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VOLUME II C O L E Ç Ã O Faces do Empreendedorismo Inovador VOLUME III FIEP- Federação das Indústrias do Estado do Paraná Rodrigo Costa da Rocha Loures Presidente Ovaldir Nardin Superintendente Corporativo do Sistema Fiep Diretor Financeiro SENAI – Departamento Regional do Paraná João Barreto Lopes Diretor Regional Antonio Bento Rodrigues Pontes Diretor de Administração de Controle José Antonio Fares Diretor de Recursos Humanos Pedro Carlos Carmona Gallego Diretor de Tecnologia de Gestão de Informação Hans Gerhard Schörer Diretor de Inovação Marcelo Passi Mafra Diretor de Marketing Luiz Virgilio Zaina de Macedo Diretor de Captação e Fomento Milton Bueno Diretor de Relações com os Sindicatos e Coordenadorias Regionais Marco Antônio Areias Secco Diretor de Operações Gerente de Orientação Profissional e Aprendizagem Industrial Tadeu Pabis Junior Gerente de Capacitação Técnica e Pós-graduação Tecnológica Industrial José Ayrton Vidal Junior Gerente de Qualificação e Aperfeiçoamento Profissional Reinaldo Victor Tockus Gerente de Serviços Técnicos e Tecnológicos Sonia Regina Hierro Parolin Gerente do Programa Inova SENAI / SESI/ IEL Amilcar Badotti Garcia Gerente de Alianças Estratégicas e Projetos Especiais Osvaldo Pimentel Gerente de Planejamento, Orçamento e Gestão Marilia de Souza Gerente do Observatório SENAI de Prospecção e Difusão de Tecnologia C O L E Ç Ã O Curitiba PR 2008 Faces do Empreendedorismo Inovador Sonia Regina Hierro Parolin Maricilia Volpato Organizadoras Ater Cristófoli Claudio Moura Castro Eduardo Akira Azuma Elisangela de Souza Paiva Guilherme Ary Plonski Hildegarde Schlupp José Alberto Sampaio Aranha Joana Paula Machado João Geraldo de Oliveira Lima Josealdo Tonholo Leila Gasparindo Leonardo Augusto de Vasconcelos Gomes Luiz Carlos Duclós Marcos Mueller Schlemm Mario Sérgio Salerno Natalino Uggioni Paulo Alberto Bastos Júnior Reynaldo Rubem Ferreira Junior Rodrigo Gomes Marques Silvestre Rosa Maria Fischer Sergio Wigberto Risola Simara Maria de Souza Silveira Greco 2008, FIEP – Federação das Indústrias do Estado do Paraná Qualquer parte desta obra poderá ser reproduzida, desde que citada a fonte. Os volumes da Coleção Inova estão disponíveis para download no site: www.fiepr.org.br/colecaoinova ISBN 978-85-88980-24-2 CDU 330.341.1 Programa Inova SENAI / SESI / IEL/PR Av. Cândido de Abreu, 200 Centro Cívico – Curitiba – PR Tel (41) 3271- 9353 / 3271- 9354 Home page: www.pr.senai.br/inova e-mail: inova@pr.senai.br Conselho Editorial do Volume III Daniele Farfus Francis Kanashiro Meneghetti - convidado da Universidade Positivo Lúcia Fortuna Padilha Nehrer Maricilia Volpato Maria Cristhina de Souza Rocha Sonia Regina Hierro Parolin - Coordenação Faces do empreendedorismo inovador. / Sonia Regina Hierro Parolin (org.), Maricilia Volpato (org.) . – Curitiba : SENAI/SESI/IEL, 2008. 364 p. : il. ; 21 cm. – (Coleção Inova; v. 3). 1. Empreendedorismo. 2. Inovação tecnológica. 3. Incubadoras de empresas. I. Parolin, Sonia Regina Hierro (org.). II. Volpato, Maricilia (org.). III. Título. C O L E Ç Ã O Sobre a Coleção Inova A inovação é elemento fundamental para o desenvolvimento econômico e é no setor produtivo que ela encontra o espaço ideal para se manifestar. A indústria brasileira aprendeu na prática que precisa enfrentar diversos desafios nessa área: aumentar os investimentos no desenvolvimento de produtos, renovar processos e ainda tornar-se mais ágil para responder com rapidez às novas demandas do mercado. Remar em outra direção traz como resultado a perda da competitividade. Por isso, cada vez mais, as empresas buscam profissionais com capacidade de criar, iniciativa para formular soluções e facilidade para trabalhar em equipe. As instituições de educação têm de estar preparadas para formar profissionais com esse perfil. Uma forte contribuição nesse sentido está sendo oferecida pela Coleção Inova. Editada pelo Sistema Federação das Indústrias do Estado do Paraná, pelo Senai, Sesi, Iel e Unindus PR, irá tratar de um tema diferente a cada volume, apresentando à comunidade acadêmica e científica, empresários e ao público em geral informações que ampliam a compreensão do papel de cada um no esforço direcionado à inovação. C O L E Ç Ã O Serão discutidos assuntos relacionados à criatividade, inovação, empreendedorismo e propriedade intelectual, de forma a contribuir para o aprimoramento da educação profissional e para a competitividade sustentável da indústria. A Coleção Inova também atende ao objetivo estratégico do Sistema Fiep de desenvolver a cultura empreendedora e ambiente propício à inovação. Rodrigo Costa da Rocha Loures Presidente do Sistema Federação das Indústrias do Estado do Paraná C O L E Ç Ã O Sumário APRESENTANDO O VOLUME III ..............................................................................................11 João Barreto Lopes PARTE 1 1. EMPREENDEDORISMO INOVADOR: PERFIL ATUAL DO EMPREENDEDORISMO BRASILEIRO SEGUNDO O GLOBAL ENTREPRENEURSHIP MONITOR ...........................................................13 Rodrigo Gomes Marques Silvestre, Marcos Mueller Schlemm, Simara Maria de Souza Silveira Greco, Joana Paula Machado e Paulo Alberto Bastos Junior 1. Introdução ..........................................................................................................................................13 2. Características do atual cenário do empreendedorismo no Brasil ......................................................16 3. Principais dificuldades do empreendedorismo inovador no Brasil .......................................................22 3.1 Cooperação Universidade/Empresa ............................................................................................25 3.2 Incubadora de Empresas ............................................................................................................27 4. Inserção internacional como canal de conhecimento inovador ...........................................................29 5. Considerações finais ..........................................................................................................................32 Referências.......................................................................................... .................................. ................34 2. INCUBADORAS ..................................................................................................................37 José Alberto Sampaio Aranha 1. Histórico ............................................................................................................................................37 2. Mas, o que é uma incubadora? ..........................................................................................................41 3. Processo ............................................................................................................................................43 4. Objetivos: incubadoras para quem? ...................................................................................................46 5. Países, cidades e comunidades..........................................................................................................46 6. Empresas e fundos de capital de risco ...............................................................................................49 7. Universidades, agências de transferência de tecnologia e programas de formação de empreendedores ....50 8. Incubadora como laboratório de testes e de inovação .......................................................................519. Incubadora como local de estudos e pesquisas .................................................................................52 10. Incubadora como estágio orientado .................................................................................................52 11. Tripla Hélice – Universidade, Governo e Empresa .............................................................................53 12. Metodologia – passo a passo ..........................................................................................................55 13. Pré-incubação ..................................................................................................................................56 14. Seleção ..........................................................................................................................................57 15. Incubação ........................................................................................................................................58 16. Graduação........................................................................................................................................59 17. Pós-incubação .................................................................................................................................61 18. Ambientes – Habitat ........................................................................................................................62 19. Conclusões ......................................................................................................................................64 Referências ............................................................................................................................................65 C O L E Ç Ã O 3. DO FAZER TRADICIONAL AOS HABITAT DE INOVAÇÃO: PONTE ENTRE A ESTAGNAÇÃO E O DESENVOLVIMENTO LOCAL ...................................................................................................69 Reynaldo Rubem Ferreira