Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Brasília-DF. Metalurgia Física Elaboração Róbinson Gerardo Trindade Portilla Erazo Produção Equipe Técnica de Avaliação, Revisão Linguística e Editoração Sumário APRESENTAÇÃO ................................................................................................................................. 4 ORGANIZAÇÃO DO CADERNO DE ESTUDOS E PESQUISA .................................................................... 5 INTRODUÇÃO.................................................................................................................................... 7 UNIDADE I ESTRUTURA E FENÔMENOS FÍSICOS ........................................................................................................ 9 CAPÍTULO 1 A ESTRUTURA DOS SÓLIDOS CRISTALINOS E SUAS IMPERFEIÇÕES ............................................... 9 CAPÍTULO 2 DIFUSÃO NOS SÓLIDOS, DISCORDÂNCIAS E MECANISMOS DE AUMENTO DE RESISTÊNCIA ...... 19 CAPÍTULO 3 PRINCÍPIOS DE TERMODINÂMICA METALÚRGICA ..................................................................... 28 UNIDADE II DIAGRAMA DE FASES .......................................................................................................................... 38 CAPÍTULO 1 CONCEITOS BÁSICOS E DEFINIÇÕES ...................................................................................... 38 CAPÍTULO 2 DIAGRAMAS DE FASE BINÁRIOS .............................................................................................. 42 CAPÍTULO 3 O SISTEMA FERRO-CARBONO................................................................................................. 54 UNIDADE III TRANSFORMAÇÕES DE FASES, SOLIDIFICAÇÃO E PROCESSAMENTO DE METAIS E SUAS LIGAS ............... 61 CAPÍTULO 1 TRANSFORMAÇÕES DE FASES................................................................................................. 61 CAPÍTULO 2 PRINCÍPIOS METALÚRGICOS DE SOLIDIFICAÇÃO .................................................................... 73 CAPÍTULO 3 FABRICAÇÃO, PROCESSAMENTO E TRATAMENTOS TERMOMECÂNICOS ................................... 80 REFERÊNCIAS .................................................................................................................................. 95 4 Apresentação Caro aluno A proposta editorial deste Caderno de Estudos e Pesquisa reúne elementos que se entendem necessários para o desenvolvimento do estudo com segurança e qualidade. Caracteriza-se pela atualidade, dinâmica e pertinência de seu conteúdo, bem como pela interatividade e modernidade de sua estrutura formal, adequadas à metodologia da Educação a Distância – EaD. Pretende-se, com este material, levá-lo à reflexão e à compreensão da pluralidade dos conhecimentos a serem oferecidos, possibilitando-lhe ampliar conceitos específicos da área e atuar de forma competente e conscienciosa, como convém ao profissional que busca a formação continuada para vencer os desafios que a evolução científico-tecnológica impõe ao mundo contemporâneo. Elaborou-se a presente publicação com a intenção de torná-la subsídio valioso, de modo a facilitar sua caminhada na trajetória a ser percorrida tanto na vida pessoal quanto na profissional. Utilize-a como instrumento para seu sucesso na carreira. Conselho Editorial 5 Organização do Caderno de Estudos e Pesquisa Para facilitar seu estudo, os conteúdos são organizados em unidades, subdivididas em capítulos, de forma didática, objetiva e coerente. Eles serão abordados por meio de textos básicos, com questões para reflexão, entre outros recursos editoriais que visam tornar sua leitura mais agradável. Ao final, serão indicadas, também, fontes de consulta para aprofundar seus estudos com leituras e pesquisas complementares. A seguir, apresentamos uma breve descrição dos ícones utilizados na organização dos Cadernos de Estudos e Pesquisa. Provocação Textos que buscam instigar o aluno a refletir sobre determinado assunto antes mesmo de iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente para o autor conteudista. Para refletir Questões inseridas no decorrer do estudo a fim de que o aluno faça uma pausa e reflita sobre o conteúdo estudado ou temas que o ajudem em seu raciocínio. É importante que ele verifique seus conhecimentos, suas experiências e seus sentimentos. As reflexões são o ponto de partida para a construção de suas conclusões. Sugestão de estudo complementar Sugestões de leituras adicionais, filmes e sites para aprofundamento do estudo, discussões em fóruns ou encontros presenciais quando for o caso. Atenção Chamadas para alertar detalhes/tópicos importantes que contribuam para a síntese/conclusão do assunto abordado. 6 Saiba mais Informações complementares para elucidar a construção das sínteses/conclusões sobre o assunto abordado. Sintetizando Trecho que busca resumir informações relevantes do conteúdo, facilitando o entendimento pelo aluno sobre trechos mais complexos. Para (não) finalizar Texto integrador, ao final do módulo, que motiva o aluno a continuar a aprendizagem ou estimula ponderações complementares sobre o módulo estudado. 7 Introdução Desde os primórdios da história, o ser humano tem utilizado materiais para satisfazer suas necessidades de ferramentas, moradia, proteção, e um dos principais são os metais, devido sua capacidade de ser conformado em diversos formatos e por suas propriedades notáveis de resistência mecânica, além de sua própria beleza, sendo usado como joias e símbolo de status e poder. Depois da Revolução Industrial se tornou patente a importância dos metais na engenharia, principalmente o aço, onipresente na sociedade atual, seja na indústria automobilística, aeronáutica, náutica, construções, e tantos outros. Assim, é clara a necessidade de se conhecer as bases físicas da metalurgia, para que o profissional tenha arcabouço para a seleção de materiais para diversas situações de trabalho, além de atuar no controle e otimização da microestrutura dos metais em sua fabricação e processamento. A disciplina de Metalurgia Física visa dar o conhecimento aos alunos da Unyleya sobre com a estrutura do material se expressa no comportamento elastoplástico de metais e ligas. Por conseguinte, abordaremos assuntos envolvendo imperfeições cristalinas, tratamentos térmicos, conformação plástica e comportamento mecânico de metais e ligas sob condições de carregamento estático e dinâmico. Essa disciplina será de grande interesse para pesquisadores e profissionais aplicados na área de metais e ligas convencionais, além da busca de novos materiais. Objetivos » Compreender a relação entre a estrutura do material, seu comportamento, e como essa estrutura pode ser modificada por meios dos processos de fabricação. » Entender os fenômenos físicos que acontecem na estrutura dos metais, suas fases, equilíbrios, noções de termodinâmica, dinâmica de transformação, difusão entre outros fenômenos. » Entender e interpretar o diagrama do sistema ferro-carbono e suas transformações. 8 » Compreender de modo geral o processo de solidificação. » Saber sobre os principais tratamentos termomecânica, com alteram a estrutura do material, quais suas finalidades. » Adquirir uma noção geral de como selecionar e especificar materiais. 9 UNIDADE IESTRUTURA E FENÔMENOS FÍSICOS Nesta Unidade I investigaremos a natureza íntima da estrutura dos sólidos, dentro dos quais se encaixam os metais. Os átomos formam uma estrutura reticulada que chamamos de cristais, nos quais há defeitos, discordâncias, e outras imperfeições. Digamos que esse é o campo em que ocorrem diversos fenômenos físicos como difusão, locomoção de discordâncias, crescimento ou refinamento de grãosde cristais e a termodinâmica atuante nos metais. Logo, conhecer a estrutura e dinâmica que acontece nesse nível é fundamental para saber quais serão as propriedades macroscópicas do material. CAPÍTULO 1 A estrutura dos sólidos cristalinos e suas imperfeições Átomos e suas ligações O átomo é o elemento básico para entender as estruturas cristalinas. É sabido que o átomo é formado de muitas partículas subatômicas, mas para nossa discussão, vamos nos ater ao nível atômico. Conhecer a estrutura geral do átomo é importante para tomar conhecimento de como governam as propriedades do material. Por exemplo, quando um material é tensionado, são as forças interatômicas que governam sua resistência, a condutividade elétrica é função da mobilidade dos elétrons nas camadas eletrônicas do átomo, e a oxidação depende da difusão de átomos de metais ou oxigênio pela superfície metálica. 10 UNIDADE I │ ESTRUTURA E FENÔMENOS FÍSICOS No modelo atômico aqui apresentado (modelo de Bohr), o átomo é composto por um núcleo circundado por elétrons figura 1. Nesse núcleo há prótons e nêutrons. Os elétrons são de carga negativa e se equilibram com os prótons que apresentam carga positiva. Os neutros apresentam carga neutra. Como o elétron apresenta apenas 0,0005 da massa do próton (1,67 x 10-27 kg), considera-se a massa atômica como a massa do núcleo, isto é, soma de prótons e nêutrons, variando de 1,008 u.a. (unidade de massa atômica) até 250 para alguns elementos transurânicos. Figura 1. Representação esquemática do modelo de Bohr. Núcleo Elétron e seu orbital Fonte: Callister, 2000. Os elétrons que circundam o núcleo não têm todos o mesmo nível de energia, ou seja, apresentam características energéticas diferentes que são agrupadas segundo níveis quânticos, sendo o primeiro nível quântico, com energia mínima, contém no máximo 2 elétrons, o nível dois tem 8 elétrons etc., conforme quadro 1, nos quatro subníveis s p d f. Além do mais, os elétrons não são todos iguais dentro de cada nível e subnível, assim, de acordo com o Princípio de Exclusão de Pauli, apenas dois elétrons podem ter os mesmos números quânticos orbitais, mesmo que esses dois elétrons apresentem propriedades magnéticas diferentes, isto é, “spins” opostos. Esse princípio governa a distribuição de elétrons nas camadas e, por sua vez, determina o tipo de ligações que existirão entre os átomos. 