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Miguel Reale - Biografia v4

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Miguel Reale – Biografia Contextualizada.
Miguel Reale (1910-2006), advogado, jurista, professor, político, escritor, poeta e filósofo brasileiro. Por duas vezes reitor da universidade de São Paulo (USP) – 1949/50 e 1969/73, por duas vezes secretário de Justiça do Estado de São Paulo. 1947,1963/64, Membro da Academia Brasileira de Letras. Fundador do Instituto Brasileir de Filosofia, considerado como um dos maiores pensadores brasileiros da filosofia do direito. Formulador da Teoria Tridimensional do Direito, Formulador do novo Código Civil Brasileiro de 2002. Pai do também advogado, político e jurista, Miguel Reale Jr.
Miguel Reale nasceu em São Bento do Sapcuaí na Serra da Mantiqueira, no interior de São Paulo, em 1910, seu pai era um Médico italiano, o Dr. Brás Reale e sua mãe era filha de um fazendeiro também imigrante italiano que se instalou no Vale do Paraíba. Com a morte do avô, os Reale se mudam para o Rio de Janeiro, na época Capital Federal, onde o pai tentou abrir uma farmácia, - os médicos do inicio do século produziam seus próprios remédios - mas o empreendimento não deu certo – a farmácia foi construída perto do mar e uma ressaca a destruiu. A família se mudou para Itajubá, no interior de Minas Gerais, região importante economicamente na época da República Velha. Miguel Reale passou a infância em Itajubá, e aos 12 anos de idade (1922) foi mandado para a capital para concluir o ensino clássico, (hoje ensino médio) no regime de internato no colégio Dante Alighieri, escola particular, predominantente frequentada por filhos de italianos. Onde teve contato com diversos textos de filósofos de Platão a Karl Marx. E de diferentes ideologias políticas de liberais a socialistas. Ao terminar colégio. Opta por fazer direito, ao invés de medicina como esperado pela família. Em 1929 ingressou na faculdade de Direito de São Paulo no Largo de São Francisco. Instituição que hoje ainda mantem um busto de Reale.
Em 1930, coincidindo com a entrada de Miguel Reale na faculdade de Direito do Largo de São Francisco, Getúlio Vargas lidera o golpe que derrubará a república oligárquica e a política do café com leite, dominada pelos coronéis – grandes fazendeiros latifundiários, que controlavam o poder através de fraudes nas eleições, muitas vezes pelo uso da força em em seus municípios nas regiões rurais. Miguel Reale, junto com outros estudantes, apoia o movimento.
	Em 1932, São Paulo lidera um movimento pela que deseja derrubar de Getúlio Vargas e pela formação de uma assembleia nacional constituínte. O movimento se torna um conflito armado que vai de Julho a outubro daquele ano. Miguel Reale se alista ao lado dos paulistas contra Vargas. Participa dos combates como sargento na linha de frente do batalhão universitário. Em outubro Vargas derrota os constitucionalistas. Mas no final do mesmo ano começa a campanha eleitoral da assembléia nacional constituinte, que viria a ser eleitaser eleita por voto direto e secreto um ano depois em novembro de 1933, e resultaria na constituição de 1934. Miguel Reale chegou a concorrer, juntamente com outros 3 membros à assembleia constituinte pela AIB mas não foi eleito.
No mesmo mês da derrota dos paulistas, o jornalista Plínio Salgado, ativo participante da semana de arte moderna de 1922, e conterrâneo de Reale, também de São Bento de Sapucaí (embora nunca tivessem se encontrado antes) lança um manifesto inaugurando um movimento político chamado “integralismo”, inspirado no fascismo italiano. Miguel Reale é um dos primeiros a aderir ao novo movimento e um dos membros intelectuais mais atuantes. 
A “Ação Integralista Brasileira”, (AIB) embora tenha nítida identificação com o fascismo italiano, no Brasil vai ganhar contornos próprios. Mistura conservadorismo católico , a doutrina social da igreja, indigenismo e o modernismo brasileiro. Mas sem dúvida o integralismo mantem as características do fascismo italiano de um Estado forte, corporativo, ultranacionalista e autoritário. Nota-se que o autoritarismo está presente em diversos projetos de construção do Estado Nação brasileiro desde a proclamação da República. 
A produção intelectual de Miguel Reale no período que esteve na AIB é voltada tanto para o movimento integralista quanto para as questões políticas, filosóficas e jurídicas do Brasil da época da primeira república. Tendo sempre como foco chamada 'Questão Social'. Ou seja, os problemas da pobreza da população, do desenvolvimento atrasado, da participação política. Problemas que a grande depressão, iniciada pela crise de 29, agravaram. E criaram a motivação para os projetos políticos de estado-nação brasileiro de diversas vertentes, em confronto uns com os outros.
