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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA CENTRO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS DEPARTAMENTO DE PSICOLOGIA PSICOLOGIA E PENSAMENTO SISTÊMICO - PSI 7506 João Guardini, 27 de junho de 2019 Axiomas da comunicação e implicações epistemológicas do conceito de comunicação Watzlawick, P., Bavelas, J. B., & Jackson, D. D. (1983). Pragmática da comunicação humana: Um estudo dos padrões, patologias e paradoxos da interação . Cultrix, São Paulo A Pragmática da Comunicação Humana é uma obra produzida em 1967 pelos autores Paul Watzlawick, Janet H. Beavin e Donald D. Jackson, que procura propor um entendimento das psicologia e relações humanas a partir do estudo da comunicação e as formas que esta toma na relação de um indivíduo com outro. Com a proposição de conceitos-ferramenta e o uso de excertos cotidianos, a obra literária analisa contextualmente como que as relações interpessoais e perspectivas individuais moldam as relações humanas e ilustra como o conflito pode, muitas vezes, nascer não de psicopatologias, mas de falhas na comunicação entre indivíduos. A presente resenha abarca o segundo capítulo do livro, denominado: alguns axiomas conjeturais da comunicação e procura comentar na viabilidade prática em adotar o conceito de comunicação que os autores trazem. O capítulo segundo do livro procura identificar quais padrões fundamentais podem ser observados em qualquer ocorrência bem-sucedida de comunicação, seriam características intrínsecas aos processos comunicacionais. Propondo a existência de tais padrões (i.e. propondo axiomas), os autores estabelecem a base para toda a discussão que o livro traz. Primeiro, é necessário definir pragmática. Os autores adotam os três campos da semiótica para fundamentar a sua abordagem sobre o tema da comunicação humana e apontam como as áreas de estudo da sintaxe, semântica e pragmática são comparativamente relevantes com os campos lógico-matemáticos, filosóficos-científicos e psicológicos- -comportamentais, respectivamente. Mais especificamente, a pragmática apresenta-se como a interpretação da comunicação que soma os dois primeiros campos e investiga os efeitos práticos destes dentro da interação humana, com as variáveis não-verbais e ontogenéticas. Para poder estudar a comunicação, os autores propõem cinco axiomas que seriam fundamentais para qualquer comunicação bem-estabelecida. Por questões de clareza, os autores definem que “comunicação” é composta por unidades menores denominadas “mensagens” e que uma série de mensagens, “interação”. Para os autores, tais mensagens só atingem o aspecto de comunicação quando não há possibilidade de confusão entre os que se comunicam. Não se pode não comunicar: trata da impossibilidade de “não comunicar”, uma vez que comunicação é vista como uma série de comportamentos entre de duas pessoas, não existe cenário em que uma pessoa estaria “não se comportando”. Em todas as ocasiões em que, no senso comum, afirma-se a ausência de algo, o que de fato está ocorrendo é uma atividade outra. Por exemplo, uma pessoa quieta não estaria “não comunicando”, pois, por mais que ela esteja pensando, observando, imóvel, fingindo, isso ainda serve de mensagem para uma pessoa com a quem divide o ambiente. Essa condição indica uma a qualidade de permuta viva e constante entre os comportamentos que as pessoas emitem e que é independente de intencionalidade. Conteúdo e níveis de relação: vem da identificação do aspecto das informações que cada comunicação transmite e toda comunicação possui duas facetas. O “relato”, como conteúdo da mensagem, é a informação per se sobre o que se comunica. Já a “ordem” é a informação sobre a informação, é o que implica a ação de quem recebe a mensagem sobre tal informação e nasce da relação dos interlocutores. Pontuação na sequência de eventos: trata da perspectiva e ponto temporal (qual é o primeiro evento) pelo qual interpreta-se uma comunicação. Por natureza, a comunicação é uma série ininterrupta de trocas, onde cada mensagem é um comportamento emitido que para o interlocutor serve tanto de estímulo para o comportamento porvir quanto consequência para o comportamento anterior. Contudo, quando se está dentro de uma interação, os participantes tendem a colocar-se sempre como agentes reativos ao comportamento do outro, raramente se perguntando do papel de estímulo que seus próprios comportamentos tem para seu interlocutor. A pontuação trata justamente desta decisão (consciente ou não) de interpretar a interação pelo prisma de um dos participantes. Deste paradigma nasce a ideia ilusória de causalidade única e unidirecional do comportamento das pessoas. Comunicação digital e analógica: é uma observação da relação que o meio pelo qual comunicou-se tem com a informação comunicada, quando a mensagem pode ou não ser o meio pelo qual é entregue. A comunicação digital parte de uma associação de estímulos, qualificada como arbitrária, por estes não possuírem características de equivalência entre sí. Por tanto, dependem do aprendizado prévio entre os participantes sobre tais equivalências. É o caso das linguagens escritas e vocais, que associam símbolos e sons à objetos e processos, o que as confere grande flexibilidade de comunicação e manipulação dos significados, como demonstra a lógica e sintaxe. A comunicação analógica, diametralmente, opera a partir da semelhança auto-explicativa entre dos estímulos, utilizando-se dos aspectos físicos da da mensagem para comunicar suas informações. Por suas naturezas, as comunicações digital e analogica operam complementarmente. Pela linguagem analógica é mais antiga na história da espécie, ela acaba por ser mais universalmente compreendida no campo das relações, porém possui um tom de ambiguidade, enquanto que a digital é mais complexa e tem um poder operacional maior, com a restrição de ter dificuldades no campo das relações. Interações simétricas e complementares: baseia-se no conceito de “cismogênese”, que é a mudança nos padrões normativos de interação de uma pessoa, partindo do acúmulo de interações com outras pessoas. Refere-se a qual tipo de feedback a interação entre duas pessoas soma, se a interação aumenta ou diminui a igualdade de papéis entre as partes na manutenção da interação. Interações simétricas baseiam-se em papéis semelhantes, que instigam os participantes a repetirem os mesmos comportamentos uns dos outros. Em contrapartida, as interações complementares partem da diferença e da produção de condições que reiteram padrões cada vez mais distintos, contudo ainda dependentes. De modo geral, o cinco axiomas ajudam a ilustrar como os sujeitos tornam-se parte da comunicação, mais do que apenas comunicam-se, como se estivessem indepemdemtes da interação e de suas implicações. Isso atenta ao fato de que relações são construídas com comunicações bem sucedidas ou não e que o bem estar dança numacomunicação bem adequada entre os participantes. Algo a se notar, também, é que ao se preocuparem com as relações práticas que permeiam as interações humanas, é tangível a apresentação de uma proposição que (como os autores indicam em vários segmentos do texto) dialoga com muitas das outras perspectivas psicológicas vigentes. Todos os axiomas levam a interpretação da comunicação para um viés contextualista, mediado não por verdades impositivas, mas por escutas das perspectivas de cada um dos participantes de tal comunicação. Evidencia-se assim o vínculo que a pragmática tem com o pensamento do novo paradigma científico (Vasconcelos, 2003). A afirmação dos autores de que “uma unidade comunicacional será chamada [...], quando não houver possibilidade de confusão, uma comunicação” parece propor que a
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