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T R A U M A E E M E R G Ê N C I A S : A B O R D A G E M P R Á T I C A Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Trauma e emergências: abordagem prática / vários. – São Paulo, SP : 1ª Edição, 2016. 500 p.; 21 x 29,7cm ISBN: 978-85-5522-125-5 1. Medicina e saúde. 2. Traumas e emergências. 3. Educação. I. Título CDD 610 Índice para catálogo sistemático 1 Medicina e saúde : 2 Traumas e emergências : 3 Educação TRAUMA E EMERGÊNCIAS: abordagem prática Diagramação: Anne Charlyne Raviani Impressão: PoloPrinter Gráfica PoloPrinter 11 . 3791.2965 11 . 98393.7000 www.poloprinter.com.br polo.books atendimento@poloprinter.com.br Módulo Cirurgia 3 S U M Á R I O M Ó D U L O C I R U R G I A ............................................................................................... 11 ATENDIMENTO PRÉ-HOSPITALAR AO POLITRAUMATIZADO .............................. 13 Gabriela Godinho de Oliveira Pedro Versiani dos Anjos Menezes ATENDIMENTO SECUNDÁRIO AO POLITRAUMATIZADO ...................................... 30 Danilo Araújo Schitkoski Augusto Felipe Modesto Ferreira ABORDAGEM DA ENFERMAGEM NO ATENDIMENTO AO PACIENTE POLITRAUMATIZADO ......................................................................................... 35 Taylane Vilela Chaves Diogo Mendonça Joan Alessandro Barros Silva VIAS AÉREAS E VENTILAÇÃO................................................................................................ 48 Patrícia Travassos Cutrim Adriano Cotrim Vilas Boas BIOMECÂNICA DO TRAUMA .................................................................................................. 71 Bruna Silva Cerqueira Laís Borges Rizental BALÍSTICA ........................................................................................................................................ 84 Elizeu Bruno Santos Silva Felipe Souza Campos Freitas PROTEÇÃO DA EQUIPE DE ATENDIMENTO E PREVENÇÃO DE ACIDENTES ............................................................................................................................. 99 Adlae Geraldo da Silva Junior Kiane Werneck Assumpção Bruno TANATOLOGIA FORENSE - ESTUDO POST MORTEM DO TRAUMA .................... 113 Anna Bittarello Silva Bruna Latrônico IMOBILIZAÇÃO E TRANSPORTE DO PACIENTE POLITRAUMATIZADO .......... 122 Miguel Ricchetti Camila Ohomoto de Morais ONDA VERMELHA – O QUE É? ............................................................................................ 155 Bruna Stefane Silva Cotta Vítor Vieira de Souza Moraes PARTICULARIDADES NO TRAUMA PEDIÁTRICO ........................................................ 160 Karla Millana Cardoso Rodrigues Bianca Ramos de Castro PECULIARIDADES DO TRAUMA NO IDOSO .................................................................. 169 Priscila Carvalho de Souza Thamíris Gomes Pontes da Silva PARTICULARIDADES DO TRAUMA EM GESTANTES ................................................. 180 Gabriela Estevam Agostini Rayra Amana Macêdo Maciel TRAUMA CRANIOENCEFÁLICO .......................................................................................... 195 Lucas Matteus Silva de Mello Raphael Sales Cerqueira ABDOME AGUDO ....................................................................................................................... 208 Rafael Serafim Pinto Raquel Ferreira Queiroz de Melo Patrícia Rocha Carneiro Victor Hugo Barcelos Magalhães Rafael Bergo Henrique Arenare de Oliveira URGÊNCIAS ORTOPÉDICAS .................................................................................................. 220 Daiane de Oliveira Soares Ana Carolina Robadelo da Silva M Ó D U L O E M E R G Ê N C I A S .............................................................................. 231 AFOGAMENTO ............................................................................................................................ 233 Vinícius Pereira Barbosa Almeida Henrique Muraguchi ENGASGO ...................................................................................................................................... 244 Nordman Wall Barbosa de Carvalho Neto Filipe Sousa Amado INTOXICAÇÕES AGUDAS ....................................................................................................... 251 Lucas Akira Costa Hirai Nicolle Ribeiro Martins Carvalho Silva ACIDENTES COM ANIMAIS PEÇONHENTOS ................................................................ 280 Lucas José Resende Ricardo dos Santos Batista TRATAMENTO DE FERIDAS .................................................................................................. 305 Anderson Felipe de Alvarenga Augustinho QUEIMADURAS ........................................................................................................................... 315 Ismael Kirst Dornelles Marina De Campos Brandão Módulo Cirurgia 5 PARADA CARDIORRESPIRATÓRIA (PCR) ......................................................................... 331 Dayane Mayara Dutra Thiago Reis Cunha DOR TORÁCICA NA EMERGÊNCIA ................................................................................... 343 Nina de Andrade Carvalho José Yago Dias de Souza ARRITMIAS CARDÍACAS .......................................................................................................... 366 Fernanda Turque Martins Bruno Knaak de Abreu ABORDAGEM E CLASSIFICAÇÃO DO CHOQUE NA EMERGÊNCIA .................... 381 Luana de Castilho Kropf Penante Eduardo Sabino de Camargo Magalhães Lucas Araújo Pena Goes SIRS, SEPSE E CHOQUE SÉPTICO ........................................................................................ 395 Bernardo Bahia Finotti Julio Boriollo Guerra CONVULSÕES – CRISE EPILÉPTICA ................................................................................... 409 Dante Lucas Santos Souza Victor Kleinfelder Molinari ACIDENTE VASCULAR CEREBRAL ..................................................................................... 430 Gabriela Dalla Giacomassa Rocha Thomaz Yuri Thomé Machado Strey FISIOPATOLOGIA DA TROMBOSE VENOSA PROFUNDA E TROMBOEMBOLISMO PULMONAR ................................................................................ 448 Felipe Carvalho Sousa Barros Arthur Paz Oliveira Moura HEMORRAGIA DIGESTIVA ALTA ........................................................................................ 457 Marília de Oliveira Bringel Sergio Roberto Pereira da Silva Junior URGÊNCIAS OFTALMOLÓGICAS ........................................................................................ 467 Deborah Lumi Shuha, Henrique Alencastro Puls O PACIENTE DIABÉTICO NA EMERGÊNCIA ................................................................. 477 Rayra Amana Macêdo Maciel Isabela Nascimento Borges Laís Raquel Ribeiro O PACIENTE HIPERTENSO NA EMERGÊNCIA: ABORDAGEM DA CRISE HIPERTENSIVA ......................................................................... 483 Leticia Pretti Pimenta Rayra Amana Macêdo Maciel Ana Luísa Soares Neves EMERGÊNCIAS PSIQUIÁTRICAS ......................................................................................... 493 Ana Lívia de Castro Reis Laura Aisha Paulino Küttel Flávia Fiuza de Andrade Vale E D I T O R E S C O O R D E N A D O R E S Diomildo Ferreira Andrade Junior Filipe Sousa Amado A U T O R E S Adlae Geraldo da Silva Junior Adriano Cotrim Vilas Boas Ana Carolina Robadelo da Silva Ana Lívia de Castro Reis Ana Luísa Soares Neves Anderson Felipe de Alvarenga Augustinho Anna Bittarello Silva Arthur Paz Oliveira Moura Augusto Felipe Modesto Ferreira Bernardo Bahia Finotti Bianca Ramos de Castro Bruna Latrônico Bruna Silva Cerqueira Bruna Stefane Silva Cotta Bruno Knaak de Abreu Camila Ohomoto de MoraisDaiane de Oliveira Soares Danilo Araújo Schitkoski Dante Lucas Santos Souza Dayane Mayara Dutra Deborah Lumi Shuha Diogo Mendonça Eduardo Sabino de Camargo Magalhães Elizeu Bruno Santos Silva Felipe Carvalho Sousa Barros Felipe Souza Campos Freitas Fernanda Turque Martins Filipe Sousa Amado Flávia Fiuza de Andrade Vale Gabriela Dalla Giacomassa Rocha Thomaz Gabriela Estevam Agostini Gabriela Godinho de Oliveira Henrique Alencastro Puls Henrique Arenare de Oliveira Henrique Muraguchi Isabela Nascimento Borges Ismael Kirst Dornelles Joan Alessandro Barros Silva José Yago Dias de Souza Julio Boriollo Guerra Karla Millana Cardoso Rodrigues Kiane Werneck Assumpção Bruno Laís Borges Rizental Laís Raquel Ribeiro Laura Aisha Paulino Küttel Letícia Pretti Pimenta Luana de Castilho Kropf Penante Lucas Akira Costa Hirai Lucas Araújo Pena Goes Lucas José Resende Lucas Matteus Silva de Mello Marilia de Oliveira Bringel Marina de Campos Brandão Miguel Ricchetti Nicolle Ribeiro Martins Carvalho Silva Nina Andrade Carvalho Nordman Wall Barbosa de Carvalho Neto Patrícia Rocha Carneiro Patricia Travassos Cutrim Pedro Versiani dos Anjos Menezes Priscila Carvalho de Souza Rafael Bergo Rafael Serafim Pinto Raphael Sales Cerqueira Raquel Ferreira Queiroz de Melo Rayra Amana Macêdo Maciel Ricardo dos Santos Batista Sergio Roberto Pereira da Silva Junior Taylane Vilela Chaves Thamíris Gomes Pontes da Silva Thiago Reis Cunha Victor Hugo Barcelos Magalhães Victor Kleinfelder Molinari Vinicius Pereira Barbosa Almeida Vítor Vieira de Souza Moraes Yuri Thomé Machado Strey Módulo Cirurgia 9 P R E F Á C I O Trauma e emergências representam, segundo estimativas do DATASUS (2014) cerca de 30% do total 1.227.039 óbitos no Brasil, sendo 156.942 óbitos por causas exter- nas e mais de 200.000 óbitos associados a eventos agudos como doenças cerebrovasculares e isquemias críticas do miocárdio. Com grande relevância epidemiológica, além elevada exigên- cia de qualificação