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Ç GarbsALiertpNt^ies EMMANUEL ZACURY TOURINHO 0 AUTOCONHECIMENTO NA PSICOLOGIA COMPORTAMENTAL DE B. F. SKINNER 0 AUTOCONHECIMENTO NA PSICOLOGIA COMPOKTAMENTAL DE B. F. SKINNER UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARA Reitor Marcos Ximenes Ponte Vice-Reitor Zélia Aniador de Deus Pró-Reitor de Administração Vera Maria Bandeira Arruda Pró-Reitor de Ensino Marlene R. Medeiros Freitas Pró-Reitor de Extensão Camillo Martins Vianna Pró-Reitor de Pesquisa Cristovam Wanderley Picanço Diniz Pró-Reitor de Planejamento Joaquina Barata Teixeira Secretário Geral da UFPA Emanuel G. Matos Prefeito do Campus Abílio Augusto Velho da Cruz Ficha Catalográfica: Biblioteca Seccional do CFCH Tourinho, Emmanuel Zagury T727a O autoconhecimento na psicologiacomportamental de B. F. Skinner. - Belém: UFPA. CFCH, 1993.105 p. (Coleção Carlos Alberto Nunes) ISBN: 85-247-0111-0 1. Behaviorismo. 2. Skinner, Burrhus Frederic, 1904-1990. 3. Comportamento Humano. 4. Consciência. I. Título CDD 19.ed. 150.1943 CDU 159.9.019.4 EMMANIEL ZAGIIRY TOURINHO 0 AUTOCONHECIMENTO NA PSICOLOGIA COMPORTAMENTAL DE B. F. SKINNER Centro de Filosofia e C. Humanas Coleção Carlos Alberto Nunes E D I T O R A UNÍVERSITÁRiAU F P A B elém1995 Título e texto amparados pela Lei n. 5 988 de 14 de dezembro de 1973. l a ediçáo - UFPA - 1995 (c) 1995, by Emannuel Zagury Tourinho CONSELHO EDITORIAL Presidente: Emanuel G. Matos Membros: Amarilis Tupiassu, Jane Felipe Beltrão, Ricardo Ishak Representante da Biblioteca: Maria das Graças Coelho Representante da Gráfica e Editora: Ivan Costa EDITORA DA UFPA Diretor: Ivan Cardoso Costa Editor Executivo: Maria das Dores Sarmento Revisão do Texto: Berenice Loureiro Lisbela Braga Maria das Dores Sarmento Capa: Ivanise Oliveira Brito Composição eletrônica: Joáo Carlos Moraes Maria Auxiliadora Prado Normalização Técnica: Sílvia Maria Bitar de Lima Moreira Trabalho parcialmente financiado pelo CNPq Depósito legal na Biblioteca Nacional, conforme Decreto n. 1 825 de 20/12/1907. Para MIRYAM “Multidões de pessoas estão agora preocupadas, mais do que nunca, apenas com as histórias de suas próprias vidas e com suas emoções parti culares; esta preocupação tem demonstrado ser mais uma armadilha do que uma libertação. ” (R. Sennett. O D eclín io do H om em Público) NOTA Este trabalho tem como base a Dissertação de Mestrado intitulada Sobre a Visão Behaviorista Radical do Autoconhe- cimento, apresentada ao Programa de Psicologia Social da PUC-SP em 1988 e orientada pelo Prof. Dr. Sérgio V. Luna. Dentre as alterações em relação ao texto original está a adição de um Posfácio intitulado Para Além do Público-Privado. APRESENTAÇÃO Dando continuidade à Coleção Carlos Alberto Nunes, a Universidade Federal do Pará, através da sua Editora, tem a honra de lançar, no mercado editorial, a obra O Autoconheci- mento na Psicologia Comportamental de B. F. Skinner, de au toria do Prof. Emmanuel Zagury Tourinho. Trata-se de uma obra que procura mostrar, de forma crí tica, o pensamento skinneriano, ao mesmo tempo em que con duz o leitor a refletir acerca de tão polêmico tema, extraindo, da complexidade do assunto, argumentos que embasem suas próprias conclusões quanto à psicologia do comportamento humano. E com orgulho, portanto, que esta Universidade coloca à disposição do público leitor tão relevante publicação, colabo rando, mais uma vez, com o enriquecimento intelectual da so ciedade brasileira. Marcos Ximenes Ponte Reitor PREFÁCIO Esta publicação vem preencher uma dupla lacuna na me dida em que torna mais pública a existência de um jovem pen sador (o que é muito mais do que uma promessa de um pesqui sador brilhante), ao mesmo tempo que dissemina um de seus produtos. Lamentavelmente, raramente uma obra consegue revelar o amadurecimento teórico-epistemológico por que passa um autor em seus embates com o tema escolhido. Deste ponto de vista, este trabalho não foge à regra. Por esta razão, é preciso enfatizar várias características do autor que foram sendo reve ladas (ou disciplinadas) ao longo do trabalho. A mais impor tante foi, sem dúvida, a clareza demonstrada quanto ao pro blema que ele pretendia estudar, o que foi fundamental para discriminar o que era periférico, o que era relevante e o que representaria um confuso desvio na meta traçada. Tal clareza de propósitos, porém precisou ser complemen tada com uma predisposição para enfrentar os desafios que vão sendo interpostos, sob o risco de tornar o produto superficial, e dosada pelo bom-senso, sob o risco de perder o interlocutor/lei tor em um emaranhado de raciocínios preparatórios e de con siderações intercaladas. Ambas as características marcaram permanentemente o desenrolar do trabalho. As paradas para estudar um novo assunto ou destrinchar um novo problema foram encaradas com a mesma tranqüilidade com que foram abandonadas muitas páginas de texto pronto por que não con tribuíram para o esclarecimento do problema em estudo. Uma segunda característica do autor confere um traço de relevância à obra: a sua capacidade crítica. Assumindo-se como behaviorista, o autor recusa o dogma, a verdade por tradição e o comodismo dos argumentos prontos, obrigando-se e ao leitor a reconstituir argumentos com base nas informações originais. Trata-se, de fato, do exercício da crítica interna, tão decantada, mas tão infreqüente. xiv Um autor com tais características não poderia produzir uma obra menos que importante. Embora a problemática teó rica circule em torno da Análise Experimental do Comporta mento, e a matéria prima seja constituída basicamente pela obra de Skinner, o conteúdo e as análises realizadas têm um interesse que extrapola esse âmbito. Por um lado, a obra recoloca argumentos comumente di vulgados sobre a Análise Experimental do Comportamento e sobre o próprio pensamento de Skinner, com surpresas tanto para os adeptos do behaviorismo quanto para seus críticos. Por outro o processo de estabelecimento dos limites e das possibili dades do behaviorismo radical quanto aos estados internos, obriga a uma feliz passagem por temas de interesse geral tais como o próprio estatuto dos estados internos, o papel da lin guagem, o autoconhecimento, o autocontrole e o autogoverno (que, em outro contexto teórico podem ser lidos como cons ciência). Enfim, a partir da sua publicação, a obra poderá ser dis cutida, questionada ou mesmo contestada, jamais ignorada. Qualquer destes três efeitos certamente atingirá as intenções do autor ao escrever a obra e ao divulgá-la. Sérgio V. Lurta INTRODUÇÃO Este trabalho foi iniciado com um projeto intitulado Li mites e Possibilidades de um Tratamento Behaviorista Radical para a Questão da Consciência. Como o próprio título indica o objetivo era discutir o tradicional problema da consciência no contexto da psicologia comportamental de B. F. Skinner. O termo behaviorismo radical, utilizado pelo próprio Skinner para designar sua proposta de ciência psicológica, refere-se, em termos gerais, ao conjunto de princípios teóricos e metodológi cos que fundamentam uma visão da psicologia como ciência do comportamento. A idéia de se conceber a psicologia enquanto ciência do comportamento suscita, de imediato, uma indagação acerca do tratamento a ser dado aos problemas tradicionalmente coloca dos no campo da disciplina psicológica, isto é, a vida interior, subjetiva, ou mental dos indivíduos. O tema da consciência, pertence a este conjunto de problemas e, ao examiná-lo no con texto do pensamento skinneriano, interessará abordar duas questões principais: primeiro, em que medida o behaviorismo radical trata efetivamente do problema da consciência; e, se gundo, como o tratamento dado a este problema se articula com a concepção de homem com a qual aquela abordagem tra balha. A primeira questão remete não apenas ao que é dito so bre o conceito de consciência, mas, também, ao que é sugerido sobre apossibilidade de investigação dos fenômenos pertinen tes àquele conceito. A segunda, leva ao papel atribuído a estes fenômenos no processo de determinação do comportamento humano. Alguns esclarecimentos conceituais devem ser feitos, an tes que se adentre no assunto deste trabalho. No decorrer des ta pesquisa, decidiu-se optar pelo uso do termo autoconheci- mento, em vez de consciência, por ser este um termo mais pró ximo das formulações de Skinner sobre a própria consciência, e por trazer a vantagem de que, ao empregá-lo, certos problemas xvi inerentes ao uso de conceitos que têm definições diversas, de pendendo do contexto teórico em que são empregados (como é o caso do termo consciência), são evitados. Ainda assim, even tualmente, o termo consciência foi utilizado, mas sempre no sentido em que Skinner o emprega. O próprio Skinner em di ferentes momentos, utiliza ora consciência, ora autoconheci- mento. E, por razões a serem apontadas posteriormente, também o termo autodiscriminação é empregado por Skinner como sinônimo de autoconhecimento e consciência. Com respeito ao termo autoconhecimento, convém escla recer, desde já, que Skinner não concebe o conhecimento no sentido tradicional do termo, segundo o qual o conhecimento é algo que se possui armazenado na mente e que permite ao in divíduo comportar-se adequadamente numa dada situação. Skinner dedica um capítulo de seu Sobre o Behavioris- mo (1974/1982)* à análise desta e de outras diversas versões corriqueiras do termo conhecimento. Em todos os casos, pro cura indicar que o dado a partir do qual se costuma inferir a existência do conhecimento é o comportamento, embora o ter mo conhecimento seja freqüentemente empregado como signi ficando muito mais do que meramente comportar-se. Para Skinner, entretanto, conhecer é fundamentalmente compor- tar-se discriminativamente ante estímulos. Segundo seu ponto de vista, diz-se que um indivíduo conhece x, no sentido de que ele adquiriu um dado