Buscar

Cartilha LGBT

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 88 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 88 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 88 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

Direitos LGBTs • 1
Bancada do PSOL na
Assembleia Legislativa do RS
Deputado Pedro Ruas
Conheça o que foi conquistado e lute por mais direitos!
D i r e i t o s 
2 • Direitos LGBTs
 Direitos LGBTs • 3
Índice
Apresentação • Luciana Genro
conheça seus direitos
legislação federal
legislação estadual
legislação municipal
jurisprudência
PROJETOS PSOL
contribuições para o debate
Movimento LGBT no Brasil - uma luta por 
nenhum direito a menos! 
Welynton Almeida
Os desafios de LGBTs no Brasil: por 
mais representatividade, contra o 
fundamentalismo! 
Luciano Victorino
Visibilidade e diversidade - novas famílias 
e formas de ser e amar 
Alessandra Bohm
A quem pertence o espaço público? Quem 
não é considerado humano, logo, passa 
a não ser e deixa de ter necessidades 
fisiológicas? 
Sofia Favero
Políticas Públicas para LGBTs no Brasil 
Marcelo Rocha
LGBTs e escolas: uma relação (ainda!) 
problemática 
Ana Paula de Souza dos Santos & 
Cristian Nunes
Mídia e população LGBT: (In)visibilidade, luta 
política e representatividade 
Samir Oliveira
Direito de Adoção 
Roberto Seitenfus
Criminalização da LGBTfobia 
Setorial LGBT do Juntos! RS
As Pessoas LGBTI e seus Direitos 
Maria Berenice Dias
A Luta por Reconhecimento Legal: Estatuto 
da Diversidade Sexual 
Leonardo Ferreira Mello Vaz
Casamento Civil Igualitário 
Setorial LGBT do Juntos! RS
Luta de Classes e Opressões no Contexto 
do Sistema Capitalista 
Fernanda Melchionna
nós duas 
Marliane Ferreira dos Santos & 
Cristina Azevedo Gonçalves
saiba mais
filmes
livros
questões frequentes
glossário
contatos úteis
5
6
7
10
13
15
18
24
25
27 
31 
33
35
37
38
41
43
45
47
48
51
54
55
56
61
69
75
82
Créditos e Agradecimentos
Esta cartilha é resultado de extenso trabalho e de um 
esforço cooperativo. A bancada do PSOL na Assembleia 
Legislativa do Rio Grande do Sul e o mandato do 
deputado Pedro Ruas agradecem aos autores e às autoras 
dos textos desta cartilha, que muito contribuem para um 
debate qualificado nas questões referentes aos direitos de 
LGBTs. O PSOL é parceiro das lutas da população LGBT 
e agradece sua receptividade em nossas ações. Estamos 
juntos por mais direitos!
Organização e Planejamento
Luciana Krebs Genro
Luciano Victorino da Silva
Marcelo Rocha Garcia
Marliane Ferreira dos Santos
Revisão
Samir Rosa de Oliveira
Welynton Almeida Bezerra
Apoio
Setorial LGBT do coletivo Juntos!
Ilustrações
Laerte
Projeto Gráfico e Diagramação
Louise Kanefuku
 Direitos LGBTs • 5
Apresentação
Luciana genro
Amigos e amigas, 
Lésbicas, gays, bissexuais, travestis e 
transgêneros são uma parte da popula-
ção que, por muito tempo, foi invisibili-
zada. Isso vem mudando, graças à luta e 
à coragem de todos e todas que não se 
deixam intimidar pelo reacionarismo. Te-
nho muito orgulho de ter sido a primeira 
candidata à Presidência da República que 
levou o problema da violência LGBTfóbi-
ca e da demanda pelos direitos LGBTTs 
para o debate político e para os debates 
presidenciais. 
Mas, diante do avanço das nossas 
pautas, há uma clara tentativa de impor o 
retrocesso, de impedir a conquista de no-
vos direitos e de criminalizar quem não se 
enquadra no estereótipo da dita “norma-
lidade”. Escondidos atrás de uma hipócri-
ta defesa da família, os fundamentalistas, 
encabeçados por Eduardo Cunha, querem 
destruir as famílias LGBTTs, impedir os 
casamentos, as adoções, as manifestações 
públicas de carinho. Querem continuar 
condenando os e as travestis e transgê-
neros à marginalidade e ao subemprego. 
Querem continuar fechando os olhos para 
a violência, física e psicológica, que todos 
os dias vitima a população LGBTT. Que-
rem convencer a sociedade de que é preci-
so encontrar uma “cura” para esses supos-
tos “desvios”. Sim, nós também estamos 
em busca de cura. Cura para a homofobia, 
para a transfobia, para a lesbofobia, para 
a bifobia. Cura para quem sofre da doen-
ça chamada PRECONCEITO. E há cura! 
Essa cura se chama educação libertária e 
legislação que garanta mais direitos.
A bancada do PSOL na Assembleia 
Legislativa apresenta esta cartilha com a 
pretensão de contribuir nessa luta, ofere-
cendo à população um manual dos direi-
tos LGBTTs que já estão assegurados em 
lei e um mapa das lutas que ainda estamos 
travando. Esperamos, dessa forma, con-
tribuir para o combate ao preconceito e 
ajudar a empoderar a população LGBTT 
para exigir respeito aos seus direitos. Es-
peramos também contribuir para unir 
todos e todas na batalha para conquistar 
mais direitos. 
Nem um passo atrás, temos o mundo 
a ganhar!
Um abraço,
Luciana Genro
Coordenadora da Bancada do PSOL na 
Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul
Presidente da Fundação Lauro Campos
luciana.genro@al.rs.gov.br
6 • Direitos LGBTs
conheça seus direitos
Ainda há muito a se conquistar, mas algumas leis, 
documentos e decisões judiciais fizeram os direitos 
de LGBTs progredirem nos últimos anos. Essas leis e 
decisões podem ser usadas em casos de violação de 
direitos como mais uma maneira de proteger as pessoas 
da discriminação. Conheça-as e, além de lutar por mais 
direitos, faça valer os direitos já conquistados!
6 • Direitos LGBTs 
 Direitos LGBTs • 7
legislação federal
legislação federal
A legislação em nível federal ainda é 
muito limitada, muito em virtude da força 
da bancada fundamentalista no Congresso 
Nacional, mas também em virtude da pou-
ca vontade política de alguns setores me-
nos conservadores para avançar.
