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OS LIMITES DOS NEGÓCIOS JURÍDICOS PROCESSUAIS

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Teixeira de Freitas 
2019 
EDUARDO AMORIM RODRIGUES 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
OS LIMITES DOS NEGÓCIOS JURÍDICOS PROCESSUAIS 
 
 
Teixeira de Freitas 
2019 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
OS LIMITES DOS NEGÓCIOS JURÍDICOS PROCESSUAIS 
 
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à 
Faculdade Pitágoras, como requisito parcial 
para a obtenção do título de graduado em 
Direito. 
Orientador: Andresa Bertão 
 
 
EDUARDO AMORIM RODRIGUES 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
EDUARDO AMORIM RODRIGUES 
 
 
 
 
 
 
 
 
OS LIMITES DOS NEGÓCIOS JURÍDICOS PROCESSUAIS 
 
 
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à 
Faculdade Pitágoras, como requisito parcial 
para a obtenção do título de graduado em 
Direito. 
 
 
BANCA EXAMINADORA 
 
 
Prof. (a). Titulação Nome do Professor (a) 
 
 
Prof. (a). Titulação Nome do Professor (a) 
 
 
Prof. (a). Titulação Nome do Professor (a) 
 
 
Teixeira de Freitas, ____ de junho de 2019 
 
 
. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Dedico este trabalho aos meus pais, 
Edilane e Sebastião, e à minha avó, Nilza. 
 
 
 
AGRADECIMENTOS 
Em primeiro lugar agradeço a Deus, por ter me sustentado e me capacitado até 
aqui, por ter sido meu porto seguro nos momentos de dificuldade e por seu enorme 
cuidado e misericórdia para comigo ao longo desta jornada. 
Agradeço à minha família, em especial a meus pais e minha avó, por todo 
apoio, carinho, cuidado e incentivo durante esta caminhada. Vocês foram 
fundamentais para que eu chegasse até aqui e só posso agradecer por tudo. Amo 
vocês. 
Agradeço aos amigos, de dentro e de fora da faculdade, pelo companheirismo, 
fidelidade e solidariedade em todos os momentos até aqui. E, por fim, agradeço aos 
professores, peças fundamentais na construção de todo conhecimento adquirido 
nessa caminhada. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
“Não esqueças teu santo propósito, não 
percas de vista as motivações de início. 
Mantém-te firme no que já alcançaste. Sê 
constante no que fazes. Não desanimes no 
caminho, corre veloz, com passo leve e 
sem tropeçar. Que nem a teus pés o pó se 
apegue. 
Avança seguro, alegre e jovial, no caminho 
da felicidade. Não acredites nem confies 
em quem te tentar desviar deste propósito. 
Ultrapasse todo o obstáculo do caminho, e 
sê fiel ao Altíssimo. ” 
― Santa Clara de Assis 
 
 
RODRIGUES, Eduardo Amorim. Os Limites dos Negócios Jurídicos Processuais. 
2019. 56 páginas. Trabalho de Conclusão de Curso de Direito – Faculdade Pitágoras, 
Teixeira de Freitas/BA, 2019. 
RESUMO 
A presente pesquisa se presta a analisar sistematicamente o instituto dos negócios 
jurídicos processuais atípicos, com o fito de definir quais são os limites para o exercício 
da vontade das partes dentro do sistema processual inaugurado pelo Código de 
Processo Civil de 2015, sobretudo pelo artigo 190, a chamada cláusula geral de 
negociação processual. Para tal, serão apresentadas as origens do instituto do 
negócio jurídico processual, desde o Direito Romano até a disputa nascida no século 
XIX entre publicismo e privatismo. Também serão apresentadas as regras referentes 
à formação das negociações, trazendo do campo do direito material a teoria geral dos 
negócios jurídicos pela aplicação submissão aos planos de existência, validade e 
eficácia. E, enfim, pela síntese dos contextos histórico, doutrinário e principiológico 
acerca do tema, será possível entender como as regras espalhadas pelo ordenamento 
jurídico brasileiro regulam os limites do autorregramento e da autonomia da vontade 
das partes no processo, de forma geral e específica. 
Palavras-chave: Negócios jurídicos processuais; Cláusula geral de negociação 
processual; Artigo 190 do CPC; Limites; Autonomia da vontade; Autorregramento. 
 
 
 
 
RODRIGUES, Eduardo Amorim. The Limits of Legal Jurisdiction. 2019. 56 pages. 
Paper of Conclusion of Law Course - Pitágoras College, Teixeira de Freitas / BA, 2019. 
ABSTRACT 
The present research provides a systematic analysis of the institute of atypical 
procedural juridical business, in order to define the limits for the exercise of the will of 
the parties within the procedural system inaugurated by the Code of Civil Procedure of 
2015, especially article 190, the so-called general clause of procedural bargaining. To 
this end, the origins of the institute of the legal process business, from the Roman Law 
to the dispute born in the nineteenth century between publicism and privatism, will be 
presented. The rules governing the formation of negotiations will also be presented, 
bringing from the field of material law the general theory of legal business by 
application to the plans of existence, validity and effectiveness. Finally, through the 
synthesis of the historical, doctrinal and theoretical contexts about the subject, it will 
be possible to understand how the rules spread by the Brazilian legal system regulate 
the limits of self-breeding and the autonomy of the will of the parties in the process, in 
a general and specific way. 
Key-words: Procedural legal affairs; General clause of procedural bargaining; Article 
190 of the CPC; Limits; Autonomy; Self-healing. 
 
 
 
SUMÁRIO 
1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 9 
 
2 NEGÓCIOS JURÍDICOS PROCESSUAIS: ORIGENS, CONCEITOS E 
CLASSIFICAÇÕES ................................................................................................... 11 
2.1 ORIGENS ............................................................................................................ 11 
2.2 CONCEITO DE NEGÓCIO JURÍDICO PROCESSUAL ....................................... 13 
2.3 CLASSIFICAÇÕES DOS NEGÓCIOS JURÍDICOS PROCESSUAIS .................. 16 
2.4 TIPICIDADE E ATIPICIDADE DOS NEGÓCIOS PROCESSUAIS ....................... 17 
2.4.1 Negócios Processuais Típicos ......................................................................... 18 
2.4.2 Negócios Processuais Atípicos ........................................................................ 19 
 
3 PRINCÍPIOS NORTEADORES DOS NEGÓCIOS JURÍDICOS PROCESSUAIS . 23 
3.1 PRINCÍPIO DISPOSITIVO E PRINCÍPIO DO DEBATE ....................................... 25 
3.2 PRINCÍPIO DO AUTORREGRAMENTO DA VONTADE ..................................... 27 
 
4 FORMAÇÃO DOS NEGÓCIOS JURÍDICOS PROCESSUAIS .............................. 33 
4.1 FORMAÇÃO: PLANOS DE EXISTÊNCIA, VALIDADE E EFICÁCIA .................... 33 
4.1.1 Do Plano Da Existência .................................................................................... 34 
4.1.2 Do Plano Da Validade ...................................................................................... 34 
4.1.3 Do Plano Da Eficácia........................................................................................ 37 
 
5 LIMITES DOS NEGÓCIOS JURÍDICOS PROCESSUAIS ..................................... 40 
5.1 LIMITES GERAIS ................................................................................................ 43 
5.1.1 Reserva Legal .................................................................................................. 43 
5.1.2 Boa-Fé E Cooperação ......................................................................................44 
5.1.3 Proteção De Vúlneráveis .................................................................................. 44 
5.1.4 Custos Do Processo ......................................................................................... 46 
5.2 LIMITES ESPECÍFICOS ...................................................................................... 47 
5.2.1 A Cláusula Geral E O Desafio Da Atipicidade .................................................. 47 
 
CONSIDERAÇÕES FINAIS.......................................................................................51 
 
REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 54 
9 
 
1 INTRODUÇÃO 
 
A presente pesquisa visa analisar, de maneira sistemática, os limites do 
negócio jurídico processual atípico impostos de forma direta ou indireta pela lei, 
doutrina e jurisprudência, através da compreensão das formas de aplicação do 
instituto no ordenamento jurídico pátrio. 
Os negócios jurídicos processuais não são novidades no processo civil 
brasileiro. Ainda sob a égide do Código de Processo Civil de 1973 já se falava em 
negócio processual, haja vista a possibilidade de convenção sobre a distribuição do 
ônus da prova, por exemplo. A inovação se dá pela ampliação das possibilidades de 
negociação processual viabilizada pelo artigo 190, que institui a cláusula geral de 
negociação processual e permite a celebração de negócios atípicos. Isto conduz à 
seguinte questão: quais são os limites dos negócios jurídicos processuais atípicos? 
Nesse sentido, o estudo deste tema é de grande relevância para a sociedade 
como um todo, mas em especial para os aplicadores do Direito, que precisam 
entender a abrangência da cláusula geral de negociação processual, bem como as 
particularidades desse novo modelo de processo mais participativo que começa a 
despontar no cenário jurídico nacional. 
Para tanto, a metodologia adotada consistirá em uma revisão da literatura sobre 
o tema proposto. Desta maneira, far-se-á o exame da bibliografia de referência teórica 
a respeito do tema em estudo, mediante pesquisa em livros (doutrina), trabalhos 
acadêmicos (teses e dissertações), artigos científicos, legislação e jurisprudência dos 
últimos anos, mais especificamente a partir de 2015, ano de entrada em vigor do Novo 
Código de Processo Civil. 
No primeiro capítulo, para entender os limites do negócio jurídico processual 
atípico, será apresentado o contexto histórico e doutrinário que possibilitou seu 
surgimento, os conceitos e classificações de negócios jurídicos processuais de acordo 
com as teorias e correntes de pensamento que os inspiram. 
No segundo capítulo, conhecidas as inspirações doutrinárias e o conceito, faz-
se necessário confrontar o instituto do negócio jurídico processual atípico com os 
princípios que norteiam todo o regramento jurídico nacional, bem como conhecer os 
princípios inerentes às convenções processuais, como o princípio do autorregramento 
da vontade. 
10 
 
No terceiro capítulo, será abordada a formação dos negócios jurídicos 
processuais, seguindo a mesma lógica dos negócios jurídicos de direito material. Para 
isso, é necessário demonstrar como as convenções processuais estão inseridas nos 
planos de existência, validade e eficácia e precisam passar pelos três crivos para se 
formarem efetivamente e produzirem seus efeitos no ambiente processual. 
Por último, no quarto capítulo, depois de ter traçado um panorama doutrinário 
e principiológico para o tema, é o momento de entender como o instituto se aplica na 
prática, quais são seus limites, até onde as partes podem fazer valer sua vontade 
dentro do processo jurisdicional. Para isso será feita uma análise sistemática do 
ordenamento jurídico, apresentando os limites positivados; expressamente previstos 
em lei; e não positivados; inseridos nos entendimentos jurisprudenciais e doutrinários. 
 