repertório comportamental discriminati vo com respeito a x. Por esta razão, transmitir conhecimento é colocar o comportamento com uma dada topografia sob o con trole de determinadas variáveis” (grifos do autor) (Skinner, 1968/1972, p.193). Outros três termos que serão empregados como sinônimos são: autocontrole, autogerenciamento e autogover no, este último utilizado, por Skinner, com menos freqüência do que os dois primeiros. * A primeira data refere-se ao ano da primeira publicação do artigo, e a se gunda, ao ano da publicação consultada. Este mesmo critério será usado em citações posteriores. xvii Pensando na leitura deste texto, o ideal seria utilizar apenas um de cada conjunto de termos apontados, aqui, como sinônimos. Todavia, isso não foi possível porque nas próprias citações de Skinner, transcritas neste trabalho, os diversos termos enumerados aparecem. Um segundo esclarecimento importante diz respeito aos textos utilizados para consulta. Ao coletar-se o material para este trabalho, encontrou-se mais de uma edição de alguns tex tos de Skinner. Em alguns casos, a edição consultada foi sim plesmente a versão em português. Em outros, preferiu-se uti lizar uma versão do original em inglês - ou porque alguma dificuldade com a tradução para o português era encontrada, ou simplesmente porque só havia edição em inglês. Houve ca sos, também, em que duas edições diferentes de um mesmo texto foram consultadas. Isto aconteceu quando se encontrou algum detalhe relevante em uma edição, que havia sido omiti do ou reformulado na outra, com a qual se estava trabalhando. Com respeito ao conteúdo deste trabalho, o leitor obser vará que para falar de autoconhecimento, foi necessário ou conveniente discutir problemas relativos aos eventos privados em geral. Isso não significa que se tenha alterado os objetivos, em busca de uma análise de problemas mais abrangentes. Apenas considerou-se adequado apontar aquilo que, além de aplicável à questão do autoconhecimento, corresponde às for mulações de Skinner acerca dos problemas relativos à privaci dade em geral. Por outro lado, como o objetivo central limita va-se à concepção skinneriana do autoconhecimento, não se foi além do necessário sobre os outros ditos eventos privados. O material que se segue está organizado em três capítulos principais. O primeiro capítulo consiste de um exame sobre o surgimento do behaviorismo radical, considerando-se, para tanto, não os primeiros escritos de Skinner, mas o momento em que este autor diferencia seu behaviorismo das demais abordagens comportamentais em psicologia. Trata-se de um momento importante para este trabalho pelo fato de que um dos aspectos mais relevantes nesta diferenciação diz respeito ao tipo de tratamento oferecido para as questões relativas à privacidade. xviii No segundo capítulo, os aspectos mais importantes da formulação teórica de Skinner à respeito da privacidade, em geral, e do autoconhecimento, em particular, são discutidos. Além disso, alguns problemas ainda não plenamente resolvidos naquelas proposições de Skinner são também apontados. No terceiro capítulo, apresenta-se o que tem sido indicado como alguns aspectos epistemológicos que subjazem às formu lações teóricas de Skinner. Neste caso, não se tem a pretensão de enveredar por uma análise sistemática dos diversos princí pios epistemológicos que caracterizam o pensamento skinne- riano. De qualquer maneira, procura-se abordar alguns ele mentos que sugerem empecilhos de ordem epistemológica pre sentes nas formulações de Skinner sobre o autoconhecimento. Em seguida a estes três capítulos, apresenta-se uma sín tese do material discutido e um posfácio indicativo de perspec tivas a partir das quais pode-se dar continuidade a esta pes quisa. SUMÁRIO DEDICATÓRIA / v EPÍGRAFE / vü NOTA / ix APRESENTAÇÃO / xi PREFÁCIO / x iii INTRODUÇÃO / xv 1 O SURGIMENTO DO BEHAVIORISMO RADICAL DE B.F. SKINNER / 1 2 AS PROPOSIÇÕES BEHAVIORISTAS RADICAIS ACERCA DO AUTOCONHECIMENTO / 25 2.1 A NATUREZA DOS EVENTOS PRIVADOS / 26 2.2 O AUTOCONHECIMENTO / 49 2.3 LIMITES TEÓRICOS DO TRATAMENTO BEHA- VIORISTA RADICAL PARA A QUESTÃO DO AU- TOCONHECIMENTO / 64 3 LIMITES EPISTEMOLÓGICOS DO TRATAMENTO BEHAVIORISTA RADICAL PARA O AUTOCONHE- CIMENTO / 71 CONCLUSÃO / 91 POSFÁCIO: PARA ALÉM DO PÚBLICO-PRIVADO / 93 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS / 101 1 O SURGIMENTO DO BEHAVIORISMO RADICAL DE B. F. SKINNER ". . . o behaviorismo radical é o efeito que o pensamento de Skinner vem a ter no comportamento das pessoas. Na medida em que este efeito envolve o estabelecimento de novos repertó rios de resposta que desafiam seriamente as idéias bastante ve lhas que temos em nossa cultura sobre como o comportamento deve ser explicado, acredito que o behaviorismo radical é tanto interessante quanto importante.” (W. Day, Radical Behaviorism) A psicologia tem sido de tal forma identificada com postu lados (científicos ou não) acerca daquilo comumentemente de nominado vida mental, que seria difícil imaginá-la como uma disciplina que se eximisse de abordar o assunto. Ainda assim, por motivos os mais diversos, alguns sistemas (notadamente os behavioristas) não raramente são colocados sob suspeita, a despeito de seus representantes reivindicarem o status de psi cológico para o conhecimento que produzem. Por um lado, po- de-se encontrar razões históricas para que a psicologia tenha se constituído como um projeto independente de ciência da vi da mental, conforme indica Figueiredo (1982). Por outro, vale assinalar que nem sempre se justifica a concepção segundo a qual as abordagens behavioristas simplesmente ignoram a vida mental e, como tal, poderiam ser tomadas como não-psicoló- gicas. Figueiredo (1982) argumenta que as contradições presen tes no projeto inicial de uma ciência psicológica levaram a uma condição em que se tem, de um lado, uma concepção de indiví duo (único, independente) que é tomado como objeto de uma psicologiaque não é ciência e, de outro, uma concepção de 2 indivíduo (suporte de papéis sociais pré-definidos) que é toma do como objeto de uma ciência que não chega a ser psicológica. Por trás disso, está exatamente a questão da subjetividade, da privacidade, da (im)possibilidade de um tratamento científico para a vida interior dos indivíduos. Nesta perspectiva, muitos comentadores da psicologia tendem a enquadrar as abordagens comportamentais no elenco daquelas que são científicas sem chegarem a ser psicológicas. Contudo, ao analisar-se a obra de B. F. Skinner, observa-se que o tratamento dado por este autor ao problema da privacidade não implica nem uma concepção de indivíduo autodeterminado, nem uma concepção de indivíduo mero-receptáculo de determinações sociais. Afora os problemas que surgem com o tipo de tratamento que propõe para questões relativas à subjetividade (alguns dos quais serão abordados neste trabalho), o behaviorismo radical de Skinner surpreende pelo empenho com que tenta conciliar preocupações históricas da psicologia com uma proposta de ciência do comportamento. Este autor acredita ter inaugurado na psicologia uma concepção epistemológica que inova (no campo das ciências do comportamento) exatamente no que traz de implicações para o tratamento a ser dado à questão da privacidade. Trata-se de uma proposta que, ainda hoje, parece não ter sido suficientemente discutida. A tarefa de elucidar o pensamento de Skinner sobre o problema da privacidade pode ser iniciada recuperando-se o momento em que este autor diferencia seu behaviorismo das demais abordagens comportamentais em psicologia. Para tal, serão discutidas as idéias contidas no texto de Skinner, pu blicado em 1945, intitulado The Operational Analysis of Psychological Terms (Skinner, 1945/1984a), considerado por vários autores que o comentaram recentemente como um mar co no surgimento do behaviorismo radical de Skinner. E neste trabalho que ele, pela primeira vez, apresenta uma análise sis temática do problema dos eventos privados. O referido texto foi elaborado para ser lido no Simpósio sobre Operacionismo, em 1945, do qual participaram vários psicólogos que então trabalhavam com experimentação em psi cologia, vinculados a abordagens behavioristas, mas com quem 3 Skinner não tinha relações muito amistosas em função de di vergências teóricas. Particularmente, foi escrito para contestar o caráter positivista lógico do behaviorismo de Boring e Ste- vens (seus colegas na Universidade de Harvard) que, segundo Skinner, implicava uma visão mentalista do homem (Skinner, 1984b). Neste sentido, o que Skinner colocava em discussão, naquele instante, era o tipo de operacionismo que vinha sendo desenvolvido na psicologia. Este momento pode ser melhor compreendido recuperando-se alguns fatos a respeito do sur gimento da doutrina operacionista e de suas primeiras in fluências na psicologia. Em 1928, Percy Bridgman, um físico, publicou uma obra intitulada Logic o f Modem Physics, a qual viria a tornar-se um marco importante no surgimento dos princípios operacionistas da ciência. Bridgman havia se preocupado com o impacto pro vocado pela teoria da relatividade de Einstein no meio científi co da física. A novidade desta teoria era que ela exigia uma revisão drástica dos conceitos de tempo, espaço e comprimento. Para entender por que esta revisão teria provocado tamanho impacto, Bridgman começou a estudar os hábitos de pensa mento e expressão na física que precedeu Einstein, particular mente na física de Newton. E observou que Newton explicava conceitos como tempo, espaço e comprimento (exatamente os conceitos sobre os quais a teoria de Einstein impunha uma drástica revisão) a partir de supostas propriedades não dis poníveis na natureza1, ou seja, explicava conceitos físicos em termos de propriedades sobre as quais não indicava uma re lação precisa com o próprio mundo físico. Bridgman (1928) considerava que estes conceitos eram ambígüos e não se arti culavam com o trabalho científico dos físicos. Isto é, a atitude de Newton excluía a possibilidade de que aqueles conceitos fossem reformulados com maior precisão a partir do progresso que as pesquisas da física pudessem alcançar no futuro. Insis 1 Bridgman (1928) referia-se, em particular, aos conceitos de “tempo absoluto’ “espaço absoluto” e “ comprimento absoluto” . 