11 ESTRUTURA E FENÔMENOS FÍSICOS │ UNIDADE I Quadro 1. Números Quânticos Eletrônicos. Elemento (número atômico Z) K (n=1) 1s(2) L (n=2) 2s(2)2p(2) M (n=3) 3s(2)3p(6)3d(10) N (n=4) 4s(2)4p(6)4d(10)4f(14) O (n=5) 5s(2)5p(6)5d(10)5f(14) P (n=6) 6s(2)6p(6)6d(10) Q (n=7) 7s(2) H (1) He (2) 1 2 Li (3) Be (4) B (5) C (6) N (7) O (8) F (9) Ne (10) 2 2 2 2 2 2 2 2 1 2 2 1 2 2 2 3 2 4 2 5 2 6 Na (11) Mg (12) Al (13) Si (14) P (15) S (16) Cl (17) Ar (18) ... 2 2 2 2 2 2 2 2 2 6 2 6 2 6 2 6 2 6 2 6 2 6 2 6 1 2 2 1 2 2 2 3 2 4 2 5 2 6 Fonte: Van Vlack,1970. As ligações atômicas mantêm os átomos e moléculas de um sólido verdadeiro juntos. Os sólidos verdadeiros são aqueles que apresentam uma estrutura cristalina de átomos e moléculas geometricamente organizadas. Por exemplo, o vidro, ele é sólido sob temperatura ambiente, porém sua estrutura é desorganizada igual a de um líquido, logo, o vidro é um líquido super-resfriado. Podemos classificar as ligações atômicas em quatro tipos: » Ligação Iônica: os átomos que apresentam 8 elétrons na última camada eletrônica são estáveis como um gás nobre, assim, por exemplo, um átomo como o sódio que apresenta um elétron a mais que um gás nobre fornece esse elétron para outro átomo e se torna um íon positivo +1, esse outro átomo pode ser o cloro, que apresenta um elétron a menos que um gás nobre, assim, ele captura esse elétron doado pelo sódio e se torna estável, apresentando uma carga eletrostática de -1. Assim, esses dois átomos formam uma ligação forte, formando um composto como o sal da cozinha, NaCl. Essa é uma ligação típica de sais. 12 UNIDADE I │ ESTRUTURA E FENÔMENOS FÍSICOS » Ligação Covalente: outra forma de completar em 8 os elétrons da camada eletrônica mais externa é por meio do compartilhamento de elétrons. Por exemplo, o nitrogênio N apresenta 5 elétrons na camada externa, faltando 3 elétrons para atingir a configuração estável de um gás nobre. O hidrogênio tem um elétron, e necessita de mais um elétron para atingir a configuração do hélio, que tem dois elétrons na camada mais externa. Assim, se o N se aproximar de três H e compartilharem seus elétrons, cada um atingirá a configuração estável e formarão uma forte ligação, devido à atração que os núcleos exercem nos elétrons dos outros átomos. É uma ligação típica de gases. » Ligação Metálica: pode ser vista com uma extensão da ligação covalente em que os elétrons são compartilhados por todos os átomos, uma vez que nos metais não há formação de íons opostos e nem há número suficiente de elétrons para formar uma ligação covalente real. Deste modo, é formada uma nuvem eletrônica em que os elétrons são compartilhados por todos os átomos, sendo que os átomos são mantidos juntos por conta da atração mútua exercida na nuvem eletrônica. É típico dos metais. » Forças de Van der Waals: são forças que surgem em átomos e moléculas neutras, tais como os gases nobres. Quando os átomos ficam suficientemente próximos, há uma separação dos centros de carga negativa e positiva e uma fraca força de ligação se forma. Esse efeito aparece quando a temperatura é suficientemente baixa para superar a agitação térmica dos átomos. Estrutura cristalina Os átomos das estruturas cristalinas são posicionados de forma organizada e repetitiva, ao contrário de sólidos amorfos e materiais não cristalinos. Esse padrão de repetição é a chamada célula unitária, que é a unidade básica da estrutura cristalina e são caracterizadas por sua geometria e arranjo interno de átomos (Figura 2). Se representarmos os átomos como esferas sólidas, a rede cristalina é um arranjo dessas esferas. Esses arranjos podem ser classificados em sete tipos de cristais, segundo o Quadro 2, sendo o mais simples o cúbico. Esses sistemas incluem todas as possíveis combinações de divisão do espaço por superfícies planas. Se considerarmos também o arranjo dos átomos dentro desses sistemas espaciais, teremos as divisões dos 14 reticulados de Bravais que são todas as possíveis formas de células unitárias cristalinas, de acordo com a Figura 3. A maior parte dos cristais se incluem na estrutura cúbica, 13 ESTRUTURA E FENÔMENOS FÍSICOS │ UNIDADE I tais como os metais comuns, incluindo o ferro, e algumas cerâmicas como MgO, TiC e BaTiO3. O magnésio e o zinco apresentam estruturas hexagonais. Figura 2. Representação da célula unitária de cristal de estrutura cúbica de face centrada (a) modelo de esferas sólidas, (b) modelo de esferas reduzidas, (c) no retículo cristalino. Fonte: Callister, 2000. Quadro 2. Geometria dos Sistemas Cristalinos. Sistema Eixos Ângulos Axiais Cúbico Tetragonal Ortorrômbico Monoclínico Triclínico Hexagonal Romboédrico (Trigonal) a = b = c a = b ≠ c a ≠ b ≠ c a ≠ b ≠ c a ≠ b ≠ c a = b ≠ c a = b = c α = β = γ = 90° α = β = γ = 90° α = β = γ = 90° α = γ = 90° ≠ β α ≠ β ≠ γ ≠ 90° α = β = 90°, γ = 120° α = β = γ ≠ 90° Fonte: Van Vlack,1970. 14 UNIDADE I │ ESTRUTURA E FENÔMENOS FÍSICOS Figura 3. Reticulados de Bravais. Monoclínico Simples Monoclínico de faces centradas Triclínico Hexagonal Romboédrico Ortorrômbico SimplesOrtorrômbico de corpo centrado Ortorrômbico de bases centradas Ortorrômbico de faces centradas Cúbico Simples Tetragonal Simples Cúbico de Corpo Centrado Cúbico de Faces Centradas Tetragonal de Corpo Centrado Fonte: Van Vlack, 1970. Pontos, direções e planos cristalográficos Para o estudo dos materiais, às vezes é necessário localizar pontos, direções e planos dentro da célula unitária de cristal. A base para essa localização é a utilização das arestas da célula unitária como eixos coordenados. A base para localizar o ponto é utilizando coordenadas que são frações múltiplas do comprimento das arestas da célula. Para direções, o vetor que indica essa direção é definido por suas projeções nas arestas, ou seja, suas coordenadas. Por fim, os planos são indicados pelos pontos em que interceptam as arestas. Para a célula hexagonal, um esquema de quatro índices é mais conveniente para indicar direções e planos. Nos aprofundaremos mais nessas localizações dentro da rede cristalina nos exercícios. Figura 4. Como são determinados os (a) pontos, (b) direções e (c) planos. Fonte: Callister, 2000. 15 ESTRUTURA E FENÔMENOS FÍSICOS │ UNIDADE I Cristais simples, policristais, polimorfismo (ou alotropia) e anisotropia Cristais simples (monocristal) são aqueles que o ordenamento atômico se extende por todo o corpo, em alguns casos, formando arestas e formatos geométricos regulares a nível macroscópico, por exemplo, o cristais de quartzo que são vendidos como decoração. Outro exemplo de um monocristal é na fabricação das placas de energia fotovoltaica, cuja base são cristais simples de silício. Entretanto, a grande maioria dos sólidos cristalinos são policristalinos, isto é, ou seja, sendo um agregado de vários pequenos cristais com orientações cristalográficas diferentes. São os casos dos metais utilizados na engenharia. Os cristais polimórficos são aqueles em que uma substância pode apresentar mais de uma estrutura cristalina. Por fim, anisotropia é a característica dos cristais que apresentam propriedades diferentes conforme a direção. Defeitos no sólido cristalino Os cristais não apresentam uma ordem perfeita de distribuição dos átomos, sendo aproximadamente conseguidos em crescimento de cristais com condições altamente equilibradas. Assim, na grande maioria dos sólidos há imperfeições (ou defeitos). Esses defeitos alteram, além da estrutura, as propriedades do material, e algumas vezes esses defeitos são até desejáveis. Um defeito cristalino é uma irregularidade na rede cristalina com dimensões da ordem de um ou dois átomos. Podemos ter um defeito pontual que é restrito a um ou dois átomos, defeitos lineares, assim como defeitos superficiais e volumétricos. Defeitos pontuais O mais simples defeito pontual é o vazio, que é simplesmente a falta de um átomo aonde deveria haver um de acordo com a distribuição do sistema cristalino. Por outro lado, o defeito intersticial é um átomo a mais na rede cristalina. Ambos defeitos são mostrados na Figura 5. 16 UNIDADE I │ ESTRUTURA E FENÔMENOS FÍSICOS Figura 5. Vazio e defeito intersticial. Fonte: Callister, 2000. Outros dois defeitos pontuais, associados com a formação de uma solução sólida, isto é, quando átomos diferentes dos do sólido cristalino se imbrincam na estrutura cristalina, sem, no entanto, formar uma fase separada: são os defeito pontual substitucional e intersticional. Estes dois defeitos são mostrados na estrutura do sólido cristalino da Figura 6. Figura 6. Átomos de impureza na rede cristalina. Fonte: Callister, 2000. 