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SISTEMA DE ENSINO DIREITO PROCESSUAL CIVIL Processo Livro Eletrônico 2 de 99www.grancursosonline.com.br Lídia Marangon Processo DIREITO PROCESSUAL CIVIL Sumário Processo . ....................................................................................................................................4 Apresentação . ............................................................................................................................4 1. Conceito de Processo . ...........................................................................................................5 2. Constitucionalização do Direito Processual . .....................................................................8 3. Normas Fundamentais do Processo Civil . ..........................................................................8 3.1. Instauração do Processo por Iniciativa da Parte . ......................................................... 10 3.2. Desenvolvimento do Processo por Impulso Oficial ...................................................... 11 3.3. Devido Processo Legal . ................................................................................................... 11 3.4. Dignidade da Pessoa Humana . ........................................................................................17 3.5. Legalidade . ....................................................................................................................... 19 3.6. Contraditório . ................................................................................................................... 19 3.7. Publicidade . ......................................................................................................................23 3.8. Duração Razoável do Processo . ....................................................................................25 3.9. Igualdade Processual ou Isonomia.................................................................................27 3.10. Eficiência . ...................................................................................................................... 28 3.11. Boa-fé Processual . .........................................................................................................29 3.12. Efetividade . .....................................................................................................................34 3.13. Adequação . .....................................................................................................................34 3.14. Cooperação . ....................................................................................................................36 3.15. Respeito ao Autorregramento da Vontade no Processo ...........................................39 3.16. Primazia da Decisão de Mérito .................................................................................... 40 3.17. Instauração do Processo por Iniciativa da Parte e Desenvolvimento do Processo por Impulso Oficial . .................................................................................................................43 3.18. Regra da Obediência à Ordem Cronológica de Conclusão . .......................................44 ************ https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 3 de 99www.grancursosonline.com.br Lídia Marangon Processo DIREITO PROCESSUAL CIVIL Questões de Concurso . ...........................................................................................................46 Gabarito . ..................................................................................................................................59 Gabarito Comentado . ............................................................................................................. 60 ************ https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 4 de 99www.grancursosonline.com.br Lídia Marangon Processo DIREITO PROCESSUAL CIVIL PROCESSO ApresentAção Olá, querido(a) aluno(a)! Aqui quem escreve é a professora Lídia Marangon. No Gran Cursos Online, ministro aulas de Direito Processual Civil e sou coordenadora dos cursos de Defensorias Públicas Estaduais e Defensoria Pública da União. Iniciaremos agora uma preparação completa para os concursos de carreiras jurídicas. Trata-se, sem dúvida alguma, de uma excelente oportunidade de ingressar em uma dessas bri- lhantes carreiras, levando-se em consideração tanto as funções (de magistrados, promotores, defensores públicos e advogados públicos) como a remuneração dos cargos em questão. As bancas escolhidas para organizar tais concursos são as mais diversas, mas focare- mos nas principais bancas examinadoras. Compreenderemos os principais entendimentos e autores utilizados pelas bancas e resolveremos questões cobradas anteriormente nos concursos públicos. Com isso, poderemos treinar todo o conhecimento aprendido nas aulas. É importante deixar claro que muitas das questões abordam mais de uma temática e, nesse caso, comentaremos essas alternativas, mesmo que aquele conteúdo não faça parte do assunto da aula. Professora, como posso aperfeiçoar meus estudos para os concursos de carreira jurídica? Indico a resolução de muitas questões associadas ao estudo da jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça e do Supremo Tribunal Federal. Obviamente, a doutrina, associada ao estudo de lei seca, também é importante e ajuda a consolidar conhecimentos para as demais fases dos certames. Por isso, nossas aulas contemplarão todos esses aspectos. Tente garantir o máximo de pontos possíveis nas primeiras fases. Esse é o caminho certo para a aprovação. ************ https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 5 de 99www.grancursosonline.com.br Lídia Marangon Processo DIREITO PROCESSUAL CIVIL É extremamente importante criar uma base sólida em Direito Processual Civil, que possi- bilitará, com o tempo, o alcance de um alto nível de conhecimento e de acertos nas questões de prova. Comecei minha trajetória nos concursos há algum tempo. O primeiro concurso no qual fui nomeada foi para o cargo de Advogado dos Correios. Nele, nem cheguei a assumir o cargo, por- que, logo em seguida, fui alcançando outros resultados, como Técnico Administrativo do TJDFT, Técnico Administrativo do TRF 1ª Região, Analista Processual do MPU, Analista Judiciário/Exe- cução de Mandados do TJDFT, Analista Judiciário do STJ, Analista Judiciário do TRT 2ª Região, e por fim, Defensora Pública do Distrito Federal, meu grande objetivo. Em todos esses concursos, fui nomeada, tendo tomado posse primeiramente no TJDFT, em seguida no MPU e, por último, na DPDF. Já estive na sua posição e sei bem como é difícil o caminho até a aprovação no concurso dos sonhos. Saiba, porém, que valem a pena o esforço e a abdicação. Não tenha medo de encarar seus desafios. Seja forte e determinado(a). Após a aprovação, cada um desses mo- mentos de dificuldade será lembrado apenas como algo que passou rapidamente e você será vitorioso(a)! Conte comigo nessa caminhada! Feitas as apresentações iniciais, vamos à luta! Nessa aula, abordaremos os seguintes pontos: 1. Conceito de Processo 2. Constitucionalização do Direito Processual 3. Normas Fundamentais do Processo Civil Vamos lá? 1. ConCeito de proCesso Querido(a) aluno(a), para que façamos uma introdução ao estudo do Direito Processual Civil, é importante que, inicialmente, você saiba o conceito de processo. ************ https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 6 de 99www.grancursosonline.com.br Lídia Marangon Processo DIREITO PROCESSUAL CIVIL Segundo Fredie Didier Júnior, processo pode ser compreendido como um método de criação de normas jurídicas. Pode também, contudo, ser compreendido como ato jurídico complexo e, nesse caso, é sinônimo de procedimento. Além disso, há o entendimento de processo como relação jurídica. Veja o esquemaabaixo para compreender melhor: Para quem entende que processo é o método de criação de normas jurídicas, o processo seria o modo de produção da norma, pois o poder de criação de normas somente pode ser exercido processualmente. Nesse contexto, há: • o processo legislativo, que corresponde à produção de normas gerais pelo Poder Legislativo; • o processo administrativo, que corresponde à produção de normas gerais e individua- lizadas pela administração pública; • o processo jurisdicional, que corresponde à produção de normas pela jurisdição. Atualmente, é possível ainda conceber o processo negocial. ************ https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 7 de 99www.grancursosonline.com.br Lídia Marangon Processo DIREITO PROCESSUAL CIVIL Do que se trata esse último processo? Trata-se do método de criação de normas jurídicas pela autonomia privada. Perceba que o artigo 190 do Código de Processo Civil (CPC) de 2015 prevê a possibilidade de as partes convencionarem sobre vários aspectos processuais, como seus ônus, poderes, faculdades e deveres processuais. É a chamada cláusula geral de negócio jurídico processual. Art. 190. Versando o processo sobre direitos que admitam autocomposição, é lícito às partes ple- namente capazes estipular mudanças no procedimento para ajustá-lo às especificidades da causa e convencionar sobre os seus ônus, poderes, faculdades e deveres processuais, antes ou durante o processo. Para quem entende que o processo é um ato jurídico complexo, ele é visto como ato de formação sucessiva, pois os vários atos que o compõem sucedem-se no tempo em busca da prestação jurisdicional. Para quem entende que o processo é um conjunto de relações jurídicas, seria ele um agru- pamento de relações, de natureza jurídica, que se estabelecem entre os sujeitos processuais. E quem seriam esses sujeitos processuais? Todos aqueles, que de alguma