4 tir neste tipo de conceito significava manter a física como uma ciência permanentemente sujeita a revoluções. Para Bridgman (1928) a alternativa era formular os conceitos da física de uma forma que pudessem ser sistematicamente revistos, à medida que as pesquisas fossem estabelecendo novos fatos. Isso seria possível definindo-se os conceitos físicos em termos igualmente físicos - como o fez Einstein, mesmo sem discutir o problema como levantado por Bridgman (1928)2. A atitude introduzida por Einstein, caracterizada pela defi nição dos conceitos em termos de operações executadas pelo cientista, e não em termos de propriedades supostas, preserva va a física da possibilidade de ter que sistematicamente reela- borar sua atitude diante da natureza - as revoluções que Bridgman pretendia evitar. Nas palavras de Bridgman (1928), ". . . se a experiência é sempre descrita em termos de experiên cia, deve sempre haver correspondência entre a experiência e nossa descrição dela; e não precisamos nunca ficar embaraçados, como ficamos, na tentativa de encontrar na natureza o protótipo do tempo absoluto de Newton” (p.6-7). Moore (1981) analisa o surgimento da proposta de Bridgman também ressaltando sua ofensiva contra o recurso a forças especiais na explicação das teorias físicas emergentes no início do século XX. A grande contribuição de Bridgman, então, consistia na idéia de que, em vez de se explicarem as 2 Segundo Bridgman (1928), nem o próprio Einstein, nem outros físicos, estavam cientes da mudança de atitude presente na ciência de Einstein. Esta mudança, con tudo, teria sido “a maior contribuição de Einstein” (Bridgman, 1928, p. 4) e estaria claramente encarnada na nova prática científica dos físicos. Esta questão é afirma da por Bridgman (1928) nos seguintes termos: “Não há provavelmente, nenhuma asserção no [nos textos de] Einstein ou [de] outros escritores de que a mudança no uso de “con ceito” ( . . . ) tenha sido feita conscientemente, mas que este é o caso, fica provado, eu acredito, com um exame da maneira com que os con ceitos são agora manipulados por Einstein e outros” (p. 7). 5 asserções teóricas dos cientistas a partir de forças desconheci das que os possibilitavam chegar a tais formulações, dever-se- ia fazê-lo recorrendo-se às operações experimentais conduzidas por estes cientistas e aos dados daí provenientes. Estes últimos é que deveriam ser tomados como a base do discurso verbal dos cientistas. Há um trecho de Bridgman bastante elucidativo desta sua posição: “A nova atitude em relaçáo a um conceito é inteiramente diferente. Podemos exemplificá-la considerando o conceito de comprimento: o que é que entendemos pelo comprimento de um objeto? Sabemos, evidentemente, o que queremos dizer com comprimento se pudermos indicar qual é o comprimento de todo e qualquer objeto; e, para o físico, nada mais é necessário. Para apurar o comprimento de um objeto temos de realizar certas operações físicas. Portanto, o conceito de comprimento é fixado quando se fixam as operações pelas quais o comprimento é me dido; quer dizer, o conceito de comprimento implica, nem mais nem menos, um coryunto de operações; o conceito é sinônimo do conjunto correspondente de operações” (Bridgman, 1928, p.5). A psicologia parece ter sido uma das disciplinas na qual o discurso operacionista encontrou maior repercussão na década de 30. Dentre as possíveis razões para este fato, destaca-se a expectativa de que a fórmula operacionista pudesse salvar esta disciplina da confusão conceituai na qual estava imersa e con ferir-lhe ostatus de cientificidade que lhe faltava. Este movi mento foi denominado por Israel e Goldstein (1944) de uma utopia operacional, que professava uma era na qual “ a con trovérsia inútil será (seria) silenciada e a total concordância entre psicólogos substituirá a divergência notória” (Israel e Goldstein, 1944, p.179)3. 3 Uma análise sobre as condições da psicologia enquanto ciência e profissão naquele período e sobre a conveniência do discurso operacionista naquelas circunstâncias pode ser encontrada em Rogers (1989). 6 Day (1969) e Moore (1981) indicam alguns aspectos rele vantes acerca da grande repercussão que o texto de Bridgman teve entre os psicólogos experimentais da época. Tanto Skinner quanto seus colegas de Harvard foram fortemente in fluenciados pelos argumentos daquele discurso operacionista. O contato com esta obra, entretanto, parece ter sido feito de uma forma distinta, o que levaria a posturas igualmente dis tintas a respeito de uma psicologia operacionista. Skinner teve contato direto com a obra de Bridgman, pouco tempo após sua publicação. Em um artigo publicado em 1931 (mas escrito em 1930), ele já se referia a Bridgman e pro curava aplicar os princípios operacionistas em uma análise do conceito de reflexo (Skinner, 1931/1961a). Mais tarde, em 1945, ele afirmaria que seu artigo de 1931 tinha sido não só a primeira publicação psicológica a apresentar uma referência a Bridgman, como também a “ . . . primeira análise explicitamen te operacional de um conceito psicológico” (Skinner, 1945/1984a , p. 551). A despeito deste fato, um outro tipo de operacionismo surgiu na psicologia, através de outros behavio- ristas de Harvard. Este outro modelo (como se deduz de um re lato de Boring, 1950), contudo, já surgiu comprometido com outros princípios que nada tinham necessariamente a ver com as proposições originais de Bridgman. Boring (1950) relata que o primeiro contato dos psicólo gos de Harvard com o trabalho de Bridgman ocorreu em 1930, através de Herbert Feigl, um positivista lógico, membro do Círculo de Viena. Este fato teria tido uma implicação séria no tipo de operacionismo a ser desenvolvido por psicólogos como o próprio Boring, Stevens e até Spence (Moore, 1981). Estes, ao interpretarem a obra de Bridgman, teriam atribuído uma ên fase exagerada à questão da objetividade e chegado, assim, a uma ciência dos fenômenos publicamente observáveis, funda mentada num critério de verdade por consenso público. Se gundo Boring (1950) e Day (1969), Stevens viria a tornar-se o líder deste grupo, tendo publicado, em 1939, um artigo que sumarizava sua postura acerca dos problemas levantados pelos operacionistas. Neste trabalho, o problema do comportamento verbal do cientista é abordado a partir da perspectiva de uma 7 teoria de referência do significado. De acordo com tal teoria, a linguagem deve ser explicada em termos de um conjunto de proposições simbólicas, descritivas de conteúdos da consciên cia. Para efeito de tratam ento científico, devem-se identificar os elementos deste conjunto com operações mensuráveis, a respeito das quais possa haver concordância pública. Na opi nião de Moore (1981), esta posição: ". . . admitia a possibilidade de uma linguagem privada. Isto é, ao assumir que a linguagem era uma atividade simbólica, eles assumiam que havia entidades como significados subjetivos pri vados que possuíam uma existência independente. ( . . . ) esta po sição implica a existência de algum sistema náo comportamental que, com efeito, é responsável pela linguagem. Ela implica que as pessoas sejam automaticamente capazes de descrever elementos de sua própria experiência privada - e que a linguagem seja es sencialmente descritiva de manipulações lógicas destes elemen tos. Quando seguida a este extremo, esta posição impõe um dua lismo pernicioso e um agente controlador interno. . .” (p.58). Boring (1950) refere-se ao artigo de Stevens como o ma nual da nova psico-lógica (p.657). E é exatamente nessa linha que o behaviorismo de Boring, Stevens e Spence irá desenvol- ver-se nas décadas de 30 e 40. No intuito de enfrentar os pro blemas da psicologia mentalista, esses autores desenvolvem um operacionismo bastante influenciado pelo positivismo lógi co da época e que acabará desembocando numa postura com implicações igualmente mentalistas e dualistas em psicologia. A interpretação do operacionismo que o positivismo lógico produz (e que o behaviorismo de Boring e Stevens assumirá) fica melhor compreendida quando se leva em conta que aquele movimento filosófico pretendia estabelecer critérios (regras ló gicas e metodológicas) de significação e validação a partir dos quais a fronteira entre os discursos científico e não-científico pudesse ser demarcada. E neste contexto que aquilo que Bridgman (1928) apresentava como um procedimento para es clarecimento dos significados dos conceitos científicos se con verte em critério de cientificidade4. 4 Uma análise sistemática sobre a interpretação neopositivista do operacionismo e sua incidência na psicologia comportamental pode ser encontrada em Moore (1975; 1981) eS m ith í 1989). 