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Tourinho, E Z (1993) O autocontrole na psicologia comportamental

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Ç GarbsALiertpNt^ies
EMMANUEL ZACURY TOURINHO
0 AUTOCONHECIMENTO 
NA PSICOLOGIA 
COMPORTAMENTAL 
DE B. F. SKINNER
0 AUTOCONHECIMENTO 
NA PSICOLOGIA 
COMPOKTAMENTAL 
DE B. F. SKINNER
UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARA
Reitor
Marcos Ximenes Ponte 
Vice-Reitor
Zélia Aniador de Deus 
Pró-Reitor de Administração 
Vera Maria Bandeira Arruda 
Pró-Reitor de Ensino
Marlene R. Medeiros Freitas 
Pró-Reitor de Extensão 
Camillo Martins Vianna 
Pró-Reitor de Pesquisa
Cristovam Wanderley Picanço Diniz 
Pró-Reitor de Planejamento 
Joaquina Barata Teixeira
Secretário Geral da UFPA
Emanuel G. Matos 
Prefeito do Campus
Abílio Augusto Velho da Cruz
Ficha Catalográfica: Biblioteca Seccional do CFCH
Tourinho, Emmanuel Zagury T727a O autoconhecimento na psicologiacomportamental de B. F. Skinner. - Belém: UFPA. CFCH, 1993.105 p. (Coleção Carlos Alberto Nunes) 
ISBN: 85-247-0111-0 
1. Behaviorismo. 2. Skinner, Burrhus Frederic, 1904-1990. 3. Comportamento Humano. 4. Consciência. I. Título
CDD 19.ed. 150.1943 CDU 159.9.019.4
EMMANIEL ZAGIIRY TOURINHO
0 AUTOCONHECIMENTO 
NA PSICOLOGIA 
COMPORTAMENTAL 
DE B. F. SKINNER
Centro de Filosofia e C. Humanas 
Coleção Carlos Alberto Nunes
E D I T O R A
UNÍVERSITÁRiAU F P A
B elém1995
Título e texto amparados pela Lei n. 5 988 de 14 de dezembro de 1973.
l a ediçáo - UFPA - 1995
(c) 1995, by Emannuel Zagury Tourinho
CONSELHO EDITORIAL 
Presidente: Emanuel G. Matos
Membros: Amarilis Tupiassu, Jane Felipe Beltrão, Ricardo Ishak 
Representante da Biblioteca: Maria das Graças Coelho 
Representante da Gráfica e Editora: Ivan Costa
EDITORA DA UFPA
Diretor: Ivan Cardoso Costa 
Editor Executivo: Maria das Dores Sarmento 
Revisão do Texto: Berenice Loureiro 
Lisbela Braga 
Maria das Dores Sarmento
Capa: Ivanise Oliveira Brito
Composição eletrônica: Joáo Carlos Moraes
Maria Auxiliadora Prado 
Normalização Técnica: Sílvia Maria Bitar de Lima Moreira 
Trabalho parcialmente financiado pelo CNPq
Depósito legal na Biblioteca Nacional, conforme Decreto n. 1 825 de 
20/12/1907.
Para MIRYAM
“Multidões de pessoas estão agora preocupadas, 
mais do que nunca, apenas com as histórias de 
suas próprias vidas e com suas emoções parti­
culares; esta preocupação tem demonstrado ser 
mais uma armadilha do que uma libertação. ”
(R. Sennett. O D eclín io do H om em Público)
NOTA
Este trabalho tem como base a Dissertação de Mestrado 
intitulada Sobre a Visão Behaviorista Radical do Autoconhe- 
cimento, apresentada ao Programa de Psicologia Social da 
PUC-SP em 1988 e orientada pelo Prof. Dr. Sérgio V. Luna. 
Dentre as alterações em relação ao texto original está a adição 
de um Posfácio intitulado Para Além do Público-Privado.
APRESENTAÇÃO
Dando continuidade à Coleção Carlos Alberto Nunes, a 
Universidade Federal do Pará, através da sua Editora, tem a 
honra de lançar, no mercado editorial, a obra O Autoconheci- 
mento na Psicologia Comportamental de B. F. Skinner, de au­
toria do Prof. Emmanuel Zagury Tourinho.
Trata-se de uma obra que procura mostrar, de forma crí­
tica, o pensamento skinneriano, ao mesmo tempo em que con­
duz o leitor a refletir acerca de tão polêmico tema, extraindo, 
da complexidade do assunto, argumentos que embasem suas 
próprias conclusões quanto à psicologia do comportamento 
humano.
E com orgulho, portanto, que esta Universidade coloca à 
disposição do público leitor tão relevante publicação, colabo­
rando, mais uma vez, com o enriquecimento intelectual da so­
ciedade brasileira.
Marcos Ximenes Ponte
Reitor
PREFÁCIO
Esta publicação vem preencher uma dupla lacuna na me­
dida em que torna mais pública a existência de um jovem pen­
sador (o que é muito mais do que uma promessa de um pesqui­
sador brilhante), ao mesmo tempo que dissemina um de seus 
produtos.
Lamentavelmente, raramente uma obra consegue revelar 
o amadurecimento teórico-epistemológico por que passa um 
autor em seus embates com o tema escolhido. Deste ponto de 
vista, este trabalho não foge à regra. Por esta razão, é preciso 
enfatizar várias características do autor que foram sendo reve­
ladas (ou disciplinadas) ao longo do trabalho. A mais impor­
tante foi, sem dúvida, a clareza demonstrada quanto ao pro­
blema que ele pretendia estudar, o que foi fundamental para 
discriminar o que era periférico, o que era relevante e o que 
representaria um confuso desvio na meta traçada.
Tal clareza de propósitos, porém precisou ser complemen­
tada com uma predisposição para enfrentar os desafios que vão 
sendo interpostos, sob o risco de tornar o produto superficial, e 
dosada pelo bom-senso, sob o risco de perder o interlocutor/lei­
tor em um emaranhado de raciocínios preparatórios e de con­
siderações intercaladas. Ambas as características marcaram 
permanentemente o desenrolar do trabalho. As paradas para 
estudar um novo assunto ou destrinchar um novo problema 
foram encaradas com a mesma tranqüilidade com que foram 
abandonadas muitas páginas de texto pronto por que não con­
tribuíram para o esclarecimento do problema em estudo.
Uma segunda característica do autor confere um traço de 
relevância à obra: a sua capacidade crítica. Assumindo-se como 
behaviorista, o autor recusa o dogma, a verdade por tradição e 
o comodismo dos argumentos prontos, obrigando-se e ao leitor 
a reconstituir argumentos com base nas informações originais. 
Trata-se, de fato, do exercício da crítica interna, tão decantada, 
mas tão infreqüente.
xiv
Um autor com tais características não poderia produzir 
uma obra menos que importante. Embora a problemática teó­
rica circule em torno da Análise Experimental do Comporta­
mento, e a matéria prima seja constituída basicamente pela 
obra de Skinner, o conteúdo e as análises realizadas têm um 
interesse que extrapola esse âmbito.
Por um lado, a obra recoloca argumentos comumente di­
vulgados sobre a Análise Experimental do Comportamento e 
sobre o próprio pensamento de Skinner, com surpresas tanto 
para os adeptos do behaviorismo quanto para seus críticos. Por 
outro o processo de estabelecimento dos limites e das possibili­
dades do behaviorismo radical quanto aos estados internos, 
obriga a uma feliz passagem por temas de interesse geral tais 
como o próprio estatuto dos estados internos, o papel da lin­
guagem, o autoconhecimento, o autocontrole e o autogoverno 
(que, em outro contexto teórico podem ser lidos como cons­
ciência).
Enfim, a partir da sua publicação, a obra poderá ser dis­
cutida, questionada ou mesmo contestada, jamais ignorada. 
Qualquer destes três efeitos certamente atingirá as intenções 
do autor ao escrever a obra e ao divulgá-la.
Sérgio V. Lurta
INTRODUÇÃO
Este trabalho foi iniciado com um projeto intitulado Li­
mites e Possibilidades de um Tratamento Behaviorista Radical 
para a Questão da Consciência. Como o próprio título indica o 
objetivo era discutir o tradicional problema da consciência no 
contexto da psicologia comportamental de B. F. Skinner. O 
termo behaviorismo radical, utilizado pelo próprio Skinner 
para designar sua proposta de ciência psicológica, refere-se, em 
termos gerais, ao conjunto de princípios teóricos e metodológi­
cos que fundamentam uma visão da psicologia como ciência do 
comportamento.
A idéia de se conceber a psicologia enquanto ciência do 
comportamento suscita, de imediato, uma indagação acerca do 
tratamento a ser dado aos problemas tradicionalmente coloca­
dos no campo da disciplina psicológica, isto é, a vida interior, 
subjetiva, ou mental dos indivíduos. O tema da consciência, 
pertence a este conjunto de problemas e, ao examiná-lo no con­
texto do pensamento skinneriano, interessará abordar duas 
questões principais: primeiro, em que medida o behaviorismo 
radical trata efetivamente do problema da consciência; e, se­
gundo, como o tratamento dado a este problema se articula 
com a concepção de homem com a qual aquela abordagem tra­
balha. A primeira questão remete não apenas ao que é dito so­
bre o conceito de consciência, mas, também, ao que é sugerido 
sobre apossibilidade de investigação dos fenômenos pertinen­
tes àquele conceito. A segunda, leva ao papel atribuído a estes 
fenômenos no processo de determinação do comportamento 
humano.
Alguns esclarecimentos conceituais devem ser feitos, an­
tes que se adentre no assunto deste trabalho. No decorrer des­
ta pesquisa, decidiu-se optar pelo uso do termo autoconheci- 
mento, em vez de consciência, por ser este um termo mais pró­
ximo das formulações de Skinner sobre a própria consciência, e 
por trazer a vantagem de que, ao empregá-lo, certos problemas
xvi
inerentes ao uso de conceitos que têm definições diversas, de­
pendendo do contexto teórico em que são empregados (como é 
o caso do termo consciência), são evitados. Ainda assim, even­
tualmente, o termo consciência foi utilizado, mas sempre no 
sentido em que Skinner o emprega. O próprio Skinner em di­
ferentes momentos, utiliza ora consciência, ora autoconheci- 
mento. E, por razões a serem apontadas posteriormente, 
também o termo autodiscriminação é empregado por Skinner 
como sinônimo de autoconhecimento e consciência.
