Buscar

TGP - ZEFERINO - AUTOCOMPOSIÇÃO

Prévia do material em texto

TEORIA GERAL DO PROCESSO
Roteiro de Aulas
Terceira aula
AUTOCOMPOSIÇÃO
- modo parcial de solução de conflitos - autoridade das partes (autonomia)
MODALIDADES:
- unilateral:
- renúncia (abdicação total ou parcial pelo titular da 
 pretensão)
 		- submissão (reconhecimento/adesão por parte do obrigado)
	- bilateral:
		- transação (solução do conflito + concessões recíprocas pelos 
 conflitantes)(PONTES: da transação podem resultar outros negócios jurídicos embutidos nela)
- é altruística e reflexiva (Alcalà)
- somente se aplica aos conflitos envolvendo direitos disponíveis (direitos em que o titular tem livre disposição deles por ato de vontade/autonomia de vontade)
- realiza apenas COGNIÇÃO (= “acertamento” do direito)
- “não constitui ultraje ao monopólio estatal da jurisdição”, mesmo que dela decorra um preceito não coincidente com a “vontade da lei” (i.e., da incidência da lei sobre o fato a que se refere o conflito)
	- também contribui/realiza a pacificação social (tanto quanto a Jurisdição Estatal) e o monopólio estatal da justiça não é exclusivista (abre espaço à autotutela, ainda que residualmente; admite autocomposição e arbitragem, em se tratando de direitos disponíveis)
- trata-se de direitos que não afetam “o modo de ser da pessoa” e “cuja perda não a degrade a situações intoleráveis”, de modo que ela dispõe livremente deles consoante sua livre vontade (autonomia de vontade) 
APRECIAÇÃO QUALITATIVA
- p/Alcalà-Zamora é de ser tida (IDEALMENTE?) como o modo de melhor qualidade, ressalvada a “autocomposição aparente”
- reconhecida hoje, universalmente, como a solução de melhor qualidade:
	- partes conhecem, melhor que ninguém, as circunstâncias e implicações do conflito
	- partes sabem, melhor que ninguém, quais as possibilidades de solução (as melhores, mais suportáveis, mais viáveis...)
	- nos conflitos em torno de direitos disponíveis, a autoridade das partes, por sua autonomia de vontade, é larga e profunda (extensão e poder) – muito maior do que a do juiz nesse tipo de conflitos, pois este há de decidir segundo a lei e, não, como ato de vontade, além de ficar limitado ao objeto da provocação – “adstrição/congruência”
	- o cumprimento da obrigação reconhecida/acertada por autocomposição alcança índice maior do que a de obrigação decorrente da decisão do terceiro juiz ou mesmo do árbitro
	- realiza a pacificação social (legitimação do próprio Poder Jurisdicional)
- evita custos maiores
OBS – o poder autocompositivo das partes é persistente, podendo ser exercido mesmo se já instaurado processo judicial ou arbitral em torno do conflito; e é prevalecente, pois a autoridade do juiz ou do árbitro não pode impedir o seu exercício pelos conflitantes (persistência e prevalência que, além da ausência de qualquer razão lógica ou jurídico-legal para estancá-las, vê-se reforçada pelo reconhecimento da melhor qualidade da solução autocompositiva)
PRESTÍGIO À AUTOCOMPOSIÇÃO PELO DIREITO BRASILEIRO
- resgate do “juiz de paz” (CF, art.98, II)
- CLT: proposta de conciliação (arts.846 e 850) – comissão de conciliação prévia (arts.625-A a 625-H – Lei 9958/00)
- NCPC – arts.165 e seguintes (centros judiciários de solução consensual de conflitos – dotados de conciliadores e mediadores - e câmaras privadas de conciliação; art.334 e §§ - audiência prévia de conciliação ou mediação, presidida por conciliador ou mediador; art.139, V – dentre outras incumbências, deve o juiz promover autocomposição a qualquer tempo (de preferência convocando conciliador ou mediador)
- criação dos juizados especiais – CF, art.98, I (inspiração nos “juizados informais” e ênfase conciliatória)
- juizados cíveis e audiência preliminar de conciliação (Lei 9099/95, art.21)
- juizados criminais: reparação do dano e extinção da punibilidade (art.74); suspensão condicional do processo (art.89) e transação penal (art.76)
(Lei 10259/2001: art.1º)
- transação pelas pessoas de direito público, suas autarquias, empresas públicas e fundações públicas: Lei Complementar 73, art.4º, VI c/c/ art.2º da Lei 9469/97; Juizado especial federal (Lei 10.259/01, art.10, parágrafo único)
- lei de arbitragem (9307/96, arts.7º, §2º, e 21, § 4º): conciliação pelo juiz e pelo árbitro
VER, EM ANEXO, LEGISLAÇÃO AÍ REFERIDA
ANEXO – LEGISLAÇÃO REFERIDA
LEI COMPLEMENTAR Nº 73, DE 10 DE FEVEREIRO DE 1993
Institui a Lei Orgânica da Advocacia-Geral da União e dá outras providências.