8 No entendimento de Israel e Goldstein (1944), este proble ma pode ser colocado em termos de um equívoco de psicólogos como Stevens (e Boring), na interpretação do operacionismo como um novo método científico. O que Bridgman propunha era, na verdade, “uma coisa muito simples.. . uma fórmula a ser seguida para a definição de termos ou conceitos” (Israel e Goldstein, 1944, p.178). Ao converter o procedimento de Bridgman em uma orientação metodológica, contudo, os beha- vioristas metodológicos buscavam um critério a partir do qual a objetividade do discurso científico pudesse ser afirmada e servisse, ainda, de referência para a demarcação do escopo de uma ciência psicológica. Trata-se, aqui, de um objetivismo de conteúdo fisicalista e dualista; de um lado, porque admite a existência de duas naturezas distintas de fenômenos, a física e a mental, e, de outro, porque postula que os fenômenos men tais só podem ser objeto da ciência na medida em que se apon tam seus correspondentes no mundo físico. Nesta perspectiva, para o operacionismo de Boring (1945), “ a ciência não consi dera dados privados” (p.244). E contra esse tipo de operacionismo que Skinner se le vantará em seu artigo intitulado The Operational Analysis o f Psychological Terms (o qual será denominado, doravante, de Terms, como fazem alguns autores que o comentaram recen temente). Terms tra ta basicamente de três questões: a natureza dos eventos privados, o problema do critério de verdade por con cordância pública e os processos através dos quais um indiví duo passa a relatar eventos que lhe ocorrem de forma privada. Estes assuntos são todos pertinentes uns aos outros, mas cabe um esclarecimento. As duas primeiras questões são tratadas de forma mais sistemática numa segunda parte do artigo, que não foi lida no Simpósio, mas incluída na publicação na forma de comentários posteriores sobre os trabalhos apresentados (Skinner, 1945/1961b). Para facilitar a compreensão das pro posições de Skinner, contudo, mostra-se conveniente iniciar expondo o tratamento dado àquelas duas questões iniciais pa ra, em seguida, apresentar sua concepção a respeito da ter ceira. 9 Sobre a natureza dos eventos privados, Skinner é enfático ao negar-lhes qualquer condição distinta daquela dos eventos públicos. Para ele, o que ocorre de forma privada a um indiví duo é tão físico quanto comportamentos publicamente ob serváveis. São eventos pertencentes a um mesmo sistema de dimensões que os eventos publicamente reconhecidos como fí sicos. “ . . . a minha dor de dente é simplesmente tão física quanto minha máquina de escrever, embora não [seja] públi ca. . (Skinner, 1945/1984a, p.552). Esta posição tem uma implicação fundamental que é a eliminação de uma perspectiva dualista no estudo do comportamento humano. Elacorrespon de a uma visão monista de homem que não seria compartilha da pelos behavioristas metodológicos. Estes últimos (represen tados por Boring e Stevens), embora concordassem em tomar a psicologia como ciência do comportamento, admitiam que o mundo está dividido entre eventos públicos (físicos) e eventos privados (de outra natureza), devendo a psicologia confinar-se aos primeiros a fim de estabelecer-se como ciência. Este último aspecto remete ao segundo problema tratado por Skinner, isto é, a questão do critério de verdade por consenso público. Isto porque o que se observa é que a dicotomia físico-mental articu- la-se, de imediato, com a definição do escopo de uma ciência do comportamento. A necessidade de distinguir os eventos entre públicos e privados não é gratuita para o behaviorismo metodológico. Se gundo Skinner, por trás desta distinção encontra-se uma forte preocupação de ordem epistemológica. Aquela abordagem re pousaria na crença de que um estudo só pode ser tomado como científico enquanto tra tar de fenômenos acessíveis a dois ou mais observadores. Já para o behaviorismo radical, o problema da concordância pública deve ser tomado como secundário, em favor de um critério mais funcional e de coerência interna do sistema teórico. “A distinção público-privado enfatiza a filosofia árida da “verdade por consenso”. O público, na verdade, acaba sendo simplesmente aquilo sobre o que se pode concordar porque é co mum a dois ou mais concordantes. Isso não é uma parte essen- 10 ciai do operacionismo; ao contrário, o operacionismo nos permite dispensar esta soluçáo demais insatisfatória do problema da ver dade. (. . .) O critério último para a boa qualidade de um conceito não é se duas pessoas entram em acordo, mas se o cientista que usa o conceito pode operar com sucesso sobre seu material - so zinho, se precisar. O que importa para o Robison Crusué não é se ele está concordando consigo mesmo, mas se ele está chegando a algum lugar com seu controle sobre a natureza” (Skinner, 1945/1984a, p.552). Ao propor a funcionalidade como critério de verdade, opondo-se ao critério de observação pública, Skinner expressa um aspecto fundamental de sua ciência do comportamento: o interesse na previsão e controle dos fenômenos comportamen- tais. No âmbito da ciência skinneriana, portanto, o que impor ta não é a precisão de descrições fisicalistas da topografia do comportamento, mas a descoberta de leis que expressem re lações dinâmicas entre o comportamento dos organismos e condições ambientais5. Neste contexto, falar sobre os eventos privados mostra-se legítimo, mesmo que aqueles eventos não estejam acessíveis a uma observação pública. Asserções sobre estes eventos devem ser julgadas segundo o que propiciam ao cientista em termos da previsão e controle de um conjunto de fenômenos. Resumindo as duas questões, o behaviorismo radical tra ta dos eventos privados como fenômenos físicos (enquanto os be- havioristas metodológicos tendem a atribuir-lhes uma outra natureza) e acredita ser tarefa da psicologia tra ta r destes eventos, mesmo que de forma inferencial (enquanto os beha- vioristas metodológicos insistem no princípio de verdade por consenso público). A terceira e principal questão tratada naquele artigo de Skinner é um pouco mais complexa e diz respeito aos proces sos através dos quais um indivíduo torna-se capaz de relatar 5 Neste sentido, Skinner permitia-se, desde muito cedo (Cf. Skinner, 1932a; 1932b), falar de condições internas do organismo; por exemplo, em suas considerações so bre o “drive” (Cf. Sério, 1990). 11 seus próprios eventos privados. Para tra tar deste assunto, Skinner inicia examinando o problema de respostas verbais a eventos públicos. E um ponto que se coloca de forma impor tante para ele é como explicar o comportamento verbal do cientista. Segundo Skinner, o operacionismo lógico de seus colegas de Harvard falhava ao tentar explicar o comportamento verbal do cientista porque não conseguia esclarecer como este chega va a elaborar uma definição de um conceito (fosse ela opera cional ou não). E a definição é um termo fundamental para o operacionismo, uma vez que deve expressar as operações que justificam emprego de um dado termo numa dada circunstân cia. Em vez de considerarem as operações executadas pelo cientista, os operacionistas lógicos tendiam a recorrer a concei tos como idéia ou significado, o que os afastava de uma análise adequada das bases do discurso verbal. Na perspectiva skinneriana, termos como conteúdo, sig nificado ou referente devem ser desprezados, pelo menos enquanto propriedades das respostas verbais. Estes termos só fariam sentido enquanto especificações das contingências sob controle das quais uma dada resposta verbal ocorre. Isto é, de ve-se lidar com os termos verbais na forma como são observa dos, qual seja, como respostas verbais. Nesta perspectiva, para Skinner, uma leitura mais apropriada do operacionismo de Bridgman resulta, fundamentalmente, na proposição de uma análise funcional para o comportamento verbal. Assim, o ope racionismo skinneriano se resume à tentativa de examinar conceitos ou asserções científicas enquanto respostas verbais que são função de contingências estabelecidas por uma comu nidade verbal científica. O princípio geral da análise funcional que Skinner postula para o tratamento das respostas verbais pode ser entendido sem dificuldades. Na psicologia operante de Skinner, uma análise funcional implica a identificação do estímulo discriminativo que se constitui em ocasião para a ocorrência da resposta em questão e das conseqüências que o mantêm. O que acontece, então, é que uma comunidade verbal ensina o indivíduo a emitir uma dada resposta verbal (a ex pressar um termo) provendo estímulos reforçadores quando 12 esta resposta ocorre na presença de um dado estímulo discri minativo (da coisa para a qual o termo será tomado como referente). Assim, o indivíduo aprende, por exemplo, a dizer cadeira na presença de uma cadeira ou objeto similar, não por uma questão de apreensão do significado de cadeira, mas por que esta resposta, na presença da cadeira tem uma história de reforçamento provido pela comunidade verbal. Esta relação funcional entre termos e estímulos discriminativos que au mentam sua probabilidade de ocorrência será tratada de forma mais sistemática no livro O Comportamento Verbal (Skinner, 1957/1978), onde aparece sob a classe de operantes verbais de nominados tatos. “O tato surge como o mais importante operante verbal, por causa do controle incomparável exercido pelo estímulo ante rior. Este controle é estabelecido pela comunidade reforçadora ( . . . ) No tato (. . . ) estabelecemos uma relação excepcional com um estímulo discriminativo. Fazemos isso reforçando a resposta tão consistentemente quanto possível na presença de um estí mulo, com muitos reforçadores diferentes ou com um reforçador generalizado. O controle resultante é feito por meio do estímulo [discriminativo]. Uma dada resposta “especifica” uma dada pro- priedade-estímulo. Isto é a referência da teoria semântica” (Skinner, 1957/1978, p. 109). A abordagem que Skinner inaugura com o Terms preten de eliminar a necessidade de recorrência a explicações (lingüís ticas ou filosóficas) não relacionais ao nível do observável para que se compreendam as bases do discurso verbal. Como, para Skinner, cada resposta verbal deve ser entendida enquanto funcionalmente relacionada a um conjunto de condições que tornam sua ocorrência (mais) provável, a aquisição do compor tamento verbal constitui-se num problema a ser tratado pela psicologia como ciência do comportamento e não por outras disciplinas. E isso vale, também, para o comportamento verbal do cientista. Moore (1981), ao discutir alguns aspectos do Terms, esclarece que, numa perspectiva behaviorista radical, o com 13 portamento verbal do cientista pode ser tratado como predo minantemente(mesmo