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98 ©Dental Press Publishing - J Clin Dent Res. 2017 Jul-Sept;14(3):98-117 Reabilitação bucal em casos de desgaste dentário: a importância da oclusão e da adesão Oral rehabilitation in worn dentitions: the importance of occlusion and adhesion Resumo: A reabilitação em ca- sos de desgaste dentário severo demanda procedimentos restau- radores minimamente invasivos. O objetivo deste artigo foi apresentar e discutir um caso clínico de uma reabilitação bucal com abordagem de alteração da dimensão vertical de oclusão (DVO) e procedimentos adesivos, para restabelecimento da estética e adequada função do sistema estomatognático. Foram utilizadas técnicas como aumento provisório da DVO em resina com- posta, coroas anteriores do tipo “full veneer” e restaurações parciais posteriores. O planejamento crite- rioso e a correta indicação e exe- cução do tratamento atingiram as expectativas funcionais e estéticas do paciente, e permitiram uma me- nor invasividade, em comparação a tratamentos reabilitadores comuns no passado. Palavras-chave: Di- mensão vertical de oclusão. Rea- bilitação bucal. Cerâmica dentária. Facetas dentárias. Abstract: Severe tooth wear treat- ments demand minimally invasive re- storative procedures. The aim of this article was to present and discuss a clinical case of an oral rehabilitation with occlusal vertical dimension (OVD) management and adhesive procedures achieving satisfactory aesthetics and adequate stomatognathic function. Pro- visional OVD augmentation with com- posites, anterior “full veneers” and pos- terior partial restorations were utilized. Comprehensive planning and the cor- rect treatment indication and execution achieved a satisfactory result, regarding both aesthetics and function, allowing a less invasive approach in comparison to previously common restorative treat- ments. Keywords: Vertical dimension of occlusion. Oral rehabilitation. Dental ceramic. Dental veneers. Márcio Buffoni D’Ávila e Silva1 José Pedro Issy Júnior2 Ricardo Moreno Bonilha Neto3 Thiago de Oliveira Tomaselli2 Márcio D’Ávila e Silva1 Endereço para correspondência: Márcio Buffoni D’Ávila e Silva Rua Marechal Floriano, 129, Centro – São José do Rio Pardo/SP CEP: 13.720-000 – E-mail: marciobdavila@hotmail.com Como citar este artigo: D’Ávila e Silva MB, Issy Júnior JP, Bonilha Neto RM, Tomaselli TO, D’Ávila e Silva M. Oral rehabilitation in worn dentitions: the importance of occlusion and adhesion. J Clin Dent Res. 2017 Jul-Sept;14(3):98-117. Enviado em: 02/05/2017 - Revisado e aceito: 26/06/2017. DOI: https://doi.org/10.14436/2447-911x.14.3.098-117.oar 1) Clínica particular (São José do Rio Pardo/SP, Brasil). 2) Clínica particular (Ribeirão Preto/SP, Brasil). 3) Clínica particular (Franca/SP, Brasil). AP Os autores declaram não ter interesses associativos, comerciais, de propriedade ou financeiros que representem conflito de interesse nos produtos e companhias descritos nesse artigo. O(s) paciente(s) que aparece(m) no presente artigo autorizou(aram) previamente a publicação de suas fotografias faciais e intrabucais, e/ou radiografias. Reabilitação bucal em casos de desgaste dentário: a importância da oclusão e da adesão 99 ©Dental Press Publishing - J Clin Dent Res. 2017 Jul-Sept;14(3):98-117 INTRODUÇÃO Casos de dentição afetada por desgaste se- vero estão cada vez mais comuns na população e passaram a ter um novo horizonte de possibi- lidades de tratamento com a evolução da Odon- tologia Adesiva e dos materiais cerâmicos ricos em sílica1-9. As restaurações parciais