados crimes, é diminuído o 
prazo para a prescrição. 
Competência para aplicação da lei nova 
 
DELMANTO enumera duas hipóteses a considerar para a aplicação da lei nova, 
dependendo de já ter sido ou não julgado o caso em definitivo. 
1ª Hipótese: Se a condenação já transitou em julgado, a aplicação da lei posterior 
compete ao juiz da execução. 
Em se tratando de crime militar, a execução da sentença e os incidentes de execução 
devem ser resolvidos pelo Juiz-Auditor da Auditoria por onde correu o processo ou, 
nos casos de competência originária do Superior Tribunal Militar, pelo seu Presidente, 
nos termos dos arts. 588 e590 do Código Penal Militar. 
Ao preso provisório ou condenado da JUSTIÇA MILITAR, aplicar-se-ão igualmente a 
disposições da Lei 7.210, de 11/07/74, Lei de Execução Penal, quando recolhido a 
estabelecimento sujeito à jurisdição originária, nos termos do parágrafo único do seu 
art. 2º. 
 
 
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JurisprudênciaSúmula 611, STF: “Transitada em julgado a sentença condenatória, compete ao juízo 
das execuções a aplicação da lei mais benigna”. Precedentes no STF: RTJ 85/786,RT 
87/447 E 1.067; 88/1.082 E 1.098, 90/451, 92/881, 90/881, 94/564, 95/758 
(MIRABETE, Manual 1989:70). 
Maurício KUEHNE apresenta as seguintes decisões: 
Execução Penal: Réu condenado pela Justiça Militar por crime de roubo a 
estabelecimento bancário. Competência do Juízo da Execução Penal – o suscitado – 
para prosseguir na execução (STJ – CC 7.309-SP – J. em 27.03.89, DJU 16.03.90, 
p. 3.075) 
Conflito de competência. Execução da pena. Juízo competente. 
1. Os sentenciados recolhidos a estabelecimento penal sujeito à administração 
estadual, ainda que condenados pela Justiça Eleitoral, Militar ou Federal, terão 
suas penas executadas pelo Juízo de execução comum do Estado. 
Penal Militar. Execução da pena. 
 
Fonte: www.patosnoticias.com.br 
 
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O militar condenado, com sentença transitada em julgado, se cumpre a pena 
em estabelecimento militar, sujeita-se ao regime ao regime de cumprimento da 
legislação especial e não à de que trata a Lei de Execuções Penais (LEP, art. 2º, 
parágrafo único). 
2ª Hipótese: Se o processo ainda está em julgamento, dependendo da fase em 
que se encontrar, caberá ao juiz, ou ao tribunal com que o processo estiver, a 
aplicação da nova lei. 
Se for militar federal, ao Juízo de qualquer uma das doze Circunscrições 
Judiciárias Militares enunciadas pelo art.2º da lei 8.457, de 04.09.92 – Lei da 
Organização Judiciária Militar da União, ou Superior Tribunal Militar; se MILITAR 
ESTADUAL, pela Auditoria Militar do seu Estado, ou Tribunal de Justiça. 
É a conclusão a que se chega à vista dos arts. 124, parágrafo único e art. 125, 
§§ 3º e 4º da Constituição Federal. 
 
Apuração da maior benignidade 
O Código Penal Militar manda que se considerem a lei posterior e a anterior, 
separadamente, cada qual no conjunto de suas normas aplicáveis ao fato para definir 
a de maior benignidade. 
Segundo Álvaro Mayrinck da Costa: “cabe ao juiz, a análise do caso in 
concreto, à luz de uma e de outra, visto que pode ocorrer que convenha a aplicação 
da primeira ainda que em pena mais grave que a segunda que apresenta pena menos 
severa.” 
Para DELMANTO, “há casos em que a opção entre a lei nova e a velha só pode 
ser decidida por uma apreciação subjetiva e não objetiva. Em tais hipóteses, pode-se 
e deve-se aceitar que o próprio réu, por intermédio do seu defensor, aponte qual das 
leis aplicáveis lhe parece ser a mais favorável”. 
 
