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ARTIGO - TCC - REDESIGNAÇÃO DO PRENOME

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REDESIGNAÇÃO DO ESTADO SEXUAL E MUDANÇA DE PRENOME 
 
Elisa Bendersky Gomes1 
Luciane Bittencourt Fagundes2 
 
RESUMO 
 
O presente trabalho tem a finalidade de apresentar a possibilidade da mudança de prenome e redesignação do 
estado sexual fundado em decisão sem obrigatoriedade de cirurgia de alteração de sexo. O registro civil consta o 
nome e o gênero do indivíduo, os quais são determinados pelo sexo biológico. Atualmente, já há jurisprudência 
do Superior Tribunal de Justiça e Tribunais de Justiça de diversos Estados para a retificação do registro civil em 
relação ao nome e ao sexo, porém, não há legislação específica que trate do assunto, fazendo com que a 
população transexual e travesti dependa do bom senso do julgador. A alteração do nome e gênero no registro 
civil na conjectura de transexuais que ainda não realizaram a cirurgia de redesignação sexual sempre causou 
divergência na jurisprudência. Nesse sentido, o presente estudo, utilizando o método qualitativo de pesquisa 
através das técnicas de pesquisa documental e bibliográfica, primeiramente, abordará sobre o direito 
personalíssimo do nome, transexualismo, Cirurgia de redesignação sexual (CRS) e por fim o estudo sobre 
alteração do nome e registro civil sem a redesignação sexual e as repercussões desse tema. O exposto tem por 
objetivo apresentar o tema: - Proceder a uma abordagem sobre a possibilidade dos transexuais conseguirem 
realizar a alteração do nome e do sexo no registro civil, para pleitear a possibilidade de alteração do nome e do 
gênero no registro público sem a realização da cirurgia de redesignação sexual. 
 
Palavras chave: Direito personalíssimo, Transexualismo, Redesignação sexual 
 
ABSTRACT 
 
The present work has the purpose of presenting the possibility of the change of the name and reassignment of the 
sexual state based on decision without obligation of surgery of alteration of sex. The civil registry records the 
name and gender of the individual, which are determined by biological sex. Currently, there is already 
jurisprudence of the Superior Court of Justice and Courts of Justice of several States for the rectification of the 
civil registry in relation to the name and sex, however, there is no specific legislation that deals with the subject, 
making the transsexual population and transvestite depend on the good judgment of the judge. The change of 
name and gender in the civil registry in the conjecture of transsexuals who have not yet performed the sexual 
reassignment surgery has always caused divergence in jurisprudence. In this sense, the present study, using the 
qualitative method of research through documentary and bibliographic research techniques, will first address the 
very personal right of the name, transsexuals, Sexual Reassignment Surgery (CRS) and finally the study on name 
change and civil registration without the sexual reassignment and the repercussions of this theme. The purpose of 
this paper is to present the theme: - To approach the possibility of transsexuals being able to change the name 
and gender in the civil registry, to request the possibility of a change of name and gender in the public registry 
without the sexual reassignment surgery. 
 
Keywords: Personal law, Transsexualism, Sexual reassignment 
 
 
1 Formada em Pedagogia pela Universidade da Região da Campanha – URCAMP e Acadêmica no Curso de 
Direto pela Universidade da Região da Campanha – URCAMP. E-mail: elisabendersky@outlook.com 
2 Artigo apresentado como requisito parcial para obtenção do Diploma de Bacharel em Direito, sob orientação da 
professora Luciane Bittencourt Fagundes, Advogada; Especialista em Direito Processual pela Universidade da 
Região da Campanha – Urcamp, docente no Curso de Direito, Administração e Educação Física da 
Universidade da Região da Campanha – Urcamp; formada em Pedagogia pela Universidade franciscana – 
Unifra. E-mail: lubittencourt12@gmail.com 
 
