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História da cidadania Introdução, Jaime Pinsky O autor começo o texto com um questionamento “o que é ser cidadão?” E responde, que é aquele que tem direito a vida, a liberdade, a propriedade, a igualdade perante a lei, ou seja, aquele que tem direitos civis. De maneira lockeana, com suas leis naturais e inalienáveis. Entretanto, ser cidadão também é ser um agente político, que participa do destino da sociedade, pode votar, ou seja, aquele que tem direitos políticos. Mas a democracia não vive somente de direitos civis e políticos, ela depende dos direitos sociais, que a asseguram, em toda sua amplitude, e tais direitos que garantem ao indivíduo a participação na riqueza coletiva, ou seja, que tem direito à educação, ao trabalho, ao salário justo, à saúde, e à uma velhice tranquila. O livro, em si, é uma análise do processo histórico que levou a sociedade ocidental a conquistar direitos, e por consequência, a formação da cidadania plena. Portanto, em sua análise ele entende que, como conceito histórico, a cidadania varia no tempo e no espaço. Ser cidadão na Alemanha, ou no Brasil são coisas diferentes, porque, segundo o autor, existem regras que definem quem é ou não titular da cidadania, nesse sentido, por exemplo, ele demonstra que o conceito e a prática, da cidadania, vem se alterando ao longo dos últimos duzentos ou trezentos anos. A abertura maior, ou menor, do estatuto do cidadão para sua população, como a incorporação de imigrantes à cidadania, o grau de participação política de diferentes grupos, como as mulheres, negros, dos analfabetos e outros grupos minoritários, o direitos sociais, incluindo a proteção social oferecida pelos estados aos que necessitam dela, são todas as circunstâncias que alteram o conceito e a prática da cidadania. E nesse aspecto, o autor propõe que a aceleração do tempo histórico, que ele explica o que seria, e a consequente rapidez das mudanças faz, com que aquilo, que socialmente era se considerado uma perigosa quebra da ordem, agora é algo comum, ou natural, mas nada aqui é natural, tudo é, essencialmente e perfeitamente, social. Como exemplo, ele explica o direito ao voto para as mulheres, ou, a participação dos negros na política de modo geral, eram considerados como um absurdo. Ou, sobre o direito a voto está vinculado a propriedade de bens, ou por estar em uma determinada classe, função, ou ter titularidade de cargos, e em alguns países, estar em determinada religião. Outro ponto, que ainda está em debate é a função do estado, seus deveres, alguns ainda, como o autor explica, confundem assistencialismo com o dever do Estado, que é, com poder público, garantir um mínimo de renda a todos os cidadãos e o acesso a bens coletivos, tais como saúde, educação e a providência, respeitando tanto direitos civis quanto políticos. E por isso, o autor conclui que é possível afirmar a não existência de uma sequência única, determinística e necessária para a revolução da cidadania em todos os países, e isso também, não nos permite, contudo, dizer que inexiste um processo de evolução que marcha da ausência de direitos para sua ampliação, com exemplos de processos de luta, como a revolução francesa e americana, ou a independência dos Estados unidos, que demonstram o romper do princípio de súditos para estruturar os direitos e deveres de um cidadão. Por fim, o autor afirma, que de forma mais ampla, a cidadania é a expressão concreta da democracia. Ao longo desse texto ele explicará cada um dos tópicos, de maneira bem simples, e falando sobre quem escreveu. De modo geral, o livro é dividido em quatro partes, com tópicos diferentes, e com autores diferentes. Pré história da cidadania Hebreus - Os profetas sociais e o Deus da cidadania, Jaime Pinsky O autor começa o texto explicando que é um equívoco atribuir aos hebreus, antecessores dos judeus modernos, a criação do monoteísmo, embora, como ele expõe, seja algo empolgante e que ainda esteja em alguns livros didáticos, que estão desatualizados, é difícil defender tal ideia. Como ponto, ou argumento, ele fala sobre o caso de Aton, concebido no ano de 1375 a.C. pelo faraó Amenophis IV, no Egito. Ou, outro exemplo, são as batalhas travadas por grupos tribais rivais, que recorriam, cada um, a seu Deus. E por muito tempo, explica o autor, que o Deus dos hebreus era assim por muito tempo, como uma divindade tribal, senhor dos exércitos, com função de assegurar a vitória, de forma mais implacável, e proteger seus seguidores. E ele coloca um exemplo: “Jericó estava cercada e encerrada por causa do filhos de Israel: ninguém saía e ninguém entrava. O senhor disse a Josué. “Não os temas, pois amanhã, a esta mesma hora, eu, eu os entregarei todos, mortos, a Israel”. O Senhor os entregou às mãos de Israel que os derrotou e perseguiu[...] Ele os destroçou a ponto de não lhes deixar nenhum sobrevivente. (Josué, 11,6 e 8) Portas, elevai vossos frontões! Elevais-vós, pórticos antigos! Que entre o rei da glória! -Quem