forma, participam do processo, como o juiz, as partes, os auxiliares da justiça, os defensores públicos, os promotores de justiça e os advogados. Para grande parte da doutrina, essa corrente é a mais aceita, sendo o processo uma relação jurídica de Direito Processual que se exterioriza por meio do procedimento. Por fim, perceba que os três conceitos de processo expostos não são antagônicos, tanto que o artigo 14 do CPC/2015 trata o processo tanto como um conjunto de “atos processuais praticados” quanto como um conjunto de relações jurídicas. Veja: Art. 14. A norma processual não retroagirá e será aplicável imediatamente aos processos em curso, respeitados os atos processuais praticados e as situações jurídicas consolidadas sob a vigência da norma revogada. ************ https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 8 de 99www.grancursosonline.com.br Lídia Marangon Processo DIREITO PROCESSUAL CIVIL 2. ConstituCionAlizAção do direito proCessuAl Agora, trataremos de um tema muito interessante. A constitucionalização do Direito Processual. É muito importante que você observe o teor do artigo 1º do CPC, pois ele traz em seu bojo o reconhecimento do fenômeno da constitucionalização do Direito Processual. Art. 1º O processo civil será ordenado, disciplinado e interpretado conforme os valores e as normas fundamentais estabelecidos na Constituição da República Federativa do Brasil, observando-se as disposições deste Código. Esse é um artigo que demonstra a tomada de posição do legislador no sentido de reco- nhecer a força normativa da Constituição e que as normas de Direito Processual Civil não podem ser compreendidas de modo afastado do texto constitucional. Conforme os doutrinadores, esse fenômeno da constitucionalização do Direito Processual pode ser visto sob dois aspectos, o primeiro correspondendo à incorporação aos textos constitucionais de normas processuais, inclusive como direitos fundamentais (o devido pro- cesso legal, o princípio do juiz natural e o contraditório, por exemplo); e o segundo ao exame das normas processuais infraconstitucionais como caracterizadoras das disposições constitu- cionais. Nesse ponto, podemos afirmar que o diálogo entre processualistas e constitucionalistas se tornou mais intenso. Por fim, o que se torna bem claro com a constitucionalização do Direito Processual é que as normas processuais não podem ser vistas sem o devido confronto com as normas constitucionais. É fundamental perceber que o legislador busca, cada vez mais, reconhecer a força normativa da Constituição ao elaborar a legislação infraconstitucional. 3. normAs FundAmentAis do proCesso Civil Um dos temas mais cobrados em provas de concursos para as carreiras jurídicas é o que trata das normas fundamentais do processo civil. Perceba que o CPC de 2015 trouxe um título exclusivo, no Livro I, para tratar dessas normas fundamentais (artigos 1º ao 12). ************ https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 9 de 99www.grancursosonline.com.br Lídia Marangon Processo DIREITO PROCESSUAL CIVIL O que são as normas fundamentais? São normas processuais que formam a base do Direito Processual Civil Fundamental, as quais são, algumas vezes, consideradas princípios, outras consideradas regras, como afirmado pelo Fórum Permanente de Processualistas Civis. Confira: Enunciado n. 370, FPPC: Norma processual fundamental pode ser regra ou princípio. Algumas dessas normas decorrem diretamente da própria Constituição Federal; outras, do próprio CPC, que dedicou um capítulo inteiro a elas (artigos 1º ao 12). Podemos dizer que as normas são fundamentais porque estruturam o modelo de processo civil brasileiro? Sim. Essas normas fundamentais, previstas nos primeiros artigos do CPC/2015, servem de base para todas as demais normas jurídicas processuais civis. Além disso, o rol de normas fundamentais previsto nesse capítulo, nos artigos 1º ao 12 do CPC/2015, não é taxativo, mas meramente exemplificativo. Isso significa que há outras normas fundamentais do processo civil brasileiro espalhadas no CPC. Exemplos: O princípio de respeito ao autorregramento da vontade no processo e o dever de observância dos precedentes judiciais são considerados, por grande parte da doutrina, normas fundamentais. Também temos um enunciado do Fórum Permanente de Processualistas Civis que afirma exatamente isso: Enunciado n. 369/FPPC: O rol de normas fundamentais previsto no Capítulo I do Título Único do Livro I da Parte Geral do CPC não é exaustivo. ************ https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 10 de 99www.grancursosonline.com.br Lídia Marangon Processo DIREITO PROCESSUAL CIVIL Trataremos agora das normas fundamentais expressas previstas no CPC. No artigo 2º do CPC, temos a seguinte previsão: Art. 2º O processo começa por iniciativa da parte e se desenvolve por impulso oficial, salvo as ex- ceções previstas em lei. Esse artigo corresponde a duas regras importantes. A primeira delas é conhecida como a regra da instauração do processo por iniciativa da parte: 3.1. instAurAção do proCesso por iniCiAtivA dA pArte O processo civil começa por iniciativa da parte. Quanto a essa regra, é importante atentar para os seguintes pontos: • O CPC/1973 permitia, no artigo 989, que o juiz desse início de ofício ao processo de inventário. O CPC/2015 não mais permite: Art. 615. O requerimento de inventário e de partilha incumbe a quem estiver na posse e na admi- nistração do espólio, no prazo estabelecido no art. 611. • A execução de sentença de obrigação de fazer, não fazer ou dar coisa, desde que essa coisa não seja dinheiro, pode ser instaurada de ofício. O mesmo não acontece com a execução de sentença para pagamento de quantia, pois, nesse caso, haverá necessida- de de provocação da parte. Perceba a redação dos artigos do CPC colacionados abaixo: Art. 536. No cumprimento de sentença que reconheça a exigibilidade de obrigação de fazer ou de não fazer, o juizpoderá, de ofício ou a requerimento, para a efetivação da tutela específica ou a obtenção de tutela pelo resultado prático equivalente, determinar as medidas necessárias à satis- fação do exequente. Art. 538. Não cumprida a obrigação de entregar coisa no prazo estabelecido na sentença, será expedido mandado de busca e apreensão ou de imissão na posse em favor do credor, conforme se tratar de coisa móvel ou imóvel. Art. 513, § 1º O cumprimento da sentença que reconhece o dever de pagar quantia, provisório ou definitivo, far-se-á a requerimento do exequente. • Alguns incidentes processuais podem ser instaurados de ofício. Exemplos: O incidente de resolução de demandas repetitivas (art. 976), conflito de competência (art. 951) e o incidente de arguição de inconstitucionalidade (art. 948). ************ https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 11 de 99www.grancursosonline.com.br Lídia Marangon Processo DIREITO PROCESSUAL CIVIL A outra regra trazida pelo artigo 2º do CPC é a do desenvolvimento do processo por impulso oficial. 3.2. desenvolvimento do proCesso por impulso oFiCiAl Essa regra traduz o ensinamento de que o processo se desenvolve por impulso oficial, sem a necessidade de novas provocações da parte. Uma vez que a parte dê início ao processo, cabe ao juiz conduzi-lo e dar o devido andamento. Quanto à regra do desenvolvimento do processo por impulso oficial, observa-se que: • não impede que o autor desista da demanda; • há a possibilidade de as partes, convencionalmente, limitarem o impulso oficial, com fundamento no artigo 190 do CPC; • o dever de impulso oficial não se estende à fase recursal, já que cabe à parte a iniciativa de interpor o recurso devido, salvo nos casos de remessa necessária. 3.3. devido proCesso legAl É um princípio previsto no inciso LIV do artigo 5º da Constituição Federal: Art. 5º, LIV – ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal. A doutrina entende que esse princípio confere, a todo sujeito de direito, o direito funda- mental a um processo devido, justo e equitativo. É importante você lembrar que o princípio do devido processo legal é visto como base norteadora de todos os demais princípios a serem observados no processo. Isso se deve à sua importância no ordenamento jurídico, uma vez que tal princípio é utilizado, inclusive, como uma espécie de limitador da administração pública, a fim de que ela não aja com des- respeito aos direitos fundamentais reconhecidos nas relações jurídicas de natureza privada. Na doutrina, há bastante divergência com relação à origem desse princípio, mas é bas- tante comum os autores afirmarem a Magna Carta de 1215 como o mais remoto documento histórico que o consagre em seu texto. No entanto, alguns doutrinadores informam que a origem de tal princípio é germânica e ainda mais antiga. ************ https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 12 de 99www.grancursosonline.com.br Lídia Marangon Processo DIREITO PROCESSUAL CIVIL Fique atento(a), pois as bancas examinadoras costumam questionar se o princípio do devido processo legal é uma cláusula geral. A resposta é afirmativa. Por ser, sim, uma cláusula geral, há um conteúdo mínimo desse princípio que deve ser observado para que o processo seja considerado devido. Qual conteúdo mínimo? A seguir, serão listados esses conteúdos: • observância do contraditório e da ampla defesa com tratamento paritário às partes do processo; • observância da duração razoável do processo; • proibição do retrocesso dos direitos fundamentais; • proibição de provas ilícitas; • publicidade do processo; • garantia do juiz natural; • necessidade de fundamentação das decisões judiciais; • garantia do acesso à justiça. O devido processo legal é direito fundamental, que pode ser compreendido em duas dimensões: ************ https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 13 de 