Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Direitos LGBTs • 1 Bancada do PSOL na Assembleia Legislativa do RS Deputado Pedro Ruas Conheça o que foi conquistado e lute por mais direitos! D i r e i t o s 2 • Direitos LGBTs Direitos LGBTs • 3 Índice Apresentação • Luciana Genro conheça seus direitos legislação federal legislação estadual legislação municipal jurisprudência PROJETOS PSOL contribuições para o debate Movimento LGBT no Brasil - uma luta por nenhum direito a menos! Welynton Almeida Os desafios de LGBTs no Brasil: por mais representatividade, contra o fundamentalismo! Luciano Victorino Visibilidade e diversidade - novas famílias e formas de ser e amar Alessandra Bohm A quem pertence o espaço público? Quem não é considerado humano, logo, passa a não ser e deixa de ter necessidades fisiológicas? Sofia Favero Políticas Públicas para LGBTs no Brasil Marcelo Rocha LGBTs e escolas: uma relação (ainda!) problemática Ana Paula de Souza dos Santos & Cristian Nunes Mídia e população LGBT: (In)visibilidade, luta política e representatividade Samir Oliveira Direito de Adoção Roberto Seitenfus Criminalização da LGBTfobia Setorial LGBT do Juntos! RS As Pessoas LGBTI e seus Direitos Maria Berenice Dias A Luta por Reconhecimento Legal: Estatuto da Diversidade Sexual Leonardo Ferreira Mello Vaz Casamento Civil Igualitário Setorial LGBT do Juntos! RS Luta de Classes e Opressões no Contexto do Sistema Capitalista Fernanda Melchionna nós duas Marliane Ferreira dos Santos & Cristina Azevedo Gonçalves saiba mais filmes livros questões frequentes glossário contatos úteis 5 6 7 10 13 15 18 24 25 27 31 33 35 37 38 41 43 45 47 48 51 54 55 56 61 69 75 82 Créditos e Agradecimentos Esta cartilha é resultado de extenso trabalho e de um esforço cooperativo. A bancada do PSOL na Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul e o mandato do deputado Pedro Ruas agradecem aos autores e às autoras dos textos desta cartilha, que muito contribuem para um debate qualificado nas questões referentes aos direitos de LGBTs. O PSOL é parceiro das lutas da população LGBT e agradece sua receptividade em nossas ações. Estamos juntos por mais direitos! Organização e Planejamento Luciana Krebs Genro Luciano Victorino da Silva Marcelo Rocha Garcia Marliane Ferreira dos Santos Revisão Samir Rosa de Oliveira Welynton Almeida Bezerra Apoio Setorial LGBT do coletivo Juntos! Ilustrações Laerte Projeto Gráfico e Diagramação Louise Kanefuku Direitos LGBTs • 5 Apresentação Luciana genro Amigos e amigas, Lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transgêneros são uma parte da popula- ção que, por muito tempo, foi invisibili- zada. Isso vem mudando, graças à luta e à coragem de todos e todas que não se deixam intimidar pelo reacionarismo. Te- nho muito orgulho de ter sido a primeira candidata à Presidência da República que levou o problema da violência LGBTfóbi- ca e da demanda pelos direitos LGBTTs para o debate político e para os debates presidenciais. Mas, diante do avanço das nossas pautas, há uma clara tentativa de impor o retrocesso, de impedir a conquista de no- vos direitos e de criminalizar quem não se enquadra no estereótipo da dita “norma- lidade”. Escondidos atrás de uma hipócri- ta defesa da família, os fundamentalistas, encabeçados por Eduardo Cunha, querem destruir as famílias LGBTTs, impedir os casamentos, as adoções, as manifestações públicas de carinho. Querem continuar condenando os e as travestis e transgê- neros à marginalidade e ao subemprego. Querem continuar fechando os olhos para a violência, física e psicológica, que todos os dias vitima a população LGBTT. Que- rem convencer a sociedade de que é preci- so encontrar uma “cura” para esses supos- tos “desvios”. Sim, nós também estamos em busca de cura. Cura para a homofobia, para a transfobia, para a lesbofobia, para a bifobia. Cura para quem sofre da doen- ça chamada PRECONCEITO. E há cura! Essa cura se chama educação libertária e legislação que garanta mais direitos. A bancada do PSOL na Assembleia Legislativa apresenta esta cartilha com a pretensão de contribuir nessa luta, ofere- cendo à população um manual dos direi- tos LGBTTs que já estão assegurados em lei e um mapa das lutas que ainda estamos travando. Esperamos, dessa forma, con- tribuir para o combate ao preconceito e ajudar a empoderar a população LGBTT para exigir respeito aos seus direitos. Es- peramos também contribuir para unir todos e todas na batalha para conquistar mais direitos. Nem um passo atrás, temos o mundo a ganhar! Um abraço, Luciana Genro Coordenadora da Bancada do PSOL na Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul Presidente da Fundação Lauro Campos luciana.genro@al.rs.gov.br 6 • Direitos LGBTs conheça seus direitos Ainda há muito a se conquistar, mas algumas leis, documentos e decisões judiciais fizeram os direitos de LGBTs progredirem nos últimos anos. Essas leis e decisões podem ser usadas em casos de violação de direitos como mais uma maneira de proteger as pessoas da discriminação. Conheça-as e, além de lutar por mais direitos, faça valer os direitos já conquistados! 6 • Direitos LGBTs Direitos LGBTs • 7 legislação federal legislação federal A legislação em nível federal ainda é muito limitada, muito em virtude da força da bancada fundamentalista no Congresso Nacional, mas também em virtude da pou- ca vontade política de alguns setores me- nos conservadores para avançar. Além da dificuldade de avançar, as conquistas já estabelecidas, como a Resolu- ção do Conselho Federal de Psicologia que impede a tentativa da chamada “cura gay”, vêm sofrendo grandes ataques. A mobili- zação permanente é essencial para avançar e para não retroceder. direitos trabalhistas A portaria 41 do Ministério do Traba- lho e Emprego, de 28 de março de 2007, proíbe empregadores de exigir documen- tos discriminatórios ou obstativos para contratação, incluindo dados relativos à sexualidade. Quaisquer anotações na Car- teira de Trabalho e Previdência Social que desabonem o trabalhador e que se refiram ao seu gênero ou orientação sexual, entre outros, são consideradas discriminatórias. O descumprimento dessa portaria pode gerar penalidades à empresa. O que fazer para garantir esse direito? A pessoa vítima de discriminação no trabalho pode realizar denúncia na Superin- tendência Regional do Trabalho e Emprego do Rio Grande do Sul, na Av. Mauá, nº 1013 – Centro Histórico – Porto Alegre/RS, ou pelo telefone (51) 3213-2800. Direitos Previdenciários A Instrução Normativa do INSS nº 20, de 10 de outubro de 2007, prevê o benefí- cio de pensão por morte e auxílio-reclusão à(ao) parceira(o) homossexual, referente a óbitos ou prisões ocorridas a partir de 5 de abril de 1991, exigindo-se apenas a compro- vação de vida em comum. O companheiro ou a companheira homossexual integram o rol de dependentes do(a) segurado(a) e tem direito aos mesmos benefícios que teria um casal heterossexual. A alteração veio a partir de uma decisão judicial reconhecen- do esse direito, na Ação Civil Pública nº 2000.71.00.009347-0, e foi garantida após a instituição da união estável e do casamento entre homossexuais pelo Poder Judiciário. O que fazer para garantir esse direito? Desde a Ação Civil Pública nº 2000.71. 00.009347-0, o INSS tem reconhecido os direitos previdenciários acima, bastando comprovação da vida em comum, que pode ser realizada por registro em cartório, união estável, casamento etc. Embora o INSS pre- tenda ainda reverter a decisão nos tribunais superiores, até estemomento a norma vale em todo o território nacional. Em caso de descumprimento, pode-se recorrer ao Po- der Judiciário. legislação federal 8 • Direitos LGBTs Proteção contra Violência A Lei 11.340/06 (Maria da Penha) ex- pressa nos artigos 2º e 5º a sua abrangência também a casais de lésbicas, protegendo a companheira agredida de forma igual aos casos envolvendo heterossexuais. A Lei Ma- ria da Penha prevê proteção à mulher vítima de violência física, psicológica, sexual, pa- trimonial e moral. Há uma decisão judicial que reconhece a aplicabilidade da Lei Maria da Penha também para mulheres trans. O que fazer para garantir esse direito? O Supremo Tribunal Federal decidiu, em fevereiro de 2012, que a Lei Maria da Penha tem validade mesmo sem denúncia da vítima. A agressão contra a mulher pode ser denunciada 24 horas por dia, através de ligação para o número 180 (Central de Atendimento à Mulher), sendo garantido o anonimato da vítima ou de quem denunciar – qualquer pessoa próxima da mulher pode ser denunciante. A Central de Atendimento à Mulher (180) tira dúvidas e oferece infor- mações a respeito da Lei Maria da Penha e atendimento psicológico, jurídico e social à mulher vítima de violência, orientando como agir e procurar ajuda. A denúncia pode ser feita, ainda, diretamente na polícia, pelo número 190 ou prestando queixa em qualquer Delegacia de Defesa da Mulher. Direito à Identidade Vários órgãos já se manifestaram a respeito da adoção do nome social. O Pa- recer Técnico 141/2009 do Ministério da Educação expõe a posição favorável do MEC à adoção do nome social nas esco- las e reconhece a competência de Estados e municípios para decidir sobre o tema, mas sublinha a necessidade de respeito à dignidade da pessoa humana expressa na Constituição. A Portaria 233, de 18 de maio de 2010, do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão assegura o direito do uso do nome social aos servidores públicos federais na administração direta, autárquica e fundacional, mesmo direito garantido aos