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II Simpósio de Sanidade Avícola 14 e 15 de setembro de 2000 Santa Maria, RS Anais Exemplares desta publicação podem ser solicitados a: Embrapa Suínos e Aves Br 153 – Km 110 – Vila Tamanduá Caixa Postal 21 89.700–000 – Concórdia – SC Telefone: (49) 4428555 Fax: (49) 4428559 http: www.cnpsa.embrapa.br e–mail: sac@cnpsa.embrapa.br Tiragem: 300 exemplares Coordenação Editorial:1 Tânia Maria Biavatti Celant Paulo R. S. da Silveira Paulo Sérgio Rosa SIMPÓSIO DE SANIDADE AVÍCOLA, 2., 2000, Santa Maria, RS. Anais. Concórdia: Embrapa Suínos e Aves, 2000. 67p. 1.Ave – doença. congresso. I. Título. CDD 636.50896 c© EMBRAPA – 2000 1As palestras foram formatadas diretamente dos originais enviadas em disquete pelos autores. II Simpósio de Sanidade Avícola 14 e 15 de setembro de 2000 — Santa Maria, RS PROMOÇÃO Laboratório Central de Diagnóstico de Patologias Aviárias — LCDPA Sala 5151, Prédio 44, Campus — UFSM — Santa Maria, RS. 97105–900 – Fone (55) 220–8072 – Fax (55) 220–8257 http://www.ufsm.br/lcdpa lcdpa@www.ufsm.br CO-PROMOÇÃO Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuári Embrapa Suínos e Aves M in is té r io d a A g r icu lt u ra e do A b a s te c im en to C a ix a P o s t al 2 1 , 8 9 .7 00 -0 0 0 , C o n có rdia , S C Te le f on e (4 9 ) 4 4 2 85 5 5, F a x (4 9) 4 42 8 5 59 ht tp :/ /w w w .c n ps a. em bra p a .b r sa c@ cn p sa. em bra p a .b r iii II Simpósio de Sanidade Avícola 14 e 15 de setembro de 2000 — Santa Maria, RS APOIO â â Bayer BAYERBAE R Se é Bayer, é bom. Pro-Reitoria de Extensão COMISSÃO ORGANIZADORA Coordenação: Maristela Lovato Flôres, Prof. Adj. Taylor Marcelo Corrêa Barbosa, Acadêmico Méd. Vet. Colaboradores: Zelia Teresinha Gai, Prof. Ass. Ricardo Hummes Rauber, Acadêmico Méd. Vet. Marcos Adriano Scalco, Acadêmico Méd. Vet. Gislaine Jacobsen, Acadêmico Méd. Vet. Silvandro Antonio Noal, Téc. Lab. Méd. Vet. Cláudio Cros Leite, Méd. Vet. iv II Simpósio de Sanidade Avícola 14 e 15 de setembro de 2000 — Santa Maria, RS APRESENTAÇÃO A equipe organizadora do Departamento de Medicina Veterinária Preventiva, Centro de Ciências Rurais da UFSM e a Embrapa Suínos e Aves, colocam à disposição da comunidade técnico–científica este volume que contém as palestras apresentadas no II Simpósio de Sanidade Avícola. Esse evento pretende constituir-se num fórum anual na região Sul, para discusão dos mais novos avanços tecnológicos na detecção, prevenção e tratamento das principais patologias avícolas, visando a difução de programas de sanidade na produção de aves. De forma permanente a avicultura brasileira tem buscado viabilizar soluções para os renovados desafios gerados pelas questões sanitários, as quais exigem a manutenção do debate e da pesquisa em torno das enfermidades avícolas. Cremos que iniciativas como as deste evento, estarão apontando novas questões e, quem sabe, trazendo soluções para os nossos questionamentos. A comissão Organizadora agradece a todos os participantes, colaboradores, patrocinadores e palestrantes, que tornaram possível a realização desse simpósio. Profa Maristela Lovato Flôres Coordenadora do Evento vi II Simpósio de Sanidade Avícola 14 e 15 de setembro de 2000 — Santa Maria, RS SUMÁRIO Biosseguridade em um programa de melhoramento genético de aves Luiz A.C. Sesti . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1 Leucose Mielóide: aspectos anatomopatológicos e diagnóstico através da PCR Roberto Martins Manzan . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17 Inibição competitiva no ambiente de produção de frangos Fabio José Paganini . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22 Diagnóstico molecular de patologias infecciosas aviárias Nilo Ikuta . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30 O uso da Reação em Cadeia pela Polimerase (PCR) na detecção de Salmonella em materiais e produtos de origem avícola Vladimir P. do Nascimento,, Alexandre P. Pontes,, Carlos T. P. Salle,, Hamilton L.S. Moraes,, Cláudio W. Canal,, Luciana R. dos Santos,, Maristela L. Flôres,, Elci L. Dickel,, Laura B. Rodrigues, Joice A. Leão. . . . . . . . . . . . . . . . 39 Uso de exclusão competitiva na avicultura no Brasil Rogério Petri . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41 Probióticos e prebióticos na avicultura. Edir Nepomuceno da Silva, Raphael Lucio Andreatti Filho . . . . . . . . . . . 45 Fatores de virulência de escherichia coli de origem aviária – APEC Benito Guimarães de Brito . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 56 Recentes avanços no controle das micoplasmoses Laurimar Fiorentin . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 70 Vacinas — método natural de proteção — para Coccidiose Amaro Borges . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 76 Doença de Gumboro no Brasil Carlos Alberto Friguetto Kneipp . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 79 Anemia das galinhas: uma doença ainda pouco estudada Cláudio Wageck Canal . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 89 vii II Simpósio de Sanidade Avícola 14 e 15 de setembro de 2000 — Santa Maria, RS BIOSSEGURIDADE EM UM PROGRAMA DE MELHORAMENTO GENÉTICO DE AVES Luiz A.C. Sesti MV, MSc, PhD. Depto. de Serviços Veterinários Agroceres Ross Melhoramento Genético de Aves SA Caixa Postal 400, CEP 13500-970 – Rio Claro, SP – Brasil e–mail: lsesti@agroceres.com.br 1 Introdução O tremendo crescimento e modernização mundial da indústria avícola nas últimas duas décadas tornou claro e evidente a necessidade de uma maior e mais detalhada atenção no que diz respeito á saúde dos plantéis. Principalmente porque o crescimento desta indústria está baseado em um grande aumento no tamanho dos sistemas de produção (granjas ou complexos de granjas e núcleos) com um conseqüente grande aumento na densidade animal em uma determinada área geográfica. Isto se traduz em uma situação ideal para a multiplicação e disseminação de vários patógenos de aves (vírus e bactérias principalmente) e a ocorrência de surtos de enfermidades que acarretam elevados prejuízos econômicos. Um outro aspecto muitíssimo importante na indústria avícola é a preocupação com a saúde pública. Ou seja, os consumidores finais de produtos avícolas e podem ser acometidos por enfermidades causadas por patógenos (bactérias principalmente) presentes nestes produtos. Estes patógenos podem contaminar o produto final de várias maneiras, desde a via vertical, da mãe para a progênie, passando pela contaminação horizontal durante As fases de cria e engorda (frango) e/ou contaminação horizontal durante o processamento no frigorífico. A única maneira de manter rebanhos comerciais livres ou controlados no que diz respeito à presença de agentes de enfermidades de impacto econômico na produtividade e/ou perigosos para a saúde pública (zoonoses) é através da utilização de um programa de biosseguridade que deverá contemplar todos os aspectos gerais da medicina veterinária preventiva bem com conter aspectos exclusivos direcionados a cada sistema de produção em particular. O presente artigo tem como objetivo discutir resumidamente as principais filosofias e conceitos técnicos básicos de programas de biosseguridade para programas de melhoramento genético de aves de corte e sistemas de produção de frangos de corte. A grande maioria dos conceitos discutidos são totalmente indicados para qualquer nível da pirâmide de produção de aves de corte. 1 II Simpósio de Sanidade Avícola 14 e 15 de setembro de 2000 — Santa Maria, RS 2 Biosseguridade 2.1 Conceito e Nomenclatura Apropriada Biosseguridade é uma palavra relativamente nova em nosso vocabulário e é encontrada em muito poucosdicionários. Em seu sentido geral ela significa o estabelecimento de um nível de segurança de seres vivos por intermédio da diminuição do risco de ocorrência de enfermidades agudas e/ou crônicas em uma determinada população. Este conceito geral é aplicável à populações de qualquer espécie animal bem como para a espécie humana. Em produção de aves, um Programa de Biosseguridade significa o desenvolvi- mento e implementação de um conjunto de políticas e normas operacionais rígidas que terão a função de proteger os rebanhos contra a introdução de qualquer tipo de agentes infecciosos, sejam eles vírus, bactérias, fungos e/ou parasitas. Uma vez que ocorra uma quebra na biosseguridade de um sistema de produção e determinado patógeno(s) contamina(m) o(s) rebanho(s) é necessário que o programa de biosseguridade seja redesenhado e adaptado à nova situação de saúde do sistema em questão. Isto é, se for econômica, técnica e legalmente possível conviver com os agentes infecciosos agora presentes no sistema, o programa de biosseguridade deverá preconizar normas (e.g., novas vacinas, diferente fluxo de produção, separação das fases de produção, etc. . . , etc. . . ) que possibilitem o máximo controle da multiplicação e disseminação destes agentes bem como um mínimo impacto na produtividade do rebanho. Biosseguridade é um conceito técnico, ou ainda, uma filosofia técnica aplicada à saúde de seres vivos, e no presente caso, a rebanhos da moderna avicultura industrial. Pela especificidade e ao mesmo tempo abrangência de sua conceituação técnica, o termo biosseguridade torna-se muito mais apropriado quando o assunto for saúde animal. Certas ditas “expressões técnicas” as quais vem sendo utilizadas há muitas décadas, tais como: “manejo sanitário”, “controle sanitário”, “sanidade animal”, “sanidade avícola”, “barreira sanitária”, “programa sanitário”, “programa de sanidade” e “sanidade de rebanho”, entre muitas outras variações, . . . . tornam-se irrelevantes e sem sentido quando as comparamos com o conceito e filosofia de biosseguridade e seus termos correlatos. Senão, vejamos as definições literais destes termos (Novo Dicionário da Língua Portuguesa — Aurélio Buarque de Holanda Ferreira — 1a Edição, 15a Impressão — Editora Nova Fronteira, Rio de Janeiro, RJ, Brasil — página 1268): Sanidade. [Do lat. Sanitate.] S.f. 1. Qualidade ou estado de são. 2. Salubridade; higiene. 