posteriores e os laminados cerâmicos vêm demonstrando al- tos índices de sucesso, e foram incorporados ao arsenal de alternativas do reabilitador2,10-12. Assim, há uma diminuição significativa na necessidade de desgaste de estrutura dentária sadia e até na indicação de tratamentos endodônticos com fina- lidade protética13. Um protocolo funcional e estético para reabi- litações de boca toda requer diagnóstico, prog- nóstico e plano de tratamento bem definidos14. Os objetivos da terapia reabilitadora para desgas- tes consistem em devolver uma adequada relação dentária e maxilomandibular, essencial para a harmonia oclusal, com a articulação em relação cêntrica (RC), oclusão mutuamente protegida e sem a presença de contatos deflectivos ou inter- ferências, além de reduzir a hipersensibilidade e melhorar a estética como um todo13-14. De acordo com Fradeani et al.13, a terapia com procedimentos protéticos minimamente invasivos para a reabilitação de dentições desgastadas se baseia em quatro pontos-chave: 1) aumento da di- mensão vertical de oclusão (DVO), 2) preparos mi- nimamente invasivos, 3) restaurações monolíticas posteriores em dissilicato de lítio; e 4) cimentação adesiva. Dessa forma, é possível evitar desgastes de estrutura dentária e restabelecer a harmonia oclusal, além de se interromper a progressão do desgaste dentário. Assim, o objetivo do presente trabalho é relatar a sequência clínica de uma reabilitação bucal em dentição desgastada, com aumento provisório da DVO em resina composta e finalização setorizada com restaurações cerâmicas em dissilicato de lítio cimentadas de forma adesiva. RELATO DE CASO CLÍNICO O paciente, do sexo masculino, 55 anos de idade, procurou tratamento alegando insatisfação com a aparência estética do sorriso e percepção de desgastes dentários em progressão. No aspec- to extrabucal, foram notadas desarmonias estéti- cas, bordas incisais desalinhadas (Fig. 1A) e a não exposição de dentes superiores e inferiores quan- do em repouso (Fig. 1B). Ao exame intrabucal (Fig. 2), ficou evidencia- da a desarmonia da curva de Spee, desgastes, fraturas e relação inadequada dos sextantes an- teriores. O desgaste da face palatina demonstrou exposição dentinária (Fig. 3). Figura 1: Aspecto inicial. A B D’Ávila e Silva MB, Issy Júnior JP, Bonilha Neto RM, Tomaselli TO, D’Ávila e Silva M 100 ©Dental Press Publishing - J Clin Dent Res. 2017 Jul-Sept;14(3):98-117 Nas imagens oclusais (Fig. 4), foram notadas res- taurações prévias e a ausência de quatro pré-mola- res, contribuindo para a curva de Spee acentuada. O primeiro passo do tratamento envolveu a adequação neuromuscular, ou desprogramação, onde foi utilizada uma placa oclusal acrílica livre de edentações, permitindo uma desoclusão sem interferências (Fig. 5). Após um período de 15 dias, foi confeccionado um jig para reposicionamento e registro maxilomandibular em RC (Fig. 6A). O espa- ço interoclusal conseguido com o jig foi ajustado e testado foneticamente (teste de Silvermann), além de medidas faciais com compasso de Willis. A distância interoclusal obtida com o jig provi- denciou espaço suficiente para um projeto reabilita- dor aditivo, restabelecendo a harmonia das curvas oclusais e contatos anteriores e posteriores (Fig. 6B). O registro interoclusal posterior foi finalizado (Fig. 7). Os modelos de gesso foram montados em articulador semiajustável (ASA), sendo o superior com arco facial e o inferior com os registros em RC (Fig. 8). O encera- mento diagnóstico foi realizado restabelecendo con- tatos ideais, guias anteriores e curvas oclusais, além