Junior, João Geraldo de Oliveira Lima e Josealdo Tonholo 1. Introdução ..........................................................................................................................................69 2. Esferas da inovação........................................................................... ....................................... .........71 2.1 Esfera da cultura do empreendedorismo inovador ............................... ................................... ..73 2.2 Esfera da promoção de negócios de alto potencial de crescimento (base tecnológica) .............74 2.3 Esfera da promoção de negócios inovadores de base tradicional (não tecnológicos) ..................76 2.4 Esfera dos habitat de inovação .................................................................................................77 3. Modelo taxonômico de Linsu Kim: uma interpretação esquemática ..................................................82 3.1 Interpretação gráfica do MTK .....................................................................................................83 3.2 Parques: ponte entre o fazer convencional e a cultura da inovação ............................................88 4. Considerações finais ..........................................................................................................................92 Referências ............................................................................................................................................92 4. EMPRESAS NASCENTES E GESTÃO DO CONHECIMENTO .................................................95 Marcos Muller Schlemm e Luiz Carlos Duclós Resumo..................................................................................................................................................95 1. Introdução ..........................................................................................................................................96 2. Organização e a ação de organizar .....................................................................................................99 3. Empresas nascentes e o processo empreendedor ...........................................................................102 4. Gestão estratégica do conhecimento ...............................................................................................105 5. Curva da sobrevivência ....................................................................................................................108 6. Considerações finais ........................................................................................................................114 Referências ..........................................................................................................................................115 5. PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO DE SPIN-OFFS ACADÊMICOS ...........................119 Leonardo Augusto de Vasconcelos Gomes, Guilherme Ary Plonski e Mario Sérgio Salerno 1. Introdução ........................................................................................................................................119 2. Literatura relevante ..........................................................................................................................121 2.1 Nascimento de spin-offs: criação e desenvolvimento ...............................................................121 2.2 Desenvolvimento de produtos ..................................................................................................124 2.3 Planejamento sob incerteza ......................................................................................................125 2.4 Technology Roadmap ................................................................................................................128 3. Metodologia de Pesquisa .................................................................................................................129 4. Estudo de Casos ..............................................................................................................................131 4.1 Caso I: Base Tecnológica em Elétrica ........................................................................................131 4.2 Caso II: Base Tecnológica em Biotecnologia .............................................................................131 4.3. Desenvolvimento do negócio nos dois casos ...........................................................................132 5. Proposição da arquitetura ................................................................................................................133 5.1 Desenvolvimento do negócio ....................................................................................................135 a. Desenvolvimento da Tecnologia e do Produto .............................................................................135 b. Desenvolvimento do Mercado ....................................................................................................136 c. Desenvolvimento da Organização ...............................................................................................137 5.2. Tool kit para o planejamento inicial de spin-offs .......................................................................138 5.3. Integração dos dois modelos ...................................................................................................140 6. Conclusão ........................................................................................................................................141 Referências ..........................................................................................................................................142 C O L E Ç Ã O PARTE II 1. DESAFIO DE COMUNICAR A INOVAÇÃO ..........................................................................145 Leila Gasparindo e Sérgio WigbertoRisola 1. Introdução ........................................................................................................................................145 1.1 Cenário mundial: era do empreendedorismo e da inovação ......................................................146 1.2. Brasil na rota mundial da inovação...........................................................................................147 2. Dez anos de uma das maiores incubadoras do mundo .....................................................................148 3. Empreendedor em uma incubadora – vantagens do condomínio .....................................................150 4. Novas ferramentas da inovação: comunicação, marketing e patentes .............................................152 5. Inteligência coletiva no cotidiano das incubadoras.................................... .................................... ...154 6. Indústria farmacêutica nacional: confiança no ambiente da incubadora – Case Biolab/ Eurofarma...................................................... .....................................................................................................156 7. Importância da comunicação na inovação ............. .................................................. ........................157 8. Comunicação e relacionamento com público estratégico para o empreendedor ..............................159 9. Aposta em uma parceria de sucesso ..............................................................................................160 10. Chave para o relacionamento com a imprensa ...............................................................................166 11. Planejamento da comunicação e os próximos dez anos .................................................................170 12. CIETEC na mídia .............................................................................................................................172 13. Empreendedores de sucesso: visibilidade da inovação ..................................................................173 14. Conclusão............................................................. .........................................................................184 Referências.......................................................................................................... ................................186 2. FUNDAÇÃO EDUCERE DE CAMPO MOURÃO/PR......... ........................ .............................189 Ater Cristófoli e Eduardo Akira Azuma Resumo................................................................................................................................................189 1. Introdução……………………………………………………………… ...................... ……190 2. Setores de atuação e a dinâmica de novos colaboradores……………….....................................192 2.1 Escola técnica gratuita..............................................................................................................193 2.1.1 Cursos ofertados e suas etapas…………………………………….. ..............................196 2.1.2 Resultados........................................................................................ .....................................198 2.2 Centro de Pesquisa e Desenvolvimento………………………………. ...............................199 2.3 Incubadora de Empresas………………………………………………. ...........................201 2.3.1 Resultados .............................................................................................................................205 2.4 Apoio à Cultura – Ateliê de Escultura Clássica……………….. .............................................206 3. Conclusão: Vale a pena investir em Educação?............................................... .................................208 Referências.......................................................................................................... ................................209 4. HOTEL DE PROJETOS INOVADORES - SENAI/ PR DESENVOLVIMENTO DO COMPORTAMENTO EMPREENDEDOR NA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL.......................................... ......................211 Maricilia Volpato e Sonia Regina Hierro Parolin 1. Introdução........................................................................................................ ................................211 2. Faces do Empreendedorismo...................................................... .....................................................213 3. Competências Empreendedoras.......................................................................................................218 4. Educação Profissional e Empreendedorismo Inovador................................... ...................................219 5. Contextualização do HPI................................................................................. ..................................221 6. Experiência: Hotel de Projetos Inovadores (pré-incubadora)......................... ....................................227 7. Considerações finais........................................................................................ ................................234 Referências........................................................................................................... ...............................238 C O L E Ç Ã O 5. SENAI/SC E AS INCUBADORAS DE EMPRESAS DE BASE TECNOLÓGICA: MODELO DE GESTÃO ................................................................................................................ ...............241 Hildegarde Schlupp, Natalino Uggioni e Elisangela de Souza Paiva Resumo................................................................................................................... .............................241 1. Introdução..................................................................................................... ................................. ..242 2. Desenvolvimento das Incubadoras do SENAI/SC........................................ ................................... ..247 2.1 Incubadora de Base Tecnológica de Joinville – MIDIVILLE……….. .........................................261 2.2 Incubadora de Base Tecnológica de Criciúma – MIDISUL.................. .......................................265 2.3 Incubadora de Base Tecnológica de Chapecó – MIDIOESTE.............. .......................................267 3. Conclusões……………………………………………………………… ........................…..269 Referências…………………………………………………………………… ...................... ..270 6. DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E EMPREENDIMENTOS SOCIAIS .............................................273 Rosa Maria Fischer Resumo............................................................................................................................................ ....273 1. Introduzindo o tema......................................................................................... ................................274 2. Estudos sobre empreendedorismo social........................................................ ................................ .283 3. Empresas estimulando Empreendimentos Sociais.......................................... ................................ .285 4. Organizações da Sociedade Civil estimulando Empreendimentos Sociais.. ................................... ...297 Referências.......................................................................................................... ................................305 PARTE III 1. NOVOS MATERIAIS, VELHOS HIPPIES E MUITO P&D: CASO DO VÔO LIVRE .....................309 Claudio Moura Castro 1. Introdução ........................................................................................................................................309 2. Pitoresca história do vôo livre.......................................................................................................... .311 3. Onde Santos Dumont e os irmãosWright se separam: o vôo pelo prazer de voar................... .........317 4. Asa-delta encontra um rival à altura: o parapente.......................................... ..................................330 5 Vôo livre: Onde está a ciência? E os engenheiros?................... ...................................... ...................333 6. Caso da Sol Paragliders.................................................................... .................................... ............346 7. Conclusão ........................................................................................................................................349 MINICURRíCULO DOS AUTORES ..........................................................................................351 CRéDITOS .............................................................................................................................363 11 C O L E Ç Ã O Apresentando o Volume III O conjunto de dados e informações, aliado à demonstração efetiva de boas práticas, faz com que este trabalho seja contemplado por uma magnitude especial. O esforço da equipe que o produziu trouxe um resultado digno de apreciação mais detida. Os participantes desta obra são executores de um obstinado projeto de crescimento pessoal coadjuvado com o desenvolvimento institucional e do seu habitat. A primeira parte apresenta o estado da arte sobre o empreendedorismo inovador. Traça-se o perfil atual do empreendedorismo brasileiro, segundo o Global Entrepreneurship Monitor, suas características e principais dificuldades. O artigo sobre as Incubadoras mostra o passo a passo para a estruturação desse importante suporte aos empreendimentos inovadores, como locus da pesquisa, do estudo, das redes colaborativas entre universidade-governo-empresa e da formação dos novos empreendedores. Encontra-se um artigo que evidencia os parques tecnológicos como habitat para a ponte entre o fazer convencional e a cultura da inovação. As empresas nascentes e as curvas de sobrevivência são enfocadas no artigo seguinte, tendo como base o perfil empreendedor 12 brasileiro no processo de organização de seus negócios. Para finalizar a primeira parte, efetiva-se a discussão sobre criação e desenvolvimento de spin-offs acadêmicos em panorama de incertezas, com a proposição de uma arquitetura de planejamento inicial com maior sustentabilidade. A parte seguinte apresenta casos que sugerem práticas bem- sucedidas com empreendedorismo inovador no panorama brasileiro. A experiência do CIETEC aborda aspectos de gestão, como as novas ferramentas da inovação (comunicação, marketing e patentes) e oferece especial reflexão ao dia seguinte das empresas: o desafio de comunicar a inovação sem a chancela da incubadora. O caso da Fundação EDUCERE demonstra como desenvolver e manter uma incubadora de base tecnológica em pequena cidade (situada numa região com certas adversidades), ao investir em educação profissional. Os dois casos seguintes abordam as experiências com pré-incubadoras e incubadoras do SENAI do Paraná e de Santa Catarina, cujos empreendedores são preferencialmente alunos dos cursos ofertados por essas instituições. Essa segunda parte é encerrada com os estudos sobre empreendedorismo social, realizados pelo Centro de Empreendedorismo Social e Administração em Terceiro Setor/CEATS/USP, com perspectiva de geração de conhecimento sobre a dinâmica de transformação social que pode haver entre empreendedorismo social e desenvolvimento socioambiental sustentável. Na última parte, demonstra-se a reflexão sobre como a curiosa combinação de novos materiais, muito P&D e fabricantes sem currículos técnicos fazem do vôo livre (das asas- deltas e dos parapentes) um caso de empreendedorismo e inovação. Enfim, este trabalho reveste-se de muita informação essencial ao desdobramento de ações que dão sustentabilidade às organizações e, por conseqüência, à própria vida. João Barreto Lopes Diretor Regional SENAI/ PR 13 C O L E Ç Ã O EMPREENDEDORISMO INOVADOR: PERFIL ATUAL DO EMPREENDEDORISMO BRASILEIRO SEGUNDO O GLOBAL ENTREPRENEURSHIP MONITOR Rodrigo Gomes Marques Silvestre, Marcos Mueller Schlemm, Simara Maria de Souza Silveira Greco, Joana Paula Machado e Paulo Alberto Bastos Junior 1. INTRODUÇÃO O processo de aprendizagem das organizações em geral foca na inovação de produtos e serviços. Todavia, no processo de educação continuada, a necessidade de reinvenção dos processos é condição fundamental para a competitividade em nível global. Das inovações de processo e de produto introduzidas nas organizações produtivas surge também uma demanda por alterações no modelo de gestão que irá gerenciar esses novos produtos e processos. Dessa maneira, torna-se basilar conhecer a realidade brasileira atual e as características do empreendedor nacional para planejar o resultado gerado por esse processo de mudança. Parte I 14 Rodrigo Gomes Marques Silvestre | Marcos Mueller Schlemm | Simara Maria de Souza Silveira Greco | Joana Paula Machado | Paulo Alberto Bastos Junior A presente argumentação utiliza o panorama fornecido pelo Global Entrepreneurship Monitor, realizado anualmente pelo Instituto Brasileiro da Qualidade e Produtividade (IBQP), para compreender essas características e apresentar o ponto inicial da caminhada, a fim de tornar os