 
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1 INTRODUÇÃO 
 
O presente trabalho tem a finalidade de apresentar a possibilidade da mudança de 
prenome e redesignação do estado sexual fundado em decisão sem obrigatoriedade de cirurgia 
de alteração de sexo. 
O Direito à Identidade é uma das grandes angústias da população transexual, eis que, 
ao crescer, a identificação entre o seu sexo biológico e o sexo psíquico, ou entre o sexo 
determinado ao nascimento e a vivência de gênero construída, não confluem para a mesma 
identidade de gênero, fazendo com que haja grande sofrimento psicológico e emocional. 
O nome é o sinal que individualiza cada pessoa civil na sociedade, sendo considerado 
direito da personalidade, previsto no Código Civil de 2002, que elenca o nome civil, no 
capítulo reservado aos direitos da personalidade (BRASIL, 2002). 
No registro civil consta o nome e o gênero do indivíduo, os quais são determinados 
pelo sexo biológico. Assim, no caso do transexual, seu nome e gênero não estão adequados a 
forma na qual se identifica, como se sente em relação a sua pessoa, tornando-se inevitável o 
ajustamento do registro civil com a realidade do transexual. 
Atualmente, já há jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça e Tribunais de Justiça 
de diversos Estados para a retificação do registro civil em relação ao nome e ao sexo, porém, 
não há legislação específica que trate do assunto, fazendo com que a população transexual e 
travesti dependa do bom senso do julgador. Lei nº 6.015, de 31 de dezembro de 1973, 
conforme o artigo 57 da referida Lei, o nome não pode ser alterado, sendo admitida a 
alteração apenas como exceção e após decisão judicial. 
A alteração do nome e gênero no registro civil na conjectura de transexuais que ainda 
não realizaram a cirurgia de redesignação sexual sempre causou divergência na 
jurisprudência. Com a recente decisão sobre a Ação Direta de Inconstitucionalidade n.º 4275, 
julgada em 01 de março de 2018, principiou a possibilidade de que os indivíduos transexuais 
tenham seus direitos tutelados, ao dar interpretação conforme a Constituição Federativa do 
Brasil de 1988 e o Pacto de São José da Costa Rica ao art. 58 da Lei nº 6.015/73. 
Devido à grande repercussão que este tema vem sendo abordado e comentado nas 
redes sociais e nas redes de comunicação e pela curiosidade de saber mais sobre o assunto, 
justifica-se o estudo. 
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O presente trabalho tem por objetivo apresentar o tema: - Proceder a uma abordagem 
sobre a possibilidade dos transexuais conseguirem realizar a alteração do nome e do sexo no 
registro civil, para pleitear a possibilidade de alteração do nome e do gênero no registro 
público sem a realização da cirurgia de redesignação sexual. 
Nesse sentido, o presente estudo, utilizando o método qualitativo de pesquisa através 
das técnicas de pesquisa documental e bibliográfica, primeiramente, abordará sobre o direito 
personalíssimo do nome, transexualismo, Cirurgia de redesignação sexual (CRS) e por fim o 
estudo sobre alteração do nome e registro civil sem a redesignação sexual e as repercussões 
desse tema com a ADI n.º 4275 de 2009. 
 
2 DIREITO PERSONALÍSSIMO DO NOME 
 
A Lei nº 10.406 do Código Civil Brasileiro de 10 de janeiro de 2002, dispõe que, em 
seu art. 2º que: “A personalidade civil da pessoa começa do nascimento com vida; mas a lei 
põe a salvo, desde a concepção, os direitos do nascituro.” 
Para o Direito Público, o nome é de extrema importância, por isso, é fortemente 
penalizado se ocorrer rompimento, pois proporciona ao Estado a identificação fator de 
estabilidade e segurança na identificação individual, enquanto para Direito Privado é a 
maneira de proporcionar ao individuo o cumprimentode suas obrigações e o exercício regular 
dos seus direito perante a justiça descreve Venosa: "A importância do nome para pessoa 
natural situa-se no mesmo plano se seu estado de sua capacidade civil e dos demais direitos 
inerentes á personalidade (VENOSA, 2016). 
 
2.1 O PRINCÍPIO DA DIGNIDADE 
 
O princípio da Dignidade da Pessoa Humana é o principal fundamento jurídico para os 
direitos da personalidade, buscando o respeito a cada elemento da pessoa, tanto seus 
sentimentos íntimos, nos aspectos psicológico, emocional ou moral, quanto a sua integridade 
física (NANI, 2008, p. 248). 
A Dignidade Humana não pode ser medida, eis que ela depende do mínimo 
existencial, dependendo das circunstâncias em que ela esteja inserida. Atualmente, a 
Dignidade da Pessoa Humana é considerada um valor constitucional, o que demonstra que as 
4 
 
 
 
situações jurídicas presentes nas vidas das pessoas ampliam-se cada vez mais, o que se reflete, 
de forma mais aprofundada e sensível no reconhecimento dos direitos da personalidade 
(NANI, 208, p. 248). 
 
A Constituição Federal de 1988, em seu art. 5º, X, consolidou a inviolabilidade da 
intimidade, da vida privada, da honra e da imagem, declarando também como direito 
fundamental a dignidade da pessoal humana, a qual nem sempre é gozada por todos 
(MORAES, 2018). 
 
2.2 O DIREITO A IDENTIDADE 
 
A maioria das pessoas tem consigo que somente poderá contrair um direito quando 
precisa se assegurá-lo ou quando esse for violado, mas para direito personalíssimo é um 
direito que independe da vontade do individuo ele o acompanha desde perca do veiculo 
maternal, ou melhor, do nascimento com vida, constando os requisitos medicinais para 
determinar se ha vida depois do desligamento materno, porém a lei põe a salvo os nascituros, 
não como sujeito de direito, mas como sujeito de proteção legal, nascituro é um feto aquele 
que vai nascer (MONTEIRO, 2009). 
O Código Civil brasileiro, em seu art. 16, diz que “toda pessoa tem direito ao nome, 
nele compreendidos o prenome e o sobrenome”, bem como o art. 55 da Lei 6.016/1973 (Lei 
de Registros Públicos)3 esclarecem que o prenome pode ser livremente escolhido pelos pais, 
desde que não exponha o filho ao ridículo, podendo os oficiais do registro não registrar o filho 
caso esse seja exposto ao ridículo. 
O nome tem duas funções básicas: tipificar e estremar. A primeira surge da 
necessidade de diferenciar os indivíduos que compõem a sociedade; a segunda resulta de um 
critério especulativo, porque as relações sociais se desenvolvem e seus titulares precisam ser 
identificados para os fins de direitos e obrigações. O nome é o sinal distintivo e substancial; é 
uma chave determinante da personalidade da pessoa. 
Um dos principais direitos se não o mais importante, pois garante ao sujeito o bem 
mais precioso de todos e não existe valor econômico que o defina, e é o único que permite a 
 
3 Art. 55 da Lei de Registros Públicos - Lei 6015/73Disponível em: <https://www.jusbrasil.com.br/topicos/ 
11328692/artigo-55-da-lei-n-6015-de-31-de-dezembro-de-1973> Acesso em: 10/09/2018. 
 