17 ESTRUTURA E FENÔMENOS FÍSICOS │ UNIDADE I Defeitos lineares O tipo mais comum de defeito em linha nos cristais são as discordâncias, como podem ser vistas na figura 7. A discordância em cunha é uma aresta a mais que se insere na estrutura cristalina. Zonas de compressão e tração surgem no entorno da discordância, incrementando a energia ao longo da discordância, favorecendo o deslocamento de planos atômicos. A medida do deslocamento atômico ao redor da discordância é indicada pelo vetor de Burgers, que é perpendicular à linha de discordância em cunha. Outro tipo é a discordância helicoidal, na qual o vetor de Burgers é paralelo à linha de discordância, tendo tensões cisalhantes associadas com esse tipo de imperfeição, gerando aumento de energia. Figura 7. Defeito de linha (ou discordância): (a) em cunha e (b) helicoidal. Fonte: Callister, 2000. Defeitos superficiais São defeitos que formam fronteiras de duas dimensões e, em geral, separam regiões do material com estruturas e/ou orientações cristalográficas diferentes. A primeira fronteira é a superfície externa, apesar de ser óbvio isso, a estrutura cristalina da superfície tem uma disposição diferente do que no interior do cristal, apresentando átomos apenas dos lados, logo, uma energia mais alta. Outro defeito é o contorno de grão que surge em um material policristalino, claramente, por conta de ser um agregado de vários pequenos cristais, estes contornos são percebidos pelo desalinhamento das estruturas dos cristais entre os grãos, como mostrado na Figura 8. Outros dois defeitos que podem existir são o contorno de fase, existente em materiais multifásicos em que em cada lado do contorno há uma fase diferente com propriedades físico-químicas diferentes. Por fim, há o contorno de macla, que é um tipo de contorno de grão em que os átomos estão dispostos como se fossem um espelho em relação à linha de contorno, esquematizado na figura 8. 18 UNIDADE I │ ESTRUTURA E FENÔMENOS FÍSICOS Defeitos volumétricos Existem defeitos que são muito maiores do que os que foram discutidos aqui e que são incluídos por meio do processamento e fabricação dos materiais, tais defeitos da fronteira tridimensional incluem poros, trincas, inclusões, outras fases. Figura 8. Contornos de grão e contorno de macla. Fonte: Callister, 2000. 19 CAPÍTULO 2 Difusão nos sólidos, discordâncias e mecanismos de aumento de resistência Difusão atômica Por que estudar a difusão? Porque muitos materiais são tratados termicamente para atingirem certas propriedades físico-químicas e um amplo número de fenômenos que ocorrem durante esse tratamento podem ser explicados, em última análise, pelo mecanismo da difusão atômica. Uma aplicação, por exemplo, é no endurecimento da superfície de engrenagens pela difusão de carbono ou nitrogênio, de modo a aumentar a resistência à fratura e fadiga da peça. Os átomos apresentam um movimento intrínseco de agitação, sendo que esse movimento é dependente da temperatura. Assim, de acordo com a Terceira Lei da Termodinâmica, um átomo só estará totalmente estático no zero absoluto de temperatura, acima dessa temperatura, existe energia associada ao movimento. Logo, existe o fenômeno de transporte de massa devido ao movimento atômico, conhecida como difusão. Existem dois tipos de difusão, a difusão de impureza ou interdifusão que é quando há a difusão de um tipo de átomo de metal em outro tipo de metal, por exemplo, um acoplamento de Cobre-Níquel. A difusão também pode acontecer em substâncias puras, chamada autodifusão, em que acontece uma difusão onde todos os átomos são da mesma espécie, logo, é imperceptível essa difusão, porém ela ocorre. Agora vamos tratar dos mecanismos de difusão. O primeiro deles é o mecanismo de vazios em que há uma troca de posição entre um átomo e um vazio na rede cristalina, representado na figura 9a, o qual é um mecanismo que necessita de vazios, assim, quanto mais vazios presentes, mais esse mecanismo acontece. Uma vez que os átomos trocam de lugar com os vazios, a difusão de átomos em uma direção corresponde a um movimento de vazios na outra direção. A interdifusão e a autodifusão podem ocorrer por essemecanismo. Segundo é o mecanismo de difusão intersticial em que os átomos caminham de um interstício ao outro interstício vazio vizinho. Esse mecanismo acontece na interdifusão de impurezas de pequenos átomos tais como C, N e O que têm mais facilidade de se alojarem nos interstícios das redes cristalinas metálicas. Raramente átomos substitucionais de impureza se movem por esse mecanismo, já que estão bem firmes na rede. Na maioria dos metais e suas ligas, a difusão intersticial acontece com mais probabilidade do que o mecanismo de vazios, pois os átomos intersticiais são menores e mais móveis, além disso, é muito maior a quantidade de interstícios do que de vazios. 20 UNIDADE I │ ESTRUTURA E FENÔMENOS FÍSICOS Figura 9. Os mecanismos de difusão (a) de vazios e (b) intersticial. Percurso de difusão Percurso de difusão E n e r g i a E n e r g i a Fonte: Van Vlack, 1970. Matematicamente, os mecanismos de difusão podem ser expressos pelas Leis de Fick da difusão. A primeira lei de Fick estabelece que o fluxo de átomos J (número de átomos que passam por uma área pelo tempo) é proporcional ao gradiente de concentração dC/dx (isto é, como está distribuído o número de átomos no espaço) e ainda há um coeficiente de difusão D que informa a dificuldade que os átomos encontram para difundir. Assim sendo: dCJ D dx = − onde J está em kg/m2.s, D em m2/s, C em kg/m3 e x em m. Atentar que a primeira lei de Fick se aplica a um fluxo constante no tempo. A segunda lei de Fick relaciona a variação de concentração da espécie química com o tempo e pode ser expressa como: 2 2 dC d CD dt dx = onde percebemos que os estágios finais de homogeneização são mais lentos, ou ainda, a velocidade diminui com a diminuição do gradiente de concentração. Para fechar nossa discussão, vamos trazer dois fatores que afetam sumamente na difussão: temperatura e espécies de átomos. Como podemos notar na Figura 10, o coeficiente de difusão D varia conforme a espécie de átomo que difunde e a espécie de átomo que forma a base. Por exemplo, podemos ver a diferença de D em um caso de interdifusão (Cu no Cu) em relação a uma interdifusão (Zn no Cu). Ademais, podemos perceber pelo gráfico como a temperatura influencia no coeficiente de difusão, ficando claro que o aumento de temperatura facilita na taxa de difusão. 21 ESTRUTURA E FENÔMENOS FÍSICOS │ UNIDADE I Figura 10. Gráfico do logaritmo do coeficiente de difusão log (D) pela temperatura recíproca (1/T) de vários metais. Fonte: Van Vlack, 1970. Deslocamento e deformação plástica Na aurora dos estudos dos materiais, foram realizados cálculos teóricos para determinar a resistência mecânica dos cristais perfeitos (da ordem de E/20, aonde E é o módulo de elasticidade) e foi observado que a resistência experimental era muito menor do que a teórica, por isso, nos anos 1930 foi teorizado que tal discrepância era devido a defeitos lineares cristalinos que diminuíam a resistência, sendo que nos anos 1950 foi comprovado pela observação feita por microscopia eletrônica. Desde lá, a teoria dos deslocamento tem explicado muitos fenômenos físicos nos materiais. A um nível microscópico, a deformação plástica corresponde a um movimento de discordâncias causadas por uma tensão de cisalhamento externa, processo chamado de escorregamento. Na Figura 11 podemos acompanhar esse processo de movimento da discordância ao longo dos planos da rede cristalina. Por ser um deslocamento não reversível, essa deformação continua após a retirada da tensão, caracterizando uma deformação plástica permanente. Os deslocamentos não se movem com a mesma facilidade em todos planos ou direções cristalográficas, isto é, existem planos e direções em que há mais facilidade (entenda-se menos energia) para o movimento, assim, são chamados de plano de escorregamento e direção de escorregamento, sendo o conjunto 22 UNIDADE I │ ESTRUTURA E FENÔMENOS FÍSICOS dos dois chamados de sistema de escorregamento. Para um sistema cristalino cúbico, os planos de escorregamento são mostrados na Figura 12. Para materiais policristalinos, a deformação e escorregamento são um pouco mais complexos porque existem numerosos grãos de cristais com diversas direções cristalográficas, logo, os planos de escorregamento variam de um grão para o outro. Assim, o escorregamento acontece dentro de cada grão de cristal ao longo dos planos e direções mais favoráveis em relação à direção da tensão de cisalhamento. Então, a deformação plástica total corresponde a uma considerável deformação em cada grão, porém, os contornos de grãos se mantêm, assim, o grão tem sua deformação restringida pelos outros grãos, mesmo que esse grão tenha orientação favorável ao escorregamento. Por essa razão, os materiais policristalinos apresentam uma resistência mecânica maior que seus respectivos monocristais. Figura 11. Rearranjo atômico que acompanha o movimento de uma discordância em cunha em resposta a uma tensão cisalhante: (a) o plano extra é indicado por A; (b) o plano extra de A desloca para B; (c) finalmente, é formado um degrau na superfície externa do cristal. Tensão Cisalhante Tensão Cisalhante Tensão Cisalhante Plano de Escorregamento Discordância Degrau resultando do escorregame nto Fonte: Callister, 2000. Figura 12. Planos de escorregamento em cristal cúbico. Fonte: Van Vlack, 1970. 