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1 UNIVERSIDADE ESTÁCIO DE SÁ CURSO DE LICENCITATURA EM HISTÓRIA DISCIPLINA: ASPECTOS ANTROPOLÓGICOS E SOCIOLÓGICOS DA EDUCAÇÃO PROFESSORA TUTORA: REJANE APARECIDA MENEGHINI KOBORI TEMA DA PRÁTICA COMO COMPONENTE CURRICULAR: OBSERVAÇÃO E ANÁLISE SOCIOLÓGICA REFLEXIVA DAS RELAÇÕES ENTRE A SOCIEDADE E O MEIO AMBIENTE ALUNO: ALEXANDRE RICARDO DA SILVA ASSIS RIO DE JANEIRO 19/05/2019 2 INTRODUÇÃO: Este trabalho tem como objeto de estudo o Loteamento da Brisa, situado no bairro de Guaratiba, na cidade do Rio de Janeiro, e visa, através de observações, matérias de jornal, documentos obtidos na web e entrevistas com os moradores locais, estudar a relação estabelecida entre a sociedade humana e o meio ambiente, bem como analisar de que forma a educação pode contribuir para convivência responsável entre os indivíduos e o meio ambiente. Para a compreensão do processo histórico de ocupação foi necessário recorrer a trabalhos de Pós-Graduação e Mestrado sobre a região de Guaratiba, dos quais mencionarei apenas breves excertos, face ao curto espaço de tempo para a realização do trabalho. Pelo mesmo motivo acima, para estudar as relações entre os moradores e o meio ambiente, optei por me basear em depoimentos postados na rede social Facebook, além de me utilizar da memória de dois moradores como fonte de pesquisa, aos quais submeti o seguinte questionário: - Qual seu nome e idade? - Reside há quanto tempo na Brisa? - Houve mudanças na localidade? Quais? - Na sua opinião, quais são os principais problemas da Brisa? - Aqui há muitos casos de doenças infecciosas? - O que pode ser feito para melhorar a localidade? DESENVOLVIMENTO: A região de Guaratiba, local onde está inserido o Loteamento da Brisa, nosso objeto de estudo, “apresenta em sua história de quase cinco séculos de ocupação, períodos que marcam diferentes cenários”, que de “ecológicos” tornaram-se “áreas produtivas”, passaram a “residenciais” e a “de transição urbana” (LIMA, 2017, p. 7). O Loteamento da Brisa começou a se formar na segunda metade da década de 70, com o lançamento do Loteamento Enseada das Garças, conforme anúncio veiculado na página 6 do 1º Caderno do Jornal do Brasil de 7 de outubro de 1976 (fig. 1). “Dez anos após seu lançamento, o loteamento na Praia da Brisa... se encontrava abandonado. Ninguém na região se lembrava nem mesmo do nome do loteamento que contava com 40% das casas abandonadas pelos proprietários inadimplentes. Muitas casas e terrenos foram invadidos por famílias vindas de Nova Iguaçu e de Nova Friburgo. No loteamento... faltava todo o tipo de infraestrutura: comércio, área de lazer, posto médico, escolas, transportes, segurança, iluminação pública, limpeza urbana, etc.” (MELLO, 2015, p. 57). 3 Figura 1 ENTREVISTAS: O Sr. Jorge Luiz Rosalba Silva, de 64 anos, é comerciante local. Relatou que, desde que se mudou para essa região há dez anos, houve grandes alterações na Brisa em razão do aumento do número de moradores em substituição ao de veranistas. Queixou-se que não houve investimento no bairro nesses dez anos e disse acreditar que os principais problemas da comunidade são o abandono de animais e a parte de saneamento, que está acabada. Opinou que os moradores contribuem para piorar a qualidade de vida no bairro por descartar o lixo doméstico e resíduos de podas de árvores na rua e fora dos dias de coleta. Disse com convicção que de vinte a trinta pessoas dão entrada na Clínica da Família local apresentando sintomas de dengue e, principalmente, de chicungunha. Indagado sobre o que poderia ser feito para melhorar a situação, respondeu “sanear o bairro” e ilustrou que, há oito anos, o calçamento da rua onde mora foi retirado para a colocação de uma tubulação de água de esgoto, sem que fossem recolocadas as bocas de lobo, fazendo com que a água da chuva, quando não escoada devidamente, invada sua residência. De forma enfática, sugeriu a aplicação de multas para aqueles que fazem o descarte inadequado do lixo, pois “o povo só entende quando dói no bolso”; ou, em último caso, devolver o lixo para a porta de quem o descartou. A Srª. Ana Cristina Pereira Wosiniak, de 52 anos, diretora de escola, residente na localidade há 40 anos, lembrou que no passado costumava tomar banho e pescar camarão com facilidade na Praia da Brisa, atividades impossíveis de serem realizadas hoje, pois a praia se tornou um “manguezal”, segundo suas palavras. Disse acreditar que o principal problema da 4 Brisa, e também a causa de destruição ambiental, é a falta tratamento de esgoto, ressaltando que todas as águas residuais domésticas vão parar na praia. Queixou-se da ausência de políticas públicas e da falta de interesse das pessoas em zelar não só pelo bairro, mas pelo município e pelo estado. Referiu-se a um surto de doenças infecciosas como dengue e chicungunha em andamento. Indagada sobre o que precisaria ser feito para melhorar a comunidade, respondeu que “muita coisa, mas, principalmente, respeitar o pouco que a gente tem”. Afirmou que é preciso “alguém que possa lutar pela gente” e