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oportunidade de conhecer o mundo, se da através da vida, por esse motivo que ha uma 
resguarda grande sobre corpo, porque este propicia viver; não só está presente no Código 
Civil, como também na Constituição Federal com a interligação com Direitos Fundamentais 
da Pessoa Humana, embora esteja interligado sobre todo ordenamento jurídico, não como 
direito personalíssimo, mas com conteúdo igual ou parecido para tutelar os sujeitos. O 
preâmbulo Constitucional também ressalva o direito dos indivíduos, pondo a salvo o valor 
supremo do Estado brasileiro. Para uma melhor compreensão preliminar, estará descrito a 
Declaração Universal dos Direitos Humanos:4 
 
Preâmbulo 
Considerando que o reconhecimento da dignidade inerente a todos os membros da 
família humana e de seus direitos iguais e inalienáveis é o fundamento da liberdade, 
da justiça e da paz no mundo, Considerando que o desprezo e o desrespeito pelos 
direitos humanos resultaram em atos bárbaros que ultrajaram a consciência da 
Humanidade e que o advento de um mundo em que os homens gozem de liberdade 
de palavra, de crença e da liberdade de viverem a salvo do temor e da necessidade 
foi proclamado como a mais alta aspiração do homem comum, Considerando 
essencial que os direitos humanos sejam protegidos pelo Estado de Direito, para que 
o homem não seja compelido, como último recurso, à rebelião contra tirania e a 
opressão, Considerando essencial promover o desenvolvimento de relações 
amistosas entre as nações, Considerando que os povos das Nações Unidas 
reafirmaram, na Carta, sua fé nos direitos humanos fundamentais, na dignidade e no 
valor da pessoa humana e na igualdade de direitos dos homens e das mulheres, e que 
decidiram promover o progresso social e melhores condições de vida em uma 
liberdade mais ampla, Considerando que os Estados-Membros se comprometeram a 
desenvolver, em cooperação com as Nações Unidas, o respeito universal aos direitos 
humanos e liberdades fundamentais e a observância desses direitos e liberdades, 
Considerando que uma compreensão comum desses direitos e liberdades é da mais 
alta importância para o pleno cumprimento desse compromisso (DECLARAÇÃO 
UNIVERSAL DOS DIREITOS HUMANOS, 1948). 
 
A nossa estrutura física como a nossa saúde é um direito da personalidade, tanto que 
consta no ordenamento jurídico que a violação e a mutilação são rigorosamente penalizadas, a 
lei não permite nem uma forma de corporificar o corpo. No momento em que ocorre o 
nascimento de uma criança, o seu nome muitas vezes já foi escolhido pelos seus pais, 
podendo muitas vezes já ter sido escolhido mesmo antes de sua fecundação, esta escolha irá 
diferenciá-lo no meio social e nos demais membros da família, por isso há uma tutelarão 
 
4 Perâmbulo para complementação dos direitos fundamentais da pessoa humana, DECLARAÇÃO UNIVERSAL 
DOS DIREITOS HUMANOS. Disponível em :<http://portal.mj.gov.br/sedh/ct/ legis_intern/ddh_bib_ 
inter_universal.htm- >Acesso em : 11/09/2018 de 2018. 
5 OS CONTRATOS DE PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS DE SAÚDE À LUZ DO PRINCÍPIO DA DIGNIDADE 
DA PESSOA HUMANA. Disponível em: <http://www.dominiopublico.gov.br/download/ 
teste/arqs/cp139563.pdf> Acesso em: 12/10/2018. 
 
 
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sobre este direito, porque é algo individual e pertencente apenas há única pessoa, mesmo após 
o óbito.5 
O direito personalíssimo teria sua definição em tricotomia, ou seja, 
corpo/mente/espírito, porém não deve levar em consideração taxativa, mas como reflexão, 
prevendo o resguardo da proteção à vida, integridade física, psíquica e moral, e criação 
intelectual, no qual ocorrem as principais transgressões sobre o direito da personalidade. Não 
podendo propagar que os artigos que prevê o direito personalíssimo do Código Civil os 
dispositivos Constitucionais é considerado com rol limitativo, porque e certo que 
constantemente a sociedade se modifica, por isso a matéria entra em constante evolução6. 
É um direito perpétuo e vitalício, ou seja, ele dura durante toda vida, perpétuo porque 
algumas normas têm a duração até depois da vida, como no caso de falecimento, ainda ocorre 
à preservação do direito da pessoa falecida. 
O nome é inalienável porque não se transmite para outro, pois cada um tem o seu, e 
não tem valor econômico, por isso, não produz valor de compra, venda ou troca, 
impenhoráveis por não dispuser como garantia, são absolutos, pois não sofre restrição; no 
entanto, comoo efeito erga ommes, contra todos, complementa Venosa, afirma que "[...] 
direito subjetivo de natureza privada"(VENOSA, 2016). 
Os direitos da personalidade são essenciais para a efetivação da Dignidade Humana, 
sendo, como os demais Direitos Humanos previstos em tratados e convenções internacionais, 
universais, indivisíveis e interdependentes. Dentre o rol de direitos da personalidade, um dos 
mais destacados no acesso à cidadania para pessoas transexuais e travestis, é o direito ao 
nome, o qual, no contexto jurídico brasileiro, está regulado pela Lei de Registros Públicos7. 
Os direitos da personalidade vêm ao encontro da Declaração dos Direitos do Homem, 
de 1789, criada no bojo da Revolução Francesa, bem como a Declaração Universal dos 
Direitos Humanos, de 1948, a qual foi adotada em Assembleia Geral das Nações Unidas e 
 