99www.grancursosonline.com.br Lídia Marangon Processo DIREITO PROCESSUAL CIVIL Inicialmente, vamos falar sobre o devido processo legal formal, também conhecido como procedural due process. No sentido formal, temos a definição tradicional desse princípio, que corresponde à observância dos princípios processuais na condução dos processos, como o direito ao contraditório, ao juiz natural e a uma razoável duração do processo. Essa é a dimensão mais famosa e conhecida desse princípio. Em outras palavras, seria o mesmo que objetivamente respeitar as normas processuais. Contudo, isso, por si só, não basta, uma vez que um processo devido não é apenas o que respeita as exigências formais. Há necessidade de algo mais: um processo que gere decisões substancialmente devidas. Por isso, foi desenvolvida a noção de devido processo legal substancial. O devido processo legal substancial também é conhecido como substantive due process, ideia desenvolvida nos Estados Unidos. De acordo com a jurisprudência do STF e diversos doutrinadores brasileiros, o devido processo legal, em sua dimensão substancial, é a fonte ************ https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 14 de 99www.grancursosonline.com.br Lídia Marangon Processo DIREITO PROCESSUAL CIVIL dos deveres de proporcionalidade e razoabilidade. Desse modo, o devido processo legal im- põe que tanto o órgão julgador quanto o legislador tomem decisões razoáveis e proporcionais. O artigo 8º do CPC consagra, expressamente, o dever de observância da proporcionalidade e da razoabilidade na aplicação do ordenamento jurídico. Observe: Art. 8º Ao aplicar o ordenamento jurídico, o juiz atenderá aos fins sociais e às exigências do bem comum, resguardando e promovendo a dignidade da pessoa humana e observando a proporciona- lidade, a razoabilidade, a legalidade, a publicidade e a eficiência. O devido processo legal se aplica às relações jurídicas privadas? Essa é uma pergunta importante e a resposta é afirmativa. Você já deve ter ouvido falar da eficácia horizontal dos direitos fundamentais. Isso sig- nifica que a Constituição Federal, ao prever direitos fundamentais, admite sua aplicação nas relações entre particulares. Assim, é crucial saber que o devido processo legal se aplica, também, às relações jurídicas privadas, seja na fase pré-negocial, seja na fase executiva do negócio jurídico. Exemplo: Observe o teor do artigo 57 do Código Civil: Art. 57. A exclusão do associado só é admissível havendo justa causa, assim reconhecida em procedimento que assegure direito de defesa e de recurso, nos termos previstos no estatuto. Perceba que, para que uma associação exclua um associado de seus quadros, há neces- sidade da observância de um procedimento; não basta a simples exclusão. Nesse sentido, em 2005, o STF enfrentou a teoria da aplicação dos direitos fundamentais às relações jurídicas privadas, como consta no informativo n. 405. Por meio dele, o STF decidiu, ao apreciar litígio entre clube e associado, que os direitos fundamentais, inclusive os processuais, aplicam-se às relações entre particulares, o que se denomina eficácia horizontal dos direitos fundamentais. ************ https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 15 de 99www.grancursosonline.com.br Lídia Marangon Processo DIREITO PROCESSUAL CIVIL Dessa maneira, não é lícito, também no âmbito das relações privadas, restrição a qualquer direito sem observar o princípio do devido processo legal. Confira um trecho do julgado: Sociedade Civil de Direito Privado e Ampla Defesa A Turma, concluindo julgamento, negou provimento a recurso extraordinário interposto contra acórdão do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro que mantivera deci- são que reintegrara associado excluído do quadro da sociedade civil União Brasileira de Compositores (UBC), sob o entendimento de que fora violado o seu direito de defesa, em virtude de o mesmo não ter tidoa oportunidade de refutar o ato que resultara na sua punição - v. Informativos n. 351, 370 e 385. Entendeu-se ser, na espécie, hipótese de aplicação direta dos direitos fundamentais às relações privadas. Ressaltou-se que, em razão de a UBC integrar a estrutura do ECAD (Escritório Central de Arrecadação e Distribuição), entidade de relevante papel no âmbito do sistema brasileiro de proteção aos direitos autorais, seria incontroverso que, no caso, ao restringir as possibilidades de defesa do recorrido, a recorrente assumira posição privilegiada para determinar, pre- ponderantemente, a extensão do gozo e da fruição dos direitos autorais de seu asso- ciado. Concluiu-se que as penalidades impostas pela recorrente ao recorrido extrapo- laram a liberdade do direito de associação e, em especial, o de defesa, sendo imperiosa a observância, em face das peculiaridades do caso, das garantias constitucionais do devido processo legal, do contraditório e da ampla defesa. Vencidos a Min. Ellen Gracie, relatora, e o Min. Carlos Velloso, que davam provimento ao recurso, por entender que a retirada de um sócio de entidade privada é solucionada a partir das regras do estatuto social e da legislação civil em vigor, sendo incabível a invocação do princípio constitu- cional da ampla defesa. RE n. 201819/RJ, rel.: Min. Ellen Gracie, rel p/ acórdão: Min. Gilmar Mendes, 11.10.2005. (RE-201819) Excetuando essa situação (exclusão de associado), existe alguma outra em que se aplique o devido processo legal às relações privadas? ************ https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 16 de 99www.grancursosonline.com.br Lídia Marangon Processo DIREITO PROCESSUAL CIVIL Existe. Considere o caso a seguir. Observe o teor do artigo 1.337 do Código Civil: Art. 1.337. O condômino, ou possuidor, que não cumpre reiteradamente com os seus deveres perante o condomínio poderá, por deliberação de três quartos dos condôminos restantes, ser cons- trangido a pagar multa correspondente até ao quíntuplo do valor atribuído à contribuição para as despesas condominiais, conforme a gravidade das faltas e a reiteração, independentemente de perdas e danos que se apurem. Parágrafo único. O condômino ou possuidor que, por seu reiterado comportamento antis- social, gerar incompatibilidade de convivência com os demais condôminos ou possuidores, poderá ser constrangido a pagar multa correspondente ao décuplo do valor atribuído à contri- buição para as despesas condominiais, até ulterior deliberação da assembleia. Perceba, da leitura desse artigo, que o Código Civil prevê que, se o condômino apre- sentar reiterado comportamento antissocial, poderá ser punido com sanção pecuniária, ou seja, uma multa. Para que o condomínio aplique essa multa, é necessário que garanta ao condômino direi- to ao contraditório e à ampla defesa? Com certeza. Aqui, temos mais um exemplo da aplicação da eficácia horizontal dos direi- tos fundamentais. Nesse sentido, o STJ decidiu que a sanção prevista para o comportamento antissocial reiterado de condômino não pode ser aplicada sem que antes lhe seja conferido o direito de defesa. Confira um trecho do julgado: A sanção prevista para o comportamento antissocial reiterado de condômino (art. 1.337, parágrafo único, do CC) não pode ser aplicada sem que antes lhe seja conferido o direito de defesa. De fato, o Código Civil – na linha de suas diretrizes de socialidade, cunho de humanização do di- reito e de vivência social, eticidade, na busca de solução mais justa e equitativa, e operabilidade, alcançando o direito em sua concretude – previu, no âmbito da função social da posse e da pro- priedade, no particular, a proteção da convivência coletiva na propriedade horizontal. Assim, os condôminos podem usar, fruir e livremente dispor das suas unidades habitacionais, assim como das áreas comuns (art. 1.335 do CC), desde que respeitem outros direitos e preceitos da legislação e da convenção condominial. Nesse passo, o art. 1.337 do CC estabelece sancionamento para o condômino que reiteradamente venha a violar seus deveres para com o condomínio, além de ins- tituir, em seu parágrafo único, punição extrema àquele que reitera comportamento antissocial. A doutrina especializada reconhece a necessidade de garantir o contraditório ao condômino infrator, ************ https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 17 de 99www.grancursosonline.com.br Lídia Marangon Processo DIREITO PROCESSUAL CIVIL possibilitando, assim, o exercício de seu direito de defesa. A propósito, esta é a conclusão do enun- ciado 92 da I Jornada de Direito Civil do CJF: “Art. 1.337. As sanções do art. 1.337 do novo Código Civil não podem ser aplicadas sem que se garanta direito de defesa ao condômino nocivo.” Por se tratar de punição imputada por conduta contrária ao direito, na esteira da visão civil-constitucional do sistema, deve-se reconhecer a aplicação imediata dos princípios que protegem a pessoa huma- na nas relações entre particulares, a reconhecida eficácia horizontal dos direitos fundamentais, que também deve incidir nas relações condominiais, para assegurar, na medida do possível, a ampla defesa e o contraditório. Ressalte-se que a gravidade da punição do condômino antissocial, sem nenhuma garantia de ampla defesa, contraditório ou devido processo legal, na medida do possível, acaba por onerar consideravelmente o suposto infrator, o qual fica impossibilitado de demonstrar, por qualquer motivo, que seu comportamento não era antijurídico nem afetou a harmonia, a qua- lidade de vida e o bem-estar geral, sob pena de restringir o seu próprio direito de propriedade. Por fim, convém esclarecer que a prévia notificação não visa conferir uma última chance ao condômino nocivo, facultando-lhe, mais uma vez, a possibilidade de mudança de seu comportamento nocivo. Em verdade, a advertência é para que o condômino faltoso venha prestar esclarecimentos aos de- mais condôminos e, posteriormente, a assembleia possa decidir sobre o mérito da punição. REsp n. 1.365.279-SP, rel.: Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 25/8/2015, DJe 29/9/2015. Note que a doutrina também já se debruçou sobre o tema. Temos um enunciado da I Jor- nada de Direito Civil do CJF que o aborda. Enunciado n. 92/CJF: Art. 1.337. As sanções do art. 1.337 do novo Código Civil não podem ser aplicadas sem que se garanta direito de defesa ao condômino nocivo. 