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Habeas corpus. Exigência de representação nos crimes de lesões corporais 
leves ou de lesões culposas (Lei 9.099/95, art. 88). Incidência residual no âmbito da 
Justiça Militar, em face da superveniência da Lei 9.839/99. Consumação da 
decadência. Extinção da punibilidade. Pedido deferido. 
São ainda aplicáveis à Justiça Militar, para efeito do que determina o art. 5º da 
Constituição, os institutos de direito material previstos na Lei 9.099/95, especialmente 
as medidas despenalizadoras pertinentes à exigência de representação nas hipóteses 
de lesões corporais leves ou de lesões corporais culposas (art. 88) e à suspensão 
condicional do processo penal (art.89), desde que os delitos militares tenham sido 
praticados antes da vigência da Lei 9.839/99. 
Se o ofendido, no prazo legal, deixa de formular a representação a que se refere 
o art. 99 da Lei 9.099/95, opera-se, em consequência da sua inércia, a decadência do 
direito de postular a instauração da persecutio criminis, circunstância esta que 
enseja o reconhecimento da extinção da punibilidade do agente. 
A Lei 9.839/99 – que torna inplicável à Justiça Militar a Lei 9.099/95 – não 
alcança, no que se refere aos institutos de direito material, os crimes militares 
praticados antes da sua vigência, ainda que o Inquérito Policial Militar ou o processo 
penal sejam iniciados posteriormente. 
O sistema constitucional brasileiro impede que se apliquem leis penais 
supervenientes mais gravosas, como aquela que afastam a existência de causas 
extintivas da punibilidade, a fatos delituosos cometidos em momento anterior ao da 
edição da lei mais severa. 
 
8. MEDIDAS DE SEGURANÇA 
Art. 3º - As medidas de segurança regem-se pela lei vigente ao tempo da sentença, 
prevalecendo, entretanto, se diversa, a lei vigente ao tempo da execução. O Código 
 
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Penal Militar em vigor inclui, neste artigo, as medidas de segurança no Título I – Da 
Aplicação da Lei Penal Militar. 
Embora haja quem as considere como sanção penal, as medidas de segurança 
não são penas, não têm o caráter retribuitivo do mal com o mal, não significam 
repressão pela infração de leis penais vigentes na época em que o fato foi praticado. 
São medidas necessárias à garantia social e do próprio indivíduo que se torna 
perigoso. Diferente do crime, que é punido de acordo com a lei vigente na data em 
que foi cometida a infração, as medidas de segurança nada têm a ver com a lei que 
existia à época em que o ato foi praticado, pois sendo o seu objetivo a segurança 
atual, a lei aplicada é a que vigora na data em que é determinada a sentença. Se a lei 
se modifica depois que foi decretada a medida, mas antes de ser posta em execução, 
ela será aplicada de acordo com a modificação, ou seja, de acordo com a lei vigente 
na época em que se executa. 
Pena é a que o Código relaciona como Principais (art. 55) ou Acessórias (art. 98), 
não se fazendo menção, nos referidos artigos, às medidas citadas. 
Por outro lado, quando o código afirma que tais medidas são reguladas pela lei em 
vigência ao tempo da sentença, ou pela existente no momento da execução, se 
diferente da anterior, está afirmando que a nova lei retroage, o que é inconcebível, 
visto que a Constituição Federal, em seu art. 5º, XL, declara taxativamente em termos 
gerais que a lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar o réu. Logo, a lei vigente 
ao tempo da sentença só retroagirá se for mais benéfica. 
9. LEI EXCEPCIONAL OU TEMPORÁRIA 
“Art. 4º - A lei excepcional ou temporária, embora decorrido o período da sua 
duração ou cessadas as circunstâncias que a determinaram, aplica-se ao fato 
praticado durante sua vigência.” 
Segundo DELMANTO, o princípio da retroatividade benigna não é aplicável em 
casos de leis excepcionais ou temporárias. As leis excepcionais são as promulgadas 
para vigorar em situações ou condições sociais anormais (ex. guerra, estado de sítio, 
 