que não exclusivamente) sob o controle de estímulos discriminativos e reforçadores comuns à comuni dade científica - aos quais denomina de estímulos discrimina tivos e reforçadores científicos (onde estímulos discriminativos científicos são aqueles oriundos das operações e dos contatos com os dados, e reforçadores científicos são aqueles oriundos da previsão e do controle). Isso contrastaria com o comporta mento verbal do leigo, predominantemente sob o controle de estímulos discriminativos e reforçadores sociais e culturais. Retomando as proposições do Terms, após apresentar as idéias acima, Skinner avança na discussão acerca do papel do estímulo discriminativo e da comunidade verbal na instalação do tato (embora sem empregar este termo), tratando da priva cidade, no que acredita residir a grande contribuição do artigo, ‘‘Substitua cadeira por dor e chega-se ao problema de ‘a defi nição operacional de um termo psicológico,, (Skinner, 1984b, p. 573). Admitindo-se que um indivíduo seja ensinado a emitir uma certa resposta verbal (a verbalizar um certo termo) através do reforçamento provido pela comunidade verbal quando esta resposta ocorre na presença de um dado estímulo discriminativo (da coisa referente), como tra ta r daquelas res postas cujos estímulos discriminativos só estão acessíveis ao próprio indivíduo, e não à comunidade verbal que deve en- siná-lo a emitir a resposta correta naquela circunstância? Aí reside todo o problema a ser enfrentado pelo behaviorismo no tratam ento da privacidade. A proposta de Skinner para uma análise funcional das respostas verbais na presença de estí mulos discriminativos parte do princípio de que estes últimos estejam acessíveis tanto ao indivíduo que emite a resposta quanto à comunidade que o ensina a emiti-la, e isso não é possível no caso de estímulos discriminativos privados. Como, então, o indivíduo aprende a relatar aqueles eventos aos quais só ele próprio tem acesso? Skinner enumera quatro estratégias através das quais a comunidade verbal procura ensinar respostas verbais a estí mulos privados, a partir da inferência de ocorrência destes 14 últimos, já que o acesso direto não é possível. No primeiro ca so, a comunidade utiliza-se de estímulos públicos associados ao estímulo privado para reforçar a resposta do sujeito. E o que ocorre, por exemplo, quando se ensina a resposta verbal à es timulação tátil de um objeto, tendo-se acesso à estimulação visual deste mesmo objeto. Para o indivíduo que emite a res posta verbal, a estimulação que adquire o controle da resposta pode ser privada (tátil), mas quem lhe ensina a resposta, o faz com base em um outro estímulo público (a estimulação visual do objeto) associado à estimulação privada. Uma segunda estratégia consiste em reforçar a resposta verbal ao estímulo privado na presença de outras respostas colaterais públicas não verbais (geralmente reflexos incondi- cionados) àquela mesma estimulação. Neste caso, temos o exemplo do indivíduo que relata uma dor de dente, ao mesmo tempo em que põe a mão na mandíbula ou geme. A partir da resposta colateral, a comunidade infere uma certa estimulação privada ao indivíduo e reforça sua resposta verbal. A terceira possibilidade diz respeito à situação em que o indivíduo descreve seu próprio comportamento. Quando se tra ta de um comportamento aberto (público), a comunidade pode reforçar a resposta verbal com base na observação desse comportamento, enquanto para o indivíduo os estímulos pro- prioceptivos envolvidos naquele comportamento podem adquirir o controle da resposta. Quando se tra ta de um comportamento que era público e retrocedeu ao nível encober to, entretanto, há três alternativas: o relato (do comportamen to agora encoberto) pode ser reforçado com base numa resposta aberta tomada como acompanhamento daquela resposta enco berta; a resposta encoberta pode ser similar (embora menos intensa) a uma resposta aberta e assim prover um mesmo estímulo público, embora de forma enfraquecida; e a resposta pode não ter sempre um acompanhamento público, mas ser ocasionalmente reforçada, quando a mesma estimulação ocorre com manifestações públicas. A respeito destas últimas possibi lidades, Skinner não chega a oferecer exemplos que esclareçam sua explicação, talvez pela própria dificuldade de apontar comportamentos que se enquadrem naqueles casos. 15 Uma quarta e última estratégia diz respeito à generali zação de estímulos. Uma resposta pode ser adquirida em co nexão com um estímulo público e posteriormente ser emitida em conexão com uma estimulação privada, com base em pro priedades coincidentes. Um exemplo disso, é descrever uma es timulação privada como agitada ou ebuliente. E o que Skinner mais tarde (1957/1978) chamará de tato metafórico. Uma primeira constatação que estas estratégias suscitam é que a comunidade verbal não precisa ter necessariamente aquele acesso direto aos eventos privados de um indivíduo pa ra que possa ensiná-lo a descrevê-los. De fato, este acesso não é estritamente necessário. Por outro lado, como fica bastante claro, nenhuma das estratégias citadas é suficiente para pro ver a instalação de um repertório verbal preciso a respeito dos estímulos privados. Nenhuma delas pode ser eximida da possi bilidade de erro/imprecisão ou de limitação na sua aplicação. Isso significa dizer que o indivíduo não pode “ claramente ‘co- nhecer-se’, no sentido em que o conhecimento identifica-se com comportar-se discriminativamente” (Skinner, 1945/1984a, pp.549-550). Na opinião de Skinner, esse problema justifica que nunca se tenha chegado a um vocabulário estável sobre eventos privados, de uso razoavelmente uniforme por parte dos membros de uma comunidade verbal. Ainda neste artigo, Skinner já aborda diretamente o pro blema do autoconhecimento, utilizando-se também do conceito de consciência. Diz ele que estar consciente é reagir ao pró prio comportamento de forma verbal. Assim, um indivíduo que está consciente é um indivíduo capaz de descrever seu próprio comportamento. Como esta descrição só se torna possível a partir de contingências providas pela comunidade verbal, desta proposição resulta uma concepção de consciência como produ to social. “. . . é somente porque o comportamento do indivíduo é impor tante para a sociedade que a sociedade torna-o, entáo, importan te para o indivíduo. Alguém se torna consciente do que está fazendo somente após a sociedade ter reforçado respostas ver bais com respeito ao seu comportamento como a fonte de estímu los discriminativos”. (Skinner, 1945/1984a, p.551). 16 A consciência, então, deve ser abordada como uma questão de descrição do próprio comportamento, ou melhor, como uma questão de instalação de um adequado repertório verbal descritivo do próprio comportamento. Esse tipo de tra tamento tem uma implicação que Skinner chega a considerar irônica: é o desenvolvimento de um vocabulário mais efetivo para a análise do comportamento que pode aumentar as possi bilidades de um indivíduo tornar-se efetivamente consciente. Em suma, “ a psicologia do outro é, no fim de tudo, a aborda gem direta para o ‘autoconhecimento’” (Skinner, 1945/1984a, p.551). Para chegar a esta explicação do autoconhecimento, Skinner serve-se do exemplo do comportamento de ver. Segun do ele, quando um indivíduo relata vermelho, na presença de um estímulo desta cor, devemos considerar que esta resposta verbal foi instalada e mantida através de reforçamento contin gente à propriedade cor do estímulo. Ao invés de supor-se que o indivíduo esteja relatando um evento privado do tipo de uma sensação de vermelho, deve-se supor que esteja relatando uma propriedade do estímulo, esta última acessível tanto ao próprio sujeito, quanto à comunidade que reforça sua resposta verbal. Um problema adicional surge, no entanto, quando é examina do o caso em que tal resposta ocorre na ausência do estímulo discriminativo vermelho - oque, na psicologia tradicional, se ria considerado como a descrição de uma imagem interna. Mas o comportamento verbal que é descritivo de imagens também deve ser explicado por qualquer ciência do comportamento. Retornando àquelas estratégias para a instalação de re pertórios descritivos de eventos privados, pode-se dizer que a resposta vermelho seria explicada em termos da primeira téc nica enumerada. Isto é, há uma estimulação privada à qual o indivíduo responde verbalmente, mas o reforçamento da res posta verbal é feito contingentemente a uma estimulação pú blica associada. Entretanto, quando um indivíduo diz eu vejo vermelho ou eu estou consciente de vermelho (o que pode ocor rer na ausência de qualquer objeto vermelho), o mesmo tipo de explicação não seria possível. Isto porque ver ou estar conscien te de “ . . . parecem referir-se a eventos que são por natureza ou por definição privados” (Skinner, 1945/1984a, p.550). 