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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS Campus Sorocaba Prática II Separação e Extração de Uma Mistura de Substâncias Docente: Profº Dr. Aparecido Júnior de Menezes Discentes: Ana Paula Rodrigues Furtado RA.: 570974 Franciny Oliveira Rodrigues R.A.: 641286 Patrícia de Almeida R.A.: 427594 Sorocaba, 18 de Abril de 2017. 1. Objetivos O experimento em questão consiste em separar uma mistura de substâncias fazendo uso da reatividade diferenciada destas, junto a técnica de extração de solventes. 2. Introdução Teórica Na parte experimental de Química Orgânica, a maioria dos procedimentos experimentais é realizada utilizando substâncias dissolvidas em algum tipo de solvente. Sabemos que as forças intermoleculares existentes entre os compostos têm uma grande influência sobre sua solubilidade. Quando dissolvemos um composto, as interações entre eles são substituídas por interações entre eles e o solvente; sabe-se também, por definição, que os compostos se dissolvem melhor em solventes com polaridades semelhantes, ou seja, compostos polares se dissolvem bem em solventes polares e compostos pouco polares se dissolvem bem em solventes pouco polares. Serão discutidas, adiante, três formas de separação/extração de misturas de substâncias: extração líquido-líquido, separação utilizando solventes quimicamente ativos e sublimação. 2.1. Extração líquido-líquido (ELL) Nesse processo ocorre a separação da amostra em questão em duas fases, imiscíveis entre si: uma orgânica e a outra, aquosa. A afinidade do soluto pelo solvente, a razão das fases e o número de extrações definirão a eficiência da extração. Para alguns sistemas, o valor da constante de distribuição, K, entre as fases pode ser aumentado pelo ajuste do pH, para prevenir a ionização de ácidos ou bases, pela formação de par iônico com solutos ionizáveis, pela formação de complexos lipofílicos com íons metálicos ou pela adição de sais neutros, para diminuir a solubilidade de compostos orgânicos na fase aquosa. 2 As vantagens de se utilizar tal técnica, se resumem ao fato da mesma ser simples e poder utilizar um número grande de solventes. Além disso, as proteínas presentes nas amostras são desnaturadas, eliminando a contaminação da coluna cromatográfica. Por outro lado, esta técnica possui uma série de desvantagens, tais como: as amostras com alta afinidade pela água são parcialmente extraídas pelo solvente orgânico, resultando em perda do analito; impurezas do solvente são concentradas junto com a amostra, implicando no uso de solventes ultrapuros; pode ocorrer a formação de emulsões, o que resulta em grande consumo de tempo; volumes relativamente grandes de amostras e de solventes são requeridos, gerando problemas de descartes; alguns solventes orgânicos são tóxicos; pode ocorrer adsorção dos analitos na vidraria; decomposição de compostos instáveis termicamente, na etapa de pré-concentração.2 Para determinar o melhor solvente para uma determinada extração, podemos nos embasar nas teorias que apresentam propostas sobre os parâmetros de solubilidade dos compostos: a teoria de Hildebrand e a teoria de Hansen. Para que ocorra a solubilização de um soluto, é necessário que as interações intermoleculares entre as moléculas do solvente (A-A) e do soluto (B-B) sejam da mesma ordem de grandeza. Assim, é possível que as interações A-A e B-B sejam quebradas para formação de interações do tipo A-B. Termodinamicamente, para a ocorrência de um processo espontâneo de solubilização entre dois componentes diferentes, é necessário que a variação da energia livre de mistura seja nula ou negativa. 1 A definição do parâmetro de solubilidade é dado por: δ = √(∆E /∆V) [1] Se considerarmos, agora, a solubilidade de um soluto em dois líquidos imiscíveis, e adicionarmos à essa amostra um terceiro composto, no caso, um soluto sólido, que será solúvel nas duas camadas, temos a ocorrência da chamada lei de distribuição ou lei de partição. Tal lei estabelece que, na situação descrita anteriormente, a substância se distribui entre as camadas, de modo que a razão da concentração em um solvente para a concentração no outro permaneça constante a uma temperatura constante. O coeficiente de partição é dado por: K = [C]0 / [C] [2] onde [C]0 representa a concentração do soluto no solvente extrator e [C] representa a concentração do soluto no outro solvente. 