de melhorar forma, dimensões relativas e alinhamen- to dos dentes anteriores (Fig. 9). Devido à curva de Spee mais acentuada, a opção foi feita por aumentar a DVO provisoriamente na ar- cada inferior, de forma adesiva com resina composta aquecida. Um silicone por adição transparente (Eli- te Transparent, Zhermack, Badia Polesine, Itália) foi acomodado sobre o enceramento inferior. Após po- limerização e acabamento, foi obtida uma matriz que copiou fielmente os detalhes do enceramento, translúcida o suficiente para a permitir a fotopoli- merização(Fig. 10). Os dentes inferiores receberam condicionamento com ácido fosfórico a 37% e sis- tema adesivo (Single Bond 2, 3M-ESPE, Saint Paul, EUA) nas faces oclusal, vestibular (acima do equador protético) e lingual (idem), e os dentes anteriores nas faces vestibuloincisais (Fig. 11A a 11C). Figura 2: Aspecto inicial intrabucal em oclusão (A), protrusão (B) e boca entreaberta (C). Figura 3: Desgastes palatinos. A B C Reabilitação bucal em casos de desgaste dentário: a importância da oclusão e da adesão 101 ©Dental Press Publishing - J Clin Dent Res. 2017 Jul-Sept;14(3):98-117 Figura 5: Placa interoclusal ajustada sem edentações. Figura 7: Complementação do registro na região posterior. Figura 6: A) Jig para registro em RC e nova DVO. B) Espaço conseguido. Figura 4: Aspectos oclusais inferior (A) e superior (B). A A B B D’Ávila e Silva MB, Issy Júnior JP, Bonilha Neto RM, Tomaselli TO, D’Ávila e Silva M 102 ©Dental Press Publishing - J Clin Dent Res. 2017 Jul-Sept;14(3):98-117 Figura 8: Modelos montados em ASA. Figura 9: Enceramento diagnóstico. A A C E B B D F Reabilitação bucal em casos de desgaste dentário: a importância da oclusão e da adesão 103 ©Dental Press Publishing - J Clin Dent Res. 2017 Jul-Sept;14(3):98-117 Figura 10: A) Confecção da matriz transparente.B) Matriz em silicone transparente finalizada. Figura 11: Confecção do mock-up aderido para aumento provisório da DVO. Afastamento (A), condicionamento ácido (B), aplicação do sistema adesivo (C). Matriz carregada com resina composta aquecida (D), levada em posição (E) e fotopolimerizada (F). A A D B E C F B Após polimerização do adesivo, a matriz transparente foi carregada com resina compos- ta aquecida a aproximadamente 70oC (Charisma Classic cor A2, Kulzer, Hanau, Alemanha) para aumentar sua fluidez e escoamento (Fig. 11D). A matriz foi levada em posição até total adapta- ção (Fig. 11E), e cada dente foi fotopolimerizado através da matriz, por 40 segundos (Fig. 11F). A matriz foi removida e cada dente recebeu foto- polimerização direta por mais 40 segundos. Após a remoção de excessos, acabamento, ajuste oclusal e polimento, foram obtidas a nova relação maxilomandibular e a DVO provisórias, e o cor- reto alinhamento da borda incisal inferior com a linha do lábio inferior em repouso (Fig. 12). Con- sultas subsequentes semanais foram agendadas para ajustes oclusais pontuais e acompanhamen- to. Foi aguardado o período de dois meses de adaptação do sistema estomatognático, para que o tratamento fosse continuado. D’Ávila e Silva MB, Issy Júnior JP, Bonilha Neto RM, Tomaselli TO, D’Ávila e Silva M 104 ©Dental Press Publishing - J Clin Dent Res. 2017 Jul-Sept;14(3):98-117 Com a nova DVO testada, ajustada sequen- cialmente e aprovada clinicamente, deu-se início à fase de remoção setorizada da resina compos- ta, para finalização cerâmica. Foram seleciona- dos os dentes #45, #46, #35 e #36 para remo- ção das resinas e provisionalização de acordo com o novo padrão oclusal (Fig. 13). Nesse momento, todas as restaurações