 
6 CONCEITO SOBRE DIREITO. Disponível em: < http://direito7turma.blogspot.com/2014/05/breve-conceito-
sobre-o-direito.html> Acesso em: 09/08/2018. 
7 CONCEITO SOBRE DIREITO. Disponível em: < http://direito7turma.blogspot.com/2014/05/breve-conceito-
sobre-o-direito.html> Acesso em: 09/08/2018. 
8 A RETIFICAÇÃO DO NOME NO REGISTRO CIVIL COMO MECANISMO DE ACESSO À CIDADANIA 
PARA TRANSEXUAIS E TRAVESTIS. Disponível em:<http://conteudo.pucrs.br/wp-
content/uploads/sites/11/2016/09/lucas_carvalho_2016_1.pdf> Acesso em: 22/08/2018. 
 
 
 
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proclamada com o intuito de externar a todos os povos e a todas as nações a promoção do 
bem-estar social tanto entre os povos dos próprios estados-membros, quanto entre os povos 
dos territórios sob sua jurisdição8. 
Na sua discriminação, o acolhimento circunda as particularidades psíquicas do 
indivíduo além de sua integridade física, moral e intelectual desde a sua concepção até a sua 
morte. A nossa legislação nacional adota a expressão, “Direito da Personalidade”, conquanto 
a doutrina estrangeira empregue outras nomenclaturas como: direitos subjetivos essenciais, 
direitos personalíssimos, entre outros. O Direito à Identidade é uma das grandes apreensões da 
população trans, eis que, ao crescer, a identificação entre o seu sexo biológico e o sexo 
psíquico, ou entre o sexo determinado ao nascimento e a vivência de gênero construída, não 
convergem para a mesma identidade de gênero, fazendo com que haja grande martírio 
psicológico e emocional. 
 
2.3 GÊNERO TRANSEXUALISMO E TRANSGÊNERO 
 
 O prefixo Trans pode ser definido por “além de”, “através de”. Ou seja, as pessoas que 
estão em trânsito entre os gêneros (masculino e feminino). 
Trans vem do latim e significa "do outro lado", portanto, transgênero significa: pessoa 
cujo gênero DIFERE do gênero designado ou imposto. A identidade de gênero de uma pessoa 
trans é DIFERENTE daquela atribuída ao nascimento, ou seja, gênero <=/=> gênero 
designado. 
Transexual ou transgênero identifica-se com o gênero oposto ao dado no nascimento, 
ou seja, o gênero designado/atribuído ao nascimento não está de acordo com o 
percebido/sentido pela pessoa. Essas pessoas não conseguem aceitar características 
anatômico-sexuais de seu corpo, pois as identificam com o gênero oposto (ou diferente) ao 
que sentem ser o seu. E/ou não conseguem viver socialmente de acordo com o gênero 
designado. 
 
 
 
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Existem pessoas que denotam que trans é um termo guarda-chuva que abrange pessoas 
transgêneras e pessoas transexuais. Também há pessoas que dizem que trans é somente um 
diminutivo de transgênero ou de transexual, dependendo do contexto. 
De modo geral, é possível dizer que os três termos são sinônimos e que a diferença 
entre eles está na auto-identificação. 
Há pessoas que se identificam somente com trans e não com transgênero e nem com 
transexual e isto deve ser respeitado. Não se deve chamar de transgênera uma pessoa que se 
identifica como trans e não se identifica como transgênera. 
Pessoas trans/transgêneras/transexuais podem ser binárias (mulheres e homens) ou não-
binárias (não são 100% mulher ou 100% homem). 
Exemplo: uma criança ao nascer o medico e os pais designam a o seu gênero por sua 
genitália, sendo feminina ou masculina. A criança dada como menina cresce e se descobre 
menino. Então, esse menino que sempre fora do gênero masculino, mas que sempre o trataram 
como menina, pode se identificar como homem transgênero, homem transexual, 
transmasculino, homem trans, trans-homem, etc... 
A identidade de uma pessoa depende de qual termo a pessoa mais se identifica mais se 
vê agraciado. Nesse exemplo da garota trans, a identidade de gênero se limitava ao gênero 
feminino, então seria uma pessoa binária. 
Transexualidade refere-se à condição do indivíduo cuja identidade de gênero difere 
daquela designada no nascimento e que procura fazer a transição para o gênero oposto através 
de intervenção médica, podendo ser redesignação sexual ou apenas 
feminilização/masculinização dependendo do gênero a ser transacionado (administração de 
hormônios e cirurgia de redesignação sexual). 
No seu livro “Direito ao nome da pessoa física”, no capítulo que trata dos registros 
públicos e da questão da mudança e alteração do nome, em relação aos transexuais, Amorin, 
afirma que (AMORIN, 2010): 
 