 
 
 
11 
 
2 NEGÓCIOS JURÍDICOS PROCESSUAIS: ORIGENS, CONCEITOS E 
CLASSIFICAÇÕES 
 
2.1 ORIGENS 
 
O tema dos negócios jurídicos processuais tem assumido grande relevância na 
cultura jurídica da atualidade, mas na verdade os negócios ou convenções 
processuais remontam ao período do Direito Romano, no qual o Direito Processual 
respeitava uma lógica contratual, por meio do instituto da litiscontestatio. Este instituto 
consistia em um formato primitivo dos acordos processuais que são conhecidos 
atualmente e teve vários formatos ao longo da evolução do Direito Romano. 
Anos mais tarde, já no século XIX, na Alemanha, surge o publicismo 
processual, com uma ideia de processo totalmente contrária ao formato privatista do 
direito processual romano. Esta corrente de pensamento publicista propôs que se 
abandonasse a ideia do processo como “coisa das partes”, de forma a reconhecer a 
relação processual como pertencente ao direito público e a fortalecer os poderes de 
ofício do juiz. 
Segundo Cabral (2018), nesse contexto é que começou a negação da natureza 
contratual do processo e passou-se a aceitar a lógica de que era impossível conciliar 
a autonomia privada das partes na definição dos caminhos do procedimento, com a 
intervenção do Estado e os interesses públicos inerentes à prestação jurisdicional. 
Então, o direito processual civil saiu do privatismo do direito romano para um 
hiperpublicismo, no qual os escopos públicos do Estado se sobrepunham aos 
interesses privados das partes. A lei passou a ser considerada a única fonte de 
normas processuais de aplicação oficiosa e unilateral por parte do juiz, isolando 
totalmente a interação entre os sujeitos processuais. 
Rejeitou-se veementemente a concepção do processo como “coisa das 
partes” (Sache der Partein), segundo a qual caberia aos litigantes 
predominantemente a condução do processo, ficando o juiz relegado a um 
segundo plano. Se o processo é público, um instrumento do Estado posto à 
disposição das partes, mas que a elas não pertence, seria natural que os 
litigantes não pudessem ser os “senhores” dos rumos do procedimento. 
(CABRAL. 2018, p. 124) 
Ainda na Alemanha, berços das discussões modernas sobre o tema, após 
décadas de negação, renasceu o estudo das convenções processuais no século XX. 
12 
 
Contudo, apesar da grande quantidade de autores que se debruçaram sobre o tema 
e da qualidade dos estudos desenvolvidos, a produção doutrinária não teve força para 
suplantar, na prática, a visão publicista enraizada. 
Na Europa, países como França e Itália também tiveram destaque na retomada 
das discussões sobre o tema no século XX. Os doutrinadores franceses admitiam 
timidamente os negócios jurídicos processuais regulados pelo magistrado, já os 
italianos demonstravam desinteresse no desenvolvimento do tema, filiando-se aos 
ideais publicistas. Dessa forma, o maior destaque para o tema nesses países foi 
verificado na jurisprudência. 
Já em terras norte-americanas, nas quais impera o commom law, era de se 
esperar uma larga produção acadêmica e doutrinária a respeito do tema, entretanto, 
não é o que se observa. A discussão, mais uma vez, não encontra substrato na 
doutrina, mas sim na prática, na jurisprudência, com um crescente número de casos 
julgados pela Suprema Corte que abriram precedentes às convenções processuais. 
Aqui no Brasil, no século XX praticamente não se teve produção doutrinária ou 
jurisprudencial sobre os acordos processuais. A legislação e doutrina brasileira, 
conforme explica Cabral (2018), foram imensamente influenciadas pelo estudo de 
Cândido Dinamarco a respeito da instrumentalidade do processo, que defendia a ideia 
de que as finalidades públicas da função jurisdicional eram maiorese precedentes da 
tutela dos direitos objetivos, destinados a restaurar lesões ou ameaças de violações 
aos direitos garantidos aos particulares pela ordem jurídica. 
O publicismo processual foi predominante durante longo período, mas com o 
passar do tempo esse modelo revelou-se insuficiente na prestação da tutela 
jurisdicional. E como forma de rebelar-se contra essa insuficiência, na prática, 
surgiram caminhos para que as partes pudessem definir os rumos do procedimento 
conforme suas necessidades. Tornou-se cada vez mais comum a existência de 
cláusulas contratuais que moldavam previamente o rito de um eventual processo 
jurisdicional que viesse a se desenvolver na relação contratual. 
Dessa maneira, o tema das convenções processuais permaneceu por um longo 
período sem avanços perceptíveis em seu estudo e disciplina. Alguns diplomas legais, 
como o Códigos de Processo Civil brasileiro de 1973 em seu artigo 158, tratavam do 
tema, mas as convenções, nas palavras de Cabral (2018, p. 36), “eram vistas como 
uma monstruosidade: difíceis de definir, impossíveis de categorizar, complicadas de 
operar”. 
13 
 
Cabral ainda explica que esse fenômeno se justifica de duas maneiras: 
de um lado, a crescente inadequação das formalidades do procedimento 
estatal às necessidades do tráfego jurídico: as modalidades de tutela 
jurisdicional e os instrumentos processuais estabelecidos para assegurar sua 
prestação não mais respondiam às exigências de flexibilidade, adaptação, 
efetividade. O procedimento ordinarizado, rígido e inflexível, nem sempre 
oferta, com eficiência e celeridade, o que as partes desejariam para a solução 
de seu conflito. Por outro lado, esse movimento deveu-se à inviabilidade de 
adoção de mecanismos extrajudiciais de solução de controvérsias – como a 
arbitragem, a conciliação e a mediação – para inúmeros tipos de litígio nos 
quais esses métodos, embora previdentes de um processo com regras 
flexíveis, não fossem cabíveis ou não se afigurassem economicamente 
viáveis. (CABRAL, 2018, p. 37). 
Foi na primeira década do século XXI que o tema ganha força na doutrina 
brasileira com o surgimento de diversos estudos desenvolvidos a partir das 
convenções processuais. Dentre os expoentes dessa nova leva de estudiosos dos 
negócios jurídicos processuais, destaca-se Fredie Didier Jr., que instituiu um grupo de 
pesquisa sobre o tema na Universidade Federal da Bahia. A partir de então é que é 
possível enxergar claramente na doutrina brasileira uma forte tendência favorável à 
aceitação dos negócios jurídicos processuais. 
Essa evolução teórica desenvolveu bases cientificas que impactaram a 
tramitação legislativa do CPC/2015. Com efeito, o novo Código reforçou os 
mecanismos de autocomposição, incentivando as soluções cooperativas (art. 
6°) e negociadas (art. 3°§§ 2° e 3°); positivou diversas disposições sobre 
conciliação e mediação nos tribunais (art. 165 a 175); impôs ao juiz deveres 
de estímulo à autocomposição (art. 139, V); criou um a audiência de 
conciliação ou mediação, posicionando os atos de defesa para um momento 
posterior (art. 334-335). (CABRAL, 2018, p. 147) 
Portanto, a nova e crescente tendência é no sentido de entender que o 
processo deve ser instrumento orientado para a tutela dos direitos, de forma a atender 
o interesse das partes litigantes. Nas palavras de Cabral, “em suma, os escopos do 
processo não podem ser predominantemente voltados ao Estado. Deve-se buscar um 
equilíbrio entre os interesses das partes e o interesse público” (2018, p. 122). 
 