an- tigas (cerâmicas, resinas e amálgamas) foram totalmente removidas e todo tecido dentinário exposto foi submetido a selamento imediato da dentina (SDI) com sistema adesivo autocondi- cionante (Clearfil SE Bond, Kuraray, Tóquio, Japão), seguido da aplicação de uma resina composta do tipo flow (Tetric N Flow, Ivoclar Vivadent, Schaan, Liechtenstein) na técnica Resin Coating. Os preparos parciais posteriores foram refinados com pontas diamantadas de granulação fina e pontas do tipo Arkansas em contra-ângulo multiplicador (Fig. 14). O reten- tor metálico preexistente no elemento #36 foi mantido devido ao risco de fratura radicular na sua remoção, e esse foi o único preparo conven- cional para coroa total (Fig. 15). A estabilidade oclusal foi mantida pelos elementos anteriores e pelos dentes #37 e #47, facilitando as etapas de registro e provisionalização. Após moldagem e obtenção de modelos de trabalho, foram confeccionadas estruturas em PMMA desenhadas e fresadas em sistema CAD-CAM, para conferência da adaptação mar- ginal e registro interoclusal. As estruturas foram adaptadas aos preparos e uma resina acrílica de precisão (Pattern Resin, GC America Inc., Alsip, Il- linois, EUA) foi colocada sobre as estruturas, para registro contra os dentes antagonistas (Fig. 16). Figura 12: Aspecto da resina após acabamentos. Figura 13: Início da remoção setorizada da resina composta e preparos conservadores. A B C A B C Reabilitação bucal em casos de desgaste dentário: a importância da oclusão e da adesão 105 ©Dental Press Publishing - J Clin Dent Res. 2017 Jul-Sept;14(3):98-117 Figura 14: Acabamento dos preparos. Figura 15: Aspecto dos preparos do primeiro setor após selamento imediato da dentina e resin coating. Figura 16: Estruturas acrílicas feitas em CAD-CAM, para registro interoclusal. A B C A C D E B D’Ávila e Silva MB, Issy Júnior JP, Bonilha Neto RM, Tomaselli TO, D’Ávila e Silva M 106 ©Dental Press Publishing - J Clin Dent Res. 2017 Jul-Sept;14(3):98-117 Restaurações indiretas em dissilicato de lítio (Emax, Ivoclar Vivadent, Schaan, Liechtenstein) para os elementos #45, #46, #35 e #36 foram confeccionadas e cimentadas de forma adesiva (Fig. 17). Com a oclusão estável, foi possível optar pela sequência de preparos e moldagem da arca- da superior (Fig. 18). Preparos do tipo full veneer foram realizados de canino a canino e, também, no pré-molar #24, com o auxílio de guias de pre- paro feitas em silicone sobre o enceramento diag- nóstico (Fig. 19A e 19B). Os dentes #16 e #26 fo- ram preparados para restaurações parciais do tipo overlay, com envolvimento proximal e cobertura vestibular (Fig. 19C). A gengiva dos preparos superiores foi afastada pela técnica do duplo fio (Fig. 20). Figura 17: Restaurações em dissilicato de lítio no modelo (A) e após a cimentação (B). Figura 19: Preparos superiores finalizados. Figura 18: Início dos preparos do segundo setor. A A B CB Reabilitação bucal em casos de desgaste dentário: a importância da oclusão e da adesão 107 ©Dental Press Publishing - J Clin Dent Res. 2017 Jul-Sept;14(3):98-117 Figura 20: Preparos superiores após a finalização do afastamento gengival. Figura 21: Espaço interoclusal disponível (A) e registro com ma- terial resinoso (B). A remoção seriada das restaurações provisó- rias possibilita a conferência do espaço para o material restaurador (Fig. 21A) e a confecção dos registros interoclusais em material resinoso foto- polimerizável provisório (Revotek LC, GC America Inc., Alsip, Illinois, EUA) (Fig. 21B). As restaurações indiretas superiores fo- ram, também, fabricadas em