assistentes sociais por meio da Resolução 615/2011 do Conselho Federal de Serviço Social (CFESS) nos documentos profissio- nais. O Ministério da Saúde garante o uso do nome social de travestis e transexuais no SUS por meio da Portaria nº 2.836, de 1º de dezembro de 2011. O que fazer para garantir esse direito? No caso de servidores públicos fede- rais, a mudança do nome de registro civil para o nome social deve ser solicitada na unidade de identificação funcional do local de lotação da pessoa interessada. No caso do CFESS, a solicitação deve ser realizada no respectivo Conselho Regional de Servi- ço Social. Já no SUS, o Cartão Nacional de Saúde (Cartão SUS) pode ser confeccionado em qualquer unidade de atenção primária à saúde (posto de saúde), sendo solicitada no Cartão SUS a presença do nome social. Direito à saúde A Resolução nº 1/99 do Conselho Fe- deral de Psicologia impede ações de psicó- logos no sentido de agir coercitivamente a orientar homossexuais a tratamentos não solicitados e ações que favoreçam a patolo- gização da homossexualidade, assim como impede que se pronunciem publicamen- te de modo a reforçar preconceitos sociais existentes em relação a homossexuais como portadores de desordem psíquica. É ela que não permite a tentativa da chamada “cura gay”, que gera apenas maior sofrimento Direitos LGBTs • 9 legislação federal psíquico na população LGBT, que não é portadora de desordem psíquica por ser LGBT. A Portaria nº 2.836, do Ministério da Saúde, institui a Política Nacional de Saúde Integral de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Tra- vestis e Transexuais (Política Nacional de Saúde Integral LGBT) no âmbito do SUS, com objetivo de combater a discriminação e o preconceito institucional no SUS para a redução das desigualdades, e garante aces- so ao processo transexualizador na rede do SUS, além de outras providências. O que fazer para garantir esse direito? Psicólogos que descumpram a Resolu- ção 01/1999 do CFP devem ser denuncia- dos em seu respectivo Conselho Regional de Psicologia. A discriminação no âmbito do SUS deve ser denunciada na Ouvido- ria do SUS, número 136. Em Porto Alegre, também pode ser utilizada a ouvidoria da Prefeitura, pelo número 156. No caso de di- ficuldades de acesso, pode-se exigir, inclusi- ve, o cumprimento do dever constitucional de prestação de atendimento pelo Estado no Poder Judiciário. Em resumo Portaria 41 do Ministério do Trabalho e Emprego (28/03/2007): impede a discriminação no tra- balho. Instrução Normativa do INSS nº 20 (10/10/2007): garante direitos previdenciários a companheiro (a) homossexual em caso de óbito ou prisão do (a) cônjuge, retroativo a 5 de abril de 1991. Lei Maria da Penha (Lei 11.340/06): garante proteção à mulher agredi- da pela companheira de modo ex- presso, nos mesmos moldes que em uma relação heterossexual. Parecer Técnico 141/2009 do Mi- nistério da Educação: aconselha Estados e municípios a adotar nome social nas escolas como forma de evitar evasão escolar de pessoas trans. Portaria 233 do Ministério do Pla- nejamento (18/05/2010): assegura direito de uso do nome social a pessoas trans servidoras públicas federais. Resolução 615/2011 do Conselho Federal de Serviço Social: assegu- ra direito de uso do nome social a assistentes sociais nos documen- tos profissionais. Portaria nº 2.836 do Ministério da Saúde (01/12/2011): possibilita o uso do nome social nas instâncias do Sistema Único de Saúde, com- bate a LGBTfobia institucional no SUS e garante acesso ao processo transexualizador na rede pública. Resolução nº 1/99 do Conselho Federal de Psicologia: impede ações relacionadas à “cura gay” e proíbe psicólogos de emitir opini- ões que reforçam preconceitos e estereótipos e a ideia de homosse- xualidade como comportamento patológico. NOME NOME legislação estadual 10 • Direitos LGBTs legislação estadual Algumas das leis mais avançadas no combate à discriminação por diversidade de orientação sexual e de gênero no Bra- sil estão em âmbito estadual e municipal. As punições trazidas por elas, no entanto, não têm caráter penal, pois crimes só po- dem ser definidos por lei federal. De modo geral, são leis em âmbito administrativo, muitas vezes desconhecidas do público e cuja eficácia se torna bastante limitada se não houver exigência de sua aplicação pe- las pessoas ofendidas. No Estado do Rio Grande do Sul, as legislações englobam: direito à identidade O Decreto 49.122/2012 instituiu no nosso Estado a Carteira de Nome Social para Travestis e Transexuais, sendo direito de todas e todos. O Decreto 48.118/2011 garante a essas pessoas o direito à escolha pelo nome social, independente do registro civil, nos procedimentos e atos dos Órgãos da Administração Direta e Indireta, com o nome civil reservado para uso interno na instituição, apenas. Esse mesmo decreto autoriza as escolas estaduais a incluir nome social nos registros escolares, como forma de diminuição da evasão escolar da popu- lação T. Nesse sentido, é interessante citar, ainda, o Parecer 739/2009 do Conselho Es- tadual de Educação, que aconselha escolas do Sistema Estadual de Ensino a adotar o nome social. O que fazer para garantir esse direito? Para fazer a Carteira de Nome Social, basta a pessoa interessada comparecer a um posto de identificação (mesmos locais que confeccionam carteira de identidade, como o Tudo Fácil, por exemplo) com a certidão original de nascimento e a última via da carteira de identidade. A emissão da carteira é gratuita, mas haverá cobrança de taxa no caso de necessidade de emissão de segunda via. A escolha pelo nome social nos atos da AdministraçãoPública deve ser feita na apresentação para atendimento e no pre- enchimento de documentos (inclusive nas escolas estaduais), estando o servidor que se negar a habilitar o uso do nome social su- jeito a penalidades. Denúncias em caso de descumprimento desse decreto podem ser realizadas pelo número 100, o Disque De- núncia de violações a Direitos Humanos. Combate à discriminação e ao preconceito A Lei Estadual 11.872/2002 é a lei anti- discriminação do Rio Grande do Sul. Essa Lei foi concebida para realizar a promoção e o reconhecimento da liberdade de orienta- ção, prática, manifestação, identidade, pre- ferência sexual, abrangendo em seus efeitos protetivos pessoas naturais e jurídicas que sofrerem qualquer medida discriminatória em virtude de sua ligação com integran- tes de grupos discriminados. Para garantir isso, a Lei define um rol de atos atentatórios rio grande do sul Direitos LGBTs • 11 legislação estadual à dignidade, incluindo ofensas coletivas e difusas, e sujeita a ela todas as pessoas, fí- sicas ou jurídicas, que mantêm relação com a Administração Pública Estadual, direta ou indireta, inclusive aquelas que exercem ati- vidades econômicas ou profissionais sujei- tas à fiscalização estadual. A Administração Pública Estadual também está sujeita à Lei, que ainda inclui proteção a trabalhadores públicos e privados LGBTs. Atos atentatórios à dignidade na abran- gência da Lei Estadual 11.872/2002: • A prática de qualquer tipo de ação violen- ta, constrangedora, intimidatória ou vexa- tória, de ordem moral, ética, filosófica ou psicológica; • Proibir o ingresso ou permanência em qualquer ambiente ou estabelecimento pú- blico ou privado, aberto ao público; • Praticar atendimento selecionado que não esteja devidamente determinado em lei; • Preterir, sobretaxar ou impedir a hospeda- gem em hotéis, motéis, pensões ou simi- lares; • Preterir, sobretaxar ou impedir a locação, compra, aquisição, arrendamento ou em- préstimo de bens móveis ou imóveis de qualquer finalidade; • Praticar o empregador, ou seu preposto, atos de demissão direta ou indireta, em função da orientação sexual do emprega- do; • A restrição à expressão e à manifestação de afetividade em locais públicos ou privados abertos ao público, em virtude das caracte- rísticas previstas no art. 1º; • Proibir a livre expressão e manifestação de afetividade do cidadão homossexual, bissexual ou transgênero, sendo estas ex- pressões e manifestações permitidas aos demais cidadãos; • Preterir, prejudicar, retardar ou excluir, em qualquer sistema de seleção, recrutamen- to ou promoção funcional ou profissional, desenvolvido no interior da Administra- ção Pública Estadual direta ou indireta; • A recusa de emprego, impedimento de acesso a cargo público, promoção, treina- mento, crédito, recusa de fornecimento de bens e serviços ofertados publicamente, e de qualquer outro direito ou benefício le- gal ou contratual ou a demissão, exclusão, destituição ou exoneração fundados em motivação discriminatória. Penalidades previstas na Lei Estadual 11.872/2002 a quem pratique atos atenta- tórios: • Advertência; • Multa; • Rescisão do contrato, convênio, acordo ou qualquer modalidade de compromisso celebrado com a Administração Pública direta ou indireta; • Suspensão da licença estadual para funcio- namento por 30 (trinta) dias; • Cassação da licença estadual para funcio- namento; • No caso de servidores públicos estaduais, as penalidades aplicáveis são as previstas no Estatuto do Servidor Público. O que fazer para garantir esse direito? A prática dos atos discriminatórios abrangidos pela Lei 11.872/2002 é apura- da mediante processo administrativo, que pode ser iniciado por reclamação da pessoa ofendida, por comunicado de organizações não-governamentais ou, ainda, por ato ou legislação estadual 12 • Direitos LGBTs ofício de autoridade competente. Denún- cias podem ser realizadas pelo número 100, o Disque