2.2. Separação usando solventes quimicamente ativos A extração por meio de utilização de solventes quimicamente ativos depende do uso de um reagente que reaja quimicamente com o composto a ser extraído, e geralmente é empregado para remover pequenas quantidades de impurezas de um composto orgânico ou para separar componentes de uma mistura. Esta extração está baseada no fato que o sal sódico do ácido é solúvel em água ou em um álcali, mas é insolúvel em solvente orgânico. De maneira semelhante um fenol pode ser removido de sua solução em solvente orgânico pelo tratamento com solução de NaOH. Os ácidos clorídrico ou sulfúrico diluídos podem ser empregados na extração de substâncias básicas de misturas ou na remoção de impurezas básicas. O ácido transforma a base em sal solúvel em água. O ácido sulfúrico concentrado a frio remove hidrocarbonetos não saturados presentes em hidrocarbonetos saturados ou álcoois e éteres presentes em halogenetos de alcoíla. No primeiro caso, formam-se produtos sulfonados solúveis, enquanto que no segundo caso, originam-se sulfatos ácidos de alcoíla ou complexos de adição solúveis no ácido concentrado. 5 2.3. Sublimação A sublimação é um processo que consiste na passagem de uma substância do estado sólido para o estado de vapor sem passar pelo estado líquido. É uma característica de substâncias que, quando aquecidas, alcançam pressão de vapor igual à atmosférica em temperaturas inferiores às necessárias para a fusão das mesmas. O naftaleno e a cânfora são exemplos de substâncias que sublimam lentamente à temperatura ambiente. A sublimação é um processo simples e que encontra bastante aplicação na purificação de substâncias, especialmente levando-se em consideração que muitos sólidos que fundem à pressão atmosférica podem ser sublimados à pressão reduzida. Em teoria, todos os sólidos poderiam ser purificados por este processo bastando, para tal, condições de pressão e de temperatura adequadas.3 3. Materiais utilizados - Naftaleno; - Ácido Benzóico; - 𝝰-naftilamina; - Éter Etílico; - Solução de NaHCO3; - Erlenmeyer; - Funil; - Gelo; - HCl concentrado - Papel indicador de pH; - Solução de NaOH 0,5M; - Filtro à vácuo; 4. Metodologia Deu-se início ao experimento pesando separadamente 1g de cada substância a ser misturada: Naftaleno, Ácido benzóico e 𝝰-naftilamina, a fim de obter - se o peso real das substâncias;posteriormente misturou-se 50 mL de Éter etílico em um erlenmeyer, em seguida, a solução resultante foi transferida para um funil de separação. Adicionou-se 25 mL de uma solução de NaHCO3 10%. Então o funil foi tampado e agitou-se a mistura. Posicionou-se o funil adequadamente em um suporte, retirou-se a tampa para que houvesse a saída de gases e vapores, bem como abriu-se a torneira do funil até que as fases (duas) se separassem. Após a separação da fase aquosa e orgânica esta foi depositada em um erlenmeyer, o processo foi repetido para a fase orgânica no funil de separação O Erlenmeyer com a fase aquosa das duas separações (da primeira vez e da repetição) foi colocado numa vasilha com gelo por alguns minutos e acidificado com HCl concentrado. Apareceu um precipitado, que foi filtrado a vácuo. A fase orgânica que permaneceu no funil de separação foi tratada com 10 ml de solução de HCl 0,25N. Separou-se a fase aquosa obtida e repetiu-se o processo por mais duas vezes. Posteriormente, juntou-se às três fases aquosas obtidas do processo anterior em um erlenmeyer previamente resfriado em banho de gelo; e adicionou-se em pequenas quantidades uma solução de NaOH 0,5N até obter pH básico. Obteve-se o precipitado que foi filtrado à vácuo. A fase orgânica restante foi levada a capela a fim de que o solvente evaporasse. Pesou-se as substâncias obtidas após a filtração à vácuo, bem como anotou-se os resultados obtidos pelos demais grupos presentes no intuito de se comparar tais resultados. 