17 Uma primeira solução para o problema seria afirmar que quando um indivíduo diz eu vejo vermelho ele está descrevendo o seu comportamento de ver, o que poderia ser explicado em termos da terceira estratégia, de acordo com a qual o reforça- mento da resposta verbal descritiva do próprio comportamento é feito contingente a uma dimensão (ou acompanhamento) pú blica deste mesmo comportamento. Isto é, o indivíduo apren deria a ver estímulos privados (neste caso, a ver seu próprio comportamento visual) a partir do reforçamento provido em circunstâncias de visão aberta (nas quais a comunidade verbal tem acesso a alguma dimensão pública do objeto visto). Mas esta não é exatamente a hipótese que Skinner considera mais provável, pois ela implica considerar o ver meramente como um comportamento de reação ao estímulo vermelho. Para ele, o ver, neste exemplo, deve ser entendido como uma reação ao próprio comportamento de reagir ao vermelho. No caso, é possível que a expressão eu vejo vermelho (onde vejo é tomado como sinônimo de estou consciente de) descreva mais do que um acompanhamento privado do tipo de uma estimulação que sobrevive em um ato encoberto semelhante (como ocorre no emprego da terceira técnica descrita). Ela pode estar descre vendo um estado privado que adquire o controle daquela res posta verbal (como ocorre no emprego das técnicas 1 e 2). Neste caso, o termo ver não se refere a um comportamento, mas a uma condição interna do indivíduo. “Dizer eu vejo vermelho é reagir, náo ao vermelho (este é um significado trivial de “ver”), mas à própria reaçáo a verme lho. Ver é um termo adquirido com respeito ao comportamento do próprio indivíduo no caso de respostas abertas disponíveis pa ra a comunidade, mas de acordo com a presente análise ele pode ser evocado outras vezes por qualquer acompanhamento privado de visáo aberta. Aqui está um ponto no qual uma visáo privada náo-comportamental pode ser introduzida” (Skinner, 1945/1984a, p.550-551). O autoconhecimento, de acordo com esta análise, pode então ser concebido em termos de uma discriminação de estados 18 privados (expressa na forma verbal), instalada a partir do re- forçamento de discriminações (visuais) de eventos públicos. Embora se compreenda que Skinner trate do autoconhecimen- to em termos da discriminação de um controle que estímulos internos exercem sobre o comportamento encoberto do próprio sujeito, não fica claro por que identifica esta discriminação com o comportamento visual (em outros momentos de sua obra, a discriminação de estímulos é tratada sem qualquer re ferência àquele comportamento), nem por que limita esta dis criminação a condições internas do sujeito (a discriminação de aspectos externos relativos a comportamentos do sujeito - por exemplo, de variáveis que os controlam - não significa autoco- nhecimento?). Apresentadas as principais idéias contidas no Terms, cabe examinar alguns comentários formulados por diferentes auto res àquele artigo, bem como algumas respostas do próprio Skinner aos respectivos comentários. Uma primeira observação importante é que vários auto res (Brinker e Jaynes, 1984; Lowe, 1984; Meehl, 1984; Moore, 1984; Ringen, 1984; e Zuriff, 1984) fazem questão de ressaltar a importância histórica daquele artigo, como um marco no de senvolvimento do pensamento skinneriano. Nestes casos, adje tivos como significativo ou brilhante não são nada escassos na caracterização do trabalho. Por outro lado, alguns daqueles autores (Brinker e Jaynes, 1984; Lowe, 1984; Moore, 1984; e Ringen, 1984) chamam a atenção para uma questão um tanto delicada. Trata-se da não aplicação daqueles novos princípios a um programa de investigações acerca do comportamento hu mano. E realmente intrigante que Meehl (1984), por exemplo, afirme que os argumentos do Terms são hoje tão atuais quanto em 1945, o que pode ser uma forma indireta de afirmar que não se avançou nas questões ali levantadas. Brinker e Jaynes (1984) chegam a considerar que a razão das críticas atualmente dirigidas ao behaviorismo radical pode ser encontrada no fato de que a proposta contida no Terms “ . . . nunca culminou no programa prometido de pesquisa em comportamento humano que demonstraria as diferenças entre o velho e o novo operacionismo” (p.554). Se a presente inter- 19 pretação estiver correta, isso significa dizer que a filosofia be- haviorista radical teria dado um passo, há quarenta anos, que a análise experimental do comportamento só acompanhou, se é que o fez, de forma extremamente precária6. No entanto, mesmo entendendo dessa forma a colocação de Brinker e Jaynes, ainda se mostra necessário avaliar em que medida a filosofia behaviorista radical realmente deu o referido passo. Esta questão, entre outras, será desenvolvida no capítulo se guinte deste trabalho. Lowe (1984) vai um pouco mais longe, abordando o pro blema específico do autoconhecimento. Após ressaltar que Terms reconhece aspectos especiais caracterizadores do com portamento dos seres humanos, este autor afirma que a grande realização do artigo “ . . . é que ele mostra que a ‘consciência’ . . . está, finalmente, acessível à análise científica” (p.562). Esta realização, entretanto, não teria apresentado grandes re sultados, já que Lowe desenvolve sua análise reclamando por pesquisa na área do autoconhecimento. Talvez o elemento mais importante com respeito a estas duas questões venha do próprio Skinner. Sobre a importância histórica de seu artigo, ele em nada contesta seus comentado res, podendo se pensar que, no mínimo, não veria aí nenhum exagero. Com relação à pesquisa na área do comportamento verbal e do autoconhecimento, Skinner é bastante explícito ao concordar com a demanda daqueles autores. Respondendo a Brinker e Jaynes (1984), ele afirma: “Eu também lamento que mais trabalho não tenha sido feito na linha da minha análise no Verbal Behavior .. . ’’(Skinner, 1984b, p.574). E, mais inte ressante, respondendo a Lowe (1984), declara: “ . . . estou feliz de me jun tar a ele [Lowe] ao exigir o próximo passo: pesquisa sobre autoconhecimento e autogerenciamento e seus possíveis 6 Esta distinçáo é apresentada por Skinner de forma mais explícita em seu Behavio rism, at Fifty ( 1963/1984c). Segundo ele, o behaviorismo constitui uma filosofia da ciência que se ocupa dos métodos e do objeto de estudo da psicologia. A análise ex perimental do comportamento, por outro lado, constituiria a ciência que se serve daqueles princípios. 20 efeitos no comportamento humano em geral” (Skinner, 1984b, p.576). Em nenhum momento de suas respostas, contudo, Skinner esclarece se na época em que escreveu aquele artigo acreditava estar propondo um novo programa de pesquisas na área do comportamento humano, ou se os problemas que le vantou estariam simplesmente voltados para um esclarecimen to de ordem epistemológica. Como não faria sentido, aqui, uma discussão a respeito dos objetivos de Skinner naquela ocasião, convém colocar o assunto de outra forma. Dadoo fato de que este artigo (e outros seguintes) poderia ter suscitado algum tipo de pesquisa na área do comportamento verbal e do auto- conhecimento, que razões justificam que isso não tenha ocorri do? Embora não seja possível oferecer uma resposta conclusiva à questão, ela parece bastante importante e será retomada no decorrer deste trabalho. Uma última observação nessa linha de comentários, dire tamente relacionada à questão anterior, diz respeito ao tipo de leitura provida pelo artigo de Skinner. Terrace (1984) classifi ca o texto como contendo posições metafísicas e epistemológi- cas incomuns. Stalker e Ziff (1984) afirmam que na época do Simpósio sobre Operacionismo as preocupações de Skinner iam além do problema de uma tecnologia do comportamento e voltavam-se, cada vez mais, para questões filosóficas. O texto em discussão marcaria, assim, o início de um período no qual Skinner afastar-se-ia cada vez mais da pesquisa para dedicar- se a questões filosóficas (Stalker e Ziff, 1984). Em resposta a estes últimos, Skinner inicia afirmando que seu texto não é fi losofia, mas interpretação. E define interpretação como a apli cação de princípios cientificamente comprovados a assuntos mais complexos, sobre os quais o conhecimento existente não é suficiente para tornar a previsão e o controle possíveis. Con- textualizado tal argumento em termos do comportamento hu mano, o assunto de seu artigo, afirma o seguinte: “As análises de laboratório do comportamento dos orga nismos têm produzido uma boa quantidade de previsão e contro le bem-sucedidos, e estender os termos e princípios descobertos como efetivos sob tais circunstâncias à interpretação do compor- 21 tamento onde as condições de laboratório sáo impossíveis é factí vel e útil. Eu náo acho que isso seja propriamente chamado de fi losofia. O comportamento humano que observamos no dia-a-dia é, infelizmente, muito complexo, ocorre muito esporadicamente e é uma função de variáveis muito longe do alcance para permi tir uma análise rigorosa. No entanto, é útil falar sobre ele à luz de exemplos nos quais a previsáo e o controle já provaram ser possíveis” (Skinner, 1984b, p.578). Embora, aqui, Skinner apresente elementos a favor da in terpretação de eventos mais complexos a partir da utilização de conceitos comprovados como eficazes no tratamento de even tos menos complexos, isso não significa que concorde com a suposição de Stalker e Ziff (1984) de que, com isso, estaria afastando-se da pesquisa. O que precisa ser esclarecido é em que medida seria possível conciliar o caráter interpretativo de algumas de suas proposições com uma demanda por pesquisa empírica e, a esse respeito, Skinner oferecia poucos subsídios em seu artigo de 1945. Esta questão será retomada no capítulo seguinte deste trabalho. A título de conclusão do presente capítulo introdutório, convém destacar os pontos principais do material discutido até aqui, alguns dos quais serão retomados nos capítulos seguin tes: • O behaviorismo radical de Skinner constituiu sua identida de (no sentido de distinguir-se das demais psicologias com- portamentais então existentes) através do reconhecimento da vida interna dos indivíduos e da proposição de uma pers pectiva científica para o tratamento de fenômenos a ela relacionados. Por um lado, esta constatação tem uma im portância singular, considerando-se opiniões bastante pro paladas no sentido de que Skinner despreza este tipo de problema na construção de sua ciência do comportamento. Por outro lado, vale registrar que este reconhecimento sur ge a partir de preocupações de ordem epistemológica, mais precisamente, a partir da necessidade de viabilizar um pro jeto operacionista efetivo para a psicologia. 