        Art. 4º - São atribuições do Advogado-Geral da União:
        VI - desistir, transigir, acordar e firmar compromisso nas ações de interesse da União, nos termos da legislação vigente;
LEI Nº 9.469, DE 10 DE JULHO DE 1997.
Regulamenta o disposto no inciso VI do art. 4º da Lei Complementar nº 73, de 10 de fevereiro de 1993; dispõe sobre a intervenção da União nas causas em que figurarem, como autores ou réus, entes da administração indireta; regula os pagamentos devidos pela Fazenda Pública em virtude de sentença judiciária; revoga a Lei nº 8.197, de 27 de junho de 1991, e a Lei nº 9.081, de 19 de julho de 1995, e dá outras providências.
Art. 1o O Advogado-Geral da União, diretamente ou mediante delegação, e os dirigentes máximos das empresas públicas federais, em conjunto com o dirigente estatutário da área afeta ao assunto, poderão autorizar a realização de acordos ou transações para prevenir ou terminar litígios, inclusive os judiciais.        (Redação dada pela Lei nº 13.140, de 2015)      (Vigência)
§ 4o  Quando o litígio envolver valores superiores aos fixados em regulamento, o acordo ou a transação, sob pena de nulidade, dependerá de prévia e expressa autorização do Advogado-Geral da União e do Ministro de Estado a cuja área de competência estiver afeto o assunto, ou ainda do Presidente da Câmara dos Deputados, do Senado Federal, do Tribunal de Contas da União, de Tribunal ou Conselho, ou do Procurador-Geral da República, no caso de interesse dos órgãos dos Poderes Legislativo e Judiciário ou do Ministério Público da União, excluídas as empresas públicas federais não dependentes, que necessitarão apenas de prévia e expressa autorização dos dirigentes de que trata o caput.          (Incluído pela Lei nº 13.140, de 2015)      (Vigência)
§ 5o Na transação ou acordo celebrado diretamente pela parte ou por intermédio de procurador para extinguir ou encerrar processo judicial, inclusive os casos de extensão administrativa de pagamentos postulados em juízo, as partes poderão definir a responsabilidade de cada uma pelo pagamento dos honorários dos respectivos advogados.          (Incluído pela Lei nº 13.140, de 2015)      (Vigência)
Art. 1o-A.  O Advogado-Geral da União poderá dispensar a inscrição de crédito, autorizar o não ajuizamento de ações e a não-interposição de recursos, assim como o requerimento de extinção das ações em curso ou de desistência dos respectivos recursos judiciais, para cobrança de créditos da União e das autarquias e fundações públicas federais, observados os critérios de custos de administração e cobrança.         (Incluído pela Lei nº 11.941, de 2009)
Parágrafo único.  O disposto neste artigo não se aplica à Dívida Ativa da União e aos processos em que a União seja autora, ré, assistente ou opoente cuja representação judicial seja atribuída à Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional. (Incluído pela Lei nº 11.941, de 2009)
Art. 1o-B.  Os dirigentes máximos das empresas públicas federais poderão autorizar a não-propositura de ações e a não-interposicão de recursos, assim como o requerimento de extinção das ações em curso ou de desistência dos respectivos recursos judiciais, para cobrança de créditos, atualizados, de valor igual ou inferior a R$ 10.000,00 (dez mil reais), em que interessadas essas entidades na qualidade de autoras, rés, assistentes ou opoentes, nas condições aqui estabelecidas.       (Incluído pela Lei nº 11.941, de 2009)
Parágrafoúnico.  Quando a causa envolver valores superiores ao limite fixado neste artigo, o disposto no caput, sob pena de nulidade, dependerá de prévia e expressa autorização do Ministro de Estado ou do titular da Secretaria da Presidência da República a cuja área de competência estiver afeto o assunto, excluído o caso das empresas públicas não dependentes que necessitarão apenas de prévia e expressa autorização de seu dirigente máximo.      (Incluído pela Lei nº 11.941, de 2009)