Com respeito ao termo autoconhecimento, convém escla­
recer, desde já, que Skinner não concebe o conhecimento no 
sentido tradicional do termo, segundo o qual o conhecimento é 
algo que se possui armazenado na mente e que permite ao in­
divíduo comportar-se adequadamente numa dada situação. 
Skinner dedica um capítulo de seu Sobre o Behavioris- 
mo (1974/1982)* à análise desta e de outras diversas versões 
corriqueiras do termo conhecimento. Em todos os casos, pro­
cura indicar que o dado a partir do qual se costuma inferir a 
existência do conhecimento é o comportamento, embora o ter­
mo conhecimento seja freqüentemente empregado como signi­
ficando muito mais do que meramente comportar-se. Para 
Skinner, entretanto, conhecer é fundamentalmente compor- 
tar-se discriminativamente ante estímulos. Segundo seu ponto 
de vista, diz-se que um indivíduo conhece x, no sentido de que 
ele adquiriu um dado repertório comportamental discriminati­
vo com respeito a x. Por esta razão, transmitir conhecimento é 
colocar o comportamento com uma dada topografia sob o con­
trole de determinadas variáveis” (grifos do autor) (Skinner, 
1968/1972, p.193).
Outros três termos que serão empregados como 
sinônimos são: autocontrole, autogerenciamento e autogover­
no, este último utilizado, por Skinner, com menos freqüência 
do que os dois primeiros.
* A primeira data refere-se ao ano da primeira publicação do artigo, e a se­
gunda, ao ano da publicação consultada. Este mesmo critério será usado 
em citações posteriores.
xvii
Pensando na leitura deste texto, o ideal seria utilizar 
apenas um de cada conjunto de termos apontados, aqui, como 
sinônimos. Todavia, isso não foi possível porque nas próprias 
citações de Skinner, transcritas neste trabalho, os diversos 
termos enumerados aparecem.
Um segundo esclarecimento importante diz respeito aos 
textos utilizados para consulta. Ao coletar-se o material para 
este trabalho, encontrou-se mais de uma edição de alguns tex­
tos de Skinner. Em alguns casos, a edição consultada foi sim­
plesmente a versão em português. Em outros, preferiu-se uti­
lizar uma versão do original em inglês - ou porque alguma 
dificuldade com a tradução para o português era encontrada, 
ou simplesmente porque só havia edição em inglês. Houve ca­
sos, também, em que duas edições diferentes de um mesmo 
texto foram consultadas. Isto aconteceu quando se encontrou 
algum detalhe relevante em uma edição, que havia sido omiti­
do ou reformulado na outra, com a qual se estava trabalhando.
Com respeito ao conteúdo deste trabalho, o leitor obser­
vará que para falar de autoconhecimento, foi necessário ou 
conveniente discutir problemas relativos aos eventos privados 
em geral. Isso não significa que se tenha alterado os objetivos, 
em busca de uma análise de problemas mais abrangentes. 
Apenas considerou-se adequado apontar aquilo que, além de 
aplicável à questão do autoconhecimento, corresponde às for­
mulações de Skinner acerca dos problemas relativos à privaci­
dade em geral. Por outro lado, como o objetivo central limita­
va-se à concepção skinneriana do autoconhecimento, não se foi 
além do necessário sobre os outros ditos eventos privados.
O material que se segue está organizado em três capítulos 
principais. O primeiro capítulo consiste de um exame sobre o 
surgimento do behaviorismo radical, considerando-se, para 
tanto, não os primeiros escritos de Skinner, mas o momento 
em que este autor diferencia seu behaviorismo das demais 
abordagens comportamentais em psicologia. Trata-se de um 
momento importante para este trabalho pelo fato de que um 
dos aspectos mais relevantes nesta diferenciação diz respeito 
ao tipo de tratamento oferecido para as questões relativas à 
privacidade.
xviii
No segundo capítulo, os aspectos mais importantes da 
formulação teórica de Skinner à respeito da privacidade, em 
geral, e do autoconhecimento, em particular, são discutidos. 
Além disso, alguns problemas ainda não plenamente resolvidos 
naquelas proposições de Skinner são também apontados.
No terceiro capítulo, apresenta-se o que tem sido indicado 
como alguns aspectos epistemológicos que subjazem às formu­
lações teóricas de Skinner. Neste caso, não se tem a pretensão 
de enveredar por uma análise sistemática dos diversos princí­
pios epistemológicos que caracterizam o pensamento skinne- 
riano. De qualquer maneira, procura-se abordar alguns ele­
mentos que sugerem empecilhos de ordem epistemológica pre­
sentes nas formulações de Skinner sobre o autoconhecimento.
Em seguida a estes três capítulos, apresenta-se uma sín­
tese do material discutido e um posfácio indicativo de perspec­
tivas a partir das quais pode-se dar continuidade a esta pes­
quisa.
SUMÁRIO
DEDICATÓRIA / v 
EPÍGRAFE / vü 
NOTA / ix 
APRESENTAÇÃO / xi 
PREFÁCIO / x iii 
INTRODUÇÃO / xv
1 O SURGIMENTO DO BEHAVIORISMO RADICAL 
DE B.F. SKINNER / 1
2 AS PROPOSIÇÕES BEHAVIORISTAS RADICAIS 
ACERCA DO AUTOCONHECIMENTO / 25
2.1 A NATUREZA DOS EVENTOS PRIVADOS / 26
2.2 O AUTOCONHECIMENTO / 49
2.3 LIMITES TEÓRICOS DO TRATAMENTO BEHA- 
VIORISTA RADICAL PARA A QUESTÃO DO AU- 
TOCONHECIMENTO / 64
3 LIMITES EPISTEMOLÓGICOS DO TRATAMENTO 
BEHAVIORISTA RADICAL PARA O AUTOCONHE- 
CIMENTO / 71
CONCLUSÃO / 91
POSFÁCIO:
PARA ALÉM DO PÚBLICO-PRIVADO / 93
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS / 101
1 O SURGIMENTO DO BEHAVIORISMO RADICAL DE B. F. SKINNER
". . . o behaviorismo radical é o efeito que o pensamento de 
Skinner vem a ter no comportamento das pessoas. Na medida 
em que este efeito envolve o estabelecimento de novos repertó­
rios de resposta que desafiam seriamente as idéias bastante ve­
lhas que temos em nossa cultura sobre como o comportamento 
deve ser explicado, acredito que o behaviorismo radical é tanto 
interessante quanto importante.”
(W. Day, Radical Behaviorism)
A psicologia tem sido de tal forma identificada com postu­
lados (científicos ou não) acerca daquilo comumentemente de­
nominado vida mental, que seria difícil imaginá-la como uma 
disciplina que se eximisse de abordar o assunto. Ainda assim, 
por motivos os mais diversos, alguns sistemas (notadamente os 
behavioristas) não raramente são colocados sob suspeita, a 
despeito de seus representantes reivindicarem o status de psi­
cológico para o conhecimento que produzem. Por um lado, po- 
de-se encontrar razões históricas para que a psicologia tenha 
se constituído como um projeto independente de ciência da vi­
da mental, conforme indica Figueiredo (1982). Por outro, vale 
assinalar que nem sempre se justifica a concepção segundo a 
qual as abordagens behavioristas simplesmente ignoram a vida 
mental e, como tal, poderiam ser tomadas como não-psicoló- 
gicas.
Figueiredo (1982) argumenta que as contradições presen­
tes no projeto inicial de uma ciência psicológica levaram a uma 
condição em que se tem, de um lado, uma concepção de indiví­
duo (único, independente) que é tomado como objeto de uma 
psicologiaque não é ciência e, de outro, uma concepção de
2
indivíduo (suporte de papéis sociais pré-definidos) que é toma­
do como objeto de uma ciência que não chega a ser psicológica. 
Por trás disso, está exatamente a questão da subjetividade, da 
privacidade, da (im)possibilidade de um tratamento científico 
para a vida interior dos indivíduos. Nesta perspectiva, muitos 
comentadores da psicologia tendem a enquadrar as abordagens 
comportamentais no elenco daquelas que são científicas sem 
chegarem a ser psicológicas. Contudo, ao analisar-se a obra de 
B. F. Skinner, observa-se que o tratamento dado por este autor 
ao problema da privacidade não implica nem uma concepção de 
indivíduo autodeterminado, nem uma concepção de indivíduo 
mero-receptáculo de determinações sociais.
Afora os problemas que surgem com o tipo de tratamento 
que propõe para questões relativas à subjetividade (alguns dos 
quais serão abordados neste trabalho), o behaviorismo radical 
de Skinner surpreende pelo empenho com que tenta conciliar 
preocupações históricas da psicologia com uma proposta de 
ciência do comportamento. Este autor acredita ter inaugurado 
na psicologia uma concepção epistemológica que inova (no 
campo das ciências do comportamento) exatamente no que 
traz de implicações para o tratamento a ser dado à questão da 
privacidade. Trata-se de uma proposta que, ainda hoje, parece 
não ter sido suficientemente discutida.
A tarefa de elucidar o pensamento de Skinner sobre o 
problema da privacidade pode ser iniciada recuperando-se o 
momento em que este autor diferencia seu behaviorismo das 
demais abordagens comportamentais em psicologia. Para tal, 
serão discutidas as idéias contidas no texto de Skinner, pu­
blicado em 1945, intitulado The Operational Analysis of 
Psychological Terms (Skinner, 1945/1984a), considerado por 
vários autores que o comentaram recentemente como um mar­
co no surgimento do behaviorismo radical de Skinner. E neste 
trabalho que ele, pela primeira vez, apresenta uma análise sis­
temática do problema dos eventos privados.
O referido texto foi elaborado para ser lido no Simpósio 
sobre Operacionismo, em 1945, do qual participaram vários 
psicólogos que então trabalhavam com experimentação em psi­
cologia, vinculados a abordagens behavioristas, mas com quem
3
Skinner não tinha relações muito amistosas em função de di­
vergências teóricas. Particularmente, foi escrito para contestar 
o caráter positivista lógico do behaviorismo de Boring e Ste- 
vens (seus colegas na Universidade de Harvard) que, segundo 
Skinner, implicava uma visão mentalista do homem (Skinner, 
1984b). Neste sentido, o que Skinner colocava em discussão, 
naquele instante, era o tipo de operacionismo que vinha sendo 
desenvolvido na psicologia. Este momento pode ser melhor 
compreendido recuperando-se alguns fatos a respeito do sur­
gimento da doutrina operacionista e de suas primeiras in­
fluências na psicologia.