Além da dificuldade de avançar, as 
conquistas já estabelecidas, como a Resolu-
ção do Conselho Federal de Psicologia que 
impede a tentativa da chamada “cura gay”, 
vêm sofrendo grandes ataques. A mobili-
zação permanente é essencial para avançar 
e para não retroceder.
direitos trabalhistas
A portaria 41 do Ministério do Traba-
lho e Emprego, de 28 de março de 2007, 
proíbe empregadores de exigir documen-
tos discriminatórios ou obstativos para 
contratação, incluindo dados relativos à 
sexualidade. Quaisquer anotações na Car-
teira de Trabalho e Previdência Social que 
desabonem o trabalhador e que se refiram 
ao seu gênero ou orientação sexual, entre 
outros, são consideradas discriminatórias. 
O descumprimento dessa portaria pode 
gerar penalidades à empresa.
O que fazer para garantir esse direito?
A pessoa vítima de discriminação no 
trabalho pode realizar denúncia na Superin-
tendência Regional do Trabalho e Emprego 
do Rio Grande do Sul, na Av. Mauá, nº 1013 
– Centro Histórico – Porto Alegre/RS, ou 
pelo telefone (51) 3213-2800.
Direitos Previdenciários
A Instrução Normativa do INSS nº 20, 
de 10 de outubro de 2007, prevê o benefí-
cio de pensão por morte e auxílio-reclusão 
à(ao) parceira(o) homossexual, referente a 
óbitos ou prisões ocorridas a partir de 5 de 
abril de 1991, exigindo-se apenas a compro-
vação de vida em comum. O companheiro 
ou a companheira homossexual integram 
o rol de dependentes do(a) segurado(a) e 
tem direito aos mesmos benefícios que teria 
um casal heterossexual. A alteração veio a 
partir de uma decisão judicial reconhecen-
do esse direito, na Ação Civil Pública nº 
2000.71.00.009347-0, e foi garantida após a 
instituição da união estável e do casamento 
entre homossexuais pelo Poder Judiciário.
O que fazer para garantir esse direito?
Desde a Ação Civil Pública nº 2000.71. 
00.009347-0, o INSS tem reconhecido os 
direitos previdenciários acima, bastando 
comprovação da vida em comum, que pode 
ser realizada por registro em cartório, união 
estável, casamento etc. Embora o INSS pre-
tenda ainda reverter a decisão nos tribunais 
superiores, até estemomento a norma vale 
em todo o território nacional. Em caso de 
descumprimento, pode-se recorrer ao Po-
der Judiciário.
legislação federal
8 • Direitos LGBTs
Proteção contra Violência 
A Lei 11.340/06 (Maria da Penha) ex-
pressa nos artigos 2º e 5º a sua abrangência 
também a casais de lésbicas, protegendo a 
companheira agredida de forma igual aos 
casos envolvendo heterossexuais. A Lei Ma-
ria da Penha prevê proteção à mulher vítima 
de violência física, psicológica, sexual, pa-
trimonial e moral. Há uma decisão judicial 
que reconhece a aplicabilidade da Lei Maria 
da Penha também para mulheres trans.
O que fazer para garantir esse direito?
O Supremo Tribunal Federal decidiu, 
em fevereiro de 2012, que a Lei Maria da 
Penha tem validade mesmo sem denúncia 
da vítima. A agressão contra a mulher pode 
ser denunciada 24 horas por dia, através 
de ligação para o número 180 (Central de 
Atendimento à Mulher), sendo garantido o 
anonimato da vítima ou de quem denunciar 
– qualquer pessoa próxima da mulher pode 
ser denunciante. A Central de Atendimento 
à Mulher (180) tira dúvidas e oferece infor-
mações a respeito da Lei Maria da Penha e 
atendimento psicológico, jurídico e social 
à mulher vítima de violência, orientando 
como agir e procurar ajuda. A denúncia 
pode ser feita, ainda, diretamente na polícia, 
pelo número 190 ou prestando queixa em 
qualquer Delegacia de Defesa da Mulher.
Direito à Identidade 
Vários órgãos já se manifestaram a 
respeito da adoção do nome social. O Pa-
recer Técnico 141/2009 do Ministério da 
Educação expõe a posição favorável do 
MEC à adoção do nome social nas esco-
las e reconhece a competência de Estados 
e municípios para decidir sobre o tema, 
mas sublinha a necessidade de respeito à 
dignidade da pessoa humana expressa na 
Constituição. A Portaria 233, de 18 de maio 
de 2010, do Ministério do Planejamento, 
Orçamento e Gestão assegura o direito do 
uso do nome social aos servidores públicos 
federais na administração direta, autárquica 
e fundacional, mesmo direito garantido aos 
assistentes sociais por meio da Resolução 
615/2011 do Conselho Federal de Serviço 
Social (CFESS) nos documentos profissio-
nais. O Ministério da Saúde garante o uso 
do nome social de travestis e transexuais no 
SUS por meio da Portaria nº 2.836, de 1º de 
dezembro de 2011.
O que fazer para garantir esse direito?
No caso de servidores públicos fede-
rais, a mudança do nome de registro civil 
para o nome social deve ser solicitada na 
unidade de identificação funcional do local 
de lotação da pessoa interessada. No caso 
do CFESS, a solicitação deve ser realizada 
no respectivo Conselho Regional de Servi-
ço Social. Já no SUS, o Cartão Nacional de 
Saúde (Cartão SUS) pode ser confeccionado 
em qualquer unidade de atenção primária à 
saúde (posto de saúde), sendo solicitada no 
Cartão SUS a presença do nome social.
Direito à saúde
A Resolução nº 1/99 do Conselho Fe-
deral de Psicologia impede ações de psicó-
logos no sentido de agir coercitivamente a 
orientar homossexuais a tratamentos não 
solicitados e ações que favoreçam a patolo-
gização da homossexualidade, assim como 
impede que se pronunciem publicamen-
te de modo a reforçar preconceitos sociais 
existentes em relação a homossexuais como 
portadores de desordem psíquica. É ela que 
não permite a tentativa da chamada “cura 
gay”, que gera apenas maior sofrimento 
 Direitos LGBTs • 9
legislação federal
psíquico na população LGBT, que não é 
portadora de desordem psíquica por ser 
LGBT. A Portaria nº 2.836, do Ministério da 
Saúde, institui a Política Nacional de Saúde 
Integral de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Tra-
vestis e Transexuais (Política Nacional de 
Saúde Integral LGBT) no âmbito do SUS, 
com objetivo de combater a discriminação 
e o preconceito institucional no SUS para a 
redução das desigualdades, e garante aces-
so ao processo transexualizador na rede do 
SUS, além de outras providências.
O que fazer para garantir esse direito?