 'Desde sua militância no integralismo (1933-1937) [Miguel Reale] foi motivado por considerações ligadas à filosofia ao direito e a ordem jurídica em termos universalistas. Para Reale um dos mais ativos militantes da AIB, existem quatro correntes político-sociais que e se corporificam em agremiações partidárias: (1) O liberalismo, que ajuda a enfraquecer o Estado e lança os povos desprovidos da fortuna nas garras do capitalismo internacional; (2) O Socialismo que não logra realizar a justiça social e vai de encontro à natureza humana, ofendendo o indivíduo e suas projeções morais; (3) o sindicalismo, união de operários contra os patrões que cresceu fora do âmbito do Estado, anunciando o predomínio de uma classe, levantando a bandeira do ódio; (4) o solidarismo que procura inutilmente resolver os desequilíbrios sociais, mediante a simples assistência social.'
in Nilton Freixinho, 'As Transformações do Pensamento Brasileiro de 1920 a 1990'
	Entre os intelectuais do integralismo havia divergências. Identifcam-se três correntes distintas, uma mística e ligada ao conservadorismo católico ligada a Plínio Salgado, outra de viés mais antissemita com forte identificação o nazi-fascismo europeu ligada a Gustavo Barroso, e outra mais preocupada com a Organização do Estado e a Questão Social, mais atenta para a experiência histórica e empírica de observação da Sociedade, esta é vertente de Miguel Reale.
	Durante sua fase integralista Miguel Reale escreveu “O Estado Moderno” (1934) em que faz críticas às teorias ao Fascismo Italiano – que via as corporações como um braço do Estado, Reale defendia que as corporações deveriam ser democráticas e não controladas pelo governo. E publica também “O Capitalismo Internacional” (1935) em que critica o Leninismo-Marxismo, que dizia que o Imperialismo era a fase final do capitalismo, enquanto Reale observava a natureza transnacional do capitalismo. 
	Em 1937, com forte colaboração dos integralistas representados por Olimpio Mourão Filho, Vargas simula uma conspiração contra si mesmo chamada Plano Cohen em que supostamente judeus e comunistas tentavam derrubar o governo. A farsa é como pretexto para dar um golpe contra o regime constitucional e suspender as eleições que ocorreriam em outubro de 1938. E assim Vargas estabelece o Estado Novo e passa a governar como ditador. As agremiações politicas são todas declaradas ilegais, inclusive a própria ação integralista. Remanescentes da AIB formam a Associação Brasileira de Cultura, Miguel Reale se torna Diretor de Pesquisa.
	Os integralistas se dividem em duas tendências, uma de confronto e outra de conciliação com Vargas. Em 1938 um grupo de integralistas, sob orientação de Plínio Salgado tentam um levante para derrubar Vargas, mas fracassa. Cerca de 1.500 integralistas são presos ou exilados, alguns fuzilados. Plínio Salgado parte para o exílio em Portugal.	Miguel Reale mesmo não tendo participado do levante, parte para a Itália. Mas voltaria ao Brasil no mesmo ano. 
	Em 1940, Reale se inscreve para o concurso de Professor Catedrático de “Filosofia do Direito”, na Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP), apresentando a tese 'Fundamentos do Direito', onde expõe pela primeira vez os funamentos do que viria a ser sua 'Teoria Tridimensional do Direito', Reale expclicaque o Direito se compõe de três dimensões inseparáveis: Fato, Valor e Norma.
Reale passa no concurso e começa suas atividades como professor da Universidade de São Paulo. Viria a ser reitor da instituição por três vezes.
	Aprovado no concurso, seu ingresso na USP sofre alguma resistência por parte de liberais e comunistas por ter sido idealista bem como dos filhos da aristocracia paulista por ser filho de imigrantes. Contudo Reale apela aos tribunais e toma posse em 1941. Viria a tornar-se reitor por três vezes .
	Neste meio tempo os integralistas remanescentes no Brasil tentaram se reorganizar e tentar se reconciliar com Vargas. Mas a entrada do Brasil na Segunda Guerra Mundial em 1942, frustrou esta iniciativa. Pois os integralistas apoiavam abertamente o Eixo. Além de ter o repúdio da própria população por identificá-los com os nazi-fascismo. Muitos integralistas foram presos nesta época. Inclusive Miguel Reale que em seu depoimento nega semelhanças ideológicas do integralismo com o nazi-fascismo. Mas Reale não ficou preso. Continuou a exercer sua cátedra na USP. Tornou-se membro do Conselho Administrativo do Estado de São Paulo, cargo que ocuparia até 1944. 