2.2 CONCEITO DE NEGÓCIO JURÍDICO PROCESSUAL 
 
O negócio jurídico, objeto de estudo da teoria geral do direito, é gênero do qual 
surgem diversas espécies nos mais variados ramos do direito. De acordo com Marcos 
Bernardes de Mello, negócio jurídico 
14 
 
é o fato jurídico cujo elemento nuclear do suporte fático consiste em 
manifestação ou declaração consciente de vontade, em relação à qual o 
sistema jurídico faculta às pessoas, dentro de limites predeterminados e de 
amplitude vária, o poder de escolha de categoria jurídica e de estruturação 
do conteúdo eficacial das relações jurídicas respectivas, quanto ao seu 
surgimento, permanência e intensidade no mundo jurídico.(MELLO, 2012). 
Ainda das lições de Mello pode-se concluir que o elemento determinante para 
a definição do conceito de negócio jurídico é a vontade das partes. Esta é 
“manifestada para formar o suporte fático de certa categoria jurídica, visando à 
obtenção de efeitos jurídicos que podem ser predeterminados pelo sistema ou 
pactuados livremente” (MELLO, 1991, p. 130). 
Este é o conceito de negócio processual, como gênero, no âmbito da teoria 
geral do direito. A esta pesquisa interessa a espécie dos negócios jurídicos 
processuais, que na doutrina brasileira atual é tema de discussões e estudos em todos 
os aspectos. A conceituação ainda não é de todo pacífica entre os estudiosos, mas é 
possível utilizar-se dos inúmeros conceitos em evolução para entender este instituto 
tão valioso para o ordenamento jurídico. 
Portanto, sobre os negócios jurídicos processuais pode-se afirmar que “se 
constituem em uma modalidade do gênero negócio jurídico, este definido comumente 
como ato jurídico com finalidade negocial, ou seja, com o intuito de criar, modificar, 
conservar ou extinguir direitos” (GOUVEIA E GADELHA, 2016). 
De acordo com Cabral (2018) a doutrina brasileira utiliza-se de diversos 
critérios para formar o conceito de negócio jurídico processual. Como exemplos, Diogo 
Almeida parte de uma mistura de critérios objetivos e subjetivos; Leonardo Greco 
mescla os critérios de sede da celebração e dos efeitos gerados pelos acordos. Didier 
e Nogueira compartilham da mesma ideia ao dar ênfase na escolha da categoria 
jurídica e na definição de efeitos. 
Dessa maneira, alguns autores adotam o critério do local de celebração do ato, 
considerando as convenções como atos do processo. Outros utilizam critérios 
subjetivos, definindo o conceito com base nos sujeitos do processo. Existem ainda 
doutrinadores que se atém ao critério da norma aplicada e disciplinada pelo acordo 
para delimitar sua definição. E outros que levam em conta os efeitos gerados pelos 
negócios para defini-los. 
Como ensina Cabral (2018), a partir de uma síntese de todos estes critérios, 
pode-se pacificamente estabelecer como pressuposto que a conduta que gera a 
15 
 
convenção é ato jurídico processual, praticado pelas partes litigantes de forma 
comissiva ou omissiva. E é nesse sentido que Cabral constrói seu conceito de negócio 
jurídico processual. 
Convenção (ou acordo) processual é negócio jurídico plurilateral, pelo qual 
as partes, antes ou durante o processo e sem necessidade da intermediação 
de nenhum outro sujeito, determinam a criação, modificação e extinção de 
situações jurídicas processuais, ou alteram o procedimento. (CABRAL, 2018, 
p. 74). 
Fredie Didier Jr., por sua vez, diz que negócios jurídicos processuais são 
definidos como fato jurídico voluntário, no qual aos sujeitos são concedidos poderes 
de regular determinadas situações jurídicas processuais ou de fazer alterações no 
procedimento, dentro dos limites estabelecidos no ordenamento jurídico. 
Das lições de Didier pode-se inferir ainda que “o negócio jurídico é fonte de 
norma jurídica processual e, assim, vincula o órgão julgador, que, em um Estado de 
Direito, deve observar e fazer cumprir as normas jurídicas válidas, inclusive as 
convencionais” (DIDIER, 2016, p.381). 
Dessa maneira, à luz desses ensinamentos, pode-se dizer que o negócio 
jurídico processual se apresenta como manifestação de vontade com a capacidade 
de gerar efeitos no ambiente processual no qual foram criadas ou ao qual se destinam,já que é possível a realização de negócios jurídicos processuais durante o andamento 
do processo ou antes de seu início. Portanto, essas declarações de vontade passam 
a ter o poder de moldar o procedimento e de constituir, modificar ou mesmo extinguir 
situações processuais. 
Como bem lembra Cabral (2018), não obstante toda a produção doutrinária 
acerca do estabelecimento do conceito das convenções processuais, não se pode 
ignorar a contribuição do texto legal do Código de Processo Civil de 2015 para o tema, 
sobretudo o artigo 190. Apesar de ser um dispositivo legal relativamente curto, traz 
grande carga didática no que diz respeito à conceituação do instituto em questão. 
Para isso o artigo 190 trata especialmente do objeto e do momento de 
celebração dos acordos processuais. Segundo o referenciado dispositivo legal, as 
partes têm poderes para “estipular mudanças no procedimento”, bem como 
“convencionar sobre seus ônus, poderes, faculdades e deveres processuais, antes ou 
durante o processo” (CPC, 2015). 
Nesse sentido, pode-se elencar diversos exemplos de negócios processuais: o 
negócio tácito de que a causa tramite em juízo relativamente incompetente (art. 65, 
16 
 
CPC), o calendário processual (art. 191, §§1° e 2°, CPC), o adiamento negociado da 
audiência (art. 362, I, CPC), a convenção sobre o ônus da prova (art. 373, §§ 3° e 4°, 
CPC), a desistência do recurso (art. 999, CPC), o pacto de mediação prévia obrigatória 
(art. 2°, §1°, Lei n. 13.140/2015), o acordo para suspensão do processo (art. 313, II, 
CPC), a organização consensual do processo (art. 357, §2, CPC), dentre outros tantos 
expressamente previstos na legislação processual pátria. 
 
2.3 CLASSIFICAÇÕES DOS NEGÓCIOS JURÍDICOS PROCESSUAIS 
 
 No que diz respeito às classificações, a exemplo do que ocorre com o conceito 
de negócio jurídicos processuais, são utilizados diversos critérios. A doutrina 
subdivide o tema de acordo com vários aspectos, de maneira a facilitar a compreensão 
do instituto e sistematizar sua aplicação e entendimento. 
Existem negócios jurídicos que dizem respeito ao objeto do litígio e há aqueles 
que têm por objeto o processo em si, em sua estrutura, servindo para redefinir 
situações jurídicas processuais ou reestruturar o procedimento (DIDIER, 2016). Os 
primeiros possuem efeitos abdicativos, são os chamados acordos obrigacionais, pois 
estabelecem obrigações de fazer ou não fazer para as partes convenentes, sem 
implicar, contudo, no procedimento. Já os segundos, possuem efeitos modificativos 
sobre as regras processuais ou procedimentais, que ao serem celebrados afastam a 
aplicação da regra legal. 
Nas lições de Cabral (2018), os negócios processuais podem ser classificados 
em prévios, quando tem por objeto situações futuras; ou incidentais, quando são 
realizados já no curso de um processo. A doutrina ainda subdivide os negócios 
processuais em onerosos e gratuitos, aproveitando-se das classificações do direito 
privado, de acordo com as vantagens oriundas dos atos negociais entre as partes. 
Nos acordos a título gratuito, uma parte apenas auferirá benefícios e a outra somente 
prejuízos. Nos onerosos, as duas partes auferem benefícios em troca de sacrifícios. 
Ainda se aproveitando dos critérios próprios do direito Civil, segundo Cabral 
(2018) pode-se estabelecer classificações baseadas na comutatividade ou 
aleatoriedade das convenções processuais. Os negócios comutativos (ou 
sinalagmáticos) são aqueles que envolvem vantagens e desvantagens recíprocas e 
equivalentes entre os negociantes. Diferentemente, os negócios aleatórios não 
17 
 
estabelecem, no momento da celebração, a equivalência das prestações devidas por 
cada uma das partes. 
Além dessas classificações, Didier (2016) ainda enumera outras. No que diz 
respeito ao número de partes envolvidas na convenção (unilaterais, bilaterais ou 
plurilaterais); em relação a modo de expressão dos negócios (tácitos ou expressos); 
quanto à necessidade de homologação pelo juiz (neste ponto cumpre ressaltar que a 
regra é a dispensa de necessidade de homologação). 
Ainda que haja uma infinidade de critérios para se classificar e dividir os 
negócios jurídicos processuais, o fator mais relevante para a caracterização de um 
ato como negócio jurídico “é a circunstância de a vontade estar direcionada não 
apenas à prática do ato, mas, também, à produção de um determinado efeito jurídico; 
no negócio jurídico, há escolha do regramento jurídico para determinada situação” 
(DIDIER, 2016, p. 384). 
 