Psicólogos que descumpram a Resolu-
ção 01/1999 do CFP devem ser denuncia-
dos em seu respectivo Conselho Regional 
de Psicologia. A discriminação no âmbito 
do SUS deve ser denunciada na Ouvido-
ria do SUS, número 136. Em Porto Alegre, 
também pode ser utilizada a ouvidoria da 
Prefeitura, pelo número 156. No caso de di-
ficuldades de acesso, pode-se exigir, inclusi-
ve, o cumprimento do dever constitucional 
de prestação de atendimento pelo Estado no 
Poder Judiciário.
Em resumo
Portaria 41 do Ministério do 
Trabalho e Emprego (28/03/2007): 
impede a discriminação no tra-
balho.
Instrução Normativa do INSS nº 
20 (10/10/2007): garante direitos 
previdenciários a companheiro (a) 
homossexual em caso de óbito ou 
prisão do (a) cônjuge, retroativo a 5 
de abril de 1991.
Lei Maria da Penha (Lei 11.340/06): 
garante proteção à mulher agredi-
da pela companheira de modo ex-
presso, nos mesmos moldes que 
em uma relação heterossexual.
Parecer Técnico 141/2009 do Mi-
nistério da Educação: aconselha 
Estados e municípios a adotar 
nome social nas escolas como 
forma de evitar evasão escolar de 
pessoas trans.
Portaria 233 do Ministério do Pla-
nejamento (18/05/2010): assegura 
direito de uso do nome social a 
pessoas trans servidoras públicas 
federais.
Resolução 615/2011 do Conselho 
Federal de Serviço Social: assegu-
ra direito de uso do nome social a 
assistentes sociais nos documen-
tos profissionais.
Portaria nº 2.836 do Ministério da 
Saúde (01/12/2011): possibilita o 
uso do nome social nas instâncias 
do Sistema Único de Saúde, com-
bate a LGBTfobia institucional no 
SUS e garante acesso ao processo 
transexualizador na rede pública.
Resolução nº 1/99 do Conselho 
Federal de Psicologia: impede 
ações relacionadas à “cura gay” e 
proíbe psicólogos de emitir opini-
ões que reforçam preconceitos e 
estereótipos e a ideia de homosse-
xualidade como comportamento 
patológico.
NOME
NOME
legislação estadual
10 • Direitos LGBTs
legislação estadual
Algumas das leis mais avançadas no 
combate à discriminação por diversidade 
de orientação sexual e de gênero no Bra-
sil estão em âmbito estadual e municipal. 
As punições trazidas por elas, no entanto, 
não têm caráter penal, pois crimes só po-
dem ser definidos por lei federal. De modo 
geral, são leis em âmbito administrativo, 
muitas vezes desconhecidas do público e 
cuja eficácia se torna bastante limitada se 
não houver exigência de sua aplicação pe-
las pessoas ofendidas. No Estado do Rio 
Grande do Sul, as legislações englobam:
direito à identidade
O Decreto 49.122/2012 instituiu no 
nosso Estado a Carteira de Nome Social 
para Travestis e Transexuais, sendo direito 
de todas e todos. O Decreto 48.118/2011 
garante a essas pessoas o direito à escolha 
pelo nome social, independente do registro 
civil, nos procedimentos e atos dos Órgãos 
da Administração Direta e Indireta, com o 
nome civil reservado para uso interno na 
instituição, apenas. Esse mesmo decreto 
autoriza as escolas estaduais a incluir nome 
social nos registros escolares, como forma 
de diminuição da evasão escolar da popu-
lação T. Nesse sentido, é interessante citar, 
ainda, o Parecer 739/2009 do Conselho Es-
tadual de Educação, que aconselha escolas 
do Sistema Estadual de Ensino a adotar o 
nome social.
O que fazer para garantir esse direito?
Para fazer a Carteira de Nome Social, 
basta a pessoa interessada comparecer a 
um posto de identificação (mesmos locais 
que confeccionam carteira de identidade, 
como o Tudo Fácil, por exemplo) com a 
certidão original de nascimento e a última 
via da carteira de identidade. A emissão da 
carteira é gratuita, mas haverá cobrança de 
taxa no caso de necessidade de emissão de 
segunda via. A escolha pelo nome social nos 
atos da AdministraçãoPública deve ser feita 
na apresentação para atendimento e no pre-
enchimento de documentos (inclusive nas 
escolas estaduais), estando o servidor que se 
negar a habilitar o uso do nome social su-
jeito a penalidades. Denúncias em caso de 
descumprimento desse decreto podem ser 
realizadas pelo número 100, o Disque De-
núncia de violações a Direitos Humanos.
Combate à discriminação e 
ao preconceito
A Lei Estadual 11.872/2002 é a lei anti-
discriminação do Rio Grande do Sul. Essa 
Lei foi concebida para realizar a promoção e 
o reconhecimento da liberdade de orienta-
ção, prática, manifestação, identidade, pre-
ferência sexual, abrangendo em seus efeitos 
protetivos pessoas naturais e jurídicas que 
sofrerem qualquer medida discriminatória 
em virtude de sua ligação com integran-
tes de grupos discriminados. Para garantir 
isso, a Lei define um rol de atos atentatórios 
rio grande do sul
 Direitos LGBTs • 11
legislação estadual
à dignidade, incluindo ofensas coletivas e 
difusas, e sujeita a ela todas as pessoas, fí-
sicas ou jurídicas, que mantêm relação com 
a Administração Pública Estadual, direta ou 
indireta, inclusive aquelas que exercem ati-
vidades econômicas ou profissionais sujei-
tas à fiscalização estadual. A Administração 
Pública Estadual também está sujeita à Lei, 
que ainda inclui proteção a trabalhadores 
públicos e privados LGBTs.
Atos atentatórios à dignidade na abran-
gência da Lei Estadual 11.872/2002:
• A prática de qualquer tipo de ação violen-
ta, constrangedora, intimidatória ou vexa-
tória, de ordem moral, ética, filosófica ou 
psicológica;
• Proibir o ingresso ou permanência em 
qualquer ambiente ou estabelecimento pú-
blico ou privado, aberto ao público;
• Praticar atendimento selecionado que não 
esteja devidamente determinado em lei;
• Preterir, sobretaxar ou impedir a hospeda-
gem em hotéis, motéis, pensões ou simi-
lares;
• Preterir, sobretaxar ou impedir a locação, 
compra, aquisição, arrendamento ou em-
préstimo de bens móveis ou imóveis de 
qualquer finalidade;
• Praticar o empregador, ou seu preposto, 
atos de demissão direta ou indireta, em 
função da orientação sexual do emprega-
do;
• A restrição à expressão e à manifestação de 
afetividade em locais públicos ou privados 
abertos ao público, em virtude das caracte-
rísticas previstas no art. 1º;
• Proibir a livre expressão e manifestação 
de afetividade do cidadão homossexual, 
bissexual ou transgênero, sendo estas ex-
pressões e manifestações permitidas aos 
demais cidadãos;
• Preterir, prejudicar, retardar ou excluir, em 
qualquer sistema de seleção, recrutamen-
to ou promoção funcional ou profissional, 
desenvolvido no interior da Administra-
ção Pública Estadual direta ou indireta;
• A recusa de emprego, impedimento de 
acesso a cargo público, promoção, treina-
mento, crédito, recusa de fornecimento de 
bens e serviços ofertados publicamente, e 
de qualquer outro direito ou benefício le-
gal ou contratual ou a demissão, exclusão, 
destituição ou exoneração fundados em 
motivação discriminatória.