Denúncia de violações a Direitos Humanos. NOME NOME em resumo Decreto 48.118/2011: garante a pessoas trans o direito de escolha do nome social nos procedimen- tos dos órgãos da Administração Direta e Indireta do Estado. Decreto 49.122/2012: institui a Carteira de Nome Social em âm- bito estadual. Parecer 739/2009: aconselha es- colas do Sistema Estadual de En- sino a adotar o nome social. Lei Estadual 11.872/2002: lei an- tidiscriminação do Estado do Rio Grande do Sul, bastante abran- gente, protegendo quanto a diver- sos atos atentatórios e prevendo penalidades a pessoas físicas e jurídicas que pratiquem tais atos. Direitos LGBTs • 13 legislação municipal legislação municipal No Rio Grande do Sul, Porto Alegre e Novo Hamburgo são as cidades com leis municipais protetivas dos direitos de LGBTs. > em porto alegre: Combate à Discriminação e ao Preconceito O artigo 150 da Lei Orgânica Munici- pal define que “os estabelecimentos comer- ciais, industriais, prestadores de serviços entidades educacionais, creches, hospitais, associações civis, públicas ou privadas que, por seus proprietários, prepostos ou repre- sentantes praticarem atos discriminatórios a gays, lésbicas, travestis, transexuais, bis- sexuais ou a qualquer pessoa em decorrên- cia de sua orientação sexual, sofrerá pena de multa e/ou suspensão do alvará de fun- cionamento”. Essa lei tem se mostrado inó- cua em Porto Alegre, pela total paralisia da promoção de políticas públicas que temos testemunhado na Capital. Ainda assim, é importante exigir sua aplicação e fiscalizar as atitudes dos gestores públicos para pro- moção desse direito. O que fazer para garantir esse direito? As denúncias devem ser feitas na Secre- taria Adjunta da Livre Orientação Sexual, situada à Rua dos Andradas, nº 1.643/402, ou pelo Disque Denúncia dos Direitos Hu- manos de Porto Alegre, pelo número 0800- 642-0100, de segunda a sexta-feira, das 8h30min às 18h. Educação para a Diversidade A Lei 8.423/2004 estabelece no sistema municipal de ensino a Educação Antirra- cista e Antidiscriminatória, incluindo-se a temática “discriminação de orientação se- xual”. O que fazer para garantir esse direito? Embora alguns parlamentares conser- vadores tenham garantido a exclusão do debate de diversidade sexual e de gênero do Plano Municipal de Educação, já existe, há 11 anos, uma lei que garante o combate à discriminação em Porto Alegre. Infelizmen- te, não vem sendo aplicada, sendo papel dos movimentos sociais e dos representantes das vozes progressistas nos cargos públicos exigir a efetivação desse direito. direito à identidade Projeto de lei recentemente aprovado na Câmara de Vereadores (PLL 151/14) assegura a travestis e transexuais, ao serem atendidos em estabelecimentos privados, em órgãos da Administração Direta e em entidades da Ad- ministração Indireta do Município de Porto Alegre, o direito à utilização de seu nome social constante na Carteira de Nome Social para Travestis e Transexuais, instituída pelo Decreto Estadual nº 49.122, de 17 de maio de 2012, e determina que esses locais façam constar em seus cadastros gerais o nome so- porto alegre e novo hamburgo legislação municipal 14 • Direitos LGBTs cial utilizado por travestis e transexuais. O que fazer para garantir esse direito? A Carteira de Nome Social deve ser feita nos postos de identificação (ver Seção Le- gislação Estadual). Estabelecimentos que não cumpram essa lei devem ser denuncia- dos na Secretaria Adjunta da Livre Orien- tação Sexual, situada à Rua dos Andradas, nº 1.643/402, ou pelo Disque Denúncia dos Direitos Humanos de Porto Alegre, pelo número 0800-642-0100, de segunda a sex- ta-feira, das 8h30min às 18h. > em novohamburgo: Combate à Discriminação e ao Preconceito Novo Hamburgo conta com uma lei an- tidiscriminação específica, a Lei Municipal 1.549/2007. Ela busca a promoção e o reco- nhecimento da liberdade de orientação, prá- tica, manifestação, identidade, preferência sexual, a partir da definição de penalidades aos estabelecimentos localizados no muni- cípio que discriminem pessoas em virtude de sua orientação sexual. A lei entende dis- criminação como: constrangimento ou ex- posição ao ridículo, proibição ou cobrança extra para ingresso ou permanência em lo- cal de acesso ao público geral, atendimento diferenciado ou selecionado, preterimento quando da ocupação e/ou imposição de pa- gamento de mais de uma unidade, nos casos de hotéis, motéis ou similares, preterimento em aluguel ou aquisição de imóveis para fins residenciais, comerciais ou de lazer, preteri- mento em exames, seleção ou entrevista para ingresso em emprego, preterimento em rela- ção a outros consumidores que se encontrem em idêntica situação e adoção de atos de co- ação, de ameaça ou de violência. Considera- se infrator dessa Lei a pessoa que direta ou indiretamente tiver concorrido para o come- timento da infração. As sanções previstas são multa, suspensão ou cassação de alvará para estabelecimentos, e suspensão ou afastamen- to para agentes do poder público. O que fazer para garantir esse direito? Todo e qualquer cidadão pode comuni- car às autoridades competentes qualquer vio- lação à Lei Municipal 1.549/2007. O Disque Denúncia da cidade funciona pelo telefone (51) 3288-5100. A cidade conta, ainda, com um Centro de Referência em Direitos Huma- nos, que funciona de segunda a sexta-feira, das 9 às 18 horas, com atendimento no 3º an- dar da Casa da Cidadania – Rua David Ca- nabarro, nº 20, Centro, Novo Hamburgo/RS. em resumo Em Porto Alegre: Lei Orgânica Municipal (art. 150): impõe pena de multa ou de sus- pensão de alvará a estabeleci- mentos que pratiquem atos discri- minatórios a LGBTs. Lei 8.423/2004: estabelece educa- ção antidiscriminatória no Siste- ma Municipal de Ensino. PLL 151/14 (aprovado na CMPA): assegura direito ao uso do nome social constante na Carteira de Nome Social Estadual nos órgãos da Administração Direta e Indireta. Em Novo Hamburgo: Lei Municipal 1.549/2007: lei anti- discriminação da cidade de Novo Hamburgo, protege quanto a vá- rias atitudes discriminatórias e estabelece punição para estabe- lecimentos e agentes do poder público. NOME Direitos LGBTs • 15 jurisprudência jurisprudência Algumas decisões do Poder Judiciá- rio garantem direitos às pessoas LGBTs. Os maiores avanços nesse tema no Brasil, como o casamento civil igualitário e a pos- sibilidade de adoção, vieram dessa manei- ra. Esses são os direitos com que devemos ter maior cuidado frente às tentativas de retrocesso, pois, sendo aprovadas leis con- trárias no Congresso, esses direitos podem ser perdidos. Mesmo já tendo sido con- quistados, a mobilização continua sendo necessária para que eles se tornem leis e, assim, definitivos. A garantia desses direitos, com exceção dos que já tiveram decisões vinculantes (que devem ser seguidas por todo o Poder Judiciário em nível nacional), isto é, os di- reitos de reconhecimento de união estável e do casamento civil, só se dá mediante ação judicial. união estável O Supremo Tribunal Federal reconhe- ceu no dia 05 de maio de 2011, em deci- são unânime ao julgar a Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) 4277 e a Ar- guição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) 132, a equiparação da união homossexual à heterossexual. A decisão tem efeito vinculante, ou seja, deve ser seguida por todo o Poder Judiciário e alcança toda a sociedade. Os ministros do STF reconheceram que a relação homosse- xual é uma família e afirmam que um ca- decisões judiciais sal não heterossexual, numa união estável, tem os mesmos direitos de um casal hete- rossexual nessa situação. Adoção de filhos, pensão/aposentadoria, plano de saúde e herança são alguns dos exemplos. O que fazer para garantir esse direito? Todo cartório de registro civil no terri- tório nacional é obrigado a registrar a união estável, independentemente do gênero dos ou das cônjuges. Caso um cartório negue- se a realizar a união, deve ser denunciado na Corregedoria-Geral da Justiça, estando sujeito a sanções administrativas e, até mes- mo, ao fechamento. A Corregedoria pode ser acessada no Palácio da Justiça do Rio Grande do Sul (Praça Marechal Deodoro, 55 – Centro – Porto Alegre/RS) ou pelo te- lefone (51) 3210-7265. casamento civil A Resolução 175/2013 do Conselho Na- cional de Justiça garante a possibilidade de conversão da união estável em casamento civil, nos mesmos moldes do casamento he- terossexual. O que fazer para garantir esse direito? O casamento deve ser realizado em car- tório de registro civil, em situação análoga à da união estável. A Resolução 175/2013 do CNJ não deixa dúvidas ao apontar que, em casos de negação do registro do casamento, o juiz corregedor deverá ser imediatamente notificado para tomar as providência cabí- veis, por isso a importância da denúncia na jurisprudência 16 • Direitos LGBTs Corregedoria-Geral da Justiça. As sanções possíveis são as mesmas do caso da união estável. A Corregedoria pode ser acessa- da no Palácio da Justiça do Rio Grande do Sul (Praça Marechal Deodoro, 55 – Centro – Porto Alegre/RS) ou pelo telefone (51) 3210-7265. Qual a diferença entre união estável e casamento? Ambas as modalidades de relação caracterizam núcleo familiar, tendo o mesmo status e sem diferença quanto a direitos. No entanto, algumas diferenças existem entre elas: Formação: o casamento é uma rela- ção definida por ato formal, ou seja, por meio de uma celebração realizada por juiz de paz ou por juiz de direito. Já a união es- tável se dá no plano dos fatos – mesmo sendo possível