é o rei de glória? -O Senhor, forte e valente, O Senhor, valente na glória. (Salmos, 24, 7-8)” (Pág. 16) E o autor deixa claro, não é exclusivo dessa religião, antes e depois, os povos ainda tinham seus deuses guerreiros, que creditaram parte do seu mérito em batalha a seu Deus, outro exemplo, seria a expansão muçulmana, no final do primeiro milênio, como nas cruzadas, eles se baseavam num Deus guerreiro assim como os hebreus. E nesse momento o autor separa qual seu ponto no texto, ele entende que não foi isso que os hebreus deixaram para a civilização de modo geral, seu legado era somente de uma concepção de Deus que não se satisfazia em ajudar exércitos a vencerem batalhas, mas que exigia um comportamento ético, por parte de seus seguidores. Um deus que pouco se preocupava em ser objeto de idolatria, mas muito em problemas vinculados à exclusão social, pobreza, fome e a solidariedade. Monoteísmo e monoteísmo ético. Bom, nesse momento ele começa a análise dessa concepção de Deus, revolucionária, e afirma “ela se desenvolve dentro de condições históricas específicas, de uma realidade social única”. E propõe uma pergunta: se, durante muito tempo, os hebreus cultuaram um deus que não se distanciava tanto do se seus vizinhos, o que os levou a conceber esse deus tão desprendido a ponto de exigir que as pessoas pensassem umas nas outras antes de pensar nele, o próprio Deus? É quase como um deus que se preocupasse com a cidadania, de forma anacrônica. Na concepção religiosa judaica, deus, o próprio, se revelou aos hebreus pelo motivo que ele são, pela simples razão, o povo eleito, entretanto, o autor busca uma análise racional do fato, deixando de lado o aspecto místico. Cronologicamente, o monoteísmo ético não se encontra no período tribal, nem durante o reinado do sul, com primeiro rei; de Davi, que segundo o autor, seria o verdadeiro criador da monarquia unificada; de Salomão, o grande conquistador, que definiu as fronteiras, com armas e com a sabedoria, mas tem como surgimento na decadência da monarquia, após a separação, que dividiu a monarquia nos reinos de Judá, ao sul, e de Israel, ao norte. Ora, a doutrinação dos chamados profetas sociais, base das grandes religiões ocidentais, como cristianismo, judaísmo e islamismo, estabelece os fundamentos do monoteísmo ético, e que se constitui, politicamente, no que a historiografia chama de pré-história da cidadania, nesse sentido, o autor tem como objetivo nessa análise examinar as condições históricas do surgimento do monoteísmo, e tão quantas as que permitiram a manutenção dos valores ao longo dos mais de 25 séculos, e além disso, propõe demonstraras formas e os modos de apropriação do monoteísmo ético, devidamente transformado, pelo mundo judaico, assim como em outras religiões. O paradoxo da superioridade ética. O autor começa o texto trazendo um dos principais motivos de existir uma coesão e forte identidade em torno das práticas e rituais, que se vem pela discriminação que os judeus sofreram. Comemoração do datas, rezas, costumes e tradições eram adaptadas em diferentes locais e épocas, de maneira para manter o elo que conecta cada judeu. Como o autor afirma, é, de certo modo, fácil perceber a permanência das práticas judaicas, o que é difícil é encontrar o que seriam os valores, os elementos não palpáveis, que permanecem com o povo.Em outras palavras “quais seriam os elementos comuns entre um judeu persa e um francês, ou um judeu russo e argentino?”. Os valores, explica o autor, para os mais religiosos são evidentes e derivam da própria crença, em Yahvé, ou, Javé, que seria um dos nomes de Deus na bíblia sagrada cristã, assim como Jeová, e que etimologicamente, o nome Javé tem origem do hebraico, com tetragrama YHWH, significando “ele faz existir”. A devoção, e certas práticas, serão os elementos comuns que ligaram o judeu russo com o argentino. Eretz Israel, ou, a terra de Israel, é para os nacionalistas, o elo que ligam todos os judeus, que é o ponto de partida e, no fim da história, o ponto de chegada. Houve por muito tempo, uma terra sem povo e um povo sem terra, para o autor. Mas, esses aspectos se ligam a um, a ideia de “povo eleito”, que povoava os sonhos dessa etnia marcada, que como vimos ao decorrer da história, pela, frequente, marginalização e pelo desprezo. Nesse momento o autor vai analisar alguns autores judeus, de diferentes locais e épocas, mas que representavam em suas obras, de forma semelhante, e salientando o orgulho que a comunidade judaica tinha em ter baixa incidência de bêbados, ladrões e assassinos. Ora, o autor explica que, a pressão da comunidade com seus membros a fim de terem bons comportamentos, mas de modo geral, comportamentos aceitos por essa sociedade, se vem por conta da perseguição que sofriam dos governantes, como estratégia de sobrevivência, mas é de certa forma ingênua tal atitude, achando que a perseguição estaria ligada a bom comportamento do grupo. Mas era muito forte tal pressão, que se tornou institucional dentro das