Penalidades previstas na Lei Estadual 
11.872/2002 a quem pratique atos atenta-
tórios:
• Advertência;
• Multa;
• Rescisão do contrato, convênio, acordo 
ou qualquer modalidade de compromisso 
celebrado com a Administração Pública 
direta ou indireta;
• Suspensão da licença estadual para funcio-
namento por 30 (trinta) dias;
• Cassação da licença estadual para funcio-
namento;
• No caso de servidores públicos estaduais, 
as penalidades aplicáveis são as previstas 
no Estatuto do Servidor Público.
O que fazer para garantir esse direito? 
A prática dos atos discriminatórios 
abrangidos pela Lei 11.872/2002 é apura-
da mediante processo administrativo, que 
pode ser iniciado por reclamação da pessoa 
ofendida, por comunicado de organizações 
não-governamentais ou, ainda, por ato ou 
legislação estadual
12 • Direitos LGBTs
ofício de autoridade competente. Denún-
cias podem ser realizadas pelo número 100, 
o Disque Denúncia de violações a Direitos 
Humanos. NOME
NOME
em resumo
Decreto 48.118/2011: garante a 
pessoas trans o direito de escolha 
do nome social nos procedimen-
tos dos órgãos da Administração 
Direta e Indireta do Estado.
Decreto 49.122/2012: institui a 
Carteira de Nome Social em âm-
bito estadual.
Parecer 739/2009: aconselha es-
colas do Sistema Estadual de En-
sino a adotar o nome social.
Lei Estadual 11.872/2002: lei an-
tidiscriminação do Estado do Rio 
Grande do Sul, bastante abran-
gente, protegendo quanto a diver-
sos atos atentatórios e prevendo 
penalidades a pessoas físicas e 
jurídicas que pratiquem tais atos.
 Direitos LGBTs • 13
legislação municipal
legislação municipal
No Rio Grande do Sul, Porto Alegre 
e Novo Hamburgo são as cidades com 
leis municipais protetivas dos direitos de 
LGBTs.
> em porto alegre:
Combate à Discriminação 
e ao Preconceito
O artigo 150 da Lei Orgânica Munici-
pal define que “os estabelecimentos comer-
ciais, industriais, prestadores de serviços 
entidades educacionais, creches, hospitais, 
associações civis, públicas ou privadas que, 
por seus proprietários, prepostos ou repre-
sentantes praticarem atos discriminatórios 
a gays, lésbicas, travestis, transexuais, bis-
sexuais ou a qualquer pessoa em decorrên-
cia de sua orientação sexual, sofrerá pena 
de multa e/ou suspensão do alvará de fun-
cionamento”. Essa lei tem se mostrado inó-
cua em Porto Alegre, pela total paralisia da 
promoção de políticas públicas que temos 
testemunhado na Capital. Ainda assim, é 
importante exigir sua aplicação e fiscalizar 
as atitudes dos gestores públicos para pro-
moção desse direito.
O que fazer para garantir esse direito?
As denúncias devem ser feitas na Secre-
taria Adjunta da Livre Orientação Sexual, 
situada à Rua dos Andradas, nº 1.643/402, 
ou pelo Disque Denúncia dos Direitos Hu-
manos de Porto Alegre, pelo número 0800-
642-0100, de segunda a sexta-feira, das 
8h30min às 18h.
Educação para a 
Diversidade
A Lei 8.423/2004 estabelece no sistema 
municipal de ensino a Educação Antirra-
cista e Antidiscriminatória, incluindo-se a 
temática “discriminação de orientação se-
xual”.
O que fazer para garantir esse direito?
Embora alguns parlamentares conser-
vadores tenham garantido a exclusão do 
debate de diversidade sexual e de gênero do 
Plano Municipal de Educação, já existe, há 
11 anos, uma lei que garante o combate à 
discriminação em Porto Alegre. Infelizmen-
te, não vem sendo aplicada, sendo papel dos 
movimentos sociais e dos representantes 
das vozes progressistas nos cargos públicos 
exigir a efetivação desse direito.
direito à identidade
Projeto de lei recentemente aprovado na 
Câmara de Vereadores (PLL 151/14) assegura 
a travestis e transexuais, ao serem atendidos 
em estabelecimentos privados, em órgãos da 
Administração Direta e em entidades da Ad-
ministração Indireta do Município de Porto 
Alegre, o direito à utilização de seu nome 
social constante na Carteira de Nome Social 
para Travestis e Transexuais, instituída pelo 
Decreto Estadual nº 49.122, de 17 de maio 
de 2012, e determina que esses locais façam 
constar em seus cadastros gerais o nome so-
porto alegre e novo hamburgo
legislação municipal
14 • Direitos LGBTs
cial utilizado por travestis e transexuais.
O que fazer para garantir esse direito?
A Carteira de Nome Social deve ser feita 
nos postos de identificação (ver Seção Le-
gislação Estadual). Estabelecimentos que 
não cumpram essa lei devem ser denuncia-
dos na Secretaria Adjunta da Livre Orien-
tação Sexual, situada à Rua dos Andradas, 
nº 1.643/402, ou pelo Disque Denúncia dos 
Direitos Humanos de Porto Alegre, pelo 
número 0800-642-0100, de segunda a sex-
ta-feira, das 8h30min às 18h.