22 • Skinner considera que os eventos privados são eventos físi cos, embora inacessíveis à observação pública. Ainda assim, considera ser tarefa da psicologia tra tar destes eventos, mesmo que de forma inferencial, a partir da aplicação de termos e princípios já comprovados como eficazes no tra ta mento de problemas menos complexos. • A resposta verbal caracterizada como o “emprego de um termo” deve ser objeto de uma análise funcional que de monstre as circunstâncias em que tal resposta ocorre (ou, que tal termo é empregado) e as conseqüências reforçadoras então providas pela comunidade verbal. • Quando aquelas circunstâncias consistem de estímulos dis criminativos privados, deve-se considerar as estratégias através das quais a comunidade infere a ocorrência daquela estimulação privada para reforçar a resposta verbal do in divíduo. A partir do fato de que essas estratégias têm um alcance limitado, pode-se explicar a dificuldade de um in divíduo chegar a ter um efetivo repertório verbal descritivo de seus eventos privados. • Conhecer, para Skinner, é discriminar estímulos. O autoco- nhecimento, então, corresponde a uma discriminação de estímulos gerados pelo próprio indivíduo (autogerados) que se autoconhece, isto é, autoconhecimento é autodiscrimi- nação. • Algumas vezes, Skinner tra ta do autoconhecimento en quanto discriminação de comportamentos do próprio indiví duo. Outras vezes, trata-o como discriminação de estados privados, que podem ser não-comportamentais. Sobre a dis tinção, não faz nenhum tipo de esclarecimento adicional. • Um outro problema surge quando Skinner introduz o com portamento de ver para falar do autoconhecimento. Em al guns momentos, parece legítimo supor que se refere a este comportamento apenas para exemplificar o problema da discriminação de estímulos. Em outros casos, entretanto, parece conceber o autoconhecimento como um fenômeno de alguma forma relacionada à questão da própria discrimi- 23 nação visual. Esta última possibilidade não faz sentido, por exemplo, se se consideram as alternativas para um cego au- toconhecer-se. Mesmo que se justifique a postura de Skinner, supondo que utiliza a visão apenas como exemplo de um sentido que permite o acesso do indivíduo ao ambien te que o rodeia (e ao seu próprio ambiente interno), dois problemas podem ainda ser levantados. Por um lado, não haveria necessidade de se falar de uma “visão privada não- comportamental” . Por outro (talvez mais importante), o conceito de discriminação de estímulos não exige (como se vê em outras obras do próprio Skinner) nenhum tipo de re ferência àqueles sentidos, podendo ser empregado simples mente através do recurso aos princípios do comportamento operante. Por que então, não falar de autoconhecimento simplesmente enquanto discriminação de condições do pró prio indivíduo, sem recorrer à visão (ou a qualquer outro sentido) para sugerir aspectos intermediárips desta discri minação? • A despeito de seu caráter realmente interpretativo, o artigo de Skinner contém elementos suficientes para que algum ti po de pesquisa sobre o comportamento humano complexo tivesse sido desenvolvida nas últimas quatro décadas. As razões para que isso não tenha ocorrido (ou tenha ocorrido apenas de forma precária) parecem complexas. Por um lado, Skinner não esclarece como pretende conciliar uma postura interpretativa acerca do autoconhecimento (e de outros problemas relativos ao homem) com uma demanda por pes quisa empírica nessa área. Por outro, uma análise mais adequada deste problema parece requerer a consideração de diversos elementos da epistemologia skinneriana, que é muito mais do que meramente operacionista. 2 AS PROPOSIÇÕES BEHAVIORISTAS RADICAIS ACERCA DO AUTOCONHECIMENTO ". . . a auto-observaçáo pode ser estudada, e deve ser incluída em qualquer abordagem razoavelmente completa do comportamen to humano. Em vez de ignorar a consciência, uma análise expe rimental do comportamento humano salientou certos problemas cruciais. A questáo náo é se um homem pode conhecer a si mes mo, mas o que ele conhece ao assim agir.” (B. F. Skinner, O Mito da Liberdade) No capítulo anterior, observou-se que Skinner pretende distinguir suaabordagem de outros sistemas comportamen- tais, através da proposição de um tratamento efetivo para pro blemas relativos à privacidade. Por um lado, assinalou-se que a proposta de Skinner visa superar uma perspectiva mentalista e dualista que persistia nas abordagens (por ele designadas) behavioristas metodológicas. Por outro lado, também se apon tou o fato de que a alternativa de Skinner para uma superação daquele problema esbarra em algumas dificuldades que preci sam ser examinadas. Neste capítulo, procurar-se-á avançar na análise das pro posições de Skinner para a privacidade, em geral, e para o au toconhecimento, em particular, recuperando-se as idéias e os problemas anteriormente levantados. Ao considerar-se os diversos textos em que Skinner trata de problemas relativos aos eventos privados, observa-se um certo tipo de contradição. Há momentos em que este autor procura sugerir uma abordagem efetiva para aqueles eventos, a despeito dos problemas que se colocam no caminho - proble 26 mas estes por ele mesmo apontados. Em outros casos, Skinner assume uma postura bastante distinta, sugerindo que a psico logia enquanto ciência do comportamento poderia prescindir de um tratam ento efetivo para aqueles eventos. O objetivo deste capítulo será, então, o de apontar e discutir estes dois momentos (tratando dos eventos privados em geral), para que depois se examine como a alternativa de um tratamento efeti vo para os eventos privados é articulada no âmbito do auto- conhecimento em particular. E, ao final deste capítulo, procu- rar-se-á indicar em que medida estas posições permitem esta belecer os limites e as possibilidades de um tratamento beha- viorista radical para o autoconhecimento, ao nível das formu lações teóricas de Skinner. Embora Terms tenha sido escrito em 1945, muitas das idéias ali contidas repetem-se em obras posteriores de Skinner. Apesar disso, a repetição daquilo que já foi apresentado no capítulo anterior será evitada. Cada tópico deste capítulo será tratado procurando-se acrescentar elementos ao que já foi dis cutido anteriormente. 2.1 A NATUREZA DOS EVENTOS PRIVADOS Examinar como Skinner concebe a privacidade implica demarcar em que medida ele sugere que os eventos a ela perti nentes podem ser efetivamente considerados no contexto de sua psicologia comportamental e em que medida isso deixa de acontecer. Vale esclarecer que a expressão tratamento efetivo será empregada, aqui, não apenas no sentido de uma expli cação teórica consistente, mas, também, no sentido de um tipo de tratam ento que realmente leve em conta os eventos priva dos na análise e (proposição de) intervenção em situações onde estes eventos reconhecidamente ocorrem e relacionam-se com outros comportamentos públicos dos indivíduos. No capítulo anterior, assinalou-se que Skinner toma os eventos privados como físicos, porém inacessíveis à observação pública. Mostra-se necessário, agora, entender que tipo de fenômeno físico é este bem como o status que Skinner lhe 27 atribui na construção de seu sistema teórico e de sua ciência do comportamento. Em Terms, Skinner indica a possibilidade de que os even tos privados sejam pensados como comportamentos (por exemplo, ver), ou como estados ou condições internas do orga nismo (por exemplo, dor). Em textos posteriores (por exemplo, Skinner, 1963/1984c), Skinner deixa bem claro que aquilo que denominava de estados ou condições internas deve ser tomado, mais adequadamente, como estímulos internos (ou seja, como estimulação interoceptiva e proprioceptiva). Isto é, o que ocor re sob a pele do indivíduo pode ser interpretado em termos de estímulos e comportamentos, os exatos eventos de que se ocu pa a psicologia operante. Conceber os eventos privados dessa forma justificaria analisá-los de acordo com os princípios com- provadamente eficazes no estudo de fenômenos menos com plexos. O mais relevante neste esclarecimento, porém, é que ele diferencia a posição de Skinner sobre os eventos internos daquelas abordagens psicológicas que falam em estados inter nos do organismo, na forma de “condições armazenadas a par tir da experiência” , ou mesmo “ geneticamente determinadas” . Para Skinner, o interno remete a acontecimentos (comporta mentos e estimulações privadas) e não a conteúdos ou proces sos (mentais ou de outra natureza). Por outro lado, ao levar em conta a interação de um organismo com seu ambiente, ao invés de se considerar que as experiências são de alguma forma armazenadas pelo organismo que as vivência, deve-se supor, segundo Skinner, que elas atuam na forma de modelagem e instalação dos repertórios comportamentais do organismo. As sim, o comportamento é explicado como função da interação do organismo com o ambiente, e não como função de condições in ternas do tipo experiência armazenada. “Pensar que alguma cópia das contingências é introduzida no organismo para ser usada numa data posterior, é um erro ‘cognitivo’ fundamental. Os organismos não armazenam as contingências filogenéticas e ontogenéticas às quais são expostos; eles são mudados por elas” (Skinner, 1984d, p.656, grifo nosso). Para ilustrar o problema levantado por Skinner pode-se recorrer ao exemplo da “memória” . Enquanto para algumas 28 teorias cognitivas, o indivíduo armazena informações que poderão ser recuperadas em situações futuras, para o behavio- rismo radical, o que ocorre é algo distinto. O organismo, ao interagir com o ambiente, é transformado na forma de mode lagem e instalação de repertórios comportamentais. Embora Skinner vislumbre este processo de interação de uma forma mais dinâmica, interessa assinalar que dele resultam relações funcionais entre comportamentos e variáveis ambientais. O comportamento de lembrar um nome, nesta perspectiva, pode ser analisado enquanto uma resposta com alguma probabili dade de ocorrência, probabilidade esta determinada por uma história de reforçamento daquela resposta, na presença de cer tos estímulos discriminativos. Esse tipo de