3.4. dignidAde dA pessoA HumAnA O princípio da dignidade da pessoa humana tem previsão legal no artigo 8º do CPC, cuja redação é a que segue: Art. 8º Ao aplicar o ordenamento jurídico, o juiz atenderá aos fins sociais e às exigências do bem comum, resguardando e promovendo a dignidade da pessoa humana e observando a proporciona- lidade, a razoabilidade, a legalidade, a publicidade e a eficiência. Da leitura do artigo 8º do CPC, percebe-se, claramente, que o CPC exige que o julgador resguarde e promova a dignidade da pessoa humana, no processo civil brasileiro. ************ https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 18 de 99www.grancursosonline.com.br Lídia Marangon Processo DIREITO PROCESSUAL CIVIL Essa exigência de resguardo e promoção tem a finalidade de garantir ao indivíduo que, de um lado, o Estado não viole a dignidade humana e, de outro, promova-a e a efetive. Outra fina- lidade é a humanização do processo civil, ou seja, a construção de um processo civil atento a problemas reais que afetem a dignidade da pessoa. A seguir temos alguns exemplos da aplicação desse princípio no CPC. Veja o teor do artigo 162, inciso III, do CPC: Art. 162. O juiz nomeará intérprete ou tradutor quando necessário para: III – realizar a interpretação simultânea dos depoimentos das partes e testemunhas com deficiên- cia auditiva que se comuniquem por meio da Língua Brasileira de Sinais, ou equivalente, quando assim for solicitado. Perceba que esse artigo resguarda o direito, à pessoacom deficiência auditiva, de comu- nicar-se, em audiências, por meio de Libras, em claro respeito à dignidade da pessoa humana. Também é possível afirmar que o CPC, ao prever a impenhorabilidade de certos bens no artigo 833, visa garantir a aplicação desse princípio. É com base nesse entendimento que o Superior Tribunal de Justiça entende que a pequena propriedade rural é impenhorável, nos termos do art. 5º, inciso XXVI, da Consti- tuição Federal e do art. 833, inciso VIII, do CPC, mesmo que o imóvel não sirva de moradia ao executado e à sua família, pois, com esse entendimento, visa-se garantir ao executa- do a preservação de um patrimônio mínimo, do qual lhe seja possível extrair condições dignas de subsistência. (STJ. 3ª Turma. REsp n. 1.591.298-RJ, rel.: Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 14/11/2017, Info n. 616). Outro exemplo é a previsão do artigo 1.048, inciso I, do CPC que trata da tramitação prio- ritária de processos de pessoas idosas ou com doenças graves. Art. 1.048. Terão prioridade de tramitação, em qualquer juízo ou tribunal, os procedimentos judiciais: I – em que figure como parte ou interessado pessoa com idade igual ou superior a 60 (sessenta) anos ou portadora de doença grave, assim compreendida qualquer das enumeradas no art. 6º, inciso XIV, da Lei n. 7.713, de 22 de dezembro de 1988 O princípio da dignidade da pessoa humana pode ser estendido às pessoas jurídicas? ************ https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 19 de 99www.grancursosonline.com.br Lídia Marangon Processo DIREITO PROCESSUAL CIVIL Embora seja comum relacionar a dignidade da pessoa humana à pessoa natural, a doutri- na possui posicionamento no sentido de que o princípio deve ser estendido a todo aquele que pode ser parte, como pessoas jurídicas, condomínios, nascituros etc., uma vez que é neces- sário garantir a qualquer parte um tratamento digno. 3.5. legAlidAde De acordo com o princípio da legalidade, o juiz deve decidir, em conformidade com o Direito, qualquer que seja a sua fonte, não apenas com base na lei. Além disso, o dever de observar a legalidade deve ser compatibilizado com o dever de o órgão jurisdicional fazer o controle de constitucionalidade da lei ao não aplicar uma lei inconstitucional. O princípio também está previsto no artigo 8º do CPC. Art. 8º Ao aplicar o ordenamento jurídico, o juiz atenderá aos fins sociais e às exigências do bem comum, resguardando e promovendo a dignidade da pessoa humana e observando a proporciona- lidade, a razoabilidade, a legalidade, a publicidade e a eficiência. 3.6. ContrAditório Um dos mais importantes princípios, o contraditório é claramente derivado do princípio do devido processo legal. É aplicado não só no âmbito jurisdicional, mas também no administrativo e no negocial. A Constituição Federal prevê o princípio do contraditório no artigo 5º, inciso LV. Confira: Art. 5º, LV – aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes Esse princípio é composto de duas garantias, ou duas dimensões: ************ https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 20 de 99www.grancursosonline.com.br Lídia Marangon Processo DIREITO PROCESSUAL CIVIL A garantia da participação corresponde à dimensão formal do princípio do contraditório. É a garantia de ser ouvido, de participar do processo, de serem comunicados atos proces- suais, de poder manifestar-se no processo. A dimensão substancial corresponde ao poder de influenciar as decisões do órgão jurisdi- cional. É o denominado poder de influência da parte. Não basta que a parte seja ouvida. A ela deve ser conferida a possibilidade de influenciar a decisão judicial. É essa dimensão que im- pede, por exemplo, a prolação de decisões dotadas de surpresa para as partes. Isso significa que as questões que serão submetidas a julgamento devem passar antes pelo contraditório. A dimensão substancial do contraditório está concretizada no artigo 10 do CPC. Confira: Art. 10. O juiz não pode decidir, em grau algum de jurisdição, com base em fundamento a respeito do qual não se tenha dado às partes oportunidade de se manifestar, ainda que se trate de matéria sobre a qual deva decidir de ofício. Assim, não pode o órgão jurisdicional decidir com base em argumento, questão jurídica ou questão de fato que não tenha sido submetida previamente às partes no processo. Nesse caso, há necessidade de que o órgão jurisdicional intime as partes para manifestar-se a res- peito do assunto, principalmente em razão do exercício democrático e cooperativo do poder ************ https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 21 de 99www.grancursosonline.com.br Lídia Marangon Processo DIREITO PROCESSUAL CIVIL jurisdicional. Isso também visa evitar a decisão-surpresa, a qual é nula por violação ao princípio do contraditório. Observe que foi com base no princípio do contraditório que o STJ decidiu que o recurso interposto pela Defensoria Pública, na qualidade de curadora especial, está dispensado do pagamento de preparo. Confira um trecho do julgado: A Corte Especial, em apreciação aos embargos de divergência, pacificou o entendimento que encontrava dissonância no âmbito do Tribunal com relação à isenção do recolhi- mento do preparo recursal nos casos em que a Defensoria Pública, no exercício de suas funções institucionais, atua como curadora especial. O acórdão embargado entendeu que “não é possível a concessão de assistência judiciária gratuita ao réu citado por edital que, quedando-se revel, passou a ser defendido por Defensor Público na qualidade de curador especial, pois inexiste nos autos a comprovação da hipossuficiência da parte”. Ao revés, o aresto paradigma perfilhou o entendimento de que “quando há a atuação da Defensoria Pública, há a presunção de hipossuficiência”. Deve-se observar que, se o réu é revel e está sendo assistido pela Defensoria Pública, a exigência do pagamento das custas processuais implica, na prática, a impossibilidade de interposição do recurso, uma vez que não se pode esperar tampouco exigir que o curador especial efetue o paga- mento do preparo por sua conta. Aliás, não é essa a sua função. A Defensoria Pública tão somente tem o múnus público de exercer a curadoria especial nos casos previstos em lei. Desse modo, tendo em vista os princípios do contraditório e da ampla defesa, o recurso interposto pela Defensoria Pública, na qualidade de curadora especial, está dispensado do pagamento de preparo. (EAREsp n. 978.895-SP, rel.: Min. Maria Thereza de Assis Moura, por unanimidade, julgado em 18/12/2018, DJe 04/02/2019, Info n. 641) Um negócio jurídico processual pode reestruturar a conformação do contraditório? Sabemos que o artigo 190 do CPC permite a celebração de negócios jurídicos processuais atípicos. Vamos conferir o teor do artigo: ************ https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 22 de 99www.grancursosonline.com.br Lídia Marangon Processo DIREITO PROCESSUAL CIVIL Art. 190. Versando o processo sobre direitos que admitam autocomposição, é lícito às partes ple- namente capazes estipular mudanças no procedimento para ajustá-lo às especificidades da causa e convencionar sobre os seus ônus, poderes, faculdades e deveres processuais, antes ou durante o processo. Parágrafo único. De ofício ou a requerimento, o juiz controlará a validade das convenções previstas neste artigo, recusando-lhes aplicação somente nos casos de nulidade ou de inserção abusiva em contrato de adesão ou em que alguma parte se encontre em manifesta situação de vulnerabilidade. Diante disso, a ampla doutrina entende que um negócio jurídico processual feito entre as partes pode, sim, reestruturar a conformação do contraditório. Por isso, o controle judicial do efetivo contraditório somentepode ocorrer nos casos de nulidade, inserção abusiva