empreendimentos no Brasil inovadores de fato. A imagem da situação atual dos empreendimentos brasileiros demonstra que a economia nacional se encontra ainda em estágio inicial de desenvolvimento no que concerne à sua capacidade de gerar empreendimentos inovadores. As condições socioeconômicas, nas quais os indivíduos exercem seu potencial empreendedor, ainda representam fator limitante para o pleno exercício de sua capacidade inovadora. Portanto, o aprendizado como valor central no desempenho produtivo encontra-se modestamente difundido pela população empreendedora. Atualmente, pode-se observar que os vencedores no mercado global têm sido empreendedores que conseguem demonstrar respostas precisas e rápidas e flexível inovação de produtos unidas com capacidades gerenciais para efetivamente coordenar e redefinir as competências internas e externas. A essa característica se dá o nome de capacidade dinâmica que, segundo Teece, Pisano e Shuen (2002), gera para as firmas vantagens competitivas. Essa é definitivamente a característica que os planejadores de políticas públicas apreciariam encontrar difundida pela população empreendedora nacional. A realidade brasileira, entretanto, ainda demonstra indícios de que a maioria de seus empreendedores não se encontra nesse estágio de desenvolvimento da atividade econômica. Nas empresas modernas, que obtêm resultados satisfatórios de rentabilidade, a característica comum é sua capacidade de aprender. Nesse contexto, aprendizado é o processo pelo qual a repetição e a experimentação permitem às tarefas serem feitas mais bem e mais rapidamente e, às novas oportunidades produtivas, serem identificadas. Esse processo é intrinsecamente social e coletivo e ocorre não somente pela 15 C O L E Ç Ã O imitação e emulação de novos indivíduos, mas também pela contribuição conjunta para entender problemas complexos e propor mecanismos que garantam a solução dos mesmos. O conhecimento organizacional gerado por tais atividades reside em novos padrões de atividade, em rotinas, ou em novas lógicas organizacionais (Teece et al, 2002). Esta argumentação procurará indícios dos novos princípios de eficiência na atividade empreendedora brasileira com base nas informações contidas na pesquisa GEM. Principalmente, quando os empreendedores incorporam os princípios da melhoria contínua e do aprendizado constante, pois, conformedito anteriormente, a característica principal do novo modelo é a capacidade de assimilar e de gerar mudanças, implicando a participação de todos os envolvidos e valorizando a base de capital humano. Flexibilidade e adaptabilidade são outros dois princípios desse novo paradigma produtivo, cujas vantagens provenientes da produção flexível para mercados segmentados são denominadas economias de cobertura. Com base neles, as empresas competitivas se voltam para a exploração de nichos de mercado mediante a especialização. Ambas as tendências supõem capacidade de adaptar-se às características da demanda. Assim, a adaptabilidade da oferta às variações cotidianas na demanda são características medulares no novo paradigma. A capacidade de atuar em redes interorganizacionais para competitividade é outro ponto importante que caracteriza os empreendimentos inovadores. Em suma, as mudanças das velhas noções não devem se restringir às fronteiras da empresa e sim devem permear as relações com o mundo externo (Perez, 1992). A presente exposição inicia-se pela descrição das características dos empreendimentos brasileiros em relação ao grau de inovação dos produtos ofertados. Nessa seção, é feita uma breve comparação com alguns países selecionados para situar a realidade brasileira no contexto internacional. 16 Rodrigo Gomes Marques Silvestre | Marcos Mueller Schlemm | Simara Maria de Souza Silveira Greco | Joana Paula Machado | Paulo Alberto Bastos Junior Em seguida, são apresentadas as principais limitações ao empreendedorismo inovador, observadas no período de 2002 a 2006, para os dados coletados pela pesquisa GEM. Por fim, são discutidas algumas características da inserção internacional dos empreendimentos brasileiros e seu reflexo sobre o grau de inovatividade. 2. CARACTERÍSTICAS DO ATUAL CENÁRIO DO EMPREENDEDORISMO NO BRASIL A distinção feita na metodologia da pesquisa GEM entre os empreendimentos iniciados por oportunidade e aqueles iniciados por necessidade presta-se aqui como indicativo da natureza inovadora da atividade econômica brasileira. O primeiro tipo, ou seja, aqueles empreendedores que vislumbram oportunidade de iniciar um negócio são potencialmente os que exercem a função de inovadores. Esses empreendedores são motivados a explorar novos mercados, a fornecer novos produtos e a realizar novos processos de produção. Dessa maneira, o primeiro indício para formar a imagem atual do cenário brasileiro é observar a participação desses empreendedores ao longo do recente período de evolução da economia nacional. O Gráfico 1 demonstra que, paralelamente ao período atual de crescimento econômico e relativa estabilidade do contexto político e social, esse tipo de empreendedores tem ganhado espaço na participação total da atividade empreendedora brasileira. 17 C O L E Ç Ã O Gráfico 1 - Criação de Empreendimentos no Brasil de 2002 a 2007 Esse indício positivo, entretanto, precisa ser considerado de maneira mais abrangente, pois, o contexto geral demonstra grande caminho a ser percorrido para que o potencial empreendedor da população brasileira reflita verdadeiramente aquele esperado pela atividade empreendedora inovadora. Para isso, três elementos serão destacados em relação a essa atividade no Brasil. O primeiro é a percepção do empreendedor em relação ao conhecimento de seus potenciais consumidores sobre o produto que irá ofertar. O segundo elemento é o grau de concorrência do Fonte: Pesquisa GEM, 2007 18 Rodrigo Gomes Marques Silvestre | Marcos Mueller Schlemm | Simara Maria de Souza Silveira Greco | Joana Paula Machado | Paulo Alberto Bastos Junior mercado em que irá atuar. Por fim, a idade da tecnologia utilizada no empreendimento é destacada para compreender a realidade tecnológica preponderante atualmente no país. Ao se considerar essas três dimensões, que caracterizam o grau de inovação da atividade empreendedora total da sociedade brasileira, pode-se notar que o país se encontra muito aquém de seu potencial. O Brasil é um dos países mais empreendedores do mundo, colocando-se sistematicamente entre os dez principais nesse quesito. Mas, qual o resultado efetivo dessa capacidade empreendedora para o desenvolvimento econômico e social? A investigação contida neste estudo considera os empreendimentos inovadores responsáveis pela ruptura com o fluxo circular apresentado por Schumpeter, pois “o impulso fundamental que inicia e mantém o movimento da máquina capitalista decorre de novos bens de consumo, dos novos métodos de produção ou transporte, dos novos mercados, das novas formas de organização industrial que a empresa capitalista cria” (Schumpeter, 1996). Entretanto, as sistemáticas pesquisas GEM, realizadas entre 2002 e 2006, demonstram que mesmo os empreendedores brasileiros, que vislumbram oportunidades de negócio e enveredam por esse caminho, ainda apresentam perfil conservador em relação à inovação. Os dados apresentados a seguir referem-se ao conjunto de empreendedores brasileiros, tanto por oportunidade, quanto por necessidade. Essa escolha de corte analítico se baseia no fato de que o comportamento inovador de ambos os tipos é bastante semelhante no período de referência. O surpreendente é que os empreendedores por oportunidade não se diferenciam significativamente daqueles que empreendem por necessidade. Esse fato, portanto, reflete uma característica da população brasileira, que ainda se apresenta de maneira conservadora e tradicional diante da atividade econômica inovadora. O Gráfico 2 apresenta os indícios desse comportamento conservador. 19 C O L E Ç Ã O Gráfico 2 - As três dimensões do grau de inovação da atividade empreendedora brasileira. Empreendedores Iniciais Conhecimento dos Produtos 100 % 80 60 40 20 0 Países de renda médiaper capita Países de renda altaper capita Brasil Produtos novos ou desconhecidos Alta concorrência Baixa concorrênciaProdutos conhecidos 100 % 80 60 40 20 0 Países de renda médiaper capita Países de renda altaper capita Brasil Empreendedores Iniciais Grau de Concorrência % 80 60 40 20 0 Países de renda médiaper capita Países de renda altaper capita Brasil Empreendedores Iniciais Idade de Tecnologia Tecnologia Nova Tecnologia Conhecida Empreendedores Iniciais Conhecimento dos Produtos 100 % 80 60 40 20 0 Países de renda médiaper capita Países de renda altaper capita Brasil Produtos novos ou desconhecidos Alta concorrência Baixa concorrênciaProdutos conhecidos 100 % 80 60 40 20 0 Países de renda médiaper capita Países de renda altaper capita Brasil Empreendedores Iniciais Grau de Concorrência % 80 60 40 20 0 Países de renda médiaper capita Países de renda altaper capita Brasil Empreendedores Iniciais Idade de Tecnologia Tecnologia Nova Tecnologia Conhecida Fonte: Pesquisa GEM, 2006. Empreendedores Iniciais Conhecimento dos Produtos 100 % 80 60 40 20 0 Países de renda médiaper capita Países de renda altaper capita Brasil Produtos novos ou desconhecidos Alta concorrência Baixa concorrênciaProdutos conhecidos 100 % 80 60 40 20 0 Países de renda médiaper capita Países de renda altaper capita Brasil Empreendedores Iniciais Grau de Concorrência % 80 60 40 20 0 Países de renda médiaper capita Países de renda altaper capita Brasil Empreendedores Iniciais Idade de