2.4 TIPICIDADE E ATIPICIDADE DOS NEGÓCIOS PROCESSUAIS 
 
Não obstante a questão da tipicidade ou atipicidade ser um dos critérios de 
classificação dos negócios jurídicos processuais, para o objetivo final da presente 
pesquisa faz-se necessário uma maior atenção à esta classificação, o que justifica a 
abertura de tópico exclusivo para tratar do assunto. 
A doutrina classifica os negócios jurídicos processuais em dois modelos, de 
acordo com as regras do CPC de 2015. Segundo Gajardoni (2015), os modelos de 
negócios processuais que se apresentam em nosso ordenamento jurídico são: a) os 
atípicos ou inominados, previstos no art. 190 do CPC/2015 (sempre bilaterais); e b) 
os típicos ou nominados, encontrados em dispositivos esparsos e específicos do 
CPC/2015 (estes bilaterais, unilaterais ou plurilaterais). 
O critério utilizado para esta classificação é a existência ou não de previsão 
legal para determinado negócio jurídico processual. Então a importância do estudo 
desta classificação provém do próprio texto legal do CPC de 2015 que, ao mesmo 
passo que concede autorização para a celebração de acordos atípicos (artigo 190), 
prevê expressamente inúmeras convenções típicas. Segundo Cabral (2018), o 
supracitado artigo recebeu o nome de cláusula geral de negociação processual por 
ser uma norma dotada de vagueza e que remete o intérprete a outros pontos do 
ordenamento jurídico para compreender sua aplicação. 
18 
 
2.4.1 Negócios Processuais Típicos 
 
Os negócios processuais típicos são aqueles entendidos como convenções 
processuais já previamente definidas em lei. Segundo Cabral (2018, p. 94), “são 
negócios processuais nos quais o legislador prevê expressamente os sujeitos 
envolvidos, as formalidades necessárias, os pressupostos e requisitos de validade e 
eficácia”. 
Ainda sob a égide da lei processual de 1973 pode-se citar como hipóteses de 
negócios processuais expressamente previstos em lei: o saneamento consensual, o 
calendário negociado, a escolha consensual de perito, entre outras. Entretanto, como 
bem observa Antonio do Passo Cabral 
Tradicionalmente, em decorrência da concepção publicista do processo, 
muitos autores compreendiam que a validade e eficácia dos acordos 
processuais dependiam de interposição legislativa. Somente a lei poderia 
estabelecer norma processual, e portanto, as convenções processuais só 
seriam admissíveis quando a lei fosse expressamente previdente. (CABRAL, 
2018, p. 98) 
Havia uma orientação doutrinária “pela impossibilidade de realização dos 
negócios jurídicos processuais no regime de 1973, entretanto, estava arrimada muito 
mais numa orientação ideológica do que hermenêutica” (GOUVEIA E GADELHA, 
2016). De fato, os autores ainda estavam ligados a uma concepção de processo 
totalmente desvinculado do direito material, de caráter eminentemente publicista e, 
consequentemente, marcado pela indisponibilidade. As partes, portanto, não teriam 
qualquer ingerência sobre os efeitos dos atos processuais. 
Seguindo as tendências doutrinárias internacionais, os estudiosos brasileiros 
ainda no século XX começaram a repensar o tema dos acordos processuais. Esta 
correnteganhou força no começo do século XXI, iniciando um processo de mudança. 
Passou-se de uma visão totalmente publicista, para uma maior flexibilização e 
equilíbrio entre a força das normas cogentes e a autonomia privada dos litigantes. 
Dessa maneira, hoje não há mais sentido em se questionar a existência de 
negócios jurídicos processuais no ordenamento jurídico pátrio. Pelas palavras de 
Gouveia e Gadelha, 
O Código de Processo Civil de 2015 colocou uma pá de cal sobre a discussão 
doutrinária acerca da existência dos negócios jurídicos processuais, 
fortalecida, evidentemente, pela (alegada) ausência de previsão expressa no 
19 
 
Código de Processo Civil de 1973, sob cujo império representantes de escol 
da doutrina processualista brasileira afirmavam que estes, simplesmente, 
inexistiam. (GOUVEIA E GADELHA, 2016) 
Sendo assim, conforme já anteriormente citado, atualmente a legislação 
processual brasileira não só permite, bem como está repleta de possibilidades de 
convenções processuais, como o negócio tácito de que a causa tramite em juízo 
relativamente incompetente (art. 65, CPC), o calendário processual (art. 191, §§1° e 
2°, CPC), o adiamento negociado da audiência (art. 362, I, CPC), a convenção sobre 
o ônus da prova (art. 373, §§ 3° e 4°, CPC), a desistência do recurso (art. 999, CPC), 
o pacto de mediação prévia obrigatória (art. 2°, §1°, Lei n. 13.140/2015), o acordo para 
suspensão do processo (art. 313, II, CPC), a organização consensual do processo 
(art. 357, §2, CPC), dentre outros. 
 
2.4.2 Negócios Processuais Atípicos 
 
Os negócios jurídicos processuais atípicos são figuras que ganharam destaque 
com o advento do Novo CPC. Segundo afirma Cabral (2018), as convenções 
marcadas pela atipicidade seriam as praticadas em razão da autonomia das partes, 
ainda que na legislação não haja um modelo expressamente previsto, ou seja, sem 
qualquer adequação a um tipo especifico. 
Este modelo de negociação processual é influenciado pela tendência do Novo 
Código de Processo Civil em fomentar a autocomposição entre os litigantes, de 
maneira que a autonomia privada das partes pode ser expressada no ambiente 
processual, até então predominantemente marcado pelo publicismo exacerbado, 
culturalmente arraigado no ordenamento jurídico nacional. 
Conforme lição de Robson Godinho, essa tendência revela o fortalecimento do 
princípio do autorregramento da vontade no processo e o surgimento de seu 
subprincípio, o da atipicidade da negociação processual. 
Conforme lição de Fredie Didier, 
o negócio processual atípico tem por objeto as situações jurídicas 
processuais – ônus, faculdades, deveres e poderes (“poderes”, neste caso, 
significa qualquer situação jurídica ativa, o que inclui direitos subjetivos, 
direitos potestativos e poderes propriamente ditos). O negócio processual 
atípico também pode ter por objeto o ato processual – redefinição de sua 
forma ou da ordem de encadeamento dos atos, por exemplo. (DIDIER JR, 
2016, p.385). 
20 
 
O Fórum Permanente de Processualistas Civis reafirma esta atipicidade no seu 
enunciado de n. 258, in verbis: “As partes podem convencionar sobre seus ônus, 
poderes, faculdades e deveres processuais, ainda que essa convenção não importe 
ajustes às especificidades da causa”. 
Importante salientar que apesar de guardar relação com a autocomposição, 
não se pode confundir os negócios jurídicos processuais atípicos com os meios 
alternativos de solução de conflitos. As convenções processuais, ao contrário da 
autocomposição, não versam sobre o objeto litigioso do processo, mas sim sobre o 
processo em si mesmo. São negócios estritamente ligados às normas processuais e 
não ao direito material (DIDIER, 2016). 
O principal dispositivo que trata deste tipo de negócio processual é o aclamado 
artigo 190, que abre a possibilidade de ampliação das hipóteses de convenções 
processuais. É este artigo que define o que é a atipicidade no campo do negócio 
jurídico processual, sendo batizado de “cláusula geral de negociação processual”. 
Segundo Cabral (2018), a edição deste artigo é expressão da forte tendência 
negocial que se construiu na doutrina brasileira nos últimos anos e que impactou na 
atividade legislativa do CPC de 2015. Citando Didier, o autor afirma que o artigo 190 
se enquadra na definição de cláusula geral, como uma espécie de texto legal que tem 
seu suporte fático composto por termos vagos e seus efeitos indeterminados. 
Diante disso, é importante entender mais a fundo o significado do termo 
empregado para se referir ao artigo 190. Ainda com base nos ensinamentos de Cabral 
(2018), a cláusula geral é um enunciado legal que não se apresenta de forma pronta 
e acabada, mas que exige do seu intérprete uma construção da norma antes de aplica-
la nas situações jurídicas processuais. O autor ainda explica que 
diante de uma cláusula geral, é o aplicador da norma que deverá interpretar 
o suposto normativo e determinar a consequência jurídica que deva ser 
observada. Note-se, todavia que, na aplicação das cláusulas gerais, não pode 
o aplicador afastar-se completamente da diretriz fixada pelo legislador. 
Decerto que ao intérprete da norma toca a tarefa de revelar-lhe o enunciado, 
completando, no processo aplicativo, o suposto normativo e suas 
consequências jurídicas. Porém, deve fazê-lo adstrito ao direcionamento 
apontado pela cláusula geral. (CABRAL, 2018, p. 101) 
Gajardoni (2015) afirma que o artigo 190 provoca impacto evidente na estrutura 
publicista processual, ainda que expressamente o dispositivo legal não coloque em 
questão todo o ideário do processo civil público com regras cogentes e absolutamente 
21 
 
inderrogáveis pela vontade das partes, pelo menos ocorre uma flexibilização do rigor 
do procedimento. “Inaugurando-se no direito processual brasileiro uma fase de 
neoliberalismo processual” que, não tenha o condão de fazer do processo “coisa das 
partes”, aos moldes da litiscontestatio romana, mas permite maior maleabilidade do 
processo. 
Segundo explica Cabral (2018), “a cláusula geral é uma técnica legislativa que 
tende à generalização do suposto normativo; a fattispecie é vaga, genérica, com 
ampla possibilidade de variações interpretativas que tornam mais viável a 
adaptabilidade ás situações fáticas”. 
Entretanto, não obstante o destaque que o tema ganhou após a entrada em 
vigor do CPC de 2015, no código de 1973 esta espécie de negócio jurídico processual 
já existia. Nesse contexto o maior exemplo é o artigo 158 do antigo código, in verbis, 
“os atos das partes, consistentes em declarações unilaterais ou bilaterais de vontade, 
produzem imediatamente a constituição, a modificação ou a extinção de direitos 
processuais”. 
Da interpretação do dispositivo legal, Calmon de Passos (2002, p.69-70), 
afirmava serem admissíveis as convenções processuais, entretanto, a produção dos 
efeitos pretendidos pela vontade das partes estava adstrita à homologação do juiz, 
com fundamento no parágrafo único do referido artigo. Ou seja, a expressão da 
vontade das partes não era o suficiente para a produção de efeitos na relação 
processual. 
Mas, indubitavelmente é no CPC de 2015 que a negociação processual atípica 
atinge seu ápice. Didier (2016) lista em sua obra como exemplos de negócios atípicos 
autorizados pelo artigo 190: acordo de impenhorabilidade, acordo de instância única, 
acordo de ampliação ou redução de prazos, acordo para a superação de preclusão, 
acordo de substituição de bem penhorado, acordo de rateio de despesas processuais, 
dispensa consensual de assistente técnico, acordo para retirar o efeito suspensivo da 
apelação, acordo para não promover execução provisória, acordo para dispensa de 
caução em execuçãoprovisória, acordo para limitar número de testemunhas, acordo 
para autorizar intervenção de terceiro fora das hipóteses legais, acordo para decisão 
por equidade ou baseada em direito estrangeiro ou consuetudinário, acordo para 
tornar lícita uma prova etc. 
22 
 