frisou que os nossos deputados e senadores “não estão nem aí”. Como diretora do Jardim Escola Jeitinho de Viver, disse que ajuda as crianças a desenvolver uma consciência ambiental, já desde os três anos de idade, trabalhando conceitos como sustentabilidade e reciclagem de lixo, atentando para o fato de que os resultados virão a longo prazo, para os futuros filhos e netos destas crianças, mas que o caminho para um futuro melhor começa por incutir essa consciência ambiental nos pequenos desde cedo. DEPOIMENTOS DA INTERNET: Segue um apanhado de postagens feitas no grupo Praia da Brisa-RJ, da rede social Facebook, grupo este criado em 20 de outubro de 2011, e que conta com 7.459 membros. As queixas dos internautas corroboram as opiniões dos entrevistados de que o principal problema da Brisa é o despejo inadequado de lixo e a falta de saneamento. Além disso, foram mencionados também o abandono de animais e aumento do número de roubos, problemas dos quais não tratarei aqui, dada a concisão exigida por este trabalho. Por se tratar de um grupo fechado, optei por ocultar as identidades dos internautas. 5 6 O autor do vídeo acima denuncia que os próprios moradores, ou “lambões”, recolhem o lixo de suas casas e despejam na beira do valão (Rio Capoeira), a ponto de interditar a via. Acusa tais pessoas serem inaptas para viver em sociedade. Lembra do mal que tais atitudes causam ao meio ambiente e pede que tenham consciência e responsabilidade. Afirmou estar indignado porque, em 12 anos como morador da Brisa, sua casa foi inundada pela água da chuva pela primeira vez pouco antes da gravação do vídeo. CONCLUSÃO: A ocupação do Loteamento da Brisa se deu de forma desordenada, causando impactos no meio ambiente que perduram até os dias de hoje. Por se tratar de uma comunidade formada por pessoas oriundas de diversas localidades, que ocuparam o território paulatinamente ao longo das últimas décadas, seus moradores aparentam não possuir um senso de coletividade, fazendo com que muitos não se importem em se livrar de seu lixo descartando-o em qualquer local. Nas entrevistas e nas postagens analisadas, algumas pessoas demonstraram ter certa preocupação com o ambiente em que vivem, destacando dois problemas principais: o descarte inadequado de lixo, já citado, e a falta de saneamento,atribuindo a causa dos transtornos aos próprios moradores e ao descaso das autoridades. 7 Sentindo-se abandonados pelo poder público, que não realiza as obras necessárias, não fiscaliza nem pune os infratores, os moradores encontraram nas redes sociais uma maneira de externar seu descontentamento com as condições da localidade onde vivem, acabando por experimentar um sentimento de unidade, uma espécie solidariedade virtual baseada nos problemas em comum. Além disso, aparentam acreditar que suas denúncias podem ajudar seus vizinhos a adotar uma atitude mais consciente em relação ao ambiente em que vivem ou que a exposição pública de suas condutas os leve à vergonha e os faça mudar de comportamento. Esta última opção não deve ser considerada como solução, uma vez que tratar os vizinhos como inimigos só aumentaria o abismo social e acarretaria a completa desagregação da sociedade. Tal consequência nos remete ao estado de anomia descrito por Durkheim, que acreditava que era dever da Sociologia restaurar a normalidade, por meio de técnicas de controle social e manutenção da ordem vigente. Sendo a educação uma instituição social que se relaciona com todas as demais práticas da vida social e um dos elementos fundamentais para assegurar à sociedade a manutenção das regras impostas, caberia a ela a adequação e a formatação dos indivíduos a um padrão socialmente imposto e previamente definido. Segundo Durkheim, a educação é a coletividade que se impõe sobre o indivíduo. Deve-se procurar restabelecer o consenso, a manutenção e a continuidade do grupo social, transformando o homem em um ser social, interiorizando os valores e as maneiras de ser, pensar e agir do seu grupo. Nesse sentido, proponho como solução aos problemas apresentados o que vem sendo realizado pela entrevistada Ana Cristina Pereira Wosiniak, que afirmou que ajuda os alunos da escola que dirige a desenvolver uma consciência ambiental, trabalhando com as crianças desde os três anos de idade conceitos como sustentabilidade e reciclagem de lixo. Para concluir, faço minhas as palavras da entrevistada, reconhecendo que os resultados desse trabalho virão a longo prazo, para os filhos e netos destas crianças, mas que o caminho para um futuro melhor começa por incutir essa consciência ambiental nos pequenos desde cedo. REFERÊNCIAS: MELLO, Dunstana Farias de. Pedra de Guaratiba: um lugar onde o futuro não aconteceu. Rio de Janeiro: UNIRIO: 2015. LIMA, Maria Luciene da Silva Vulnerabilidade e riscos socioecológicos no Sistema Hidrográfico do Rio do Portinho. Rio de Janeiro: PUC: 2017. TRICHES, Ivo José; DEMETERCO, Solange Menezes da Silva; MARQUES, Vera Regina Beltrão. Fundamentos da Educação. Curitiba: IESDE, Brasil S.A.: 2009.
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