sua formalização em um tabelionato de registro de notas, basta a convivência entre os ou as cônjuges for- mando o núcleo familiar para que se reco- nheça a união estável. Extinção: da mesma forma, a extinção do casamento se dá de maneira formal, mediante homologação judicial, enquanto a da união estável se dá no momento em que as pessoas deixam de morar juntas. Regime de bens: no casamento, há a possibilidade de escolha do regime de bens entre comunhão total de bens, co- munhão parcial de bens, separação total de bens e participação final nos aquestos. Já a união estável não gera essas possi- bilidades, atingindo somente os bens ad- quiridos onerosamente durante a vigência da união. Além disso, diferentemente do casamento, na união não há a figura do herdeiro necessário (quando cônjuge não pode ser retirado (a) da herança por tes- tamento, tendo direito a 50%, no mínimo, da herança). Estado civil: somente o casamen- to gera o estado civil de casado (a). Não existe o estado civil “união estável”. O ca- samento é, assim, dotado de maior segu- rança jurídica. Além dessas diferenças, é importante frisar que dar a LGBTs os mesmos direitos que possuem heterossexuais cis, com os mesmos nomes, é essencial para garantir igualdade jurídica a essa população. Por isso, consideramos inaceitável que, sob a justificativa de que a união estável gera os mesmos direitos que o casamento, seja negado a LGBTs o direito do casamento. Violência Doméstica Em outubro de 2011, uma sentença em Anápolis, Goiás, reconheceu aplicabilida- de da Lei 11.340/06 (Maria da Penha) no caso de agressão de um parceiro cis a uma parceira trans, que não havia retificado sua identidade civil e mantinha o nome de re- gistro. É uma decisão importante, que re- conhece a violência sobre gênero indepen- dente dea pessoa ser cis ou trans, apesar de o Congresso Nacional manter sua posição reacionária de considerar mulher apenas as mulheres cis. Adoção e Guarda O direito à adoção por pessoas LGBTs vem sendo reconhecido cada vez mais pe- los tribunais, incluindo adoção conjunta com o nome de dois pais ou de duas mães. Tribunais de treze Estados, incluindo o Rio Grande do Sul, já tiveram decisões nesse Direitos LGBTs • 17 jurisprudência sentido. Isso ocorreu também em decisões do Superior Tribunal de Justiça e do Supre- mo Tribunal Federal. Da mesma forma, já foi reconhecido por tribunais de BA, SP, RJ e RS o direito de guarda e visita em caso de dissolução de uniões homossexuais. Companheiro(a) Estrangeiro(a) Tribunais Regionais Federais têm reco- nhecido o direito de visto de permanência a estrangeiros(as) em uniões estáveis homos- sexuais com brasileiros(as). dependentes A Justiça do Trabalho já reconheceu o direito à entrada como dependente de côn- juge homossexual nos benefícios a com- panheiros(as) dos(as) empregados, assim como diversos Tribunais Regionais Federais reconheceram a possibilidade de designa- ção da categoria de dependente para outros fins, como plano de saúde, Imposto de Ren- da etc. Alimentos (pensão) Decisões dos tribunais do DF, RJ, MT, RS e do Superior Tribunal de Justiça já reconheceram, por analogia à união estável entre heterossexuais, o direito à pensão por alimentos à (ao) cônjuge após a dissolução da união. Direito à Identidade São muitas as decisões judiciais que ga- rantiram retificação de registro civil a tra- vestis e transexuais por todo o Brasil. Elas ocorrem mais facilmente após cirurgia de redesignação genital, mas também há casos de mudança de nome e, inclusive, de gênero no registro civil mesmo sem cirurgia. Sen- tenças estrangeiras, em caso de retificação no Exterior, costumam ser homologadas pela Justiça brasileira. Ainda na temática do direito à identidade, ocorreu decisão em 2014 reconhecendo uma candidata trans como parte do preenchimento da cota de gênero feminino para eleições proporcio- nais. 18 • Direitos LGBTs projetos do psol O PSOL está na linha de frente, ao lado de LGBTs, na luta por mais direitos. Nossos mandatos não se omitem frente ao fundamentalismo e ao retrocesso, e são instrumentos à disposição dos movimentos sociais na busca por uma sociedade mais justa, fraterna e igualitária. Por isso, apresentamos projetos em todas as esferas com o objetivo de promover mais cidadania para as pessoas LGBTs. 18 • Direitos LGBTs projetos psol Direitos LGBTs • 19 Congresso Nacional No Legislativo federal, o principal re- presentante de LGBTs é o deputado Jean Wyllys, do PSOL/RJ. Jean é o único par- lamentar no Congresso assumidamente LGBT em um grupo de 513 deputados e 81 senadores, defendendo o avanço de direi- tos contra uma bancada fundamentalista e conservadora muito organizada. Projeto de Lei João Nery O projeto de lei da Identidade de Gê- nero, conhecido como Lei João Nery, que está em trâmite no Congresso Nacional, concede o direito a transexuais de terem a identidade reconhecida conforme sua declaração, sem necessidade de realização de uma cirurgia de redesignação genital. Hoje, travestis e transgêneros podem so- licitar a mudança de nome e gênero nos documentos oficiais após se submeterem a cirurgias de redesignação genital. Em seu artigo 3º, o projeto estabelece que “toda pessoa poderá solicitar a retificação regis- tral de sexo e a mudança do prenome e da imagem registradas na documentação pes- soal, sempre que não coincidam com a sua identidade de gênero autopercebida”. O pa- rágrafo único deste artigo define que “em nenhum caso serão requisitos para altera- ção do prenome: intervenção cirúrgica de transexualização total ou parcial; terapias hormonais; qualquer outro tipo de trata- mento ou médico; autorização judicial”. É um projeto extremamente relevante e avançado, que compreende a identidade de gênero como efetivamente é, uma constru- ção social não necessariamente ligada às características anatômicas dos seres huma- nos. Além disso, o PL João Nery contribui para a despatologização das pessoas trans. Atualmente, elas precisam de um laudo psicológico para requisitar na Justiça a mu- dança de prenome em seus documentos. O PL João Nery elimina essa necessidade. O Projeto de Lei João Nery vem sendo atacado por setores conservadores, religio- sos e pela mídia tradicional, com argumen- tos que, além de exalar todo o atraso de seus argumentadores, demonstram muito desco- nhecimento a respeito da questão da transe- xualidade. O colunista Rogério Mendelski, do jornal Correio do Povo, foi um dos que atacou o projeto e o deputado Jean Wyllys. Confira a resposta de Luciana Genro para o colunista: Prezado Mendelsky, Agradeço este espaço para prestar alguns esclarecimentos. Primeiro queria dizer que temos muito orgulho de contar com o Jean Wyllys como deputado do PSOL. Ele tem uma história de vida de superação e cora- gem. Viveu uma infância de privações, fome e preconceito. Conseguiu superar a pobreza através do estudo e do trabalho. É o primeiro deputado federal da história do Brasil que as- sumiu publicamente ser homossexual – e com muito orgulho! Sua coragem ajudou muita gente a lutar contra o preconceito. jean willys projetos psol 20 • Direitos LGBTs Sobre o tema da identidade de gênero, é preciso dizer que isto não é uma invenção do Jean e nem do movimento LGBT. É uma realidade. Todos possuímos uma identidade de gênero. A maioria das pessoas se identifica com o gênero de nascimento. Mas muitas pes- soas, não. Cabe ao Estado ter políticas públi- cas que garantam direitos às pessoas que não se identificam com o gênero de nascimento. São travestis e transexuais, que sofrem todo tipo de discriminação. A começar pela pró- pria escola, de onde acabam expulsos. Isso não retira das famílias a autonomia sobre a educação das crianças e sim busca comba- ter a discriminação, algo que não faz parte de nenhuma educação que seja digna desta qualificação. O projeto do Jean assegura direitos para combater a transfobia institucionalizada e a patologização de qualquer expressão de gêne- ro que desvie daquela considerada “normal” ou “aceitável” pela sociedade. Ele assegura, por exemplo, acesso a tratamentos a fim de adequar o corpo da pessoa à expressão de sua identidade de gênero. Nos Estados Unidos e na Argentina esses direitos já são assegura- dos. É absurdo pensar que, se o PL 5002/2013 for aprovado, uma criança vai ter o direito fazer uma cirurgia de readequação genital – popularmente conhecida como “mudança de sexo” - em um procedimento sumário. Dizer isso é promover a desinformação e o precon- ceito em cima de um assunto que costuma causar conflitos e muita dor nos casos em que a família não acolhe seus filhos LGBTs. Em defesa da família, é bom lembrar que uma família que não acolhe um filho ou uma filha LGBT é uma família que afasta essa pessoa de seu convívio e desta forma sim, destrói a própria família. Quando há conflito entre o adolescente e sua família, e ele fica desassistido, cabe ao Estado zelar pelos seus direitos e pelo exercí- cio destes direitos de forma responsável. Todo o projeto do Jean é balizado pelo Estatuto da Criança e do Adolescente, uma lei reconhe- cida internacionalmente pelo avanço que significou, muito embora não seja aplicada plenamente. Por fim, gostaria de dizer que o PSOL não defende nenhum governante que dissemine o preconceito e a discriminação contra LGBTs e que o PSOL não identifica, em nenhum go- verno existente, um modelo a ser seguido de forma acrítica. Aliás, nosso partido se chama Partido Socialismoe LIBERDADE, justa- mente para nos diferenciar de experiências autoritárias que não correspondem à socie- dade libertária