dissilicato de lítio (Fig. 22), material que possibilita espes- suras reduzidas em coroas totais do tipo full veneer, tanto em dentes anteriores (Fig. 23) quanto posteriores (Fig. 24). Uma sutil linha de término cervical foi desenhada nos prepa- ros (Fig. 25). As restaurações foram provadas, ajustadas e cimentadas de forma adesiva com cimento resinoso (Pasta Base, Variolink N, Ivo- clar Vivadent, Schaan, Liechtenstein) (Fig. 26). O aspecto após a cimentação dos superiores evidencia a diferença entre as restaurações cerâmicas e a resina composta (dentes ante- roinferiores) (Fig. 27). O próximo setor selecionado para a fina- lização cerâmica foi o sextante anterior infe- rior. Como a resina composta desempenhou o papel de ensaio restaurador, os preparos para laminados nessa região foram feitos seguindo a estratégia sobre o mock-up, onde sulcos de orientação de desgaste foram realizados sobre a superfície da resina (Fig. 28). Com os prepa- ros finalizados e moldados(Fig. 29), os lamina- dos cerâmicos em dissilicato de lítio foram con- feccionados, provados e cimentados (Fig. 30). Verificou-se uma integração favorável entre as cerâmicas superiores e inferiores (Fig. 31). Na sequência, foram reabilitados os ele- mentos #17 e #27, também com restaurações parciais de espessura reduzida (Fig. 32). O úl- timo setor a ser reabilitado foi o dos elemen- tos distais inferiores, #37 e #47 (Fig. 33). Com as restaurações confeccionadas e cimentadas (Fig. 34), foi concluída a instalação setoriza- da da reabilitação (Fig. 35). Uma placa oclusal acrílica protetora foi instalada (Fig. 36), e o pa- ciente foi orientado a comparecer a consultas semanais de ajuste oclusal até o total conforto com as restaurações. A B D’Ávila e Silva MB, Issy Júnior JP, Bonilha Neto RM, Tomaselli TO, D’Ávila e Silva M 108 ©Dental Press Publishing - J Clin Dent Res. 2017 Jul-Sept;14(3):98-117 Figura 22: Peças cerâmicas no modelo. Figura 23: Full veneer anterossuperior (A) com espessura de 0,7 mm (B). Figura 24: Full veneer de pré-molar superior (A) com espessura de 0,5 mm (B). A C D E B A A B B Reabilitação bucal em casos de desgaste dentário: a importância da oclusão e da adesão 109 ©Dental Press Publishing - J Clin Dent Res. 2017 Jul-Sept;14(3):98-117 Figura 25: Adaptação da peça ao troquel. Figura 26: Prova das restaurações superiores (A) e cimentação (B). Figura 27: Setor anterossuperior finalizado. A A B B D’Ávila e Silva MB, Issy Júnior JP, Bonilha Neto RM, Tomaselli TO, D’Ávila e Silva M 110 ©Dental Press Publishing - J Clin Dent Res. 2017 Jul-Sept;14(3):98-117 Figura 28: Sequência de preparo sobre as resinas compostas anteroinferiores para laminados cerâmicos. A C E B D F Reabilitação bucal em casos de desgaste dentário: a importância da oclusão e da adesão 111 ©Dental Press Publishing - J Clin Dent Res. 2017 Jul-Sept;14(3):98-117 Figura 29: Preparos finalizados (A) e após afastamento gengival (B e C). Figura 30: Peças do terceiro setor sobre o modelo (A) e sendo provadas (B). Figura 31: Aspecto após cimentação dos anteroinferiores. A A B B C D’Ávila e Silva MB, Issy Júnior JP, Bonilha Neto RM, Tomaselli TO, D’Ávila e Silva M 112 ©Dental Press Publishing - J Clin Dent Res. 2017 Jul-Sept;14(3):98-117 Figura 32: Reabilitação do quarto setor (#17 e #27). A B C D E F Reabilitação bucal em casos de desgaste dentário: a importância da oclusão e da adesão 113 ©Dental Press Publishing - J Clin Dent Res. 2017 Jul-Sept;14(3):98-117 Figura 33: Preparo dos elementos #37 e #47 (quinto setor). Figura 34: Finalização do quinto e último setor. Figura 35: Aspecto final