5. Resultados e Discussão Parte I- Ácido Benzóico À amostra pesada inicialmente de 1g de Ácido Benzóico, Naftaleno e 𝝰-naftilamina, utilizou-se o éter para a dissolução da mistura por ser um dos melhores solventes para substâncias orgânicas por possuir baixo ponto de ebulição. A fim de separar os três compostos orgânicos homogêneos entre si, analisaram-se as estruturas e propriedades químicas destes compostos, onde foi possível determinar o caráter ácido-base de cada composto. Depois de homogeneizados (o ácido benzóico, um composto de caráter ácido; a α- Naftilamina, composto de caráter básico; e o Naftaleno, composto que não apresenta caráter ácido-base) primeiramente reagiu-se esta mistura com NaHCO3; o bicarbonato de sódio, que por se tratar de uma base reagiria preferencialmente com o ácido benzóico (reação de neutralização) formando água e sal como demonstrado na figura 1. Figura 1 – Reação de neutralização (ácido benzóico e bicarbonato de sódio) Fonte: https://en.wikipedia.org/wiki/Organic_chemistry [7] Como o HCO3- é uma base fraca, há a dissociação da base, pela reação com um ácido mais forte, no caso o ácido benzóico. A reação se tornou mais efetiva pelo fato da base conjugada do ácido benzóico ser mais fraca, entrando em ressonância. Neste primeiro tratamento para separar os compostos, ocorre a liberação de gás carbônico (CO2), originado da reação de neutralização entre o ácido benzóico e o bicarbonato de sódio. Em consequência da reação de neutralização, as interações entre as moléculas que antes eram do tipo dipolo-dipolo, evidenciado por se tratar de uma interação mais fraca, passam a ser íon-dipolo (já que o sal permanece dissociado no meio aquoso). A mistura se divide em duas fases (uma aquosa e outra orgânica) evidenciando a não miscibilidade dos solventes. Em razão da diferença de densidade entre o éter etílico (utilizado para solubilizar os compostos orgânicos) e a água (produto da reação de neutralização), a fase inferior no funil de decantação é a fase aquosa, pois sua densidade é próxima à 1,00 g/mL, enquanto a fase superior é a fase orgânica, pois a densidade do éter etílico utilizado equivale à 0,712 a 0,714 g/mL. Observa-se que a fase aquosa leva uma coloração marrom. Isso evidencia que houve transferência de α-naftilamina para a fase aquosa juntamente com o ácido benzóico, agora como sal solubilizado benzoato de sódio. Após ser repetido o processo de adição de bicarbonato de sódio na fase orgânica, foi separada a fase aquosa e posteriormente acidificada com HCl (ácido clorídrico) concentrado, para que o benzoato de sódio voltasse a ser ácido benzóico (figura 2). Figura 2 – Reação de precipitação (Benzoato de sódio e Ácido clorídrico concentrado) Fonte: https://en.wikipedia.org/wiki/Organic_chemistry [7] A acidificação foi feita com o erlenmeyer em banho de gelo, já que a temperatura baixa diminui a solubilidade do ácido benzóico, o que auxilia na formação do precipitado. A adição de ácido sulfúrico levou o benzoato de sódio a se tornar novamente ácido benzóico, liberando vapor (processo exotérmico), que ao ser levado ao banho de gelo se cristalizou. Este procedimento usa como conceito a diferença de solubilidade dos compostos em meio ao solvente (ácido sulfúrico). Parte II – α-naftilamina Para a separação da α-naftilamina tratou-se a fase orgânica, contendo agora Naftaleno e α-naftilamina dissolvidos em éter etílico, com ácido clorídrico 0,25N. O ácido foi usado para promover uma reação de neutralização com a α-naftilamina, uma vez que o ácido tenderá a reagir preferencialmente com a base. Figura 3 – Reação de protonação do grupo amina Fonte: Fonte: https://en.wikipedia.org/wiki/Organic_chemistry [7] Nesta reação ocorre a protonação do grupo amina, ou seja, o grupo amina fica com um hidrogênio a mais em sua estrutura. Por efeito da reação com a solução de ácido clorídrico, nesta etapa também ocorre separação de fases (aquosa, devido a água na solução de ácido clorídrico; orgânica, devido a presença de éter etílico), novamente causada pela não miscibilidade dos solventes e pela diferença de densidade a fase aquosa fica abaixo da fase orgânica. Repetindo o mesmo procedimento três vezes com a fase orgânica a fim de reagir totalmente a base com o ácido, a fase aquosa resultante foi submetida a reação com NaOH (hidróxido de sódio) a fim de desprotonar o grupo amina. A fase aquosa foi mantida em banho de gelo