Tecnologia Tecnologia Nova Tecnologia Conhecida 20 Rodrigo Gomes Marques Silvestre | Marcos Mueller Schlemm | Simara Maria de Souza Silveira Greco | Joana Paula Machado | Paulo Alberto Bastos Junior Aqui o grau de concorrênciaencarado pelos empreendedores é um indício da capacidade dos empreendedores de observar oportunidades novas para obter lucros extraordinários da produção e comercialização de seus produtos. O que se evidencia é a maior parte dos empreendedores nacionais atuando em mercados de alta concorrência. Isto significa que, de maneira geral, os empreendedores brasileiros têm pouco incorporado o princípio da flexibilidade e adaptabilidade na produção. Os empreendedores, que iniciam um negócio, têm optado por atuar em mercados mais amplos, em geral, já sendo explorados por outras empresas. Essa forma de concorrência leva os integrantes desse mercado a concorrer com base no preço dos produtos, que não são diferenciados e adequados às demandas específicas dos diferentes tipos de consumidores. O resultado agregado dessa concorrência é a redução do lucro total, nesse segmento, e o aumento da mortalidade das empresas. Esse argumento é reforçado pelo grau de novidade do produto, como percebido pelos consumidores finais. O Brasil novamente fica muito aquém na comparação com os grupos de países internacionais, ou seja, os empreendedores brasileiros têm optado por ofertar produtos já conhecidos por seus consumidores. Esse é classicamente um indicador do grau de inovatividade dos empreendimentos brasileiros. Essa informação, somada à tecnologia incorporada na produção, demonstra que os empreendimentos brasileiros têm baixo grau de capacitação tecnológica e inovatividade. O resultado do comportamento apresentado é o Brasil se encontrar ainda em estágio inicial de capacitação tecnológica. Segundo a tipologia de Kim (apud Figueiredo, 2004), a trajetória de capacitação tecnológica dos negócios segue três estágios: a) aquisição de tecnologias conhecidas no mercado; b) assimilação das tecnologias existentes e c) aprimoramento tecnológico. Nos empreendimentos em fases iniciais de 21 C O L E Ç Ã O desenvolvimento, a ênfase técnica recai sobre a aquisição de tecnologias conhecidas, direcionando a produção para produtos e serviços já conhecidos no mercado. Somente diminuta parcela do total dos empreendedores brasileiros ativos lança produtos novos e desconhecidos no mercado e, desse total, mais de 90% dos empreendimentos são realizados por meio de tecnologias e processos de produção conhecidos e disponíveis no mercado. Em breve comparação com seus principais concorrentes na América Latina, o Brasil também se encontra em posição desfavorável. A Tabela 1 traz a distribuição da atividade empreendedora para uma seleção de países com os quais o Brasil tem de competir no mercado mundial. Os empreendimentos estão distribuídos em Potencial Máximo de Inovação, Intermediários e de Mínimo Potencial de Inovação, de acordo com o número de dimensões apresentadas, que estão presentes. POTENCIAL DE INOvAçãO DO EMPREENDIMENTO (Fatores: Nova Tecnologia, Baixa concorrência e Produto novo ou desconhecido) EMPREENDEDORES INICIAIS (%) A rg en tin a C hi le C ol ôm bi a M éx ic o B ra si l M éd ia d os pa ís es Máximo Potencial 3 fatores 8,1 8,5 6,7 5,0 1,3 5,5 Intermediário 2 fatores 42,2 32,9 29,7 30,7 12,9 26,3 1 fator 30,6 32,3 32,6 41,5 42,0 35,7 Mínimo Potencial Nenhum fator 19,1 26,3 31,0 22,8 43,8 32,5 FONTE: Pesquisa GEM, 2006 Tabela 1 - Potencial de Inovação nos Países Latino-Americanos – 2006. 22 Rodrigo Gomes Marques Silvestre | Marcos Mueller Schlemm | Simara Maria de Souza Silveira Greco | Joana Paula Machado | Paulo Alberto Bastos Junior O Brasil, portanto, encontra-se na pior situação em relação à amostra de países latino-americanos, apresentando apenas um quarto do número de empreendimentos com máximo potencial inovador do que o México, o segundo com pior desempenho entre os selecionados. Outro ponto relevante é que quase metade dos empreendimentos brasileiros (43,8%) apresenta mínimo potencial inovador, o que significa estar enorme contingente de empreendedores apenas reproduzindo o atual estágio de desenvolvimento econômico, social e tecnológico. Conhecida a atual situação dos empreendimentos no Brasil é preciso conhecer quais fatores limitam a plena realização do potencial inovador contido intrinsecamente nessa atividade. Para isso, serão utilizadas na próxima seção as percepções dos especialistas brasileiros em empreendedorismo. 3. PRINCIPAIS DIFICULDADES DO EMPREENDEDORISMO INOVADOR NO BRASIL Para um país desenvolver-se, não basta um ajuste macroeconômico, quando falta também mudança estrutural. Dois fenômenos são os principais obstáculos para o crescimento: as restrições nos recursos financeiros e as mudanças tecnológicas que ameaçam eliminar as vantagens comparativas tradicionais dos países em desenvolvimento. Dentre os dois, a mudança tecnológica é o mais poderoso instrumento disponível para atingir uma reestruturação bem-sucedida nesses países, pois, proporciona meios para aumentar a competitividade e critérios para guiar os processos de mudança institucional na direção de maior eficiência (Perez, 1992). Segundo as informações da pesquisa GEM feita com especialistas, os limitantes da atividade empreendedora inovadora no Brasil, que se enquadram na definição citada, são listados a seguir (Entrevistas com especialistas, 2002/2006). 23 C O L E Ç Ã O Os empreendedores iniciais não têm condições financeiras e de crédito para adquirir novas tecnologias; as políticas de estímulo e subsídios não são adequadas ao tamanho e suporte financeiro dos negócios; os custos das atividades inovadoras são em grande parte fixos e, portanto, quanto menor o volume de vendas, maior o custo fixo unitário; o custo da atividade inovadora é incorrido imediatamente e o seu retorno é diferido no tempo e incerto; os negócios menores têm menor poder de mercado e o risco enfrentado pelos investimentos em inovação é maior; os negócios menores têm mais dificuldade de desenvolver atividades inovadoras em cooperação com grandes empresas ou universidades; em muitas atividades inovadoras, há limite mínimo de inversão. A escala do negócio não é compatível com a escala do investimento em inovação. Por essas razões, para a maioria das empresas pequenas e médias, que iniciam suas atividades, a forma mais freqüente de inovação é feita por meio da aquisição da tecnologia incorporada obtida de fornecedores de equipamentos e de materiais e por meio de algumas inovações de processos. Os negócios iniciais adotam inovações, quando percebem oportunidades de negócio ou quando estão sob pressão de clientes e fornecedores. Além disso, o fato de os empreendedores estabelecidos no mercado terem baixo coeficiente de uso de tecnologias novas é típico do padrão de industrialização das economias emergentes, cujos investimentos se sustentam na importação de máquinas e equipamentos já disponíveis no mercado internacional ou em tecnologias difundidas em nível nacional. Mesmo entre os empreendedores estabelecidos, 24 Rodrigo Gomes Marques Silvestre | Marcos Mueller Schlemm | Simara Maria de Souza Silveira Greco | Joana Paula Machado | Paulo Alberto Bastos Junior são raros os que dispõem de laboratórios de P&D ou que desenvolvem ações de cooperação com instituições de pesquisa e universidades para o desenvolvimento de novos produtos e processos. Figueiredo (2004) apresenta um modelo descritivo da trajetória das capacidades tecnológicas dos empreendimentos em economias emergentes muito próximo das características do empreendedor brasileiro. Esse modelo apresenta uma trajetória dos empreendimentos classificada em três níveis de competências: básico, intermediário e avançado. Os empreendimentos iniciais (nívelbásico) desenvolvem capacidades rotineiras, isto é, de usar ou operar novos processos de produção, sistemas organizacionais, produtos, equipamentos e projetos de engenharia. No estágio intermediário, os empreendimentos estabelecidos desenvolvem capacidades de monitoramento, controle e execução de estudos de viabilidade, seleção de tecnologias e de fornecedores, provisão e assistência técnica. Somente no estágio avançado é que desenvolvem capacidade para gerir projetos de classe mundial e desenvolvimento de novos sistemas de produção por meio de P&D. Os empreendedores brasileiros parecem dar pouca importância à transferência de tecnologia como fator de desenvolvimento e crescimento empresarial. Esse fator é mencionado por menos de 1% dos empreendedores identificados pela pesquisa GEM, seja como barreira, seja como aspecto favorável. Esse dado reforça o argumento de que os empreendimentos no Brasil são pouco inovadores, utilizando tecnologias conhecidas, tanto para produtos, quanto para processos. Nos países de maior desenvolvimento econômico, a capacidade inovadora dos novos negócios e a sua competitividade no mercado dependem fortemente de fatores ligados ao acúmulo de capacidades tecnológicas, à estrutura de mercado, à organização do setor em que atua e às características do sistema de inovação no qual estão inseridas. 