23 ESTRUTURA E FENÔMENOS FÍSICOS │ UNIDADE I Por fim, outro mecanismo de deformação é a deformação por maclagem, esquematizado na Figura 13. Nesse mecanismo, a tensão cisalhante provoca um rearranjo da rede cristalina de modo que o posicionamento dos átomos fique uma imagem de espelho em relação ao plano de macla. Além do mais, esse tipo de deformação acontece em uma direção e plano específicos que dependem da estrutura cristalina, tipicamente, cúbico de corpo centrado (CCC) e hexagonal compacta (HC). As condições que favorecem a deformação plástica por maclagem em detrimento do processo de escorregamento são os metais CCC e HC sob baixas temperaturas e altas taxas de carregamento (impacto). A deformação plástica por maclagem são menores que as deformações por deslizamento, porém, a reorientação dos planos cristalográficos geradas na deformação por maclagem podem favorecer depois o movimento de discordâncias. Figura 13. Esquema do mecanismo de deformação por maclagem sob tensão cisalhante τ. Em (b) os círculos brancos são átomos que não mudaram de posição, círcolo branco tracejado é a posição inicial e círculo preenchido é posição final. Plano de Macla Plano de Macla Superfície Polida Fonte: Callister, 2000. Mecanismos de aumento de resistência Na engenharia metalúrgica é muito buscado o aumento da resistência dos metais, mas mantendo algum grau de ductilidade de tenacidade, sendo que o aumento de resistência sacrifica ductilidade, sendo essas duas propriedades relacionadas com a capacidade de deformação plástica, uma vez que quanto maior a facilidade de deformar plasticamente, mais fraco e macio será o material; ao contrário, quanto mais energia for necessária para iniciar a deformação plástica, mais resistente e duro será o material. Para ter ciência de como atuam os mecanismos de aumento de resistêcia do materia é fundamental saber a relação entre o movimento das discordâncias e o comportamento mecânico do material. Por quê? Porque macroscopicamente a deformação plástica corresponde ao movimento de várias 24 UNIDADE I │ ESTRUTURA E FENÔMENOS FÍSICOS discordâncias, logo, a habilidade de deformar plasticamente é relacionada com a habilidade das discordâncias se moverem. O princípio básico das técnicas de endurecimento se resumem a impedir ou dificultar o movimento das discordâncias. Aseguir, discutiremos os principais mecanismos. O Endurecimento por Diminuição do Tamanho de Grão é um mecanismo relacionado com as fronteiras dos grãos. Em geral, os grãos adjacentes apresentam uma orientação cristalográfica diferente e, obviamente, uma fronteira em comum, como indicado na Figura 14. Assim, para ocorrer a deformação plástica, as discordâncias devem se movimentar através das fronteiras e então há dois fatores que elevam a energia (ou seja, dificultam) esse movimento: 1. Como as orientações cristalográficas são diferentes, há uma energia a mais para que a discordância mude de direção o seu movimento. Quanto maior o desalinhamento, maior a energia requerida. 2. A desordem atômica existente na região do contorno de grão é uma descontinuidade do plano de escorregamento. Deste modo, um material com grãos mais finos é mais duro e resistente, porque apresenta uma maior área de contornos de grãos que dificultam o movimento das discordâncias. Para muitos materiais, o limite de elasticidade σe segue a equação de Hall-Petch: 1 2 0 − σ = σ +e ek d onde σ0 e ke são constantes específicas do material e d é o diâmetro médio dos grãos. Além da resistência, o refino de grão também incrementa a tenacidade. Por fim, assinalamos que as fronteiras entre duas fases diferentes no material também são impedimentos para o movimento das discordâncias. Figura 14. A fronteira de grão dificultando o movimento de discordâncias. Fonte: Callister, 2000. 25 ESTRUTURA E FENÔMENOS FÍSICOS │ UNIDADE I O Endurecimento por Solução Sólida é a técnica que inclui átomos de impureza (elementos de liga) para formar soluções sólidas intersticionais ou por substituição. Metais de alta pureza são quase sempre mais macios e frágeis do que suas ligas, um exemplo clássico é do ouro puro, que é extremamente macio, e de sua liga com cobre, que aumenta sua resistência, sendo mais habilitado para ser moldado em brincos, colares, alianças. As ligas são mais resistentes que seus metais puros porque os átomos inseridos na solução sólida impõem tensões de tração e compressão na rede cristalina, o que aumenta a energia necessária para a quebra das ligações entre os átomos, logo, a discordância, para se mover, precisa de mais energia para ligar e desligar os átomos. Essas tensões são mostradas na Figura 15. Figura 15. Tensões impostas pelos átomos de impureza na rede cristalina. Fonte: Van Vlack, 1970. O Endurecimento por Encruamento ou por Trabalho a Frio é um mecanismo que decorre do próprio processo de deformação plástica, uma vez que esta altera a estrutura interna do material, logo, é plausível que sejam modificadas as propriedades do material. O movimento das discordâncias ao longo dos planos de escorregamento e a distorção dos grãos vizinhos tornam a estrutura cristalina mais ordenada de início em mais desordenada. Isso acarreta um aumento de dificuldade ulterior para o movimento das discordâncias, então temos o aumento da dureza. Ensaios laboratoriais mostram que junto com o aumento da dureza há o aumento do limite de escoamento e de resistência. Por outro lado, o encruamento reduz a ductilidade porque parte da capacidade de elongação (deformação plástica) é consumida no processo. 26 UNIDADE I │ ESTRUTURA E FENÔMENOS FÍSICOS Recuperação, recristalização e crescimento de grãos Como foi dito no tópico anterior, a deformação plástica sob temperaturas muito abaixo de seu ponto de fundição em metais policristalinos alteram suas propriedades mecânicas (resistência, dureza), física (condutividade) e química (corrosão) por causa da alteração microestrutural e da energia que foi imposta na deformação parcialmente armazenada em tensões da rede cristalina. As condições de pré-deformação podem ser restauradas por meio de tratamentos térmicos que serão discutidos a seguir. A Recuperação é o alívio das deformações impostas por meio do aumento da mobilidade atômica por causa do aumento da temperatura. Assim, com uma temperatura maior, os átomos conseguem se rearranjar em certo grau, liberando a energia associada a deformações leves. Consequentemente, propriedades físicas são recuperadas a nível de pré-trabalho a frio. A Recristalização acontece depois da etapa de recuperação, em que os grãos ainda apresentam uma relativa energia associada a deformações. Nessa etapa acontece a formação de um novo conjunto de grãos de cristais livres de deformações e equiaxiais (isto é, próximo do formato de uma esfera) que apresentam poucas discordâncias, próximo das situações prévias. A energia que gera os novos grãos vem da do gradiente de energia entre o material deformado e não-deformado. Assim, os novos grãos crescem de pequenos núcleos que consomem o material parental, processo que envolve uma difusão de pequena distância. A temperatura de cristalização é aquela em que o processo de recristalização se completa em 1 hora; para metais puros, ela gira em torno de 0,3Tm enquanto para ligas metálicas temos 0,7Tm, sendo Tm a temperatura de fundição do metal. Às vezes, é interessante trabalhar a quente os metais, isto é, provocar conformações um pouco acima da temperatura de recristalização, de modo que a peça final apresenta-se relativamente macia e dúctil, podendo sofrer deformações maiores depois. Por fim, o Crescimento de Grão é o processo de contínuo crescimento do tamanho do grão, ocorre a partir da recristalização (porém não é imprescindível haver recuperação e recristalização previamente) se mantida a temperatura elevada. Esse fenômeno é muito semelhante ao que acontece com as bolhas da espuma, no início ela é formada por um conjunto de pequenas bolhas que vão se fundindo, em que as bolhas maiores vão crescendo consumindo as bolhas menores, até que no final temos um conjunto de grandes bolhas. Ou seja, a tendência é dos contornos de grão irem se fundindo, de modo a diminuir a energia total. 27 ESTRUTURA E FENÔMENOS FÍSICOS │ UNIDADE I Figura 16. O efeito da temperatura de tratamento térmico (de 1 hora) microestrutural do material. R esistência à Tração (M P a) Novos Grãos Temperatura de Tratamento (°F) Ductilidade Temperatura de Tratamento (°C) Grãos trabalhados a frio e recuperados Resistência à Tração Tam anho de G rão (m m ) Recristalização Crescimento de Grão Recuperação D uctilidade (% E longação) Fonte: Callister, 2000. 