> em novohamburgo:
Combate à Discriminação e 
ao Preconceito
Novo Hamburgo conta com uma lei an-
tidiscriminação específica, a Lei Municipal 
1.549/2007. Ela busca a promoção e o reco-
nhecimento da liberdade de orientação, prá-
tica, manifestação, identidade, preferência 
sexual, a partir da definição de penalidades 
aos estabelecimentos localizados no muni-
cípio que discriminem pessoas em virtude 
de sua orientação sexual. A lei entende dis-
criminação como: constrangimento ou ex-
posição ao ridículo, proibição ou cobrança 
extra para ingresso ou permanência em lo-
cal de acesso ao público geral, atendimento 
diferenciado ou selecionado, preterimento 
quando da ocupação e/ou imposição de pa-
gamento de mais de uma unidade, nos casos 
de hotéis, motéis ou similares, preterimento 
em aluguel ou aquisição de imóveis para fins 
residenciais, comerciais ou de lazer, preteri-
mento em exames, seleção ou entrevista para 
ingresso em emprego, preterimento em rela-
ção a outros consumidores que se encontrem 
em idêntica situação e adoção de atos de co-
ação, de ameaça ou de violência. Considera-
se infrator dessa Lei a pessoa que direta ou 
indiretamente tiver concorrido para o come-
timento da infração. As sanções previstas são 
multa, suspensão ou cassação de alvará para 
estabelecimentos, e suspensão ou afastamen-
to para agentes do poder público.
O que fazer para garantir esse direito?
Todo e qualquer cidadão pode comuni-
car às autoridades competentes qualquer vio-
lação à Lei Municipal 1.549/2007. O Disque 
Denúncia da cidade funciona pelo telefone 
(51) 3288-5100. A cidade conta, ainda, com 
um Centro de Referência em Direitos Huma-
nos, que funciona de segunda a sexta-feira, 
das 9 às 18 horas, com atendimento no 3º an-
dar da Casa da Cidadania – Rua David Ca-
nabarro, nº 20, Centro, Novo Hamburgo/RS.
em resumo
Em Porto Alegre:
Lei Orgânica Municipal (art. 150): 
impõe pena de multa ou de sus-
pensão de alvará a estabeleci-
mentos que pratiquem atos discri-
minatórios a LGBTs.
Lei 8.423/2004: estabelece educa-
ção antidiscriminatória no Siste-
ma Municipal de Ensino.
PLL 151/14 (aprovado na CMPA): 
assegura direito ao uso do nome 
social constante na Carteira de 
Nome Social Estadual nos órgãos 
da Administração Direta e Indireta.
Em Novo Hamburgo:
Lei Municipal 1.549/2007: lei anti-
discriminação da cidade de Novo 
Hamburgo, protege quanto a vá-
rias atitudes discriminatórias e 
estabelece punição para estabe-
lecimentos e agentes do poder 
público.
NOME
 Direitos LGBTs • 15
jurisprudência
jurisprudência
Algumas decisões do Poder Judiciá-
rio garantem direitos às pessoas LGBTs. 
Os maiores avanços nesse tema no Brasil, 
como o casamento civil igualitário e a pos-
sibilidade de adoção, vieram dessa manei-
ra. Esses são os direitos com que devemos 
ter maior cuidado frente às tentativas de 
retrocesso, pois, sendo aprovadas leis con-
trárias no Congresso, esses direitos podem 
ser perdidos. Mesmo já tendo sido con-
quistados, a mobilização continua sendo 
necessária para que eles se tornem leis e, 
assim, definitivos.
A garantia desses direitos, com exceção 
dos que já tiveram decisões vinculantes 
(que devem ser seguidas por todo o Poder 
Judiciário em nível nacional), isto é, os di-
reitos de reconhecimento de união estável 
e do casamento civil, só se dá mediante 
ação judicial.
união estável
O Supremo Tribunal Federal reconhe-
ceu no dia 05 de maio de 2011, em deci-
são unânime ao julgar a Ação Direta de 
Inconstitucionalidade (ADI) 4277 e a Ar-
guição de Descumprimento de Preceito 
Fundamental (ADPF) 132, a equiparação 
da união homossexual à heterossexual. A 
decisão tem efeito vinculante, ou seja, deve 
ser seguida por todo o Poder Judiciário e 
alcança toda a sociedade. Os ministros do 
STF reconheceram que a relação homosse-
xual é uma família e afirmam que um ca-
decisões judiciais
sal não heterossexual, numa união estável, 
tem os mesmos direitos de um casal hete-
rossexual nessa situação. Adoção de filhos, 
pensão/aposentadoria, plano de saúde e 
herança são alguns dos exemplos.
O que fazer para garantir esse direito?
Todo cartório de registro civil no terri-
tório nacional é obrigado a registrar a união 
estável, independentemente do gênero dos 
ou das cônjuges. Caso um cartório negue-
se a realizar a união, deve ser denunciado 
na Corregedoria-Geral da Justiça, estando 
sujeito a sanções administrativas e, até mes-
mo, ao fechamento. A Corregedoria pode 
ser acessada no Palácio da Justiça do Rio 
Grande do Sul (Praça Marechal Deodoro, 
55 – Centro – Porto Alegre/RS) ou pelo te-
lefone (51) 3210-7265.
casamento civil
A Resolução 175/2013 do Conselho Na-
cional de Justiça garante a possibilidade de 
conversão da união estável em casamento 
civil, nos mesmos moldes do casamento he-
terossexual.
O que fazer para garantir esse direito?
O casamento deve ser realizado em car-
tório de registro civil, em situação análoga à 
da união estável. A Resolução 175/2013 do 
CNJ não deixa dúvidas ao apontar que, em 
casos de negação do registro do casamento, 
o juiz corregedor deverá ser imediatamente 
notificado para tomar as providência cabí-
veis, por isso a importância da denúncia na 
jurisprudência
16 • Direitos LGBTs
Corregedoria-Geral da Justiça. As sanções 
possíveis são as mesmas do caso da união 
estável. A Corregedoria pode ser acessa-
da no Palácio da Justiça do Rio Grande do 
Sul (Praça Marechal Deodoro, 55 – Centro 
– Porto Alegre/RS) ou pelo telefone (51) 
3210-7265.
Qual a diferença entre união 
estável e casamento?
Ambas as modalidades de relação 
caracterizam núcleo familiar, tendo o 
mesmo status e sem diferença quanto a 
direitos. No entanto, algumas diferenças 
existem entre elas:
Formação: o casamento é uma rela-
ção definida por ato formal, ou seja, por 
meio de uma celebração realizada por juiz 
de paz ou por juiz de direito. Já a união es-
tável se dá no plano dos fatos – mesmo 
sendo possível sua formalização em um 
tabelionato de registro de notas, basta a 
convivência entre os ou as cônjuges for-
mando o núcleo familiar para que se reco-
nheça a união estável. 
Extinção: da mesma forma, a extinção 
do casamento se dá de maneira formal, 
mediante homologação judicial, enquanto 
a da união estável se dá no momento em 
que as pessoas deixam de morar juntas.
Regime de bens: no casamento, há 
a possibilidade de escolha do regime de 
bens entre comunhão total de bens, co-
munhão parcial de bens, separação total 
de bens e participação final nos aquestos. 