25 C O L E Ç Ã O No atual estágio da economia do conhecimento, a inovação é um processo de múltiplas fontes derivadas de complexo fluxo de interação de indivíduos, empresas e outras organizações voltadas para a busca do conhecimento e para a difusão de tecnologia. O desenvolvimento e a divulgação das inovações vinculam-se a mecanismos de interação do negócio com seu ambiente e com o aprendizado tecnológico baseando-se no intercâmbio contínuo de informações entre produtores e usuários de inovações. O desenvolvimento tecnológico avança e consolida-se por meio do intercâmbio de informações tácitas e codificadas. Nesse sentido, as práticas cooperativas apresentam-se como boa alternativa para os negócios novos e em desenvolvimento, viabilizando competências complementares ao conhecimento interno, aumentando, assim, a eficiência produtiva e o potencial inovativo. Contribuem, também, para facilitar a identificação e a exploração de novas oportunidades tecnológicas, reduzindo os riscos impostos pela incerteza dos investimentos em P&D e pelas turbulências do mercado. Entre os diversos mecanismos de apoio à inovação, cabe destacar as diversas formas de interação e de cooperação entre empresas e universidades e as incubadoras de empresas, especialmente, no caso de novos empreendimentos. 3.1 Cooperação Universidade/Empresa Nas últimas décadas, a universidade tem desempenhado fundamental papel na agregação de novos conhecimentos e tecnologias ao setor produtivo. A política nacional de ciência e tecnologia, por meio de seus instrumentos indutores, historicamente, privilegiava a produção científica em detrimento do desenvolvimento tecnológico. No Brasil, cujo desenvolvimento tecnológico sustentou-se na importação de tecnologias, a universidade dedicou-se principalmente à formação de recursos humanos. 26 Rodrigo Gomes Marques Silvestre | Marcos Mueller Schlemm | Simara Maria de Souza Silveira Greco | Joana Paula Machado | Paulo Alberto Bastos Junior Com a abertura do mercado e o acirramento da concorrência internacional, a indústria brasileira desperta para a necessidade de aproximação com as universidades e diversos centros de pesquisa surgem como alternativa de posicionamento competitivo no mercado nacional e internacional. Atualmente, esforços vêm sendo realizados para criar instrumentos a fim de fortalecer a cooperação entre universidades, centros de pesquisa e empresas para contribuir na formação de empreendedores inovadores e no estímulo ao desenvolvimento tecnológico. Essas políticas são muito recentes e seus efeitos iniciais ainda são tímidos, uma vez que se defrontam com valores tradicionais (de ordem cultural, ideológica e ética) vinculados à relação entre o mundo empresarial e o mundo acadêmico, principalmente, no que se refere à transferência e comercialização dos resultados da pesquisa científica. Apesar da timidez, algumas universidades e centros de pesquisa têm buscado a interação com as empresas, desenvolvendo ações voltadas para a transferência de conhecimento e projetos cooperativos de desenvolvimento de novas tecnologias. Percebe-se mudança de atitude no padrão de interação universidade/empresa. Hoje, ambos os setores buscam maior aproximação, visando atingir benefícios recíprocos. A academia já não vê com maus olhos o professor que desenvolve projetos em parceria com as empresas. A parceria universidade/empresa no Brasil é processo em formação. É preciso ter em mente estratégia ofensiva para criar a cultura da inovação nas empresas e incentivar o empreendedorismo, o que implica captar idéias potenciais, financiar invenções e testes necessários, proteger e lançar no mercado produtos e serviços. Além disso, é necessário que o sistema de avaliação de pesquisadores considere que o reconhecimento não seja apenas pela geração e transferência tradicional do conhecimento (via publicações), mas inclua itens como pedidos de registros de patentes e parcerias que visem ao empreendedorismo inovador e o consolidem. 27 C O L E Ç Ã O Os incrementos tecnológicos devem ser compartilhados entre os parceiros e todos devem ganhar com as melhorias proporcionadas pela inovação. Para as pequenas e médias empresas e negócios iniciais, pode ser inviável montar departamentos de P&D. Por isso, a parceria com universidades e centros de pesquisa torna as atividades inovadoras factíveis e menos onerosas. 3.2 Incubadora de Empresas Para estimular novos negócios e empreendedores a desenvolverem novas tecnologias é necessário também criar mecanismos de desenvolvimento e de geração de novos empreendimentos. O apoio a esses projetos pode colocar no mercado produtos de conteúdo tecnológico desenvolvidos (ou já em fase final) pelos centros de pesquisa do país. O surgimento das incubadoras de empresas configurou um grande avanço nos programas voltados para o desenvolvimento do empreendedorismo inovador. Na medida em que oferecem estrutura física, acesso a informações, formação de redes de contato e outros benefícios, elas contribuem imensamente para o desenvolvimento de novos negócios. As incubadoras representam, de certa forma, uma extensão da Empresa Júnior, onde o estudante já pode vislumbrar a realidade empresarial, oferecendo suporte necessário à constituição da empresa e seu ingresso no mercado. Essa vivência propiciada pelas empresas juniores e pelas incubadoras forma interessante modelo de preparação de novos empreendedores. No Brasil, experiências, como as citadas, aparecem nos últimos vinte anos especialmente com as incubadoras tecnológicas, estruturas ligadas a universidades e centros de pesquisa com potencial de identificar negócios altamente promissores e aglutinar recursos técnicos e institucionais para auxiliá-los. O movimento de incubadoras da última década proporcionou espaço físico e proximidade com os centros de pesquisa. Com isso, permitiu acesso privilegiado 28 Rodrigo Gomes Marques Silvestre | Marcos Mueller Schlemm | Simara Maria de Souza Silveira Greco | Joana Paula Machado | Paulo Alberto Bastos Junior às informações e à rede de investidores, transformando as incubadoras em vitrines para novos investidores. Hoje, as incubadoras não se restringem às empresas de base tecnológica. No Brasil, já se encontram incubadoras de cooperativas, culturais, sociais e de serviços. Elas incentivam as pessoas a desenvolverem seus empreendimentos e constituemfator impulsionador do esperado empreendedorismo. A Associação Nacional de Entidades Promotoras de Empreendimentos Inovadores (ANPROTEC) tem desempenhado o papel de criar mecanismos de apoio às incubadoras e parques tecnológicos. Destacam-se, nesse sentido, ações realizadas em conjunto com o SEBRAE, com o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), com a Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP) e com o Instituto Euvaldo Lodi (IEL), as quais têm estimulado a criação de políticas públicas benéficas ao desenvolvimento do empreendedorismo. Outro exemplo é o Fórum Permanente das Microempresas e Empresas de Pequeno Porte que, com a função de acompanhar e avaliar a implementação da política nacional de apoio a esse setor empresarial, oferece um comitê temático específico sobre Tecnologia e Inovação, entre outros. A estrutura de apoio ao empreendedorismo no Brasil está calcada, principalmente, nas incubadoras de empresas e no apoio de organizações ligadas ao sistema da Confederação Nacional da Indústria (CNI), em particular o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI), o IEL e o SEBRAE. Essas instituições estão em todo o território nacional e podem tornar-se agentes difusores e capacitadores de pessoas para iniciarem novos negócios. No caso das incubadoras, os esforços no sentido de seu fortalecimento devem estar sintonizados com a criação de oportunidades para que cientistas e tecnólogos possam dar início aos próprios empreendimentos. Há na academia teses de mestrado e doutorado que podem e devem sair das prateleiras em 29 C O L E Ç Ã O forma de produtos e serviços. No entanto, observa-se baixo interesse nos integrantes da comunidade científica de tornarem-se empreendedores, sendo quase nula sua habilidade e formação empreendedora. 4. INSERÇÃO INTERNACIONAL COMO CANAL DE CONHECIMENTO INOVADOR Esta seção adota um caráter provocativo sobre a natureza inovadora dos empreendimentos brasileiros, ao discorrer sobre uma característica aparente dos cidadãos nacionais, quanto à sua postura conservadora em relação às inovações de classe mundial. Tenta-se saber, por exemplo, por que não foram empreendedores brasileiros a inventar uma forma inovadora de fazer cafés especiais em vez dos italianos? Ou estádios de futebol absolutamente inovadores e funcionais e não a Alemanha? Ou uma receita inovadora utilizando o pinhão antes que um francês o faça? Como visto na seção anterior, há claramente um problema estrutural na sociedade brasileira, que limita o desenvolvimento econômico. Porém, não haverá também um componente psicológico e cultural a induzir esse comportamento conservador em relação à inovação? A resposta a essa questão não será esgotada no âmbito do presente estudo, em que serão apenas apresentados alguns pontos para reflexão dos leitores. Mesmo tendo o país elevado grau de empreendedorismo em geral, observaram-se, contudo, ao longo da argumentação, indícios do baixo grau de inovação dos empreendimentos brasileiros. Ao se considerar a abordagem institucionalista da atividade econômica, pode-se constatar a presença de regras sociais surgidas da ação coletiva influenciando o que as pessoas podem e devem fazer ou não. Essas construções sociais são chamadas instituições. Os dados da pesquisa GEM apontam que as instituições brasileiras foram configuradas, ao longo de seu processo histórico, de tal maneira que limitam uma postura inovativa dos empreendedores brasileiros. 