em contrato de adesão ou manifesta situação de vulnerabilidade da parte. Isso significa que o magistrado não poderia interferir na vontade das partes quanto ao modo pelo qual decidiram conformar o contraditório naquele processo específico. No processo arbitral também há necessidade de respeito ao princípio do contraditório? Sim. Veja que a Lei da Arbitragem (Lei n. 9.307/1996) traz, em seu artigo 21, expressa previsão nesse sentido: Art. 21. A arbitragem obedecerá ao procedimento estabelecido pelas partes na convenção de arbitragem, que poderá reportar-se às regras de um órgão arbitral institucional ou entidade especializada, facultando-se, ainda, às partes delegar ao próprio árbitro, ou ao tribunal arbitral, regular o procedimento. § 2º Serão, sempre, respeitados no procedimento arbitral os princípios do contraditório, da igual- dade das partes, da imparcialidade do árbitro e de seu livre convencimento. Há relação entre a ampla defesa e o princípio do contraditório? Com toda certeza, já que a ampla defesa é direito fundamental de ambas as partes e consiste no conjunto de meios adequados para o exercício efetivo e adequado do contraditório, de modo que podemos concluir que a ampla defesa corresponde ao aspecto substancial do princípio do contraditório. ************ https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 23 de 99www.grancursosonline.com.br Lídia Marangon Processo DIREITO PROCESSUAL CIVIL 3.7. publiCidAde O direito fundamental à publicidade está garantido na Constituição Federal, no artigo 5º, inciso LX. Art. 5º, LX. A lei só poderá restringir a publicidade dos atos processuais quando a defesa da intimi- dade ou o interesse social o exigirem Isso significa que os atos processuais devem ser, via de regra, públicos, pois processo devido é processo público. Quais seriam as funções da publicidade dos atos processuais? A publicidade processual tem duas dimensões: • interna: publicidade para as partes; • externa: publicidade para terceiros, que pode ser restringida em alguns casos. O artigo 189 do CPC é a regra que dá densidade normativa ao princípio da publicidade e determina que alguns processos devam tramitar em segredo de justiça. Vamos conferir. Art. 189. Os atos processuais são públicos, todavia tramitam em segredo de justiça os processos: I – em que o exija o interesse público ou social; II – que versem sobre casamento, separação de corpos, divórcio, separação, união estável, filiação, alimentos e guarda de crianças e adolescentes; ************ https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 24 de 99www.grancursosonline.com.br Lídia Marangon Processo DIREITO PROCESSUAL CIVIL III – em que constem dados protegidos pelo Direito Constitucional à intimidade; IV – que versem sobre arbitragem, inclusive sobre cumprimento de carta arbitral, desde que a con- fidencialidade estipulada na arbitragem seja comprovada perante o juízo. § 1º. O direito de consultar os autos de processo que tramite em segredo de justiça e de pedir cer- tidões de seus atos é restrito às partes e aos seus procuradores. § 2º. O terceiro que demonstrar interesse jurídico pode requerer ao juiz certidão do dispositivo da sentença, bem como de inventário e de partilha resultantes de divórcio ou separação. No CPC, há outros artigos que versam sobre o princípio da publicidade: Art. 8º Ao aplicar o ordenamento jurídico, o juiz atenderá aos fins sociais e às exigências do bem comum, resguardando e promovendo a dignidade da pessoa humana e observando a proporcionalidade, a razoabilidade, a legalidade, a publicidade e a eficiência. Art. 11. Todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário serão públicos, e fundamentadas todas as decisões, sob pena de nulidade. Parágrafo único. Nos casos de segredo de justiça, pode ser autorizada a presença somente das partes, de seus advogados, de defensores públicos ou do Ministério Público. O processo arbitral pode ser sigiloso? Sim, pode, sigilo esse que se restringe à publicidade externa. No entanto, a arbitragem que envolve entes públicos não pode ser sigilosa. Fique atento(a) quanto à essa circunstância. Lei n. 9.307/1996. Art. 2º A arbitragem poderá ser de direito ou de equidade, a critério das partes. § 3º A arbitragem que envolva a administração pública será sempre de direito e respeitará o prin- cípio da publicidade. Há também o Enunciado n. 15 do Fórum Permanente de Processualistas Civis que trata desse tema. Enunciado n. 15 FPPC: As arbitragens que envolvam a administração pública respeitarão o princípio da publi- cidade, observadas as exceções legais (vide art. 2”, § 3º, da Lei n. 9.307/1996, com a redação da Lei n. 13.129/2015). Quando tratamos do princípio do contraditório, foi dito que um negócio jurídico proces- sual pode reestruturar sua conformação. Seria possível que as partes pactuem o sigilo processual com fundamento no artigo 190 do CPC? ************ https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 25 de 99www.grancursosonline.com.br Lídia Marangon Processo DIREITO PROCESSUAL CIVIL A resposta aqui é negativa para a maioria dos doutrinadores. O artigo 190 do CPC autoriza a celebração de negócios jurídicos processuais atípicos. No entanto, não se admite o pacto de sigilo processual, ou seja, um segredo de justiça de origem negocial. Aqui, temos em jogo o princípio das motivações das decisões judiciais e a publicidade tornaria efetiva o controle dessas decisões. 3.8. durAção rAzoável do proCesso Para que o processo seja devido, você concorda que ele precisa ter uma duração razoável? A EC n. 45/2004 incluiu o inciso LXXVIII no artigo 5º da Constituição, prevendo que “a todos, no âmbito judicial e administrativo, são assegurados a razoável duração do processo e os meios que garantam a celeridade de sua tramitação”. No entanto, esse princípio já era previsto em tratados internacionais aos quais o Brasil aderiu. No CPC, a previsão legal desse princípio encontra-se no artigo 4º. Art. 4º As partes têm o direito de obter em prazo razoável a solução integral do mérito, incluída a atividade satisfativa. Observe que o artigo 4º do CPC esclarece que o princípio da duração razoável do processo se aplica, inclusive, à atividade satisfativa, que corresponde à fase executiva. Seguindo essa mesma tendência, o CPC previu que cabe ao magistrado primar pela dura- ção razoável do processo. Veja: Art. 139. O juiz dirigirá o processo conforme as disposições deste Código, incumbindo-lhe: II – velar pela duração razoável do processo; Como se pode saber se o processo está tendo ou não duração razoável? Existem critérios para se determinar isso? Sim. Os critérios foram firmados pela Corte Europeia dos Direitos Humanos. São eles: ************ https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 26 de 99www.grancursosonline.com.br Lídia Marangon Processo DIREITO PROCESSUAL CIVIL A seguir, serão dados exemplos de alguns mecanismos que visam efetivar a razoável duração do processo. • A previsão de um calendário processual, conforme dispõe o artigo 191 do CPC, é um desses mecanismos, pois visa evitar a perda de tempo desnecessária para o deslinde da controvérsia. Art. 191. De comum acordo, o juiz e as partes podem fixar calendário para a prática dos atos pro- cessuais, quando for o caso. • A representação por excesso de prazo, conforme dispõe o artigo 235 do CPC, também é um exemplo de mecanismo que visa garantir a duração razoável do processo. Art. 235. Qualquer parte, o Ministério Público ou a Defensoria Pública poderá representar ao corre- gedor do tribunal ou ao Conselho Nacional de Justiça contra juiz ou relator que injustificadamente exceder os prazos previstos em lei, regulamento ou regimento interno. Ainda quanto a esse princípio, é importante deixar claro que a duração razoável do processo não é o mesmo que princípio da celeridade.Aliás, para a doutrina, esse último nem sequer existe. O processo não tem que ser rápido ou célere, pois, na verdade, deve demorar o tempo necessário e adequado à solução do caso submetido ao poder judiciário. Isso significa que não podemos passar por cima dos direitos e atos processuais obrigatórios com a desculpa de termos um processo célere. ************ https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 27 de 99www.grancursosonline.com.br Lídia Marangon Processo DIREITO PROCESSUAL CIVIL 3.9. iguAldAde proCessuAl ou isonomiA O princípio da igualdade processual está previsto no artigo 7º do CPC e visa, justamente, evitar que haja algum tipo de discriminação no processo, sem que haja um motivo justo para tanto. Art. 7º É assegurada às partes paridade de tratamento em relação ao exercício de direitos e facul- dades processuais, aos meios de defesa, aos ônus, aos deveres e à aplicação de sanções proces- suais, competindo ao juiz zelar pelo efetivo contraditório. Sobre o artigo acima, o Fórum Permanente de Processualistas Civis editou o seguinte enunciado: Enunciado n. 379/FPPC: O exercício dos poderes de direção do processo pelo juiz deve observar a paridade de armas das partes. É importante, para realizar minhas provas, conhecer os enunciados do FPPC? Sem dúvida. As bancas examinadoras adoram cobrar os enunciados e você não pode perder pontos por desconhecê-los. Fora isso, os enunciados ajudam bastante a interpretar os artigos do CPC. Segundo Fredie Didier, os aspectos que a igualdade processual deve observar são os seguintes: ************ https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 28 de 99www.grancursosonline.com.br Lídia Marangon Processo DIREITO PROCESSUAL CIVIL No entanto, deve ser observado que, em certos casos, há necessidade de tratamento distinto justamente para garantir a igualdade entre as partes. É o caso, por exemplo, da nomeação de curador especial para incapazes no processo. Podemos destacar, ainda, que os artigos 926 e 927 do CPC, quando afirmam que cabe aos tribunais manter sua jurisprudência estável, íntegra e coerente e que juízes e tribunais devem observar determinados pronunciamentos, estão visando, também, à garantia do princípio da isonomia, pois é certo que a diversidade de decisões sobre um mesmo tema não observa a mínima previsibilidade que se espera do Poder Judiciário e, com isso, restam afetadas a segurança jurídica e a igualdade. 