que almejamos. Grata pela atenção, Luciana Genro Projeto de Lei do Casamento Igualitário O deputado federal Jean Wyllys proto- colou na Câmara dos Deputados o Projeto de Lei 5.120/2013, que regulamenta o Ca- samento Civil Igualitário, ou seja, o casa- mento civil entre pessoas do mesmo sexo. Apresentou, também, proposta de emenda constitucional (PEC), para alterar o artigo 226 da Constituição Federal, reconhecen- do a união estável e o casamento para ca- sais hetero e homossexuais. No entanto, o casamento igualitário virou uma realidade no Brasil por meio do Judiciário: após as sentenças do STF — que reconheceu que os casais do mesmo sexo podem constituir uma família e têm direito à união estável com os mesmos requisitos e efeitos que as projetos psol Direitos LGBTs • 21 uniões estáveis de homem e mulher — e do STJ — que reconheceu o direito ao casa- mento civil de um casal de lésbicas do Rio Grande do Sul —, diferentes casais come- çaram a inscrever suas uniões estáveis e pedir à justiça a conversão em casamento. Teve uma primeira sentença favorável, e depois outra, e mais outra. Logo, os juízes começaram a admitir que, se os casais do mesmo sexo podem registrar a união es- tável e convertê-la em casamento, não há razão para que eles não possam se casar de forma direta. E as corregedorias estaduais começaram a regulamentar essa possibili- dade em até treze estados, mais o Distrito Federal. Em todos esses estados, qualquer casal poderia realizar seu casamento ci- vil. Era só ir no cartório e marcar a data! Faltava, todavia, uma regulamentação na- cional que impedisse que os casais de São Paulo tivessem mais direitos que os do Rio de Janeiro e os da Bahia mais do que os de Pernambuco, por exemplo. Precisávamos de uma única regra para todo o país. Por isso, o mandato do dep. Jean Wyllys entrou com um pedido no Conselho Nacional da Justiça (CNJ) e, pouco depois, o juiz Joa- quim Barbosa, presidente do Conselho — e do STF — assinou a decisão 175/2013, que regulamenta o casamento civil entre pesso- as do mesmo sexo em todo o Brasil. Desde 14 de maio de 2013, todos os brasileiros e todas as brasileiras têm direito ao casa- mento civil. Falta, ainda, que o Legislativo entenda o que o Judiciário já entendeu e se liberte das amarras do fundamentalis- mo religioso — que é racista, homofóbico, machista e inimigo das liberdades indi- viduais — e aprove os projetos de lei e de emenda constitucional que o mandato de Jean apresentou, para garantir o direito ao casamento igualitário na Constituição e no Código Civil. criminalização da LGBTfobia Após o Congresso arquivar o PLC 122, que criminalizava a homofobia, o manda- to do deputado Jean começou a estudar a apresentação de novo projeto no sentido de coibir a violência contra LGBTs. Esse pro- jeto ainda será apresentado pelo deputado. projetos psol 22 • Direitos LGBTs Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul Em nosso Estado, o deputado Pedro Ruas compõe a bancada do PSOL. Mesmo com um mandato de pouco mais de 6 me- ses, Ruas já apresentou projeto para pro- mover a cidadania LGBT no RS. Projeto de Lei de Inclusão de Orientação Sexual e Identidade de Gênero no Registro de Boletins de Ocorrência Os alarmantes dados de violência con- tra LGBTs geraram, até hoje, pouca ou ne- nhuma reação dos aparelhos estatais. Esse projeto visa incluir os itens “orientação sexual”, “identidade de gênero” e “nome social” no registro de boletins de ocorrên- cia. A partir dessa inclusão, o Estado do Rio Grande do Sul poderá ter estatísticas oficiais a respeito de crimes motivados por LGBTfobia. Além disso, os julgamentos de crimes de ódio contra LGBTs poderão ter levada em consideração essa motivação. pedro ruas projetos psol Direitos LGBTs • 23 Câmara Municipal de Porto Alegre No Legislativo municipal, a bancada do PSOL é constituída pela vereadora Fernan- da Melchionna e pelo vereador Prof. Alex Fraga. Mesmo que as legislações munici- pais tenham pouca abrangência na temáti- ca LGBT, nossa bancada atua nas possibili- dades existentes. Projeto de Lei de Isenção de ISSQN para Empresas que Contratarem Pessoas T Segundo a ANTRA, Associação Nacio- nal de Travestis e Transexuais, noventa por cento das pessoas travestis e transexuais estão na prostituição. A escola e o mercado de trabalho são verdadeiros locais de tortu- ra psicológica para essas pessoas, que têm seu direito à identidade vilipendiado dia- riamente. Mesmo quando são qualificadas para as vagas a que concorrem, são prete- ridas. E, quando são contratadas, não raro são totalmente desrespeitadas em sua iden- tidade de gênero, tendo o direito ao nome social e ao banheiro adequado à identidade de gênero completamente negados. Para combater a discriminação no mercado de trabalho, nossa bancada apresentou pro- jeto de lei que isenta em 20% do ISSQN empresas que contratarem pelo menos 5% de travestis e transexuais do total de em- pregados. Projeto de educação para a diversidade Como presidente da Comissão de De- fesa do Consumidor, Direitos Humanos e Segurança Urbana (CEDECONDH), a vereadora Fernanda Melchionna compõe, junto à sociedade e a outros parlamentares – entre eles o Prof. Alex Fraga –, projeto de educação para a diversidade nas escolas. Essa ideia foi aprovada tendo em vista os altos índices de evasão escolar da popula- ção LGBT, em especial da população T. fernanda melchionna e prof. alex fraga projetos psol 24 • Direitos LGBTs contribuições para o debate 24 • Direitos LGBTs contribuições para o debate Direitos LGBTs • 25 Movimento LGBT no Brasil - uma luta por nenhum direito a menos!por Welynton Almeida O movimento LGBT tem seu marco inicial com o Levante de Stonewall, ocor- rido em 1969, nas ruas de Nova Iorque. Na época, a homossexualidade era consi- derada pela ciência e pela sociedade como uma doença. Uma grande parte dos países, como Estados Unidos e Portugal, conside- rava a prática homossexual como crime. Como acontece com cidadãos considera- dos de segunda categoria, locais frequen- tados por LGBTs eram reiteradamente alvo de invasões policiais, geralmente truculen- tas. Em 28 de julho de 1969, no entanto, LGBTs deram um basta na crueldade poli- cial e se rebelaram, gerando vários dias de conflitos. No Brasil, a história do movimento LGBT começa seu caminho para o que conhecemos hoje no final dos anos 1970. Cabe mencionar que, na década anterior, alguns grupos homossexuais foram cria- dos, porém, com foco na socialização de seus membros como uma outra opção aos guetos, que eram os espaços de convívio destinados para LGBTs até o momento. Ainda no final da década de 1970, te- mos a formação de grupos de grande im- portância para o movimento, que defen- diam transformações sociais que atingiam além da população LGBT. É o caso do SO- MOS, reconhecido por ter tido um caráter mais politizado em sua atuação, tornando- se referência para demais grupos. Tam- bém houve o Jornal Lampião da Esquina, importante veículo de comunicação que facilitou a articulação do movimento em meio à ditadura vigente. Ambos passaram por diversos momentos e alterações inter- nas (inclusive fragmentações, no caso do SOMOS), ora conectando a luta por mais direitos LGBTs com as demais lutas das mi- norias, ora em conflito entre o idealizado e a prática, eventualmente caindo em con- tradições. Quase na virada para 1980 acontece, no Rio de Janeiro, o primeiro encontro de homossexuais militantes, com a presença de diversos grupos de diferentes Estados e municípios. De encaminhamentos,o en- contro tirou ações como inclusão na Cons- tituição Federal do respeito à “opção sexu- al” (como chamavam na época – por não ser uma opção, hoje chamamos de orienta- ção sexual) e a remoção da homossexuali- dade da lista de transtornos mentais. Já nos anos 1980, apesar do término da ditadura militar, o movimento enfraquece e tem o número de grupos significativa- mente diminuído. Essa fase é marcada pela descoberta de muitos casos de AIDS (Sín- drome da Imunodeficiência Adquirida). A doença, causada pelo vírus HIV, foi cruel- mente imputada ao comportamento sexual de LGBTs, sendo apelidada de peste gay, câncer gay, entre outros adjetivos desuma- nos. Muito se justifica a partir desse ponto. contribuições para o debate 26 • Direitos LGBTs O movimento LGBT entra em xeque. Ao passo que pautávamos a luta pela liberdade sexual, enfrentávamos a sua desmoraliza- ção. É fato que, diante da ineficiência no combate à doença, alguns dos militantes LGBTs redefiniram seus focos, centralizan- do seus esforços no combate à AIDS. Mas também é fato que muitos não aderiram à causa, dada a força e o grau de negatividade dessa associação. É nessa conjuntura que outros grupos também importantes como o Triângulo Rosa e o Grupo Gay da Bahia atuam. Esses grupos tinham como estratégia de militân- cia a interferência na política, partidária in- clusive. Foi o Triângulo Rosa, por exemplo, que articulou a tentativa de incluir orienta- ção sexual na Constituinte de 1988 – sem sucesso. No final dos anos 1980 o movi- mento LGBT volta a crescer, como fruto dos esforços de sua militância no combate à AIDS. O governo repassa a supervisão de projetos de combate à doença aos grupos, levando muitos a começarem a se organi- zar em formato de organização não-gover- namental. O movimento ressurge, de fato, nos anos 1990, ganhando espaço na mídia tra- dicional e visibilidade por meio da orga- nização da população LGBT e vinculando nossa luta pelo direito de ser e amar à luta por direitos humanos. Entramos nessa dé- cada tendo a homossexualidade