para facilitar na precipitação da α-naftilamina. Figura 4 – Reação de desprotonação do grupo amina Fonte: https://en.wikipedia.org/wiki/Organic_chemistry [7] Parte III - Naftaleno Restando apenas a fase orgânica contendo éter etílico (solvente) e naftaleno, esta foi levada a capela de exaustão para eliminar o solvente através de evaporação, deixando apenas o naftaleno. Discussão Ambas as partes experimentais (exceto a parte III onde o solvente foi separado pela evaporação do solvente) foram filtradas a vácuo, separando assim o precipitado do solvente. Posteriormente os precipitados foram pesados, possibilitando o cálculo de rendimento de cada composto, dispostos na Tabela 1, a partir da Equação 1. Tabela 1 – Rendimento dos compostos orgânicos Composto OrgânicoMassa inicial (g) Massa final (g) Rendimento (%) Naftaleno 1,0023 0,18351 18,3 Ácido benzóico 1,0063 0,0739 7,34 α-Naftilamina 1,0137 0,0276 2,72 Eq. [1] Os rendimentos encontrados não se aproximam dos valores esperados. A causa deste resultado não satisfatório pode ser a ineficiência da aplicação desta técnica de separação, visto que parte da fase aquosa fica retida no funil de decantação e em outros momentos a fase orgânica é retirada juntamente com a fase aquosa, ocasionando a perda de produtos intermediários. Além disso, no momento de realizar a filtração à vácuo, o papel filtro e o filtro se apresentaram obstruídos diversas vezes ao longo do processo, já que a fase líquida do filtrado se mostrava um tanto quanto oleosa, e na tentativa de limpá-los, houve perda do material. Questão: Este método de separação poderia ser utilizado para separar a mistura: Antraceno, Naftaleno e ácido para- hidroxibenzóico? O método utilizado anteriormente não seria eficaz para separar estes três compostos, posto que o antraceno e o naftaleno não se separariam com esta técnica já que não diferem-se nas propriedades usadas para separação. Neste caso ambos compostos não apresentam caráter ácido-base, ou seja, não se separariam quando submetidos a diferentes reações de neutralização (como feito para o ácido benzóico e a α-Naftilamina anteriormente). Figura 5 – Estrutura do Antraceno, Naftaleno e Ácido para-Hidroxibenzóico Fonte: https://en.wikipedia.org/wiki/Organic_chemistry [7] 6. Conclusão Do ponto de vista técnico da prática, o resultado não se mostrou de acordo com o esperado, visto que os valores das massas finais das substâncias obtidas na separação e extração da mistura inicial são consideravelmente distantes dos valores das massas iniciais. Entretanto, do ponto de vista didático, pode-se dizer que a prática foi além de cumprir seu objetivo de fornecer um aprendizado mais aprofundado a respeito de separação e extração de misturas através de um experimento; ao tempo que conceitos de interações intermoleculares também puderam ser trabalhados bem como pode-se notar como a diferença das forças de interação é determinante em cada tipo de reação. 7. Referências Bibliográficas [1] NOVO, Lísias Pereira, Determinação da relação dos parâmetros de solubilidade de Hansen de solventes orgânicos com a deslignificação organossolve de bagaço de cana-de-açúcar, disponível em <http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/75/75134/tde-17042012-170249/publico/ LisiasPereiraNovoR.pdf> acesso em 15 de abril de 2017. [2] QUEIROZ, Sonia C. N., et all, Métodos de extração e/ou concentração de compostos encontrados em fluidos biológicos para posterior determinação cromatográfica, Instituto de Química, Universidade Estadual de Campinas, Quim. Nova, Vol. 24, No. 1, 68-76, 2001. [3] Química Orgânica Experimental I, Departamento de Química Orgânica/UFRGS, QUI02 223, disponível em <http://www.iq.ufrgs.br/dqo/poligrafos/poligrafo_223_ed2012_1.pdf> acesso em 15 de abril de 2017. [4] SILVA, Marco Antônio Alves, Extração, disponível em <http://www2.connection.com.br/marcoaas/aula/apostilas/qoexp1_cap5.pdf>, acesso em 15 de abril de 2017. [5] SOLOMONS, T. W. G.; FRYHLE, C. Química Orgânica. 9. ed. v.1, New York, 2003. [6] VOGEL, Arthur Israel, Qualitative Organic Analysis, 5ª ed./rev. p.166. [7] Figura 5 <https://en.wikipedia.org/wiki/Organic_chemistry> acesso em 17 de Abril de 2017
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