3.10. eFiCiênCiA O princípio da eficiência resulta da previsão contida no artigo 37, caput, da Constituição Federal de 1988, um dispositivo que também se dirige ao Poder Judiciário. No CPC, sua previsão legal está no artigo 8º. Art. 8º Ao aplicar o ordenamento jurídico, o juiz atenderá aos fins sociais e às exigências do bem comum, resguardando e promovendo a dignidade da pessoa humana e observando a proporciona- lidade, a razoabilidade, a legalidade, a publicidade e a eficiência. O que é uma atuação eficiente? A atuação eficiente é aquela que implica a necessidade de condução eficiente do proces- so pelo órgão jurisdicional. Em outras palavras, é a que promove os fins do processo de modo satisfatório em termos: • quantitativos: significa não escolher meios que promovam resultados insignificantes; • qualitativos: significa não escolher meios que produzam muitos efeitos negativos; • probabilísticos: significa não escolher meios de resultado duvidoso. Processo eficiente é diferente de processo efetivo? Sim. Efetivo é o processo que realiza o direito afirmado e reconhecido judicialmente. Eficiente é o processo que atingiu esse resultado de modo satisfatório, observando os termos anteriormente expostos (qualidade, quantidade e probabilidade). ************ https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 29 de 99www.grancursosonline.com.br Lídia Marangon Processo DIREITO PROCESSUAL CIVIL 3.11. boA-Fé proCessuAl Um dos princípios mais importantes do Direito Processual Civil é o da boa-fé processual. Sua previsão está contida no artigo 5º do CPC. Art. 5º. Aquele que de qualquer forma participa do processo deve comportar-se de acordo com a boa-fé. Observe que a boa-fé prevista no artigo 5º do CPC não diz respeito à boa-fé subjetiva. A boa-fé processual deve ser entendida como norma de conduta e independe das boas ou más intenções das partes. Esse princípio também é considerado cláusula geral processual, visto que não há enu- meração na lei das condutas consideradas desleais, embora existam regras processuais que concretizem o princípio, como as normas sobre litigância de má-fé, previstas nos artigos 79 a 81 do CPC. Observe, ainda, que todas as vezes em que existir um vínculo jurídico, as partes envolvi- das devem não frustrar a confiança razoável do outro, devendo comportar-se como se pode esperar de uma pessoa de boa-fé. Isso significa que o princípio da boa-fé objetiva deve ser aplicado em todos os ramos do Direito, não apenas no Direito Processual Civil. A exigência de agir de acordo com a boa-fé processual é direcionada apenas às partes? Essa é uma pergunta muito cobrada pelas bancas e sua resposta é não. O STF e o STJ entendem que a exigência de comportamento segundo a boa-fé se dirige a todos os sujeitos processuais, inclusive ao juiz. DIREITO PROCESSUAL CIVIL. NULIDADE DE ATO PROCESSUAL DE SERVENTUÁRIO. EFEITOS SOBRE ATOS PRATICADOS DE BOA-FÉ PELAS PARTES. A eventual nulidade declarada pelo juiz de ato processual praticado pelo serventuário não pode retroagir para prejudicar os atos praticados de boa-fé pelas partes. O princípio da lealdade processual, de matiz constitucional e consubstanciado no art. 14 do CPC, aplica-se não só às partes, mas a todos os sujeitos que porventura atuem no processo. ************ https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 30 de 99www.grancursosonline.com.br Lídia Marangon Processo DIREITO PROCESSUAL CIVIL Dessa forma, no processo, exige-se dos magistrados e dos serventuários da Justiça conduta pautada por lealdade e boa-fé, sendo vedados os comportamentos contradi- tórios. Assim, eventuais erros praticados pelo servidor não podem prejudicar a parte de boa-fé. Entendimento contrário resultaria na possibilidade de comportamento contradi- tório do Estado-Juiz, que geraria perplexidade na parte que, agindo de boa-fé, seria pre- judicada pela nulidade eventualmente declarada. Assim, certidão de intimação tornada sem efeito por serventuário não pode ser considerada para aferição da tempestividade de recurso. Precedente citado: AgRg no AgRg no Ag n. 1.097.814-SP, DJe 8/9/2009. AgRg no AREsp n. 91.311-DF, rel.: Min. Antônio Carlos Ferreira, julgado em 6/12/2012. (STJ, AgRg no AREsp n. 91.311, Informativo n. 511) EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. RECURSO INTERPOSTO ANTES DA PUBLICAÇÃO DO ACÓRDÃO. CONHECIMENTO. INSTRUMENTALISMO PROCESSUAL. PRECLUSÃO QUE NÃO PODE PREJUDICAR A PARTE QUE CONTRIBUI PARA A CELERIDADE DO PROCESSO. BOA-FÉ EXIGIDA DO ESTADO-JUIZ. DOUTRINA. RECENTE JURISPRUDÊNCIA DO PLE- NÁRIO. MÉRITO. ALEGAÇÃO DE OMISSÃO E CONTRADIÇÃO. INEXISTÊNCIA. RECURSO CONHECIDO E REJEITADO. 1. A doutrina moderna ressalta o advento da fase instrumentalista do Direito Processual, ante a necessidade de interpretar os seus institutos sempre do modo mais favorável ao acesso à justiça (art. 5º, XXXV, CRFB) e à efetividade dos direitos materiais (OLIVEIRA, Carlos Alberto Álvaro de. O formalismo-valorativo no confronto com o formalismo exces- sivo. In: Revista de Processo, São Paulo: RT, n. 137, p. 7-31, 2006; DINAMARCO, Cândido Rangel. A instrumentalidade do processo. 14. ed. São Paulo: Malheiros, 2009; BEDA- QUE, José Roberto dos Santos. Efetividade do Processo e Técnica Processual. 3. ed. São Paulo: Malheiros, 2010). 2. A forma, se imposta rigidamente, sem dúvidas conduz ao perigo do arbítrio das leis, nos moldes do velho brocardo dura lex, sed lex (BODART, Bruno ViníciusDa Rós. Simplificação e adaptabilidade no anteprojeto do novo CPC brasileiro. In: O Novo Processo Civil Brasi- leiro Direito em Expectativa. Org. Luiz Fux. Rio de Janeiro: Forense, 2011. p. 76). 3. As preclusões se destinam a permitir o regular e célere desenvolvimento do feito, por isso que não é possível penalizar a parte que age de boa-fé e contribui para o progresso da marcha processual com o não conhecimento do recurso, arriscando conferir o direito à parte que não faz jus em razão de um purismo formal injustificado. ************ https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 31 de 99www.grancursosonline.com.br Lídia Marangon Processo DIREITO PROCESSUAL CIVIL 4. O formalismo desmesurado ignora a boa-fé processual que se exige de todos os sujei- tos do processo, inclusive, e com maior razão, do Estado-Juiz, bem como se afasta da visão neoconstitucionalista do Direito, cuja teoria proscreve o legicentrismo e o forma- lismo interpretativo na análise do sistema jurídico, desenvolvendo mecanismos para a efetividade dos princípios constitucionais que abarcam os valores mais caros à nossa sociedade (COMANDUCCI, Paolo. Formas de (neo)constitucionalismo: un análisis meta- teórico. Trad. Miguel Carbonell. In: Isonomía. Revista de Teoría y Filosofía del Derecho, n. 16, 2002). [...] 9. Embargos de declaração conhecidos e rejeitados. (STF, HC n. 101.132, Informativo 665) No mesmo sentido, temos o Enunciado n. 375 do Fórum Permanente de Processualistas Civis. Confira: Enunciado n. 375/FPPC: O órgão jurisdicional também deve comportar-se de acordo com a boa-fé objetiva. Existe mais algum enunciado importante sobre o princípio da boa-fé objetiva? Claro. Temos, ainda, os seguintes: Enunciado n. 374/FPPC: O art. 5º prevê a boa-fé objetiva Enunciado n. 376/FPPC: A vedação do comportamento contraditório aplica-se ao órgão jurisdicional. Enunciado n. 377/FPPC: A boa-fé objetiva impede que o julgador profira, sem motivar a alteração, decisões dife- rentes sobre uma mesma questão de Direito aplicável às situações de fato análogas, ainda que em processos distintos. ************ https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 32 de 99www.grancursosonline.com.br Lídia Marangon Processo DIREITO PROCESSUAL CIVIL Enunciado n. 378/FPPC: A boa fé processual orienta a interpretação da postulação e da sentença, permite a repri- menda do abuso de Direito Processual e das condutas dolosas de todos os sujeitos pro- cessuais e veda seus comportamentos contraditórios. Segundo a doutrina alemã, há quatro casos de aplicação da boa-fé objetiva ao processo: • Proibição de agir de má-fé. Exemplos: Requerimento doloso da citação por edital, a própria litigância de má-fé, prevista no artigo 80 do CPC, a atuação dolosa do juiz. Art. 258/CPC. A parte que requerer a citação por edital, alegando dolosamente a ocorrência das circuns- tâncias autorizadoras para sua realização, incorrerá em multa de 5 (cinco) vezes o salário-mínimo. Parágrafo único. A multa reverterá em benefício do citando. Art. 80/CPC. Considera-se litigante de má-fé aquele que: I – deduzir pretensão ou defesa contra texto expresso de lei ou fato incontroverso; II – alterar a verdade dos fatos; III – usar do processo para conseguir objetivo ilegal; IV – opuser resistência injustificada ao andamento do processo; V – proceder de modo temerário em qualquer incidente ou ato do processo; VI – provocar incidente manifestamente infundado; VII – interpuser recurso com intuito manifestamente protelatório. Art. 81/CPC. De ofício ou a requerimento, o juiz condenará o litigante de má-fé a pagar multa, que deverá ser superior a um por cento e inferior a dez por cento do valor corrigido da causa, a indenizar a parte contrária pelos prejuízos que esta sofreu e a arcar com os honorários advocatícios e com todas as despesas que efetuou. Art. 143/CPC. O juiz responderá, civil e regressivamente, por perdas e danos quando: I – no exercício de suas funções, proceder