dos profissionais da saúde para o manejo eficiente dos pacientes expostos a traumas ou em situação de emergência, espera-se que o tema integre carga horária importante nas escolas de medicina e enfermagem, o que na maioria das vezes, não é realidade. O livro TRAUMA E EMERGENCIAS: ABORDAGEM PRÁTICA vem, neste contexto, tentar suprir a demanda de capacitação adequada no ensino médico durante a graduação, no que tange o manejo de trauma e emergências. O livro é subdividido em um módulo de CIRURGIA e outro de EMERGÊNCIAS, abran- gendo ao todo 35 capítulos sobre os temas mais prevalentes das áreas, com foco no diagnós- tico e manejo eficiente dos pacientes em risco e prevenção de acidentes para estudantes em contato inicial com os temas. RAYRA AMANA MACÊDO MACIEL M Ó D U L O C I R U R G I A Módulo Cirurgia 13 AT E N D I M E N T O P R É - H O S P I TA L A R A O P O L I T R A U M AT I Z A D O Gabriela Godinho de Oliveira Pedro Versiani dos Anjos Menezes “Poderíamos ter escolhido outra profissão, mas não o fizemos. Aceitamos a responsabili- dade de cuidar de doentes e, algumas vezes, nas piores condições: quando estamos cansados ou com frio; quando está chuvoso e escuro; quando não podemos prever que condições iremos encontrar (...). Devemos oferecer a nossos doentes o que há de melhor em nós (...). Sem ler e aprender todos os dias, não podemos saber qual o conhecimento médico mais atualizado, nem estar prontos para tratar de nossos doentes” (PTHLS, 2011) I M P O R T Â N C I A E O C O N T E X T O AT U A L Este capítulo se destina à uma abordagem do atendimento pré-hospitalar ao paciente politraumatizado. É válido então, nos questionarmos: “afinal, qual o real impacto do trauma na área da saúde e qual importância de se saber manejar o paciente que sofreu um trauma?” E mais ainda: “por que focar num atendimento fora do espaço hospitalar provido de toda a assistência médica para o tratamento desse paciente? ” Para começar a entendermos a magnitude do trauma no espectro da saúde coletiva, temos que este consolida-se como principal causa de morte nas primeiras quatro décadas de vida no Brasil assim como no mundo todo, reduzindo a expectativa de vida dos pacientes em 35 anos. No Brasil, ao se analisar as taxas de mortalidade da população geral, o trauma é a terceira prin- cipal causa de morte, sendo englobado no espectro de doenças por causas externas, ficando atrás apenas de doenças cardiovasculares e neoplasias, respectivamente. Além disso, dentre as mortes por causas externas temos que as principais causas são agressões (aproximadamente 38%) e acidentes automobilísticos (aproximadamente 28%). Esses dados estão representados a seguir, nos gráficos 1.1 e 1.2. Somos 200 milhões de brasileiros, sujeitos diariamente, por inúmeros motivos, a toda espécie de trauma, sendo que este mata anualmente cerca de 125.000 pessoas no país. Além disso, embora não haja estatísticas confiáveis, calcula-se que, para cada doente traumatizado que morre, três fiquem com sequela permanente, o que representa um enorme custo social. 14 Módulo Cirurgia Figura 1. Trauma como um problema de saúde pública Uma vez compreendida a importância e a magnitude do trauma na saúde da população, falta esclarecer então a importância de um atendimento pré-hospitalar adequado. Temos que nos óbitos por trauma, 50% ocorrem nos primeiros minutos, 30% nas primeiras horas e 20% nas primeiras semanas após o acidente2. O atendimento pré-hospitalar é o método principal para se evitar essas mortes das primeiras horas, ao se estabelecer prioridades no manejo das múltiplas lesões da vítima, além de evitar muitos daqueles óbitos consequentes a sequelas. Segundo estudos norte-americanos, 40% das mortes evitáveis de politraumatizados ocorre porque o atendimento é inadequado ou tardio. A outra metade desses óbitos pode ser reduzida por meio de práticas de prevenção de acidentes. No atendimento inicial ao politraumatizado, há um princípio da “hora de ouro” (figura 2), instituído pelo Dr. R. Adams Cowley, que guia a organização dos serviços de emergên- Gráficos 1.1 e 1.2. Principais causas de mortalidade e principais taxas de mortalidade por causas externas no Brasil, no período entre 2000 e 2013 (Ministério da Saúde, s.d.) TRAUMA COMO UM PROBLEMA DE SAÚDE PÚBLICA • 3ª causa de mortalidade • 125.000 óbitos por ano • 400.000 vítimas sofrerão com sequelas definitivas • consome em média 35 anos de vida - mais que as pri- meiras duas causas de mortalidade no país • gera altos custos diretos e indiretos com a assistência, perfazendo um valor superior à dívida externa do país • problema de saúde em consequência de mudanças so- ciais, econômicas e políticas como desemprego, margi- nalização e desenvolvimento automobilístico Módulo Cirurgia 15 cia e evidencia a importância do atendimento pré-hospitalar efetivo. Segundo os estudos e evidências obtidos, a chance sobrevivência da vítima politraumatizada pode aumentar em até 80% se o tempo entre o acidente e o atendimento hospitalar definitivo for inferior a 60 minutos, de modo que isso só é possível a partir de uma assistência pré-hospitalar adequada. “HORA DE OURO” Tempo ideal transcorrido entre o acidente e o atendimento hospitalar definitivo da vítima, que pode aumentar sua chance de sobrevivência em até 80% Figura 2. Hora de ouro O diferencial no atendimento inicial a uma vítima traumatizada em relação àquela que apresenta alguma doença crônica como câncer ou doenças cardiovasculares é que o cuidado pré-hospitalar no trauma pode fazer a diferença entre a vida e a morte; entre uma sequela gra- ve temporária ou permanente; entre uma vida produtiva para uma incapacitada e desprovida de bem-estar, enquanto para demais doenças o impacto na sobrevida do paciente é mínimo. Umasimples abordagem como colocar um colar cervical pode ser o diferencial entre uma vida com quadriplegia e uma vida autônoma e produtiva. Portanto, a oportunidade um socorrista efetivamente ajudar uma pessoa é muito maior do atendimento do trauma do que em outras doenças já que a chance de sobrevida desse paciente que recebe assistência pré-hospitalar é maior do que qualquer outro doente em estado grave. Desse modo, a adequada interferência e assistência do profissional nesse contexto contribui significativamente na sobrevida da po- pulação em geral, afinal, aumenta a quantidade de anos vividos pelo paciente e diminui custos subsequentes com tratamento de sequelas evitáveis. U M B R E V E H I S T Ó R I C O A história do atendimento pré-hospitalar tem início no século XIX, no contexto militar de guerras, quando o cirurgião chefe militar de Napoleão, Barão Dominik Jean Larrey determi- nou a necessidade de um serviço de retirada rápida de soldados feridos do campo de batalha, assim como assistência no local de acidente e durante o transporte aos hospitais. Surgem en- tão as denominadas primeiras “ambulâncias voadoras”, de tração animal, e com homens com treinamento em cuidados médicos. Larrey é considerado por muitos então, o pai do serviço médico de emergência. Nos 100 anos que se seguiram, pouco foi obtido em termos de avanço 16 Módulo Cirurgia na área, com certos desenvolvimentos nas técnicas de atendimento pré-hospitalar retratados na Primeira Guerra Mundial e Guerra Civil Norte-americana. No Brasil, a ideia de realizar atendimento das vítimas fora do ambiente hospitalar é tão antiga como em outros países, tendo grande influência dos modelos franceses e norte-ame- ricanos e início também no contexto militar. Em 1899 o Corpo de Bombeiros do Rio de Janeiro, capital federal da época, coloca em ação a primeira ambulância de tração animal. A partir de 1900 as ambulâncias foram sendo aprimoradas, primeiramente por equipes es- pecializadas como a Cruz Vermelha e tardiamente incorporadas ao Serviço de Corpo de Bombeiros brasileiro. Foram desenvolvidas algumas políticas do atendimento pré-hospitalar no país, como a Política Nacional de Atenção às Urgência e o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU). O atendimento pré-hospitalar (APH) também passou a contar com unidades de res- gate tripuladas pelos bombeiros e unidades de suporte avançado com a equipe do SAMU. Em 1986 surge no Rio de Janeiro Grupo de Socorro e Emergência (GSE) do Corpo de Bombeiros Militar, incorporando médicos ao quadro de socorristas e implementando viaturas de suporte avançado com recursos e materiais especiais para este fim. Atualmente os serviços de APH integram uma lógica de medidas preventivas, redes de atendimento pré-hospitalar, serviços assistenciais hospitalares hierarquizados e centros de rea- bilitação, contando com ambulâncias e assistência de suporte básico e avançado de vida. ATENDIMENTO PRÉ-HOSPITALAR - OBJETIVOS O atendimento pré-hospitalar compreende o socorro inicial prestado a vítima no local em que ocorreu a emergência e durante o transporte para o hospital. Seus objetivos fundamentais são: iniciar o tratamento de modo precoce, estabilizar as funções vitais, prevenir complicações e transportar o acidentado com segurança e rapidez, para o hospital mais apropriado para o tratamento definitivo de sua condição específica. Figura 3. Objetivos do atendimento pré-hospitalar SEGURANÇA DA CENA – PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS Na medicina pré-hospitalar, nosso trabalho necessariamente nos leva a locais distintos e situações potencialmente perigosas. Portanto, a avaliação criteriosa da cena se faz necessária para que potenciais riscos à vida do socorrista sejam identificados e isolados antes de que este possa iniciar seu atendimento à vítima. note Realce Módulo Cirurgia 17 Para isso, criou-se a “Regra do Eu”. Essa regra é o mantra que todo o socorrista deve ter em