Em 1928, Percy Bridgman, um físico, publicou uma obra 
intitulada Logic o f Modem Physics, a qual viria a tornar-se um 
marco importante no surgimento dos princípios operacionistas 
da ciência. Bridgman havia se preocupado com o impacto pro­
vocado pela teoria da relatividade de Einstein no meio científi­
co da física. A novidade desta teoria era que ela exigia uma 
revisão drástica dos conceitos de tempo, espaço e comprimento. 
Para entender por que esta revisão teria provocado tamanho 
impacto, Bridgman começou a estudar os hábitos de pensa­
mento e expressão na física que precedeu Einstein, particular­
mente na física de Newton. E observou que Newton explicava 
conceitos como tempo, espaço e comprimento (exatamente os 
conceitos sobre os quais a teoria de Einstein impunha uma 
drástica revisão) a partir de supostas propriedades não dis­
poníveis na natureza1, ou seja, explicava conceitos físicos em 
termos de propriedades sobre as quais não indicava uma re­
lação precisa com o próprio mundo físico. Bridgman (1928) 
considerava que estes conceitos eram ambígüos e não se arti­
culavam com o trabalho científico dos físicos. Isto é, a atitude 
de Newton excluía a possibilidade de que aqueles conceitos 
fossem reformulados com maior precisão a partir do progresso 
que as pesquisas da física pudessem alcançar no futuro. Insis­
1 Bridgman (1928) referia-se, em particular, aos conceitos de “tempo absoluto’ 
“espaço absoluto” e “ comprimento absoluto” .
4
tir neste tipo de conceito significava manter a física como uma 
ciência permanentemente sujeita a revoluções. Para Bridgman 
(1928) a alternativa era formular os conceitos da física de uma 
forma que pudessem ser sistematicamente revistos, à medida 
que as pesquisas fossem estabelecendo novos fatos. Isso seria 
possível definindo-se os conceitos físicos em termos igualmente 
físicos - como o fez Einstein, mesmo sem discutir o problema 
como levantado por Bridgman (1928)2.
A atitude introduzida por Einstein, caracterizada pela defi­
nição dos conceitos em termos de operações executadas pelo 
cientista, e não em termos de propriedades supostas, preserva­
va a física da possibilidade de ter que sistematicamente reela- 
borar sua atitude diante da natureza - as revoluções que 
Bridgman pretendia evitar. Nas palavras de Bridgman (1928),
". . . se a experiência é sempre descrita em termos de experiên­
cia, deve sempre haver correspondência entre a experiência e 
nossa descrição dela; e não precisamos nunca ficar embaraçados, 
como ficamos, na tentativa de encontrar na natureza o protótipo 
do tempo absoluto de Newton” (p.6-7).
Moore (1981) analisa o surgimento da proposta de 
Bridgman também ressaltando sua ofensiva contra o recurso a 
forças especiais na explicação das teorias físicas emergentes no 
início do século XX. A grande contribuição de Bridgman, 
então, consistia na idéia de que, em vez de se explicarem as
2 Segundo Bridgman (1928), nem o próprio Einstein, nem outros físicos, estavam 
cientes da mudança de atitude presente na ciência de Einstein. Esta mudança, con­
tudo, teria sido “a maior contribuição de Einstein” (Bridgman, 1928, p. 4) e estaria 
claramente encarnada na nova prática científica dos físicos. Esta questão é afirma­
da por Bridgman (1928) nos seguintes termos:
“Não há provavelmente, nenhuma asserção no [nos textos de] 
Einstein ou [de] outros escritores de que a mudança no uso de “con­
ceito” ( . . . ) tenha sido feita conscientemente, mas que este é o caso, 
fica provado, eu acredito, com um exame da maneira com que os con­
ceitos são agora manipulados por Einstein e outros” (p. 7).
5
asserções teóricas dos cientistas a partir de forças desconheci­
das que os possibilitavam chegar a tais formulações, dever-se- 
ia fazê-lo recorrendo-se às operações experimentais conduzidas 
por estes cientistas e aos dados daí provenientes. Estes últimos 
é que deveriam ser tomados como a base do discurso verbal dos 
cientistas. Há um trecho de Bridgman bastante elucidativo 
desta sua posição:
“A nova atitude em relaçáo a um conceito é inteiramente 
diferente. Podemos exemplificá-la considerando o conceito de 
comprimento: o que é que entendemos pelo comprimento de um 
objeto? Sabemos, evidentemente, o que queremos dizer com 
comprimento se pudermos indicar qual é o comprimento de todo 
e qualquer objeto; e, para o físico, nada mais é necessário. Para 
apurar o comprimento de um objeto temos de realizar certas 
operações físicas. Portanto, o conceito de comprimento é fixado 
quando se fixam as operações pelas quais o comprimento é me­
dido; quer dizer, o conceito de comprimento implica, nem mais 
nem menos, um coryunto de operações; o conceito é sinônimo do 
conjunto correspondente de operações” (Bridgman, 1928, p.5).
A psicologia parece ter sido uma das disciplinas na qual o 
discurso operacionista encontrou maior repercussão na década 
de 30. Dentre as possíveis razões para este fato, destaca-se a 
expectativa de que a fórmula operacionista pudesse salvar esta 
disciplina da confusão conceituai na qual estava imersa e con­
ferir-lhe ostatus de cientificidade que lhe faltava. Este movi­
mento foi denominado por Israel e Goldstein (1944) de uma 
utopia operacional, que professava uma era na qual “ a con­
trovérsia inútil será (seria) silenciada e a total concordância 
entre psicólogos substituirá a divergência notória” (Israel e 
Goldstein, 1944, p.179)3.
3 Uma análise sobre as condições da psicologia enquanto ciência e profissão naquele 
período e sobre a conveniência do discurso operacionista naquelas circunstâncias 
pode ser encontrada em Rogers (1989).
6
Day (1969) e Moore (1981) indicam alguns aspectos rele­
vantes acerca da grande repercussão que o texto de Bridgman 
teve entre os psicólogos experimentais da época. Tanto 
Skinner quanto seus colegas de Harvard foram fortemente in­
fluenciados pelos argumentos daquele discurso operacionista. 
O contato com esta obra, entretanto, parece ter sido feito de 
uma forma distinta, o que levaria a posturas igualmente dis­
tintas a respeito de uma psicologia operacionista.
Skinner teve contato direto com a obra de Bridgman, 
pouco tempo após sua publicação. Em um artigo publicado em 
1931 (mas escrito em 1930), ele já se referia a Bridgman e pro­
curava aplicar os princípios operacionistas em uma análise do 
conceito de reflexo (Skinner, 1931/1961a). Mais tarde, em 
1945, ele afirmaria que seu artigo de 1931 tinha sido não só a 
primeira publicação psicológica a apresentar uma referência a 
Bridgman, como também a “ . . . primeira análise explicitamen­
te operacional de um conceito psicológico” (Skinner, 
1945/1984a , p. 551). A despeito deste fato, um outro tipo de 
operacionismo surgiu na psicologia, através de outros behavio- 
ristas de Harvard. Este outro modelo (como se deduz de um re­
lato de Boring, 1950), contudo, já surgiu comprometido com 
outros princípios que nada tinham necessariamente a ver com 
as proposições originais de Bridgman.
Boring (1950) relata que o primeiro contato dos psicólo­
gos de Harvard com o trabalho de Bridgman ocorreu em 1930, 
através de Herbert Feigl, um positivista lógico, membro do 
Círculo de Viena. Este fato teria tido uma implicação séria no 
tipo de operacionismo a ser desenvolvido por psicólogos como o 
próprio Boring, Stevens e até Spence (Moore, 1981). Estes, ao 
interpretarem a obra de Bridgman, teriam atribuído uma ên­
fase exagerada à questão da objetividade e chegado, assim, a 
uma ciência dos fenômenos publicamente observáveis, funda­
mentada num critério de verdade por consenso público. Se­
gundo Boring (1950) e Day (1969), Stevens viria a tornar-se 
o líder deste grupo, tendo publicado, em 1939, um artigo que 
sumarizava sua postura acerca dos problemas levantados pelos 
operacionistas. Neste trabalho, o problema do comportamento 
verbal do cientista é abordado a partir da perspectiva de uma
7
teoria de referência do significado. De acordo com tal teoria, a 
linguagem deve ser explicada em termos de um conjunto de 
proposições simbólicas, descritivas de conteúdos da consciên­
cia. Para efeito de tratam ento científico, devem-se identificar 
os elementos deste conjunto com operações mensuráveis, a 
respeito das quais possa haver concordância pública. Na opi­
nião de Moore (1981), esta posição:
". . . admitia a possibilidade de uma linguagem privada. Isto é, 
ao assumir que a linguagem era uma atividade simbólica, eles 
assumiam que havia entidades como significados subjetivos pri­
vados que possuíam uma existência independente. ( . . . ) esta po­
sição implica a existência de algum sistema náo comportamental 
que, com efeito, é responsável pela linguagem. Ela implica que as 
pessoas sejam automaticamente capazes de descrever elementos 
de sua própria experiência privada - e que a linguagem seja es­
sencialmente descritiva de manipulações lógicas destes elemen­
tos. Quando seguida a este extremo, esta posição impõe um dua­
lismo pernicioso e um agente controlador interno. . .” (p.58).
Boring (1950) refere-se ao artigo de Stevens como o ma­
nual da nova psico-lógica (p.657). E é exatamente nessa linha 
que o behaviorismo de Boring, Stevens e Spence irá desenvol- 
ver-se nas décadas de 30 e 40. No intuito de enfrentar os pro­
blemas da psicologia mentalista, esses autores desenvolvem 
um operacionismo bastante influenciado pelo positivismo lógi­
co da época e que acabará desembocando numa postura com 
implicações igualmente mentalistas e dualistas em psicologia. 
A interpretação do operacionismo que o positivismo lógico 
produz (e que o behaviorismo de Boring e Stevens assumirá) 
fica melhor compreendida quando se leva em conta que aquele 
movimento filosófico pretendia estabelecer critérios (regras ló­
gicas e metodológicas) de significação e validação a partir dos 
quais a fronteira entre os discursos científico e não-científico 
pudesse ser demarcada. E neste contexto que aquilo que 
Bridgman (1928) apresentava como um procedimento para es­
clarecimento dos significados dos conceitos científicos se con­
verte em critério de cientificidade4.