comunidades, onde quem não seguisse tais ordens de conduta, eram ameaçados a marginalização total. E essa era a explicação pela qual o embasamento teórico-religioso de cobrança pelo grupo, especialmente mas não só, nas comunidades judaicas, se propõe como superior, na ética, a de outras religiões. O autor propõe que a prática de ética é o argumento fundamental na diferenciação entre um judeu e um não judeu, ou gentio. A ideia de superioridade ética é frequente em obras de autores judeus, reafirmando sua existência por ser o detentor uma missão, que se confirma no sofrimento de seu povo. Ou seja, nesse sentido, o negativo, como sofrimento, se transforma no positivo. Nesse momento o autor apresenta o orgulho no sofrimento em nome de uma missão, que se encontra na literatura judaica. Ele começa sua análise com o Sholem Aleichem, escritor ucraniano, que escreveu diversos contos, em Iídiche, sobre o mundo judaico nas pequenas cidades da Europa Centro-oriental, como O violinista no telhado, de 1894, que se percebe, de maneira sutil, a ideia de uma superioridade ética sobre os gentios, e com a representação dos personagens judeus quase sempre como pobres, miseráveis, e sempre temerosos e humilhados pelos gentios. Outro, escritor seria o André Schwarz-Bart, romancista polonês, vencedor do prêmio literário francês, Goncourt, com sua obra O último justo, de 1959, que para Pinsky “que mostra não apenas a carga de sofrimento necessário imposto por Deus a todos os judeus, como ainda a existência de, entre estes, um pequeno número de eleitos, os justos, que com seu sofrimento teria por objetivo redimir toda a humanidade” (Pág. 19), ora, martírio do povo. Para isso, o autor propõe outra obra como contra ponto, com título de O complexo de Portnoy, de Philip Roth, lançado em 1969, escrito por um romancista, e sempre associado à educação e a literatura judaica, a obra apresenta a revolta de um personagem contra o judaísmo que é “obriga a carregar”, mas não consegue se livrar de sua missão em terra, e percebe que a força da missão era maior que a capacidade de fugir dela. Quando o presente se apropria do passado. Nessa parte do texto o autor propõe que os teólogos, que pensavam o judaísmo, também refletiam sobre tais questões e buscavam responder e resolver o paradoxo do povo eleito, que não pode viver no seu território próprio e não consegue ser reconhecido pelos outros povos, que supostamente, não foram reconhecidos por Deus. Nisso, o autor traz algumas visões sobre isso, como a do historiador Simon Dubnow, que transforma a vida judaica na diáspora no grau mais elevado se existência nacional, assim, demonstrando historicamente a sua superioridade. Ele propõe que uma nação pode passar por três estágios: tribal, político- territorial e o histórico-cultural. E para ele, explica o autor, somente os judeus teriam chegado a última dessa etapa, despindo-se de “características externas” como território, Estado, Independência política e, apesar de tudo, mantendo a vida social própria e autônoma interna. E como contraponto, a visão histórica, temos a religiosa, Ahad Haam, escritor e pensador, acreditava que a missão judaica era baseada na espiritualidade, ora, segundo ele, a sobrevivência do povo judeu teria se devido ao poder espiritual, vitorioso em seu combate ao poder material. Assim, carregando novamente a antiga fórmula de “aceitar” o sofrimento da missão. Com isso, volta a questão perante a superioridade moral e ética, quem criou o monoteísmo ético? A ideia de um Deus que não apenas conduz os exércitos, como também exige um determinado comportamento, aquele que pune os homens não pela falta de cumprimento de rituais, mas por atitudes não piedosas para com os semelhantes, quem desenvolveu? E assim, a ética dos judeus se manteve perante décadas viva, superando realidades históricas diferentes, modos de produção que nada tem a ver com o tribalismo da época dos juízes, ou o fracasso escravista do tempo dos monarcas de Judá e Israel. Ora, existe um salto comum na história de incorporação do passado como monopólio ético, e explica o autor, um judeu do século XXI esgrimir com a criação como uma criação sua, do monoteísmo ético, tem o mesmo valor de um grego alegar ser herdeiro de Aristóteles, ou, um camponês egípcio sentir-se o construtor das grandes pirâmides, ou Hitler, com seu arianismo pseudocientífico, alegando ser um ser humano superior, por conta de seu sangue ou herança cultural. Mas o ponto do autor é seguinte: uma vez criado, um valor cultural, seja ele uma música, uma pintura, um pensamento ou um livro, passa a fazer parte do patrimônio cultural da humanidade e não mais de pessoas que, por coincidência, nasceram no mesmo território geográfico em que esse bem foi criado, ou, de descendentes genéticos ou culturais dos criadores, daquele bem. Portanto, continua o autor, vale mais pensar mais e viver de acordo com os ensinamentos dos profetas, do que alegar a herança e viver em desacordo com a essência de suas pregações. Isso é, particularmente, válido