	Em 1945, com o fim da guerra, a derrubada de Vargas e o fim do Estado Novo, Miguel Reale é um dos fundadores do Partido Popular Sindicalista de orientação social democrata e federalista. Mas este partido vem a se fundir com o Partido Republicano Progressista, de Adhemar de Barros. Quando este foi governador de São Paulo em 1947, Miguel Reale foi nomeado Secretário de Justiça do Estado de São Paulo.
	Em 1949 tornou-se reitor da USP pela primeira vez. Reestruturou a universidade e a expandiu para o interior do Estado. Que cria a faculdade de medicina de Ribeirão Preto.
	No mesmo ano de 1949, cria o Instituto Brasileiro de Filosofia. A intenção é juntar os principais textos dos filósofos brasileiros, e promover a filosofia no Brasil que não fossem meros comentários a teorias estrangeiras e sim promover o ato de “pensar em diálogo com autores do Brasil e do estrangeiro, sem subordinação dogmática a determinada linha.” A entidade tem tem mais de 60 anos de publicações. Em 1951 viria a criar a Revista Brasileira de Filosofia, a primeira e durante muito tempo a mais importante publicação de Filosofia no Brasil publciando textos de autores brasileiros e estrangeiros.
	Nas eleições de 1950, Miguel Reale se candidatou ao Senado, mas perdeu. Nas mesmas eleições Getúlio Vargas viria a ser reeleito democraticamente neste mesmo ano com votação maciça. 
	Em 1951, Miguel Reale é convocado para chefiar a delegação brasileira junto à Organização Mundial do Trabalho, em Genebra, fazendo prevalecer o ponto de vista do Brasil sobre o salário mínimo nas plantações. A votação foi em plenário. Na época a CLT não abrangia trabalhadores rurais. Só em 75 tem uma lei regulamentando o trabalho rural. A Constituição Federal de 88 igualou direitos trabalhistas de trabalhadores urbanos e rurais. (Art 7.)
	Em 1953 publica a primeira edição da obra “Filosofia do Direito” em que mais uma vez expõe sua “Teoria Tridimensional do Direito” que já vinha aperfeiçoando desde que a apresentou pela primeira em 1940 ao ser aceito como professor da USP. A obra tem alcance nacional e logo é traduzida para outros idiomas. 
	Em 1954, fundou a Sociedade Interamericana de Filosofia, da qual foi duas vezes presidente.
	Em agosto de 1954 Getúlio Vargas se suicida. 
	Por 10 anos, de 1953 a 1963, Miguel Reale não exerce atividades político-partidárias. Neste meio tempo dedica-se a atividades intelecutais representa o Brasil em diversos congressos internacionais de Filosofia.	
	
	Ainda em 1954, Miguel Reale é um dos fundadores da Sociedade Interamericana de Filosofia. 
		Miguel Reale só volta ao cenário político no inicio dos anos 60 com a crise da sucessão após renúncia de Jânio Quadros em agosto de 1961. A posse de João Goulard que defendia as reformas de base, em particular a reforma agrária, e leis que proibiam a remessa de lucros das multinacionais para fora do Brasil, promoveu a reação dos setores conservadores da sociedade, do setor financeiro e principalmente dos militares. Os ministros militares se opuseram à posse de Jango, no mesmo ano o Congresso instituiu a emenda constitucional nº 4 instituindo o parlamentarismo. Nesta época, já jurista conhecido, Miguel Reale dava entrevistas e proferia conferências defendendo o parlamentarismo, com essas ideias publicou em 1962, o livro o 'Parlamentarismo Brasileiro.' Em janeiro de 1963, um plebiscito restitiu o regime presidencialista.
	Em 1962 Adhemar de Barros é novamente eleito governador de São Paulo e em 1963 Miguel Reale é novamente chamado para ser Secretário de Justiça do Estado de São Paulo, voltando a cena política em meio à crise política. O governo paulista é parte atuante das forças civis e militares que resultaram no golpe de 1964 que derrubou Joao Goulard. Miguel Reale desempenhou papel importante como articulador de apoio ao golpe. Miguel Reale permaneceu no cargo de Secretário de Justiça de São Paulo até a deposição de Goulard. O golpe militar é iniciado pelo antigo integralista, agora general, Olympio Mourão Filho.