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epidemia etc.), tendo sua vigência subordinada à duração da anormalidade que as 
motivou. Leis temporárias são as que têm tempo de vigência determinado em seus 
próprios dispositivos. 
Ambas têm Ultratividade, que é a capacidade de aplicarem-se ao fato cometido 
sob seu império, ainda que revogado pelo decurso do tempo ou uma vez superado o 
estado excepcional que as originou. O que possibilita a punição, segundo MIRABETE, 
é a circunstância de ter sido a conduta praticada durante o prazo de tempo em que 
ela era exigida e a norma necessária à salvaguarda dos bens expostos naquela 
ocasião especial. Esta ultratividade visa a frustar o emprego de expedientes tendentes 
a impedir a imposição de suas sanções a fatos praticados nas proximidades de seu 
termo final de vigência ou da cessação das circunstâncias excepcionais que a 
justificaram. 
10. TEMPO DO CRIME 
“Art. 5º - Considera-se praticado o crime no momento da ação ou da omissão, 
ainda que outro seja o do resultado.” 
O Código Penal Militar determina o tempo do crime de acordo com a Teoria da 
Atividade, a qual, segundo MIRABETE, é aquela que o considera como sendo o 
momento da conduta (ação ou omissão). Assim, teríamos,por exemplo, o momento 
em que o agente efetua os disparos contra a vítima ou atropela o ofendido (no 
homicídio doloso ou culposo), ou ilude o ofendido, com manobra a fraudulenta, para 
obter vantagem ilícita (no estelionato), ou deixa de prestar socorro ao ferido (omissão 
de socorro), pouco importando a ocasião em que o sujeito passivo venha a morrer, ou 
o agente obtenha a vantagem indevida etc. O fundamento desta teoria é a de evitar a 
incongruência de o fato ser considerado crime em decorrência da lei vigente na época 
do resultado, quando não o era no momento da ação ou omissão. 
Análise separada merecem os crimes permanentes como a deserção (CPM, art. 
187) e o sequestro ou cárcere privado (CPM, art. 225), em que, tanto a ação como a 
consumação, prolongam-se no tempo enquanto o agente estiver ausente de sua 
 
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Unidade ou privando a vítima de sua liberdade. Incidindo lei nova mais severa durante 
o tempo da privação da liberdade ou da ausência do militar, a lex gravior (a lei mais 
grave) será aplicada, pois o agente ainda está praticando a ação na vigência da lei 
posterior. Idêntico raciocínio deve ser feito ao crime continuado (CPM, art. 80) quando 
um ou mais dos delitos componentes forem praticados na vigência da lei posterior 
mais severa. 
Como exceção à regra Celso DELMANTO cita a prescrição, que segue normas 
próprias especiais (CPM, art. 125, §2º). A regra incidirá, entretanto, com relação à 
redução do prazo prescricional para o agente menor (CPM, art. 129). 
 
11. LUGAR DO CRIME 
 
“Art. 6º - Considera-se praticado o fato no lugar onde se desenvolveu a 
atividade criminosa, no todo ou em parte, e ainda que sob a forma de 
participação, bem como onde se produziu ou deveria produzir-se o 
resultado. Nos crimes omissivos, o fato considera-se praticado no lugar em 
que deveria realizar-se a ação omitida.” 
Quando a conduta típica (ação ou omissão) e o resultado danoso ocorrem num 
mesmo lugar, não existem dificuldades na fixação do lugar do crime. Entretanto, nos 
chamados crimes a distância ou de longa mão, que são as infrações em que a conduta 
típica se dá em um país e o resultado ocorre em outro, a questão merece análise mais 
apurada. 
Por exemplo, A dispara, através da fronteira, contra B, que cai morto no país 
vizinho; ou C induz D em erro num país, a fim de que este realize em outro, ato de 
disposição patrimonial prejudicial a seus interesses; ou E se apodera de um avião que 
sobrevoa o território de um Estado, obrigando seu piloto a variar o rumo e a aterrissá-
lo em outro, solicitando, com êxito, o resgate de uma terceira nação. Onde foi cometido 
o homicídio, o estelionato e o sequestro aéreo, respectivamente em cada um desses 
casos? 
 