retirada da lista de doenças da Organização Mundial de Saúde. Os grupos também começam a adquirir mais pluralidade, tendo grupos lésbicos, gays, bissexuais e de pessoas T. O movimento LGBT vem em constante as- censão, visível já no início dos anos 2000 quando da realização da Parada de Orgu- lho LGBT, em São Paulo, que reuniu mais de quinhentas mil pessoas. No mesmo ano, como comparativo, na França e nos Esta- dos Unidos as paradas reuniram cerca de 250 e 300 mil pessoas, respectivamente. A última parada LGBT de São Paulo, reali- zada em junho de 2015, reuniu mais de 2 milhões de pessoas. Ao contrário do que muitos afirmam, as paradas de luta LGBT são espaços de extremo valor para nós, que ainda lutamos por direitos negados. São dias de celebra- ção pelo orgulho de sermos quem somos e amarmos quem amamos, e são dias de luta, onde protestamos e denunciamos nossa invisibilidade, os crimes de ódio contra nós, o Estado omisso, a falta de segurança, educação e emprego, principalmente para pessoas T. É essencial que o movimento LGBT siga se inovando, sem perder nosso caráter de luta, ocupando as ruas e a política. Nos- sa história já mostrou que somos capazes de inverter a lógica que nos oprime. Há muita lógica de opressão para ser invertida, há muito que se conquistar. Devemos nos espelhar nas Travestis, Transexuais, Tran- gêneros, Lésbicas, Bissexuais e Gays que, no Levante de Stonewall, responderam à polícia e ao Estado e disseram um basta aos espancamentos e humilhações. Devemos nos espelhar em LGBTs que resistiram aos anos extremamente difíceis da ditadura, e juntos responder aos dados alarmantes que apontam a gritante violência contra nós, em especial no Brasil, que segue liderando o ranking das estatísticas de assassinatos de LGBTs. Sigamos construindo nossa história de luta e resistência! Acesso ao acervo do jornal Lampião da Esquina: www.grupodignidade.org.br/ blog/cedoc/jornal-lampiao-da-esquina/ Welynton Almeida Coordenador de Diversidade Sexual e Identidade de Gênero do DCE/UFRGS contribuições para o debate Direitos LGBTs • 27 Os desafios de LGBTs no Brasil: por mais representatividade, contra o fundamentalismo! por Luciano Victorino Todos os anos, milhões de lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais (LGBTs) ocupam as ruas em paradas do orgulho LGBT para celebrar o Levante de Stonewall e reivindicar igualdade. Vivemos tempos de urgência nas lutas sociais, dian- te de uma crise política e econômica que se agrava a cada dia. Por isso, precisamos traçar tarefas para este período de ataques à classe trabalhadora e aos setores oprimi- dos da sociedade, dentre eles, a população LGBT. O sistema político-econômico, que prioriza o lucro em detrimento da vida, e o governo federal, que se ancora em um modelo econômico antipopular baseado em pactos com partidos conservadores de direita e fundamentalistas, não têm condi- ções de avançar nas pautas democráticas. Historicamente, foi tarefa das vozes progressistas lutar contra o conservado- rismo de líderes religiosos facínoras. Há uma tentativa de barrar os direitos LGBTs com os mesmos argumentos utilizados por aqueles que, no século XIX, serviram de justificativa para a Igreja Católica escra- vizar os negros e negras – ao afirmar que essas pessoas não tinham alma. Essa argu- mentação também se expressou na metade do século XX, quando se tentou evitar o ca- samento entre pessoas brancas e negras nos Estados Unidos, sob a justificativa moralis- ta da “destruição da família tradicional”. São esses os argumentos que estão suben- tendidos e, muitas vezes, explícitos quando se trata da oposição aos direitos da popula- ção LGBT. Quem se dedica a militar contra os nossos direitos está do mesmo lado da História que todos aqueles que defende- ram a escravidão, a Inquisição, o aprisio- namento das mulheres em seus casamen- tos (mediante a proibição do divórcio) e a proibição do casamento inter-racial. O conservadorismo de ditos represen- tantes dos evangélicos no Brasil (que não representam muitos dos religiosos, tole- rantes e empáticos com o próximo) não é dado novo, tendo em vista que possuem uma formação baseada no fundamentalis- mo bíblico, no puritanismo e no sectaris- mo. Os líderes religiosos, de maneira geral, têm se mostrado a serviço da manutenção do status quo e das opressões, o que foi verificado com o silenciamento da Igreja Católica frente aos horrores do nazismo e com a omissão dos líderes religiosos frente à implantação da ditadura militar no Bra- sil. Isso tornou possível o alinhamento de boa parte das lideranças evangélicas com o governo golpista. contribuições para o debate 28 • Direitos LGBTs No Brasil, a luta por igualdade para LGBTs tem muitas décadas e se intensifi- cou recentemente. No começo de 2013, to- mamos as ruas para protestar contra a pre- sença do fundamentalista Marco Feliciano (PSC/SP) na presidência da Comissão de Direitos Humanos e Minorias (CDHM) da Câmara Federal. Meses depois, as Jornadas de Junho foram, para nós, uma continua- ção dessa luta de décadas por direitos hu- manos básicos, sempre negados. A chegada ao poder do Partido dos Trabalhadores (PT), em 2003, fez com que LGBTs vislumbrassem ter, finalmente, seus direitos básicos. No entanto, o que se ve- rificou foi um alinhamento do PT ao regi- me, com governos permeados por alianças fisiológicas. Foi no governo Dilma que Marco Feliciano foi alçado à presidência da CDHM da Câmara, após uma negocia- ta em nome da dita governabilidade. Foi a própria presidente que sustentou que não faria “propaganda de ‘opção’ sexual” ao ve- tar a educação para a diversidade nas esco- lascom o kit anti-homofobia. Enquanto, na campanha eleitoral de 2014, Luciana Gen- ro mandava o candidato machista do PSDB Aécio Neves não levantar o dedo para ela, Dilma baixa a cabeça para o machismo de Jair Bolsonaro (PP/RJ), o deputado apolo- gista do estupro que compõe a base aliada do PT. O governo federal faz tantos acor- dos sob o pretexto de obter governabili- dade que se tornou refém de suas próprias relações espúrias. E, com tanta concessão, não tem capacidade política para avançar. No Congresso Nacional, a situação é ainda pior. As concessões e os escândalos de corrupção dos governos petistas possi- bilitaram às forças conservadoras a opor- tunidade de se reorganizar e contra-atacar com força total. Segundo o Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diep), o Legislativo eleito em 2014 é o mais conservador do período pós ditadu- ra. Não à toa, os fundamentalistas têm se articulado para barrar os avanços que te- mos conquistado ao longo dos anos. Com mais de 70 deputados, os evangélicos se organizam como “bancada” no Congresso e utilizam-se de seus mandatos parlamen- tares, que deveriam estar a serviço dos di- reitos de todo o povo, para atacar e tentar retirar direitos daqueles a quem conside- ram cidadãos de segunda classe. Enquanto isso, a representação de LGBTs está restrita a um deputado apenas, que briga contra toda essa bancada: o deputado Jean Wyllys (PSOL/RJ). É apenas um LGBT assumido em um universo de 513 na Câmara Federal. O atual inimigo número 1 de LGBTs é o presidente da Câmara Federal, Eduar- do Cunha (PMDB/RJ). Cunha, que agora vira-se contra o PT, chegou à presidência da Câmara fruto de articulação política do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Sil- va. Ele compõe a bancada evangélica e faz questão de atacar LGBTs em seus discur- sos. Apresentou dois projetos que são ver- dadeiros deboches à nossa luta: o do “Dia do Orgulho Heterossexual” (como se fosse necessário ter orgulho de pertencer a um grupo hegemonicamente aceito e privile- giado) e o que criminaliza a “heterofobia” - como se heterossexuais apanhassem na rua e fossem mortos simplesmente por serem heterossexuais. Cunha é fruto do peso do fundamentalismo e das religiões no Con- gresso. Patético e corrupto, o deputado não tem moral para legislar absolutamente so- bre nada, pois é relacionado a escândalos de corrupção desde a época de Paulo César Farias (o PC Farias, tesoureiro de campa- nha de Fernando Collor de Mello), passan- do pelo Mensalão e chegando, finalmente, à atual Operação Lava-Jato. Cunha mani- festa repulsa ao beijo gay na televisão, mas contribuições para o debate Direitos LGBTs • 29 não parece ter repulsa a assaltar os cofres públicos e se locupletar às custas do povo. Toda essa articulação das Igrejas nada mais é, porém, que uma contraofensiva aos inúmeros direitos que LGBTs têm conquis- tado através da organização ao longo dos últimos anos. Por iniciativa do corajoso mandato do deputado Jean Wyllys, con- seguimos a regulamentação do casamento civil igualitário no Conselho Nacional de Justiça. Lutamos, agora, para que seja apro- vado seu Projeto de Lei “João Nery”, que avançará no direito à identidade de gênero e à autodeterminação sobre os corpos a tra- vestis, transexuais e transgêneros. Precisamos, todavia, avançar ainda mais. O Brasil hoje é responsável por 50% das mortes da população transexual no mundo – um verdadeiro escândalo. Nessa população, a expectativa de vida não passa dos 30 anos, comparados aos 75 anos da po- pulação geral. Como se não bastasse, nosso país é o que mais mata LGBTs no mundo – um a cada 27 horas, segundo relatório do Grupo Gay da Bahia. Nesse contexto, o Governo Dilma não avança; ao contrário, retrocede. Com seus acordos eleitorais, PT e PCdoB se mostram inoperantes na defesa dos direitos humanos e entregam a CDHM da Câmara a pastores fundamentalistas. Não podemos nos iludir: o governo