3. Normalidade física ou psíquica. Sanitário. [Do fr. Sanitaire.] Adj. 1. Relativo à saúde ou à higiene. 2. Relativo a, ou próprio de banheiro (1): louça sanitária. V. água —a, aparelho —, bacia — a, e vaso —. S.m. 3. V. banheiro (2). Tais expressões não expressam a idéia e conceito de saúde animal e medicina veterinária preventiva (ambos claramente relacionados com programas de biosseguri- dade para sistemas de produção animal) e deveriam ser substituídas por outras mais cientificamente apropriadas e esclarecedoras tais como: 2 II Simpósio de Sanidade Avícola 14 e 15 de setembro de 2000 — Santa Maria, RS • “manejo sanitário”, “controle sanitário” substituídas por Normas de Biosseguri- dade; • “sanidade animal” substituída por Saúde Animal ou Saúde das Aves, etc. . . , etc. . . para outras espécies domésticas; • “sanidade avícola” substituída por Saúde Avícola; • “barreira sanitária” substituída por Norma de Biosseguridade ou Barreira de Saúde Animal; • “programa sanitário”, “programa de sanidade” substituídas por Programa de Biosseguridade e • “sanidade de rebanho” substituída por Saúde de Rebanho. Um dos exemplos mais típicos de expressões tecnicamente não apropriadas é o muito conhecido “Vazio Sanitário” o qual, embora seja largamente utilizado, não tem sentido como conjunto de palavras e é impossível de ser definido como tal. Certamente, a grande maioria dos médicos veterinários que trabalham na avicultura sabem que esta expressão significa um determinado período de tempo (dias, semanas, meses), após a retirada de um lote de aves e realizada completa limpeza e desinfecção, durante o qual a(s) instalação(ões) fica(m) completamente vazia(s), sem a presença de qualquer espécie animal. Com absoluta certeza existem outros termos mais apropriados e corretos para expressar este mesmo procedimento de biosseguridade, como por exemplo: vazio das instalações (galpão, granja, etc. . . ), descanso das instalações, intervalo entre lotes, etc. . . , etc. . . . A medicina veterinária, assim como todas as outras ciências correlatas da área biomédica, está em constante evolução não somente sob o ponto de vista técnico mas igualmente sob o ponto de vista filosófico. É essencial que os profissionais desta área saibam reconhecer esta evolução e adaptar-se rapidamente à mesma. Somente deste agindo deste modo é que estes profissionais terão amplas condições de implementar e operacionalizar novos conceitos e procedimentos técnicos a medida que os mesmos forem sendo desenvolvidos e validados. 2.2 Componentes da Biosseguridade Como relatado acima, biosseguridade são procedimentos desenhados para principalmente prevenir a entrada e a disseminação de enfermidades em um sistema de produção de aves. Isto é alcançado via mantença de o menor fluxo possível de organismos biológicos (vírus, bactérias, parasitas, fungos, roedores, animais silvestres, pessoas, etc. . . ., etc. . . .) através das divisas do sistema de produção. Nenhum programa de prevenção de doenças será efetivo sem este procedimento básico. Biosseguridade tem basicamente oito componentes principais que funcionam como elos de uma corrente. Ou seja, um programa de biosseguridade somente alcançará pleno sucesso quando todos os elos desta corrente estiverem firmemente unidos uns aos outros. Cada um destes elos necessita permanente manutenção e revisão para evitar-se pontos de enfraquecimentos na corrente e conseqüente falha na biosseguridade do sistema (Figura 1). 3 II Simpósio de Sanidade Avícola 14 e 15 de setembro de 2000 — Santa Maria, RS Isolamento Controle de Tráfico / Fluxo Higienização Quarentena, Vacinação, Medicação Erradicação de Doenças Monitoramento Auditoria e Atualização Educação ContinuadaPROGRAMA DEPROGRAMA DE BIOSSEGURIDADEBIOSSEGURIDADE Figura 1 — A cadeia de componentes básicos de um programa de biossegu- ridade. 2.2.1 Isolamento Refere-se ao confinamento dos animais dentro de uma área controlada. Localização do Sistema de Produção É o fator mais importante para a prevenção da ocorrência de algumas doenças, principalmente aquelas transmitidas pelo ar (aerossóis, poeira, etc. . . ). O sistema de produção deverá ser localizado com base em informações sobre: • densidade animal da área (deve ser a menor possível); • tipo de produção (cria/recria/produção juntos ou cada uma das fases separadas; incubatório; e granja de engorda de frangos); • clima (variações de temperatura durante as estações do ano): • ventos predominantes na região, os quais podem determinar a que distâncias certos agentes patogênicos podem ser transmitidos; • existência de barreiras físicas naturais (morros, florestas naturais, etc. . . ). Cercas e Barreiras Físicas A construção de cercas perimetrais (para cada núcleo e para toda a área da granja na caso de aves) e a colocação de avisos de “entrada proibida” são muito importantes para o controle do isolamento do rebanho. Além dos avisos de “entrada proibida” também devem ser colocados avisos na entrada principal do sistema de produção que informem claramente que as aves alojadas neste sistema são criadas sob um rígido programa de biosseguridade e que visitas não oficialmente autorizadas são totalmente proibidas. 4 II Simpósio de Sanidade Avícola 14 e 15 de setembro de 2000 — Santa Maria, RS As cercas perimetrais das instalações deverão ser totalmente à prova de pessoas e animais domésticos e silvestres. Os galpões devem ser telados com telas à provade pássaros silvestres e roedores. É recomendável a implantação de barreiras físicas (plantação de árvores) ao redor de cada núcleo. No entanto, é muito importante que esta barreira seja grande o suficiente para verdadeiramente agir como uma barreira. Ou seja, meia dúzia de linhas de árvores apenas não pode ser considerada uma barreira eficaz. Uma sugestão, seria a plantação de uma barreira de árvores de rápido crescimento (e.g., pinus ou eucaliptus) com um largura de aproximadamente 50 metros. As linhas devem ser desencontradas para não permitir passagem direta de vento por entre as árvores. 2.2.2 Controle de Tráfico / Fluxo Refere-se ao controle do tráfico e direção do fluxo de animais, pessoas entrando ou saindo do sistema de produção. Em sistemas de produção de aves este fluxo deve, idealmente, obedecer ao conceito de “áreas limpas” e “áreas sujas” (Figura 2). Á RE A LIM PA Á RE A SU JA Á RE A SU JA A P O IO C E NTR A L Figura 2 — Conceito de “áreas limpas” e “áreas sujas” em sistemas de produção de aves de corte (matrizes pesadas). Todas as pessoas, veículos, máquinas e equipamentos entrando na granja deverão entrar pela área de apoio central após seguir todos os procedimentos de banho, troca de roupa, limpeza e desinfecção e dirigir-se a um dos núcleos de aves através da “estrada limpa” ou “área limpa”. Após a visita, estes veículos e pessoas retornam ao apoio central através da “estrada suja” ou “área suja”. Se porventura outro núcleo tiver que ser visitado, todo o procedimento será repetido. 5 II Simpósio de Sanidade Avícola 14 e 15 de setembro de 2000 — Santa Maria, RS Trânsito/Fluxo de Animais O trânsito de animais dentro do sistema de produção deverá sempre seguir a hierarquia do material genético pertencente ao sistema, ou seja, este trânsito deverá ser sempre, sem exceções, do topo para a base da pirâmide de produção (Figura 3). Esta política é mandatória para animais pertencentes ao próprio sistema e/ou para animais vindos de fora (lotes avós e/ou matrizes de reposição). Fluxo Obrigatório de Animais, Veículos Pessoas e Materiais GP GRANJA E INCUBATÓRIO DE BISAVÓS Nível 1 Nível 2 Nível 3 Nível 4 Linhas Puras GRANJA E INCUBATÓRIO DE AVÓS GRANJA E INCUBATÓRIO DE MATRIZES GRANJA DE ENGORDA DE FRANGOS Nível 5 Figura 3 — Pirâmide genética e de fluxo de produção de em avicultura de corte (matrizes pesadas) dividida em diversos níveis da hierarquia do programa de melhoramento genético: Nível 1. é o ápice da pirâmide (GP = Granja de Pedigree). E é o nível onde os rebanhos das linhas puras (Elite) são mantidos para sua própria reprodução e melhoramento genético. Os ovos destas linhas puras são incubados no incubatório de bisavós. Nível 2. consiste de rebanhos onde é realizada a multiplicação de avós através do cruzamento de bisavós. No incubatório de bisavós podemos ter o nascimento de linhas puras, bisavós e avós. Nível 3. onde é realizada a multiplicação de matrizes através do cruzamento de diferentes linhas de avós. No incubatório de avós nascem as matrizes. Nível 4. Onde é realizada a produção de frangos de corte. No incubatório de matrizes nascem os frangos de engorda. Nível 5. Consiste nas chamadas granjas de frango, onde serão engordados e terminados para abate aqueles frangos nascidos no incubatório de matrizes (Nível 4). 