para os que confundem fé com ritual, e ambos com as práticas sociais determinadas pelas religiões. Nesse caso, os antigos profetas não estavam preocupados com questões teológicas ou rituais, mas sim, com o comportamento do povo judeu. Com isso, o autoraté traz um defensor do ritualismo que se curva a tal evidência, o biblista russo-israelense Iejeskel Kaufmann: “O que se nega [nos textos dos profetas sociais] não é o ato de culto do indivíduo malvado, o que seria inaceitável para a divindade tendo em vista o caráter pecaminoso do ofertante. (...) O que os profetas condenam é o culto de todo o povo: suas festividades, sacrifícios, templos, cantos etc. (...) A doutrina da primazia da moralidade implica uma revolução nos conceitos religiosos; retira do culto todo o seu valor inerente e absoluto” (Pág. 20). Bom, e nisso, o autor volta a questão principal: como e por que o monoteísmo ético se desenvolveu-se entre os hebreus, no século VIII a.C e com os profetas? Profetas e monoteísmo. Bom, a ideia de um profeta, explica o autor, não é uma criação, antigos povos que habitavam a Palestina, os cananeus, já tinham pessoas com a função semelhante, de vidente. Entretanto, a palavra profeta, ou Nabi ou Navi, designava originalmente uma espécie não muito confiável de gente que afirmava prever o futuro. Ora, alguns eram loucos, desequilibrados, outros francamentes megalomaníacos, tais homens ascéticos, falavam em nome de uma divindade, sempre procurando, em reinos, um lugar para falar e ser ouvido. E de fato eram, e se tornaram uma das figuras históricas mais populares, que ainda existem, mas muitos sem relevância, com poucas exceções, e com certeza, sem nenhuma importância histórica. Mas a pergunta, que o autor quer responder é: por que então alguns profetas alcançaram a dimensão de verdadeiros criadores, que concebiam uma nova forma de ver e pensar o mundo, ou a divindade em questão, e ainda mais, a relação das pessoas com isso? Para o autor, os grandes profetas, utilizaram-se de uma exterioridade, que ele não explica o que seria, de uma forma de ser já existente e praticada por videntes, mas, dando um novo conteúdo para ela, ou seja, os profetas usam de um formato presente e familiar ao mundo que atuam, mas dando-lhe uma nova dimensão. Isaías foi um dos mais importantes profetas, considerado o “príncipe dos profetas”, nasceu e profetizou na Judéia, talvez, fala o autor, somente em Jerusalém e durante um longo período de tempo, entre os anos 740 e 701 a.C. O fato de ter uma origem social mais elevada deu acesso as principais figuras do reino, e em suas falas, explica o autor, vemos referências diversas a sacerdotes, altos dignitários e até o rei. Bom, em suas pregações falava em nome de um Deus, que embora tivesse um carácter universal, se preocupava mais em discutir sobre a realidade do reino de Judá, e faz críticas pesadas as práticas sócias e aos rituais vigentes. Segundo o autor seu texto refletia sua imagem, ou seja, no caso de Isaías, de um homem da cidade, quando descreve as coisas do que fala. Em um trecho de sua pregação é deixado claro a revolta de Deus contra o povo que “esqueceu seu dono”. “É o senhor que fala: ‘Eu criei filhos e os enalteci; Eles, porém, revoltaram-se contra mim(...) Abandonaram o Senhor, Desprezaram o Santo de Israel, e lhe voltaram as costas’.” (Isaías 1, 2-4) (pág. 22) E no trecho seguinte continua, demonstrando seu desprezo por ser reduzido a sacrifícios. “Ouvi a palavra do Senhor, príncipe de Sodoma; escute a lição de nosso Deus, povo de Gomorra: 'De que me serve a mim a multidão dos vossos sacrifícios?’ Diz o Senhor. 'Já estou farto de holocaustos de cordeiros E da gordura de novilhos cevados. Eu não quero sangue de bezerros e de bodes, quando vierdes apresentar-vos diante de mim’.” (Isaías 1, 10-14) (pág. 22) Ao concluir sua pregação é quase como se, Deus, queria que as pessoas se encontrassem, que voltem a construir uma comunidade, que em algum momento, foi desfeita. “Tirais vossas más ações diante meus olhos. Cessai de fazer o mal, aprendei a fazer o bem. Respeitai o direito, protegei o oprimido; Fazei justiça ao órfão, defendei a viúva” (Isaías, 1, 15-17) (pág. 23) Bom, após, Isaías, Amós é outro profeta que o autor traz para a discussão. Nascido em Judéia, profetizou na Samaria, durante o reinado de Jeroboão II (783-743), que foi o período de apogeu desse reinado, no sentido territorial, mas, como a obra de Amós é curta, e segundo o autor, provavelmente ele tenha atuado ao decorrer de um único ano, 745 a.C. Diferente de Isaías, Amós, teve uma origem humilde, com uma linguagem agressiva, desabusada, e com é visível sua negação ao ritualismo, e essas são as três principais características dos nove capítulos do chamado “profeta pastor”. E desde o início de sua pregação, o profeta, deixa claro a revolta de Deus com o povo que elegeu. “Ouvi a palavra que o Senhor pronunciou contra vós, filhos de Israel (..) dizendo: ‘de todos as linhagens de terra só a vós reconheci como meu povo, por