análise não requer nenhuma suposição da existência de conteúdos mnemónicos. Ao contrário, procura mostrar que suposições como esta ape nas desviam a atenção do pesquisador de uma análise efetiva do comportamento humano. Isso não significa dizer que Skinner despreze as contribuições da fisiologia e da neurologia no estabelecimento das bases (neuro)fisiológicas do compor tamento. Ele apenas pondera que, a despeito dos fatos que es tas disciplinas conseguirem estabelecer, ainda será necessário que uma ciência do comportamento estabeleça os fatos relati vos ao papel do ambiente externo ao organismo na determi nação de seus comportamentos. A postura de Skinner a respeito do problema de condições internas do organismo é fundamental para a coerência e legi timação de sua psicologia como ciência do comportamento. Não faria sentido que a análise experimental do comportamen to se ocupasse das relações entre o ambiente e o comportamen to dos organismos se aceitasse a premissa de que os organismos são dotados de condições internas às quais se atribui o status de determinantes do comportamento. Aceitar a existência des tes estados seria negar a pertinência de uma análise experi mental do comportamento. Isto é, o próprio projeto de uma psicologia operante poderia perder sentido. Por outro lado, olhar para os eventos privados como estímulos e comporta mentos, por mais que ocorrendo a um nível diretamente ina cessível para a comunidade em geral, significa continuar com 29 as relações entre ambiente (seja ele externo ou interno) e com portamento como o fato que importa no estudo científico das atividades humanas. Ao considerar os eventos privados como estímulos e com portamentos, Skinner dá um passo importante para que possa abordá-los no contexto de uma ciência do comportamento. To davia, um problema surge quando se levanta o fato de que são eventos que não ocorrem de forma pública e que, portanto, não estariamdiretamente acessíveis à investigação científica. Na perspectiva skinneriana, o que caracteriza os eventos privados é exatamente o fato de constituírem uma parte do universo de cada indivíduo à qual só ele próprio tem acesso. Disso resulta que, ao considerar-se que os comportamentos de um indivíduo são função de sua interação com o ambiente, será necessário admitir que uma parte do ambiente se encerra dentro de sua própria pele. Esta situação só é problemática devido às dificuldades de descrição daqueles eventos. Como examinado no capítulo anterior, os repertórios verbais auto- descritivos são instalados a partir de contingências providas pela comunidade verbal e esta, por não ter aoesso direto àque les eventos, sempre encontrará dificuldades para modelar um repertório com alto grau de precisão. Em outras palavras, é possível caracterizar a privacidade (ou seu aspecto de inacessi bilidade pública) em termos de uma questão de relativa incog- noscibilidade. Além das estratégias de que a comunidade verbal dispõe para instalar repertórios verbais auto-descritivos, apresenta das no capítulo anterior, uma alternativa bastante citada quando se discute o problema acima diz respeito à possibilida de de certos eventos privados virem a tornar-se públicos. Em alguns momentos, Skinner chega a admitir tal possibilidade. “A linha entre o público e o privado não é fixa. A fronteira se altera com cada descoberta de técnicas para tornar públicos os eventos privados. O comportamento que tenha uma magnitude tão pequena que não possa ser observado poderá ser amplifi cado. ( . . .) O problema do privativo pode, portanto, ser final mente resolvido por técnicas avançadas” (Skinner, 1953/1981. p. 271). Não há dúvidas de que, em alguns casos, a possibilidade 30 levantada por Skinner pode realmente concretizar-se. Por exemplo, com respeito a um comportamento encoberto, ele su gere a possibilidade de se ampliar os movimentos dos dedos de surdos-mudos e, como estes falam com os dedos, poderia to r nar-se possível detectar seus comportamentos verbais enco bertos. Do mesmo modo, a fisiologia poderá desenvolver um instrumental que permita o registro dos impulsos responsáveis por uma dor qualquer, e assim um estímulo originalmente pri vado estaria sendo tornado público. De qualquer maneira, Skinner reconhece que esta estratégia teria abrangência limi tada. Ainda em 1953, em seguida ao trecho citado acima, Skinner afirma: “Mas ainda nos defrontamos com eventos que ocorrem no nível privado e que são importantes para o organismo, e não te mos instrumental para amplificação. Como o organismo reage ante esses eventos permanece uma questão importante, mesmo que algum dia os eventos possam tornar-se acessíveis a todos” (Skinner, 1953/1981, p.271). Em 1963, Skinner reconhece que os estímulos externos e internos diferem em algo mais do que a localização, mesmo admitindo-se que ambos tenham dimensões físicas. Segundo ele, a situação diz respeito à intimidade, à familiaridade com que o acesso a eles se dá. Por esta razão, mesmo que se consiga registrar alguns eventos privados, não será possível detectar a forma da estimulação única para cada indivíduo. “Embora se possa dizer que, em algum sentido, duas pes soas vêem a mesma luz ou ouvem o mesmo som, elas não podem sentir a mesma distensão de um duto biliar ou a mesma dis tensão muscular. (Quando a privacidade é invadida com instru mentos científicos, a forma de estimulação é alterada; as escalas lidas pelo cientista não são os eventos privados em si)” (Skinner 1963/1984c, p. 616) (grifo nosso). 31 Gunderson (1984) oferece alguns elementos que facilitam a compreensão deste aspecto peculiar dos eventos privados. Este autor comenta o texto Behaviorism at Fifty, de Skinner, e discute a existência de dois tipos de privacidade, uma skinne- riana e outra leibniziana. A primeira seria constituída de eventos cuja acessibilidade é uma questão de utilização de técnicas que alterem a fronteira público-privado e Gunderson reconhece que há casos em que isso se aplica. A segunda, cons titui-se de eventos cognoscíveis apenas para o próprio indiví duo sob cuja pele ocorrem. Ela tem a ver com o tipo de contato (direto, imediato, não-inferencial) que o indivíduo estabelece com os eventos que ocorrem sob sua pele. Neste caso, a fron teira público-privado é inalterável. A privacidade leibniziana, então, jamais estará publicamente acessível; ela deriva de uma diferença qualitativa fundamental, em bases epistemológicas, entre asserções psicológicas na primeira e na terceira pessoa. Eventos (mentais, para Gunderson) relativos a esta privaci dade. “. . . estão numa categoria epistemologicamente diferente de entidades inobserváveis (teóricas) na ciência, isso não signifi ca que sejam agraciados por algum status metafísicos especial - uma observação com a qual estou certo de que Skinner concor daria - mas significa sim que são conhecidos de uma “maneira especial” - uma observação da qual acredito que Skinner discor daria e discorda. . .” (Gunderson, 1984, p. 629). Partindo do que foi apresentado acima, é possível dizer que, ao contrário do que pensa Gunderson, Skinner reconhece os aspectos caracterizados como privacidade leibniziana. O próprio Skinner, entretanto, responde a Gunderson e elucida sua posição. Skinner (1984d) inicia sua resposta declarando que con corda com muito do que Gunderson diz, e afirmando que a maneira como observa seus eventos privados introspectiva- mente não é a maneira como os neurologistas os observariam se pudessem. Apresenta, contudo, duas observações ao co mentário. Em primeiro lugar, não utilizaria o termo mental, se 32 com isso se quer dizer que os eventos privados são constituídos de um tipo diferente de substância. Em segundo lugar, insiste em que a auto-observação é um comportamento de tipo espe cial7, de origem largamente social. Skinner admite a peculiari dade do tipo de contato que o indivíduo estabelece com os eventos que ocorrem sob sua pele, ressaltando, porém, que os comportamentos aí envolvidos, bem como o próprio compor tamento de observá-los, têm raízes na interação do indivíduo com seu ambiente social. Por outro lado, não discute possíveis implicações epistemológicas de sua postura de reconhecimento de que certos eventos são por natureza privados e não se tor narão acessíveis com o desenvolvimento tecnológico (invenção de instrumentos científicos). Talvez não discuta essas impli cações por não dispor, no momento, de uma alternativa para conciliar sua proposta de uma ciência experimental com a su posição de que alguns eventos relativos ao seu objeto de estudo só podem ser tratados pela comunidade numa perspectiva inferencial. Este é o primeiro de dois problemas a serem apon tados como não (ou mal) resolvidos na perspectiva de um tra tamento efetivo para os eventos privados. Ao distinguir os eventos entre públicos e privados, conce bendo o privado em termos de evento inacessível à observação pública direta, Skinner acaba impondo um limite sério a um tratamento efetivo da privacidade, já que sua abordagem enfa tiza a necessidade de investigação empírica dos fenômenos re lativos ao comportamento. Os eventos privados, neste caso, não atenderiam a esta exigência, quer dizer, não estariam dis poníveis publicamente a fim de serem investigados daquela forma (empiricamente). Nesse sentido, se se considera o méto do experimental empírico como o instrumento através do qual uma ciência do comportamento deve estudar os fenômenos 7 Vale observar que o fato de Skinner considerar a auto-observação como um com portamento de tipo “especial” não significa que ele esteja atribuindo uma natureza mental (ou de qualquer outro tipo que não seja física) àquele evento. O especial, aqui, provavelmente refere-se ao fato de que a auto-observação é um com portamento que, embora inacessível à comunidade, só se instala a partir de con tingências por ela providas.
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