Além disso, o Fórum Permanente de Processualistas Civis também se 
debruçou sobre o tema e apresentou em seu enunciado 490 outro rol de negócios 
atípicos permitidos pelo artigo 190 do Código, quais sejam 
São admissíveis os seguintes negócios processuais, entre outros: pacto de 
inexecução parcial ou total de multa coercitiva; pacto de alteração de ordem 
de penhora; pré-indicação de bem penhorável preferencial (art. 848, II); 
préfixação de indenização por dano processual prevista nos arts. 81, §3º, 520, 
inc. I, 297, parágrafo único (cláusula penal processual); negócio de anuência 
prévia para aditamento ou alteração do pedido ou da causa de pedir até o 
saneamento. (Art. 329, inc. II). 
Nesse sentido, portanto, os negócios jurídicos processuais atípicos estão 
definitivamente e indiscutivelmente inseridos na realidade processual brasileira e o 
surgimento de estudiosos sobre o tema revela uma forte tendência à adoção de tal 
instrumento de maneira mais recorrente, haja vista as vantagens que podem advir de 
sua aplicação aos casos concretos. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
23 
 
3 PRINCÍPIOS NORTEADORES DOS NEGÓCIOS JURÍDICOS 
PROCESSUAIS 
 
O Código de Processo Civil de 2015 possui um verdadeiro microssistema de 
princípios e normas fundamentais que visam estimular e proteger o livre exercício da 
vontade no ambiente processual. A nova estrutura do processo civil brasileiro foi 
formada de modo a estimular uma maior participação das partes na resolução dos 
seus próprios conflitos. 
Nesse sentido, cumpre ressaltar as tendências de maior destaque trazidas 
pelo novo código: priorização do mérito, cooperação real entre as partes e o juiz 
da causa, fortalecimento do dever de fundamentação, amplo contraditório, busca 
efetiva pela conciliação entre as partes litigantes, respeito aos precedentes 
judiciais, e, por fim, a valorização da vontade das partes em relação aos atos do 
processo. 
Diante disso, para melhor compreender a aplicação do instituto do negócio 
jurídico processual atípico na prática, é essencial conhecer e entender as normas 
basilares que fundamentam e permitem sua existência no ordenamento jurídico atual. 
Para isso, cabe uma análise dos artigos iniciais da codificação processualista para 
extrair a essência principiológica existente na normal legal. 
De início, já no artigo 1°do CPC, percebe-se uma tendência adotada pelo 
legislador que, de certa forma, distanciou-se do formalismo presente no CPC/73, 
inserindo na realidade jurídica o neoprocessualismo, que se apresenta como a 
atuação do direito processual com reflexos do direito constitucional 
(neoconstitucionalismo). 
No artigo 2° o legislador consagra o princípio conhecido como dispositivo 
material, ou ainda com princípio da demanda, que estabelece a regra de que “o 
processo começa por iniciativa da parte e se desenvolve por impulso oficial, salvo as 
exceções previstas em lei”. 
O artigo 3°, em total consonância com o texto constitucional do artigo 5°, inciso 
XXXV, da Constituição Federal, consagra o princípio e direito fundamental de acesso 
à justiça. O dispositivo regula ainda em seus parágrafos a permissão da arbitragem e 
o incentivo à busca pela solução consensual dos litígios. Nesse ponto, é possível 
observar-se claramente a tendência conciliatória do CPC/2015. Ao contrário do que 
ocorria na vigência do CPC/73, a atual legislação determina que as partes sejam 
24 
 
intimadas/citadas a comparecer em audiência de conciliação ou mediação antes 
mesmo de apresentar qualquer tipo de manifestação no processo. 
Continuamente, o artigo 4° prevê, mais uma vez de acordo com o texto 
constitucional, que “as partes têm o direito de obter em prazo razoável a solução 
integral do mérito, incluída a atividade satisfativa”. Dessa forma a lei processual 
corrobora e reafirma a previsão do artigo 5º, LXXVIII, da Constituição Federal, que é 
a expressão do desejo da sociedade: um Poder Judiciário mais ágil e apto a 
corresponder de forma satisfatória às demandas a ele submetidas, mas que o faça 
sempre preservando as garantias constitucionais. 
Por sua vez, o artigo 5°consagra um dos princípios de maior destaque em todo 
o ordenamento jurídico brasileiro, ao determinar que “aquele que de qualquer forma 
participa do processo deve comportar-se de acordo com a boa-fé”, o referido 
dispositivo legal insere no âmbito do processo o dever de probidade para as partes. 
Portanto, ao estabelecer a boa-fé objetiva, o artigo 5° pode ser descrito como um 
verdadeiro princípio que vai reger várias outras regras contidas no CPC. 
Ainda nesse interim, o artigo seguinte apresenta mais um princípio fundamental 
e que traduz a essência do CPC/2015: o princípio da cooperação. O artigo 6° prevê 
que “todos os sujeitos do processo devem cooperar entre si para que se obtenha, em 
tempo razoável, decisão de mérito justa e efetiva”, dessa forma as partes passam a 
atuar em conjunto com o juiz para chegarem à solução necessária. Desenha-se assim 
o processo como “espaço não apenas de julgamento, mas de resolução de 
conflitos” (CUNHA, 2015, p. 49). 
Em seguida, o artigo 7° estabelece mais um princípio em conformidade com a 
Constituição Federal: a isonomia. Ao determinar que “é assegurada às partes 
paridade de tratamento em relação ao exercício de direitos e faculdades processuais”, 
a lei buscou reforçar o direito fundamental à isonomia, já garantido, mas muitas vezes 
desconsiderado pelos julgadores. 
Ainda se utilizando de mandamentos da Lei Maior, o Código de Processo Civil 
consagrou no artigo 8º os princípios da proporcionalidade, razoabilidade, legalidade, 
publicidade e eficiência. 
Nos artigos 9° e 10° destaca-se a importância dada ao amplo contraditório. O 
artigo 9º garante que “não se proferirá decisão contra uma das partes sem que ela 
seja previamente ouvida”, salvo as exceções previstas posteriormente nos seus 
incisos I, II e III. O artigo 10º, por sua vez, estabelece que “o juiz não pode decidir, em 
25 
 
grau algum de jurisdição, com base em fundamento a respeito do qual não se tenha 
dado às partes oportunidade de se manifestar, ainda que se trate de matéria sobre a 
qual deva decidir de ofício”. 
Finalmente, nos artigos 11 e 12 ficou delimitado o dever de fundamentação por 
parte dos juízes, assim como a necessidade de julgamento das demandas em ordem 
cronológica. 
Todos esses princípios são verdadeiros valores legalmente expressos, normas 
fundamentais que guardam estreita relação com os negócios jurídicos processuais, 
influenciando diretamente a interpretação e aplicação dessas convenções no 
processo civil brasileiro. Nos artigos 9° e 10°, por exemplo, o legislador propõe um 
processo dialógico, diretamente influenciado pela cooperação e resolução conjunta 
dos litígios, regra do artigo 6°. 
O ideário constituído por estes princípios forma o substrato para as convenções 
processuais, ao originar um novo princípio que rege as negociações: o princípio do 
respeito ao autorregramento da vontade no processo. O processo cooperativo 
desponta como alternativa entre o modelo publicista e a concepção garantista ou 
adversarial. Conforme lição de Didier (2016), “o processo cooperativo nem é processo 
que ignora a vontade das partes, nem é processo em que o juiz é um mero espectador 
de pedra”. 
Entretanto, além desses princípios supracitados, já conhecidos deoutros ramos 
do direito, o Código de Processo Civil é regido por princípios relativamente novos, 
principalmente no que tange aos negócios jurídicos processuais. Tais princípios são 
resultantes de uma síntese de todos os já apresentados até aqui e formam a base 
para a admissão das negociações processuais no Direito brasileiro. 
 
3.1 PRINCÍPIO DISPOSITIVO E PRINCÍPIO DO DEBATE 
 
Os princípios constituem a base de todo o sistema jurídico e são responsáveis 
por dar forma às características e especificidades das normas legais que regem o 
direito de um país. Dessa forma, com já explicitado no primeiro capítulo, o 
desenvolvimento do publicismo processual e a disseminação de seus princípios, 
foram determinantes para a formação da cultura jurídica brasileira por um longo 
período. 
26 
 