isso vos punirei por todas as vossas iniquidades’.” (Amós, 3, 1-2) (pág. 23) No trecho seguinte continua, mas avisa o que o Senhor tem a dizer sobre os ricos e poderosos, a seus edifícios, templos e palácios. “‘No dia em que eu começar a punir as transgressões de Israel (...) Altares de Betel e as pontas do altar serão cortadas e cairão por terra. (...) e as casas ornadas de marfim ruirão, e uma grande multidão de edifícios será destruída’, diz o Senhor “ (Amós, 3, 14-15) (pág. 23). O Deus de Amós é esclarecido em suas vontades, ou seja, não deixa dúvidas sobre as razões de Deus, e explica que sua ira se refere a forma com qual a riqueza é distribuída e a justiça é feita. Bom, mas, em diversos momentos ele investe de forma agressiva contra mulheres, e explica o autor, é tão explícito e coerente com o resto de suas pregações, que a tese de que essas passagens tenham um caráter metafórico se torna difícil de aceitar. Em uma frase entendemos o que ele pensa das mulheres, expõe o autor, aquelas que apenas consomem, sem produzir, alimentando-se do suor dos outros. “Ouvi estas palavras, vacas de Bashan, vós que estais sobre a montanha de Samaria, vós que oprimis os necessitados e esmagais os pobres; vós que dizeis aos vossos maridos: 'trazei e beberemos’. O Senhor Deus jurou pelo seu santo nome que brevemente virão dias mais infelizes para vós, em que vós espetarão nas lanças e meterão os restos dos vossos corpos em caldeiras de ferver.” (Amós, 4, 1-2) (pág. 24) Templos, festas, sacrifícios e presentes, expõe Amós em suas passagens, tem pouco significado para Deus, ele, o profeta, continua, e contrapõe templo e justiça, ritual e vida social, aparência e conteúdo, hipocrisia e solidariedade. “Eu aborreço e desprezo as vossas festas; e vossas assembléias solenes não me dão prazer. Se vós me oferecerdes holocaustos e presentes, não os aceitarei; e não porei os olhos nas vítimas gordas que ofertares, em cumprimento de vossos atos. Aparta de mim o ruído dos teus cânticos; eu não ouvirei as melodias de tua lira. Antes corra o juízo como as águas e a justiça como ribeirão perene.” (Amós, 5, 21-24) (pág. 24) E finalmente, explica o autor, Amós, explícita a relação determinista entre o comportamento e a punição, assim como as características do Deus que estabelece uma forma de agir solidária do povo como condição necessária para que as pessoas tenham a possibilidade de encontrar a felicidade na Terra. O Deus de Amós, mesmo com sua força ameaçadora, insiste na preservação dos direitos sociais e individuais de todos: e do contrário, nenhum os preservaria, mesmo os que já os conquistaram. O comportamento ético exigido por Deus se apresenta em várias partes da bíblia e com os antigos profetas não foi diferente, sua principal função ali, era relembrar que Deus, o Senhor, escolheu esse povo e é dele que ele irá exigir. “Portanto,já que explorais o pobre e lhes exigis tributo de trigo, edificareis casas de pedra, porém não habitareis nelas; plantareis as mais excelentes vinhas, porém não bebereis do seu vinho. Porque eu conheço as vossas inúmeras transgressões e os vossos graves pecados: atacais o justo, aceitais subornos e rejeitais os pobres à sua porta. Por isso, o que for prudente se calará, porque é tempo mau. Buscai o bem, e não o mal, para que vivais, e o Senhor, Deus de todo o poder, estará convosco, como vós afirmais”. (Amós, 5, 11-14) (pág.24) A revolução nostálgica. Ora, o título por isso só já é explicativo, Amós e Isaías, atuam, como dito, no período em que a monarquia estava dividida entre Israel e Judá, dois pequenos reinos, sem força política ou econômica, porém, com uma estrutura burocrática extremamente forte, que pressupõe taxação e impostos elevados para manter a vida dessa minoria privilegiada. Porém, o crescimento burocrático e de expansão territorial e de poder político não significa necessariamente num melhora de condição de vida A monarquia criou, não apenas a casa real, mas todo uma estrutura opressiva em torno dela, seja militar, burocrática, religiosa ou ideológica. Onde dos exemplos é o templo de Jerusalém, erigido pelo terceiro rei, Salomão, com luxo e grandiosidade, logo se tornou o único centro de culto a yahavista, ou Yahavé, ou Deus, baseado em normas que ritualizam a religião e obrigam todos os súditos a visitar o templo, e lá, pagar uma taxa, o shekel. Bom, o povo aceitou a monarquia, quando ela caminhou bem, mas ao se separar as coisas foram piorando, até pouco antes do ano 1000 a.C., os hebreus tinham se dividido em 12 tribos, com suas semelhanças, como não haver reis, ou qualquer tipo de monarcas, que implicasse na hierarquização social, com divisão de trabalho, sem a propriedade privada dos meios de produção. Somente os líderes, ou os chamados juízes, que poderiam ser dividido em dois tipos, tinham alguma função mais administrativa. Como, Débora ou Samuel, tinham por função ouvir as partes de eventuais conflitos dentro da tribo, ou entre as tribos, também havia, o Sansão, é o exemplo mais evidente