mente ao se aproximar de uma cena desconhecida. Sua própria segurança e bem-estar é mais importante que a segurança e bem-estar de seu paciente. Portanto, o socorrista deve se assegurar de que não há nenhum risco potencial para ele ou sua equipe. Nesse momento você pode estar se perguntando: “Porque é necessário todo esse egoís- mo?” Nós respondemos: “O paciente, para que possa receber um atendimento capaz de mudar seu prognóstico ou melhorar sua atual condição, necessita de um profissional que esteja em condições físicas e psicológicas para prestar o serviço” Imagine a seguinte situação: O paciente se envolveu em um acidente de carro no meio de uma rodovia. O socorrista, ao chegar com sua ambulância, se esquece da Regra do Eu e ime- diatamente corre em direção ao carro acidentado, sendo atropelado no caminho. Agora em vez de um paciente existem dois, e o paciente original demorará mais tempo ainda para ser atendido. Você pode estar se indagando também: “Mas esse socorrista estava sozinho?” Salvo em condições excepcionais, não, ele não estará sozinho. Porém, imagine o estado psicológico de alguém que acabou de ver seu colega sofrer um acidente. Essa pessoa não tem condições de realizar um atendimento adequado. Em última análise, a Regra do Eu vem ao benefício do próprio paciente. Figura 4. Regra do Eu Ao chegar a uma cena, tendo em vista a Regra do Eu, passa-se a buscar situações que pos- sam potencialmente pôr em risco a vida do socorrista e do próprio paciente. Essa busca deve ser rápida e minuciosa, o que faz necessário o estudo do profissional para que este não deixe passar nada em sua análise. Inicia-se por uma pergunta básica: “O que aconteceu? ”. Essa pergunta permite um esboço da cronologia dos eventos que levaram ao incidente, sendo possível estabelecer potenciais fontes de perigo que possam haver surgido ou que possam ainda ocorrer. note Realce 18 Módulo Cirurgia Potenciais riscos em cena ¨ Fogo ¨ Trânsito ¨ Substancias Desconhecidas ¨ Multidões ou pessoas desconhecidas ¨ Cabos de energia partidos ¨ Terreno Instável ¨ Gases Fogo – O perigo do fogo em uma cena é autoexplicativo. Deve-se sempre se atentar à fonte de combustível e avaliar o risco de explosões. Deve-se, também, se atentar à presença de brasas, pois estas podem causar um foco de incêndio novamente, principalmente se entrarem em contato com materiais combustíveis. O SOCORRISTA NÃO DEVE ENTRAR EM UMA CENA EM QUE HÁ FOGO DESCONTROLADO. Nos casos em que há fogo, deve-se esperar que o corpo de bombeiros esteja presente e libere a cena para a entrada do serviço médico de urgência. Lembre-se: apenas o bombeiro tem competência técnica para determinar se as chamas estão controladas ou não. Trânsito – O trânsito oferece grande risco ao profissional de emergência. Infelizmente, grande parte das chamadas são para acidentes que ocorrem em vias onde ainda há carros e motocicletas trafegando. O transito deve ser devidamente desviado e controlado antes de que o socorrista entre na cena. Substâncias desconhecidas – Em diversas cenas encontram-se líquidos ou substâncias de origem desconhecida. É necessário, novamente, fazer a pergunta de “O que aconteceu” para que se tenha uma noção da provável origem do material em questão. Por exemplo: em uma cena de acidente automobilístico, deve-se pensar na presença de fluidos tais como: líquido de arrefecimento, fluido dos freios, líquido de limpador de para brisa e gasolina/etanol. Os combustíveis apresentam um risco de fogo e explosão, logo devem ser contidos com areia. Os demais líquidos apresentam, predominantemente, risco de queda por diminuir o quociente de atrito entre a bota do socorrista e o solo. Portanto, é necessário também contê-los com areia para evitar quedas. Em cenas com acidentes químicos, faz-se necessária a análise da identifi- cação do produto. De acordo com a Resolução420/2004 da Agencia Nacional de Transporte Terrestre (ANTT), o transporte de materiais químicos deve ser devidamente rotulado e sua classificação deve ser afixada no meio de transporte de forma visível e que resista às intempéries. Esses rótulos são amplamente reconhecidos e autoexplicativos, como os exemplos a seguir: note Realce note Realce note Realce note Realce Módulo Cirurgia 19 Figura 5. Rótulos para identificação de transporte de materiais perigosos É importante notar que os números na região inferior da placa não necessariamente têm relação com seu grau de periculosidade, mas sim com sua subclasse de acordo com os parâmetros definidos pela ANTT Para o armazenamento de produtos químicos existe uma outra classificação representada pelo Diagrama de Hommel, que visa informar rapidamente, de forma clara sobre o risco do material armazenado. Essa classificação é mais comumente encontrada no exterior, porém pode ser vista no Brasil. O diagrama tem a forma a seguir (Figura 6). Figura 6. Diagrama de Hommel com legenda. O conhecimento dessas classificações pode ser determinante no processo de decisão de um socorrista, portanto deve ser estudado. ü Multidões ou pessoas desconhecidas: Na abordagem de multidões, deve-se lem- brar do que escreveu o psicanalista Sigmund Freud: “... inserido na massa, o indivíduo sente, pensa e age de maneira diversa de quando está sozinho. ” Portanto, situações com muitas pessoas são SEMPRE situações perigosas, pois as massas são imprevi- note Realce 20 Módulo Cirurgia síveis. Deve-se, portanto, tentar afastar o paciente com um acompanhante, seja para um cômodo distinto de onde estão as pessoas, ou então para dentro da própria am- bulância. Quanto às pessoas desconhecidas, deve-se atentar não para àquelas pessoas desconhecidas para o socorrista, pois este, na grande maioria das vezes, não conhecerá ninguém. Deve-se atentar para pessoas desconhecidas por aqueles que se encontram na cena, principalmente quando a urgência ocorreu em domicílio ou vizinhança. ü Cabos de energia partidos: Os cabos de energia partidos apresentam grande risco para todas as pessoas próximas. Esse tipo de ocorrência é mais frequente em acidentes automobilísticos contra postes. Não é função do socorrista lidar com o cabo, pois este apresenta risco iminente à vida. Deve-se isolar área, evitando que outras pessoas se aproximem, notificar o corpo de bombeiros e aguardar. ü Terreno instável: A denominação terreno instável engloba todas aquelas situações em que não há firmeza no terreno ou no entorno imediato suficiente que possibilite a ação do serviço de emergência sem risco de perda da estabilidade. Um exemplo: em um acidente de carro em que este se encontra instavelmente à beira de uma vala. Caso esse carro não seja estabilizado, quando o serviço de urgência se adentrar no veículo, pode ocorrer uma mudança no centro de gravidade e causar que o automóvel caia na vala. Essas situações devem, portanto, ser avaliadas cuidadosamente e caso for necessário, o serviço de resgate deve ser acionado. ü Gases: A categoria de gases foi colocada separadamente da categoria de substâncias desconhecidas para que se faça um lembrete de uma substância letal que pode estar pre- sente em situações corriqueiras: o monóxido de carbono. O monóxido de carbono (CO) é um gás sem cor ou cheiro, advindo da combustão incompleta de materiais, que ocorre principalmente quando não há oxigenação adequada para que a oxidação do combustível seja completa. Logo, em vez de dióxido de carbono, o monóxido de carbono é formado. Esse gás se liga à hemoglobina com uma estabilidade 210 vezes maior do que o oxigênio, asfixiando o paciente dependendo do tempo de exposição. Os sinais clínicos começam quando a concentração de CO no ambiente aumenta para mais de 10%. Portanto, em ambientes mal ventilados com aparelhos tais como geradores portáteis, aquecedores a gás ou carvão ou lareiras o cuidado deve ser dobrado, pois o motivo do adoecimento agudo do paciente pode ser uma intoxicação por CO e o socorrista pode se tornar uma vítima também. ABORDAGEM DA CENA COM MÚLTIPLOS PACIENTES As cenas com múltiplos pacientes são perigosas em decorrência de sua própria natureza. Geralmente são cenas em que há múltiplos veículos, explosões ou tiroteios. Nessas cenas de- ve-se ter um cuidado especial ao aproximar-se. Não é o intuito desse capítulo ensinar toda a note Realce note Realce note Realce note Realce note Realce Módulo Cirurgia 21 metodologia de organização de um cenário de acidentes de grandes proporções, delimitando as zonas quente, morna e fria e assim por adiante. No entanto, algumas considerações sobre o atendimento dos pacientes nessas situações devem ser feitas, conforme explicitado a seguir. A primeira coisa a ser avaliada em um cenário com múltiplos pacientes é se existem re- cursos suficientes para atender todos os pacientes envolvidos de maneira adequada. Caso de haja disponibilidade de recursos suficiente para o atendimento, aqueles pacientes mais graves devem ser atendidos prioritariamente, deixando os demais pacientes para serem atendidos conforme a prioridade. Caso não existam recursos suficientes para atender todos os pacientes, deve-se assegurar a sobrevida da maior parte possível dos mesmos. Por isso criaram-se inúmeras metodolo- gias para a avaliação de pacientes em casos de grande número de vítimas. Uma metodologia amplamente utilizada no mundo é a metodologia START, do inglês Simple Triage And Rapid Treatment. Essa metodologia foi desenvolvida para que, de forma simples, um socorrista tenha capacidade de avaliar a indicação de prioridade no atendimento de qualquer paciente em uma situação de múltiplos pacientes. A metodologia START classifica os pacientes em 4 categorias: PRETO – Paciente morto VERMELHO – Paciente necessita de atendimento imediato AMARELO – O paciente “pode esperar” VERDE – O paciente de baixo risco A classificação pode variar dependendo da fonte consultada. Para fins desse capítulo utili- zaremos a metodologia START simplificada a seguir: Figura 7. Fluxograma da metodologia START note Realce 22 Módulo Cirurgia Percebe-se que não se deve tentar manobras de reanimação em cenas com múltiplas víti- mas. Isso se deve ao fato de que a prioridade são aqueles pacientes que tem maior chance de sobrevivência quando priorizados para receber atenção médica especializada. Outra consideração importante é que todos os pacientes devem receber atenção médica em algum momento, seguindo sua ordem de prioridade. A classificação tampouco é fixa, po- dendo o estado de um paciente deteriorar durante o aguardo pela atenção médica, sendo então necessária sua reavaliação e reclassificação. A V A L I A Ç Ã O E AT E N D I M E N T O D O D O E N T E A avaliação do paciente é fundamental e é base para tomada de decisões de atendimento e transporte. Ela objetiva determinar a condição atual do doente, a partir de uma impressão de seu estado geral e integridade dos sistemas respiratório, cardiovascular e neurológico. Con- dições que ameacem a vida são identificadas e procedimentos de urgência e reanimação são iniciados. No atendimento ao doente traumatizado, o tempo é fundamental, não sendo possível, muitas vezes, proceder a investigação propedêutica antes de se tratar algumas lesões que com- portam risco imediato à vida. A abordagem sistematizada do doente traumatizado permite oti- mizar o tempo, não deixar passar desapercebidas lesões graves e, em última análise, melhorar o prognóstico do doente, diminuindo a incidência das chamadas mortes evitáveis e do “segundo trauma”, que corresponde ao agravamento das lesões já existentes ou ao surgimento de novas lesões, em decorrência do atendimento inadequado. O atendimento ao paciente deve-sebasear na avaliação e atendimento dos seguintes pon- tos, para garantir a capacidade de oxigenação e distribuição de oxigênio para os tecidos, em ordem de importância: ü Via aérea ü Ventilação ü Oxigenação ü Controle da hemorragia ü Perfusão ü Função neurológica Determinando prioridades No atendimento ao traumatizado também é importante estabelecer prioridades em termos de sempre buscar preservar primeiro a vida; segundo a função e por último, questões estéticas. É necessário que o socorrista não só memorize protocolos de atendimento, mas também desenvolva um pensamento crítico, sendo capaz de realizar uma avaliação adequada, interpretar os achados e determinar prioridades no tratamento dos doentes. “Cada contato entre socorrista e doente envolve um conjunto único de circunstâncias. Se o socorrista entender as bases do conhecimento médico e as necessidades de cada doente note Realce note Realce note Realce Módulo Cirurgia 23 decisões únicas podem ser tomadas que deem a esse indivíduo maior chance de sobrevida”. (American College of Surgeons, 2011) Avaliação rápida do nível de consciência Na lógica da avaliação crítica e adequada do paciente, deve-se atentar ao seu nível de consciência. Uma avaliação rápida antes da avaliação inicial não incorre com perda de tempo, podendo auxiliar no raciocínio do socorrista sobre a gravidade do quadro. A mnemotécnica para essa avaliação rápida é a seguinte: A – O paciente está Alerta V – O paciente responde ao estímulo Verbal D – O paciente responde ao estímulo Doloroso N – O paciente Não responde Essa avaliação é especialmente útil para determinar quando se deve solicitar ajuda quando se está sozinho. Todo paciente que não responde ao estímulo doloroso feito de maneira cor- reta deve ser encaminhado a um hospital com urgência. Se o paciente estiver alerta, é possível também inferir que ele está respirando e que tem pulso. No entanto, a avaliação ABCDE não deixa de ser necessária, conforme visto a seguir. Avaliação primária A base das lesões que levam a maior risco de vida é a falta de oxigenação adequada do tecido, levando a um metabolismo anaeróbio. Produção de energia diminuída com metabo- lismo anaeróbio é denominado choque. São necessários os seguintes componentes para um metabolismo normal: 1) Oxigenação das hemácias no pulmão 2) Oferta de hemácias para os tecidos do corpo 3) Entrega do oxigênio aos tecidos A avaliação primária engloba identificação e correção dos dois primeiros componentes, e envolve cinco etapas hierarquizadas, apontadas na tabela 1. AVALIAÇÃO PRIMÁRIA: ABCDE A Airway Via aérea e coluna cervical B Breathing Ventilação C Circulation Circulação (hemorragia e perfusão) D Disability Disfunção neurológica E Exposition Exposição Tabela 1. Etapas envolvidas na avaliação primária note Realce 24 Módulo Cirurgia Etapa a – Via aérEa E controlE da coluna cErVical Garantir a permeabilidade da via aérea é a prioridade no atendimento. Uma maneira prá- tica e eficiente de avaliar essa questão é por meio da resposta verbal do paciente, afinal, uma vez que este responde, está evidente a permeabilidade da via. Sinais como respiração ruidosa, agitação e cianose podem indicar uma obstrução. Principais causas de obstrução das vias aéreas: - Queda da língua; - Presença de vômitos, sangue, restos alimentares ou corpos estranhos; - Fraturas de face; - Trauma cervical com ruptura de laringe e traqueia; - Queimadura extensa na face acometendo cavidade oral Em caso de obstrução ou suspeita de obstrução, deve-se garantir a permeabilidade da via, mantendo-a aberta e limpa das seguintes maneiras: (1) métodos manuais – manobras de eleva- ção do mento ou tração da mandíbula; aspiração de secreções e remoção de corpos estranhos; (2) métodos mecânicos – tubos oro ou nasofaríngeos; dispositivos supraglóticos; intubação endotraqueal; traqueostomia. Em todo mecanismo de trauma significativo, deve-se suspeitar de lesão na medula espi- nhal até que essa seja devidamente excluída. Desse modo, é essencial o cuidado com a prote- ção da coluna durante os processos de manutenção da via aérea. Deve-se manter o pescoço em posição neutra e evitar manipulações desnecessárias. A imobilização com o colar cervical é uma prática obrigatória nessa fase do atendimento. Etapa B – VEntilação A garantia da permeabilidade das vias aéreas não indica necessariamente que a ventilação está adequada. Desse modo, é fundamental a avaliação das condições ventilatórias do paciente. Ventilação inadequada dos pulmões leva à falta de oxigenação dos tecidos, denominado hipóxia. A ventilação pode estar prejudicada por obstrução das vias aéreas, alterações da mecânica respiratória (lesões que causem pneumotórax hipertensivo, pneumotórax aberto, tórax instável e hemotórax maciço por exemplo) ou depressões do sistema nervoso central (causado por lesão raquimedular e traumatismos cranianos por exemplo). A avaliação da qualidade e quantidade da ventilação pode ocorrer pelos seguintes métodos: v Análise da profundidade e frequência respiratória (frequência elevada ou diminuída são indicativos de má ventilação) v Exposição do tórax e observar as incursões torácicas, procurando por assimetrias, que são indicativos de lesão v Palpação do tórax a fim de detectar alguma lesão importante; v Ausculta dos hemitórax a fim de detectar murmúrio vesicular anormal, diminuído ou ausente v Avaliação da oxigenação com um oxímetro O primeiro passo no manejo da ventilação inadequada é administrar oxigênio eficazmente e iniciar suporte ventilatório imediato, a fim de manter o metabolismo aeróbico. note Realce note Realce note Realce Módulo Cirurgia 25 Figura 8. Esquema do manejo de via aérea inadequada (American College of Surgeons, 2011)1 FREQUÊNCIA VENTILATÓRIA (VENTILAÇÕES/MINUTO) ATENDIMENTO enta (<12) Ventilação assistida ou total com >85% de oxigênio Normal (12-20) Observar; considerar oxigênio suplementar Muito rápida (20-30) Administração de >85% de oxigênio Anormalmente rápida (>30) Ventilação assistida Tabela 2. Atendimento da via aérea com base na frequência ventilatória espontânea (American College of Surgeons, 2011)1 Etapa c – circulação (hEmorragia E pErfusão) A próxima etapa na avaliação do paciente é a integridade e funcionamento adequado do sistema circulatório. Afinal, de nada vale uma oxigenação adequada das hemácias se elas não chegam aos tecidos para distribuir o oxigênio. A hipovolemia com consequente choque he- morrágico é uma das principais causas de morte nas primeiras horas após o trauma. Faz-se, portanto, essencial o controle da hemorragia externa e avaliação da perfusão sanguínea. O controle da hemorragia deve-se fazer de maneira mais rápida possível, a fim de evitar grandes perdas sanguíneas, e pode ocorrer de acordo com os seguintes métodos: (1) Pressão direta no local da hemorragia, aplicando-se uma gaze ou compressa sobre a lesão; (2) Torni- quetes caso a compressão manual não seja suficiente para controle da hemorragia. Em caso de suspeita de hemorragia interna, deve-se fazer uma inspeção rápida de tórax, abdome e pelve, a fim de encontrar lesões sugestivas e realizar o transporte do paciente o mais rápido possível ao hospital, uma vez que o tratamento nesse caso é apenas cirúrgico. note Realce note Realce note Realce 26 Módulo Cirurgia A boa perfusão indica um bom estado e funcionamento geral do sistema circulatório. É importante saber avaliar sinais de hipovolemia, que indicam uma falha na perfusão, e conse- quentemente no desempenho do sistema circulatório: - Pulso: é avaliado sua presença, qualidade e regularidade, indicando se o paciente está em taquicardia, bradicardia ou ritmo irregular. A ausência de pulsos centrais (carotídeo e femoral) indica uma parada cardiorrespiratória;- Coloração da pele: quando há palidez há indício de perfusão deficiente, na