A lei deve evoluir com a sociedade, porque é dela que partem os anseios de seus 
membros, transformando as realidades trazendo na evolução, de modo a dar ao 
cidadão seus padrões e parâmetros de comportamento, sempre voltados para o bem 
comum da maioria. (...) No caso do transexualismo, não há norma vigente que 
regule os comportamentos humanos, a legalidade dos atos cirúrgicos e a mudança de 
sexo e nome nos documentos pessoais, pelo que o bom senso do julgador, formador 
da jurisprudência, é de extrema importância para aqueles que tenham pretensão de 
sofrer modificações físicas e pessoais. 
 
9 
 
 
 
O Conselho Federal de Medicina, através da Resolução nº 1.482/1997 autorizou a 
realização de cirurgias de transgenitalização em pacientes transexuais no país, alegando seu 
caráter terapêutico. Esta resolução parte do princípio de que o paciente transexual é portador 
de desvio psicológico permanente de identidade sexual, com rejeição do fenótipo e tendência 
à automutilação ou auto-extermínio. A intervenção cirúrgica passou a ser legítima no Brasil, 
desde que o paciente apresente os critérios necessários para a realização da mesma e o 
tratamento siga um programa rígido, que inclui a avaliação de equipe multidisciplinar e 
acompanhamento psiquiátrico por no mínimo dois anos, para a confirmação do diagnóstico de 
transexualismo.9 
 
2.4 CIRURGIA DE REDESIGNAÇÃO SEXUAL (CRS) 
 
Processo cirúrgico pelo qual as características sexuais/genitais de nascença de um 
indivíduo são mudadas para aquelas socialmente associadas ao gênero que ele se reconhece. 
No Brasil, a cirurgia de redesignação sexual, é regulada pela Resolução do Conselho 
Federal de Medicina de n. 1.955/10 que revoga a Resolução 1.652/02. 
Segundo a Resolução n. 1.955/10, o indivíduo transexual que apresente descômodo com o 
sexo anatômico, que deseja extinguir as genitais e as características primárias e secundárias 
que o fazem pertencer ao sexo natural, esse quadro deve porfiar no mínimo dois anos, não 
devendo existir outros transtornos psíquicos. O resignado para a cirurgia deve submeter-se 
pelo período mínimo de dois anos, a avaliação médica multidisciplinar, composta por 
psiquiatra, cirurgião, endocrinologista, psicólogo e assistente social. Além disso, deve ser 
diagnosticado pelo médico, como transexual, sermaior de 21 (vinte e um) anos e não 
apresentar características físicas inapropriadas para a realização cirúrgica. 
 
2.4.1 Primeiros relatos de redesignação sexual 
 
 
9 Brasil. Resolução nº 1.482 de 19 de setembro de 1997. Autoriza, a título experimental, a realização de cirurgia 
de transgenitalização do tipo neocolpovulvoplastia, neofaloplastia e ou procedimentos 
complementares sobre gônadas e caracteres sexuais secundários como tratamento dos casos 
de transexualismo.Diário Oficial da União 1997; 19 set. 
10 LILI ELBE Disponível em: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Lili_Elbe.> Hirschfeld, Magnus. Chirurgische 
Eingriffe bei Anomalien des Sexuallebens: Therapie der Gegenwart, pp. 67, 451–455. Acesso em: 
03/10/2018. 
 
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Primeira pessoa a fazer cirurgia de mudança de sexo foi Lili Elbe (Vejle, Dinamarca, 28 
de dezembro de 1882 — Dresden, Alemanha, 13 de setembro de 1931), nascida Einar 
Wegener, foi uma artista de sucesso conhecida com esse nome. É conhecida por ser 
provavelmente a primeira pessoa a submeter-se a uma cirurgia genital.10 Após a realização da 
mencionada cirurgia, ela abandonou legalmente seu nome de nascimento e adotou a 
identidade Lili Ilse Elvenes. 
Em dezembro de 1971, primeira cirurgia realizada no Brasil, realizada em Waldirene 
para mudança de sexo genital – de masculino para feminino. 
Cirurgia realizada no Hospital Oswaldo Cruz, em São Paulo, por Roberto Farina, um 
dos renomados cirurgiões plásticos da época do país. A paciente foi assistida durante dois 
anos por uma equipe interdisciplinar do Hospital das Clínicas, que a reconheceu como 
transexual conjuntura em que o gênero é divergente do sexo físico. 
Em 1976, o Ministério Público de São Paulo denunciou Farina por lesão corporal 
gravíssima, sujeita a pena de dois a oito anos de prisão. Waldirene foi considerada vítima, a 
sua própria revelia. Os órgãos masculinos retirados na operação foram tidos como um “bem 
físico” tutelado pelo Estado, “inalienável e irrenunciável”. “Dizer-se que a vítima deu 
consentimento é irrelevante”, afirmou relatório policial sobre o caso. 
Em 2018, a Organização Mundial de Saúde (OMS) retirou a transexualidade da lista 
de transtornos mentais, porém, continua na Classificação Estatística Internacional de 
Doenças (CID), mas em uma nova categoria, denominada "saúde sexual"11 
A Classificação Internacional de Doenças, 10ª versão (CID-10), da Organização 
Mundial de Saúde (OMS), Capítulo V, Transtornos Mentais e do Comportamento, inclui nos 
chamados Transtornos de Identidade Sexual o "transexualismo", a travestibilidade de duplo 
papel e os transtornos de identidade sexual na infância, além dos genéricos, outros transtornos 
de identidade sexual e transtorno de identidade sexual não especificado[4]. Na classificação da 
travestibilidade e transexualidade pela CID-10 cabem alguns esclarecimentos: caso a 
travestibilidade e transexualidade não fossem amparados pela CID-10, tratamentos 
hormonais, cirurgias plásticas, estéticas, e de reatribuição de sexo dificilmente poderiam ser 
realizadas com amparo de médicos credenciados. 
 