e não passavam de líderes guerreiros, com papel de importância em épocas de guerra ou em momentos de instabilidade entre as tribos, e essa era uma liderança passageira, ou seja, assim como os ditadores romanos, ela não se implicava na criação de mecanismos de poder ou burocráticos, sem perpetuar uma família, dinastia, ou um grupo, oligárquico, no poder. E nesse sentido, as pessoas comuns começaram a se questionar: Qual o sentido da se viver mal numa monarquia e se não seria melhor viver com os antigos, numa estrutura tribal? O texto de Samuel é exemplar sobre a criação da monarquia. “E juntando-se todos os anciãos de israel, foram ter com Samuel, em Ramata, e disseram- lhe ‘Bem vês que estão velhos e que teus filhos não seguem as tuas pisadas; constitui-nos, pois, um rei que nos julgue, como o têm todas as nações.’ Samuel, pois, repetiu as palavras do Senhor ao povo, que lhe tinha pedido um rei.(...) tomará o dízimo dos vossos trigos e do rendimento das vinhas, para ter o que dar aos eunucos e servos. Tomará também vossos servos e servas, e os melhores jovens, e os jumentos, e os empregará no seu trabalho. (...) Tomará também o dízimo dos vossos trabalhos, e vós sereis seus servos. E naquele dia que clamareis por causa do vosso rei, que vós mesmos elegestes; e o senhor não vós ouvirá, porque vós mesmos pedistes um rei’.” ( I Samuel, 4-5 e 10-18) (pág. 26) E suas “previsões” contidas no texto foram devidamente cumpridas, o rei, Saul, acaba sendo constituído. Entretanto, as pregações dos profetas ganharam força e foram ouvidas atentamente, ora, a fala dos profetas iam de encontro com os problemas que atingiam essa população, e outro argumento era simples; não era Deus que estava falando? E mesmo que fosse falado por um porta voz de Deus, suas palavras atacavam diretamente os ricos, os templos, os poderosos e pediam solidariedade com os pobres, sem contar que o ataca aos ricos era a princípio o ataca a quem marginalizou o povo escolhido. Não é errado falar que esse sonho nostálgico, que surge entre a população tem aspectos reacionários, onde o povo vivia numa nostalgia de um tempo passado, na qual eles não viveram, mas por conta da tradição oral, ele sobrevivem, onde os pobres não eram miseráveis, as viúvas eram protegidas, os ricos não eram poderosos, e não havia servidão ou dízimo a se pagar. Mas, entramos num paradoxo, nesse sentido, essa bandeira nostálgica, levantado por profetas e por parte da população carente, mesmo com viés reacionário, também era revolucionária, ora, a crítica a moral e a ética do seu período, ao idealizar uma sociedade, buscando exemplos de relações sociais passadas, criou novos modelos de uma sociedade, que seria, justa, um parâmetro até então inexistente de relação entre indivíduos. Além disso, é a primeira vez que foi ouvido tanta intensidade o grito dos oprimidos e dos injustiçados. Amós foi, provavelmente, com sua escrita e fala forte e pouco refinada, o único a ousar fazer ouvir bem alto o retrato de uma sociedade injusta, e nisso consiste esse aspecto revolucionário, ter coragem de criar novos caminhos para a sociedade superar a injustiça e ter direitos individuais e sociais como foco em sua garantia. Amós e Isaías romperam com o ritualismo, questionavam o reino, o templo, e as bases da monarquia hebraica, e foram eles, a princípio, que propuseram um deus da cidadania. Grécia - Cidades-Estado na antiguidade clássica, Norberto Luiz Guarinello. A pergunta a ser respondida neste capítulo é: como definir uma cidade-estado? O autor, começa com uma discussão sobre o que o historiador pensar sobre a cidadania, espacialmente, em quais circunstâncias, ora, imaginar no âmbito de seu próprio estado- nacional é imperativo imposto da realidade em que vivemos, nós analisamos o que nós temos em mão ou o que vivemos. Nesse sentido, qual papel cabe ao historiador, questiona o autor, da antiguidade nessa reflexão? Bom, os primeiros pensadores que se debruçaram sobre a definição que entendemos hoje como cidadania buscaram suas inspirações no mundo grego- romano, por intermédio da tradição manuscrita do Ocidente: como escritos sobre a democracia, participação popular no destino da sociedade, ou, a soberania do povo, da liberdade individual. Contudo, o que nós temos nesses manuscritos são uma versão idealizada da realidade. O autor explica que não podemos falar de uma continuidade do mundo antigo, de repetição de uma experiência passada e nem um mesmo de um desenvolvimento progressivo que unisse o mundo contemporâneo ao antigo, até por que, a cidadania dos estado-nacionais contemporâneos são um fenómeno único na história. Portanto, a contribuição do historiador da antiguidade nesse caso é a aproximação de dois mundos diferentes, mantendo sempre a consciência dessa distância, e evidenciar os processos históricos que podem iluminar os limites e as possibilidades de compreensão da ação humana no âmbito das relações individuais. E o mundo grego-romano nos permite isso. Mas, encontramos nosso primeiro problema