O publicismo foi responsável por posicionar o juiz no centro do processo, 
ocasionando uma verdadeira supervalorização de seus atos e poderes. Esta 
concentração de poderes na figura do magistrado, de certa forma, “sufocou as 
prerrogativas das partes, alimentando a premissa não justificada de que a solução 
para o conflito judicializado só pode ser tomada pelo Estado-juiz ao aplicar normas 
legisladas” (CABRAL, 2018, p. 151). 
Tal concepção perdeu força com o tempo e a evolução dos estudos sobre as 
convenções processuais, de forma que, não obstante o caráter público do processo, 
não se pode desconsiderar totalmente os interesses privados das partes. 
Com o novo CPC e a ideia trazida pelo princípio da cooperação, os poderes do 
juiz devem ser conjugados com as prerrogativas das partes, buscando sempre o 
equilíbrio. É nesse sentido que os negócios jurídicos processuais significam um 
tratamento mais equânime da celeuma criada entre os ideais publicistas e privatistas, 
ensejando uma diminuição dos poderes do juiz em privilégio à legítima atuação das 
partes. 
Nesse contexto de expressão da liberdade das partes no processo é que o 
princípio do dispositivo se revela como fundamental. Com base constitucional, é uma 
derivação do direito à liberdade e das garantias processuais referentes ao acesso à 
Justiça, à inafastabilidade do controle jurisdicional e aos direitos de ação e defesa. A 
soma de todos estes direitos garante aos litigantes maior protagonismo dentro do 
processo, conferindo a eles não só a iniciativa de propositura de demandas. 
O ordenamento processual confia primordialmente aos próprios indivíduos 
envolvidos no conflito a efetivação dos seus próprios direitos e interesses, e 
por isso se funda no princípio dispositivo. A máxima dispositiva, em resumo, 
indica o poder dos litigantes: de iniciar o processo, provocando a jurisdição 
inerte; de conformar o objeto do processo (apresentando a pretensão em 
forma de pedido, limitando assim a sentença pela aplicação da regra da 
adstrição ou congruência entre o libelo e decisão); e de dispor in totum do 
conteúdo da situação jurídica litigiosa. (CABRAL, 2018, p. 154) 
Cabral (2018) ainda conclui que, de fato, com o fortalecimento das 
prerrogativas das partes decorrentes do direito de ação, a superação das ideias 
publicistas e a vitória da concepção que privilegia a cooperação entre o órgão estatal 
e as partes, abriu-se espaço para a admissão da autonomia das partes em relação às 
regras procedimentais do seu próprio processo. 
27 
 
Cumpre ressaltar outro princípio fundamental que, em conjunto com princípio 
do dispositivo, fundamenta os negócios jurídicos processuais: o princípio do debate. 
Também conhecido como princípio do dispositivo em sentido processual, mostra-se 
como a base principiológica da prerrogativa de liberdade das partes dentro do 
processo. 
Pode ser definido, nas palavras de Cabral (2018), como “a norma regente da 
autonomia e liberdade dos sujeitos do processo não apenas no que toca à 
disponibilidade sobre o direito material, mas também sobre as situações jurídicas 
processuais”. 
O princípio do debate tem caráter técnico e se apresenta como uma opção 
adotada pelo legislador do CPC/2015 para definir o desenvolvimento do processo. 
Trata-se, portanto, de uma opção com carga política e ideológica que traduz as 
particularidades do sistema processual, apostando na tendência de valorização das 
partes. Ademais, o referido princípio serve de base para que as partes assumam papel 
mais ativo na condução do processo civil, indo além da autonomia para dispor sobre 
o objeto do processo, chegando ao campo do procedimento e suas regras de 
tramitação. 
Exemplo dessa atuação das partes é a possibilidade de optarem entre os tipos 
de procedimento, se ordinário ou especial no caso das ações possessórias, dos 
Juizados Especiais ou do mandado de segurança; e a opção pela ação monitória, 
mesmo que estejam de posse de título executivo extrajudicial. Em consonância com 
esta ideia, cumpre ressaltar a previsão do artigo 188 do CPC, que permite às partes 
o protagonismo do desenho formal dos atos processuais, expressando o princípio da 
liberdade. 
Diante disso, é evidente que as partes podem escolher os rumos do 
procedimento e, consequentemente, podem convencionar sobre as regras a ele 
aplicáveis. Contudo, só se pode chegar a tal conclusão pela combinação dos 
princípios dispositivo e do debate. O primeiro permite a disponibilidade no campo do 
direito material, já o segundo permite que essa disponibilidade seja atribuída às partes 
dentro do processo, permitindo-lhes a condução do procedimento. Portanto, a 
conjugação destes dois princípios, à luz do CPC/2015, surge um novo princípio: o 
princípio do respeito ao autorregramento da vontade. 
 
3.2 PRINCÍPIO DO AUTORREGRAMENTO DA VONTADE 
28 
 
 
O processo é um ambiente publicizado, no qual a liberdade contratual encontra 
limitações, no entanto, a síntese dos princípios que regem o CPC/2015, resulta em 
um novo princípio que justifica o fortalecimento da ideia da possibilidade da 
celebração de negócios jurídicos processuais. O princípio do respeito ao 
autorregramento da vontade, conforme ensina Didier (2016), pode ser compreendido 
como um conjunto de poderes atribuídos aos sujeitos de direito nos mais variados 
níveis de amplitude. 
No mesmo sentido, Cabral (2018), ensina que esse princípio se presta a 
desconstruir mais um preconceito, transmitindo a ideia de que não há óbice normativo 
para que se admita que os acordos processuais são compatíveis com o processo civil, 
estão lançadas as bases teóricas para sustentar que no processo vige o princípio do 
respeito ao autorregramento da vontade, na síntese dos princípios dispositivo e do 
debate. 
O autorregramento guarda estreita ligação com o princípio da liberdade. Para 
Didier, a liberdade mostra-se como um dos principais e mais antigos direitos 
fundamentais, garantido na Constituição Federal, no caput do artigo 5°. O autor ensina 
que 
o direito fundamental à liberdade possui conteúdo complexo. Há a liberdade 
de pensamento, de crença, de locomoção, de associação etc. No conteúdo 
eficacial do direito fundamental à liberdade está o direito ao autorregramento: 
o direito que todo sujeito tem de regular juridicamente os seus interesses, de 
poder definir o que reputa melhor ou mais adequado para sua existência; o 
direito de regular a própria existência, de construir o próprio caminho e de 
fazer escolhas. Autonomia privada ou autorregramento da vontade é um dos 
pilares da liberdade e dimensão inafastável da dignidade da pessoa humana. 
(DIDIER, 2016, p. 133) 
Dessa forma, pode-se concluir que o direito processual civil brasileiro atual 
segue uma tendência de ampliação dos limites da autonomia privada na 
regulamentação do processo. Como recorda Leonardo Cunha, a autonomia privada 
significa autodeterminação,autorregulação e autovinculação, podendo as partes criar 
fontes normativas e definir a produção de certos efeitos sobre situações jurídicas. 
Nesse cenário, o autorregramento formal, resultado da conjugação entre 
dispositivo e debate, impõe-se como limite à regra do impulso oficial e às atividades 
do juiz. Dessa forma, extrai-se a máxima do in dubio pro libertate, como uma 
29 
 
pressuposição em favor da liberdade de conformação do procedimento à vontade das 
partes. 
Trata-se de uma prevalência normativa facilmente observável no nosso 
sistema processual, uma prioridade prima facie que estabelece a preferência 
do ordenamento pela liberdade convencional. O sistema não é só permeável 
às convenções processuais em razão da formulação da cláusula geral do art. 
190 do CPC/2015, mas também pressupõe a validade desses acordos, 
afirmando que o juiz “somente” recusará aplicação às convenções 
processuais em casos de abusos de direito, inserção abusiva em contrato de 
adesão ou manifesta vulnerabilidade. (CABRAL, 2018, p. 162) 
Este princípio não é exclusividade do Direito Processual Civil, estando presente 
em outros ramos como no Direito Civil. Contudo, dentro do processo, em se tratando 
de Direito Público, o autorregramento se apresenta com uma roupagem mais 
específica. Pelo fato de envolver o exercício da função jurisdicional do Estado, a 
negociação processual possui maior regulação e objeto mais restrito. Não obstante 
essa maior regulação, não se pode diminuir a importância dessa norma fundamental, 
devendo-se reconhecer seu destaque como um dos princípios estruturantes do direito 
processual civil brasileiro da atualidade. 
Como já anteriormente citado, o princípio do autorregramento da vontade no 
processo é resultado da síntese de vários outros princípios que foram a base do 
sistema processual civil brasileiro. Além dos já citados princípios dispositivo e do 
debate, o princípio do devido processo legal também faz parte desses princípios 
basilares que permitem formar a ideia de respeito à liberdade das partes no processo. 
Como bem observa Didier (2016), o princípio do devido processo legal dentro 
do ordenamento jurídico brasileiro deve garantir o exercício do autorregramento ao 
longo do processo. Um processo em que haja imposição de limitações injustificadas 
para o exercício da liberdade não pode ser considerado devido, nos termos da 
Constituição Federal. 
O mesmo autor ainda denuncia uma certa contradição, tendo em vista a defesa 
e luta pela democratização do processo, com a implementação de técnicas que 
facilitam o acesso à justiça, mas ao mesmo tempo, a negligência para com a liberdade, 
pilar da democracia, dentro do processo. Segundo apregoa o doutrinador, discurso 
que tenta afastar ou inadmitir a liberdade das partes no ambiente processual, tem 
caráter autoritário. Afirma ainda que não existe incompatibilidade entre o processo e 
a liberdade. 
30 
 