4 Uma análise sistemática sobre a interpretação neopositivista do operacionismo e 
sua incidência na psicologia comportamental pode ser encontrada em Moore (1975; 
1981) eS m ith í 1989).
8
No entendimento de Israel e Goldstein (1944), este proble­
ma pode ser colocado em termos de um equívoco de psicólogos 
como Stevens (e Boring), na interpretação do operacionismo 
como um novo método científico. O que Bridgman propunha 
era, na verdade, “uma coisa muito simples.. . uma fórmula a 
ser seguida para a definição de termos ou conceitos” (Israel e 
Goldstein, 1944, p.178). Ao converter o procedimento de 
Bridgman em uma orientação metodológica, contudo, os beha- 
vioristas metodológicos buscavam um critério a partir do qual 
a objetividade do discurso científico pudesse ser afirmada e 
servisse, ainda, de referência para a demarcação do escopo de 
uma ciência psicológica. Trata-se, aqui, de um objetivismo de 
conteúdo fisicalista e dualista; de um lado, porque admite a 
existência de duas naturezas distintas de fenômenos, a física e 
a mental, e, de outro, porque postula que os fenômenos men­
tais só podem ser objeto da ciência na medida em que se apon­
tam seus correspondentes no mundo físico. Nesta perspectiva, 
para o operacionismo de Boring (1945), “ a ciência não consi­
dera dados privados” (p.244).
E contra esse tipo de operacionismo que Skinner se le­
vantará em seu artigo intitulado The Operational Analysis o f 
Psychological Terms (o qual será denominado, doravante, de 
Terms, como fazem alguns autores que o comentaram recen­
temente).
Terms tra ta basicamente de três questões: a natureza dos 
eventos privados, o problema do critério de verdade por con­
cordância pública e os processos através dos quais um indiví­
duo passa a relatar eventos que lhe ocorrem de forma privada. 
Estes assuntos são todos pertinentes uns aos outros, mas cabe 
um esclarecimento. As duas primeiras questões são tratadas de 
forma mais sistemática numa segunda parte do artigo, que não 
foi lida no Simpósio, mas incluída na publicação na forma 
de comentários posteriores sobre os trabalhos apresentados 
(Skinner, 1945/1961b). Para facilitar a compreensão das pro­
posições de Skinner, contudo, mostra-se conveniente iniciar 
expondo o tratamento dado àquelas duas questões iniciais pa­
ra, em seguida, apresentar sua concepção a respeito da ter­
ceira.
9
Sobre a natureza dos eventos privados, Skinner é enfático 
ao negar-lhes qualquer condição distinta daquela dos eventos 
públicos. Para ele, o que ocorre de forma privada a um indiví­
duo é tão físico quanto comportamentos publicamente ob­
serváveis. São eventos pertencentes a um mesmo sistema de 
dimensões que os eventos publicamente reconhecidos como fí­
sicos. “ . . . a minha dor de dente é simplesmente tão física 
quanto minha máquina de escrever, embora não [seja] públi­
ca. . (Skinner, 1945/1984a, p.552). Esta posição tem uma 
implicação fundamental que é a eliminação de uma perspectiva 
dualista no estudo do comportamento humano. Elacorrespon­
de a uma visão monista de homem que não seria compartilha­
da pelos behavioristas metodológicos. Estes últimos (represen­
tados por Boring e Stevens), embora concordassem em tomar a 
psicologia como ciência do comportamento, admitiam que o 
mundo está dividido entre eventos públicos (físicos) e eventos 
privados (de outra natureza), devendo a psicologia confinar-se 
aos primeiros a fim de estabelecer-se como ciência. Este último 
aspecto remete ao segundo problema tratado por Skinner, isto 
é, a questão do critério de verdade por consenso público. Isto 
porque o que se observa é que a dicotomia físico-mental articu- 
la-se, de imediato, com a definição do escopo de uma ciência do 
comportamento.
A necessidade de distinguir os eventos entre públicos e 
privados não é gratuita para o behaviorismo metodológico. Se­
gundo Skinner, por trás desta distinção encontra-se uma forte 
preocupação de ordem epistemológica. Aquela abordagem re­
pousaria na crença de que um estudo só pode ser tomado como 
científico enquanto tra tar de fenômenos acessíveis a dois ou 
mais observadores. Já para o behaviorismo radical, o problema 
da concordância pública deve ser tomado como secundário, em 
favor de um critério mais funcional e de coerência interna do 
sistema teórico.
“A distinção público-privado enfatiza a filosofia árida da 
“verdade por consenso”. O público, na verdade, acaba sendo 
simplesmente aquilo sobre o que se pode concordar porque é co­
mum a dois ou mais concordantes. Isso não é uma parte essen-
10
ciai do operacionismo; ao contrário, o operacionismo nos permite 
dispensar esta soluçáo demais insatisfatória do problema da ver­
dade. (. . .) O critério último para a boa qualidade de um conceito 
não é se duas pessoas entram em acordo, mas se o cientista que 
usa o conceito pode operar com sucesso sobre seu material - so­
zinho, se precisar. O que importa para o Robison Crusué não é 
se ele está concordando consigo mesmo, mas se ele está chegando 
a algum lugar com seu controle sobre a natureza” (Skinner, 
1945/1984a, p.552).
Ao propor a funcionalidade como critério de verdade, 
opondo-se ao critério de observação pública, Skinner expressa 
um aspecto fundamental de sua ciência do comportamento: o 
interesse na previsão e controle dos fenômenos comportamen- 
tais. No âmbito da ciência skinneriana, portanto, o que impor­
ta não é a precisão de descrições fisicalistas da topografia do 
comportamento, mas a descoberta de leis que expressem re­
lações dinâmicas entre o comportamento dos organismos e 
condições ambientais5. Neste contexto, falar sobre os eventos 
privados mostra-se legítimo, mesmo que aqueles eventos não 
estejam acessíveis a uma observação pública. Asserções sobre 
estes eventos devem ser julgadas segundo o que propiciam ao 
cientista em termos da previsão e controle de um conjunto de 
fenômenos.
Resumindo as duas questões, o behaviorismo radical tra ta 
dos eventos privados como fenômenos físicos (enquanto os be- 
havioristas metodológicos tendem a atribuir-lhes uma outra 
natureza) e acredita ser tarefa da psicologia tra ta r destes 
eventos, mesmo que de forma inferencial (enquanto os beha- 
vioristas metodológicos insistem no princípio de verdade por 
consenso público).
A terceira e principal questão tratada naquele artigo de 
Skinner é um pouco mais complexa e diz respeito aos proces­
sos através dos quais um indivíduo torna-se capaz de relatar
5 Neste sentido, Skinner permitia-se, desde muito cedo (Cf. Skinner, 1932a; 1932b), 
falar de condições internas do organismo; por exemplo, em suas considerações so­
bre o “drive” (Cf. Sério, 1990).
11
seus próprios eventos privados. Para tra tar deste assunto, 
Skinner inicia examinando o problema de respostas verbais a 
eventos públicos. E um ponto que se coloca de forma impor­
tante para ele é como explicar o comportamento verbal do 
cientista.
Segundo Skinner, o operacionismo lógico de seus colegas 
de Harvard falhava ao tentar explicar o comportamento verbal 
do cientista porque não conseguia esclarecer como este chega­
va a elaborar uma definição de um conceito (fosse ela opera­
cional ou não). E a definição é um termo fundamental para o 
operacionismo, uma vez que deve expressar as operações que 
justificam emprego de um dado termo numa dada circunstân­
cia. Em vez de considerarem as operações executadas pelo 
cientista, os operacionistas lógicos tendiam a recorrer a concei­
tos como idéia ou significado, o que os afastava de uma análise 
adequada das bases do discurso verbal.
Na perspectiva skinneriana, termos como conteúdo, sig­
nificado ou referente devem ser desprezados, pelo menos 
enquanto propriedades das respostas verbais. Estes termos só 
fariam sentido enquanto especificações das contingências sob 
controle das quais uma dada resposta verbal ocorre. Isto é, de­
ve-se lidar com os termos verbais na forma como são observa­
dos, qual seja, como respostas verbais. Nesta perspectiva, para 
Skinner, uma leitura mais apropriada do operacionismo de 
Bridgman resulta, fundamentalmente, na proposição de uma 
análise funcional para o comportamento verbal. Assim, o ope­
racionismo skinneriano se resume à tentativa de examinar 
conceitos ou asserções científicas enquanto respostas verbais 
que são função de contingências estabelecidas por uma comu­
nidade verbal científica. O princípio geral da análise funcional 
que Skinner postula para o tratamento das respostas verbais 
pode ser entendido sem dificuldades. Na psicologia operante de 
Skinner, uma análise funcional implica a identificação do 
estímulo discriminativo que se constitui em ocasião para a 
ocorrência da resposta em questão e das conseqüências que o 
mantêm. O que acontece, então, é que uma comunidade verbal 
ensina o indivíduo a emitir uma dada resposta verbal (a ex­
pressar um termo) provendo estímulos reforçadores quando
12
esta resposta ocorre na presença de um dado estímulo discri­
minativo (da coisa para a qual o termo será tomado como 
referente). Assim, o indivíduo aprende, por exemplo, a dizer 
cadeira na presença de uma cadeira ou objeto similar, não por 
uma questão de apreensão do significado de cadeira, mas por­
que esta resposta, na presença da cadeira tem uma história de 
reforçamento provido pela comunidade verbal. Esta relação 
funcional entre termos e estímulos discriminativos que au­
mentam sua probabilidade de ocorrência será tratada de forma 
mais sistemática no livro O Comportamento Verbal (Skinner, 
1957/1978), onde aparece sob a classe de operantes verbais de­
nominados tatos.
“O tato surge como o mais importante operante verbal, 
por causa do controle incomparável exercido pelo estímulo ante­
rior. Este controle é estabelecido pela comunidade reforçadora 
( . . . ) No tato (. . . ) estabelecemos uma relação excepcional com 
um estímulo discriminativo. Fazemos isso reforçando a resposta 
tão consistentemente quanto possível na presença de um estí­
mulo, com muitos reforçadores diferentes ou com um reforçador 
generalizado. O controle resultante é feito por meio do estímulo 
[discriminativo]. Uma dada resposta “especifica” uma dada pro- 
priedade-estímulo. Isto é a referência da teoria semântica” 
(Skinner, 1957/1978, p. 109).