 
11 «OMS retira a transexualidade da lista de doenças mentais». G1. 19 de junho de 2018. Consultado em 19 de 
junho de 2018. 
 
11 
 
 
 
3 NOVO ENTENDIMENTO A DESNECESSIDADE DA CIRURGIA PARA A 
ALTERAÇÃO DO PRENOME E GÊNERO 
 
3.1 DIREITO À AUTODETERMINAÇÃO 
 
O provimento do CNJ veio regimentar a decisão pronunciada pelo Supremo Tribunal 
Federal, no julgamento da ADI n. 4.275 (01/03/2018), no qual a Suprema Corte percebeu 
ser viável a modificação de nome e gênero no assento de registro civil, sem a imposição de 
preliminar autorização judicial ou procedimento cirúrgico de redesignação de sexo. 
Antes mesmo de sair esse provimento muitos Estados já normalizavam tal 
procedimento nos cartórios, como podemos ver nessa jurisprudência: 
 
Jurisprudência Favorável a Tutela do Transexual 
Em 10 de novembro de 2009, o Recurso Especial nº 737.993 de Minas Gerais foi 
julgado pelo Ministro Relator João Otávio de Noronha e pelos Ministros Honildo 
Amaral de Mello Castro (Desembargador convocado do TJ/AP), Luis Felipe 
Salomão, Fernando Gonçalves e Aldir Passarinho Junior da Quarta Turma do 
Superior Tribunal de Justiça, com a ementa a seguir: “REGISTRO PÚBLICO. 
MUDANÇA DE SEXO. EXAME DE MATÉRIA CONSTITUCIONAL. 
IMPOSSIBILIDADE DE EXAME NA VIA DO RECURSO ESPECIAL. 
AUSÊNCIA DE PREQUESTIONAMENTO. SUMULA N. 211/STJ. REGISTRO 
CIVIL. ALTERAÇÃO DO PRENOME E DO SEXO. DECISÃO JUDICIAL. 
AVERBAÇÃO. LIVRO CARTORÁRIO. 1. Refoge da competência outorgada ao 
Superior Tribunal de Justiça apreciar, em sede de recurso especial, a interpretação de 
normas e princípios de natureza constitucional. 2. Aplica-se o óbice previsto na 
Súmula n. 211/STJ quando a questão suscitada no recurso especial, não obstante a 
oposição de embargos declaratórios, não foi apreciada pela Corte a quo. 3. O acesso 
à via excepcional, nos casos em que o Tribunal a quo, a despeito da oposição de 
embargos de declaração, não regulariza a omissão apontada, depende da veiculação, 
nas razões do recurso especial, de ofensa ao art. 535 do CPC. 4. A interpretação 
conjugada dos arts. 55 e 58 da Lei n. 6.015/73 confere amparo legal para que 
transexual operado obtenha autorização judicial para a alteração de seu prenome, 
substituindo-o por apelido público e notório pelo qual é conhecido no meio em que 
vive. 5. Não entender juridicamente possível o pedido formulado na exordial 
significa postergar o exercício do direito à identidade pessoal e subtrair do indivíduo 
a prerrogativa de adequar o registro do sexo à sua nova condição física, impedindo, 
assim, a sua integração na sociedade. 6. No livro cartorário, deve ficar averbado, à 
margem do registro de prenome e de sexo, que as modificações procedidas 
decorreram de decisão judicial. 7. Recurso especial conhecido em parte e provido
12
. 
 
 
 
 
12 BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. REsp 737.993/MG, Rel. Ministro João Otávio de Noronha, Quarta 
Turma, julgado em 10/11/2009, DJe 18/12/2009. Disponível em: https://ww2.stj.jus.br/revistaeletronica 
/ita.asp?registro=200500486064&dt_publicacao=18/12/2009 Acesso em: 10/08/2018. 
 