28 CAPÍTULO 3 Princípios de termodinâmica metalúrgica Introdução e termoquímica metalúrgica Esse capítulo irá dar a base termodinâmica para todo o restante do texto, e é interessante que o aluno já tenha uma base nessa ciência, a qual, nesse capítulo, daremos uma rápida oxigenada. Todos os fenômenos de solidifiação, formação das fases, mudanças de fases, entre outros, são explicados pelas leis da termodinâmica. A Termodinâmica Metalúrgica lida com os estados de equilíbrio possíveis de existir para um sistema e quais fatores afetam esse equilíbrio. Esses estados são descritos por propriedadades de estados, que podem ser intensivas (independentes do tamanho do sistema) tais como temperatura T e pressão P, ou extensivas (dependentes do tamanho do sistema) como energia interna U e volume V. O comportamento da substância é descrito por uma função de estado tal como T=f(P,V) das quais a mais simples é a do gás ideal PV=nRT onde n é o número de mols do gás e R é a constante universal dos gases. Desta equação, podemos ver que bastam duas propriedades independentes para determinar o estado da substância. Caso a substância mude reversivelmente, essa substância passa por vários estados em equilíbrio, isto é, sem acrescentar desordem no universo. Caso mude irreversivelmente, a substância muda fora do equilíbrio. Para o caso do trabalho w entre um ponto inicial e final, o valor de w vai dependerdo caminho tomado: f i V V w PdV= ∫ A Primeira Lei da Termodinâmica estabelece que a energia se conserva em um sistema, mesmo com alterações, isto é, para um sistema com energia interna U, o trabalho aplicado w aumenta a energia interna e o calor perdido q diminui a mesma, sendo que não se perde energia, apenas se transforma: 2 1U U U q w∆ = − = − ou, para uma modificação incremental, dU dq dw= − 29 ESTRUTURA E FENÔMENOS FÍSICOS │ UNIDADE I A Segunda Lei da Termodinâmica dita que em um processo termodinâmico reversível a integral dq/T é independente do caminho, de onde se define a propriedade entropia S que seria uma medida de desordem do sistema. Assim: revqdS T δ = No caso de ser um processo irreversível, dS é maior que dq/T, e podemos escrever: ger qdS S T δ = + δ Ou seja, é gerada uma entropia extra além daquela associada ao calor. Essa entropia Sger está relacionada com processos irreversíveis tais como atrito. É possível mostrar, a partir da combinação da Primeira com a Segunda Lei da Termodinâmica que: dU = TdS + PdV Dessa equação temos dois critérios para o equilíbrio termodinâmico de um sistema de uma única substância: (a) S é máximo para quando U e V são constantes; (b) U é mínimo quando S e V são constantes. Além dessa relação U=U(S,V), temos outras relações auxiliares interessantes derivadas das Transformações de Legendre, tais como a entalpia: ; H U PV dH dU PdV VdP TdS VdP= + = + + = + Uma propriedade importantíssima é a energia livre de Gibbs G que é a propriedade termodinâmica mais útil que fornece um critério prático para um sistema em equilíbrio termodinâmico, porque é dependente apenas de T e P. Quando a função G é minimizada, o sistema termodinâmico está em equilíbrio, definida por: ; G H TS dG dH TdS SdT SdT VdP= − = − − = − + Outra propriedade é a energia livre de Helmholtz definida como A=U-TS. No caso de um sistema com vários componentes sendo ni o número de mols desse componente e o índice i indicando a espécie, teremos que a energia livre de Gibbs será G=G(T,P,n1,...,ni), em que diferenciando teremos: 1 1 i i G G G GdG dT dP dn dn T P n n ∂ ∂ ∂ ∂ = + + +…+ ∂ ∂ ∂ ∂ Onde a derivada marcada em negrito tem um significado físico muito importante chamado de potencial químico μi ou ainda chamado de energia livre de Gibbs parcial molar do componente i, iG . Assim, podemos reescrever a equação prévia como: i idG SdT VdP G dn= − + +∑ 30 UNIDADE I │ ESTRUTURA E FENÔMENOS FÍSICOS Agora, vamos lidar um pouco com a termoquímica metalúrgica, em que para medir as mudanças química é importante saber a variação de energia livre de Gibbs, ∆G que, por sua vez, será função da variação de entalpia ∆H e da variação de entropia ∆S, então devemos ter algum meio de medir essas variações das substâncias químicas. Por meio da grandeza calor específico molar, a pressão constante cp=f(T), podemos calcular a variação de entalpia para uma substância específica i, como segue: 298 , 298 T T K p i K H H c dT∆ = ∆ + ∆∫ Onde essa variação indica a quantidade de energia necessária para elevar a temperatura de 298K para T de 1 mol de substância i, por exemplo, prata Ag. De modo parecido, a variação de entropia de uma substância para temperatura constante é dada por: , 298 298 T p i T K K c S S dT T ∆ ∆ = ∆ + ∫ em que há uma parcela de variação à temperatura constante de 298 K e outra parcela de 298 K até T. Por fim, a variação em uma reação da energia livre de Gibbs à temperatura constante será: T T TG H T S∆ = ∆ + ∆ Equilíbrio de fases em um sistema de um componente O estado de equilíbrio para uma situação em que T e P são constantes é aquele que a energia livre de Gibbs tem o menor valor. Para um sistema de um só componente, os estados de existência são gasoso, líquido e sólido (com todas suas variações polimórficas). Para uma transformação de fusão (por exemplo, do ferro), a passagem é do estado sólido para líquido: ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ), , , ,fus fus fusliq solG G P T G P T H P T T S P T∆ = − = ∆ + ∆ Se fusG∆ é negativo, quer dizer que esse processo de fusão diminui a energia livre de Gibbs, logo, o líquido é um estado mais estável que o sólido, ou ainda, esse é o processo espontâneo, por exemplo, no caso da fusão do gelo em água líquida. Caso fosse positivo, o processo espontâneo é do líquido para o sólido, ou seja, o estado de maior estabilidade é o sólido, por exemplo, no caso do ferro fundido que se solidifica. Para duas fases existirem em equilíbrio, 0fusG∆ = , ou seja, ( ) ( )liq solG G= . Para que esse equilíbrio se mantenha mesmo com variação de T e P, temos que essa variação deve ser tal que: ( ) ( )liq soldG dG= 31 ESTRUTURA E FENÔMENOS FÍSICOS │ UNIDADE I ou, ( ) ( ) ( ) ( )liq liq sol solS dT V dP S dT V dP− + = − + De onde deriva a Equação de Clapeyron que, integrada, mostra a variação de T e P para que se mantenha o equilíbrio: fus eq fus HdP dT T V ∆ = ∆ Equilíbrio em reações químicas Como visto anteriormente, um sistema com várias substâncias que podem reagir quimicamente a T e P constante variam segundo a expressão: i idG G dn= ∑ em que a reação prossegue espontaneamente até que seja minimizada a energia livre de Gibbs total, ou seja, dG = 0. Por exemplo, a temperatura constante: ( ) ( ) ( ) ( )2 2 2 g g g gH O CO H CO+ = + No equilíbrio: 2 2 2 2 2 2 0H H CO CO H O H O CO COdG G dn G dn G dn G dn= + − − = De um ponto de vista estequiométrico: 2 2 2 H CO H O COdn dn dn dn= = − = − ∴ ( )2 2 2 2 0H CO H O CO HdG G G G G dn= + − − = Logo, no equilíbrio (dG = 0): ( ) ( )2 2 2 H CO H O COG G G G+ = + Para um gás ideal a temperatura T, aonde 0iG indica a energia livre de Gibbs do gás em condições padrões: 0 lni i iG G RT p= + Então, enfim, teremos: 2 2 2 0 0 0 0 lnH CO H O COG G G G RT+ − − =− 2 2 2 H CO H O CO p p p p 32 UNIDADE I │ ESTRUTURA E FENÔMENOS FÍSICOS Onde o valor marcado em negrito é conhecido como constante de equilíbrio Kp, enquanto o valor esquerdo é a energia livre padrão de Gibbs para essa reação 0TG∆ em específico e para T, escrita como: 0 0 0 lnT p T TG RT K H T S∆ =− = ∆ − ∆ Para uma reação genérica: aA bB cC dD+ = + c d C D p a b A B p pK p p = Onde pi é a pressão parcial da substância na mistura. Propriedades termodinâmicas de soluções Suponha duas substâncias puras A e B, em que estão no estado 1 separadas e no estado 2 misturadas. É possível demonstrar que a variação de energia livre de Gibbs no processo de misturação, considerando sem variação de entalpia, é: ( ) X ln X X ln XM M A A B BG T S RT∆ = − ∆ =− + Onde Xi é a fração molar (mols de substância sobre o total de mols da solução) da substância i. Podemos escrever também em função das pressões parciais pi para a subistância i na solução (inclusive sólida) e as pressões de vapor saturado 0 ip para a substância pura i à temperatura T: A B0 0 X ln X ln M A B A B p pG RT p p ∆ =− + Caso a mistura não envolva mudanças de entalpia, dizemos que é uma Mistura Ideal de Raoult em que vale: 0 i i ip X p= Agora vamos tratar dos casos em que nas soluções a misturação envolve uma mudança de entalpia, ou seja, há uma alteração no nível de energia quântica dos elétrons dos átomos dessa mistura. Para lidar com essas misturas que não seguem o comportamento ideal do modelo de Raoult, teremos que introduzir uma grandeza chamada atividade ai, definida como: 0 i i i pa p = 33 ESTRUTURA E FENÔMENOS FÍSICOS │ UNIDADE I Assim, podemos ver que a energia livre de formação molar de uma solução binária A-B é dada por: ( )A B AB X ln X ln X XM M MA B A BG RT a a G G∆ =− + = ∆ + ∆ Assim, podemos generalizar que a energia livre parcial molar de uma substância i no processo de misturação, 0 Mi i iG G G∆ = − , que é a diferença de energia livre na mistura e antes da mistura, considerando substância pura, é para uma solução ideal de Raoult: Mi i iG RT ln X RT lna∆ = = O comportamento da energia livre molar da mistura MG∆ com a composição é mostrada na Figura 17. Nessa figura, vemos uma reta que é o lugar geométrico da tangente à curva da função da energia livre de Gibbs da mistura para todas as composições. Ou seja, essa curva indica os pontos mínimos de energia livre, logo, o estado mais estável da mistura, sendo que nas extremidades, quando a composição é pura, a energia livre de Gibbs da mistura coincide com a da substância pura. A relação matemática que descreve essa curva tangente é dada pela Equação de Gibbs-Duhem: d ln d ln 0A A B BX a X a+ = O coeficiente de atividade é definido como /i i ia Xγ = , e assim podemos escrever a variação de energia livre molar de formação da mistura com uma parcela ideal de Raoult MidealG∆ e outra parcela chamada de excesso de energia livre de misturação M excessoG∆ : ( ) ( )A B A B X ln X ln X ln X lnM M Mideal excesso A B A BG G G RT X X RT∆ =∆ + ∆ = + + γ + γ Por outro lado, para a energia livre parcial molar de misturação da substância i, teremos: ( ) ( ), , ln lnM M Mi i ideal i excesso i iG G G RT X RT∆ =∆ + ∆ = + γ No caso de ser um solução regular, a misturação tem uma entropia ideal associada com uma variação de entalpia não nula, assim, para uma substância i nesse caso: ( ) ( ), , ln lnM M M M Mi i ideal i excesso i i i iG G G H T S RT X RT∆ = ∆ + ∆ = ∆ − ∆ = + γ em que a parcela de excesso é, ( ), lnM Mi excesso i iG H RT∆ = ∆ = γ 34 UNIDADE I │ ESTRUTURA E FENÔMENOS FÍSICOS Aqui temos mais um modelo, a solução de Henry, que é aquela em que yi → y0 quando xi → 0, onde y0 é um valor constante conhecido como estado