fe- deral não pauta as questões LGBTs e não as pautará. E, agora, a situação é ainda mais crítica. Com a política de ajuste fiscal e a nomeação de um ministério conservador, o governo se mostra ainda menos disposto a garantir direitos e aprovar políticas pú- blicas para LGBTs. Por isso, a luta LGBT não pode ser desvinculada da luta contra os ajustes e, em hipótese alguma, pode ser submetida a acordos para chegar ao poder. O aumento das tarifas e os cortes de verbas afetam diretamente a comunidade LGBT e mostram que o governo já escolheu um lado, que não é o lado do povo. A extinção de secretarias LGBTs em alguns Estados é só um exemplo de como os ajustes nos afetam e mostra que as promessas feitas a nós são vazias. A luta LGBT tem um lado, e com certeza não é daqueles que fazem lindos adesivos LGBTs na campanha elei- toral para logo depois ceder à pressão do fundamentalismo, debochando daqueles que acreditam na possibilidade de avanços. Não queremos a unidade com aqueles que estão lado a lado no Congresso e no gover- no com fundamentalistas. A organização da luta em torno de um projeto concreto é essencial. Nesse con- texto, dois acontecimentos recentes foram responsáveis por uma maior politização e mobilização em torno do debate sobre questões de gênero e diversidade sexual. O primeiro, como já falado, foram as Jorna- das de Junho de 2013, que cumpriram um papel fundamental para a auto-organiza- ção dos mais diversos movimentos sociais e para a consolidação de um novo método de se fazer política. Percebemos o nosso protagonismo para a construção de uma sociedade mais igualitária e solidária. Outro recente processo que teve as de- mandas do movimento LGBT como uma das discussões centrais foram as eleições presidenciais de 2014. Luciana Genro, candidata a presidente pelo PSOL, teve coragem de levar a questão das opressões sofridas por LGBTs pela primeira vez em um debate de presidenciáveis na televisão. “A ausência de educação a respeito desses temas nas escolas faz falta. Homofobia, les- bofobia e transfobia matam”, disse Luciana Genro. Após suas intervenções, a pauta LGBT esteve presente como nunca nos de- bates presidenciais. De “nanica”, Luciana contribuições para o debate 30 • Direitos LGBTs passou a uma gigante no combate ao pre- conceito. Os mesmos que queimaram LGBTs, mulheres e crentes de outras religiões na fogueira da Inquisição na Idade Média tentam ceifar nossos direitos e invisibilizar nossas vivências no Brasil da atualidade. Para reverter esse quadro, precisamos for- talecer as lutas de LGBTs e de todos aque- les e aquelas que não silenciam diante do preconceito. Afinal, o Brasil só teve a união estável reconhecida pelo Supremo Tribunal Federal a partir do fortalecimento das pa- radas de luta LGBT, das paradas livres e dos avanços das lutas por liberdades democrá- ticas e direitos civis. Precisamos continu- ar organizados nas ruas e levar essa nossa organização na luta para os Parlamentos, onde LGBTs possam, eleitos e eleitas, vo- calizar o que está engasgado na garganta de milhões de nós: dizer que existimos, que não voltaremos para o armário e que não queremos privilégios. Nossa luta é por representatividade, é por igualdade... é por direitos! Luciano Victorino Estudante de Direito da Universidade Federal do Rio Grande do Sul Coordenador-Geral do DCE da UFRGS Juntos! LGBT contribuições para o debate Direitos LGBTs • 31 Visibilidade e diversidade - novas famílias e formas de ser e amar por Alessandra Bohm “(...) Muitas crianças vivem com a mãe e o pai. Mas muitas outras vivem apenas com o pai... ou só com a mãe. Algumas vi- vem com a avó e o avô. Algumas crianças têm duas mães ou dois pais. E algumas são adotivas ou afilhadas (...)”. A citação acima faz parte do livro infantilO Grande e Mara- vilhoso Livro das Famílias. Assim como em alguns outros artefatos infantis, a temática das famílias homossexuais é tratada com o mesmo status de famílias heterossexuais. Representações como essas favorecem o apreço à multiplicidade de constituições familiares e ensinam a importância da construção de concepções não preconcei- tuosas e não discriminatórias. Um mode- lo de educação que ensine valores de re- conhecimento e de respeito aos modelos familiares formados por casais homosse- xuais ou por outros arranjos que incluam sujeitos não heterossexuais é fundamental, já que no Brasil vivemos um momento de busca por conquistas no campo dos Direi- tos Humanos no que diz respeito às ditas minorias sexuais. Ao mesmo tempo em que os movimen- tos sociais reivindicam direitos igualitários para LGBTTs, uma forte onda reacionária e conservadora (em sua maioria formada por políticos ligados às religiões neopen- tecostais) tenta reafirmar o erro histórico de considerar as diversidades sexuais como de caráter patológico e pecaminoso. Um exemplo de práticas políticas que buscam instituir o não reconhecimento desses no- vos arranjos familiares e a não aquisição de direitos da população LGBTT é o Estatuto da Família. Trata-se de um projeto de lei (PL 6583/2013 da Câmara dos Deputados) que define como família casais formados por um homem e uma mulher, desconsi- derando outros arranjos familiares forma- dos por casais homossexuais e também por casais heterossexuais sem relação de des- cendência. Neste campo de disputas políticas, a te- mática “família” é protagonista no que diz respeito ao reconhecimento e equidade na aquisição de direitos, já que cada vez mais as pessoas estão tornando público o que ao longo da história sempre ocorreu: a vivên- cia dos afetos com pessoas do mesmo sexo e a constituição de família a partir desse ar- ranjo. O não reconhecimento social e a dis- criminação que muitas vezes famílias não heterossexuais sofrem são circunstâncias que as diferem de famílias tradicionais. As- sim, família é todo núcleo capaz de amar, de cuidar e de respeitar seus membros. O discurso da família desestruturada, muito em voga em diversos espaços so- ciais, não contempla diversos outros ar- ranjos familiares. Um país que respeita a diversidade e as múltiplas configurações saiba mais 32 • Direitos LGBTs familiares se dará a partir da efetivação de políticas públicas que colaborem para o reconhecimento social, para a garantia de direitos da população LGBTT e do enten- dimento de família como lugar de acolhi- mento, carinho e respeito entre seus mem- bros, independente do tipo de formação de gênero, de orientação sexual ou de grau de parentesco. Alessandra Bohm Psicopedagoga Clínica e Institucional Mestra em Educação, Relações de Gênero e Sexualidade Professora de Curso de Formação de Professores no I.E. Gen. Flores da Cunha. contribuições para o debate Direitos LGBTs • 33 A quem pertence o espaço público? Quem não é considerado humano, logo, passa a não ser e deixa de ter necessidades fisiológicas? por sofia favero Travestis e transexuais ainda sofrem, atualmente no Brasil, uma marginalização compulsória; a esses indivíduos é negada a possibilidade de frequentar todo e qual- quer terreno social. Essa noção perpassa a esfera micro e a esfera macro, seja na es- cola ou no trabalho, essas pessoas acabam vendo-se impedidas de acessar, até mesmo, os banheiros. Cinco ou seis dias semanais, com duração mínima de um turno, em que esses indivíduos não poderão urinar ou defecar sem que, com isso, ocorra algum constrangimento, assédio, abuso, expulsão, agressão, humilhação ou exposição. Esse tratamento aversivo reflete na resistência que muitas travestis e transexuais passam a ter: elas simplesmente buscam evitar esse local e isso inclusive encerra em casos gra- ves de incontinência urinária. Uma simples ida ao banheiro, o que pa- rece ser um ato corriqueiro e habitual para os inteligíveis, os cisgêneros, causa bastan- te desconforto e aflição para as travestis e transexuais. Qualquer sinal, ou não preen- chimento de signos generificados, signifi- cará ter a sua identidade deslegitimada por esses outros, finalizando em uma violência transfóbica ao ser, costumeiramente, ex- pulsa daquele ambiente. Travestis e transexuais são ejetadas dos banheiros públicos, como os verdadeiros dejetos que a sociedade encara que são, e isso representa o resultado de um proces- so de desumanização que, agenciado pelos considerados cidadãos de fato, mantém a existência de um projeto de ser humano que supostamente deu errado. Não são gente, sequer precisam alimen- tar-se: justifica a ausência de empregabili- dade formal que rodeia esse contingente. Não são pessoas, nem mesmo demandam um lar: embasa o abandono familiar que integra parte da realidade de muitas tra- vestis e transexuais. Não fazem parte da população, tampouco necessitam estudar com nossos filhos polidos: alicerça a eva- são escolar e o descaso em relação ao nome social. Não são humanas, seus corpos ma- terializam uma verdadeira aberração: fun- damenta o imaginário de que existem os corpos naturais que, mesmo não configu- rando em naturalidade alguma, possuem aparato estatal para transitar. Travestis e transexuais estão na mira de diversas violências abstratas, concretas, simbólicas e reais. É preciso desmistificar os espaços de alcance básico para que a contribuições para o debate 34 • Direitos LGBTs pluralidade seja acolhida e resguardada. Infelizmente, como muitas mulheres cis, travestis e transexuais também são estu- pradas. Empurrar essas pessoas para um banheiro frequentado por homens expres- sa somente a maneira que a crueldade dos considerados humanos se manifesta. Tam- bém não existem dados de homens cis que apresentem-se