A abordagem que Skinner inaugura com o Terms preten­
de eliminar a necessidade de recorrência a explicações (lingüís­
ticas ou filosóficas) não relacionais ao nível do observável para 
que se compreendam as bases do discurso verbal. Como, para 
Skinner, cada resposta verbal deve ser entendida enquanto 
funcionalmente relacionada a um conjunto de condições que 
tornam sua ocorrência (mais) provável, a aquisição do compor­
tamento verbal constitui-se num problema a ser tratado pela 
psicologia como ciência do comportamento e não por outras 
disciplinas. E isso vale, também, para o comportamento verbal 
do cientista.
Moore (1981), ao discutir alguns aspectos do Terms, 
esclarece que, numa perspectiva behaviorista radical, o com­
13
portamento verbal do cientista pode ser tratado como predo­
minantemente(mesmo que não exclusivamente) sob o controle 
de estímulos discriminativos e reforçadores comuns à comuni­
dade científica - aos quais denomina de estímulos discrimina­
tivos e reforçadores científicos (onde estímulos discriminativos 
científicos são aqueles oriundos das operações e dos contatos 
com os dados, e reforçadores científicos são aqueles oriundos 
da previsão e do controle). Isso contrastaria com o comporta­
mento verbal do leigo, predominantemente sob o controle de 
estímulos discriminativos e reforçadores sociais e culturais.
Retomando as proposições do Terms, após apresentar as 
idéias acima, Skinner avança na discussão acerca do papel do 
estímulo discriminativo e da comunidade verbal na instalação 
do tato (embora sem empregar este termo), tratando da priva­
cidade, no que acredita residir a grande contribuição do artigo, 
‘‘Substitua cadeira por dor e chega-se ao problema de ‘a defi­
nição operacional de um termo psicológico,, (Skinner, 1984b, 
p. 573).
Admitindo-se que um indivíduo seja ensinado a emitir 
uma certa resposta verbal (a verbalizar um certo termo) 
através do reforçamento provido pela comunidade verbal 
quando esta resposta ocorre na presença de um dado estímulo 
discriminativo (da coisa referente), como tra ta r daquelas res­
postas cujos estímulos discriminativos só estão acessíveis ao 
próprio indivíduo, e não à comunidade verbal que deve en- 
siná-lo a emitir a resposta correta naquela circunstância? Aí 
reside todo o problema a ser enfrentado pelo behaviorismo no 
tratam ento da privacidade. A proposta de Skinner para uma 
análise funcional das respostas verbais na presença de estí­
mulos discriminativos parte do princípio de que estes últimos 
estejam acessíveis tanto ao indivíduo que emite a resposta 
quanto à comunidade que o ensina a emiti-la, e isso não é 
possível no caso de estímulos discriminativos privados. Como, 
então, o indivíduo aprende a relatar aqueles eventos aos quais 
só ele próprio tem acesso?
Skinner enumera quatro estratégias através das quais a 
comunidade verbal procura ensinar respostas verbais a estí­
mulos privados, a partir da inferência de ocorrência destes
14
últimos, já que o acesso direto não é possível. No primeiro ca­
so, a comunidade utiliza-se de estímulos públicos associados ao 
estímulo privado para reforçar a resposta do sujeito. E o que 
ocorre, por exemplo, quando se ensina a resposta verbal à es­
timulação tátil de um objeto, tendo-se acesso à estimulação 
visual deste mesmo objeto. Para o indivíduo que emite a res­
posta verbal, a estimulação que adquire o controle da resposta 
pode ser privada (tátil), mas quem lhe ensina a resposta, o faz 
com base em um outro estímulo público (a estimulação visual 
do objeto) associado à estimulação privada.
Uma segunda estratégia consiste em reforçar a resposta 
verbal ao estímulo privado na presença de outras respostas 
colaterais públicas não verbais (geralmente reflexos incondi- 
cionados) àquela mesma estimulação. Neste caso, temos o 
exemplo do indivíduo que relata uma dor de dente, ao mesmo 
tempo em que põe a mão na mandíbula ou geme. A partir da 
resposta colateral, a comunidade infere uma certa estimulação 
privada ao indivíduo e reforça sua resposta verbal.
A terceira possibilidade diz respeito à situação em que o 
indivíduo descreve seu próprio comportamento. Quando se 
tra ta de um comportamento aberto (público), a comunidade 
pode reforçar a resposta verbal com base na observação desse 
comportamento, enquanto para o indivíduo os estímulos pro- 
prioceptivos envolvidos naquele comportamento podem 
adquirir o controle da resposta. Quando se tra ta de um 
comportamento que era público e retrocedeu ao nível encober­
to, entretanto, há três alternativas: o relato (do comportamen­
to agora encoberto) pode ser reforçado com base numa resposta 
aberta tomada como acompanhamento daquela resposta enco­
berta; a resposta encoberta pode ser similar (embora menos 
intensa) a uma resposta aberta e assim prover um mesmo 
estímulo público, embora de forma enfraquecida; e a resposta 
pode não ter sempre um acompanhamento público, mas ser 
ocasionalmente reforçada, quando a mesma estimulação ocorre 
com manifestações públicas. A respeito destas últimas possibi­
lidades, Skinner não chega a oferecer exemplos que esclareçam 
sua explicação, talvez pela própria dificuldade de apontar 
comportamentos que se enquadrem naqueles casos.
15
Uma quarta e última estratégia diz respeito à generali­
zação de estímulos. Uma resposta pode ser adquirida em co­
nexão com um estímulo público e posteriormente ser emitida 
em conexão com uma estimulação privada, com base em pro­
priedades coincidentes. Um exemplo disso, é descrever uma es­
timulação privada como agitada ou ebuliente. E o que Skinner 
mais tarde (1957/1978) chamará de tato metafórico.
Uma primeira constatação que estas estratégias suscitam 
é que a comunidade verbal não precisa ter necessariamente 
aquele acesso direto aos eventos privados de um indivíduo pa­
ra que possa ensiná-lo a descrevê-los. De fato, este acesso não é 
estritamente necessário. Por outro lado, como fica bastante 
claro, nenhuma das estratégias citadas é suficiente para pro­
ver a instalação de um repertório verbal preciso a respeito dos 
estímulos privados. Nenhuma delas pode ser eximida da possi­
bilidade de erro/imprecisão ou de limitação na sua aplicação. 
Isso significa dizer que o indivíduo não pode “ claramente ‘co- 
nhecer-se’, no sentido em que o conhecimento identifica-se 
com comportar-se discriminativamente” (Skinner, 1945/1984a, 
pp.549-550). Na opinião de Skinner, esse problema justifica 
que nunca se tenha chegado a um vocabulário estável sobre 
eventos privados, de uso razoavelmente uniforme por parte 
dos membros de uma comunidade verbal.
Ainda neste artigo, Skinner já aborda diretamente o pro­
blema do autoconhecimento, utilizando-se também do conceito 
de consciência. Diz ele que estar consciente é reagir ao pró­
prio comportamento de forma verbal. Assim, um indivíduo que 
está consciente é um indivíduo capaz de descrever seu próprio 
comportamento. Como esta descrição só se torna possível a 
partir de contingências providas pela comunidade verbal, desta 
proposição resulta uma concepção de consciência como produ­
to social.
“. . . é somente porque o comportamento do indivíduo é impor­
tante para a sociedade que a sociedade torna-o, entáo, importan­
te para o indivíduo. Alguém se torna consciente do que está 
fazendo somente após a sociedade ter reforçado respostas ver­
bais com respeito ao seu comportamento como a fonte de estímu­
los discriminativos”. (Skinner, 1945/1984a, p.551).
16
A consciência, então, deve ser abordada como uma 
questão de descrição do próprio comportamento, ou melhor, 
como uma questão de instalação de um adequado repertório 
verbal descritivo do próprio comportamento. Esse tipo de tra ­
tamento tem uma implicação que Skinner chega a considerar 
irônica: é o desenvolvimento de um vocabulário mais efetivo 
para a análise do comportamento que pode aumentar as possi­
bilidades de um indivíduo tornar-se efetivamente consciente. 
Em suma, “ a psicologia do outro é, no fim de tudo, a aborda­
gem direta para o ‘autoconhecimento’” (Skinner, 1945/1984a, 
p.551).
Para chegar a esta explicação do autoconhecimento, 
Skinner serve-se do exemplo do comportamento de ver. Segun­
do ele, quando um indivíduo relata vermelho, na presença de 
um estímulo desta cor, devemos considerar que esta resposta 
verbal foi instalada e mantida através de reforçamento contin­
gente à propriedade cor do estímulo. Ao invés de supor-se que 
o indivíduo esteja relatando um evento privado do tipo de uma 
sensação de vermelho, deve-se supor que esteja relatando uma 
propriedade do estímulo, esta última acessível tanto ao próprio 
sujeito, quanto à comunidade que reforça sua resposta verbal. 
Um problema adicional surge, no entanto, quando é examina­
do o caso em que tal resposta ocorre na ausência do estímulo 
discriminativo vermelho - oque, na psicologia tradicional, se­
ria considerado como a descrição de uma imagem interna. Mas 
o comportamento verbal que é descritivo de imagens também 
deve ser explicado por qualquer ciência do comportamento.
Retornando àquelas estratégias para a instalação de re­
pertórios descritivos de eventos privados, pode-se dizer que a 
resposta vermelho seria explicada em termos da primeira téc­
nica enumerada. Isto é, há uma estimulação privada à qual o 
indivíduo responde verbalmente, mas o reforçamento da res­
posta verbal é feito contingentemente a uma estimulação pú­
blica associada. Entretanto, quando um indivíduo diz eu vejo 
vermelho ou eu estou consciente de vermelho (o que pode ocor­
rer na ausência de qualquer objeto vermelho), o mesmo tipo de 
explicação não seria possível. Isto porque ver ou estar conscien­
te de “ . . . parecem referir-se a eventos que são por natureza ou 
por definição privados” (Skinner, 1945/1984a, p.550).