12 
 
 
 
Todo cidadão tem direito de escolher a forma como deseja ser chamado. Assim 
definiu o Supremo Tribunal Federal dia 01 de março de 2018, numa quinta-feira, por 
unanimidade, ao reconhecer que pessoas trans podem alterar o nome e o sexo no registro civil 
sem que se submetam a cirurgia. O princípio do respeito à dignidade humana foi o mais 
invocado pelos ministros para decidir pela autorização. 
A polêmica na corte foi definir se a medida vale inclusive sem decisão judicial —
 entendimento que acabou prevalecendo, por maioria. 
O interessado em trocar o nome poderá se dirigir diretamente a um cartório para 
solicitar a mudança e não precisará comprovar sua identidade psicossocial, que deverá ser 
atestada por autodeclaração. O STF não definiu a data de quando a alteração estará disponível 
nos cartórios. 
Pessoas trans podem adotar o nome social em identificações não oficiais, como 
crachás, matrículas escolares e na inscrição do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), por 
exemplo. A Ordem dos Advogados do Brasil aceita a prática desde 2017. TSE consumou que 
candidatos trangeneros femininos podem entrar na cota de mulheres. 
A administração pública federal também autoriza o uso do nome social e o 
reconhecimento da identidade de gênerode travestis e transexuais, desde abril do ano 
passado. 
O TSE decidiu que as cotas de candidatos dos partidos políticos são de gênero, e não 
de sexo. Assim, transgêneros devem ser considerados de acordo com os gêneros com que se 
identificam. A Procuradoria-Geral da República também passou a permitir que funcionários 
se identifiquem da maneira como escolherem. 
 
3.2 DIREITO A AVERBAÇÃO DA ALTERAÇÃO DO PRENOME E DO GÊNERO 
 
O Provimento n. 73 dispõe sobre o direito à averbação e alteração do prenome e 
gênero, conforme mencionado a seguir. 
 
Provimento nº 73, de 28 de junho de 2018 - Dispõe sobre a averbação da alteração 
do prenome e do gênero nos assentos de nascimento e casamento de pessoa 
transgênero no Registro Civil das Pessoas Naturais (RCPN). O CORREGEDOR 
NACIONAL DE JUSTIÇA, usando de suas atribuições constitucionais, legais e 
regimentais e CONSIDERANDO o poder de fiscalização e de normatização do 
Poder Judiciário dos atos praticados por seus órgãos [art. 103-B, § 4º, I, II e III, da 
Constituição Federal de 1988 (CF/88)]; CONSIDERANDO a competência do Poder 
13 
 
 
 
Judiciário de fiscalizar os serviços dos RCPNs (arts. 103-B, § 4º, I e III, e 236, § 1º, 
da CF/88); CONSIDERANDO a competência do Corregedor Nacional de Justiça de 
expedir provimentos e outros atos normativos destinados ao aperfeiçoamento das 
atividades dos ofícios do RCPN (art. 8º, X, do Regimento Interno do Conselho 
Nacional de Justiça); CONSIDERANDO a obrigação dos registradores do RCPN de 
cumprir as normas técnicas estabelecidas pelo Poder Judiciário (arts. 37 e 38 da Lei 
n. 8.935, de 18 de novembro de 1994); Edição nº 119/2018 Brasília – DF, 
disponibilização sexta-feira, 29 de junho de 2018, CONSIDERANDO a legislação 
internacional de direitos humanos, em especial, o Pacto de San Jose da Costa Rica, 
que impõe o respeito ao direito ao nome (art. 18), ao reconhecimento da 
personalidade jurídica (art. 3º), à liberdade pessoal (art. 7º.1) e à honra e à dignidade 
(art. 11.2); CONSIDERANDO a Convenção Interamericana de Direitos Humanos, 
da qual a República Federativa do Brasil é signatária e cujos dispositivos devem ser 
observados sob pena de responsabilidade internacional; CONSIDERANDO a 
Opinião Consultiva n. 24/17 da Corte Interamericana de Direitos Humanos, que trata 
da identidade de gênero, igualdade e não discriminação e define as obrigações dos 
Estados-Parte no que se refere à alteração do nome e à identidade de gênero; 
CONSIDERANDO o direito constitucional à dignidade (art. 1º, III, da CF/88), à 
intimidade, à vida privada, à honra, à imagem (art. 5º, X, da CF/88), à igualdade (art. 
5º, caput, da CF/88), à identidade ou expressão de gênero sem discriminações; 
CONSIDERANDO a decisão da Organização Mundial da Saúde de excluir a 
transexualidade do capítulo, de doenças mentais da Classificação Estatística 
Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde (CID); 
CONSIDERANDO a possibilidade de o Brasil, como Estado-Membro das Nações 
Unidas, adotar a nova CID a partir de maio de 2019, quando da apresentação do 
documento na Assembleia Mundial da Saúde, sendo permitidos, desde já, o 
planejamento e a adoção de políticas e providências, inclusive normativas, 
adequadas à nova classificação; CONSIDERANDO a decisão do Supremo Tribunal 
Federal que conferiu ao art. 58 da Lei n. 6.015, de 31 de dezembro de 1973, 
interpretação conforme à Constituição Federal, reconhecendo o direito da pessoa 
transgênero que desejar, independentemente de cirurgia de redesignação ou da 
realização de tratamentos hormonais ou patologizantes, à substituição de prenome e 
gênero diretamente no ofício do RCPN (ADI n. 4.275/DF); CONSIDERANDO a 
decisão proferida nos autos do Pedido de Providências n. 0005184- 
05.2016.2.00.0000, em trâmite no Conselho Nacional de Justiça,RESOLVE:13 
Art. 1º Dispor sobre a averbação da alteração do prenome e do gênero nos assentos 
de nascimento e casamento de pessoa transgênero no Registro Civil das Pessoas 
Naturais. 
[...] 
Art. 3º A averbação do prenome, do gênero ou de ambos poderá ser realizada 
diretamente no ofício do RCPN onde o assento foi lavrado. 
Parágrafo único. O pedido poderá ser formulado em ofício do RCPN diverso do que 
lavrou o assento; nesse caso, deverá o registrador encaminhar o procedimento ao 
oficial competente, a expensas da pessoa requerente, para a averbação pela Central 
de Informações do Registro Civil (CRC). 
Art. 4º O procedimento será realizado com base na autonomia da pessoa requerente, 
que deverá declarar, perante o registrador do RCPN, a vontade de proceder à 
adequação da identidade mediante a averbação do prenome, do gênero ou de ambos. 
§ 1º O atendimento do pedido apresentado ao registrador independe de prévia 
autorização judicial ou da comprovação de realização de cirurgia de redesignação 
sexual e/ou de tratamento hormonal ou patologizante, assim como de apresentação 
de laudo médico ou psicológico. 
§ 3º O requerimento será assinado pela pessoa requerente na presença do registrador 
do RCPN, indicando a alteração pretendida. 
 