Já a união estável não gera essas possi-
bilidades, atingindo somente os bens ad-
quiridos onerosamente durante a vigência 
da união. Além disso, diferentemente do 
casamento, na união não há a figura do 
herdeiro necessário (quando cônjuge não 
pode ser retirado (a) da herança por tes-
tamento, tendo direito a 50%, no mínimo, 
da herança). 
Estado civil: somente o casamen-
to gera o estado civil de casado (a). Não 
existe o estado civil “união estável”. O ca-
samento é, assim, dotado de maior segu-
rança jurídica.
Além dessas diferenças, é importante 
frisar que dar a LGBTs os mesmos direitos 
que possuem heterossexuais cis, com os 
mesmos nomes, é essencial para garantir 
igualdade jurídica a essa população. Por 
isso, consideramos inaceitável que, sob a 
justificativa de que a união estável gera os 
mesmos direitos que o casamento, seja 
negado a LGBTs o direito do casamento.
Violência Doméstica
Em outubro de 2011, uma sentença em 
Anápolis, Goiás, reconheceu aplicabilida-
de da Lei 11.340/06 (Maria da Penha) no 
caso de agressão de um parceiro cis a uma 
parceira trans, que não havia retificado sua 
identidade civil e mantinha o nome de re-
gistro. É uma decisão importante, que re-
conhece a violência sobre gênero indepen-
dente dea pessoa ser cis ou trans, apesar de 
o Congresso Nacional manter sua posição 
reacionária de considerar mulher apenas as 
mulheres cis.
Adoção e Guarda
O direito à adoção por pessoas LGBTs 
vem sendo reconhecido cada vez mais pe-
los tribunais, incluindo adoção conjunta 
com o nome de dois pais ou de duas mães. 
Tribunais de treze Estados, incluindo o Rio 
Grande do Sul, já tiveram decisões nesse 
 Direitos LGBTs • 17
jurisprudência
sentido. Isso ocorreu também em decisões 
do Superior Tribunal de Justiça e do Supre-
mo Tribunal Federal. Da mesma forma, já 
foi reconhecido por tribunais de BA, SP, RJ 
e RS o direito de guarda e visita em caso de 
dissolução de uniões homossexuais.
Companheiro(a) 
Estrangeiro(a)
Tribunais Regionais Federais têm reco-
nhecido o direito de visto de permanência a 
estrangeiros(as) em uniões estáveis homos-
sexuais com brasileiros(as).
dependentes
A Justiça do Trabalho já reconheceu o 
direito à entrada como dependente de côn-
juge homossexual nos benefícios a com-
panheiros(as) dos(as) empregados, assim 
como diversos Tribunais Regionais Federais 
reconheceram a possibilidade de designa-
ção da categoria de dependente para outros 
fins, como plano de saúde, Imposto de Ren-
da etc.
Alimentos (pensão)
Decisões dos tribunais do DF, RJ, MT, 
RS e do Superior Tribunal de Justiça já 
reconheceram, por analogia à união estável 
entre heterossexuais, o direito à pensão por 
alimentos à (ao) cônjuge após a dissolução 
da união. 
Direito à Identidade
São muitas as decisões judiciais que ga-
rantiram retificação de registro civil a tra-
vestis e transexuais por todo o Brasil. Elas 
ocorrem mais facilmente após cirurgia de 
redesignação genital, mas também há casos 
de mudança de nome e, inclusive, de gênero 
no registro civil mesmo sem cirurgia. Sen-
tenças estrangeiras, em caso de retificação 
no Exterior, costumam ser homologadas 
pela Justiça brasileira. Ainda na temática 
do direito à identidade, ocorreu decisão em 
2014 reconhecendo uma candidata trans 
como parte do preenchimento da cota de 
gênero feminino para eleições proporcio-
nais.
18 • Direitos LGBTs
projetos do psol
O PSOL está na linha de frente, ao lado de LGBTs, 
na luta por mais direitos. Nossos mandatos não se 
omitem frente ao fundamentalismo e ao retrocesso, e são 
instrumentos à disposição dos movimentos sociais na 
busca por uma sociedade mais justa, fraterna e igualitária. 
Por isso, apresentamos projetos em todas as esferas com 
o objetivo de promover mais cidadania para as pessoas 
LGBTs.
18 • Direitos LGBTs 
projetos psol
 Direitos LGBTs • 19
Congresso Nacional
No Legislativo federal, o principal re-
presentante de LGBTs é o deputado Jean 
Wyllys, do PSOL/RJ. Jean é o único par-
lamentar no Congresso assumidamente 
LGBT em um grupo de 513 deputados e 81 
senadores, defendendo o avanço de direi-
tos contra uma bancada fundamentalista e 
conservadora muito organizada.
Projeto de Lei João Nery
O projeto de lei da Identidade de Gê-
nero, conhecido como Lei João Nery, que 
está em trâmite no Congresso Nacional, 
concede o direito a transexuais de terem 
a identidade reconhecida conforme sua 
declaração, sem necessidade de realização 
de uma cirurgia de redesignação genital. 
Hoje, travestis e transgêneros podem so-
licitar a mudança de nome e gênero nos 
documentos oficiais após se submeterem a 
cirurgias de redesignação genital. Em seu 
artigo 3º, o projeto estabelece que “toda 
pessoa poderá solicitar a retificação regis-
tral de sexo e a mudança do prenome e da 
imagem registradas na documentação pes-
soal, sempre que não coincidam com a sua 
identidade de gênero autopercebida”. O pa-
rágrafo único deste artigo define que “em 
nenhum caso serão requisitos para altera-
ção do prenome: intervenção cirúrgica de 
transexualização total ou parcial; terapias 
hormonais; qualquer outro tipo de trata-
mento ou médico; autorização judicial”. 
É um projeto extremamente relevante e 
avançado, que compreende a identidade de 
gênero como efetivamente é, uma constru-
ção social não necessariamente ligada às 
características anatômicas dos seres huma-
nos. Além disso, o PL João Nery contribui 
para a despatologização das pessoas trans. 
Atualmente, elas precisam de um laudo 
psicológico para requisitar na Justiça a mu-
dança de prenome em seus documentos. O 
PL João Nery elimina essa necessidade.
O Projeto de Lei João Nery vem sendo 
atacado por setores conservadores, religio-
sos e pela mídia tradicional, com argumen-
tos que, além de exalar todo o atraso de seus 
argumentadores, demonstram muito desco-
nhecimento a respeito da questão da transe-
xualidade. O colunista Rogério Mendelski, 
do jornal Correio do Povo, foi um dos que 
atacou o projeto e o deputado Jean Wyllys. 