nessa análise entre dois mundos distintos, que a princípio está na organização e na estruturação social, ora, o mundo grego-romano não se estruturava como o nosso, com estado-nacionais, mas com as cidade-estado. E esse é o problema, nós podemos definir um estado nacional, mas como um historiador pode definir o uma cidade-estado, a variedade documental sobre o assunto deixa mais complicado a definição. Seja, pela tradição escrita, pela epigrafia ou pelas fontes arqueológicas teremos diferençasentre cada uma e entre si: em relação a dimensão territorial, da riqueza, em suas histórias particulares e as diferentes soluções obtidas para conflito de entre seus componentes. Bom, a maioria das cidade-estado nunca ultrapassou a dimensão de pequena unidade territorial, as mais comuns abrigavam em volta de cinco mil, não passando disso, e quase todos estavam envolvidos com o trabalho rural. Em outros casos, como de porte médio, chegavam a aproximadamente 20 mil habitantes, mas, em alguns casos, poucos na verdade, onde havia um porto comercial ou grandes centros imperiais, que realmente atingiam a dimensão de metrópoles, com pouco mais de cem mil habitantes. Em Roma imperial, por exemplo, chegaram a um milhão de pessoas. Mas diante disso chegamos a outro ponto, a amplitude do termo em relação aos povos, culturas diferentes, seus costumes, seus hábitos cotidianos, leis, instituições, ritmos históricos e estruturas sócias, em povos como os romanos, gregos, etruscos, fenícios, “itálicos”, celtas, berberes, mas, cada um foi marcado por uma grande diversidade de projetos e soluções para seus problemas. E agora voltamos a questão, como então, ao entender que quem se propor a responder isso vai ter uma resposta parcial e genérica, perante a variedade de organizações que uma cidade-estado tem, como a definir? Os primórdios. Revolução silenciosa ou “revolução industrial”, sem indústria, assim o autor chama o processo que se dá no desenvolvimento dessa nova organização, mas, é deixado claro, no início do texto que se trata de um processo exclusivamente geográfico e não faz parte dessa história universal ideológica que existe. Nessa análise é deixado claro o processo geograficamente localizado e circunscrito, essa análise está com foco no mar mediterrâneo. Ao tratar de uma história localizada, regional, devemos englobar na equação analítica que é o processo de análise histórica todos os fatores, por exemplo, estamos tratando costa do mediterrâneo, o local, e por volta dos séculos IX e VII a.C, ou seja, é uma área periférica, pouco desenvolvida, submissa a influência da grandes impérios, que estão estabelecidos nos vales fluviais, ou seja, no oriente médio. Nesse período, que é muito importante, haverá grandes transformações econômicas e sociais, quase uma revolução, explica o autor, com paralelo entre estado-nacionais e as cidades-estados, cada uma dependeu, em sua formação, de circunstâncias e estávamos em meio de um quadro de grandes mudanças sócias e econômicas. Bom, nesse caso, essa revolução silenciosa pode ser traçada ooe vestígios arqueológicos e tanto quanto documentos mais antigos da região, essencialmente os textos homéricos, e nesse sentido, entre os séculos IX e VIII a.C. houve um intercâmbio de pessoas, bens e ideias por todo o mediterrâneo, mas sobretudo, sua causa principal está nos impérios guerreiros do oriente médio, em sua busca por matérias primas, a desse momento histórico, era o ferro. Nessas trocas, outras coisas se assimilaram ao cotidiano mediterrâneo, como a arquitetura em pedra, fabricação de artigos em bronze, que de modo geral, estavam relacionados a manipulação de materiais preciosos. A organização comunitária. Portanto, continua o autor, as cidades-estados surgiram de um quadro de crescimento econômico e social. Difundiram-se pelo mediterrâneo, na Grécia ocidental, Ásia menor, hoje Turquia, e na fenícia, atual Líbano. E esse modelo de cidades-estados sobrevivem e se manteve vitorioso até o império romano. Democracia Aprendendo a votar, Letícia Bicalho Canêdo. A prática do voto durante o primeiro período republicano. No que se refere a termos de igualdade civil, o novo regime, a república proclamada em 1889, para a surpresa das províncias, e com o apoio do exército, não houve inovações. O sufrágio censitário foi abolido, mas ainda é necessário a capacidade de ler e escrever para participar do corpo eleitoral. A exclusão dos analfabetos, por exemplo, gerou uma dupla discriminação, por que ela também isentava o governo do dever de fornecer a instrução primária, que constava do texto imperial. “Exigia-se para a cidadania política uma qualidade que só o direito social da educação poderia fornecer e, simultaneamente desconhecia-se este direito” (Carvalho, 1987, p.45) Bom, com isso, continuavam excluídos os menores de 21 anos, alienados mentais, praças da pré ( ou simplesmente praça, é um militar que pertence à categoria inferior da hierarquia militar.), religiosos de ordens monásticas ou congregações e os mendigos. A