 
14 
 
 
 
§ 4º A pessoa requerente deverá declarar a inexistência de processo judicial que 
tenha por objeto a alteração pretendida. 
Art. 5º A alteração de que trata o presente provimento tem natureza sigilosa, razão 
pela qual a informação a seu respeito não pode constar das certidões dos assentos, 
salvo por solicitação da pessoa requerente ou por determinação judicial, hipóteses 
em que a certidão deverá dispor sobre todo o conteúdo registral. 
[...] 
Art. 7º Todos os documentos referidos no art. 4º deste provimento deverão 
permanecer arquivados indefinidamente, de forma física ou eletrônica, tanto no 
ofício do RCPN em que foi lavrado originalmente o registro civil quanto naquele em 
que foi lavrada a alteração, se diverso do ofício do assento original. 
Parágrafo único. O ofício do RCPN deverá manter índice em papel e/ou eletrônico 
de forma que permita a localização do registro tanto pelo nome original quanto pelo 
nome alterado13. 
 
Contudo recentemente tal regra passa a valer para todo o território nacional, 
outorgando suprema indubitabilidade ao julgamento do Supremo Tribunal Federal. 
 
4 CONCLUSÃO 
 
Neste trabalho podemos apurar que todo ser humano tem direito a sua identidade, a 
pessoa transexual vivencia diversas questões de caráter social e pessoalíssimo relacionadas ao 
seu registro de nascimento, visto que seu nome e sexo documentados não condizem com sua 
realidade pessoal, ao nascerem seus genitores escolhem um nome conforme a sua genitália 
feminina ou masculina, mas nem sempre este corresponde com a realidade da pessoa, muitas 
vezes o nome não condiz como este é reconhecido pelo meio onde vive, ao modo que este se 
sente como é reconhecido, seu gênero é outro não aquele que recebeu ao nascer, mas sim 
aquele que mais se identifica com o modo de ser e como se vê perante a sociedade; 
Transexualidade refere-se à condição do indivíduo cuja identidade de gênero protela daquela 
batizada no nascimento e que procura fazer a transição para o gênero oposto através de 
intervenção médica, podendo ser redesignação sexual ou apenas feminilização/masculinização 
dependendo do gênero a ser ajustado. 
Em 1997, o Conselho Federal de Medicina, através da Resolução nº 1.482, autorizou a 
realização de cirurgias de transgenitalização em pacientes transexuais no país, alegando seu 
caráter terapêutico. 
15 
 
 
 
 
 
 
_____________________________ 
13Provimento Nº 73 de 28/06/2018. Disponível em:<http://www.cnj.jus.br/busca-atos-adm?documento=3503> 
Acessoem: 12 de julho de 2018. 
 
O corpo é um direito da personalidade, e a saúde também, por isso juridicamente a 
violação contra o corpo é severamente punido, a lei não admite nem uma maneira de 
desmaterializar o corpo. 
A recente decisão sobre a Ação Direta de Inconstitucionalidade n.º 4275, julgada em 
01 de março de 2018, abriu-se a possibilidade de que os indivíduos transexuais tenham seus 
direitos tutelados, ao dar interpretação conforme a Constituição Federativa do Brasil de 1988 
e o Pacto de São José da Costa Rica ao art. 58 da Lei nº 6.015/73; interpretação conforme a 
Constituição Federal, reconhecendo o direito da pessoa transgênero que desejar, 
independentemente de cirurgia de redesignação ou da realização de tratamentos hormonais ou 
patologizantes, à substituição de prenome e gênero diretamente no ofício do RCPN (ADI n. 
4.275/DF). 
 
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