Confira a resposta de Luciana Genro para o 
colunista:
Prezado Mendelsky, 
Agradeço este espaço para prestar alguns 
esclarecimentos. Primeiro queria dizer que 
temos muito orgulho de contar com o Jean 
Wyllys como deputado do PSOL. Ele tem 
uma história de vida de superação e cora-
gem. Viveu uma infância de privações, fome 
e preconceito. Conseguiu superar a pobreza 
através do estudo e do trabalho. É o primeiro 
deputado federal da história do Brasil que as-
sumiu publicamente ser homossexual – e com 
muito orgulho! Sua coragem ajudou muita 
gente a lutar contra o preconceito. 
jean willys
projetos psol
20 • Direitos LGBTs
Sobre o tema da identidade de gênero, 
é preciso dizer que isto não é uma invenção 
do Jean e nem do movimento LGBT. É uma 
realidade. Todos possuímos uma identidade 
de gênero. A maioria das pessoas se identifica 
com o gênero de nascimento. Mas muitas pes-
soas, não. Cabe ao Estado ter políticas públi-
cas que garantam direitos às pessoas que não 
se identificam com o gênero de nascimento. 
São travestis e transexuais, que sofrem todo 
tipo de discriminação. A começar pela pró-
pria escola, de onde acabam expulsos. Isso 
não retira das famílias a autonomia sobre a 
educação das crianças e sim busca comba-
ter a discriminação, algo que não faz parte 
de nenhuma educação que seja digna desta 
qualificação. 
O projeto do Jean assegura direitos para 
combater a transfobia institucionalizada e a 
patologização de qualquer expressão de gêne-
ro que desvie daquela considerada “normal” 
ou “aceitável” pela sociedade. Ele assegura, 
por exemplo, acesso a tratamentos a fim de 
adequar o corpo da pessoa à expressão de sua 
identidade de gênero. Nos Estados Unidos e 
na Argentina esses direitos já são assegura-
dos.
É absurdo pensar que, se o PL 5002/2013 
for aprovado, uma criança vai ter o direito 
fazer uma cirurgia de readequação genital – 
popularmente conhecida como “mudança de 
sexo” - em um procedimento sumário. Dizer 
isso é promover a desinformação e o precon-
ceito em cima de um assunto que costuma 
causar conflitos e muita dor nos casos em que 
a família não acolhe seus filhos LGBTs. Em 
defesa da família, é bom lembrar que uma 
família que não acolhe um filho ou uma 
filha LGBT é uma família que afasta essa 
pessoa de seu convívio e desta forma sim, 
destrói a própria família. 
Quando há conflito entre o adolescente 
e sua família, e ele fica desassistido, cabe ao 
Estado zelar pelos seus direitos e pelo exercí-
cio destes direitos de forma responsável. Todo 
o projeto do Jean é balizado pelo Estatuto da 
Criança e do Adolescente, uma lei reconhe-
cida internacionalmente pelo avanço que 
significou, muito embora não seja aplicada 
plenamente. 
Por fim, gostaria de dizer que o PSOL não 
defende nenhum governante que dissemine o 
preconceito e a discriminação contra LGBTs 
e que o PSOL não identifica, em nenhum go-
verno existente, um modelo a ser seguido de 
forma acrítica. Aliás, nosso partido se chama 
Partido Socialismoe LIBERDADE, justa-
mente para nos diferenciar de experiências 
autoritárias que não correspondem à socie-
dade libertária que almejamos.
Grata pela atenção, 
Luciana Genro
Projeto de Lei do 
Casamento Igualitário
O deputado federal Jean Wyllys proto-
colou na Câmara dos Deputados o Projeto 
de Lei 5.120/2013, que regulamenta o Ca-
samento Civil Igualitário, ou seja, o casa-
mento civil entre pessoas do mesmo sexo. 
Apresentou, também, proposta de emenda 
constitucional (PEC), para alterar o artigo 
226 da Constituição Federal, reconhecen-
do a união estável e o casamento para ca-
sais hetero e homossexuais. No entanto, o 
casamento igualitário virou uma realidade 
no Brasil por meio do Judiciário: após as 
sentenças do STF — que reconheceu que 
os casais do mesmo sexo podem constituir 
uma família e têm direito à união estável 
com os mesmos requisitos e efeitos que as 
projetos psol
 Direitos LGBTs • 21
uniões estáveis de homem e mulher — e do 
STJ — que reconheceu o direito ao casa-
mento civil de um casal de lésbicas do Rio 
Grande do Sul —, diferentes casais come-
çaram a inscrever suas uniões estáveis e 
pedir à justiça a conversão em casamento. 
Teve uma primeira sentença favorável, e 
depois outra, e mais outra. Logo, os juízes 
começaram a admitir que, se os casais do 
mesmo sexo podem registrar a união es-
tável e convertê-la em casamento, não há 
razão para que eles não possam se casar de 
forma direta. E as corregedorias estaduais 
começaram a regulamentar essa possibili-
dade em até treze estados, mais o Distrito 
Federal. Em todos esses estados, qualquer 
casal poderia realizar seu casamento ci-
vil. Era só ir no cartório e marcar a data! 
Faltava, todavia, uma regulamentação na-
cional que impedisse que os casais de São 
Paulo tivessem mais direitos que os do Rio 
de Janeiro e os da Bahia mais do que os de 
Pernambuco, por exemplo. Precisávamos 
de uma única regra para todo o país. Por 
isso, o mandato do dep. Jean Wyllys entrou 
com um pedido no Conselho Nacional da 
Justiça (CNJ) e, pouco depois, o juiz Joa-
quim Barbosa, presidente do Conselho — e 
do STF — assinou a decisão 175/2013, que 
regulamenta o casamento civil entre pesso-
as do mesmo sexo em todo o Brasil. Desde 
14 de maio de 2013, todos os brasileiros 
e todas as brasileiras têm direito ao casa-
mento civil. Falta, ainda, que o Legislativo 
entenda o que o Judiciário já entendeu e 
se liberte das amarras do fundamentalis-
mo religioso — que é racista, homofóbico, 
machista e inimigo das liberdades indi-
viduais — e aprove os projetos de lei e de 
emenda constitucional que o mandato de 
Jean apresentou, para garantir o direito ao 
casamento igualitário na Constituição e no 
Código Civil.
criminalização da 
LGBTfobia
Após o Congresso arquivar o PLC 122, 
que criminalizava a homofobia, o manda-
to do deputado Jean começou a estudar a 
apresentação de novo projeto no sentido de 
coibir a violência contra LGBTs. Esse pro-
jeto ainda será apresentado pelo deputado.
projetos psol
22 • Direitos LGBTs
Assembleia Legislativa 
do Rio Grande do Sul
Em nosso Estado, o deputado Pedro 
Ruas compõe a bancada do PSOL. Mesmo 
com um mandato de pouco mais de 6 me-
ses, Ruas já apresentou projeto para pro-
mover a cidadania LGBT no RS.