6 II Simpósio de Sanidade Avícola 14 e 15 de setembro de 2000 — Santa Maria, RS Poder Multiplicador O poder multiplicador de enfermidades transmitidas verticalmente de uma pirâmide de produção em um sistema de produção de aves domésticas de corte é imenso (Tabela 1). Tabela 1 — Poder multiplicador da pirâmide de produção de aves domé- sticas Níveis da Pirâmide de Produção Poder Multiplicador 1- Granja de Pedigree (linhas puras) → 1 e 10 (linha genética pura) ↓ ↓ 2- Granja e Incubatório de Bisavós → 150 Bisavós ↓ ↓ 3- Granja e Incubatório de Avós → 6.000 Avós ↓ ↓ 4- Granja e Incubatório de Matrizes → 294.000 Matrizes ↓ ↓ 5- Granja de Frangos de Corte → 40.000.000 Frangos de Corte ↓ ↓ 6- CONSUMIDOR FINAL ˜67 mil ton de carne de frango No topo da pirâmide (nível 1) encontra-se a granja de melhoramento genético e multiplicação de linhas genéricas puras (linhas macho e fêmea). Normalmente, em programas de melhoramento genético de matrizes pesadas, cada uma destas populações de linhas puras estão divididas em vários grupos de acasalamento consistidos cada um de um macho e 10 fêmeas. Durante o período (normalmente 6–8 semanas) em que as aves de um destes grupos está contribuindo (ovos férteis) para o programa de melhoramento genético, aproximadamente 15 bisavós são produzidas por cada fêmea de linha pura do grupo de acasalamento, totalizando um número de 150 bisavós (nível 2). Cada uma destas, durante sua vida reprodutiva normal, irá produzir em torno de 40 avós o que perfazerá um total de 6 mil avós (nível 3). Do mesmo modo, estas avós irão multiplicar e produzir um total de 294 mil matrizes pesadas (49 matrizes por avó; nível 4) as quais por sua vez produzirão aproximadamente 40 milhões de frangos de corte (143 pintos de um dia por matriz menos 4% de mortalidade até o abate; nível 5). Ao abate destes frangos, serão produzidas em torno de 67 mil toneladas de carne de frango (peso vivo médio ao abate de 2,4 kg com 70% de rendimento de carcaça; nível 6). É portanto, bastante evidente que qualquer microorganismo patogênico sendo transmitido verticalmente ao longo desta pirâmide de produção poderá causar grandes prejuízos econômicos aos produtores e indústria. Além disso, se o patógeno transmitido verticalmente for de importância na saúde pública (zoonoses; e.g., salmonelas), as perdas para o mercado avícola poderão ser multiplicadas várias vezes pelo impacto da opinião pública e diminuição do consumo de produtos avícolas. 7 II Simpósio de Sanidade Avícola 14 e 15 de setembro de 2000 — Santa Maria, RS Trânsito/Fluxo de Pessoas Um período de tempo longe do contato com aves e outros animais domésticos, laboratórios veterinários e frigoríficos deve, obrigatoriamente, ser obedecido por todos aqueles “não funcionários” que estarão adentrando o sistema de produção e entrando em contato direto com as aves. Um mínimo de 48 horas é recomendado. O importante é que durante este tempo de descanso a pessoa tome pelo menos dois banhos completos e troque toda a roupa pelo menos duas vezes. Aqueles que porventura tenham estado em contato com um rebanho suspeito de estar contaminado com ou sem sintomatologia clínica deverão, dependendo da enfermidade presente no rebanho visitado anteriormente, passar por um período de descanso de 72 a 120 horas antes de visitarem outro sistema de produção. Alguns outros aspectos também muito importantes com relação ao fluxo de pessoas são: • manter registro escrito de todos os visitantes. Este registro deve conter a data e motivo da visita, data do último contato do visitante com qualquer espécie de aves e data do último contato com laboratórios veterinários de diagnóstico; • sempre ter contato com animais mais jovens primeiro (lotes, núcleos); • nunca visitar um lote sem problemas após visitar outro lote suspeito de estar doente; • nunca visitar mais de dois/três núcleos/lotes por dia; • nunca visitar sistemas de produção de espécies animais diferentes no mesmo dia; • nunca visitar qualquer sistema de produção sem um planejamento detalhado das tarefas que serão executadas durante a visita para que esta seja a mais rápida e objetiva possível; • visitas sociais JAMAIS devem ser admitidas em qualquer sistema de produção. Granjas de aves ou de suínos NÃO SÃO, sob qualquer hipótese, locais de passatempo e visitas não técnicas e/ou comerciais; • qualquer funcionário de um sistema de produção deve ter autoridade para barrar a entrada de QUALQUER visitante sem a devida permissão; • funcionários dosistema de produção SÃO PROIBIDOS, por força de contrato de trabalho específico, de possuírem em suas casas galinhas de fundo de quintal e qualquer outra espécie de aves, seja ornamental ou seja doméstica; • seguir estritamente os procedimentos de limpeza e desinfecção preconizados para o fluxo de pessoas, veículos, materiais e equipamentos. 8 II Simpósio de Sanidade Avícola 14 e 15 de setembro de 2000 — Santa Maria, RS Trânsito / Fluxo de Veículos Todos os veículos utilizados em um sistema de produção (caminhões, camionetas, tratores, etc. . . ) devem, idealmente, serem exclusivos para cada sistema de produção. Veículos externos são proibidos de adentrar o perímetro interno das granjas, bem como motoristas externos não podem entrar em contato direto com animais (aves) e funcionários do sistema. 2.2.3 Higienização Refere-se aos procedimentos de limpeza e desinfecção recomendados para o sistema de produção, bem como para o programa de controle de vetores e disposição de animais mortos. A redução da carga microbiana (também conhecida por “pressão de infecção”) nas instalações e ambiente do sistema de produção irá diminuir em muito o risco de ocorrência de doenças no rebanho. Além disso, a realização rotineira de um processo de higienização detalhado e efetivo é condição “sine qua non” não só para a mantença de um alto nível de saúde no rebanho como também para a erradicação de enfermidades presentes no sistema. Pessoas (funcionários e visitantes) Todas as pessoas adentrando o sistema de produção deverão tomar banho e trocar toda a roupa na entrada principal do sistema de produção, geralmente chamada de apoio central. No caso de granjas de aves, um segundo banho e muda de roupa deverá ocorrer no área de apoio do núcleo a ser visitado. À saída do núcleo, outro banho deverá ser tomado e a roupa a ser vestida será aquela que foi utilizada no trânsito até o núcleo. Veículos, Materiais e Equipamentos Todo e qualquer veículo (caminhões, tratores, etc. . . ), materiais de consumo (caixas, material de construção para manutenção das instalações, etc. . . , etc. . . ) e equipamentos (seringas, comedouros, etc. . . , etc. . . ) devem ser totalmente limpos e desinfetados no apoio central do sistema de produção e novamente à entrada de cada núcleo. Recomenda-se a construção de um sistema de fumigação à entrada principal da granja e à entrada de cada núcleo. Para veículos que tenham estado em áreas externas ao sistema de produção, recomenda-se um período de descanso de 8–12 horas ao sol após completa limpeza com água e detergente seguida por desinfecção. A atividade letal de desinfetantes contra vírus, bactérias, fungos e parasitas irá depender de sua composição química e composição estrutural do microorganismo a ser eliminado. Para escolher-se o produto desinfetante a ser utilizado, as seguintes importantes características devem ser analisadas: • custo; • eficácia espectro de ação contra os diferentes tipos de microorganismos; 9 II Simpósio de Sanidade Avícola 14 e 15 de setembro de 2000 — Santa Maria, RS • atividade na presença de matéria orgânica. Embora às vezes ocorra, nunca se deve desinfetar qualquer tipo de superfície que contenha matéria orgânica. Para isto, deve-se lavar as superfícies completamente com detergente antes da desinfecção; • toxicidade para homens e animais; • atividade residual; • corrosividade para tecidos e metais; • atividade na presença de sabão (detergente); • solubilidade (acidez, alcalinidade, pH); • tempo de contato necessário para uma efetiva desinfecção. NENHUM desinfetante age instantaneamente. TODOS eles necessitam de algum tempo de contato com o microorganismo para eliminá-lo. Alimento (ração pronta, matérias primas) Investigações científicas conduzidas em vários países da América e Europa demonstram claramente que o alimento administrado aos animais pode ser uma maiores, senão a maior (para alguns patógenos em particular), fonte de contaminação de rebanhos de aves domésticas comerciais (salmonelas, clostridium, E. coli, etc. . . ). Estatísticas disponíveis mostram que aproximadamente 4% de todas as matérias primas utilizadas em rações de aves estão contaminadas com algum sorotipo (patogênico ou não) de salmonela. Portanto, é praticamente impossível implementar um controle da contaminação por salmonelas em rebanhos de suínos e aves sem a implementação conjunta de procedimentos técnicos efetivos de desinfecção de matérias primas e/ou rações prontas. Um controle consistente e efetivo da contaminação por salmonelas em rações e matérias primas é dependente da habilidade de descontaminar o alimento e prevenir sua recontaminação. Vários produtos comerciais contendo ácidos orgânicos (principalmente os ácidos propiônico e fórmico e seus sais) com ou sem a presença de formaldeído tem sido usado com sucesso para reduzir a contaminação bacteriana no alimento de aves e suínos. Estes produtos podem inclusive ajudar a prevenir a recontaminação do alimento na fábrica de ração e durante o transporte e armazenamento. Existem ainda outros produtos comerciais a base de ácidos orgânicos os quais ainda possuem aldeídos, terpenos naturais e surfactantes. Estas substâncias podem ter um efeito sinergístico na atividade bactericida do produto comercial. Tradicionalmente, o controle de salmonela em rações de aves tem sido tentado através de processos de fabricação de rações, como por exemplo, a peletização. Entretanto, o tempo de exposição à temperatura padrão de peletização (alguns segundos a 65–75oC) não permite, sob qualquer hipótese, uma descontaminação total bem como não evita a multiplicação de células bacterianas ainda presentes no alimento após a peletização. Além disso, a recontaminação do alimento quando de sua passagem pelo resfriador pode facilmente ocorrer. 