presença de cianose há indício de oxigenação incompleta; - Temperatura da pele: pele fria indica perfusão diminuída; - Umidade da pele: pele úmida está associada a choque e a perfusão diminuída - Tempo de enchimento capilar: avaliado ao se pressionar o leito ungueal. Quando maior que dois segundos indica má perfusão capilar, porém é influenciado por outros fatores como aterosclerose e temperaturas baixas. Etapa d – disfunção nEurológica Após avaliados a capacidade de oxigenação do sangue e distribuição do mesmo pelo or- ganismo, deve-se avaliar a função cerebral, que é uma medida indireta da oxigenação cerebral. Nosso objetivo é determinar o nível de consciência e inferir potencial de hipóxia. Uma dimi- nuição no nível de consciência pode-se dar geralmente por quatro causas principais, sendo importante averiguar a história determina-las. Essas principais causas estão apontadas na figura 9. PRINCIPAIS CAUSAS PARA DIMINUIÇÃO DO NÍVEL DE CONSCIÊNCIA Oxigenação cerebral diminuída (hipóxia e/ou hipoperfusão) Lesão do Sistema Nervoso Central Intoxicação por drogas ou álcool Distúrbio metabólico (parada cardíaca, convulsão, diabetes) Figura 9. Principais causas para diminuição do nível de consciência A Escala de Coma de Glasgow é a principal ferramenta utilizada para determinar o nível de consciência e é preditivo para sobrevida do paciente. Ela se baseia em três parâmetros: (1) abertura ocular; (2) melhor resposta verbal; (3) melhor resposta motora. Pontua-se de acordo com a melhor resposta apresentada pelo paciente, em cada categoria. O maior escore que pode ser obtido é 15, indicando ausência de dano neurológico, e o menor escore é 3, de prognóstico muito ruim. Escora menor ou igual a 8 corresponde a lesão grave e tem indicação para trata- mento ativo da via aérea; 9 a 12 lesão moderada e 13 a 15 lesão mínima. É também importante note Realce note Realce note Realce note Realce note Realce note Realce note Realce Módulo Cirurgia 27 o exame das pupilas ao se deparar com um paciente desacordado. Um escore menor que 14 na escala somado a um exame anormal de pupilas pode indicar presença de lesão cerebral potencialmente letal. ESCALA DE COMA DE GLASGOW PONTUAÇÃO ABERTURA OCULAR Espontânea Ao comando verbal Ao estímulo doloroso Nenhuma 4 3 2 1 RESPOSTA VERBAL Adequada (orientada) Confusa Inadequada Sons ininteligíveis Nenhuma 5 4 3 2 1 RESPOSTA MOTORA Obedece comandos Localiza estímulo doloroso Retira estímulo doloroso Responde com flexão anormal ao estímulo Responde com extensão anormal ao estímulo Nenhuma 6 5 4 3 2 1 Figura 10. Escala de Coma de Glasgow Etapa E – Exposição O paciente poderá ser adequadamente tratado a partir do momento em que temos a certe- za de que todas suas lesões foram identificadas. Para isso, portanto, torna-se necessário muitas vezes retirar as roupas da pessoa que está sedo examinada, realizando a devida exposição. Temos que ter em mente que muitas vezes ferimentos mais graves podem ser atenuados e es- condidos pelas roupas, como por exemplo hemorragias cujo sangue pode ser absorvido pelos tecidos, mascarando-as. Esse princípio da exposição é muito importante principalmente em traumas de grande magnitude e/ou que envolvem um mecanismo ou cinética mais complexos, como por exem- plo nos casos de acidentes automobilísticos. Não devendo ser uma etapa negligenciada, con- tudo, em acidentes de menor magnitude ou aparentemente de menor complexidade. O so- corrista deverá realizar a exposição necessária para que possa estar certo que que foi capaz de identificar e controlar todas as lesões. Após a exposição, o corpo do paciente deve ser examinado como um todo, de maneira minuciosa e objetiva. A seguir, é importante cobrir a vítima, a fim de protege-la contra hipoter- mia, uma condição grave no manejo do traumatizado e que pode não apenas piorar a condição e os distúrbios apresentados pelo paciente, como pode levar à morte. 28 Módulo Cirurgia concluindo... O atendimento pré-hospitalar é uma etapa muito importante no manejo do paciente trau- matizado, sendo por muitas vezes o único meio de se permitir que o paciente tenha condições básicas de suporte de vida até que seja direcionado a um serviço adequado para receber cui- dados definitivos. Desse modo é uma prática de grande influência nos principais indicadores de saúde, tendo grande impacto principalmente na taxa de mortalidade da população. Seu objetivo final é garantir que o paciente consiga acesso para cuidados definitivos de sua condi- ção, mas é importante ressaltar que devemos sempre estar reavaliando as lesões, sinais vitais, e condição geral do acidentado, que podem mudar várias vezes até que o transporte para o local de tratamento seja efetuado. R E F E R Ê N C I A S Atendimento pré-hospitalar ao traumatizado, PHTLS. 7ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2011. 896p. Capítulo Brasileiro do comitê de trauma do colégio americano de cirurgiões; disciplina de ci- rurgia do trauma da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Disponível em: http://www.atlssp.org.br/PHTLShist.asp. Acesso em: fev. 2016. Brasil. Ministério da Saúde. Tecnologia de Informação a Serviço do SUS (DATASUS). Mor- talidade por causas externas. Brasília: Ministério da Saúde; Disponível em: http://tabnet. datasus.gov.br/cgi/tabcgi.exe?sim/cnv/obt10uf.def. Acesso em: 15 mai. 2016. SALVADOR, P. T. C. O., et al. Perfil das dissertações e teses brasileiras acerca do trauma: uma pesquisa documental. Rev. Col. Bras. Cir. Rio de Janeiro. vol.39 no.4. Jul/Ago. 2012. Disponível em: < http://dx.doi.org/10.1590/S0100-69912012000400014>. Acesso em: 04 abr. 2016 RIBAS, A.T. Importância do APH rápido e eficiente no trauma automobilístico. Disponível em: < http://biblioteca.cbm.sc.gov.br/biblioteca/dmdocuments/CFSd_2011_1_Tabor- da.pdf>. Acesso em: Mar. 2016. SILVA, E.A.C., et al. Aspectos históricos da implantação de um serviço de atendimento pré -hospitalar. Disponível em: <http://dx.doi.org/10.5216/ree.v12i3.10555>. Acesso em: 08 abr. 2016. ADVANCED TRAUMA LIFE SUPPORT (ATLS) SUBCOMMITTEE. Initial assessment and management. Advanced trauma life support course for doctors, student course man- ual, ed.9 Chicago. 2012 LOPES SLB, FERNANDES RJ. Uma breve revisão do atendimento médico pré-hospitalar. USP Medicina, Ribeirão Preto, 32: 381-387, out./dez. 1999. NAEMT in cooperation with the American College of Surgeons Committee on Trauma. Pre- hospital Trauma Life Support – PHTLS. Patient. 7ed. Philadelphia: Elsevier.2012. SIATE-CBPR. Manual do Atendimento pré-hospitalar. Atendimento incial. ALFARO, D.; MATTOS, H. Atendimento Pré-Hospitalar ao Traumatizado Básico e Avança- do PHTLS. Tradução. 6 ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2007. Módulo Cirurgia 29 Atendimento pré-hospitalar ao traumatizado, PHTLS. 7ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2011. 896p. Brasil. Ministério da Saúde. Tecnologia de Informação a Serviço do SUS (DATASUS). Mor- talidade por causas externas. Brasília: Ministério da Saúde; Disponível em: http://tabnet. datasus.gov.br/cgi/tabcgi.exe?sim/cnv/obt10uf.def. Acesso em: 15 mai. 2016. SALVADOR, P. T. C. O., et al. Perfil das dissertações e teses brasileiras acerca do trauma: uma pesquisa documental. Rev. Col. Bras. Cir. Rio de Janeiro. vol.39 no.4. Jul/Ago. 2012. Disponível em: < http://dx.doi.org/10.1590/S0100-69912012000400014>. Acesso em: 04 abr. 2016 J R Soc Med. 2001 Jun; 94(6): 270–272.PMCID: PMC1281520 “Carbon monoxide poisoning” Ivan Blumenthal, MRCP DCH ADVANCED TRAUMA LIFE SUPPORT (ATLS) SUBCOMMITTEE. Initial assessment and management. Advanced trauma life support course for doctors, student course man- ual, ed.9 Chicago. 2012 NAEMT in cooperation with the AmericanCollege of Surgeons Committee on Trauma. Pre- hospital Trauma Life Support – PHTLS. Patient. 7ed. Philadelphia: Elsevier.2012. Blank D, Waksman R, Gikas RM. Prevenção de acidentes na infância e adolescência. Belo Horizonte: Sociedade Brasileira de Pediatria; 2003. Abramovici S, Souza RL. Abordagem em criança politraumatizada. Jornal de Pediatria - Vol. 75, Supl.2, Rio de Janeiro: 1999. American College of Surgeons. Advanced Trauma Life Suport;Suporte Avançado de Vida no Trauma para Médicos – ATLS, Manual do Curso para Alunos. 9th ed; Chicago: Copyright, 2012; cap 10, 246-270p. Alvarez FS, Canetti MD, Corrêa Filho WB, Borghi D. Protocolos das Unidades de Pronto Atendimento 24H, Rio de Janeiro, 2010, 244p. Pereira Jr GA, Andreghetto AC, Basile Filho A, Andrade JI. Trauma no paciente pediátrico. Medicina, Ribeirão Preto, 32: 262-281, jul./set. 1999. Pereira SF, Garcia CA. Prevenção de acidentes domésticos na infância. Rev Enferm UNISA, Santo Amaro: 2009; 10(2): 172-7. Pressley JC, Barlow B, Durkin M, Jacko AS, Dominguez DR, Johnson L. A national program for injury prevention in children and adolescents: the injurie free coalition for kids. J Ur- ban Health 2005;82:389-401. 