padrão de Henry. Assim sendo, podemos escrever que: 0 i i ia X= γ Figura 17. Variação da energia livre de misturação para uma mistura ideal binária A-B a 1000K. Fonte: Cahn et. Haasen, 1996. A origem termodinâmica do diagrama de fases Consideremos uma solução bifásica A-B e suas energias livres molares representadas na Figura 18a. Por simplicidade, consideraremos uma solução ideal de Raoult. Na Figura 18b são mostradas as energias livres em temperatura T. O líquido puro de A e o sólido puro B são tomados como referências localizados nos pontos a e b, respectivamente. O ( ) 0 A sG é localizado no ponto c, onde ( ) ( ) ( ) 0 0 0 0 , em AA s A l B lG G G G− =−∆ é localizado no ponto d, onde ( ) ( ) 0 0 0 ,m BB l B sG G G− =∆ a temperatura T. Usando como estado de referência as linhas de líquido puro A e a linha de sólido puro B, a energia livre molar para os líquidos puros será dada por ad, 0 ,B m BX G∆ , enquanto a energia correspondente aos sólidos puros dado pela linha cb, 0 ,A m AX G− ∆ . Uma vez que ao formar a mistura, a energia livre molar 35 ESTRUTURA E FENÔMENOS FÍSICOS │ UNIDADE I decresce de um módulo de ( )A BX ln X lnA BRT X X+ e, dessa forma, em relação aos estados de referência, teremos: ( ) ( )0 , A B X ln X lnM A m A A BG soluções sólidas X G RT X X∆ = − ∆ + + e, ( ) ( )0 , A B X ln X lnM B m B A BG soluções líquidas X G RT X X∆ = ∆ + + A tangente às duas curvas de energia livre molar toca a curva de soluções sólidas em g e a curva de soluções líquidas em f, que intercepta os pontos de A BX 1e X 1= = nos pontos e e h, respectivamente. Como no estado equilíbrio a energia livre é minimizada, os pontos f e g dividem a composição em três regiões. Na região entre os pontos a e f a solução líquida homogênea é o estado que apresenta a mínima energia livre possível, enquanto na região entre g e b é a solução sólida homogênea o estado que apresenta a menor energia livre possível. Entretanto, na composição entre os pontos f e g, uma mistura bifásica de solução líquida com composição f e composição de solução sólida g (energia livre que está na linha fg) tem uma energia livre menor que ambas as soluções homogêneas líquida e sólida. Logo, o ponto f é o limite de solução de B no líquido A e g é o limite de solubilidade de A no sólido B, assim, os pontos f e g são, respectivamente, a composição do líquido e do sólido na temperatura T. Para o equilíbrio de fase teremos: ( ) ( )no líquido no sólido M MA AG G∆ = ∆f g e, ( ) ( )no líquido no sólido M MB BG G∆ = ∆f g Essas condições de equilíbrio exigem que a tangente à curva da energia livre molar para a solução líquida na composição líquida f é também tangente à curva de energia livre molar para as soluções sólidas no sólido de composição g. Geometricamente tal condição é ca + ae = ce e db + bh = dh. Podemos reescrever as equações anteriores como: ( ) ( )0 , ln líquido ln sólido m A A AG RT X RT X∆ + = e, ( ) ( )0 , ln sólido ln líquido m B B BG RT X RT X−∆ + = Uma vez que ( ) ( ) líquido líquido 1A BX X+ = e ( ) ( ) sólido sólido 1A BX X+ = , teremos então que a fração molar da substância A no líquido e no sólido como: ( ) ( ) ( ) ( ) 0 , 0 0 , , 1 exp / líquido 1 exp / exp / m B A m B m A G RT X G RT G RT − −∆ = − −∆ −∆ 36 UNIDADE I │ ESTRUTURA E FENÔMENOS FÍSICOS e, ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) 0 0 , , 0 0 , , exp / 1 exp / sólido 1 exp / exp / m A m B A m B m A G RT G RT X G RT G RT −∆ − −∆ = − −∆ −∆ Figura 18. (a) Diagrama de Fases da solução A-B; (b) Curvas das energias livres de mistura do sistema A-B na temperatura T. Fração molar de B soluções líquidas sólido A e B não-misturado Temperatura T líqui do A e B não -mis tura do Soluções sólidas líquido A e sólido B não-misturado soluções líquidas sol uçõ es sól ida s 0 AG−∆ 0 BG∆ MG∆ Fonte: Cahn et. Haasen, 1996. Reações em Equilíbrio envolvendo Soluções e a Lei de Fases de Gibbs A reação de equilíbrio depende da atividade dos reagentes, assim sendo, suponha uma reação: aA bB cC dD+ = + em termos de energia livre de Gibbs: A B C DaG bG cG dG+ = + 37 ESTRUTURA E FENÔMENOS FÍSICOS │ UNIDADE I Cujos valores de energia livre molar parcial: 0 ln i i iG G RT a= + E assim, para o equilíbrio podemos escrever: 0 ln ln c d C D T Ta b A B a aG RT RT K a a ∆ = − = − Onde o coeficiente dentro do logaritmo é a constante de equilíbrio para a reação. Por fim, vamos falar sobre a Regra das Fases de Gibbs. A completa descrição de um sistema termodinâmico contendo C componentes que existem em P fases requer os valores de temperatura, pressão e composição de cada uma das fases P. Como a composição de cada fase é conhecida quando conhecemos C-1 de seus componentes é conhecido, o número total de variáveis para sua descrição é P pressões + P temperaturas + P(C-1) concentrações = P(C+1). Para o equilíbrio termodinâmico no sistema, cada uma das P fases tem que estar na mesma pressão, temperatura e atividade (ou energia livre parcial molar) de cada um dos componentes individuais em cada umas das P fases. Assim, para o equilíbrio, há (P-1) igualdades de temperatura, (P-1) igualdades de pressão e (P-1)C igualdades de atividade, totalizando um sistema de (P-1)(C+2) equações. O número dos graus de liberdade F, que o sistema deve ter, é definido como o máximo número de variáveis que podem variar sem alterar o equilíbrio termodinâmico. Esse número é obtido pelo número de variáveis totais no sistema menos o número mínimo de equações necessário para manter o equilíbrio, assim: ( ) ( )( )1 1 2 2F P C P C C P= + − − + = + − Essa é a Regra das Fases de Gibbs,uma importante ferramenta para descobrir os possíveis estados de equilíbrio para um sistema multifásico. Por exemplo, para um sistema monocomponente que nem a água H2O, teremos C = 1, logo, F = 1 + 2 + P, se tivermos uma única fase, por exemplo, líquido, P = 1, e então os graus de liberdade serão F = 2. Isso quer dizer que a pressão e a temperatura poderão variar independentemente e mesmo assim ser mantido o equilíbrio. Quando temos duas fases, F=1, logo, no equilíbrio de duas fases só uma variável pode mudar independentemente. No caso de três fases, ou seja, o ponto triplo de uma substância pura, F = 0, não há variáveis, por isso é um ponto fixo definido por pressão e temperatura únicas. 38 UNIDADE IIDIAGRAMA DE FASES Os diagramas de fase são um importante instrumento para o planejamento e controle de tratamentos térmicos dos materiais porque algumas propriedades dos materiais são dependentes de sua microestrutura e, logo, de sua história térmica. Apesar destes diagramas descreverem estados em equilíbrio das microestruturas, eles também podem ser úteis na previsão de estados de não-equilíbrio que apresentam propriedades de interesse, tal é o endurecimento por precipitação. Por fim, dedicaremos um capítulo a um importante diagrama de fases do sistema Fe-C, que inclui aços e ferro fundidos, materiais fundamentais na engenharia moderna. CAPÍTULO 1 Conceitos básicos e definições Introdução Os diagramas de fase de metais e suas ligas são de suma importância porque as propriedades são determinadas pela microestrutura e o desenvolvimento destas, por sua vez, estão relacionadas às características de seu diagrama de fases. Ademais, estes diagramas fornecem informações preciosas sobre fusão, fundição e cristalização, entre outros. Alguns conceitos básicos utilizados são soluto e solvente, já definidos, e também componente, que são os metais puros e/ou os compostos que formam a liga. Sistema pode ser entendido como toda a gama de possíveis ligas formadas pelos mesmos componentes, por exemplo, o Sistema Fe-C como toda sua gama de aços e ferros. Limites de solubilidade É a quantidade máxima que um soluto pode ser dissolvido em um solvente para formar uma solução sólida para uma certa temperatura, caso seja adicionada uma 39 DIAGRAMA DE FASES │ UNIDADE II quantidade além deste limite, resulta na formação de uma outra solução sólida ou outro composto de composição destacadamente diferente. Como exemplo temos o sistema água-sal; conforme vai sendo adicionado gradualmente sal, este vai sendo dissolvido em uma solução de salmora, porém chega um ponto que a solução se satura e ela não consegue mais dissolver sal, de modo que este se sedimenta no fundo. Assim é formado um sistema com duas substâncias separadas, solução de salmora e cristais de sal ao fundo que não foram dissolvidos. Fases Outro conceito básico para entender os diagramas de fases são as próprias fases: porção homogênea de um sistema com características físico-químicas uniformes. Toda substância pura é uma fase, assim como uma solução sólida, líquida ou gasosa. O ar, por exemplo, é uma fase de uma solução gasosa de oxigênio, nitrogênio, gás carbônico, entre outros. No exemplo anterior, do sistema água-sal, temos duas fases fisicamente diferentes (uma líquida e outra sólida) e também quimicamente diferentes (uma sal puro e outra uma solução de sal em água). Quando há mais de uma fase, existirá uma fronteira separando-as em que há mudanças abruptas das propriedades físico e/ou química. Assim, para existir duas fases separadas, elas devem diferir fisicamente (gelo e água líquida ou ferro CCC e CFC) e/ou quimicamente (água e sal). Podemos classificar os sistemas em homogêneos, quando há uma fase, ou heterogêneos (duas ou mais fases). A maioria das ligas metálicas são sistemas heterogêneos. Muitas vezes, a interação entre as fases produz uma combinação de propriedades mais interessantes do que as fases isoladas. Microestrutura Geralmente as propriedades físicas, em particular as propriedades mecânicas, dependem da microestrutura que pode ser observada por microscópios, lupas ou microscópios eletrônicos. Nos metais e suas ligas, a microestrutura se caracteriza pelo número de fases, sua quantidade e seu arranjo espacial, sendo que a microestrutura depende de variáveis como elementos de liga, sua concentração e tratamento térmico. As fases podem ser observadas após um tratamento de amostras, tais como polimento e ataque químico para revelar as fase que, por exemplo, numa liga bifásica cada uma das fases pode aparecer de cores diferentes, enquanto se for um metal puro, a aparência é homogênea, exceto pelos contornos de grãos revelados no tratamento. 