com dolo ou fraude • Proibição de comportamento processual contraditório (venire contra factum proprium). É a proibição de exercício de uma situação jurídica contrária a um comportamento an- terior que tenha gerado no outro uma expectativa legítima de manutenção da coerência. Exemplos: Recorrer de uma decisão que já havia aceitado ou pedir a invalidação de ato a cujo defeito deu causa. ************ https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 33 de 99www.grancursosonline.com.br Lídia Marangon Processo DIREITO PROCESSUAL CIVIL Confira os artigos correspondentes: Art. 1.000/CPC. A parte que aceitar expressa ou tacitamente a decisão não poderá recorrer. Art. 276/CPC. Quando a lei prescrever determinada forma sob pena de nulidade, a decretação desta não pode ser requerida pela parte que lhe deu causa. • Proibição de abuso de direitos processuais. Exemplos: Abuso do direito de recorrer, abuso na escolha dos meios executivos. Art. 80/CPC. Considera-se litigante de má-fé aquele que: VII – interpuser recurso com intuito manifestamente protelatório. Art. 805/CPC. Quando por vários meios o exequente puder promover a execução, o juiz mandará que se faça pelo modo menos gravoso para o executado. • Perda de poderes processuais em razão do seu não exercício (suppressio). Corresponde à perda de poderes processuais em razão do seu não exercício por tempo suficiente para fazer o outro sujeito ter a confiança legítima de que esse poder não mais seria exercido. Exemplo: Perda do poder do juiz de examinar a admissibilidade do processo após anos de tramitação regular, sem que ninguém haja suscitado a questão. Ainda quanto ao princípio da boa-fé, é importante ressaltar que, no plano do Direito Mate- rial, há o dever de mitigar o prejuízo ou as perdas, conhecido como duty to mitigate the loss, conforme podemos notar do teor do Enunciado n. 169 do CJF (Conselho da Justiça Federal): Enunciado n. 169/CJF: O princípio da boa-fé objetiva deve levar o credor a evitar o agravamento do próprio prejuízo. Por fim, é importante ressaltar que o negócio jurídico é uma espécie de fato jurídico que tem como suporte fático manifestação de vontade das partes envolvidas. Assim, a boa-fé é pressu- posto também do negócio jurídico, desde o início das suas tratativas até a sua conclusão. ************ https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 34 de 99www.grancursosonline.com.br Lídia Marangon Processo DIREITO PROCESSUAL CIVIL Em razão desse entendimento, foi editado o Enunciado n. 407 do Fórum Permanente de Processualistas Civis. Confira: Enunciado n. 407/FPPC: Nos negócios processuais, as partes e o juiz são obrigados a guardar nas tratativas, na conclusão e na execução do negócio o princípio da boa-fé. 3.12. eFetividAde Segundo esse princípio, os direitos, além de reconhecidos, devem ser efetivados. De nada adiantaria reconhecer o direito sem dar à parte os meios necessários para a sua efetivação. Por isso, podemos dizer que esse princípio garante o direito fundamental à tutela executiva. Isso está previsto no artigo 4º do CPC. Art. 4º As partes têm o direito de obter em prazo razoável a solução integral do mérito, incluída a atividade satisfativa. É preciso ter atenção a esse artigo. Leia e releia várias vezes. A maioria das provas muda sua redação para excluir a atividade satisfativa. 3.13. AdequAção Segundo a doutrina, o princípio da adequação pode ser visualizado em três dimensões: ************ https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 35 de 99www.grancursosonline.com.br Lídia Marangon Processo DIREITO PROCESSUAL CIVIL Esse princípio define que um processo, para ser considerado adequado, tem que ser devido. • A adequação legislativa do processo é sempre prévia e feita em abstrato. Corresponde à dimensão informadora da produção legislativa das regras processuais. • A adequação jurisdicional éa que confere ao órgão julgador poderes para conformar o procedimento às peculiaridades do caso concreto. Nesse caso, permite-se ao juiz a correção do procedimento que, por exemplo, revele-se inconstitucional, por ferir um direito fundamental processual da parte. Em outras palavras, essa dimensão permite ao juiz adaptar o procedimento às peculiaridades da causa que lhe é submetida. Isso quer dizer que o juiz pode adaptar as regras processuais ao caso concreto? Sim, considerando o entendimento de grande parte da doutrina e a existência de regras gerais que autorizam a adequação jurisdicional do procedimento. Exemplo: O artigo 139, inciso VI, do CPC permite ao juiz dilatar os prazos processuais e alterar a ordem de produção dos meios de prova, adequando-os às necessidades do conflito de modo a conferir maior efetividade à tutela do Direito. Confira o teor do Enunciado n. 107 do Fórum Permanente de Processualistas Civis, que reforça esse entendimento: Enunciado n. 107/FPPC: O juiz pode, de ofício, dilatar o prazo para a parte se manifestar sobre a prova documen- tal produzida. O juiz pode, de ofício, dilatar o prazo para a parte se manifestar sobre a prova documental produzida. • A adequação negocial é aquela que deriva de negócios processuais celebrados pelos sujeitos processuais. Há no CPC, no artigo 190, uma autorização genérica de as partes poderem ajustar o procedimento atipicamente. ************ https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 36 de 99www.grancursosonline.com.br Lídia Marangon Processo DIREITO PROCESSUAL CIVIL Art. 190. Versando o processo sobre direitos que admitam autocomposição, é lícito às partes plenamente capazes estipular mudanças no procedimento para ajustá-lo às especificidades da causa e convencionar sobre os seus ônus, poderes, faculdades e deveres processuais, antes ou durante o processo. Parágrafo único. De ofício ou a requerimento, o juiz controlará a validade das convenções previstas neste artigo, recusando-lhes aplicação somente nos casos de nulidade ou de inserção abusiva em contrato de adesão ou em que alguma parte se encontre em manifesta situação de vulnerabilidade. 3.14. CooperAção O princípio da cooperação é aquele que imputa aos sujeitos processuais alguns deveres, como o de lealdade, o de esclarecimento, o de consulta, o de prevenção e o de proteção. Tradicionalmente, a doutrina concebia a existência de dois modelos de processo: • No modelo adversarial, o processo é organizado de modo a ser conduzido pelas par- tes. O modelo adversarial assume a forma de competição, desenvolvendo-se como um conflito entre as partes, diante de um órgão jurisdicional relativamente passivo. O processo deve ser regido pelo princípio dispositivo, segundo o qual a proeminência do processo pertence às partes, ou seja, fica à disposição delas. • Já no modelo inquisitorial, há um protagonismo do órgão julgador, não das partes. Nesse caso, incide o princípio inquisitivo. Tantos mais poderes forem atribuídos ao juiz, mais ajustado ao princípio inquisitivo o processo será. Fredie Didier entende que o modelo brasileiro é cooperativo, considerando que haveria um equilíbrio entre as características de um e outro modelos. ************ https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 37 de 99www.grancursosonline.com.br Lídia Marangon Processo DIREITO PROCESSUAL CIVIL • No modelo cooperativo de processo, não há protagonistas, de modo que, independen- temente do papel que exerçam, prevalece o cooperativismo. A condução do processo deixa de ser determinada exclusivamente pela vontade das partes. Também não há uma condução inquisitorial do processo pelo magistrado. Não há destaque para qualquer dos sujeitos processuais. Há previsão expressa do princípio da cooperação no CPC? Sim, no artigo 6º. Art. 6º Todos os sujeitos do processo devem cooperar entre si para que se obtenha, em tempo razoável, decisão de mérito justa e efetiva. Esclareceremos agora o que significam os deveres que fazem parte do conceito da cooperação. • Dever de esclarecimento: as partes devem redigir sua demanda com clareza e coerên- cia, e o tribunal deve se esclarecer junto às partes quanto às dúvidas que tenha sobre suas alegações, com a finalidade de evitar que o magistrado tome decisões precipita- das, açodadas. Além disso, o órgão jurisdicional tem o dever de esclarecer seus pró- prios pronunciamentos para as partes, com fundamento no dever de motivação. • Dever de consulta: é uma variante do dever de esclarecimento. Não pode o órgão ju- risdicional decidir com base em questão de fato ou de direito sem que tenha dado às partes o direito de manifestação prévia. • Dever de prevenção: o magistrado tem o dever de apontar as deficiências das postula- ções das partes para que elas sejam corrigidas. Visamos, com a prevenção, evitar que o êxito da ação ou da defesa possa ser frustrado pelo uso inadequado do processo. Exemplos: De acordo com o artigo 76 do CPC, se o juiz verificar a incapacidade processual ou a irregu- laridade da representação da parte, suspenderá o processo e designará prazo razoável para que seja sanado o vício; não simplesmente extinguirá o processo. ************ https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 38 de 99www.grancursosonline.com.br Lídia Marangon Processo DIREITO PROCESSUAL CIVIL Outro exemplo é o previsto no artigo 1.029, § 3º, do CPC, que afirma que tanto o Supremo Tribunal Federal como o Superior Tribunal de Justiça podem desconsiderar vício formal de recurso tempestivo ou determinar sua correção, desde que não o reputem grave. Você já ouviu falar da Teoria dos Jogos e do Equilíbrio de Nash? O que isso tem a ver com o princípio da cooperação1? A Teoria dos Jogos consiste em um dos ramos da matemática aplicada e da economia, o qual estuda situações estratégicas em que participantes se engajem em um processo de análise de decisões baseando sua conduta na expectativa de comportamento da pessoa