30 Módulo Cirurgia AT E N D I M E N T O S E C U N D Á R I O A O P O L I T R A U M AT I Z A D O Danilo Araújo Schitkoski Augusto Felipe Modesto Ferreira A partir do momento em que o doente se encontra estável, com suas funções vitais indicando normalidade, podemos nos voltar para a avaliação secundária. Portanto, essa avaliação só deve ser iniciada após a conclusão da avaliação primária (ABCDE). Uma situação na qual a avaliação secundária pode vir mais precocemente seria no caso da presen- ça de ao menos dois socorristas, dessa forma parte do exame pode ser aplicado por um dos atendentes enquanto o outro concomitantemente realiza a avaliação primária. Contudo, nesta situação, a avaliação secundária não deve interferir na primária, sendo esta prioridade. Mas o que seria a avaliação secundária? Trata-se de um exame mais minucioso do doen- te traumatizado, tendo por finalidade e identificação e o tratamento de lesões ou problemas que não foram observados durante a avaliação primária. Ou seja, é o momento em que pro- curamos tratar os problemas de menor gravidade, uma vez que as lesões mais graves e que oferecem risco à vida do doente já foram identificadas na avaliação primária bem realizada. É Módulo Cirurgia 31 importante lembrar que esse exame é realizado no sentido craniocaudal, e baseia-se na coleta da histórica clínica e um exame físico completos, incluindo a reavaliação de todos os sinais vitais (pressão arterial, frequência e qualidade do pulso, frequência ventilatória, temperatura e cor da pele), onde cada região do corpo é examinada por completo. Ainda na avaliação secundária, podem ser realizadas as radiografias indicadas, assim como procedimentos especiais (exames laboratoriais e radiológicos específicos). Deve ser feito um exame neurológico completo, incluindo a determinação do escore na Escala de Coma de Glas- gow (ECG). H I S T Ó R I A Deve ser obtido uma breve anamnese do doente, necessitando que essas informações se- jam documentadas no prontuário. Muitas vezes não é possível obter o relato do próprio doen- te, dessa forma podem ser consultados os familiares e a equipe de atendimento pré-hospitalar. Uma maneira fácil de lembrar dos componentes-chave da história é o método mnemônico “SAMPLE”. Observe a seguir: EXAME SEGMENTAR Lembrando que é necessário seguir o sentido craniocaudal na avaliação. A sequência co- meça pela cabeça, seguida por pescoço/coluna, tórax, abdome, pelve, sistema musculoesque- lético e sistema neurológico. CABEÇA Inspecionar visualmente a cabeça e face, analisando a cor e integridade da pele. Busca-se por lacerações, abrasões, hemorragias e liquorragia (atentar-se para nariz e orelhas), fotorrea- tividade pupilar, assimetrias e defeitos ósseos. Palpar o crânio com os polegares fixos na região frontal (buscando lesões de partes moles), mantendo o controle cervical, além das órbitas. SAMPLE Sintomas: Do que o paciente se queixa? Alergias: atentar-se a medicamentos; Medicações: medicamentos de uso regular do paciente; Passado médico: problemas clínicos importantes (inclui cirurgias); Líquidos e alimentos ingeridos: muitos traumatizados precisarão de cirurgia, sendo o jejum necessário; Eventos que levaram à doença/lesão. 32 Módulo Cirurgia Não esquecer de retirar corpos estranhos como lentes de contato e próteses dentárias móveis eventualmente remanescentes. PESCOÇO E COLUNA CERVICAL Inspecionar em busca de lacerações, abrasões, contusões e deformidades, além do alinha- mento da traqueia, simetria do pescoço e das jugulares bilateralmente: se ingurgitadas, princi- palmente com piora na inspiração, deve-se considerar lesão intratorácica grave. Palpar a cartilagem tireoide e a musculatura bilateral, as artérias carótidas separadamente e a coluna cervical, verificando alinhamento, aumento de volume, crepitação e rigidez muscular. Tal manobra deve ser realizada com cuidado, certificando-se de que o pescoço permanece em posição neutra. TÓRAX Uma avaliação completa do tórax exige a palpação de toda a face anterior da caixa torá- cica, analisando a simetria anatômica e funcional, em busca de respiração paradoxal, áreas de palidez, hematomas e ferimentos. Sua inspeção visual (faces anterior e posterior) permite identificar lesões como pneumotórax aberto e grandes segmentos instáveis. Para a avaliação completa do tórax, além da palpação, também inclui-se utilização de radiografias. Esta confir- ma a presença de hemotórax ou pneumotórax. Palpar as clavículas separadamente, buscando dor e crepitação. Nos arcos costais e esterno busca-se rigidez muscular, flacidez e crepitação (não se esquecer de examinar até a linha axilar posterior) Realizar ausculta pulmonar e cardíaca (procedimento médico). ABDOME Inspecionar sinais de contusão, distensão e mobilidade. Deve-se realizar a palpação delica- damente, analisando sensibilidade e rigidez de parede (abdome em tábua). Um exame inicial normal do abdome não exclui lesões intra-abdominais significativas. Dessa forma, o doente com contusão abdominal precisa de monitoração e reavaliações fre- quentes (sugere-se que seja pelo mesmo observado). As lesões de abdome devem ser identifi- cadas e tratadas de maneira agressiva. PERÍNEO Inspecionar em busca lacerações, hematomas e sangramento uretral. Ainda deve-se inves- tigar contusões, fraturas. Afastar e aproximar as asas ilíacas em relação à linha média, em busca de mobilidade incomum e/ou produção de dor. A região genital também deve ser avaliada. Se houver necessidade de toque retal, avaliar existência de próstata alta, integridade de parede retal, tonicidade esfincteriana e sangramento na luz intestinal. Nas doentes do sexo feminino, o exame vaginal deve ser feito se houver risco de lesão na área. Módulo Cirurgia 33 SISTEMA MUSCULOESQUELÉTICO Deve-se realizar a inspeção dos membros buscando fraturas e deformidades. A inspeção óssea minuciosa pesquisando achados incomuns (movimentação anormal ou dor) contribui para o achado de lesões ocultas. Nos membros superiores, a palpação é feita dos ombros até as mãos, observando a pre- sença de ferimentos, deformidade, flacidez, rigidez e crepitação. Realizar a movimentação ativa e passiva dos braços (flexão, extensão e rotação), verificando mobilidade articular. Palpar os pulsos radiais, verificar a simetria da força muscular e mobilidade das mãos. Sensibilidade e enchimento capilar devem ser observados. Nos membros inferiores, inspecionar das coxas aos pés, em busca das mesmas alterações dos membros superiores, atentando-se aos pulsos pedioso e tibial posterior. SISTEMA NEUROLÓGICO Alémde examinar sensibilidade, força e tônus muscular, é necessária uma avaliação do ní- vel de consciência do doente (não esquecer da resposta pupilar). É vital realizar esse controle a fim de detectar de forma precoce e evitar a deterioração do nível de consciência. A escala de 34 Módulo Cirurgia coma de Glasgow facilita essa identificação, aumentando a janela de ação. Se houver piora de um doente com traumatismo craniano, a oxigenação/perfusão cerebral e a ventilação precisam ser reavaliadas. REAVALIAÇÃO Uma ferramenta muito importante na avaliação secundária é a reavaliação do doente. De- ve-se realizar constantemente, de forma a evitar mudança do quadro com subsequente piora, além de ser uma forma de identificar lesões que podem ter passado despercebidas. De acordo com a diminuição das lesões de maior gravidade, problemas menores podem receber a devida atenção. Deve-se continuar monitorando os sinais vitais com regularidade, atentando-se tam- bém para o débito urinário. R E F E R Ê N C I A S B I B L I O G R Á F I C A S 1. ADVANCED TRAUMA LIFE SUPPORT (ATLS) SUBCOMMITTEE. Initial assess- ment and management. Advanced trauma life support course for doctors, student course manual, ed.9 Chicago. 2012 2. LOPES SLB, FERNANDES RJ. Uma breve revisão do atendimento médico pré-hospita- lar. USP Medicina, Ribeirão Preto, 32: 381-387, out./dez. 1999. 3. NAEMT in cooperation with the American College of Surgeons Committee on Trauma. Prehospital Trauma Life Support – PHTLS. Patient. 7ed. Philadelphia: Elsevier.2012. 4. SIATE-CBPR. Manual do Atendimento pré-hospitalar. Atendimento incial. Cabeça, pescoço e coluna: - Lacerações, abrasões, hemorragias e liquorragias; - Fotorreatividade pupilar; - Assimetrias ósseas e lesões de partes moles; - Retirar lentes de correção e próteses dentárias; - Alinhamento da traqueia, simetria do pescoço e exame das jugulares; - Palpar a cartilagem tireoidea, examinar as carótidas; - Verificar alinhamento, aumento de volume, crepitação e rigidez muscular na coluna cervical. Módulo Cirurgia 35 A B O R D A G E M D A E N F E R M A G E M N O AT E N D I M E N T O A O PA C I E N T E P O L I T R A U M AT I Z A D O Taylane Vilela Chaves Diogo Mendonça Joan Alessandro Barros Silva O atendimento ao paciente politraumatizado segue a sequência do mnemônico AB-CDE, para garantir ao paciente um atendimento sistematizado, com abordagem e intervenções aos sinais vitais que colocam o paciente em risco eminente de morte. Onde se faz necessário o tratamento das lesões, logo que diagnosticadas. Visto que não se pode dar continuidade na avaliação sem se resolver a anterior, e que é necessário a reavaliação do paciente. As letras A, B, C da avaliação primária, são parâmetros obrigatórios, com elas conseguimos distinguir o doente grave, do não grave. Onde esse doente grave, precisa de transporte imedia- to ao centro de trauma. Sendo as letras D, e E parâmetros desejáveis. O enfermeiro tem papel fundamental nesta avaliação, visto que faz parte da equipe do Su- porte Avançado de Vida - SAV, onde se tem a presença de 3 componentes, sendo um condutor socorrista, um enfermeiro socorrista, e um médico socorrista. A S S I S T Ê N C I A D E E N F E R M A G E M N A A B O R D A G E M A S V I A S A É R E A S E V E N T I L A Ç Ã O Ao recebermos o paciente, juntamente com a equipe médica, precisamos reconhecer, identificar e controlar o comprometimento e identificar os sintomas de obstrução. A obstrução pode ser súbita e total, insidiosa e parcial e/ou progressiva e recorrente. Embora seja frequentemente relacionada à dor e ansiedade, ou ambas, a taquipnéia pode ser um sinal sutil, porém precoce de comprometimento da via aérea e ventilação. Assim, a avaliação e frequente reavaliação da permeabilidade da via aérea e da efetividade da ventilação são fundamentais (1). Uma forma rápida de avaliar a permeabilidade das vias aéreas é fazer uma pergunta ao paciente e observar se há resposta, uma resposta clara, pode nos dizer no momento que a via aérea está permeável, que a ventilação está intacta e que a perfusão cerebral está adequada. 