Art. 1o-C.  Verificada a prescrição do crédito, o representante judicial da União, das autarquias e fundações públicas federais não efetivará a inscrição em dívida ativa dos créditos, não procederá ao ajuizamento, não recorrerá e desistirá dos recursos já interpostos.       (Incluído pela Lei nº 11.941, de 2009)
Art. 2o O Procurador-Geral da União, o Procurador-Geral Federal, o Procurador-Geral do Banco Central do Brasil e os dirigentes das empresas públicas federais mencionadas no caput do art. 1o poderão autorizar, diretamente ou mediante delegação, a realização de acordos para prevenir ou terminar, judicial ou extrajudicialmente, litígio que envolver valores inferiores aos fixados em regulamento.        (Redação dada pela Lei nº 13.140, de 2015)      (Vigência)
§ 1o No caso das empresas públicas federais, a delegação é restrita a órgão colegiado formalmente constituído, composto por pelo menos um dirigente estatutário.         (Redação dada pela Lei nº 13.140, de 2015)      (Vigência)
§ 2o O acordo de que trata o caput poderá consistir no pagamento do débito em parcelas mensais e sucessivas, até o limite máximo de sessenta.         (Redação dada pela Lei nº 13.140, de 2015)      (Vigência)
LEI No 10.259, DE 12 DE JULHO DE 2001.
Dispõe sobre a instituição dos Juizados Especiais Cíveis e Criminais no âmbito da Justiça Federal.
Art. 10. As partes poderão designar, por escrito, representantes para a causa, advogado ou não.
Parágrafo único. Os representantes judiciais da União, autarquias, fundações e empresas públicas federais, bem como os indicados na forma do caput, ficam autorizados a conciliar, transigir ou desistir, nos processos da competência dos Juizados Especiais Federais.
LEI Nº 9.099, DE 26 DE SETEMBRO DE 1995.
Dispõe sobre os Juizados Especiais Cíveis e Criminais e dá outras providências.
Da Conciliação e do Juízo Arbitral
        Art. 21. Aberta a sessão, o Juiz togado ou leigo esclarecerá as partes presentes sobre as vantagens da conciliação, mostrando-lhes os riscos e as conseqüências do litígio, especialmente quanto ao disposto no § 3º do art. 3º desta Lei.
        Art. 22. A conciliação será conduzida pelo Juiz togado ou leigo ou por conciliador sob sua orientação.
        Parágrafo único. Obtida a conciliação, esta será reduzida a escrito e homologada pelo Juiz togado, mediante sentença com eficácia de título executivo.
        Art. 23. Não comparecendo o demandado, o Juiz togado proferirá sentença.
        Art. 24. Não obtida a conciliação, as partes poderão optar, de comum acordo, pelo juízo arbitral, na forma prevista nesta Lei.
        § 1º O juízo arbitral considerar-se-á instaurado, independentemente de termo de compromisso, com a escolha do árbitro pelas partes. Se este não estiver presente, o Juiz convocá-lo-á e designará, de imediato, a data para a audiência de instrução.
        § 2º O árbitro será escolhido dentre os juízes leigos.
        Art. 25. O árbitro conduzirá o processo com os mesmos critérios do Juiz, na forma dos arts. 5º e 6º desta Lei, podendo decidir por eqüidade.
        Art. 26. Ao término da instrução, ou nos cinco dias subseqüentes, o árbitro apresentará o laudo ao Juiz togado para homologação por sentença irrecorrível.
Art. 74. A composição dos danos civis será reduzida a escrito e, homologada pelo Juiz mediante sentença irrecorrível, terá eficácia de título a ser executado no juízo civil competente.
        Parágrafo único. Tratando-se de ação penal de iniciativa privada ou de ação penal pública condicionada à representação, o acordo homologado acarreta a renúncia ao direito de queixa ou representação.