40 UNIDADE II │ DIAGRAMA DE FASES Equilíbrio de fase Equilíbrio, como visto no capítulo de Termodinâmica, é macroscopicamente um estado em que o sistema permanece no tempo sem modificação, caso não seja perturbado, em termos de energia livre, é quando esta é minimizada para uma certa condição de temperatura, pressão e composição. Caso haja perturbação, por exemplo, uma mudança de temperatura, o sistema se modificará para minimizar a energia livre, ou seja, alcançar um novo estado de equilíbrio. O termo equilíbrio de fases significa para sistemas heterogêneos a constância nas características das fases ao longo do tempo. Vamos voltar ao exemplo da água com sal: a 0°C o limite de solubilidade de sal na água é de 35,7g de sal por 100g de água, mantidas as condições, a solução se mantém assim indefinidamente, caso aumentemos a temperatura para 70°C, o limite de solubilidade aumenta para 37,8g de sal por 100g de água, assim, caso houvesse sal no fundo do frasco, esse seria dissolvido em partes para atingir um novo equilíbrio de fases. Em muitas ligas metálicas ocorre o mesmo, porém com soluções sólidas, logo, a mudança do equilíbrio refletirá em uma mudança de microestrutura, com mudança de quantidade de fases e nova distribuição ou arranjo. Os diagramas de fases indicam os estados de equilíbrio, mas não o tempo que demora para se chegar a tal estado. Existem casos, principalmente de soluções sólidas, que para atingir um novo estado de equilíbrio demora tanto que praticamente não se modificia, logo, está em um estado metaestável. Na metalurgia, alguns estados metaestáveis apresentam propriedades mais interessantes que estados em equilíbrio, tais como em ligas de aço e alumínio. Concluindo, é importante saber como são os estados de equilíbrio mas também a velocidade com que tais equilíbrios são atingidos e os fatores que afetam tais velocidades. Nesta unidade, trataremos dos estados de equilíbrio, enquanto na próxima unidade trataremos das taxas de modificação e os estados metaestáveis. Diagrama de fase monocomponente Várias informações para o controle da estrutura das fases são informadas de forma conveniente e prática pelo diagrama de fases, também conhecidos como diagrama de equilíbrio. Os diagramas de fases são construídos sobre três variáveis: temperatura, pressão e composição e suas linhas são traçadas conforme se variam esses parâmetros uns em relação aos outros. Para introduzir os diagramas de fases, o mais simples é aquele com um único componente, conhecido também como diagrama de fase unário, ou seja, a composição é constante e as variáveis são pressão e temperatura (Diagrama P-T), sendo o eixo vertical a pressão, geralmente em escala logarítmica, e na horizontal a temperatura. Aqui iremos destrinchar o diagrama P-T da H2O, conforme a Figura 19. No gráfico podemos perceber três áreas que correspondem às fases diferentes – sólido, líquido 41 DIAGRAMA DE FASES │ UNIDADE II e gás – separadas por três curvas aO, bO e cO que correspondem ao equilíbrio, ou seja, em qualquer ponto dessas linhas,as fases estarão em equilíbrio e coexistirão. Por exemplo, o equilíbrio entre sólido e gás acontece na linha aO, analogamente, o equilíbrio sólido e líquido acontece em bO e o líquido e gás na linha cO. Conforme se atravessa uma fronteira por meio da mudança de temperatura e/ou pressão, há uma alteração da fase. Por exemplo, sob 1 atm, ao se aquecer o sólido se transforma em líquido (ponto 2 no gráfico), isto é, na intersecção da linha horizontal tracejada com a linha de fronteira sólido-líquido; tal ponto corresponde a T = 0 °C. Claramente o contrário da fusão, ou seja, solidificação, acontece no mesmo ponto quando do resfriamento. Analogamente, no ponto 3, onde a linha tracejada horizontal cruza com a curva de equilíbrio líquido-vapor, a 100 °C, acontece a vaporização quando do aquecimento, e a condensação, quando do resfriamento. Por fim, o sólido sublima ao passar pela linha aO. No gráfico, podemos perceber que todas as curvas se encontram em um único ponto O, que no caso da H2O, é na temperatura de 273,16 K e pressão de 6,04 × 10 -3 atm. Esse é o ponto triplo, também conhecido como ponto invariante porque é único para cada substância pura; nesse ponto temos a condição em que as três fases estão em equilíbrio termodinâmico, logo, coexistem simultaneamente. Qualquer variação de temperatura e/ou pressão faz a substância sair do estado do ponto triplo, e uma das fases desaparece. Os diagramas de fases de pressão-temperatura de várias substâncias foram determinados experimentalmente, apresentando áreas de sólido, líquido e gás. No caso de substância que apresenta mais de uma fase sólida (alotropia), o diagrama tem uma área para cada fase sólida e mais de um ponto triplo. Figura 19. Diagrama de fase da água em coordenadas de temperatura e pressão. O ponto 2, onde passa a linha tracejada, é o ponto de derretimento à pressão de 1 atm, isto é, em T=0°C, enquanto o ponto 3 é o ponto de evaporação T=100°C. P ressão (atm ) Temperatura (°C) Sólido (Gelo) Líquido (Água) Gás (Vapor) Fonte: Callister, 2000. 42 CAPÍTULO 2 Diagramas de fase binários Introdução Um tipo muito comum de diagrama de fases é aquele em que temperatura e composição são variáveis e a pressão é mantida constante, comumente a 1 atm. Apesar de a maioria das ligas apresentarem mais de dois componentes, vamos começar estudando a interpretação de ligas binárias – aquelas com dois componentes – porque o princípio é o mesmo para ligas mais complexas. Os diagramas de fase binários são úteis para prever transformações de fases e suas microestruturas correspondentes quando há mudança de fase, em geral, originada pela variação de temperatura, seja no equilíbrio ou fora dele. Sistemas isomorfos binários Um diagrama de fases binário mais fácil de ser entendido é o representado pelo sistema cobre-níquel (Figura 20). Neste diagrama temos três regiões: um campo alfa (α), um campo líquido (L) e um campo bifásico α + L. O líquido L é uma solução líquida homogênea composta de cobre e níquel. A fase α é uma solução sólida substitucional de átomos de Cu e Ni de estrutura cúbica de face centrada (CFC). O cobre e o níquel são mutuamente solúveis entre si abaixo de 1080°C devido sua afinidade química, tamanhos semelhantes e mesma estrutura cristalina; por causa dessa completa solubilidade mútua, o sistema Cu-Ni é chamado de isomorfo. 43 DIAGRAMA DE FASES │ UNIDADE II Figura 20. Diagrama de fase binário do cobre e níquel em uma visão geral (a) e em detalhe (b) para determinar composição e quantidade de fase no ponto B. Tem peratura (°C ) Sólido (fase α) Líquido Composição (% em peso de Ni) Linha liquidus Linha solidus (Cu) Composição (% em peso de Ni) (Ni) Composição (% em peso de Ni) Tem peratura (°C ) Líquido α + L α + L Linha de Amarração Fonte: Callister, 2000. Alguns detalhes sobre nomenclatura. Para ligas metálicas as soluções sólidas são designadas por letras minúsculas gregas (α, β, γ..); as curvas que separam as fases L e α + L é chamada de linha liquidus, em que a fase líquida está acima dessa curva, como pode ser acompanhado pelo diagrama. Analogamente, a linha solidus separa as fases α e α + L. Onde as linhas solidus e liquidus se interceptam no diagrama e correspondem 44 UNIDADE II │ DIAGRAMA DE FASES às temperaturas de fusão dos metais puros, isto é, cobre a 1085°C e o níquel a 1453°C. Em qualquer outro caso em que não há metal puro, a fusão ocorrerá ao longo de uma faixa de temperatura entre as linhas liquidus e solidus. Por exemplo, para 50%p de Ni e 50%p de Cu, a fusão se inicia em 1280°C e a quantidade de líquido vai aumentado até 1320°C quando a liga é completamente líquida. Interpretando o diagrama de fases Três informações muito importantes podem ser tiradas do diagrama de fases binário em equilíbrio: as fases presentes, a composição dessas fases e a fração das fases: » Fases presentes: muito simples, basta ver em que região se encontra o ponto em questão, por exemplo, na Figura 20 o ponto A corresponde a 1100°C e 60%p de Ni e 40%p de Cu está em uma região de fase alfa, logo, apenas a fase alfa está presente. No caso do ponto B, é uma região α+L, logo, estarão presentes as fases sólida e líquida. » Determinação da Composição da Fase: para uma região monofásica, a composição é indicada pelo próprio ponto onde está. No caso de regiões bifásicas, é necessário fazer uma linha de amarração, também conhecida como isoterma, conforme Figura 20. Essa linha tem os extremos nas curvas que separam as regiões das fases, e suas projeções no eixo horizontal dão as concentrações das respectivas fases. Vamos a um exemplo para facilitar, o ponto B tem uma liga com 35%p de Ni e 65%p de Cu a 1250°C, em uma região bifásica α+L com sua linha de amarração. Temos que CL=31,5%p Ni – 68,5%p