Diante disso, o que se pretende defender não é a adoção de um sistema 
processual estruturado em um modelo adversarial, mas sim uma convivência 
harmônica e equilibrada entre a atribuição dos poderes dos órgãos jurisdicionais e a 
vontade das partes. Por óbvio, não se fala aqui em uma liberdade ilimitada, mas sim 
em uma maior flexibilidade normativa, para dar espaço às partes colaborarem com a 
resolução de seus próprios litígios de acordo com suas necessidades e interesses. 
A respeito dessa questão, Igor Raatz (2018) entende que o modelo 
democrático-constitucional de processo é avesso ao protagonismo judicial. Ele impõe 
que seja encontrado um novo equilíbrio entre o juiz e as partes, mas isso não significa 
alçá-lo à condição de instrumento à disposição das partes e que essas possam utilizá-
lo como bem entender, com desprezo aos direitos fundamentais que alicerçam a 
noção de devido processo. Dito de outro modo, a crítica ao protagonismo judicial não 
significa uma simples repristinação do modelo liberal forjado no século XIX. Ela traz 
consigo uma renovada compreensão do processo e da função jurisdicional, na qual o 
processo assume uma perspectiva garantista. 
É com este escopo, de garantir mais liberdade às partes, que o legislador 
inseriu a cláusula geral do artigo 190, já anteriormente abordada. Esta regra, que 
apresenta o instituto do negócio jurídico processual atípico, é responsável por permitir 
negociações genéricas e reforçar a lógica do princípio in dubio pro libertate. Trata-se 
da própria lei cedendo espaço à aplicação de normas negociadas pelas partes 
envolvidas na relação processual. 
Sobre este ponto, Cabral (2018) observa que o autorregramento da vontade no 
processo é fruto da junção lógica de dois tipos de normas: uma norma de habilitação, 
que serve para atribuir competências e justificar os poderes negociais das partes; e 
uma norma legal de aplicação subsidiária, aplicável quando as partes não 
convencionarem nada. O artigo 190 é justamente o primeiro tipo, que atua 
empoderando as partes e permitindo que sua vontade convencional seja fonte de 
normas jurídicas aplicáveis ao seu processo. 
Didier (2015), confere destaque ao artigo 190 e o define como a norma mais 
importante para concretização do princípio do respeito autorregramento da vontade 
no processo civil e, por isso, o exemplo mais evidente da densidade normativa que 
esse mesmo princípio possui no direito brasileiro. 
Dessa forma a própria legislação processual, inspirada nos princípios, busca 
permitir que a liberdade das partes para negociar não viole os direitos de incapazes e 
31 
 
vulneráveis e de proibir expressamente certos tipos de negociações. A proteção legal 
é indispensável para delimitar a extensão da autonomia da vontade no processo e o 
artigo 190 cumpre essa função. 
Por outro lado, analisando o contexto histórico por trás do princípio do 
autorregramento da vontade, pode-se perceber que o ressurgimento das discussões 
acerca da liberdade das partes no processo, de certa forma, visa deixar as relações 
paternalistas do publicismo – que reforçam a “infantilização” do cidadão e os vínculos 
de dependência do Estado – e empoderar as partes e seus advogados na solução 
dos conflitos. Cabral (2018) conclui que os indivíduos deixam de ser compreendidos 
como “curatelados” ou “incapazes” de saber qual o método e a forma adequada para 
resolver seus próprios litígios. 
Ainda nesse ponto, cumpre observar que o publicismo entende que a 
participação no processo é um escopo político da jurisdição, entendendo qualquer 
menção à liberdade como uma tentativa de estabelecer um totalitarismo, mas na 
verdade a real intenção do modelo cooperativo de processo, é proporcionar uma 
interação cooperativa entre os sujeitos. O fenômeno da convencionalidade processual 
permite que os próprios destinatários das normas sejam ativos em sua elaboração. 
Ademais, à luz do que ensina Didier (2016, p. 135), o direito de a parte 
disciplinar juridicamente as suas condutas processuais é garantido por um conjunto 
de normas, subprincípios ou regras espalhadas ao longo de todo o Código de 
Processo Civil. 
Portanto, embora o princípio do respeito ao autorregramento da vontade não 
esteja previsto expressamente no CPC/2015, pode ser inserido no rol de normas 
fundamentais do processo civil, porque implicitamente previsto no referido diploma 
(DIDIER JR., 2016), e diversos são os exemplos, no CPC/2015, de sua manifestação: 
(i) quando o Código estimula a solução de conflitos por autocomposição (art. 165-175; 
arts. 334 e 695; art. 515, III; art. 725, VIII; art. 515, §2.º; e art. 190); (ii) quando 
estabelece que é a vontade da parte que delimita o objeto litigioso do processo (arts. 
141 e 490) e do recurso (arts. 1.002-1.013);(iii) quando prevê um número significativo 
de negócios processuais típicos (art. 63; art. 65; art. 168; art. 191; art. 225; art. 313, 
II; art. 337, §6.º; art. 357, §2.º; art. 362, I; art. 373, §§3.º e 4.º; art. 471; art. 775; art. 
998; art. 999; art. 1.000, dentre outros; (iv) consagra o princípio da cooperação (art. 
6.º do CPC/2015); (v) prestigia a arbitragem (Lei n. 9.307/1996); e (vi) prevê uma 
cláusula geral de negociação processual (art. 190 do CPC/2015). 
32 
 
Em resumo, portanto, o princípio do respeito ao autorregramento da vontade 
no processo tem por objetivo a criação de um ambiente processual onde se possa 
exercer o direito fundamental de autorregulação, sem restrições arbitrárias ou 
injustificadas, fazendo surgir um modelo processual cada vez mais propício ao 
exercício da liberdade e, consequentemente, à resolução satisfatória dos conflitos. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
33 
 
4 FORMAÇÃO DOS NEGÓCIOS JURÍDICOS PROCESSUAIS 
 
4.1 FORMAÇÃO: PLANOS DE EXISTÊNCIA, VALIDADE E EFICÁCIA 
 
Superada a exposição do suporte doutrinário e principiológico que sustenta os 
negócios jurídicos processuais, cabe fazer referência ao modo como este instituto se 
manifesta no mundo jurídico. Para isso, é necessário analisar, de forma sistemática, 
as regras que dizem respeito à formação e limites de aplicação das convenções 
processuais no ordenamento jurídico brasileiro. 
Como já expressado anteriormente, o CPC/2015 possui um microssistema 
formado por normas gerais e princípios que privilegiam a cooperação dentro do 
processo civil brasileiro, fundando as bases para o chamado processo convencionado. 
Nesse sentido, Cabral (2018), elenca em sua obra três vetores ou diretrizes que regem 
a aplicação da ideia de convencionalidade no processo: a máxima do in dubio pro 
libertate, o contraditório na interpretação e aplicação dos acordo processuais e a 
aplicação do sistema de invalidades processuais, com o fulcro de aproveitamento e 
convalidação dos negócios jurídicos processuais. 
Quanto à máxima do in dubio pro libertate, cumpre ressaltar a tendência do 
processo civil brasileiro em favor da liberdade de conformação do procedimento pela 
vontade das partes. Esta liberdade está sob o controle do juiz, contudo, para que este 
possa exercer o controle de validade sobre um ato negocial firmado pelas partes, deve 
apresentar fundamentação intensa e específica, trazendo argumentos concretos que 
postulem contra a liberdade de convenção das partes. 
O segundo vetor diz respeito diz respeito à regra que garante às partes o 
contraditório no controle de validade das convenções processuais exercido pelo 
magistrado, mesmo nas questões que possam ser conhecidas de ofício pela 
autoridade judicial. É a norma constante do artigo 10°, do CPC, que impõe que o 
controle exercido pelo magistrado seja empreendido de maneira cooperativa. 
Por último, em se tratando de controle judicial das convenções processuais, o 
terceiro vetor visa aplicar às convenções processuais o sistema de formas e 
invalidades processuais, somado às regras de direito material relativas aos negócios 
jurídicos em geral. Dessa forma, fica garantida a possibilidade de convalidação ou 
aproveitamento de convenções processuais viciadas, desde que supridos os 
eventuais vícios, assim como acontece no âmbito do direito privado. 
34 
 
Cumpre ainda ressaltar a questão da autonomia das convenções processuais 
em relação ao negócio jurídico principal em que estiver inserida. Como bem observa 
Didier (2016), a invalidade do negócio principal não implicará, necessariamente, a 
invalidade da convecção processual. Essa regra, estabelecida pelo art. 8° da Lei de 
Arbitragem (Lei n. 9.307/1996), estende-se analogicamente a todos os demais tipos 
de convenções processuais. 
Outro ponto relevante no que diz respeito à formação dos negócios jurídicos 
processuais é a submissão aos planos de existência, validade e eficácia. Seguindo a 
mesma lógica dos negócios jurídicos de direito material, as convenções processuais 
também precisam passar pelos três crivos para se formarem efetivamente e 
produzirem seus efeitos no ambiente processual. 
 
4.1.1 Do Plano Da Existência 
 
Quanto ao plano da existência, pode-se afirmar que existem três pressupostos 
das convenções processuais: o consentimento, o autorregramento e a referibilidade 
ao procedimento. O consentimento é a manifestação das vontades das partes que 
convergem para dar origem aos acordos. É o que conclui Cabral (2018), ao afirmar 
que para que os acordos processuais se formem, os efeitos deles decorrentes devem 
ser queridos pelos sujeitos, ou seja, os convenentes, através de sua autonomia, 
devem ter programado a produção daqueles efeitos. 
Por sua vez, o autorregramento vai além, pois, como observa Nogueira (2016), 
não basta, para que se configure o negócio, haver manifestação da vontade, mas é 
imprescindível que ela se manifeste como exercício de poder de escolha da categoria 
jurídica ou das situações jurídicas que configurarão sua eficácia. 
Por último, para que se tenha um negócio jurídico processual efetivamente 
existente ele deve estar relacionado a um procedimento existente, ainda que não 
integre a cadeia típica que o componha. Ou seja, o negócio deve fazer referência a 
um procedimento sobre o qual irá incidir e produzir seus efeitos de acordo com a 
convenção das partes. 
 