10 II Simpósio de Sanidade Avícola 14 e 15 de setembro de 2000 — Santa Maria, RS Para uma total descontaminação do alimento deve ser utilizada uma combinação de temperatura, umidade e tempo de exposição ao calor. Um exemplo desta combinação é o processo de tratamento térmico da ração utilizado pela Agroceres Ross para descontaminação de todas as rações para aves produzidas na fábrica de seu sistema de produção: Temperatura R©85oC mínimo Umidade Relativa R©15–17% Tempo de exposição R©12 minutos mínimo Este tratamento, quando apropriadamente realizado, assegura a eliminação total de enterobactérias e salmonelas. Além disso, o alimento descontaminado deve ser submetido a um rigoroso programa de biosseguridade para a prevenção da recontaminação durante o período pós-tratamento (armazenamento na fábrica de ração R©carregamento no caminhão R©transporte até a granja R©descarregamento na granja R©armazenamento na granja) até o momento da ingestão de alimento pelas aves. Água e Controle de Vetores / Portadores de Agentes Infecciosos Sistemas de desinfecção de água via produtos químicos (e.g., cloro), via raios ultra-violeta, ou adição de ácidos orgânicos devem ser implementados para prevenir a introdução de vários patógenos via água de bebida (influenza, doença de Newcastle, Pasteurela, Salmonelas, etc. . . ). Roedores, pássaros silvestres, insetos (e.g., moscas, cascudinho) e mamíferos silvestres e domésticos constituem um importante reservatório de patógenos para aves. Estes animais são um grande risco de entrada de agentes de enfermidades nos rebanhos via eliminação direta do agente no meio ambiente e conseqüente contaminação lateral. Todas as instalações devem ser à prova de roedores e pássaros e um efetivo programa de eliminação e controle de roedores e insetos deve ser implementado. Disposição de Animais Mortos Carcaças de animais mortos dentro do sistema de produção constituem também um grande risco de entrada de enfermidades nos rebanhos, seja via a atração de vetores (insetos, roedores, etc. . . ) e/ou pelo aumento da pressão e infecçãoambiental com uma conseqüente quebra no equilíbrio com a imunidade de rebanho. A melhor maneira de se dispor de animais mortos é via incineração. Se o método não é disponível, é necessária a construção de fossas sépticas no perímetro das instalações. 2.2.4 Quarentena, Vacinação e Medicação Referem-se aos processos mais diretos de controle e prevenção de enfermidades. Quarentena é o período de observação clínica e investigações diagnósticas, realizado em um local afastado do sistema de alojamento definitivo dos animais, durante o qual o animal é observado e testado para a presença de determinadas enfermidades. Somente após o período de quarentena é que os animais seriam introduzidos no local 11 II Simpósio de Sanidade Avícola 14 e 15 de setembro de 2000 — Santa Maria, RS definitivo de alojamento. Em aves, o conceito muda um pouco na prática. Na realidade, em lotes de bisavós, avós e/ou matrizes de corte pode-se considerar toda a fase de cria e recria (0 a 20–22 semanas de idade) das aves como uma quarentena. Pois a qualquer momento durante este período, se o lote for confirmado como positivo para certos patógenos (e.g., Micoplasma gallisepticum / synoviae, Salmonela pullorum / gallinarum / enteritidis / typhimurium) não será permitido que ele entre em produção e o lote será abatido e substituído. Já para lotes de aves importadas, o período de quarentena poderá, dependendo das exigência legais, passar por sua definição clássica mencionada acima. A duração de uma quarentena pode variar bastante dependendo da enfermidade a ser prevenida e dos testes diagnósticos disponíveis. Programas de vacinação são parte muito importante de qualquer programa de biosseguridade. As vacinas a serem utilizadas irão variar muito de acordo com a região e o tipo de sistema de produção em questão. No entanto, alguns aspectos são essenciais para desenhar-se um programa de vacinação efetivo e tecnicamente correto para aves: • bom conhecimento da epidemiologia e patogenia das enfermidades de impor- tância econômica e de saúde pública; • pressão de infecção destas enfermidades na região onde serão alojados os animais; • utilizar o menor número possível de diferentes tipos de vacinas e JAMAIS utilizar vacinas desnecessárias ou de necessidade duvidosa, não comprovada cientificamente. Isto só é benéfico para os laboratórios que as produzem; • utilizar sempre vacinas produzidas por laboratórios idôneos e que possuam bom controle de qualidade do produto final; • nenhum tipo de vacina utilizada em aves previne em 100% a infecção e colonização do animal pelos agentes etiológicos das enfermidades; • mesmo para aquelas vacinas capazes de conferir um alto nível de proteção, muito desta efetividade é geralmente perdida através erros cometidos durante o armazenamento e administração das vacinas; • existem enfermidades emergentes contra as quais não existem vacinas disponí- veis; • Sempre ocorrerá o aparecimento de cepas variantes de um mesmo patógeno, contra as quais as vacinas disponíveis podem conferir muito pouca ou nenhuma proteção. Em sistemas de produção de aves de reprodução (bisavós, avós e/ou matrizes de corte) existe uma certa quantidade de tipos de vacinas consideradas “obrigatórias” no Brasil, (e.g., doença de Marek, bouba, coccidiose, bronquite infecciosa, doença de Newcastle, doença de Gumboro e encéfalomielite aviária). É essencial verificar-se antes da utilização de qualquer vacina, se o uso da mesma não é controlado oficialmente pelo Ministério da Agricultura. 12 II Simpósio de Sanidade Avícola 14 e 15 de setembro de 2000 — Santa Maria, RS Medicações em doses terapêuticas são excelentes ferramentas no controle de surtos de enfermidades bacterianas e/ou na prevenção de problemas bacterianos secundários em surtos de doenças virais. Mas, devem ser consideradas procedi- mentos emergenciais dentro de um programa de biosseguridade. Além disso, o uso indiscriminado de antibióticos em doses terapêuticas irá propiciar o aparecimento / seleção de cepas de microorganismos resistentes à cada droga em particular. O uso de antibióticos como medida preventiva em pintos de um dia de idade é totalmente contra indicado, salvo em situações epidemiológicas emergenciais. 2.3 Monitoramento refere-se aos procedimentos diagnósticos realizados rotineiramente nos rebanhos com o objetivo de confirmar a presença ou ausência de determinados patógenos em um rebanho e também para a avaliação da imunidade conferida pelas vacinas aplicadas. Os principais objetivos deste monitoramento seriam: • estabelecer e registrar o nível atual de saúde do rebanho; • assegurar a efetividade do programa de vacinas; • estabelecer a efetividade do programa de bioseguridade; • disparar um processo efetivo de investigação quando um problema é detectado; • obedecer legislação em vigor (e.g., Plano Nacional de Sanidade Avícola-PNSA). Existem várias maneiras de se monitorar a efetividade de um programa de biosseguridade. A utilização de dados de desempenho dos rebanhos tais como: mortalidade, índices de produtividade e condenações ao abate; são de valor para o monitoramento. É necessário lembrar que estes dados podem ser também afetados por fatores de manejo e nutrição. O nível de saúde dos rebanhos deve ser monitorado através de testes de sorologia, bacteriologia e, quando possível, virologia. Deve-se também monitorar todos os outros possíveis meios de contaminação do rebanho tais como, água (presença de coliformes fecais, análise físico-química), alimento (presença de enterobactérias e salmonelas) e funcionários do sistema (presença de salmonelas em suabes retais). Os principais meios diagnósticos de monitoramento da saúde do rebanho são: 1. inspeções clínicas de rotina e visitas veterinárias aos rebanhos; 2. sorologias R©Soroaglutinação Rápida, ELISA, e HI (inibição da hemo- aglutinação); 3. bacteriologia em amostras coletadas dos animais e do meio-ambiente; 4. cultivo virológico em cultura de células de embrião de galinha; 5. PCR R©Polymerase Chain Reaction = Reação em Cadeia da Polimerase, para detecção de segmentos específicos do genoma de um determinado patógeno em amostras coletadas diretamente do animal, ou amostras de cultura bacteriana ou ainda de amostras ambientais e de alimento. 13 II Simpósio de Sanidade Avícola 14 e 15 de setembro de 2000 — Santa Maria, RS Um programa de biosseguridade efetivo deve portanto, conter um programa de amostragem para monitoramento sorológico e bacteriológico dos rebanhos. Algumas principais enfermidades a serem monitoradas sorologicamente no Brasil são: • soroconversão vacinal (bronquite infecciosa, doença de Newcastle, doença de Gumboro, encéfalomielite aviária, anemia infecciosa das galinhas) • micoplasmas gallisepticum e synoviae; salmonela pullorum, enteritidis e typhi- murium • síndrome da queda da postura; anemia infecciosa das galinhas; pneumovírus aviário; vírus da leucose aviária; influenza (recomendável quando o rebanho recebe aves de reposição importadas); reticuloendoteliose. 2.3.1 Erradicação/Controle de Doenças Refere-se ao fato de que, em determinadas situações, o programa de biossegu- ridade pode ser modificado e adaptado com o objetivo de erradicação ou controle de enfermidade(s) presente(s) nos rebanhos ou nos sistemas de produção. Nestas situações as normas de monitoramento da saúde do rebanho (testes diagnósticos a serem utilizados) deverão ser direcionadas para os patógenos a serem erradicados ou controlados. Além disso, as normas de biosseguridade para fluxo de pessoal, veículos e equipamentos, limpeza e desinfecção das instalações deverão ser adaptadas baseadas nas informações da epidemiologia e patogenia dos agentes em questão. Exemplos de doenças bacterianas que podem ser erradicadas são as micoplasmoses e salmoneloses aviárias. 