36 Módulo Cirurgia Sendo a via aérea obstruída, algumas técnicas deverão ser usadas para o manejo e desobstru- ção, podendo-se usar materiais ou realizar manobras simples de desobstrução, como a tração do mento e elevação da mandíbula (1). O enfermeiro precisa estar atento aos materiais e equipamentos que precisam ser testados e adequadamente acondicionados no início do plantão. Alguns são indispensáveis no manejo das vias aéreas, tais como: Colar Cervical; Tubo Orofaríngeo (Cânula Orofaríngea); Tubo Na- sofaríngeo (Cânula Nasofaríngea); Máscara Laríngea e Tubo Laríngeo; Tubo Endotraqueal; A oferta inadequada de sangue oxigenado ao cérebro e a outros órgãos vitais é o fator que mais rapidamente leva o doente traumatizado à morte. A prevenção da hipoxemia depende da via aérea protegida e desobstruída e da ventilação adequada, e tem prioridade absoluta sobre o controle de todas as outras condições. É obri- gatório assegurar que a via aérea esteja permeável, recebendo oxigênio e adequado suporte ventilatório. Todos os doentes traumatizados devem receber oxigênio suplementar (1). E por se tratar de prioridade, a equipe deve estar preparada, treinada e apta a exercer as funções em conjunto. Sendo o enfermeiro o responsável por facilitar o atendimento, treinando a equipe de enfermagem, testando os materiais necessários, vendo a necessidade do doente e agindo juntamente com a equipe multidisciplinar, resolvendo o problema potencialmente fatal. É privativo ao enfermeiro o planejamento, coordenação, execução e avaliação dos serviços de assistência de enfermagem, sendo de extrema importância a prescrição de cuidados de enfermagem aos pacientes críticos. O diagnóstico de enfermagem constitui a base de intervenções de enfermagem para o alcance de resultados que são de responsabilidade dos enfermeiros (2). Sabendo disto, alguns Diagnósticos, Classificações de Resultados Esperados e Atividades relacionados à assistência de Enfermagem na abordagem das vias aéreas e ventilação, são fundamentais para o bom de- senvolvimento da Sistematização da Assistência de Enfermagem (SAE), segue algumas priori- dades ao paciente com via aérea e ventilação comprometida: Domínio 4 – Atividade e Repouso: Padrão respiratório ineficaz (032) Domínio 3 - Eliminação e Troca: Troca de gases prejudicada (030) Domínio 4 – Atividade e Repouso: Perfusão tissular periférica ineficaz (204) Domínio 4 – Atividade e Repouso: Ventilação Espontânea prejudicada (033) Domínio 11 – Segurança e Proteção: Desobstrução ineficaz das vias aéreas (031) TABELA 1. Títulos dos Diagnósticos NANDA (2). Domínio 4 – Conhecimento e Comportamento de Saúde: Controle dos Sintomas (1608) Domínio 2 – Estado Respiratório: Desobstrução das Vias Aéreas (0410) Domínio 2 – Estado Respiratório: Troca de Gases (0402) Domínio 2 – Estado Respiratório: Ventilação (0403) TABELA 2. Resultados esperados NOC (3). Módulo Cirurgia 37 Primeiros Socorros (6240) Controle de Vias Aéreas (3140) Assistência Ventilatória (3390) Oxigenoterapia (3320) Monitorização Respiratória (3350) Identificação de Risco (6610) TABELA 3. Atividades de Enfermagem NIC (4). ABORDAGEM DA ENFERMAGEM A CIRCULAÇÃO (HIPOVOLEMIA) Se trata das medidas de avaliação da Circulação do paciente, onde o Enfermeiro utiliza o mnemônico HPPP. Onde os componentes da avaliação podem ser observados em conjunto, sendo elas de fundamental importância para diagnosticar choque. H = Hemorragia externa, Procure e controle imediatamente. P = Pulso. P = Pele. P = Perfusão capilar. H – Hemorragia externa: que deve ser controlada imediatamente, onde a principal me- dida é a compressão direta juntamente com os curativos compressivosno ferimento com a utilização de bandagem. Onde a compressão deverá ser firme e continua até o sangramento parar. Se a compressão direta no ferimento não resolver, e em casos de amputação de membros, onde o sangramento é bastante intenso, se controla a hemorragia, com o uso de Torniquete (sendo está medida um ÚLTIMO RECURSO), porém o importante é o paciente não perder sangue, tirando ele de um risco eminente de morte devido a perda sanguínea. Para utilização do torniquete tem que se tomar precauções, para que não causem lesão a veia do paciente, e cause uma possível necrose deste tecido. Onde a utilização do esfignoma- nometro possa ser uma das formas, visto que deve ser utilizado um material mais largo possí- vel, para não causar oclusão e colabamento das veias. O torniquete deve ser apertado apenas o mínimo para parar o sangramento. E deve ser avaliada a perfusão deste membro, para se evitar a possível perda com a necrose. É importante se preocupar com a cinemática da cena, se existe poça de sangue em algum local, se há presença de sangue no dorso do paciente, e de suma importância palpar a Pelve do paciente procurando fratura, pois se estiver fraturado o paciente poderá está com Hemorragia Interna. P – Pulso: na avaliação do pulso, se o paciente estiver acordado, respirando e responsivo ele têm pulso presente. Porém se estiver inconsciente, deve-se avaliar o pulso, onde tem se dois locais como principais, sendo o pulso radial um pulso periférico, e o pulso carotídeo um pulso central. Visto que pode se utilizar outros pulsos, para se realizar essa avaliação. 38 Módulo Cirurgia Não se faz necessário a contagem durante 1 (um) minuto do Pulso, para se saber quantos batimentos por minuto o paciente se encontra. Visto ser uma avaliação rápida. Sendo está medida realizada apenas na Avaliação Secundária. O Enfermeiro deverá verificar a presença do pulso, se está presente ou não, a Frequência se está rápido ou lento, Regularidade se está irregular ou regular, fraco ou forte. Podendo ser avaliado em um local de pulso periférico, ou pulso central. Se o paciente não tiver pulso, deve- se iniciar imediatamente a reanimação cardiopulmonar (RCP) segundo as Diretrizes da AHA – American Heart Association 2015. P – Pele: na avaliação da pele devemos nos preocupar com a coloração e a temperatura. Onde a cianose pode indicar falta de oxigênio em nível celular. Quanto a coloração, se a pele estiver pálida, fria, úmida pode ser sinais indicativos de choque. P – Perfusão: deve-se avaliar a perfusão capilar do paciente. Abaixo de 2 segundos, a per- fusão se encontra normal. Acima de 2 segundos pode indicar a falta de circulação sanguínea periférica, podendo ser indicativo de uma possível perda de volemia. O choque hipovolêmico tem maior incidência em paciente vítimas de trauma, onde se tem a preocupação de avaliar os parâmetros, a fim de se iniciar o tratamento inicial no Atendimen- to Pré-hospitalar que é a reposição volêmica. O Enfermeiro na equipe de Atendimento Pré-Hospitalar, tem a função de garantir dois acessos venosos calibroso (preferência Jelco n° 14), para iniciar o tratamento inicial com repo- sição de hidroeletrolíticos, ao paciente com choque hipovolêmico. O uso de Ringer Lactato, ao invés de solução salina é mais adequado para início da reposi- ção inicial, evitando uma acidose hiperclorêmica, com a infusão de solução salina. Em seguida a transfusão sanguínea, sendo esta medida feita no intra-hospitalar (1). Para a reposição de volumes, nos pacientes politraumatizado deve se passar por avaliação, considerando cada situação clínica. E para a recuperação do doente o enfermeiro e a equipe deverão definir prioridades no atendimento. Alguns diagnósticos, resultados esperados e inter- venções de enfermagem são vistos nas tabelas a seguir: Domínio 4 – Atividade e Repouso: Débito Cardíaco diminuído (029) Domínio 4 – Atividade e Repouso: Risco de Função Cardiovascular prejudicada (239) Domínio 11 – Segurança e Proteção: Risco de Choque Domínio 11 – Segurança e Proteção: Risco de Integridade Tissular Prejudicada (044) TABELA 1. Títulos dos Diagnósticos NANDA (2). Módulo Cirurgia 39 Domínio 4 – Controle dos Riscos: Saúde Cardiovascular (1914) Domínio 2 – Eficácia da Bomba Cardíaca (0400) Domínio 2 – Estado Circulatório (0401) Domínio 2 – Estado de Coagulação (0409) Domínio 4 – estado de Segurança: Lesão Física (1913) TABELA 2. Resultados esperados NOC (3). Controle da Hemorragia (2110) Redução do Sangramento (4020) Controle da Hipovolemia (4180) Redução do Sangramento: Lesão (4028) Controle de Liquidos e Eletrólitos (2080) Manutenção de Dispositivos para Acesso Venoso (2440) Regulação Hemodinâmica (4150) Precauções Circulatórias (4070) TABELA 3. Atividades de Enfermagem NIC (4). ABORDAGEM DA ENFERMAGEM A ASSISTÊNCIA NEUROLÓGICA O enfermeiro da equipe deverá procurar sinais de TCE (Traumatismo Crânio Encefálico), como sangramentos pelo ouvido (otorragia), ou pelo nariz (rinorragia), a equimose perior- bitária (olho de guaxinim), equimose em região mastoide (Sinal de Battle) que indicam uma possível fratura de base de crânio. Qualquer sinal de rebaixamento ou alteração do nível de consciência, confusão, desorien- tação, pode indicar hipóxia cerebral. É de suma importância descartar o uso de drogas psico- trópicas, pelo paciente. O enfermeiro deverá conhecer a Escala de Coma de Glasgow (ECG), que é uma das maneiras mais completas de avaliação utilizadas no pré-hospitalar e intra-hospitalar. Onde o escore avalia as funções neurológicas se divide em categorias: abertura ocular com valor até 4, resposta verbal com valor de até 5, e melhor resposta motora com valores de até 6. Onde se considera a melhor resposta do paciente. O escore máximo são 15 pontos e o escore mínimo são 3 pontos. O escore igual ou menor que 8 indica que o paciente precisa de via área avançada imediatamente. O enfermeiro socorrista, deverá avaliar a função neurológica do paciente através da ECG. Seguindo a sequência de Verificar: se há fatores interferindo na comunicação, observe: a aber- tura ocular, o conteúdo dos discursos, e os movimentos dos hemicorpos direito e esquerdo. Estimule: Estimulação sonora: ordem em tom de voz normal ou em voz alta. Estimulação física: pressão nas extremidades dos dedos, trapézio ou incisura supraorbitária. Pontue: com a melhor resposta observada. 