30 Rodrigo Gomes Marques Silvestre | Marcos Mueller Schlemm | Simara Maria de Souza Silveira Greco | Joana Paula Machado | Paulo Alberto Bastos Junior Mesmo aqueles que vislumbram oportunidades de iniciar um negócio, em sua maioria, não o fazem com base em um produto, processo ou forma organizacional inovadora. Certamente, encontram-se exemplos honrosos de empresas e empresários nacionais que se colocaram na fronteira do desenvolvimento capitalista. Há exemplos no setor aeroespacial, em alguns ramos das ciências exatas e mesmo na organização de empresas com modelos de gestão alinhada com o novo paradigma econômico. O caso brasileiro, entretanto, é aquele em que esse comportamento ainda não está difundido pela maioria do tecido econômico. Uma possibilidade para explicar tal comportamento é a aparente falta de inserção internacional da economia brasileira, que limita a troca de informação inovadora de classe mundial. Ao se considerar o Gráfico 3, pode-se notar que o Brasil se coloca entre os três países com menor grau de expectativa de ter consumidores dos empreendimentos fora do país de origem. Essa baixa inserção constitui forte indício de que os empreendimentos brasileiros não se propõem a atuar com produtos, serviços e processos de classe mundial. 31 C O L E Ç Ã O Gráfico 3 - Prevalência Relativa de Orientação para o Mercado Externo dos Empreendimentos em Estágio Inicial – 2002 a 2007 Fonte: Global Entrepreneurship Monitor, 2007, Executive Report. 32 Rodrigo Gomes Marques Silvestre | Marcos Mueller Schlemm | Simara Maria de Souza Silveira Greco | Joana Paula Machado | Paulo Alberto Bastos Junior As informações contidas nesse gráfico demonstram uma diferença na característica dos empreendimentos brasileiros com relação aos demais países participantes da pesquisa GEM. Essa diferença é mais um elemento que reforça a baixa utilização do mercado externo como potencial estimulador da inovação nos empreendimentos nacionais. Isso significa que, com menor grau de contato com as demandas internacionais, os empreendedores brasileiros deixam de assimilar importantes informações para o desenvolvimento de processos e produtos novos para os consumidores no nível internacional. Nesse aspecto, podem-se observar regiões, como Hong Kong, que apresentam elevados níveis de empreendedorismo inovador, sendo também onde a orientação dos negócios para o mercado externo é mais marcante. 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS As exposições sobre empreendedorismo no Brasil, obtidas com base nos estudos do IBQP, demonstraram que o país se encontra ainda em estágio inicial de desenvolvimento de empreendimentos inovadores, entretanto, apresenta grande potencial para esse tipo de atividade econômica, haja vista a grande participação da população nacional na abertura de novos negócios, seja por oportunidade ou por necessidade. Podem-se destacar três principais fatores que contribuem para a baixa capacidade inovadora dos empreendimentos criados no Brasil: o contexto socioeconômico, a estrutura do mercado e o sistema nacional de inovação. O primeiro fator é característico dos negócios nascentes em um contexto econômico e social de alta taxa de desemprego e de baixo nível de renda, próprio das economias emergentes. A quase totalidade dos empreendedores inicia suas atividades sem preocupação com o aprendizado tecnológico e com o processo de inovação. Esses negócios seguem uma trajetória investimento – produção – inovação, sendo que a inovação nesse estágio refere-se basicamente à 33 C O L E Ç Ã O montagem de um sistema técnico-físico, ou seja, à aquisição de máquinas e equipamentos, bem como a definição do ambiente de operação. Em um negócio em estágio inicial, o conhecimento tácito e o acúmulo de capacidade tecnológica do empreendedor e sua equipe encontram-se também em fase inicial de aprendizagem, além de os gerentes e administradores terem pouca experiência adquirida. As rotinas organizacionais e gerenciais, os procedimentos, os processos e os fluxos de produção igualmente se encontram em fase de implementação e desenvolvimento. Portanto, quando se fala em inovação de negócios iniciais, fala-se na capacidade de esses negócios operarem novos processos de produção, de implementarem sistemasorganizacionais e desenvolverem projetos de engenharia. No Brasil, são raras e recentes as experiências de negócios que nascem seguindo a seqüência inovação – investimento – produção. Esses empreendimentos são gerados, normalmente, por incubadoras tecnológicas ou por redes de cooperação entre universidades e negócios estabelecidos. Toda a constatação apresentada anteriormente é confirmada pelos dados apresentados no GEM, que mostram já ser conhecida pelo mercado grande parte dos negócios desenvolvidos. Esses negócios utilizam tecnologias disponíveis e produzem produtos e serviços conhecidos e com muitos concorrentes no mercado. No Brasil, a grande maioria dos empreendimentos produz para o mercado local, ou regional, e o produto compete por meio de preço e não pela diferenciação e qualidade. Portanto, os negócios iniciais, também pela via da estrutura de mercado, são pouco inovadores. Por fim, outro fator apontado por este estudo é o incipiente sistema nacional de inovação, que não cria ambiente propício ao acúmulo de competências e ao aprendizado tecnológico interativo. 34 Rodrigo Gomes Marques Silvestre | Marcos Mueller Schlemm | Simara Maria de Souza Silveira Greco | Joana Paula Machado | Paulo Alberto Bastos Junior Inegavelmente, o sistema de inovação brasileiro encontra-se em estágio inicial de desenvolvimento, no qual não são predominantes as relações de cooperação entre empresas na busca de novos mercados, de desenvolvimento tecnológico, do desenvolvimento de fornecedores e da resolução de problemas organizacionais. Os empreendimentos iniciais não apresentam economias de escala, escopo, nem poder de negociação para enfrentar as turbulências do mercado e as exigências impostas pela competição internacional. Contudo, ações cooperativas entre pequenos empreendedores podem superar a fragilidade do pequeno capital e criar condições para o enfrentamento conjunto no mercado. Recente e tortuoso, também, se faz o caminho da cooperação entre universidades e empresas. Atualmente, verifica-se uma aproximação entre esses dois agentes. Apesar do esforço no sentido de estruturar um sistema de inovação criador de ambiente propício ao desenvolvimento tecnológico e ao desenvolvimento de capacidade de aprendizado das empresas, a eficácia desses instrumentos tem sido muito pequena, principalmente, no que se refere ao desenvolvimento do empreendedorismo inovador no Brasil. REFERÊNCIAS EMPREENDEDORISMO NO BRASIL: 2006. Curitiba: IBQP, 2007. EMPREENDEDORISMO NO BRASIL: 2007. Curitiba: IBQP, 2008. PEREZ, C. Cámbio técnico, restrutración competitiva y reforma institucional en los países en desarrollo. v. 61, El Trimestre Econômico, 1992, p. 23-64. 35 C O L E Ç Ã O SCHUMPETER, J. O processo de destruição criadora. In: Capitalismo, Socialismo y Democracia. Barcelona: Folio, 1996. TEECE, D.; PISANO, G.; SHUEN, A. Dynamic capabilities and strategic management. In: (DOSI, G. et al. Orgs.) The nature and dynamics of organizational capabilities. Oxford: UP, 2002, P. 334-362. 36 37 C O L E Ç Ã O INCUBADORAS José Alberto Sampaio Aranha 1. HISTÓRICO Os programas de incubação de empresas nasceram nos Estados Unidos da expansão de três diferentes movimentos desenvolvidos simultaneamente: condomínios de empresas, investimentos em novas empresas de tecnologia e programas de empreendedorismo. Segundo a National Business Incubation Association (NBIA), a primeira incubadora surgiu na cidade de Batavia, New York, em 1959. Segundo Dias, a expressão incubadora de empresas nasceu quando uma das maiores indústrias desse estado, a Massey Ferguson, fechou as portas, deixando um galpão de quase 80 mil m² e uma taxa de 20% de desemprego na região. O empresário americano Joseph Mancuso comprou as instalações para arrendá-la a uma empresa que pudesse empregar a população e reacender o mercado regional. Entretanto, a família desistiu da idéia de 38 José Alberto Sampaio Aranha arrendar o galpão para uma grande empresa e subdividiu-o em áreas menores sublocando-as para novos empreendedores iniciarem atividades de pequenas empresas. Mancuso disponibilizou, além de espaço físico individualizado, uma série de áreas e serviços compartilhados, tais como: serviços de limpeza, contabilidade, vendas, marketing, dentre outros. Com isto, conseguiu reduzir os custos operacionais das empresas ali instaladas, aumentando, portanto, sua competitividade. Esse mecanismo de apoio ao empreendedorismo denominava- se Batavia Industrial Center (Centro Industrial de Batávia) e, como dentre as primeiras empresas hospedadas por Mancuso estava um aviário, acabou conferindo ao prédio o apelido de incubadora. O fato gerador da concepção das incubadoras de empresas sob o ponto de vista das novas empresas de tecnologia foi o êxito obtido pela região hoje conhecida como vale do Silício, na Califórnia. Iniciativas de jovens estudantes e da própria Universidade de Stanford, na década de 1950, criaram um Parque Industrial e, posteriormente, um Parque Tecnológico (Stanford Research Park), a fim de promover a transferência da tecnologia desenvolvida na universidade para empresas e a criação de novas empresas intensivas em tecnologia, sobretudo do setor eletrônico. A história das garagens inicia-se com Frederik Terman, reitor do Departamento de Engenharia Eletrotécnica da Universidade de Stanford, que emprestou pouco mais de 500 dólares (um business angel antes do tempo) a dois jovens licenciados da universidade que, em janeiro de 1939, iniciaram, numa garagem, uma microempresa de «engenhocas» eletrotécnicas denominada com o sobrenome dos dois, a mundialmente conhecida Hewlett & Packard (HP). Essa história continuou