2.3.2 Auditoria e Atualização referem-se aos procedimentos de monitorizaçãodos aspectos operacionais de um programa de biosseguridade, bem como a necessidade de permanente atualização dos procedimentos. De uma maneira geral, programas de biosseguridade são elaborados por médicos veterinários os quais não serão aqueles a implantarem o programa operacionalmente. Normalmente, os responsáveis pela implantação e operacionalização do programa de biosseguridade são os técnicos e funcionários envolvidos com a produção dos rebanhos do sistema. Portanto, é essencial que os aspectos operacionais do programa sejam rotineiramente auditados para se ter certeza de que todas as normas estão implantadas apropriadamente e para evitar-se o surgimento e perpetuação de erros de rotina. Ou seja, erros que não percebidos por aqueles envolvidos com as tarefas de rotina. Aspectos básicos da auditoria do programa de biosseguridade: • ser realizadas por médicos veterinários treinados para tal. De preferência por aqueles que estiveram envolvidos na elaboração do programa; 14 II Simpósio de Sanidade Avícola 14 e 15 de setembro de 2000 — Santa Maria, RS • direcionada a todos os pontos chave do sistema: instalações dos animais (isolamento, infra-estrutura, etc. . . ); alimento pronto e suas matérias primas; incubatórios; e qualidade do sistema e práticas de transporte; • datas das auditorias não devem seguir uma rotina nem devem ser anunciadas com antecedência; • deve ser criado um sistema de “escore de biosseguridade” que permita acompanhar a evolução do trabalho daqueles responsáveis pelo sistema sendo auditado. 2.3.3 Educação Continuada Refere-se ao processo permanente de treinamento e educação em biosseguridade de todos aqueles envolvidos com o sistema de produção. Pessoas são os elementos chave para o sucesso de um programa de biosseguri- dade. Todos, indistintamente, devem entender perfeitamente porque biosseguridade é importante e com fazê-la. Este entendimento deve, obrigatoriamente, começar pelo mais altos níveis administrativos do sistema (presidente e diretoria), passar por todas as outras áreas gerenciais (técnicas e comerciais) e descer até os níveis operacionais mais simples do sistema de produção. É evidente que o nível de argumentação e complexidade técnica deve ser adaptado para o nível cultural daqueles em treinamento, mas sempre deixando bem claro a importância da biosseguridade e a importância de cada um em implementá-la para a sobrevivência da empresa. A educação continuada deve ser realizada sob a forma de palestras (duas a três ao ano) com amplo uso de modernos recursos audio–visuais. É muito importante incentivar a participação da audiência para que todos possam expressar claramente como eles vêem biosseguridade em sua rotina de trabalho do dia a dia. De maneira rápida, mas enfática, todos os principais aspectos de um programa de biosseguridade devem ser relembrados nestes treinamentos. Um programa de biosseguridade pode ser comparado com um programa de qualidade total, ou seja, ambos exigem muita disciplina, constante treinamento e, principalmente, mudança comportamental de todos envolvidos. 3 Conclusões Surtos de doenças podem causar perdas econômicas substanciais à avicultura e suinocultura intensivamente exploradas devido principalmente à: • efeitos diretos e indiretos na produção; • qualidade e aceitabilidade de reprodutores (avós e matrizes) pelos produtores; • qualidade e aceitabilidade do produto final (carne de aves) pelos consumidores finais. 15 II Simpósio de Sanidade Avícola 14 e 15 de setembro de 2000 — Santa Maria, RS Procedimentos de biosseguridade com qualidade total, os quais são efetivos em proteger os rebanhos, são relativamente baratos para serem implantados. Além disso, podem ser extremamente efetivos em manter bons níveis de produtividade e em facilitar a comercialização e a confiança dos consumidores nos produtos finais. O futuro sucesso e prosperidade das modernas avicultura industrial dependerá em grande parte da efetividade e qualidade dos programas de biosseguridade implementados. Estes terão a tarefa de lidar com os novos desafios e requerimentos técnicos originados por surtos de enfermidades endêmicas e epidêmicas. O aspecto mais importante na implantação, operacionalização e manutenção de um programa de biosseguridade é a disciplina de todos aqueles envolvidos em todos os passos. Uma única pessoa parte de um grupo de apenas um único elo da corrente de biosseguridade (Figura 1) a qual não tenha a disciplina e o treinamento apropriado é mais do que suficiente para causar a falha do programa e, consequentemente, perda de todo o investimento realizado. Biosseguridade É DISCIPLINA E COMPROMETIMENTO 4 Referências Bibliográficas Agroceres Ross Melhoramento Genético de Aves SA (1995) Manual de Biossegurida- de (1995) Rio Claro, SP, Brasil. CALNEK, BW; Barnes, HG; Beard, CW; McDougald, LR & Saif, YM (editors) Diseases of Poultry (10th edition, 1997) Iowa State University Press, Ames, Iowa, USA. JORDAN, FTW & Pattison, M (editors) Poultry Diseases (4th edition, 1996) W.B. Saunders Company Ltd, London, UK. PATTISON, M (editor) The Health of Poultry (1993) Longman - Veterinary Health Series, Longman Scientific & Technical – Longman Group UK Limited, Essex, England, UK RITCHIE, BW; Harrison, GJ & Harrison, LR (editors) Avian Medicine: principles and application (1999), HBD International Inc., Delray Beach, Florida, USA RUDD, K (1999) Poultry Reality Check Needed. The Poultry Informed Professional. Issue 25, May 1999. Athens, GA, USA. SAINSBURY, D (2000) Poultry Health and Management: chickens, ducks, turkeys, geese, quail (4th Edition), Blackwell Science, Oxford, England, UK SESTI, LAC (1996) Bioseguridade na disseminação de material genético. Anais, XV PANVET Congresso Panamericano de Ciências Veterinárias. 21–25 Outubro 1996, Campo Grande, MS. Seminário S11, páginas S11.2–1 a S11.2–8 SESTI, LAC & Soares, RB (1998) A situação da Leucose Mielóide no mundo. II Encontro de Avicultura de Corte da Região de Descalvado. Anais, 12 de Novembro de 1998, Descalvado, SP. SESTI, LAC & Sobestiansky (1999; 2a Edição) A Função da Medicina Veterinária na Suinocultura Moderna. Goiânia, GO, Brasil. 16 II Simpósio de Sanidade Avícola 14 e 15 de setembro de 2000 — Santa Maria, RS LEUCOSE MIELÓIDE: ASPECTOS ANATOMOPATOLÓGICOS E DIAGNÓSTICO ATRAVÉS DA PCR Roberto Martins Manzan Mestrando Depto. Patologia FMVZ/USP e–mail: robertomanzan@yahoo.com Introdução Leucose Mielóide é uma enfermidade neoplásica que acomete galinhas e tem como agente etiológico o Vírus da Leucose Aviária subgrupo J (VLA–J). No ano de 1999 a Leucose Mielóide causou perdas consideráveis em lotes de reprodutores e ainda não foi encontrada a solução19. Tais perdas são resultantes do baixo peso corporal das aves22, baixo índice de conversão alimentar e mortalidade9, atingindo índices de 0,5 a 1,5% acima da normal a cada semana5. Pelo fato de a Leucose Mielóide ser uma enfermidade recente e de grande relevância na avicultura mundial, torna-se importante o conhecimento das lesões produzidas nos tecidos e células, acrescentando informações que servirão de auxílio para o diagnóstico da enfermidade. No Brasil alguns estudos têm sido realizados nas áreas de epidemiologia7, diagnóstico molecular do vírus6, 8 e outras provas diagnósticas3. Terminologia Existe uma certa confusão nos termos utilizados para denominar esta doença. Leucose ou Leucemia Mielóide? Mielocitoma/mielocitomatose ou mieloblastose? Estes por sua vez são sinônimos de Leucose Mielóide? O termo Leucose Mielóide tem sido amplamente utilizado para designar a doença neoplásica causada pelo Vírus da Leucose Aviária subgrupo J (VLA–J). O termo Leucemia Mielóide também é correto e mais atual, porém pouco utilizado em Medicina Veterinária. Mielocitomatose ou mielocitoma são sinônimos de Leucose Mielóide por apresentarem as mesmas característicasanatomopatológicas, porém foram utilizados primeiramente para designar a doença neoplásica causada por cepas laboratoriais de vírus do grupo leucose/sarcoma aviário (MC29, MH2, CMII e OK10)15. Agora, mieloblastose é uma doença neoplásica das células da medula óssea causada por outras cepas laboratoriais de vírus do grupo leucose/sarcoma aviário (AMV–BAI–A e E26)15 e que apresentam características anatomopatológicas distintas da Leucose Mielóide. 17 II Simpósio de Sanidade Avícola 14 e 15 de setembro de 2000 — Santa Maria, RS Etiologia O grupo de doenças leucose/sarcoma compreende uma variedade de neoplasias, benignas ou malignas, causadas por diferentes retrovírus aviários pertencentes à família Retroviridae 13. Dentro desta família inclue-se o Vírus da Leucose Aviária (VLA) que acometem galinhas, classificados nos subgrupos A, B, C, D, E e J. Com base nos mecanismos naturais de transmissão, os VLA podem ser classificados em exógenos (subgrupos A, B, C, D e J) e endógeno (subgrupo E), e destes apenas os vírus exógenos são patogênicos15. O Vírus da Leucose Aviária subgrupo J (VLA–J) foi diagnosticado primeiramente na Inglaterra em 1989 14 e nos últimos anos tem sido identificado em plantéis avícolas em muitas regiões do mundo. Nos Estados Unidos constatou-se uma grande incidência desse vírus em lotes de reprodutores de linhagem pesada4, e no Brasil, a ocorrência de VLA–J também tem sido relatada2, 7, 18. Epidemiologia O VLA–J pode disseminar-se pelas vias vertical e horizontal. A transmissão vertical ocorre na passagem do vírus da galinha para o albúmen do ovo e daí para o embrião resultando em pintos imunotolerantes com frequente ocorrência de tumores23. A transmissão horizontal ocorre por contato de direto de ave a outras através de excreções e secreções, geralmente há produção de anticorpos e o aparecimento de tumores é raro16. Patogenia O VLA–J possui acentuado tropismo para células da linhagem mielomonocítica da medula óssea, e isto lhe confere a habilidade em causar Leucose Mielóide1. O