com quem se interage. Inicialmente, entendeu-se que a regra básica das relações seria a competição. Se cada um lutar para garantir melhor parte para si, os competidores mais qualificados ganhariam um maior quinhão. Desse modo, um dos competidores, para ganhar, deveria levar necessaria- mente o adversário à derrota. Nesse sentido, a teoria seria totalmente não cooperativa. No entanto, John Nash partiu de outro pressuposto. Enquanto outros estudiosos partiam da ideia de competição, John Nash introduziu o elemento cooperativo na Teoria dos Jogos. A ideia de cooperação não seria totalmente incompatível com o pensamento de ganho individu- al, já que, para Nash, a cooperação torna possível maximizar ganhos individuais cooperando com o outro participante (até então adversário). Assim, podemos afirmar que John Nash partiu do seguinte pressuposto: seria possível agregar valor ao resultado do jogo por meio da cooperação. Conclui-se, dessa maneira, que o processo, como relação jurídica que é, tem total relação com a Teoria dos Jogos, devendo-se buscar ao máximo o equilíbrio na relação por meio da aplicação do princípio da cooperação, de modo que ambas as partes ganhem, tanto individu- almente como coletivamente. Observe que as bancas examinadoras têm cobrado o tema. 1 Para o assunto, indica-se leitura do Manual de Mediação Judicial do CNJ, disponível em: http://www.cnj.jus.br/files/con- teudo/arquivo/2016/07/f247f5ce60df2774c59d6e2dddbfec54.pdf. ************ https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 39 de 99www.grancursosonline.com.br Lídia Marangon Processo DIREITO PROCESSUAL CIVIL questão 1 (FCC/DPE-MA/DEFENSOR PÚBLICO/2018) O conceito de Equilíbrio de Nash (NASH, John F. Theory of Games and Economic Behavior, 1944) na Teoria dos Jogos: a) trata de teoria de comportamento econômico, sem qualquer relevância para o estudo da mediação em demandas judiciais.b) tem como principal elemento a competição entre os envolvidos na disputa, de modo que deve prevalecer quem tem maior mérito. c) é absolutamente incompatível com os escopos e finalidades da mediação como instru- mento de autocomposição. d) tem por finalidade assegurar a absoluta igualdade entre as partes envolvidas em um litígio judicial. e) é compatível com a cooperação, pois combinando estratégias entre os jogadores alcança-se melhor resultado, individual e coletivamente.2 3.15. respeito Ao AutorregrAmento dA vontAde no proCesso A primeira observação a ser mencionada sobre esse princípio é que o poder de autorre- gramento da vontade no processo não é ilimitado. Por envolver o exercício de uma função pública, que é a jurisdição, a negociação processual se torna mais regulada e seu objeto, mais restrito. Esse princípio tem por finalidade a obtenção de um ambiente processual em que o direito de se autorregular possa ser exercido sem restrições infundadas, ou seja, tornar o processo um espaço propício para o exercício da liberdade. É possível afirmar que existe um microssistema de proteção do exercício da livre vontade no processo? 2 Letra e. ************ https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 40 de 99www.grancursosonline.com.br Lídia Marangon Processo DIREITO PROCESSUAL CIVIL Sim, é possível. • O CPC é estruturado de modo a estimular a solução do conflito por autocomposição. • O CPC prevê muitos negócios processuais típicos, como a eleição negocial do foro, o calendário processual, o acordo para a suspensão do processo etc. • O CPC prevê, no artigo 190, uma cláusula geral de negociação processual, que permite a realização de negócios jurídicos processuais atípicos. • A arbitragem tem bastante prestígio no Direito brasileiro. Todas essas circunstâncias levam a doutrina a pensar na existência de um microssistema de proteção do exercício livre da vontade no processo. 3.16. primAziA dA deCisão de mérito Para esse princípio, o magistrado deve priorizar a decisão de mérito e tê-la como objetivo principal. Na prática, isso significa que o magistrado deve buscar conduzir o processo aprovei- tando ao máximo os atos processuais, evitar reconhecer nulidades quando puderem ser sanadas e deixar de lado formalidades excessivas, destituídas de fundamento. Esse é um princípio previsto no artigo 4º do CPC: Art. 4º As partes têm o direito de obter em prazo razoável a solução integral do mérito, incluída a atividade satisfativa. No entanto, há diversos outros dispositivos no CPC que reforçam esse princípio: Art. 6º. Todos os sujeitos do processo devem cooperar entre si para que se obtenha, em tempo razoável, decisão de mérito justa e efetiva. Art. 317. Antes de proferir decisão sem resolução de mérito, o juiz deverá conceder à parte oportu- nidade para, se possível, corrigir o vício. Art. 321. O juiz, ao verificar que a petição inicial não preenche os requisitos dos arts. 319 e 320 ou que apresenta defeitos e irregularidades capazes de dificultar o julgamento de mérito, determinará que o autor, no prazo de 15 (quinze) dias, a emende ou a complete, indicando com precisão o que deve ser corrigido ou completado. Parágrafo único. Se o autor não cumprir a diligência, o juiz indeferirá a petição inicial. ************ https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 41 de 99www.grancursosonline.com.br Lídia Marangon Processo DIREITO PROCESSUAL CIVIL Esse princípio se aplica somente em primeira instância? Não, é aplicável também na instância recursal, o que significa que há necessidade de se dar preferência à análise do mérito recursal em vez de não conhecer recurso por defeitos que possam ser sanados ou mesmo desconsiderados. Perceba que esse princípio busca fortalecer também o reconhecimento do direito material da parte em detrimento das velhas “picuinhas” jurídicas. Observe os seguintes artigos do CPC como exemplo da aplicação desse princípio na fase recursal. Art. 932. Parágrafo único. Antes de considerar inadmissível o recurso, o relator concederá o prazo de 5 (cinco) dias ao recorrente para que seja sanado vício ou complementada a documentação exigível. Art. 1.007. No ato de interposição do recurso, o recorrente comprovará, quando exigido pela legislação pertinente, o respectivo preparo, inclusive porte de remessa e de retorno, sob pena de deserção. § 7º O equívoco no preenchimento da guia de custas não implicará a aplicação da pena de deserção, cabendo ao relator, na hipótese de dúvida quanto ao recolhimento, intimar o recorrente para sanar o vício no prazo de 5 (cinco) dias. Perceba que, antes de inadmitir o recurso, o relator deve dar oportunidade ao recorrente de sanar o vício existente ou complementar a documentação faltante. Perceba também que, havendo equívoco no preenchimento da guia de custas do recurso, o relator não vai de imediato declarar o recurso deserto, mas dar oportunidade de o recorrente sanar o vício. Isso visa justamente evitar o não conhecimento do recurso e decidir o mérito. É também importante dizer que a primazia da decisão de mérito tem sido reconhecida no âmbito dos tribunais superiores. No EAREsp n. 742.240-MG, o STJ entendeu que o interessado deverá ser intimado para a realização do preparo recursal nas hipóteses de indeferimento ou de não processamento do pedido de gratuidade da justiça; ou seja, se o pedido de gratuidade da justiça for feito na fase recursal e for indeferido, é preciso que o recorrente seja intimado para que realize o pagamento do preparo antes de o relator declarar o recurso deserto, evitando-se, assim, aquela velha jurisprudência defensiva dos tribunais em detrimento do princípio da primazia do julgamento de mérito. ************ https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 42 de 99www.grancursosonline.com.br Lídia Marangon Processo DIREITO PROCESSUAL CIVIL Confira um trecho do julgado: A Corte Especial do STJ, em apreciação aos embargos de divergência, pacificou o enten- dimento que encontrava dissonância no âmbito do Tribunal sobre a necessidade, ou não, de intimar o interessado para a realização do preparo quando reconhecida como incorreta a formulação do pedido de assistência judiciária gratuita na própria petição do Recurso Especial. O acórdão embargado, da Primeira Turma, decidiu que o recurso seria deserto, pois o pedido de benefício de assistência judiciária gratuita deveria ter sido feito em autos apartados. Ao revés, o aresto paradigma, da Quarta Turma, decidiu que no caso de indeferimento, há que oportunizar à parte o pagamento do preparo. O CPC/2015, em seu art. 99, avançou em relação ao tema da assistência judiciária gra- tuita, por permitir que o requerimento seja formulado por qualquer meio e, nos casos do seu indeferimento, que o interessado seja intimado para a realização do preparo. Assim, nada mais razoável para se tornarem efetivos os direitos fundamentais de assistência jurídica das pessoas economicamente hipossuficientes (art. 5º, LXXIV, da CF/1988) e de amplo acesso à Justiça (art. 5º, XXXV, da CF/1988) que seja assegurada ao jurisdi- cionado não somente a possibilidade de protocolizar o pedido de assistência judiciária por qualquer meio processual e em qualquer fase do processo, mas também, caso inde- ferido o pedido, que seja intimado para que realize o recolhimento das custas e porte de remessa e retorno, quando for o caso. EAREsp n. 742.240-MG, rel.: Min. Herman Benjamin, por unanimidade, julgado em 19/09/2018, DJe 27/02/2019 (Informativo n. 643). Ainda sobre o princípio da primazia da decisão de mérito, temos o Enunciado n. 372 do Fórum Permanente de Processualistas Civis. Enunciado n. 372/FPPC: O art. 4º tem aplicação em todas as fases e em todos os tipos de procedimento, inclu- sive em incidentes processuais e na instância recursal, impondo ao órgão jurisdicional viabilizar o saneamento de vícios para examinar o mérito,
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