das restaurações cimentadas. Figura 36: Placa de proteção. A A B C B D’Ávila e Silva MB, Issy Júnior JP, Bonilha Neto RM, Tomaselli TO, D’Ávila e Silva M 114 ©Dental Press Publishing - J Clin Dent Res. 2017 Jul-Sept;14(3):98-117 Nas imagens realizadas 6 meses após o tér- mino do tratamento, foi possível notar a harmo- nia oclusal conseguida, tanto em RC quanto em movimentos excursivos, e o adequado desenho do novo plano oclusal (Fig. 37). As imagens extra- bucais evidenciaram a correta exposição dentária com o lábio em repouso, além do aspecto estético melhorado após o tratamento (Fig. 38). Figura 37: Aspecto final intrabucal após 6 meses em oclusão (A) e movimentos excursivos (B, C, D). Figura 38: Aspecto extrabucal após 6 meses. A C A B C B D Reabilitação bucal em casos de desgaste dentário: a importância da oclusão e da adesão 115 ©Dental Press Publishing - J Clin Dent Res. 2017 Jul-Sept;14(3):98-117 DISCUSSÃO O tratamento de dentições desgastadas não é uma preocupação nova. Em 1984, classificações e opções de tratamento desses pacientes já eram en- contrados na literatura16. Atualmente, um paciente pode ser diagnosticado com dentição severamente desgastada quando apresentar desgastes dentários com perda substancial de estrutura dentária, com exposição de dentina e perda significativa (≥ 1/3) da coroa clínica17. Diversos estudos propuseram al- ternativas, classificações e protocolos de tratamen- to para reabilitação de indivíduos com desgastes severos, sempre lançando mão de procedimentos adesivos, planejamento oclusal e a menor quantida- de possível de desgaste dentário2,4-8,18-28. O alto índice de sucesso de restaurações ce- râmicas menos invasivas, como laminados e res- taurações parciais posteriores, possibilitou ao rea- bilitador executar reabilitações totais com muito menos desgaste de estrutura dentária sadia10,20. Isso se deve, também, ao desenvolvimento de ma- teriais cerâmicos de alto desempenho estético e funcional, mesmo em baixas espessuras21. O manejo da DVO se torna um aliado essencial à mínima invasividade no tratamentos de dentições desgastadas13. No caso relatado no presente estudo, o aumento da DVO permitiu uma necessidade menor de preparo e remoção de estrutura sadia nas faces oclusais posteriores, palatinas dos anterossuperiores e vestibuloincisal dos anteroinferiores. A diminuição da DVO ocorre quando a veloci- dade do desgaste dentário excede a velocidade da extrusão dentária compensatória. É um evento mais comum em pacientes que apresentam perda ou comprometimento do suporte oclusal posterior, sobrecarregando a dentição anterior e ocasionan- do um desgaste rápido ou, até, fraturas dentárias16. Em pacientes que apresentam notável diminuição da DVO, essa pode ser restabelecida sem maiores preocupações. Em pacientes que não apresentam sinais evidentes de diminuição da DVO, o recur- so do aumento por conveniência é uma opção visando a menor invasividade dos procedimentos restauradores13. Quando indicado, o aumento de até 5 mm na DVO se comporta de forma segura e previsível, sem consequências deletérias para o sistema estomatognático29, que se adapta rapida- mente a alterações verticais moderadas30. Como forma de diagnóstico e orientação a uma nova relação dos maxilares, os testes fonéticos podem ser utilizados, com destaque para o fonema “S”31. Como a desoclusão para aumento da DVO leva, obrigatoriamente, a uma alteração na máxi- ma intercuspidação habitual (MIH), existe a opor- tunidade de se planejar e executar a reabilitação em uma nova relação maxilomandibular. Assim, a RC deve ser a primeira