Cu será a composição do líquido enquanto o sólido terá Cα=42,5%p Ni – 57,5%p Cu. » Determinação da Fração ou quantidade das Fases: na região monofásica é trivial, caso esteja na região de fase α, 100% da composição é α, como no exemplo do ponto A. Na região bifásica temos de usar a regra da alavanca: (1) é traçada uma linha de amarração no nível do ponto em questão; (2) a composição global da solução está na linha de amarração; (3) a fração de uma fase é dada pelo comprimento da linha de amarração do ponto de composição global até a fronteira de fases para a outra fase, dividindo tudo pelo comprimento total da linha de amarração; (4) a outra fração da outra fase é obtida analogamente; (5) as frações são valores entre 0 e 1, se o aluno desejar a porcentagens das fases, basta multiplicar por 100. Para exemplificar, voltemos a Figura 20b em que as duas fases estão presentes à temperatura 1250°C e uma composição 45 DIAGRAMA DE FASES │ UNIDADE II global C0 de 35%p Ni-65%p Cu enquanto as frações mássicas da fase L e α são respectivamente WL e Wα. A partir da regra da alavanca teremos: 0S 42,5 35 0,68 68% 42,5 31,5L L C CW R S C C α α − − = = = = = + − − Desenvolvimento de microestrutura em ligas isomorfas Teremos dois modos de solidificação que geram microestruturas diferentes conforme o caso: um resfriamento bem lento em que há condições de equilíbrio e outro um resfriamento fora do equilíbrio. Na Figura 21 temos uma liga de Ni-Cu resfriada a partir de 1300°C, em que a microestrutura é mostrada nos detalhes dentro dos círculos que acompanham a linha de resfriamento de a até e. No ponto a a liga é totalmente líquida até que no ponto b começa a solidificação de núcleos que vão crescendo conforme se vai até o ponto d. Do ponto d até e não há alteração microestrutural, apesar de diminuir a temperatura. Por ser um resfriamento feito muito lentamente,há tempo de acontecer a difusão dos átomos de Ni e Cu, assim, a composição da fase α é a mesma do líquido que lhe deu origem, e uma microestrutural sólida policristalina. Figura 21. Representação esquemática do desenvolvimento de uma microestrutura em equilíbrio da liga 35%p Ni – 65%p Cu. Tem peratura (°C ) Composição (% em peso de Ni) Fonte: Callister, 2000. 46 UNIDADE II │ DIAGRAMA DE FASES Já no caso de um resfriamento em não-equilíbrio, o processo de difusão não tem tempo hábil para fazer a redistribuição da composição, logo, a microestrutura será diferenciada, conforme a Figura 22. Os primeiros núcleos da fase sólida vão se iniciar no ponto b’ porém a fase sólida terá a composição correspondente à linha solidus enquanto a fase líquida terá a composição da linha liquidus, assim sucessivamente pelos pontos c’ e d’, isto é, o núcleo vai crescendo por camadas com composições diferentes. No ponto d’ era para ter sido finalizada a solidificação, porém, fora do equilíbrio, ainda há considerável quantidade de líquido com fase α sendo formada na composição de 35%p Ni. A solidificação acaba no ponto e’ com composição de fase α em 31%p Ni. No detalhe do ponto f’ podemos ver a microestrutura zonada em que houve segregação ao longo dos grãos, ou seja, há um gradiente de composição. Tal microestrutura apresenta qualidades mecânicas inferiores daquelas desenvolvidas por um processo de resfriamento em equilíbrio. Figura 22. Representação esquemática do desenvolvimento de uma microestrutura em não-equilíbrio da liga 35%p Ni – 65%p Cu. Tem peratura (°C ) Composição (% em peso de Ni) Fonte: Callister, 2000. 47 DIAGRAMA DE FASES │ UNIDADE II Sistemas eutéticos binários Outro tipo de diagrama de fases simples e bem comum para ligas binárias é apresentado na Figura 23 para Ag-Cu, conhecido como diagrama de fases eutético binário. Podemos observar que há três regiões monofásicas: α, β e L (líquido). A fase α é uma solução rica em Cu com Ag dissolvido, a fase β é rica em Ag com Cu dissolvido, ambas apresentam estrutura CFC. O cobre e prata pura também são consideradas fases α e β, respectivamente. Temos assim que a solubilidade de cada uma dessas fases sólidas é limitada, porque abaixo da linha BEG apenas uma concentração limitação de prata irá dissolver no cobre (fase α), e vice-versa. A linha BEG é uma linha solidus porque é a temperatura mais baixa para a qual pode existir uma fase L para qualquer composição de Ag-Cu que esteja em equilíbrio. O limite de solubilidade para a fase α corresponde à linha de fronteira CBA que aumenta com o crescimento da temperatura a partir de C até um valor máximo no ponto B (8,0%p Ag a 779°C) e diminui até o ponto A que corresponde ao ponto de fusão do cobre puro. A linha AB é chamada linha solidus e a linha BC é linha solvus que é a linha do limite de solubilidade do sólido separando as regiões de fases α e α+β. Analogamente, temos linhas solidus e liquidus no extremo direito. O diagrama eutético bifásico apresenta três regiões bifásicas: α+L, β+L e α+β, onde as fases coexistem em equilíbrios e suas frações e composição podem ser determinadas por linhas de amarração e regras da alavanca como descrevemos anteriormente. Conforme a prata é adicionada ao cobre, a temperatura de fusão da liga diminui, ao longo da linha liquidus AE, igualmente podemos falar da prata que tem sua temperatura de fusão diminuída com a adição de cobre pela linha FE. Essas duas linhas se encontram no ponto E, conhecido como ponto eutético, que é um ponto invariante de composição CE e TE que para liga em questão é 71,9%p Ag e 779°C. A palavra eutético significa “facilmente fundível” e a solidificação nesse ponto acontece de uma forma diferenciada, chamada de reação eutética em que uma fase líquida forma diretamente duas fases sólidas α e β aonde CαE e CβE representam a composição dos sólidos α e β formados: ( ) ( ) ( )E E EL C C Cα β↔ α +β No caso da liga Ag-Cu: ( ) ( ) ( )71,9%p Ag 8,0%p Ag 91,2%p AgL ↔α +β A reação eutética é semelhante ao comportamento da solidificação de metais puros no sentido em que a reação se processa na mesma temperatura até a conclusão da transformação, entretanto a reação eutética sempre formará duas fases sólidas, enquanto o metal puro forma uma única fase. 48 UNIDADE II │ DIAGRAMA DE FASES Figura 23. Diagrama de fase eutético binário da liga Prata-Cobre. Tem peratura (°C ) (Cu) Composição (p% Ag) (Ag) Líquido Fonte: Callister, 2000. Desenvolvimento de microestrutura em ligas eutéticas Vamos apresentar quatro tipos de microestruturas que podem ser desenvolvidas no diagrama de fases eutéticos binários. Usaremos como exemplo a liga de St-Pb. O primeiro caso é representado pela Figura 24 e se aplica às composições entre o componente puro e a solubilidade sólida máxima para aquele componente à temperatura ambiente [20°C]. Considerando uma liga com composição C1 conforme ela é resfriada lentamente a partir de 350°C, visto na linha ww’, a solução permanece totalmente líquida e com a composição C1 até atravessar a linha liquidus aproximadamente a 330°C, quando a fase α inicia sua formação. Ao passar pela região bifásica α+L a solidificação procede como descrito para a liga Cu-Ni na região anterior. 49 DIAGRAMA DE FASES │ UNIDADE II Figura 24. Representação do desenvolvimento da microestrutura da composição C1. Tem peratura (°C ) Composição (p% Sn) Fonte: Callister, 2000. O segundo caso é demonstrado na Figura 25 e corresponde a uma composição entre o limite de solubilidade à temperatura ambiente e a solubilidade máxima na temperatura do ponto eutético, isto é, C2 que tem uma transformação ao longo da linha xx’. Do ponto d até f temos o desenvolvimento semelhante ao primeiro caso, formando uma estrutura monofásica policristalina α. Logo abaixo da linha solvus, a solubilidade máxima da fase α é excedida e então acontece a precipitação de pequenas partículas de fase β, mostradas no detalhe do ponto g. Conforme se diminui a temperatura, diminui-se a solubilidade e essas partículas tendem a crescem. 50 UNIDADE II │ DIAGRAMA DE FASES Figura 25. Representação do desenvolvimento da microestrutura da composição C2. Tem peratura (°C ) Composição (p% Sn) Fonte: Callister, 2000. O terceiro caso é a solidificação no ponto eutético (Figura 26), desenvolvendo-se ao longo da linha yy’. Conforme saímos do ponto h até a temperatura eutética não acontece nada, se mantém a fase L. Ao se atingir a temperatura eutética, o líquido se converte nas duas fases α e β em que a composição dessas fases é ditada pela linha isotérmica eutética. Durante essa transformação há uma distribuição dos átomos de chumbo e estanho por meio de difusão atômica porque as fases α e β têm composições diferentes entre si e também diferentes da fase líquida originária. Como vemos no detalhe do ponto h, forma-se uma microestrutura característica – estrutura eutético – formada de lamelas alternadas de fases α e β. Essa estrutura é formada porque nesse arranjo a difusão atômica do chumbo e estanho acontecem apenas em pequenas distâncias. 51 DIAGRAMA DE FASES │ UNIDADE II Figura 26. Representação do desenvolvimento da microestrutura da composição C3. Tem peratura (°C ) Composição (p% Sn) (Sn) Fonte: Callister, 2000. O quarto e último caso é representado na Figura 27 por todas as composições que quando resfriadas cruzam a linha isotérmica eutética, como exceção daquela que cruza exatamente no ponto eutético. O desenvolvimento é mostrado pela linha zz’, sendo que dos pontos de j até l o desenvolvimento microestrutural é semelhante ao caso segundo, sendo presentes as fase α e L. Assim que a temperatura é abaixo do nível
Compartilhar