17
Uma primeira solução para o problema seria afirmar que 
quando um indivíduo diz eu vejo vermelho ele está descrevendo 
o seu comportamento de ver, o que poderia ser explicado em 
termos da terceira estratégia, de acordo com a qual o reforça- 
mento da resposta verbal descritiva do próprio comportamento 
é feito contingente a uma dimensão (ou acompanhamento) pú­
blica deste mesmo comportamento. Isto é, o indivíduo apren­
deria a ver estímulos privados (neste caso, a ver seu próprio 
comportamento visual) a partir do reforçamento provido em 
circunstâncias de visão aberta (nas quais a comunidade verbal 
tem acesso a alguma dimensão pública do objeto visto). Mas 
esta não é exatamente a hipótese que Skinner considera mais 
provável, pois ela implica considerar o ver meramente como 
um comportamento de reação ao estímulo vermelho. Para ele, 
o ver, neste exemplo, deve ser entendido como uma reação ao 
próprio comportamento de reagir ao vermelho. No caso, é 
possível que a expressão eu vejo vermelho (onde vejo é tomado 
como sinônimo de estou consciente de) descreva mais do que 
um acompanhamento privado do tipo de uma estimulação que 
sobrevive em um ato encoberto semelhante (como ocorre no 
emprego da terceira técnica descrita). Ela pode estar descre­
vendo um estado privado que adquire o controle daquela res­
posta verbal (como ocorre no emprego das técnicas 1 e 2). 
Neste caso, o termo ver não se refere a um comportamento, 
mas a uma condição interna do indivíduo.
“Dizer eu vejo vermelho é reagir, náo ao vermelho (este é 
um significado trivial de “ver”), mas à própria reaçáo a verme­
lho. Ver é um termo adquirido com respeito ao comportamento 
do próprio indivíduo no caso de respostas abertas disponíveis pa­
ra a comunidade, mas de acordo com a presente análise ele pode 
ser evocado outras vezes por qualquer acompanhamento privado 
de visáo aberta. Aqui está um ponto no qual uma visáo privada 
náo-comportamental pode ser introduzida” (Skinner, 
1945/1984a, p.550-551).
O autoconhecimento, de acordo com esta análise, pode 
então ser concebido em termos de uma discriminação de estados
18
privados (expressa na forma verbal), instalada a partir do re- 
forçamento de discriminações (visuais) de eventos públicos. 
Embora se compreenda que Skinner trate do autoconhecimen- 
to em termos da discriminação de um controle que estímulos 
internos exercem sobre o comportamento encoberto do próprio 
sujeito, não fica claro por que identifica esta discriminação 
com o comportamento visual (em outros momentos de sua 
obra, a discriminação de estímulos é tratada sem qualquer re­
ferência àquele comportamento), nem por que limita esta dis­
criminação a condições internas do sujeito (a discriminação de 
aspectos externos relativos a comportamentos do sujeito - por 
exemplo, de variáveis que os controlam - não significa autoco- 
nhecimento?).
Apresentadas as principais idéias contidas no Terms, cabe 
examinar alguns comentários formulados por diferentes auto­
res àquele artigo, bem como algumas respostas do próprio 
Skinner aos respectivos comentários.
Uma primeira observação importante é que vários auto­
res (Brinker e Jaynes, 1984; Lowe, 1984; Meehl, 1984; Moore, 
1984; Ringen, 1984; e Zuriff, 1984) fazem questão de ressaltar 
a importância histórica daquele artigo, como um marco no de­
senvolvimento do pensamento skinneriano. Nestes casos, adje­
tivos como significativo ou brilhante não são nada escassos na 
caracterização do trabalho. Por outro lado, alguns daqueles 
autores (Brinker e Jaynes, 1984; Lowe, 1984; Moore, 1984; e 
Ringen, 1984) chamam a atenção para uma questão um tanto 
delicada. Trata-se da não aplicação daqueles novos princípios a 
um programa de investigações acerca do comportamento hu­
mano. E realmente intrigante que Meehl (1984), por exemplo, 
afirme que os argumentos do Terms são hoje tão atuais quanto 
em 1945, o que pode ser uma forma indireta de afirmar que 
não se avançou nas questões ali levantadas.
Brinker e Jaynes (1984) chegam a considerar que a razão 
das críticas atualmente dirigidas ao behaviorismo radical pode 
ser encontrada no fato de que a proposta contida no Terms 
“ . . . nunca culminou no programa prometido de pesquisa em 
comportamento humano que demonstraria as diferenças entre 
o velho e o novo operacionismo” (p.554). Se a presente inter-
19
pretação estiver correta, isso significa dizer que a filosofia be- 
haviorista radical teria dado um passo, há quarenta anos, que 
a análise experimental do comportamento só acompanhou, se é 
que o fez, de forma extremamente precária6. No entanto, 
mesmo entendendo dessa forma a colocação de Brinker e 
Jaynes, ainda se mostra necessário avaliar em que medida a 
filosofia behaviorista radical realmente deu o referido passo. 
Esta questão, entre outras, será desenvolvida no capítulo se­
guinte deste trabalho.
Lowe (1984) vai um pouco mais longe, abordando o pro­
blema específico do autoconhecimento. Após ressaltar que 
Terms reconhece aspectos especiais caracterizadores do com­
portamento dos seres humanos, este autor afirma que a grande 
realização do artigo “ . . . é que ele mostra que a ‘consciência’ 
. . . está, finalmente, acessível à análise científica” (p.562). 
Esta realização, entretanto, não teria apresentado grandes re­
sultados, já que Lowe desenvolve sua análise reclamando por 
pesquisa na área do autoconhecimento.
Talvez o elemento mais importante com respeito a estas 
duas questões venha do próprio Skinner. Sobre a importância 
histórica de seu artigo, ele em nada contesta seus comentado­
res, podendo se pensar que, no mínimo, não veria aí nenhum 
exagero. Com relação à pesquisa na área do comportamento 
verbal e do autoconhecimento, Skinner é bastante explícito ao 
concordar com a demanda daqueles autores. Respondendo a 
Brinker e Jaynes (1984), ele afirma: “Eu também lamento que 
mais trabalho não tenha sido feito na linha da minha análise 
no Verbal Behavior .. . ’’(Skinner, 1984b, p.574). E, mais inte­
ressante, respondendo a Lowe (1984), declara: “ . . . estou feliz 
de me jun tar a ele [Lowe] ao exigir o próximo passo: pesquisa 
sobre autoconhecimento e autogerenciamento e seus possíveis
6 Esta distinçáo é apresentada por Skinner de forma mais explícita em seu Behavio­
rism, at Fifty ( 1963/1984c). Segundo ele, o behaviorismo constitui uma filosofia da 
ciência que se ocupa dos métodos e do objeto de estudo da psicologia. A análise ex­
perimental do comportamento, por outro lado, constituiria a ciência que se serve 
daqueles princípios.
20
efeitos no comportamento humano em geral” (Skinner, 1984b, 
p.576). Em nenhum momento de suas respostas, contudo, 
Skinner esclarece se na época em que escreveu aquele artigo 
acreditava estar propondo um novo programa de pesquisas na 
área do comportamento humano, ou se os problemas que le­
vantou estariam simplesmente voltados para um esclarecimen­
to de ordem epistemológica. Como não faria sentido, aqui, uma 
discussão a respeito dos objetivos de Skinner naquela ocasião, 
convém colocar o assunto de outra forma. Dadoo fato de que 
este artigo (e outros seguintes) poderia ter suscitado algum 
tipo de pesquisa na área do comportamento verbal e do auto- 
conhecimento, que razões justificam que isso não tenha ocorri­
do? Embora não seja possível oferecer uma resposta conclusiva 
à questão, ela parece bastante importante e será retomada no 
decorrer deste trabalho.
Uma última observação nessa linha de comentários, dire­
tamente relacionada à questão anterior, diz respeito ao tipo de 
leitura provida pelo artigo de Skinner. Terrace (1984) classifi­
ca o texto como contendo posições metafísicas e epistemológi- 
cas incomuns. Stalker e Ziff (1984) afirmam que na época do 
Simpósio sobre Operacionismo as preocupações de Skinner 
iam além do problema de uma tecnologia do comportamento e 
voltavam-se, cada vez mais, para questões filosóficas. O texto 
em discussão marcaria, assim, o início de um período no qual 
Skinner afastar-se-ia cada vez mais da pesquisa para dedicar- 
se a questões filosóficas (Stalker e Ziff, 1984). Em resposta a 
estes últimos, Skinner inicia afirmando que seu texto não é fi­
losofia, mas interpretação. E define interpretação como a apli­
cação de princípios cientificamente comprovados a assuntos 
mais complexos, sobre os quais o conhecimento existente não é 
suficiente para tornar a previsão e o controle possíveis. Con- 
textualizado tal argumento em termos do comportamento hu­
mano, o assunto de seu artigo, afirma o seguinte:
“As análises de laboratório do comportamento dos orga­
nismos têm produzido uma boa quantidade de previsão e contro­
le bem-sucedidos, e estender os termos e princípios descobertos 
como efetivos sob tais circunstâncias à interpretação do compor-
21
tamento onde as condições de laboratório sáo impossíveis é factí­
vel e útil. Eu náo acho que isso seja propriamente chamado de fi­
losofia. O comportamento humano que observamos no dia-a-dia 
é, infelizmente, muito complexo, ocorre muito esporadicamente 
e é uma função de variáveis muito longe do alcance para permi­
tir uma análise rigorosa. No entanto, é útil falar sobre ele à luz 
de exemplos nos quais a previsáo e o controle já provaram ser 
possíveis” (Skinner, 1984b, p.578).
Embora, aqui, Skinner apresente elementos a favor da in­
terpretação de eventos mais complexos a partir da utilização de 
conceitos comprovados como eficazes no tratamento de even­
tos menos complexos, isso não significa que concorde com a 
suposição de Stalker e Ziff (1984) de que, com isso, estaria 
afastando-se da pesquisa. O que precisa ser esclarecido é em 
que medida seria possível conciliar o caráter interpretativo de 
algumas de suas proposições com uma demanda por pesquisa 
empírica e, a esse respeito, Skinner oferecia poucos subsídios 
em seu artigo de 1945. Esta questão será retomada no capítulo 
seguinte deste trabalho.
A título de conclusão do presente capítulo introdutório, 
convém destacar os pontos principais do material discutido até 
aqui, alguns dos quais serão retomados nos capítulos seguin­
tes:
• O behaviorismo radical de Skinner constituiu sua identida­
de (no sentido de distinguir-se das demais psicologias com- 
portamentais então existentes) através do reconhecimento 
da vida interna dos indivíduos e da proposição de uma pers­
pectiva científica para o tratamento de fenômenos a ela 
relacionados. Por um lado, esta constatação tem uma im­
portância singular, considerando-se opiniões bastante pro­
paladas no sentido de que Skinner despreza este tipo de 
problema na construção de sua ciência do comportamento. 