opção de posição a ser re- gistrada para montagem em ASA e confecção do enceramento diagnóstico13,22,32. No enceramento, devem ser aplicados conceitos de uma oclusão tão ideal quanto possível33-38. Após o correto diagnóstico e determinação do plano de tratamento, a execução dessas rea- bilitações passa por uma etapa importante: o au- mento provisório da DVO e seu acompanhamento. Seja com dispositivos removíveis ou por meio de provisionalização fixa adesiva, o tempo para que o sistema estomatognático se adapte à nova rela- ção maxilomandibular e DVO deve ser respeitado, e ajustes devem ser feitos conforme necessário. Esse tempo é variável, mas é relatado que a ati- vidade muscular volta ao nível pré-tratamento em 2 a 3 meses após a modificação oclusal29. O aumento provisório da DVO com resina com- posta baseado no enceramento diagnóstico vem se mostrando uma técnica eficaz na obtenção de um correto desenho oclusal, passível de ajustes e sem a inconveniência da utilização de um aparelho removível2,5. Essa etapa facilita a sequência proté- tica setorizada15. D’Ávila e Silva MB, Issy Júnior JP, Bonilha Neto RM, Tomaselli TO, D’Ávila e Silva M 116 ©Dental Press Publishing - J Clin Dent Res. 2017 Jul-Sept;14(3):98-117 Preparos são realizados da forma menos inva- siva possível, visando a obtenção de espaço para o material restaurador e eixo de inserção das pe- ças39. Nessemomento, os procedimentos de se- lamento imediato da dentina são indispensáveis para uma adesão duradoura40,41. O protocolo de execução clínica e laboratorial e o comportamento das restaurações cerâmicas à base de dissilicato de lítio são bem documenta- dos, e devem ser respeitados para que haja longe- vidade. A etapa crucial nesse processo parece ser o momento da cimentação adesiva9,11,12,22. De acordo com o Consenso Europeu sobre Desgastes Dentais Severos17, o tratamento de indivíduos com dentição desgastada deve seguir algumas diretrizes: 1) os tratamentos restaurado- res devem ser tão conservadores quanto possí- vel, envolvendo o menor número necessário de dentes para que se obtenha resultado clínico satisfatório; 2) sempre que possível, os preparos devem se restringir à criação das características necessárias, tais como inserção e términos, para facilitar o posicionamento das restaurações; e 3) a seleção de materiais e técnicas deve levar em conta as expectativas, demandas estéticas e o perfil de risco de cada paciente, além da habi- lidade e conhecimento do operador, disponibili- dade do paciente para consultas de acompanha- mento e quaisquer restrições financeiras. CONCLUSÃO Reabilitações totais de dentições severamen- te desgastadas devem ser indicadas e planejadas de forma cautelosa e criteriosa, para se evitar o risco de sub- ou sobretratamentos, e executadas com precisão, para que a maior longevidade pos- sível seja assegurada. O planejamento oclusal e a adesão de materiais condicionáveis podem levar a uma menor necessidade de desgaste dentário e a resultados estéticos e funcionais satisfatórios. Agradecimentos Ao ceramista Lauro Restiffe, pela execução de todas as etapas laboratoriais do caso apresentado. Reabilitação bucal em casos de desgaste dentário: a importância da oclusão e da adesão 117 ©Dental Press Publishing - J Clin Dent Res. 2017 Jul-Sept;14(3):98-117 Referências: 1. Edelhoff D, Liebermann A, Beuer F, Stimmelmayr M, Güth JF. Minimally invasive treatment options in fixed prosthodontics. Quintessence Int. 2016 Mar;47(3):207-16. 2. Andrade OS, Rodrigues M, Hirata R, Ferreira LA. 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