vírus transforma células mielomonocíticas no estágio final de diferenciação, mielócito ou monócito16. As células infectadas são transformadas gradualmente em células neoplásicas, as quais migram para colonizar outros órgãos, produzindo tumores de diversos tipos15. A Leucose Mielóide manifesta-se comumente em aves de linhagem pesada e com idade acima de 17 semanas (inicio da maturidade sexual) 16. O VLA–J apresenta alta incidência em lotes de reprodutoras de linhagem pesada14. Apesar de experimentalmente o VLA–J ter causado tumores em poedeiras comerciais do tipo leghorn13, não se tem relatos da sua ocorrência a campo. Aspectos macroscópicos As lesões macroscópicas da Leucose Mielóide são tumores de coloração branco- amarelada, nodulares ou difusos, encontrados no esterno, fígado e costelas, algumas vezes acometendo o baço, rins, timo e gônadas16. Foi observado, em galinhas com Leucose Mielóide, células tumorais na medula óssea de vários ossos (cabeça, costela, 18 II Simpósio de Sanidade Avícola 14 e 15 de setembro de 2000 — Santa Maria, RS vértebras, esterno, fêmur, úmero) e nas partes ossificadas da cartilagem da laringe e traquéia5. No esterno, os mielócitos acumularam no periósteo e nos músculos adjacentes. As lesões mais comuns da Leucose Mielóide são: múltiplos focos puntiformes de coloração esbranquiçada distribuídos, difusamente, pelo parênquima hepático, esplênico, renal e no ovário. Foi relatado casos de tumores em timo, cloaca, ovário, pâncreas, mesentério e músculo peitoral, em que a lesão assumiu aspecto nodular e as formações tumorais não ultrapassaram 0,5 cm de diâmetro10. Também verificou-se na glândula da membrana nictante acentuado aumento de volume, superfície irregular, coloração branca, e na face ventral da pele da região cervical, evidenciou-se a presença de nódulo ulcerado, de consistência firme com 1 cm de diâmetro10. Histopatologia O aspecto macroscópico pode fornecer indicações sobre a natureza do tumor, mas a histopatologia é essencial para um diagnóstico adequado17. Histologicamente o tumor consiste de uma massa de mielócitos uniformes com pouco estroma, as células tumorais são similares aos mielócitos normais porém com núcleos grandes, nucléolo evidente e citoplasma preenchido com grânulos acidófilos15. O VLA–J pode interagir com outros vírus causadores de tumor, principalmente com o Vírus da Doença de Marek11, 24, por isso o diagnóstico virológico não estabelece por si só a causa do tumor, tornando-se necessário a identificação histopatológica para indicar sua causa provável17. Diagnóstico através da PCR (reação de polimerase em cadeia) A técnica da PCR permite o diagnóstico de microorganismos através da detecção de genes contidos no ácido nucléico destes agentes, sendo assim uma técnica altamente específica. Com isso atualmente ela tem sido amplamente aplicada para diagnóstico de doenças aviárias de impacto econômico. Foram desenvolvidas técnicas de PCR para VLA–J através da detecção do RNA viral ou do provírus (DNA produzido na síntese viral e que está integrado ao genoma da célula infectada) em materiais como soro sangüíneo, leucócitos e órgãos tumorais19, 20. No Brasil esta técnica tem sido aplicada para detecção do VLA–J, demonstrando bons resultados.2, 7, 8. 1 Referências Bibliográficas 1- ARSHAD, S.S.; et al. Tropism of subgroup J avian leukosis virus as detected by in situ hybridization. Avian Pathology, v.28, p.168–174, 1999. 2- BRENTANO, L. Resultados de diagnóstico do vírus da leucose J em galinhas de corte. In: SIMPÓSIO SOBRE ONCOVÍRUS AVIÁRIOS, Concórdia, 1999. Anais. Concórdia, EMBRAPA, 1999, p. 18–20. 19 II Simpósio de Sanidade Avícola 14 e 15 de setembro de 2000 — Santa Maria, RS 3- BRENTANO, L.; ZANELLA, J.R.C. Leucose aviária subtipo J: importância e diferentes metodologias para o diagnóstico e erradicação. Avicultura Industrial, março, p.34–36, 1999. 4- FADLY, A.M. Myelocitomatosis: na emerging disease of broiler breeder chickens. In: Proceedings of the Forty Seventh Western Poultry Disease Conference, Sacramento, 1998. Kenett Square, American Association of Avian Pathologists, 1998, p.43–45. 5- FADLY, A.M. & SMITH, E.J. Isolation and some characteristics of a subgroup J-like Avian Leukosis Virus associated with Myeloid Leukosis in meat-type chickens in the United States. Avian Diseases, v.43, n.3, p. 391–400, 1999. 6- FONSECA, A.S.K. et al. Diagnóstico molelular do vírus da leucose aviária – subgrupo J. In: CONFERÊNCIA APINCO 98 DE CIÊNCIA E TECNOLOGIA AVÍCOLAS, Campinas, 1998. Anais. Campinas, FACTA, 1998, p.49. 7- FONSECA, A.S.K. et al. Estudo da prevalência do vírus da leucose aviária - subgrupo J – em linhagens comerciais de corte. In: CONFERÊNCIA APINCO 99 DE CIÊNCIA E TECNOLOGIA AVÍCOLAS, Campinas, 1999. Anais. Campinas, FACTA, 1999, p.81. 8- FONSECA, A.S.K. et al. Detecção e diferenciação molecular de subgrupos exógenos do Vírus da Leucose Aviária – ALV. Revista Brasileira de Ciência Avícola, suplemento 2, p.103, 2000. 9- HUNTON, P. Leukosis–J virus still major threat. World Poultry, v.15, n.7, p.34–36, 1999. 10- MANZAN, R.M. et al. Leucose mielóide: localizações atípicas dos tumores e detecção do VLA–J através da PCR. Revista Brasileira de Ciência Avícola, suplemento 2, p.84, 2000. 11- McKAY, J.C. A poultry breeder’s approach to avian neoplasia. Avian Pathology, v. 27, p.74–75, 1998. 12- PAYNE, L.N. Avian leukosis/sarcoma. In: McFERRAN, J.B.; McNULTY, M.S. Virus infection of birds. Amsterdan: Elsevier Science Publishers, 1993. p. 411–435. 13- PAYNE, L.N. et al. Myeloid leukaemogenicity and transmission of the HPRS-103 strain of avian leukosis virus. Leukemia, v.6, p. 1167–1176, 1992. 14- PAYNE, L.N. et al. Host range of Rous sarcoma virus pseudotype RSV (HPRS– 103) in 12 avian species: support for a new avian retrovirus envelop subgroup designatedJ. Journal of Genneral Virology, v.73, p.2995–2997, 1991. 15- PAYNE, L.N.; FADLY, A.M. Leukosis/sarcoma group. In: CALNEK, B.W. et al. Diseases of Poultry. 10. ed. Ames: Iowa State University Press, 1997. p. 414–466. 16- PAYNE, L.N. HPRS–103: a retrovirus strikes back. The emergence of subgroup J avian leukosis virus. Avian Pathology, v.27, p. S36–S45, 1998. 17- PAYNE, L.N.; McKAY, J.C. Diagnóstico diferencial de las leucosis aviares y el linfoma de la enfermedad de Marek y los procedimientos para erradicar los virus exógenos de la leucosis aviar. In: XVI Congreso Latinoamericano de Avicultura, Lima, 1999. Anais. Lima, Associación Latinoamericana de Avicultura, 1999, p.68–74. 18- SILVA, E.N. Aspectos clínicos da leucose aviária (subgrupo J) em matrizes pe- sadas no Brasil. In: CONFERÊNCIA APINCO 98 DE CIÊNCIA E TECNOLOGIA AVÍCOLAS, Campinas, 1998. Anais. Campinas, FACTA, 1998, p. 27–32. 20 II Simpósio de Sanidade Avícola 14 e 15 de setembro de 2000 — Santa Maria, RS 19- SLUIS, W. van der. 1999 World poultry diseases update. World Poultry, v.15, n.7, p.30–33, 1999. 20- SMITH, E.J. et al. Detection of avian leukosis virus subgroup J using the polymerase chain reaction. Avian Diseases, v.42, p.375–380, 1998. 21- SMITH, L.M. et al. Development and aplication of polymerase chain reaction (PCR) tests for the detection of subgroup J avian leukosis virus. Virus Research, v.54, p. 87–98, 1998. 22- STEDMAN, N.L.; BROWN, T.P. Body weight suppression in broilers naturally infected with Avian Leukosis Virus subgroup J. Avian Diseases, v.43, n.3, p. 604–610, 1999. 23- VENUGOPAL, K. Subgroup J avian leukosis virus-induced myeloid leukosis: recent developments in pathogenesis, diagnosis & control. In: SIMPÓSIO SOBRE ONCOVÍRUS AVIÁRIOS, Concórdia, 1999. Anais. Concórdia, EMBRAPA, 1999, p. 18–20. 24- ZAVALA, G. Actualidades en investigación sobre Virus de Leucosis subgrupo J. In: XVI Congreso Latinoamericano de Avicultura, Lima, 1999. Anais. Lima, Associación Latinoamericana de Avicultura, 1999, p.45–46. 21 II Simpósio de Sanidade Avícola 14 e 15 de setembro de 2000 — Santa Maria, RS INIBIÇÃO COMPETITIVA NO AMBIENTE DE PRODUÇÃO DE FRANGOS Fabio José Paganini M.V., Coopers Brasil Ltda e–mail: fabiopag@bewnet.com.br Introdução A avicultura de corte está sofrendo fortes pressões em duas frentes, o que de forma geral resumem o desafio que os profissionais do setor têm enfrentado: • A elevação dos custos de produção e as freqüentes “crises”, levando a uma busca incessante da redução dos custos e de produzir com maior eficácia; • Pressão dos mercados consumidores, num primeiro momento no mercado europeu mas também em países emergentes, por alimentos mais saudáveis, com menor resíduo químico e disponibilizando cada vez menos opções de drogas para tratamentos preventivos e curativos. O modelo tradicional de produção de frangos, onde a produtividade é garantida com o uso de drogas, tem um futuro incerto. As drogas usadas na avicultura moderna de forma profilática, e que vêm sofrendo as restrições acima mencionadas, podem ser divididas em 2 grupos: • Anticoccidianos; • Aditivos melhoradores de desempenho (promotores de crescimento). Como alternativa aos anticoccidianos no controle da coccidiose, não há grande preocupação, já que o uso de vacinas contra coccidiose aviária são hoje seguras e comprovadas. A grande preocupação é com relação à substituição aos aditivos promotores de crescimento. Algumas alternativas têm surgido para sua substituição: • Probióticos: são suplementos alimentares compostos por cultura pura ou composta de microorganismos vivos com a capacidade de se instalar e proliferar no trato intestinal, com ação de promover o crescimento, beneficiando a saúde do hospedeiro pelo estímulo às propriedades existentes na microbiota natural. Seus modos de ação são: competição por sítios de ligação (exclusão competitiva); produção de substâncias antibacterianas e enzimas; competição por nutrientes; estimulação do sistema imune. (NEPOMUCENO, 2000). • Prebióticos: oligassacarídeos não digeríveis pela ave e pelas bactérias patogênicas, “alimentando” seletivamente algumas bactérias desejáveis, como Lactobacillus spp. e Bifidobacterium spp. (NEPOMUCENO, 2000). 