4.1.2 Do Plano Da Validade 
 
35 
 
No que diz respeito ao plano da validade, para serem válidos os negócios 
processuais devem ser celebrados por pessoas capazes, possuir objeto lícito e 
observar a forma prescrita ou não defesa em lei, da mesma forma estabelecida no 
âmbito do direito material nos arts. 104, 166 e 167 do Código Civil. Nesse ponto, Didier 
(2016), observa que o desrespeito a qualquer desses requisitos implica nulidade do 
negócio processual, reconhecível ex officio nos termos do parágrafo único do art. 190 
do CPC. 
Assim, para se aferir a validade, o primeiro requisito a ser observado diz 
respeito à capacidade. Por exigência expressa do art. 190, as partes devem ser 
plenamente capazes para que possam celebrar os negócios processuais atípicos, 
contudo o artigo não esclarece a qual capacidade se refere. Didier ensina que 
é a capacidade processual o requisito de validade exigido para a prática dos 
negócios processuais atípicos permitidos pelo art. 190 do CPC. No caso, 
exige-se a capacidade processual negocial, que pressupõe a capacidade 
processual, mas não se limita a ela, pois a vulnerabilidade é caso de 
incapacidade processual negocial, [...] que a princípio não atinge a 
capacidade processual geral – um consumidor é processualmente capaz, 
embora possa ser um incapaz processual negocial. (DIDIER,2016, p. 
389) 
A capacidade no âmbito dos negócios jurídicos processuais ainda pode ser 
verificada à luz da combinação de requisitos de direito material e processual. Nesse 
sentido, conforme a doutrina processualista, tem-se: a capacidade de ser parte, que 
está ligada à capacidade de aquisição no direito privado e corresponde a aptidão para 
aquisição de direitos; a capacidade de estar em juízo, ou capacidade processual, que 
corresponde à capacidade de exercer os direitos no direito privado; e a capacidade 
postulatória, que é a aptidão para dirigir requerimentos a manifestar-se perante os 
órgãos jurisdicionais. 
Importante ainda ressaltar que a capacidade, como critério de aferição de 
validade do acordo processual, deve ser aferida no momento da prática do ato 
negocial, ou seja, no momento em que as partes celebram a convenção processual. 
O segundo critériopara se verificar a validade dos acordos processuais diz 
respeito à natureza do objeto do negócio processual. Pela inteligência do artigo 190, 
do CPC, os negócios jurídicos processuais servem para estipular regras de 
procedimento ou criar, modificar ou extinguir situações jurídicas processuais. Dessa 
forma, o referido dispositivo legal apresenta dois tipos de convenções processuais 
36 
 
com objetos distintos: os acordos dispositivos, para a estipulação de normas 
procedimentais; e os acordos obrigacionais, que estabelecem obrigações de dar, fazer 
ou não fazer. 
Na interpretação do artigo 190, a doutrina entende que as situações jurídicas 
referidas se dividem situações de vantagem, desvantagem e situações neutras. Sobre 
esta divisão, Cabral ensina que 
dentre as situações jurídicas de vantagem encontram-se os direitos e os 
poderes. Direitos subjetivos são definidos frequentemente como o poder de 
agir para a satisfação de um interesse próprio. Estão ligados à prática de um 
ato por outra pessoa (aquele que tem o dever de atender a este direito). Já 
os poderes jurídicos são expressão de um comando normativo. Assim como 
os direitos, os poderes também são atributos da vontade alheia (e de alguma 
forma é contrário à liberdade de outrem, que se encontra na correlata situação 
de sujeição). Situação jurídica neutra seria a faculdade, definida como a 
possibilidade de agir no campo da autonomia, através de condutas cuja 
prática encontra total liberdade no sujeito legitimado. (CABRAL, 2018, p. 
331), 
Nesse sentido, ainda à luz dos ensinamentos de Cabral (2018), as situações 
jurídicas neutras e de vantagem podem ser objetos de acordos processuais com maior 
liberdade, tanto para incrementar sua esfera jurídica quanto para abdicar de situações 
vantajosas. O objeto da negociação pode livremente ser uma opção de não exercer 
algum direito, como por exemplo, não requerer produção de provas, não alegar, não 
recorrer. A maior limitação, contudo, é em relação às situações de desvantagem, 
como a sujeição, o dever e o ônus. 
Além disso, não se pode olvidar da necessidade da licitude do objeto do 
negócio processual. Em consonância com o direito material, o negócio jurídico 
processual obedece à regra do artigo 104, II, do Código Civil, que determina a licitude 
do objeto como requisito para a validade do negócio. 
Não é válido, especialmente, o negócio jurídico bilateral atípico com objeto 
ilícito, como por exemplo negócio que vise afastar a incidência de garantias 
constitucionais, tal qual o devido processo legal. Pois que, 
situadas no âmbito constitucional, as garantias constitucionais do processo 
se mostram como fundamento de validade das normas do Código de 
Processo Civil que, por sua vez, dão fundamento de validade para eventuais 
‘contratos processuais’. Nesse sentido, não seria possível conceber que 
estes contratos processuais, no mais baixo nível de escalonamento, teriam 
autorização para ignorar diretrizes gerais previstas na Constituição (de 
natureza imperativa) quanto à forma do desenvolvimento e os resultados do 
processo (devido processo legal). (MACHADO, 2014, v.3, p. 339-362) 
37 
 
No que diz à forma, esta deve ser aquela prescrita ou não proibida pela lei. Este 
ponto pode ser observado sob duas perspectivas: o tempo e o lugar da celebração 
dos acordos e a forma em sentido estrito. 
Quanto ao tempo e lugar, o próprio art. 190 do CPC já é esclarecedor, ao admitir 
que as partes podem acordar sobre alterações do procedimento futuro e acerca de 
situações jurídicas dentro ou fora da relação processual. Nada obsta que os acordos 
sejam celebrados antes do surgimento do processo, delimitando o procedimento antes 
mesmo de haver litígio. Portanto, por expressa previsão legal, a parte tem liberdade 
para celebrar o acordo a qualquer tempo, dentro ou fora do processo. 
 Quanto à forma em sentido estrito, vige o chamado princípio da liberdade das 
formas, pelo qual fica estabelecido que, conquanto alguma formalidade seja 
necessária, esta não é necessariamente rígida ou específica, salvo nos casos que a 
lei dispõe expressamente. Nesse ponto, são vários os exemplos dispositivos legais do 
direito material e do direito processual, que expressam a liberdade das formas de 
celebração dos negócios jurídicos processuais. 
Cumpre ainda observar que essa liberdade das formas é ainda maior quando 
se tratar de negócios atípicos que, conforme abordado anteriormente, já são dotados 
de liberdade formal por natureza. Assim, como conclui Didier (2016), é possível 
negócio processual oral ou escrito, expresso ou tácito, apresentado por documento 
formado extrajudicialmente ou em mesa de audiência etc. 
Contudo, a liberdade no que diz respeito à forma também encontra limites. A 
falta de parâmetros seguros para o desenvolvimento do processo em juízo não é a 
intenção do legislador ao garantir a liberdade da forma de celebração e expressão dos 
negócios jurídicos. Pelo contrário, como observa Gajardoni (2016), o parâmetro 
mínimo da convenção processual é que ela seja escrita, mesmo que sua apresentação 
no processo se dê de forma oral, posteriormente deve ser reduzida a termo, em 
obediência ao que dispõe o artigo 63, §1° do CPC. 
Sendo assim, no âmbito dos critérios para a formação válida dos negócios 
jurídicos já se pode estabelecer os limites para sua celebração. Valores como 
previsibilidade e segurança jurídica, devem sempre prevalecer frente às pretensões 
negociais das partes. 
 
4.1.3 Do Plano Da Eficácia 
38 
 
Por fim, no plano da eficácia, a análise dos negócios jurídicos processuais se 
presta a identificar as situações em que o negócio seja valido, porém ineficaz. Nesse 
sentido, observa Nogueira 
os atos processuais lato sensu normalmente, quando praticados, produzem 
seus efeitos processuais típicos. Nem mesmo o vício obsta a que o ato seja 
eficaz. Os atos processuais viciados, no direito processual brasileiro, 
diferentemente do que sucede no direito civil, v.g., produzem seus efeitos 
típicos até a respectiva invalidação, quando, na medida do possível, são 
desfeitos. Os atos processuais inválidos, portanto, ingressam no plano da 
eficácia. (NOGUEIRA, 2016, p. 181) 
No entanto, a doutrina sobre as condições para se aferir a eficácia dos negócios 
jurídicos processuais ainda é divergente. Existem duas correntes: a primeira, aqui 
representada por Nogueira, entende que apesar de o negócio jurídico já existir com a 
manifestação da vontade no processo, porque o suporte fático já está composto a 
partir de então, o ato só se torna eficaz com a homologação. 
De outro ponto, a ideia que tem prevalecido é a que segue no sentido contrário. 
Como se pode inferir dos enunciados 133 e 261 do Fórum Permanente de 
Processualistas Civis, não seria necessária a homologação, produzindo o negócio 
efeitos imediatos, isto é, desde quando celebrados. Os referidos enunciados ainda 
expressam que a homologação somente será imprescindível quando houver expressa 
previsão legal, como na hipótese de desistência da ação trazida pelo artigo 200, 
parágrafo único do CPC. 
Ainda no sentido de entender pela aplicação imediata dos efeitos do negócio 
jurídico processual, Didier entende que 
o negócio processual atípico baseado no art. 190 segue, porém, a regra geral 
do caput do art. 200 do CPC: produzem efeitos imediatamente, salvo se as 
partes, expressamente, houverem modulado a eficácia do negócio, com a 
inserção de uma condição ou de um termo. Leonardo Greco traz exemplo 
interessante: as partes dispensam a prova testemunhal, caso a perícia 
esclareça determinado fato. (DIDIER, 2016, p. 395) 
Conforme conclui Gajardoni (2016) a esse respeito, o controle de 
admissibilidade e validade do negócio

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