Por outro lado, vale registrar que este reconhecimento sur­
ge a partir de preocupações de ordem epistemológica, mais 
precisamente, a partir da necessidade de viabilizar um pro­
jeto operacionista efetivo para a psicologia.
22
• Skinner considera que os eventos privados são eventos físi­
cos, embora inacessíveis à observação pública. Ainda assim, 
considera ser tarefa da psicologia tra tar destes eventos, 
mesmo que de forma inferencial, a partir da aplicação de 
termos e princípios já comprovados como eficazes no tra ta­
mento de problemas menos complexos.
• A resposta verbal caracterizada como o “emprego de um 
termo” deve ser objeto de uma análise funcional que de­
monstre as circunstâncias em que tal resposta ocorre (ou, 
que tal termo é empregado) e as conseqüências reforçadoras 
então providas pela comunidade verbal.
• Quando aquelas circunstâncias consistem de estímulos dis­
criminativos privados, deve-se considerar as estratégias 
através das quais a comunidade infere a ocorrência daquela 
estimulação privada para reforçar a resposta verbal do in­
divíduo. A partir do fato de que essas estratégias têm um 
alcance limitado, pode-se explicar a dificuldade de um in­
divíduo chegar a ter um efetivo repertório verbal descritivo 
de seus eventos privados.
• Conhecer, para Skinner, é discriminar estímulos. O autoco- 
nhecimento, então, corresponde a uma discriminação de 
estímulos gerados pelo próprio indivíduo (autogerados) que 
se autoconhece, isto é, autoconhecimento é autodiscrimi- 
nação.
• Algumas vezes, Skinner tra ta do autoconhecimento en­
quanto discriminação de comportamentos do próprio indiví­
duo. Outras vezes, trata-o como discriminação de estados 
privados, que podem ser não-comportamentais. Sobre a dis­
tinção, não faz nenhum tipo de esclarecimento adicional.
• Um outro problema surge quando Skinner introduz o com­
portamento de ver para falar do autoconhecimento. Em al­
guns momentos, parece legítimo supor que se refere a este 
comportamento apenas para exemplificar o problema da 
discriminação de estímulos. Em outros casos, entretanto, 
parece conceber o autoconhecimento como um fenômeno de 
alguma forma relacionada à questão da própria discrimi-
23
nação visual. Esta última possibilidade não faz sentido, por 
exemplo, se se consideram as alternativas para um cego au- 
toconhecer-se. Mesmo que se justifique a postura de 
Skinner, supondo que utiliza a visão apenas como exemplo 
de um sentido que permite o acesso do indivíduo ao ambien­
te que o rodeia (e ao seu próprio ambiente interno), dois 
problemas podem ainda ser levantados. Por um lado, não 
haveria necessidade de se falar de uma “visão privada não- 
comportamental” . Por outro (talvez mais importante), o 
conceito de discriminação de estímulos não exige (como se 
vê em outras obras do próprio Skinner) nenhum tipo de re­
ferência àqueles sentidos, podendo ser empregado simples­
mente através do recurso aos princípios do comportamento 
operante. Por que então, não falar de autoconhecimento 
simplesmente enquanto discriminação de condições do pró­
prio indivíduo, sem recorrer à visão (ou a qualquer outro 
sentido) para sugerir aspectos intermediárips desta discri­
minação?
• A despeito de seu caráter realmente interpretativo, o artigo 
de Skinner contém elementos suficientes para que algum ti­
po de pesquisa sobre o comportamento humano complexo 
tivesse sido desenvolvida nas últimas quatro décadas. As 
razões para que isso não tenha ocorrido (ou tenha ocorrido 
apenas de forma precária) parecem complexas. Por um lado, 
Skinner não esclarece como pretende conciliar uma postura 
interpretativa acerca do autoconhecimento (e de outros 
problemas relativos ao homem) com uma demanda por pes­
quisa empírica nessa área. Por outro, uma análise mais 
adequada deste problema parece requerer a consideração de 
diversos elementos da epistemologia skinneriana, que é 
muito mais do que meramente operacionista.
2 AS PROPOSIÇÕES BEHAVIORISTAS RADICAIS ACERCA DO AUTOCONHE­CIMENTO
". . . a auto-observaçáo pode ser estudada, e deve ser incluída em 
qualquer abordagem razoavelmente completa do comportamen­
to humano. Em vez de ignorar a consciência, uma análise expe­
rimental do comportamento humano salientou certos problemas 
cruciais. A questáo náo é se um homem pode conhecer a si mes­
mo, mas o que ele conhece ao assim agir.”
(B. F. Skinner, O Mito da Liberdade)
No capítulo anterior, observou-se que Skinner pretende 
distinguir suaabordagem de outros sistemas comportamen- 
tais, através da proposição de um tratamento efetivo para pro­
blemas relativos à privacidade. Por um lado, assinalou-se que a 
proposta de Skinner visa superar uma perspectiva mentalista 
e dualista que persistia nas abordagens (por ele designadas) 
behavioristas metodológicas. Por outro lado, também se apon­
tou o fato de que a alternativa de Skinner para uma superação 
daquele problema esbarra em algumas dificuldades que preci­
sam ser examinadas.
Neste capítulo, procurar-se-á avançar na análise das pro­
posições de Skinner para a privacidade, em geral, e para o au­
toconhecimento, em particular, recuperando-se as idéias e os 
problemas anteriormente levantados.
Ao considerar-se os diversos textos em que Skinner trata 
de problemas relativos aos eventos privados, observa-se um 
certo tipo de contradição. Há momentos em que este autor 
procura sugerir uma abordagem efetiva para aqueles eventos, 
a despeito dos problemas que se colocam no caminho - proble­
26
mas estes por ele mesmo apontados. Em outros casos, Skinner 
assume uma postura bastante distinta, sugerindo que a psico­
logia enquanto ciência do comportamento poderia prescindir 
de um tratam ento efetivo para aqueles eventos. O objetivo 
deste capítulo será, então, o de apontar e discutir estes dois 
momentos (tratando dos eventos privados em geral), para que 
depois se examine como a alternativa de um tratamento efeti­
vo para os eventos privados é articulada no âmbito do auto- 
conhecimento em particular. E, ao final deste capítulo, procu- 
rar-se-á indicar em que medida estas posições permitem esta­
belecer os limites e as possibilidades de um tratamento beha- 
viorista radical para o autoconhecimento, ao nível das formu­
lações teóricas de Skinner.
Embora Terms tenha sido escrito em 1945, muitas das 
idéias ali contidas repetem-se em obras posteriores de Skinner. 
Apesar disso, a repetição daquilo que já foi apresentado no 
capítulo anterior será evitada. Cada tópico deste capítulo será 
tratado procurando-se acrescentar elementos ao que já foi dis­
cutido anteriormente.
2.1 A NATUREZA DOS EVENTOS PRIVADOS
Examinar como Skinner concebe a privacidade implica 
demarcar em que medida ele sugere que os eventos a ela perti­
nentes podem ser efetivamente considerados no contexto de 
sua psicologia comportamental e em que medida isso deixa de 
acontecer. Vale esclarecer que a expressão tratamento efetivo 
será empregada, aqui, não apenas no sentido de uma expli­
cação teórica consistente, mas, também, no sentido de um tipo 
de tratam ento que realmente leve em conta os eventos priva­
dos na análise e (proposição de) intervenção em situações onde 
estes eventos reconhecidamente ocorrem e relacionam-se com 
outros comportamentos públicos dos indivíduos.
No capítulo anterior, assinalou-se que Skinner toma os 
eventos privados como físicos, porém inacessíveis à observação 
pública. Mostra-se necessário, agora, entender que tipo de 
fenômeno físico é este bem como o status que Skinner lhe
27
atribui na construção de seu sistema teórico e de sua ciência 
do comportamento.
Em Terms, Skinner indica a possibilidade de que os even­
tos privados sejam pensados como comportamentos (por 
exemplo, ver), ou como estados ou condições internas do orga­
nismo (por exemplo, dor). Em textos posteriores (por exemplo, 
Skinner, 1963/1984c), Skinner deixa bem claro que aquilo que 
denominava de estados ou condições internas deve ser tomado, 
mais adequadamente, como estímulos internos (ou seja, como 
estimulação interoceptiva e proprioceptiva). Isto é, o que ocor­
re sob a pele do indivíduo pode ser interpretado em termos de 
estímulos e comportamentos, os exatos eventos de que se ocu­
pa a psicologia operante. Conceber os eventos privados dessa 
forma justificaria analisá-los de acordo com os princípios com- 
provadamente eficazes no estudo de fenômenos menos com­
plexos. O mais relevante neste esclarecimento, porém, é que 
ele diferencia a posição de Skinner sobre os eventos internos 
daquelas abordagens psicológicas que falam em estados inter­
nos do organismo, na forma de “condições armazenadas a par­
tir da experiência” , ou mesmo “ geneticamente determinadas” . 
Para Skinner, o interno remete a acontecimentos (comporta­
mentos e estimulações privadas) e não a conteúdos ou proces­
sos (mentais ou de outra natureza). Por outro lado, ao levar 
em conta a interação de um organismo com seu ambiente, ao 
invés de se considerar que as experiências são de alguma forma 
armazenadas pelo organismo que as vivência, deve-se supor, 
segundo Skinner, que elas atuam na forma de modelagem e 
instalação dos repertórios comportamentais do organismo. As­
sim, o comportamento é explicado como função da interação do 
organismo com o ambiente, e não como função de condições in­
ternas do tipo experiência armazenada. “Pensar que alguma 
cópia das contingências é introduzida no organismo para ser 
usada numa data posterior, é um erro ‘cognitivo’ fundamental. 
Os organismos não armazenam as contingências filogenéticas 
e ontogenéticas às quais são expostos; eles são mudados por 
elas” (Skinner, 1984d, p.656, grifo nosso).