22 II Simpósio de Sanidade Avícola 14 e 15 de setembro de 2000 — Santa Maria, RS • Simbióticos: termo que se refere ao uso concomitante de probióticos e prebióticos. • Inibição competitiva: diferencia-se da exclusão competitiva por fazer o controle das bactérias patogênicas no ambiente, diminuindo assim a pressão de infecção sobre as aves. Discutiremos a seguir alguns de seus aspectos e nossa experiência com seu uso. O que é inibição competitiva A inibição competitiva consiste em inocular a cama com quantidades bastante elevadas de bactérias que tenham condições de se multiplicar e predominar sobre populações bacterianas potencialmente patogênicas. O Impact–P, produto que atua por inibição competitiva, é um composto a base de Bacillus subtilis e suas enzimas proteases. Atua através de 2 mecanismos: • Efeito físico: a partir de um grande inóculo inicial e de uma grande capacidade de multiplicação, ocorre a rápida colonização da cama e a ocupação dos espaços disponíveis; • Efeito químico: obtido com a liberação para o meio de enzimas proteases, que tem efeito na viabilidade das principais bactérias de importância avícola. Esses efeitos reduzem a chance das aves se inocularem com bactérias nocivas ao ciscarem, reduzindo o stress imunológico e a possibilidade da ocorrência de doenças. Vários estudos foram realizados a fim de comprovar o efeito de Bacillus subtilis no ambiente de produção. Em um dos estudos, a bactéria foi cultivada até a fase log, que é a fase onde morre na mesma taxa em que se reproduz. O meio de cultura foi centrifugado para a remoção das bactérias, permanecendo o meio de cultura e os materiais secretados pelas bactérias durante o crescimento. Dez microgramas desta solução foram impregnados em discos de papel de filtro. Os discos foram colocados em placas de Petri onde havia culturas de E. coli, Salmonella e Clostridium. Foram usados dois discos com antibióticos (controle positivo) e um disco sem antibiótico (controle negativo). Houve a formação de grandes halos de inibição ao redor dos discos de antibióticos e ao redor dos discos impregnados com o extrato de Bacillus subtilis observou-se a presença nítida de uma anel de inibição do crescimento bacteriano. O Bacillus subtillis cria um ambiente desfavorável aos vários patógenos, incluindo E. coli, Clostridium, Salmonella, e recentemente obtivemos dados da Universidade da Georgia mostrando que o intestino das aves criadas sobre cama tratada apresenta menos de 1/3 de bactérias do gênero Campylobacter quando comparado com o intestino de aves criadas sobre cama não tratada. Embora tenhamos avaliado individualmente o efeito do Bacillus subtillis sobre as espécies de bactérias mencionadas acima, foram realizados estudos avaliando-se a contagem total de bactérias Gram negativas no ambiente de produção e sobre o corpo das aves. Estes estudos foram realizados pelo PARC INSTITUTE (Easton— Maryland— EUA). 23 II Simpósio de Sanidade Avícola 14 e 15 de setembro de 2000 — Santa Maria, RS Dezesseis grupos de aves foram divididos em dois tratamentos (cama tratada e cama não tratada) com oito repetições em cada tratamento. Neste experimento, avaliamos a contagem de bactérias Gram negativas presente na cama de cada box e a contagem de bactérias presentes no exterior das aves. A contagem bacteriana na cama (Tabela.1) foi determinada através da semeadura de 50g de cama em 500 ml de meio triptose fosfato e posterior semeadura de 0,20 ml desta cultura em placas com ágar MacConkey. A contagem bacteriana no exterior das aves (Tabela.2) foi determinada através da imersão total do corpo da ave sacrificadaaos 49 dias de idade, em 500 ml de meio triptose fosfato. Em seguido foi realizada a semeadura de 0,40 ml em placas com ágar MacConkey para a contagem de colônias. Tabela 1 — Análise microbiológica da cama (No de bactérias por ml) Box Cama não tratada Inibição competitiva 1 246 102 2 154 85 3 302 137 4 214 196 5 139 165 6 441 43 7 152 87 8 207 49 Média 231.88 108.00 Análise estatística* b a Desvio padrão 94.11 50.68 C.V. 40.59 46.92 * Médias na mesma linha, seguidas de letras diferentes são significativa- mente diferentes (p<0.05) 24 II Simpósio de Sanidade Avícola 14 e 15 de setembro de 2000 — Santa Maria, RS Tabela 2 — Contagem bacteriana no exterior das aves (No de bactérias por ml) Box Cama não tratada c 1 69 15 2 16 6 3 54 33 4 38 49 5 48 15 6 93 8 7 32 29 8 57 18 Média 50.575 21.625 Análise estatística* b a Desvio padrão 22.07 13.53 C.V. 43.38 62.55 * Médias na mesma linha, seguidas de letras diferentes são significativamente diferentes (p<0.05) Podemos afirmar que a inibição competitiva proporciona um ambiente com menos estresse imunológico, através da inibição competitiva na cama, o que pode proporcionar uma redução de mortalidade, melhora na conversão alimentar, redução das condenações no abatedouro, e melhora no ganho de peso. Indicações para o uso da inibição competitiva em frangos de corte 1. Na melhoria da produtividade A redução ambiental da carga bacteriana se reflete no desafio imunológico a nível de trato digestivo, o que por sua vez leva a um benefício em conversão alimentar. Isso foi comprovado em todas as avaliações feitas no Brasil. Além disso, a mortalidade decorrente de doenças infecciosas também é menor. É o que podemos observar nos dados apresentados a seguir. 25 II Simpósio de Sanidade Avícola 14 e 15 de setembro de 2000 — Santa Maria, RS Tabela 3 — Performance de 10 produtores de frango de corte, por 3 lotes consecutivos. Primeiro ciclo Segundo ciclo Terceiro ciclo Média In. In. In. In. Com. Controle Com. Controle Com. Controle Com. Controle Peso médio 2,201 2,299 2,101 2,265 1,973 2,111 2,123 2,157 C. A 1,754 1,839 1,776 1,838 1,789 1,842 1,769 1,839 C. A (2Kg) 1,706 1,768 1,752 1,775 1,795 1,816 1,74 1,801 Idade 41,58 43,13 40,44 43,01 40,4 41,55 40,86 41,97 Mort. (%) 2,413 2,789 2,67 2,93 2,509 2,846 2,53 2,85 IEE 294,53 281,77 284,75 278,12 266,2 267,97 282,08 275,95 Tabela 4 — Resultados de performance em 4 produtores de frangos de corte. Aloja mento Abatidos Mortali dade CA GPD PM IEE Controle 7000 6021 13,98 2,084 42,581 1,831 180 Inib. Comp. 7000 6525 6,78 1,831 51,142 2,148 266 Controle 7000 6840 2,28 1,879 50,38 2,116 267 Inib. Comp. 7000 6750 3,57 1,781 50,142 2,106 277 Controle 11550 9945 13,52 1,84 42,439 1,74 204 Inib. Comp. 15200 13803 9,19 1,834 43,658 1,79 222 Controle 6800 6475 4,77 1,973 53,977 2,375 266 Inib. Comp. 6700 6471 3,41 1,797 55,159 2,427 303 Média Controle 8075 7319 8,63 1,935 47,344 2,017 229 Inib. Comp. 8975 8137 5,93 1,81 50,025 2,118 267 Benefícios -2,02 -0,125 2,681 0,101 38 Na avaliação a seguir, pode-se constatar outro benefício do uso da inibição competitiva, e para o qual ele é mais utilizado nos EUA, que é a melhoria de performance de produtores com histórico ruim. Vejamos os resultados quando selecionamos produtores com histórico de desempenho inferior à média da integração. 2. Na produção de aves “orgânicas” Com base em trabalhos anteriores que demonstraram os benefícios da inibição competitiva , quando aplicada em camas de frangos de corte – diminuição de 60% de bactérias potencialmente patogênicas na cama e incremento na performance, desenvolvemos o trabalho que apresentamos a seguir. Os tratamentos A,B,C,D e E são diferentes associações de promotores de crescimento Gram negativos com Enramicina (Gram positivo), todos nas dosagens recomendadas pelos fabricantes. No tratamento com Impact–P não foram usados promotores de crescimento. 26 II Simpósio de Sanidade Avícola 14 e 15 de setembro de 2000 — Santa Maria, RS Tabela 5 — Resultados de performance em produtores com histórico ruim. Produtor Idade Mort. Peso C.A. Cond. C. Parcial IEE IEE Total (6 lotes) A 47 3.83 2651 1,99 0,26 0,30 272,58 246,87 B 47 3.48 2537 1,97 0,45 0,33 264,47 248,28 C 47 5.40 2565 2,10 0,65 0,81 245,84 239,41 D 48 9.54 2565 2,10 0,35 1,00 230,19 248,99 E 48 4.92 2613 2,01 0,61 0,77 257,51 247,90 F 47 3.61 2441 1,98 0,23 0,32 252,83 233,35 G 48 3.64 2517 1,96 0,36 0,17 257,80 244,73 Média 47,42 4.92 2555 2,02 0,42 0,53 254,46 244,22 Integração 46,31 5.02 2486 2,02 0,62 0,61 252,41 O controle da coccidiose em todos os tratamentos foi feito com a vacina Coccivac–B, aplicada no primeiro dia de vida. Tabela 6 — Resultados de performance de lotes com diferentes associações de promotores de crescimento e um produto para inibição competitiva. Tratamento Peso(g) Ganho de peso (g) Consumo de ração (g) Conversão alimentar Mortalidade (%) A 2596,37 2553,04 4850,07 1,853 2,00 B 2626,07 2582,75 4828,38 1,828 3,00 C 2654,39 2611,14 4926,51 1,836 2,67 D 2648,01 2604,82 4947,40 1,840 3,00 E 2627,43 2584,02 4898,38 1,843 1,00 Inib. Comp. 2605,31 2561,80 4906,61 1,858 2,00 Os resultados obtidos para os diferentes parâmetros não diferiram estatistica- mente entre os tratamentos. Aves foram necropsiadas ao longo do experimento para avaliar a incidência de enterites, e também não foram observadas diferenças entre os tratamentos. O tratamento com inibição competitiva apresentou também os menores escores de cake, comprovando o benefício em qualidade de cama obtido com seu uso. 3. Outros benefícios com o uso da inibição competitiva • Redução de condenações no abatedouro: condenações de caráter infec- cioso, como aerossaculite e celulites; • Redução da contaminação de carcaças; • Prevenção de doenças bacterianas em geral; • Diminuição na condenação por calos de pé; • Melhora da qualidade da cama e do ar; • Uso da cama por mais lotes consecutivos. 