autora levanta alguns dados, como, 50% da população adulta era analfabeta, 65% em 1900, 60% em 1930, e além disso, as mulheres também não podiam votar, segundo um senador francês, em 1919, “as mãos das mulheres foram feitas para serem beijadas e não para manusear listas de votos”. Ou seja, 80% da população não podia votar, estavam afastadas do direito fundamental de uma república. Segundo o jornalista Assis Barbosa “Eleições não era coisa que merecesse respeito. Nem na monarquia, nem na primeira república” e isso é diante de um quadro, onde o judiciário foi afastado do alistamento eleitoral, assim, havendo o retorno da politização do processo de qualificação. Trabalhadores Direitos sociais no Brasil, Tânia Regina de Luca. O texto começa duas citações, a primeira do sociólogo Pierre Bourdieu e a segunda de Günter Grass, romancista alemão. Pierre Bourdieu: (...) nossa sensação de ter perdido a tradição do iluminismo está ligada à inversão de toda a visão de mundo imposta pela visão neoliberal que hoje predomina… Acho que a revolução neoliberal é uma revolução conservadora… e uma revolução conservadores é algo muito estranho: é uma revolução que restaura o passado e se apresenta como progressista, que transforma a regressão em progresso. É essa a grande força das revoluções conservadoras, das restaurações “progressistas”. (Ela não deixa claro de onde tirou essa citação) Günter Grass: O que se vende hoje como neoliberalismo é um retorno aos métodos do liberalismo do século XIX. (Folha de S. Paulo, 19/12/1999, Mais!, p. 12) Bom, após isso a autora começa seu texto indicando que os debates em torno da cidadania, como entendemos hoje em dia, surgem no interior de Estados nacionais, isto é, sob o impacto de transformações sociais introduzidas pelo capitalismo. E a presença dos trabalhadores na cena política, nesse sentido, desempenhou papel central na concretização de mecanismos mais amplos de participação na vida pública e, também, na busca por uma divisão mais justa e igualitária da riqueza social. No Brasil, explica autora, a instauração do mercado livre de trabalho data no final do século XIX, com a abolição da escravatura e pela proclamação da república. Essa nova ordem política, consagrada pela constituição de 1891, estendeu o direito de votar e ser votado a todo cidadão brasileiro do sexo masculino, maior de 21 anos, excluindo mendigos, analfabetos ou religiosos sujeitos a voto de obediência que importasse na renúncia de liberdade individual. Assim, como os direitos civis foram consagrados nos 31 incisos do artigo 72, entretanto, não havendo nenhuma menção aos direitos de natureza social. A distância entre a letra de lei e a efetivação prática da mesma é gigantesca, e além disso, a maioria da população vivia nas áreas rurais e estava submetidas aos desígnios dos grandes proprietários. Em 1920, apenas 16,6% dos brasileiros residiam em cidades, com vinte mil habitantes ou mais. E enquanto isso a taxa de analfabetismo girava em torno de 70%. Ou seja, nesse aspecto, a autora deixa claroque o fato de direitos civis e políticos estarem num âmbito quase ficcional e longe de a realidade de muitos é por conta disso, outro, ponto são os resultados das eleições de 1889 a 1930. Bolívar Lamounier, cientista político acerta ao afirmar que se tratava de um “sistema rigorosamente oligárquico, no qual uma oposição pacífica não tinha menor chance” e isso se confirma na imagem. Nenhum candidato governamental nunca recebeu menos que 50% dos votos válidos e isso fica mais espantoso com a porcentagem da população que comparecia aos urnas, 1,44% até 5,65% da população. Justamente no período republicano quando o surto industrial emergiu no centro-sul do país, e com isso, os trabalhadores no cenário político. A concepção vigente em grande parte da primeira república, que era nítida a influência liberal, onde relegava, ou melhor, afastava as relações entre os assalariados e patrões no âmbito privado. Ou seja, não havia interferência estatal nesse mercado, mesmo ainda que o decreto 1637, de 1907, reconhecia o direito de livre associação e reunião para todos os que exercessem profissões similares ou conexas, tendo em vista a defesa e o desenvolvimento de interesses comuns. Por exemplo, as agremiações estavam livres da ingerência estatal e não dependiam de autorização prévia para funcionar. Esse, segunda a autora, é um ponto importante na medida em que se admita, pelo menos em tese, a presença no mercado de compra e venda de força de trabalho dos sindicatos, que são entes coletivos. Mas, a constituição limitava se a reconhecer o direito ao livre exercício de qualquer profissão e não atribuía ao congresso nacional competência para legislar só o tema. E nesse ponto, a inexistência de qualquer freio institucional favorece o patronato, com o argumento de que “o trabalho humano foge sempre à regulamentação, procurando sempre pontos onde possa exercer se livremente”. Operariado na primeira república.
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