	O regime militar vai se fechando. Políticos apoiadores do golpe de 1964 como Carlos Lacerda e Jucelino Kubitschek são cassados. A igreja que antes havia apoiado também o golpe começa alertar para a questão de violação de direitos humanos. Grupos de esquerda começam ações armadas contra o regime. Comeleçam as denúncias de tortura. Em 1968 ocorre a passeata dos 100 mil contra o Regime Militar.
Ainda em 1967 é outorgada a constituição do regime militar. No mesmo ano começam a ser editados Os atos Institucionais – Em dezembro de 1968 é editado o Ato Institucional nº 5 (AI5), que autorizava o presidente da República, em caráter excepcional e, portanto, sem apreciação judicial, a decretar o recesso do Congresso Nacional; intervir nos estados e municípios; cassar mandatos parlamentares; suspender, por dez anos, os direitos políticos de qualquer cidadão; decretar o confisco de bens considerados ilícitos; e suspender a garantia do habeas-corpus. Foi editado em dezembro de 1968 e reafirmam a natureza autoritária do Regime. Chegam a haver dissidências de intelectuais ligados a Arena – partido do governo no congresso. Começam as cassações de parlamentáres.
	Em 1969 o presidente Costa e Silva nomeia Miguel Reale para compor a 'comissão de alto nível' que iria editar a Emenda Constitucional nº 1, que foi praticamente por si só uma reforma constitucional completa, que entre outras providências, incorporava à constituição os Atos Institucionais já editados pelo poder executivo, já eram então 17. Inclusive o AI5.
No mesmo ano de 1969 Miguel Reale é também foi nomeado para a Comissão Elaboradora e Revisora do Código Civil Brasileiro, que só tramitaria no congresso em 1975 e terminado e entraria em vigor em 2002. A demanda por um novo código civil exisita desde a década de 30, para substituir o códgo de 1916, que haiva começado a ser elaborado ainda na época do Império.
Em 1972-1973 Foi consultor de um tratado com o Paraguai para a construção da usina hidroelétrica de Itaipú.
Em 1973 Miguel Reale assume pela terceira vez reitoria da USP.
Em 1974 Ernesto Geisel é escolhido presidente pelo colégio eleitoral. É o inicio da aberutra política.
Em 1975 Miguel Reale recusou uma vaga no Supremo Tribuna Federal.
Ainda em 1975 é aceito pela da Academia Brasileira de Letras. Ocupa a cadeira nº 14.
Em 1979 Os efeitos do AI5, agora já inseridos na constituição teriam vigência por 10 anos, com a emenda constitucional nº 11. Revoga todos os atos institucionais. Restuarando inclusive o Habeas-corpus.
Em 1985, integrou a Comissão de Estudos Constitucionais, presidida por Afonso Arinos e composta por 50 integrantes, entre juristas, advogados, professores de direito. Elaborou o anteprojeto de Constituição composto de 468 artigos. O texto serviu de subsídioà Assembléia Nacional Constituinte, que funcionou entre fevereiro de 1987 e outubro de 1988. 
Em 2002 A lei 10.406 estabelece do Novo Código Civil. Miguel Reale participou dos trabalhos sua elaboração desde o inicio nos anos 60, bem como de sua adaptação, divulgação e defesa em palestras nas décadas seguintes até ser finalmente aprovado pelo poder legislativo, já no governo FHC , O novo código entrou em vigor em janeiro de 2003, já no governo Lula.
Miguel Reale faleceu em São Paulo em 14 de abril de 2006. 
 
	
 
 
fontes:
livros:
Castillo, Ricardo, Filosofia Geral e Jurídica, 6ª ed, São Paulo, 2019 pg 317
Freixinho, Nilton, As Transformações do Pensamento Brasileiro de 1920 a 1990, Rio de Janeiro, 1999, pgs 125,143
links:
De Cicco, Cláudio, Enciclopédia Jurídica da PUC/SP – Miguel Reale.
https://enciclopediajuridica.pucsp.br/verbete/128/edicao-1/miguel-reale 
Carvalho, Herbert, 18/12/2008 O Centenário de Miguel Reale: https://www.sescsp.org.br/online/artigo/compartilhar/4864_O+CENTENARIO+DO+MESTRE+MIGUEL+REALE 
Coutinho, Amélia – FGV CPDOC – Biografias Verbete Miguel Reale
http://www.fgv.br/CPDOC/BUSCA/dicionarios/verbete-biografico/reale-miguel 
João Fábio Bertonha, O pensamento corporativo em Miguel Reale: leituras do fascismo italiano no integralismo brasileiro
Nós e os Fascistas da Europa – Miguel Reale 1936
http://integralismo.blogspot.com/2015/03/nos-e-os-fascistas-da-europa-1936.html

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