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Existem três Teorias que podem explicar tais situações: 
 Teoria da Atividade, pela qual lugar do crime é aquele em que se iniciou a 
execução da conduta típica, que é a posição do nosso Código, em relação aos 
crimes omissivos, já que considera praticado o fato no lugar em que deveria 
realizar-se a ação omitida; 
 Teoria do resultado, pela qual lugar do crime é aquele em que se produziu o 
evento; 
 Teoria da Ubiquidade, pela qual é tido como lugar do crime tanto aquele em 
que se iniciou sua execução, como aquele em que ocorreu o resultado, que é 
a posição do nosso Código, em relação aos crimes comissivos. 
Nos casos dos crimes a distância, envolvendo países diferentes, resulta um conflito 
de jurisdição, de caráter internacional que será resolvido pelo art. 8º do CPM, que 
estabelece que a pena cumprida no estrangeiro atenua a pena imposta no Brasil pelo 
mesmo crime, quando diversas, ou nela é computada, quando idênticas. 
 
12. TERRITIRIALIDADE – EXTRATERRITORIALIDADE 
“Art. 7º - Aplica-se a lei penal militar, sem prejuízo de convenções, tratados e regras 
de direito internacional, ao crime cometido, no todo ou em parte, no território nacional 
ou fora dele, ainda que, neste caso, o agente esteja sendo processado ou tenha sido 
julgado pela justiça estrangeira. 
Território nacional por extensão 
§1º - Para os efeitos da Lei Penal Militar consideram-se como extensão do 
Território Nacional as aeronaves e os navios brasileiros, onde quer que se 
encontrem, sob comando militar ou militarmente utilizados ou ocupados por 
ordem legal de autoridade competente, ainda que de propriedade privada. 
 
Ampliação a aeronaves ou navios estrangeiros 
 
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§2º - É também aplicável a Lei Penal Militar ao crime praticado a bordo de 
aeronaves ou navios estrangeiros, desde que em lugar sujeito à 
administração militar e o crime atente contra as instituições militares. 
 
Conceito de navio 
§3º - Para efeito da aplicação deste Código, considera-se navio, toda 
embarcação sob comando militar.” 
A lei penal militar se aplica aos crimes praticados a bordo de aeronaves ou navios 
apenas quando estes, sendo estrangeiros, se encontrem em local sob administração 
militar e atentem contra as instituições militares. 
A questão da territorialidade e da extraterritorialidade se insere no chamado direito 
penal internacional. Para Paulo GUSMÃO, geralmente o direito tem eficácia em todo 
o território do Estado que o sancionou, pois a eficácia extraterritorial das leis depende 
da vontade do outro Estado, admitida através de leis ou tratados internacionais. Para 
ele, território é a parte da superfície terrestre que o Estado exerce, soberanamente, a 
sua autoridade e na qual encontra-se a sua população. É formado pelo solo, subsolo, 
espaço aéreo que o recobre, ilhas e mar territorial que o banha, quando o mar lhe 
serve de fronteira, como é o caso do Brasil. 
 
 
 
 
 
 
 
 
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REFERÊNCIAS 
 
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. CÓDIGO DE PROCESSO PENAL. Dec.Lei nº 3.689 de 03-10-1941, São Paulo: 
Saraiva, 1998. 
 
. DELMANTO, ROBERTO. Código Penal. Rio de Janeiro: Renovar, 1991. 
 
. CONSTITUIÇÃO FEDERAL. São Paulo: Saraiva, 1998. 
 
. FRANCO, ALBERTO SILVA, e outros. Leis Penais Especiais. São Paulo: 
Revista dos Tribunais, 1995. 
 
. GRECO Fº, VICENTE. Manual de Processo Penal. São Paulo: Saraiva, 1997. 
 
. MARQUES, JOSÉ FREDERICO. Elementos de Direito Processual Penal. V.4, 
São Paulo: Bookseller, 1997 
 
. NORONHA, E.MAGALHÃES. Curso de Direito Processual Penal. São Paulo: 
Saraiva, 1997. 
 
 
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. TOURINHO Fº, FERNANDO DA COSTA, Prática de Processo Penal. São Paulo: 
Saraiva, 1997. 
 
. XAVIER DE AQUINO, JOSE CARLOS & NALINI, JOSÉ RENATO. Manual de 
Processo Penal. São Paulo: Saraiva, 1997. 
. NUCCI, Guilherme de Souza, Manual de Processo Penal e Execução Penal. 5 [ 
ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1997.

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