Para ilustrar o problema levantado por Skinner pode-se 
recorrer ao exemplo da “memória” . Enquanto para algumas
28
teorias cognitivas, o indivíduo armazena informações que 
poderão ser recuperadas em situações futuras, para o behavio- 
rismo radical, o que ocorre é algo distinto. O organismo, ao 
interagir com o ambiente, é transformado na forma de mode­
lagem e instalação de repertórios comportamentais. Embora 
Skinner vislumbre este processo de interação de uma forma 
mais dinâmica, interessa assinalar que dele resultam relações 
funcionais entre comportamentos e variáveis ambientais. O 
comportamento de lembrar um nome, nesta perspectiva, pode 
ser analisado enquanto uma resposta com alguma probabili­
dade de ocorrência, probabilidade esta determinada por uma 
história de reforçamento daquela resposta, na presença de cer­
tos estímulos discriminativos. Esse tipo de análise não requer 
nenhuma suposição da existência de conteúdos mnemónicos. 
Ao contrário, procura mostrar que suposições como esta ape­
nas desviam a atenção do pesquisador de uma análise efetiva 
do comportamento humano. Isso não significa dizer que 
Skinner despreze as contribuições da fisiologia e da neurologia 
no estabelecimento das bases (neuro)fisiológicas do compor­
tamento. Ele apenas pondera que, a despeito dos fatos que es­
tas disciplinas conseguirem estabelecer, ainda será necessário 
que uma ciência do comportamento estabeleça os fatos relati­
vos ao papel do ambiente externo ao organismo na determi­
nação de seus comportamentos.
A postura de Skinner a respeito do problema de condições 
internas do organismo é fundamental para a coerência e legi­
timação de sua psicologia como ciência do comportamento. 
Não faria sentido que a análise experimental do comportamen­
to se ocupasse das relações entre o ambiente e o comportamen­
to dos organismos se aceitasse a premissa de que os organismos 
são dotados de condições internas às quais se atribui o status 
de determinantes do comportamento. Aceitar a existência des­
tes estados seria negar a pertinência de uma análise experi­
mental do comportamento. Isto é, o próprio projeto de uma 
psicologia operante poderia perder sentido. Por outro lado, 
olhar para os eventos privados como estímulos e comporta­
mentos, por mais que ocorrendo a um nível diretamente ina­
cessível para a comunidade em geral, significa continuar com
29
as relações entre ambiente (seja ele externo ou interno) e com­
portamento como o fato que importa no estudo científico das 
atividades humanas.
Ao considerar os eventos privados como estímulos e com­
portamentos, Skinner dá um passo importante para que possa 
abordá-los no contexto de uma ciência do comportamento. To­
davia, um problema surge quando se levanta o fato de que são 
eventos que não ocorrem de forma pública e que, portanto, não 
estariamdiretamente acessíveis à investigação científica.
Na perspectiva skinneriana, o que caracteriza os eventos 
privados é exatamente o fato de constituírem uma parte do 
universo de cada indivíduo à qual só ele próprio tem acesso. 
Disso resulta que, ao considerar-se que os comportamentos de 
um indivíduo são função de sua interação com o ambiente, 
será necessário admitir que uma parte do ambiente se encerra 
dentro de sua própria pele. Esta situação só é problemática 
devido às dificuldades de descrição daqueles eventos. Como 
examinado no capítulo anterior, os repertórios verbais auto- 
descritivos são instalados a partir de contingências providas 
pela comunidade verbal e esta, por não ter aoesso direto àque­
les eventos, sempre encontrará dificuldades para modelar um 
repertório com alto grau de precisão. Em outras palavras, é 
possível caracterizar a privacidade (ou seu aspecto de inacessi­
bilidade pública) em termos de uma questão de relativa incog- 
noscibilidade.
Além das estratégias de que a comunidade verbal dispõe 
para instalar repertórios verbais auto-descritivos, apresenta­
das no capítulo anterior, uma alternativa bastante citada 
quando se discute o problema acima diz respeito à possibilida­
de de certos eventos privados virem a tornar-se públicos. Em 
alguns momentos, Skinner chega a admitir tal possibilidade. 
“A linha entre o público e o privado não é fixa. A fronteira se 
altera com cada descoberta de técnicas para tornar públicos os 
eventos privados. O comportamento que tenha uma magnitude 
tão pequena que não possa ser observado poderá ser amplifi­
cado. ( . . .) O problema do privativo pode, portanto, ser final­
mente resolvido por técnicas avançadas” (Skinner, 1953/1981. 
p. 271). Não há dúvidas de que, em alguns casos, a possibilidade
30
levantada por Skinner pode realmente concretizar-se. Por 
exemplo, com respeito a um comportamento encoberto, ele su­
gere a possibilidade de se ampliar os movimentos dos dedos de 
surdos-mudos e, como estes falam com os dedos, poderia to r­
nar-se possível detectar seus comportamentos verbais enco­
bertos. Do mesmo modo, a fisiologia poderá desenvolver um 
instrumental que permita o registro dos impulsos responsáveis 
por uma dor qualquer, e assim um estímulo originalmente pri­
vado estaria sendo tornado público. De qualquer maneira, 
Skinner reconhece que esta estratégia teria abrangência limi­
tada.
Ainda em 1953, em seguida ao trecho citado acima, 
Skinner afirma:
“Mas ainda nos defrontamos com eventos que ocorrem no 
nível privado e que são importantes para o organismo, e não te­
mos instrumental para amplificação. Como o organismo reage 
ante esses eventos permanece uma questão importante, mesmo 
que algum dia os eventos possam tornar-se acessíveis a todos” 
(Skinner, 1953/1981, p.271).
Em 1963, Skinner reconhece que os estímulos externos e 
internos diferem em algo mais do que a localização, mesmo 
admitindo-se que ambos tenham dimensões físicas. Segundo 
ele, a situação diz respeito à intimidade, à familiaridade com 
que o acesso a eles se dá. Por esta razão, mesmo que se consiga 
registrar alguns eventos privados, não será possível detectar a 
forma da estimulação única para cada indivíduo.
“Embora se possa dizer que, em algum sentido, duas pes­
soas vêem a mesma luz ou ouvem o mesmo som, elas não podem 
sentir a mesma distensão de um duto biliar ou a mesma dis­
tensão muscular. (Quando a privacidade é invadida com instru­
mentos científicos, a forma de estimulação é alterada; as escalas 
lidas pelo cientista não são os eventos privados em si)” (Skinner 
1963/1984c, p. 616) (grifo nosso).
31
Gunderson (1984) oferece alguns elementos que facilitam 
a compreensão deste aspecto peculiar dos eventos privados. 
Este autor comenta o texto Behaviorism at Fifty, de Skinner, e 
discute a existência de dois tipos de privacidade, uma skinne- 
riana e outra leibniziana. A primeira seria constituída de 
eventos cuja acessibilidade é uma questão de utilização de 
técnicas que alterem a fronteira público-privado e Gunderson 
reconhece que há casos em que isso se aplica. A segunda, cons­
titui-se de eventos cognoscíveis apenas para o próprio indiví­
duo sob cuja pele ocorrem. Ela tem a ver com o tipo de contato 
(direto, imediato, não-inferencial) que o indivíduo estabelece 
com os eventos que ocorrem sob sua pele. Neste caso, a fron­
teira público-privado é inalterável. A privacidade leibniziana, 
então, jamais estará publicamente acessível; ela deriva de uma 
diferença qualitativa fundamental, em bases epistemológicas, 
entre asserções psicológicas na primeira e na terceira pessoa. 
Eventos (mentais, para Gunderson) relativos a esta privaci­
dade.
“. . . estão numa categoria epistemologicamente diferente 
de entidades inobserváveis (teóricas) na ciência, isso não signifi­
ca que sejam agraciados por algum status metafísicos especial - 
uma observação com a qual estou certo de que Skinner concor­
daria - mas significa sim que são conhecidos de uma “maneira 
especial” - uma observação da qual acredito que Skinner discor­
daria e discorda. . .” (Gunderson, 1984, p. 629).
Partindo do que foi apresentado acima, é possível dizer 
que, ao contrário do que pensa Gunderson, Skinner reconhece 
os aspectos caracterizados como privacidade leibniziana. O 
próprio Skinner, entretanto, responde a Gunderson e elucida 
sua posição.
Skinner (1984d) inicia sua resposta declarando que con­
corda com muito do que Gunderson diz, e afirmando que a 
maneira como observa seus eventos privados introspectiva- 
mente não é a maneira como os neurologistas os observariam 
se pudessem. Apresenta, contudo, duas observações ao co­
mentário. Em primeiro lugar, não utilizaria o termo mental, se
32
com isso se quer dizer que os eventos privados são constituídos 
de um tipo diferente de substância. Em segundo lugar, insiste 
em que a auto-observação é um comportamento de tipo espe­
cial7, de origem largamente social. Skinner admite a peculiari­
dade do tipo de contato que o indivíduo estabelece com os 
eventos que ocorrem sob sua pele, ressaltando, porém, que os 
comportamentos aí envolvidos, bem como o próprio compor­
tamento de observá-los, têm raízes na interação do indivíduo 
com seu ambiente social. Por outro lado, não discute possíveis 
implicações epistemológicas de sua postura de reconhecimento 
de que certos eventos são por natureza privados e não se tor­
narão acessíveis com o desenvolvimento tecnológico (invenção 
de instrumentos científicos). Talvez não discuta essas impli­
cações por não dispor, no momento, de uma alternativa para 
conciliar sua proposta de uma ciência experimental com a su­
posição de que alguns eventos relativos ao seu objeto de estudo 
só podem ser tratados pela comunidade numa perspectiva 
inferencial. Este é o primeiro de dois problemas a serem apon­
tados como não (ou mal) resolvidos na perspectiva de um tra ­
tamento efetivo para os eventos privados.
Ao distinguir os eventos entre públicos e privados, conce­
bendo o privado em termos de evento inacessível à observação 
pública direta, Skinner acaba impondo um limite sério a um 
tratamento efetivo da privacidade, já que sua abordagem enfa­
tiza a necessidade de investigação empírica dos fenômenos re­
lativos ao comportamento. Os eventos privados, neste caso, 
não atenderiam a esta exigência, quer dizer, não estariam dis­
poníveis publicamente a fim de serem investigados daquela 
forma (empiricamente). Nesse sentido, se se considera o méto­
do experimental empírico como o instrumento através do qual 
uma ciência do comportamento deve estudar os fenômenos
7 Vale observar que o fato de Skinner considerar a auto-observação como um com­
portamento de tipo “especial” não significa que ele esteja atribuindo uma 
natureza mental (ou de qualquer outro tipo que não seja física) àquele evento. O 
especial, aqui, provavelmente refere-se ao fato de que a auto-observação é um com­
portamento que, embora inacessível à comunidade, só se instala a partir de con­
tingências por ela providas.

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