na região e dois Steve, um Jobs e outro Wozniac, em 1975, juntaram 1300 dólares (Wozniac 39 C O L E Ç Ã O vendeu sua calculadora científica HP e Steve Jobs, uma pequena perua volkswagen). Começaram, então, a montar o primeiro protótipo do Apple I na garagem da casa dos pais de Jobs. Os dois tinham se conhecido em um clube de aficionados por computador chamado Homebrew Computer Club, em Palo Alto, na Califórnia, o que mostra a importância de um ambiente de inovação. Em virtude de condições favoráveis, tais como: infra- estrutura, serviços de apoio, disponibilidade de investidores para aplicar capital de risco, proximidade de universidades e centros tecnológicos (MIT, Harvard), mais uma experiência norte-americana deve ser citada: a Route 128, na região de Boston, onde surgiu um complexo de desenvolvimento de empresas semelhante a uma incubadora. Paralelamente, por iniciativa da National Science Foundation1 dos Estados Unidos, as maiores universidades do país iniciaram programas de empreendedorismo e de geração de inovação em centros de pesquisa, direcionando alunos e professores para a transferência de conhecimentos e tecnologias produzidos na esfera acadêmica para a sociedade. Somando-se aos condomínios de empresas e aos programas de empreendedorismo, alguns investidores começaram a demonstrar interesse (atualmente, cada vez maior) de investir tempo e dinheiro em novos empreendimentos surgidos nesses ambientes de inovação. Na Europa, as incubadoras surgiram na Inglaterra, com o fechamento de uma subsidiária da British Steel Corporation (que estimulou a criação de pequenas empresas em áreas relacionadas à produção do aço, preconizando uma terceirização) e, também, em decorrência do reaproveitamento de prédios subutilizados. 1 http://www.nsf.gov/ 40 José Alberto Sampaio Aranha No Brasil, com o objetivo de ser um instrumento de transferência de tecnologia das universidades para o setor produtivo, em 1984, o presidente do CNPq, professor LynaldoCavalcanti, criou cinco fundações tecnológicas em cinco estados brasileiros: em Campina Grande (PB), São Carlos (SP), Porto Alegre (RS), Manaus (AM) e Florianópolis (SC). Surgiu assim a primeira incubadora de empresas do Brasil e da América Latina, em dezembro de 1984, quando foram instaladas quatro empresas no ParqTec de São Carlos. Seguiram-na, ainda na década de 1980, outras incubadoras em Campina Grande (PB), Florianópolis (SC) e Rio de Janeiro (RJ). Em 1987, foi criada a Associação Nacional de Entidades Promotoras de Empreendimentos Inovadores (ANPROTEC)2, que iniciou a articulação do movimento de criação de incubadoras de empresas no país, afiliando incubadoras ou suas instituições gestoras. O movimento no Brasil, além de pujante, utiliza o conceito de incubadora para além dos três movimentos originais. Em 1991, com a adesão da Federação da Indústria do Estado de São Paulo (FIESP), o movimento constitui-se num marco para a história das incubadoras de empresas do setor tradicional. Por meio de uma parceria entre a FIESP e a Fundação Armando Álvares Penteado (FAAP), é inaugurada a primeira incubadora de empresas do setor tradicional do país, na cidade de Itu. A proposta da ITCP/COPPE foi apresentada originalmente durante uma reunião da Ação da Cidadania contra a Fome, a Miséria e pela vida, em 5 de janeiro de 1995, no Fórum de Ciência e Cultura da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Tinha por enfoque a implementação da proposta de conjugar a experiência bem-sucedida de incubação de empresas de tecnologias com uma alternativa viável de inclusão socioeconômica. Dessa iniciativa, nascem as incubadoras de tecnologias sociais para o desenvolvimento, no Brasil. 2 http://www.anprotec.org.br/ 41 C O L E Ç Ã O Em 1998, o Governo Federal, para fomentar o surgimento de micro e pequenas empresas inovadoras, por meio do Ministério de Ciência e Tecnologia (MCT) e suas agências CNPq e FINEP; do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (MIDC); do Serviço Brasileiro de Apoio às micro e pequenas empresas (SEBRAE) e de outros parceiros, lança o Programa Nacional de Apoio às Incubadoras de Empresas (PNI ). Em 1999, foi criado, dentro da incubadora tecnológica de Campina Grande, o programa de incubação de micro e pequenas unidades agroindustriais em comunidades rurais no semi-árido paraibano, aglutinadas, para a comercialização de seus produtos à Cooperativa de Agroindústria Ltda/ COOAGRILL, uma empresa incubada da ITCG3. Em 2002, o Instituto Gênesis, a fim de consolidar o planejamento inicial de associar a produção artístico-cultural ao desenvolvimento tecnológico, aproveitando a experiência e o sucesso conseguidos na sua incubadora tecnológica, lança a primeira incubadora cultural da América Latina. 2. MAS, O QUE É UMA INCUBADORA? Segundo a NBIA, uma incubadora de negócios é um catalisador do processo para se iniciar e fazer crescer empreendimentos nascentes. Para a ANPROTEC4, na sua publicação Glossário dinâmico de termos, a incubadora é um agente facilitador do processo de empresariamento e inovação tecnológica para micro e pequenas empresas. O nome incubadora, que, a princípio, não representaria a verdadeira intenção do movimento, vem a cada dia sendo mais representativo. O significado dessa palavra evoca maternidade (nascimento) e indica aparelho controlável (condições de apoio individualizado) destinado a manter recém-nascidos prematuros ou muito fracos (idéias, projetos 3 Incubadora Tecnológica de Campina Grande 4 ANPROTEC – Rede Incubar - http://www.redeincubar.org.br/ 42 José Alberto Sampaio Aranha e empreendimentos nascentes). Esse ambiente controlado aumenta muito o nível de sobrevivência dos bebês (novas idéias ou empreendimentos), pois, deixa-os mais bem preparados para enfrentar as condições adversas do ambiente. Cada modelo de incubadora é adequado a uma determinada circunstância, a uma necessidade em particular, com o fim de permitir opção pelo modelo mais apropriado no momento de se utilizar esse mecanismo, demandando estudos referentes mais detalhados (ver Tipos de Incubadoras, Aranha). Pode-se ter incubadoras por tipo de empreendimento (incubadora de empresas de software e de internet), pelo espaço ocupado para incubação (incubadora física, virtual) ou por comunidades (empresas ou cidades que funcionam como incubadoras). O importante para o presente artigo é destacar que uma incubadora consiste num processo, num mecanismo (e não numa organização ou localidade) dos mais eficientes para a criação de empresas e de transformação de conhecimento em processos, produtos e serviços. O grande desafio do movimento, conforme Fiates5, é qualificar as incubadoras como ambientes capazes de disponibilizar soluções e serviços que façam a diferença para o crescimento e a competitividade de empreendimentos, promovendo a potencialização, padronização e inovação de sua ‘plataforma de soluções’ de infra-estrutura, de equipe, de serviços, networking e marca. 5 José Eduardo Fiates, diretor do CELTA de Santa Catarina e presidente da ANPROTEC. 43 C O L E Ç Ã O 3. PROCESSO William Bolton (Pereira, 2002, p. 39) realizou um estudo, buscando identificar os motivos pelos quais as empresas surgiam com base em ações de universidades ou centros de pesquisa. Como resultado desse estudo, ele “criou um modelo visando reproduzir o fenômeno em outras localidades com outros agentes”. Esses motivos podem ser considerados pré-requisitos para a existência de uma incubadora. No processo, foram identificados quatro fatores responsáveis pelo surgimento de novas empresas, aos quais ele denominou grupos viabilizadores: Grupo Fonte: elementos com potencial de idéias de negócios viáveis; Grupo Mercado: clientes, parceiros e concorrentes; Grupo Ambiente: elementos e condições ambientais influentes na vida da empresa e Grupo Suporte: elementos apoiadores do desenvolvimento e da consolidação do empreendimento. A incubadora atua como grupo suporte na ligação do grupo fonte ao grupo mercado e, para tanto, faz uma seleção dos empreendimentos potenciais, apóia a empresa durante certo período (tempo de residência (tr)) até ela se tornar auto- suficiente. A partir desse ponto, o empreendimento pode se graduar, passando a vivenciar um período de pós-incubação. À relação entre o número de empresas, que entram na incubadora e que permanecem operando por cinco anos após a graduação, chama-se taxa de sobrevivência (ts). 44 José Alberto Sampaio Aranha Fatores viabilizadores de novos empreendimentos (Bolton). GRUPO AMBIENTE ID E A LI Z A Ç Ã O C O N C E P Ç Ã O F O R M A Ç Ã O M AT U R A Ç Ã O GRUPO SUPORTE GRUPO FONTE GRUPO MERCADO O objetivo da incubadora é produzir empresas de qualidade no final, para tanto, recomenda-se ter candidatos de qualidade desde o início do processo. Eficiência do Processo = -tr +ts (Aranha) - - 45 C O L E Ç Ã O Um processo de seleção criterioso para entrada no empreendimento da incubadora e o apoio consistente durante o período de residência melhoram a qualidade dos empreendimentos gerados e a eficiência do processo (grupo fonte ao grupo mercado) responsáveis pela taxa de sucesso ou sobrevida (ts). Aliás, uma das premissas básicas dos processos de incubação é exatamente a de tornar essa taxa mais elevada que as constatadas nas empresas nascidas em ambientes desprotegidos. Menor tempo de incubação representa de maneira geral menor custo para a formação da empresa. Pode-se, portanto, definir que o máximo de eficiência a ser alcançado pelo processo da incubadora está no menor tempo de incubação (tr) com o maior percentual de sobrevida
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