enquanto travestis ou tran- sexuais para cometer tal crime; esse atenta- do costuma ocorrer majoritariamente onde menos se espera: em casa. Medidas paliati- vas que segregam e colocam em perigo um grupo de pessoas em detrimento do outro não deveriam ser senso comum. Mas, para a sociedade, algumas pessoas possuem mais valor que outras. Ambos os banheiros binários possuem cabines e, nos ditos femininos, não existem mictórios. Esses fatos anulam qualquer su- posta possibilidade de exposição anatômi- ca por parte das travestis e transexuais. Se a sua preocupação é a de que alguém acabe visualizando o seu órgão genital, pasme, basta não urinar ou defecar na pia. Sofia Favero Estudante de Psicologia – Universidade Federal de Sergipe Criadora e administradora da página Travesti Reflexiva contribuições para o debate Direitos LGBTs • 35 Políticas Públicas para LGBTs no Brasil por marcelo rocha O Brasil, historicamente, vem relegan- do a segundo plano as políticas públicas para os setores oprimidos de sua popula- ção. A bem da verdade, as relações entre as leis e essas populações serviram muito mais à manutenção do status quo que a qualquer promoção de igualdade e de inclusão. Se é verdade que as grandes mudanças históri- cas mundiais vieram através de mobiliza- ções, em nosso país isso é especialmente verdadeiro. Não há qualquer menção de políticas públicas para LGBTs antes de o movimento LGBT erguer firmemente sua bandeira. Da mesma forma, as instituições de Estado, quando presentes, servem à promoção da exclusão, e não da inclusão, por meio de verdadeira LGBTfobia institu- cional. A construção social do Brasil natu- ralizou a existência de cidadãos e cidadãs considerados de segunda categoria, como mulheres, negros e negras e LGBTs. Essas pessoas não eram sujeitos de direito – ao contrário, muitas vezes sequer foram con- siderados pela lei comosujeitos, mas sim como objetos. Foi o caso das mulheres pré- Constituição de 1988, encaradas, do ponto de vista legal, como de propriedade de pais e maridos, e de negros e negras no período da escravização. A emergência do HIV/AIDS na déca- da de 1980, inicialmente entre a população homossexual masculina, obrigou o Estado brasileiro a direcionar sua primeira política pública para LGBTs, mais especificamente para gays, mas sem tratar especificamen- te das demandas do movimento LGBT. Esse fato histórico fez com que, até hoje, as principais e mais efetivas políticas para LGBTs estejam na área da saúde. Em 2004, têm início a primeira ação de fato orienta- da à promoção da igualdade da população LGBT: o programa Brasil sem Homofobia. Essa ação foi fruto da proximidade entre o Partido dos Trabalhadores (PT) e a Asso- ciação Brasileira de Gays, Lésbicas, Bisse- xuais, Travestis e Transexuais (ABGLT) à época. Apesar do ineditismo, as iniciativas do PT redundaram em pouca aplicabilidade prática, especialmente a partir da intensi- ficação da política de negociata de gover- nabilidade adotada pelo governo federal. O Brasil sem Homofobia se caracterizou por ações dispersas e relacionadas principal- mente a organizações não-governamen- tais, com pouco aparato estatal e pouco investimento governamental. Ainda que tenha sido bem sucedido ao promover a I Conferência Nacional de Políticas Públicas para LGBTs, que definiu o I Plano Nacio- nal de Promoção dos Direitos LGBT, ficou muito longe do mínimo necessário para um segmento populacional que perde um indivíduo a cada 27 horas por crime de ódio. Ainda seria implantado, em 2011, o Conselho Nacional de Combate à Discri- contribuições para o debate 36 • Direitos LGBTs minação e Promoção dos Direitos LGBT (CNDC). Boa parte do trabalho inicial do CNDC foi preparatório com vistas à reali- zação da II Conferência. De nada adianta ter Plano se não há atitude e vontade política para concretizá- -lo, por parte de um governo que cede ao conservadorismo e ao fundamentalismo religioso. Segundo Mello (2010), o Brasil não difere muito de países como Ugan- da na questão de políticas públicas para LGBTs. Sendo assim, não surpreende que sejamos um país com uma presidenta que “não faz propaganda de ‘opção’ sexual” por pressão de fundamentalistas, mas que diz que “feliz é a nação cujo Deus é o Senhor”. Pode-se concluir, pela análise histórica do que vem sendo realizado, que as políticas públicas para LGBTs no Brasil estão limita- das a planos, conferências e conselhos. De mudanças na vida prática de LGBTs, muito pouco. O kit anti-homofobia nas escolas foi vetado, assim como o foram propagandas a respeito do uso de preservativos no Carna- val. O projeto de lei de criminalização da LGBTfobia foi arquivado, e os avanços de direitos para LGBTs vêm, tão somente, do Poder Judiciário. Seria o bastante no país que concentra 50% dos assassinatos de pes- soas trans e travestis do mundo? No país em que a expectativa de vida dessa popula- ção é de 30 anos? Está adequado fazer isso onde adolescentes LGBTs têm um risco de suicídio cinco vezes maior que adolescen- tes heterossexuais e cis? Não há dúvidas de que não. O governo federal precisa, urgen- temente, ter coragem para avançar, paran- do de negociar direitos e vidas em nome do conforto de sua governabilidade. No en- tanto, sabemos, infelizmente, que o gover- no petista não tem mais força política para se livrar da cilada da “governabilidade” que ele mesmo criou. Toda essa inércia governamental leva à perpetuação da LGBTfobia institucio- nal. Porto Alegre, recentemente, negou a inclusão do debate de diversidade sexual e de gênero nas escolas por meio da Câmara de Vereadores. As escolas, que poderiam tornar-se espaços de convivência e tolerân- cia, continuarão sendo espaços traumáti- cos para LGBTs, se depender do governo municipal. Na saúde, apesar de a Portaria 2.836 de 2011 do Ministério da Saúde bus- car combater a LGBTfobia no âmbito do Sistema Único de Saúde, não há ações prá- ticas de conscientização dos trabalhadores e de promoção da igualdade. Na área da segurança, as políticas públicas são motivo de pavor, principalmente para a população de travestis e transexuais, perversamente selecionada pelo sistema penal como ele- mento suspeito a priori. A solução para essa situação é simples: efetivação do Estado laico, afirmação de direitos e mobilização. Se precisamos lidar com um governo que rifa direitos e nego- cia vidas, não resta outro caminho senão aquele que trouxe aos setores oprimidos da sociedade todas as suas conquistas: organi- zação, mobilização conectada às necessi- dades de nosso tempo e exigência firme de reconhecimento de direitos. Nem um pas- so atrás pode ser dado. As vozes do atraso serão jogadas na lata de lixo da História, pois o avanço daqueles e daquelas que lu- tam pode ser retardado, mas jamais será barrado. À luta! Marcelo Rocha Médico da Estratégia Saúde da Família de Porto Alegre Mestrando em Saúde Coletiva e Estudante de Direito/UFRGS Setorial de Saúde do PSOL contribuições para o debate Direitos LGBTs • 37 LGBTs e escolas: uma relação (ainda!) problemáticapor Ana Paula de Souza dos Santos & Cristian Nunes O ambiente escolar é o primeiro espa- ço de socialização para muitas crianças, ali elas se conectam com outras condições de vida e se entendem como um ser coletivo. Infelizmente o bullying é uma realidade triste das escolas, desde pequeno a socieda- de separa “o gordo”, “o negro” e outras de- finições opressoras que prejudicam muito a formação da personalidade das crianças. Os LGBTs sofrem a mesma coisa. Hoje, nas escolas, o que mais acontece são os ca- sos de LGBTfobia, onde muitos têm medo de assumir a sua orientação sexual para não sofrer represálias. Falta capacitação dos professores, que muitas vezes também cometem atos LGBTfóbicos, alimentando a intolerância e o preconceito. As travestis e transexuais sofrem ainda mais, porque nem nas escolas estão, onde 90% delas vai para a prostituição e tem expectativa de vida de 30 anos. Em 2011, a presidenta Dilma vetou um programa importante de inclusão de deba- tes LGBTs nas escolas, deixando claro que a sua “governabilidade” não tem espaço para o combate a LGBTfobia, tapando o sol com a peneira ao tratar de um problema que existe e é concreto para milhares de jovens. Os conservadores também se mobili- zaram para tirar o debate de “orientação sexual e identidade de gênero” dos Planos de Educação, onde o movimento LGBT lu- tou muito para manter metas importantes de combate à intolerância. Infelizmente em diversos Estados e cidades do país os rea- cionários venceram essa queda de braço, mas o importante é que temos uma cate- goria de professores que sabe que a LGB- Tfobia é um problema que deve ser colo- cado na agenda escolar em Porto Alegre. A ATEMPA (Associação dos Trabalhadores em Educação do Município de Porto Ale- gre) vai construir um plano de inclusão nas escolas que debata esses temas retirados na Câmara de Vereadores. O governo brasileiro e suas bancadas conservadoras tentam tornar invisível algo que existe e tem grande relevância: um LGBT morre todo dia no Brasil e esse número vem aumentando cada vez mais. Ainda assim, não se pode esperar nada dos governos que estão aí, por isso a nossa saí- da é a mobilização permanente dos LGBTs na luta por mais respeito nas escolas e pela garantia do direito de ser e amar quem qui- ser. Ana Paula de Souza dos Santos Presidente do Grêmio Estudantil do Colégio Estadual Protásio Alves Cristian Nunes Grupo de Trabalho Estadual do Juntos! RS contribuições para o debate 38 • Direitos LGBTs Mídia e população LGBT: (In)visibilidade,
Compartilhar