        Art. 75. Não obtida a composição dos danos civis, será dada imediatamente ao ofendido a oportunidade de exercer o direito de representação verbal, que será reduzida a termo.
        Parágrafo único. O não oferecimento da representação na audiência preliminar não implica decadência do direito, que poderá ser exercido no prazo previsto em lei.
        Art. 76. Havendo representação ou tratando-se de crime de ação penal pública incondicionada, não sendo caso de arquivamento, o Ministério Público poderá propor a aplicação imediata de pena restritiva de direitos ou multas, a ser especificada na proposta.
        § 1º Nas hipóteses de ser a pena de multa a única aplicável, o Juiz poderá reduzi-la até a metade.
        § 2º Não se admitirá a proposta se ficar comprovado:
        I - ter sido o autor da infração condenado, pela prática de crime, à pena privativa de liberdade, por sentença definitiva;
        II - ter sido o agente beneficiado anteriormente, no prazo de cinco anos, pela aplicação de pena restritiva ou multa, nos termos deste artigo;
        III - não indicarem os antecedentes, a conduta social e a personalidade do agente, bem como os motivos e as circunstâncias, ser necessária e suficiente a adoção da medida.
        § 3º Aceita a proposta pelo autor da infração e seu defensor, será submetida à apreciação do Juiz.
        § 4º Acolhendo a proposta do Ministério Público aceita pelo autor da infração, o Juiz aplicará a pena restritiva de direitos ou multa, que não importará em reincidência, sendo registrada apenas para impedir novamente o mesmo benefício no prazo de cinco anos.
        § 5º Da sentença prevista no parágrafo anterior caberá a apelação referida no art. 82 desta Lei.
        § 6º A imposição da sanção de que trata o § 4º deste artigo não constará de certidão de antecedentes criminais, salvo para os fins previstos no mesmo dispositivo, e não terá efeitos civis, cabendo aos interessados propor ação cabível no juízo cível.
Da Fase Preliminar
Art. 89. Nos crimes em que a pena mínima cominada for igual ou inferior a um ano, abrangidas ou não por esta Lei, o Ministério Público, ao oferecer a denúncia, poderá propor a suspensão do processo, por dois a quatro anos, desde que o acusado não esteja sendo processado ou não tenha sido condenado por outro crime, presentes os demais requisitos que autorizariam a suspensão condicional da pena (art. 77 do Código Penal).
        § 1º Aceita a proposta pelo acusado e seu defensor, na presença do Juiz, este, recebendo a denúncia, poderá suspender o processo, submetendo o acusado a período de prova, sob as seguintes condições:
        I - reparação do dano, salvo impossibilidade de fazê-lo;
        II - proibição de freqüentar determinados lugares;
        III - proibição de ausentar-se da comarca onde reside, sem autorização do Juiz;
        IV - comparecimento pessoal e obrigatório a juízo, mensalmente, para informar e justificar suas atividades.
        § 2º O Juiz poderá especificar outras condições a que fica subordinada a suspensão, desde que adequadas ao fato e à situação pessoal do acusado.
        § 3º A suspensão será revogada se, no curso do prazo, o beneficiário vier a ser processado por outro crime ou não efetuar, sem motivo justificado, a reparação do dano.
        § 4º A suspensão poderá ser revogada se o acusado vier a ser processado, no curso do prazo, por contravenção, ou descumprir qualquer outra condição imposta.
        § 5º Expirado o prazo sem revogação, o Juiz declarará extinta a punibilidade.
        § 6º Não correrá a prescrição durante o prazo de suspensão do processo.
        § 7º Se o acusado não aceitar a proposta prevista neste artigo, o processo prosseguirá em seus ulteriores termos.
        Art. 90. As disposições desta Lei não se aplicam aos processos penais cuja instrução já estiver iniciada.                       (Vide ADINnº 1.719-9)
ADIN Nº 1.719-9/DF
Decisão Final
 O Tribunal, por unanimidade, julgou parcialmente procedente a ação direta, para dar interpretação conforme, nos termos do voto do Relator. Votou o Presidente. Ausentes, justificadamente, a Senhora Ministra Ellen Gracie (Presidente) e o Senhor Ministro Celso de Mello. Presidiu o julgamento o Senhor Ministro Gilmar Mendes (Vice-Presidente). - Plenário, 18.06.2007. - Acórdão, DJ 03.08.2007

Continue navegando