40 Módulo Cirurgia A seguir a tabelas da Escala de Coma de Glasgow Adulto e Pediátrico (<1 ano): GCS Adulto Pediátrico (<1 ano) Abertura Ocular Espontânea 4 Espontânea 4 A estímulo verbal 3 A estímulo verbal 3 A estímulo doloroso 2 A estímulo doloroso 2 Sem resposta 1 Sem resposta 1 Melhor Resposta Orientado 5 Sorri, orientada 5 Verbal Confuso 4 Choro, consolável 4 Palavras inapropriadas 3 Choro persistente 3 Palavras incompreensíveis 2 Agitada, inquietação 2 Sem resposta 1 Nenhuma resposta 1 Melhor Resposta Obedece comandos 6 Obedece comandos 6 Motora Localiza dor 5 Localiza dor 5 Flexão normal (retirada) 4 Flexão normal (retirada) 4 Flexão anormal (decorticação) 3 Flexão anormal (decorticação) 3 Extensão (descerebração) 2 Extensão (descerebração) 2 Sem Resposta 1 Sem Resposta 1 É Importante o enfermeiro avaliar agitação aumentada, alucinações, que podem ser sinais de TCE (Traumatismo Crânio-Encefálico); anormalidades na fala, fraquezas nas extremidades, desvio de comissura labial, podem ser sinal de AVE (Acidente Vascular Encefálico). Deve está atento a alterações motoras e sensitivas nas extremidades, descartando dano raquimedular. O enfermeiro deverá buscar uma indicação de dano cerebral através da avaliação das pupi- las, as olhando e apontando uma luz para elas observando seu tamanho: midríase, miose; sua simetria: isocóricas, anisocóricas. e foto sensibilidade á luz. Parâmetro normalé as duas pupilas reagirem á luz, contraindo-se, de forma simétrica. No escuro, elas aumentam de tamanho. Para auxílio ao atendimento ao paciente com lesões neurológicas, graves ou não, também é necessário avaliar os diagnósticos, resultados esperados e intervenções de enfermagem prio- ritárias a recuperação do doente. Podemos ver a seguir as principais: Domínio 5 – Percepção/Cognição: Confusão Aguda (128) Domínio 9 – Enfrentamento/Tolerância ao Estresse: Capacidade adaptativa intracraniana diminuída (049) Domínio 11 – Segurança / Proteção: Risco de integridade tissular prejudicada (248) Domínio 11 - Segurança / Proteção: Risco de Disfunção neurovascular periférica (086) TABELA 1. Títulos dos Diagnósticos NANDA (2). Módulo Cirurgia 41 Domínio 3 – Controle da Ansiedade (1402) Domínio 2 – Estado neurológico (0909) Domínio 2 – Estado Neurológico: Função Craniana Sensória-Motora (0913) Domínio 2 – Estado Neurológico: Função Espinhal Sensória-Motora (0914) Domínio 2 – Função Sensorial: Proprioceptiva (2402) TABELA 2. Resultados esperados NOC (3). Monitoração neurológica (2620) Promoção da perfusão cerebral (2550) Estimulação Cognitiva (4720) TABELA 3. Atividades de Enfermagem NIC (4). ABORDAGEM DA ENFERMAGEM A EXPOSIÇÃO, CONTROLE DA HIPOR- TEMIA E AVALIACAO SECUNDARIA Avaliação feita através do exame físico ao paciente feito de forma sistemática na sequência céfalo-caudal (cabeça aos pés), buscando outras lesões que passaram despercebidas. Lem- brando que não se deve realizar o exame secundário antes de tratar as condições com risco de morte ao paciente. O enfermeiro deverá despir o paciente, mantendo a sua privacidade, em um ambiente apropriado. Examinando cabeça, pescoço, tórax, abdômen, dorso, pelve (bacia), extremidades. Com os métodos propedêuticos de inspeção, palpação e ausculta. Buscando identificar defor- midades ósseas, áreas de dor ou edema, enfisema subcutâneo a palpação, ferimentos abertos, objetos incrustados, sangramentos ativos, murmúrios vesiculares abolidos, entre outros pos- síveis sinais de lesões. Nesta avaliação tem se a preocupação com o controle da hipotermia, onde deve lembrar- se de preservar e manter a temperatura corporal, uma das maneiras é a utilização da manta térmica. E a reposição de volume, com fluídos aquecidos. Tomando sempre a precaução de não deixar o paciente entrar em hipotermia, por não levar em consideração o ambiente. Mes- mo estando em um ambiente com temperatura elevada, é necessário medidas para o controle da sua temperatura. Quanto a Avaliação Secundária, o enfermeiro poderá utilizar e o mnemônico: SAMPLE S = Sinais e Sintomas Com o exame físico, através da verificação dos sinais vitais e anamnese ao paciente, o in- dagando sobre algum sintoma que venha sentir. 42 Módulo Cirurgia A = Alergias Identificar se o paciente é alérgico a algum medicamento, alimento. M = Medicações em uso Se faz uso de medicações, seja por receita médicas, drogas recreativas, se tomou a medica- ção prescrita de forma correta. P = Passado Médico e em mulheres, prenhez (gravidez) Uma história médica, se fez cirurgia, teve trauma recente, esteve internado L = Líquidos e Alimentos ingeridos recentemente Questione sobre qual foi a ultima refeição e qual foi o horário. Devemos atentar caso o paciente precise ir imediatamente ao centro cirúrgico, ou a um paciente diabético, suspei- tando de hipoglicemia. E = Ambiente e Eventos relacionados ao Trauma ou á Doença Buscando entender o problema, ou a cronologia dos acontecimentos. Assim como os demais momentos da avaliação e tratamento do doente politraumatizado, na prevenção e controle de hipotermia e na avaliação secundaria, precisamos verificar as prio- ridades e estabelecer metas, sendo importante os diagnósticos, resultados e intervenções de enfermagem, conforme segue: Domínio 2 – Termorregulação (0800) Domínio 2 – Memória (0908) Domínio 2 – Processamento de Informações (0907) TABELA 2. Resultados esperados NOC (3). Aplicação de Calor/Frio (1380) Controle do Ambiente: Segurança (6486) Controle da Hipovolemia (4180) Controle de Liquidos e Eletrólitos (2080) TABELA 3. Atividades de Enfermagem NIC (4). Módulo Cirurgia 43 TRANSPORTE E TRANSFERÊNCIA DO PACIENTE POLITRAUMATIZADO O atendimento ao paciente politraumatizado acontece em dois cenários distintos. O pri- meiro contato do doente de trauma com uma equipe de saúde muitas vezes acontece fora do hospital, em um ambiente muitas vezes hostil e onde os recursos humanos e físicos são reduzidos, bem como o espaço para que a equipe realize o seu trabalho é menor do que o exis- tente em uma sala de trauma. Diante desse contexto é importante que todos os profissionais envolvidos no atendimento pré-hospitalar tenham experiência e treinamento adequados para que as ações tomadas sejam rápidas e assertivas, afim de não perder muito tempo no local do evento, iniciando o deslocamento da ambulância o mais breve possível em direção a um local onde o paciente terá acesso a uma estrutura de cuidados maior, aumentando a sua chance de sobrevivência. Mesmo sabendo da necessidade de transportar rapidamente o doente até o local do atendi- mento definitivo, o transporte não deve ser iniciado sem que a equipe tenha realizado a avalia- ção primária do doente tomado algumas condutas e realizado procedimentos afim de resolver problemas emergenciais que possam colocar a vida do doente em risco imediato, garantindo a permeabilidade das vias aéreas, ventilação e oxigenação adequadas e eficazes, a interrupção de sangramentos externos que possam proporcionar a instalação do quadro de estado de choque hemorrágico e provocar a morte do doente antes da sua chegada ao hospital, bem como a imobilização de segmentos lesionados. A permanência na cena deve ser a menor possível, uma vez que o prognóstico do paciente politraumatizado se relaciona de forma direta com o tempo decorrido entre o trauma e o início da instituição do tratamento definitivo. Ainda durante a avaliação primária realizada no local do evento, a equipe precisa pensar na transferência e se antecipar na tomada da decisão, definindo quais os recursos necessários para que esse doente receba o atendimento correto e onde eles estarão disponíveis, para então definir a unidade de saúde para onde o mesmo deve ser transportado. Nos serviços de resgate e atendimento pré-hospitalar deve existir a figura do médico regu- lador/coordenador. A função desse profissional é ordenar e orientar a atenção pré-hospitalar, realizando também o contato com os hospitais da região. Faz parte das suas obrigações avaliar a gravidade do caso que lhe é comunicado e, portanto, a decisão técnica sobre os pedidos de socorro que chegam até a central, bem como a decisão sobre os gerenciamento dos recursos a serem disponibilizados para cada chamado (unidades com ou sem presença do médico inter- vencionista). Cabe também ao médico regulador/coordenador monitorar e orientar o atendi- mento prestado pelos profissionais de saúde que estão no local e definir e acionar o hospital de referência. A realização de contato entre o médico regulador/coordenador do serviço e o hospital definido como o mais adequado para receber o doente de trauma é essencial, pois é nesse momento que ocorre a passagem das informações obtidas junto a equipe de atendimento pré -hospitalar para os profissionais que receberão o paciente no hospital. É de grande importân- cia que sejam informados dados da(s) vítima(s) que serão encaminhadas àquela unidade (idade, sexo, condição clínica e condutas tomadas no atendimento pré-hospitalar), informações da ocorrência como a cinemática do trauma e energias envolvidas e uma estimativa de tempo de chegada da ambulância. 44 Módulo Cirurgia O acionamento precoce da equipe do hospital permitirá que, de posse das informações
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