27 II Simpósio de Sanidade Avícola 14 e 15 de setembro de 2000 — Santa Maria, RS Indicações para uso da inibição competitiva em matri- zes 1. Controle de Salmonella enteritidis Com base nos excelentes resultados de ação “in vitro” na inibição de Salmonella spp., desenvolvemos trabalhos que nos permitissem dar maior segurança na sua indicação. Após a antibioticoterapia, a inibição competitiva faz o controle da bactéria no ambiente, evitando que as aves se recontaminem, como vemos no trabalho a seguir. Tabela 7 — Resultados de análise de swab de arrasto em galpões de matrizes de corte. Lote 1 Semanas idade 21 23 25 27 29 31 33 35 37 39 41 Salmonella enteritidis - + - - - - - - - - - Lote 2 Semanas idade 49 51 53 55 57 59 61 Salmonella enteritidis - + - - - - - Ambos os lotes foram diagnosticados positivos. Foi feita antibioticoterapia por 10 dias e aplicação posterior de Impact–P. No lote 1 foi feita uma reaplicação na semana 30, mantendo alta a população de Bacillus subtilis na fase de pico de produção, quando as aves são submetidas a forte stress. 2. Reaproveitamento de cama em galpões de recria A grande maioria das empresas está segmentando as granjas de matrizes em galpões de recria e galpões de produção. Ao final das 20 semanas nos galpões de recria, percebe-se que a cama ainda tem, na maioria dos casos, condições de abrigar mais um lote. A grande preocupação é a possibilidade de veicular agentes patogênicos para os lotes consecutivos. Quando tivermos diagnosticado algum problema sanitário importante, o reco- mendável é não só trocar a cama, como tomar outras medidas que visem eliminar a possibilidade de contaminação do lote seguinte. Entretanto, quando a condição sanitária estiver sob controle, o efeito da inibição competitiva, associado ou não à fermentação da cama tem condições de nos dar a tranqüilidade necessária para alojarmos mais de um lote em galpõesde recria. 3. Prevenção de doenças bacterianas em geral A inibição competitiva por Bacillus subtilis tem excelente ação na prevenção de diferentes doenças bacterianas, como artrites bacterianas, colibaciloses, pasteureloses e clostridioses. Para esses casos, recomenda-se a aplicação do produto 2 semanas antes do pico de desafio e aplicações posteriores com intervalo de 6 semanas. 28 II Simpósio de Sanidade Avícola 14 e 15 de setembro de 2000 — Santa Maria, RS Conclusão A partir da experiência que adquirimos com inibição competitiva, acreditamos estar disponibilizando à avicultura brasileira uma alternativa comprovada no incremento de performance e saúde das aves. Sua eficácia e flexibilidade de uso serão sem dúvida um aliado do setor na produção de carne sem riscos à saúde do consumidor, aliando excelente resultado zooeconômico aos lotes. Referências Bibliográficas NEPOMUCENO, E. Probióticos e Prebióticos na Alimentação das Aves. Conferência APINCO de Ciência e Tecnologia Avícolas. Campinas, 2.000. Anais. LOGAN, W. Manejo da cama de frangos de corte e impacto microbiológico no ambiente de produção. Cocciforum. Campinas, junho 2.000. Anais. PAGANINI, F. J. Inibição competitiva no ambiente de produção de frangos de corte – Programa Impact–P. Cocciforum. Campinas, junho 2.000. Anais. 29 II Simpósio de Sanidade Avícola 14 e 15 de setembro de 2000 — Santa Maria, RS DIAGNÓSTICO MOLECULAR DE PATOLOGIAS INFECCIOSAS AVIÁRIAS Nilo Ikuta Simbios Biotecnologia Pesquisador da Universidade Luterana do Brasil – ULBRA e–mail: ikuta@ultra.br Introdução Diagnóstico Molecular é uma área da biologia molecular que utiliza técnicas baseadas nos princípios de hibridização e replicação de ácidos nucleicos, permitindo a detecção e caracterização de microrganismos patogênicos associados com doenças infecciosas. Atualmente, considera-se irreversível a tendência desta área obter um lugar de destaque nos laboratórios de análises microbiológicas, sejam eles de análises clínicas e patológicas humanas, de sanidade animal ou de controle de qualidade industrial de alimentos. Técnicas como a REAÇÃO EM CADEIA DA POLIMERASE (PCR – Polymerase Chain Reaction), têm permitido grande evolução nas análises de rotina de laboratóri- os clínicos e industriais. Organismos não adaptados ao cultivo tornaram-se passíveis de serem analisados. Novos patógenos estão sendo descobertos e os mecanismos de associação com doenças elucidados. Em poucos anos, o diagnóstico molecular evoluiu de uma mera curiosidade tecnológica para um campo vasto e complexo, com o potencial para revolucionar a ciência e a prática da medicina e áreas correlatas. A PCR consiste na síntese enzimática in vitro de cópias de DNA a partir de uma seqüência alvo. A especificidade do teste é obtida a partir da utilização de seqüências complementares à específica do patógeno. Num ensaio de PCR, caso haja complementariedade entre os “iniciadores” (primers) e o DNA da amostra analisada, haverá a ligação de ambos, seguida pela reação de síntese de DNA in vitro. A repetição desta reação por 30 a 40 vezes (ciclos) dá origem a bilhões de cópias do alvo num processo de amplificação (a quantidade dobra a cada ciclo), conferindo extraordinária sensibilidade. Numa rotina de detecção molecular, a única variável é a presença/ ausência do DNA do patógeno (ou RNA, no caso de alguns vírus). Assim, só haverá síntese in vitro do ácido nucleico quando o patógeno estiver presente na amostra. No campo do diagnóstico molecular de doenças infecciosas aviárias, há trabalhos de investigação científica contemplando praticamente todos os patógenos de rele- vância econômica. Dentre outros, valem destacar: a detecção vírus da bronquite infecciosa (18–19, 29, 39), mycoplasmas (30–33), salmonelas (5, 22, 36), vírus da doença de gumboro (7, 9–11, 12–15, 21), vírus da anemia infecciosa (34), pneumovírus, vírus da leucose linfóide (28) e mielóide (6, 8), vírus da doença de marek (27, 38), vírus da reticuloendoteliose (28, 35), reovírus (37), vírus da laringotraqueíte (1, 4), vírus da doença de Newcastle (17) etc. 30 II Simpósio de Sanidade Avícola 14 e 15 de setembro de 2000 — Santa Maria, RS Via de regra, a detecção molecular obtém resultados semelhantes aos de isolamento, sendo ainda, adicionalmente interessante, nos casos de patógenos de difícil cultivo ou em casos em que se busca diferenciação de sorotipos, cepas, etc. Basicamente, os equipamentos e reagentes utilizados na detecção molecular de diferentes patógenos são os mesmos; o que muda, obviamente, são os iniciadores, que são patógeno-específicos, tornando a técnica altamente versátil. Uma sofisticação das técnicas de diagnóstico molecular é a tipagem molecular (análogas a testes convencionais como a vírus-neutralização e sorotipagem) que, além de indicar a presença do patógeno no campo, permite caracterização específica do agente causal, diferenciando-o (caso de distinção entre cepas vacinais, entre cepas vacinais e de campo, etc). Isto possibilita avaliação refinada, onde os testes sorológicos são menos específicos, e também a avaliação de programas de vacinação. Por não necessitarem de cultivo ou isolamento, são técnicas que permitem a obtenção de resultados em curto espaço de tempo. A tipagem do vírus da bronquite infecciosa (ibv) e do vírus da doença de gumboro (ibdv) são bons exemplos da aplicação destas técnicas. Existem possíveis variações nas técnicas de tipagem molecular, como a aplicação de (a) sondas ou de (b) primers genótipos/sorotipos específicos; uma terceira forma, que alia praticidade e sensibilidade consiste da (c) caracterização do produto da PCR que advém do processo de detecção, aproveitando-o na tipagem molecular. Esta última, é valida no caso do IBDV, por exemplo, onde se amplifica uma região do antígeno VP2, comum a qualquer isolado do vírus. Apesar dos primers utilizados para esta PCR serem comuns a todos os ibdvs, o produto da síntese apresenta variações internas nas seqüências sintetizadas. Estas variações são evidenciadas pela digestão com enzimas de restrição, que reconhecem seqüências específicas de ácidos nucleicos e promovem clivagens. Neste caso, cada sorotipo apresenta padrão próprio de restrição. Modalidades de Diagnóstico Molecular em patologias aviárias disponíveis no país. O uso corrente de técnicas moleculares já é realidade no país. Várias empresas já aplicam parâmetros de diagnóstico molecular em diferentes circunstâncias de manejo. A Simbios Biotecnologia tem oferecido pioneiramente modalidades de diagnóstico molecular, dentre as quais, citam-se: 1. Patógenos relacionados com o trato respiratório MG, MS, IBV, reovírus, pneumovírus, ILT 2. Patógenos que afetam o sistema imunológico ibdv, cav, reovírus 3. Patógenos neoplásicos mdv, alv–j e outros alv’s, reticuloendoteliose 4. Outros patógenos salmonelas, adenovírus etc. 31 II Simpósio de Sanidade Avícola 14 e 15 de setembro de 2000 — Santa Maria, RS Projetos de pesquisa do grupo Trabalhos de pesquisa executados por nosso grupo (sumariados a seguir) com Mycoplasma gallisepticum, Salmonella, ibdv, ALV–J são exemplos de como o diagnóstico molecular pode contribuir para a elucidação de casos. Com a aplicação de metodologias moleculares, descreveremos, a seguir, aborda- gens que consideram: • a tipagem de cepas vacinais de Mycoplasma gallisepticum, possibilitando a avaliação de programas vacinais; • metodologia para identificação de sorotipos de Salmonella; • a caracterização de cepas de ibdv distintas das clássicas e de variantes encontradas em outros países e; • estudo de ocorrência de ALV–J e de cepas de vírus da doença de gumboro de alta virulência, indicando tratarem-se de patógenos introduzidos em nosso país. Tipagem de Mycoplasma gallisepticum O Mycoplasma gallisepticum(MG) causa prejuízos à avicultura pela diminuição da produção e da
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