Projeto de Lei de Inclusão 
de Orientação Sexual e 
Identidade de Gênero no 
Registro de Boletins de 
Ocorrência
Os alarmantes dados de violência con-
tra LGBTs geraram, até hoje, pouca ou ne-
nhuma reação dos aparelhos estatais. Esse 
projeto visa incluir os itens “orientação 
sexual”, “identidade de gênero” e “nome 
social” no registro de boletins de ocorrên-
cia. A partir dessa inclusão, o Estado do 
Rio Grande do Sul poderá ter estatísticas 
oficiais a respeito de crimes motivados por 
LGBTfobia. Além disso, os julgamentos de 
crimes de ódio contra LGBTs poderão ter 
levada em consideração essa motivação.
pedro 
ruas
projetos psol
 Direitos LGBTs • 23
Câmara Municipal 
de Porto Alegre
No Legislativo municipal, a bancada do 
PSOL é constituída pela vereadora Fernan-
da Melchionna e pelo vereador Prof. Alex 
Fraga. Mesmo que as legislações munici-
pais tenham pouca abrangência na temáti-
ca LGBT, nossa bancada atua nas possibili-
dades existentes.
Projeto de Lei de Isenção de 
ISSQN para Empresas que 
Contratarem Pessoas T
Segundo a ANTRA, Associação Nacio-
nal de Travestis e Transexuais, noventa por 
cento das pessoas travestis e transexuais 
estão na prostituição. A escola e o mercado 
de trabalho são verdadeiros locais de tortu-
ra psicológica para essas pessoas, que têm 
seu direito à identidade vilipendiado dia-
riamente. Mesmo quando são qualificadas 
para as vagas a que concorrem, são prete-
ridas. E, quando são contratadas, não raro 
são totalmente desrespeitadas em sua iden-
tidade de gênero, tendo o direito ao nome 
social e ao banheiro adequado à identidade 
de gênero completamente negados. Para 
combater a discriminação no mercado de 
trabalho, nossa bancada apresentou pro-
jeto de lei que isenta em 20% do ISSQN 
empresas que contratarem pelo menos 5% 
de travestis e transexuais do total de em-
pregados.
Projeto de educação para a 
diversidade
Como presidente da Comissão de De-
fesa do Consumidor, Direitos Humanos 
e Segurança Urbana (CEDECONDH), a 
vereadora Fernanda Melchionna compõe, 
junto à sociedade e a outros parlamentares 
– entre eles o Prof. Alex Fraga –, projeto de 
educação para a diversidade nas escolas. 
Essa ideia foi aprovada tendo em vista os 
altos índices de evasão escolar da popula-
ção LGBT, em especial da população T.
fernanda melchionna e prof. alex fraga
projetos psol
24 • Direitos LGBTs
contribuições 
para o debate
24 • Direitos LGBTs 
contribuições para o debate
 Direitos LGBTs • 25
Movimento LGBT no Brasil 
- uma luta por nenhum 
direito a menos!por Welynton Almeida
O movimento LGBT tem seu marco 
inicial com o Levante de Stonewall, ocor-
rido em 1969, nas ruas de Nova Iorque. 
Na época, a homossexualidade era consi-
derada pela ciência e pela sociedade como 
uma doença. Uma grande parte dos países, 
como Estados Unidos e Portugal, conside-
rava a prática homossexual como crime. 
Como acontece com cidadãos considera-
dos de segunda categoria, locais frequen-
tados por LGBTs eram reiteradamente alvo 
de invasões policiais, geralmente truculen-
tas. Em 28 de julho de 1969, no entanto, 
LGBTs deram um basta na crueldade poli-
cial e se rebelaram, gerando vários dias de 
conflitos.
No Brasil, a história do movimento 
LGBT começa seu caminho para o que 
conhecemos hoje no final dos anos 1970. 
Cabe mencionar que, na década anterior, 
alguns grupos homossexuais foram cria-
dos, porém, com foco na socialização de 
seus membros como uma outra opção aos 
guetos, que eram os espaços de convívio 
destinados para LGBTs até o momento.
Ainda no final da década de 1970, te-
mos a formação de grupos de grande im-
portância para o movimento, que defen-
diam transformações sociais que atingiam 
além da população LGBT. É o caso do SO-
MOS, reconhecido por ter tido um caráter 
mais politizado em sua atuação, tornando-
se referência para demais grupos. Tam-
bém houve o Jornal Lampião da Esquina, 
importante veículo de comunicação que 
facilitou a articulação do movimento em 
meio à ditadura vigente. Ambos passaram 
por diversos momentos e alterações inter-
nas (inclusive fragmentações, no caso do 
SOMOS), ora conectando a luta por mais 
direitos LGBTs com as demais lutas das mi-
norias, ora em conflito entre o idealizado 
e a prática, eventualmente caindo em con-
tradições. 
Quase na virada para 1980 acontece, 
no Rio de Janeiro, o primeiro encontro de 
homossexuais militantes, com a presença 
de diversos grupos de diferentes Estados 
e municípios. De encaminhamentos,o en-
contro tirou ações como inclusão na Cons-
tituição Federal do respeito à “opção sexu-
al” (como chamavam na época – por não 
ser uma opção, hoje chamamos de orienta-
ção sexual) e a remoção da homossexuali-
dade da lista de transtornos mentais.
Já nos anos 1980, apesar do término da 
ditadura militar, o movimento enfraquece 
e tem o número de grupos significativa-
mente diminuído. Essa fase é marcada pela 
descoberta de muitos casos de AIDS (Sín-
drome da Imunodeficiência Adquirida). A 
doença, causada pelo vírus HIV, foi cruel-
mente imputada ao comportamento sexual 
de LGBTs, sendo apelidada de peste gay, 
câncer gay, entre outros adjetivos desuma-
nos. Muito se justifica a partir desse ponto. 
contribuições para o debate
26 • Direitos LGBTs
O movimento LGBT entra em xeque. Ao 
passo que pautávamos a luta pela liberdade 
sexual, enfrentávamos a sua desmoraliza-
ção. É fato que, diante da ineficiência no 
combate à doença, alguns dos militantes 
LGBTs redefiniram seus focos, centralizan-
do seus esforços no combate à AIDS. Mas 
também é fato que muitos não aderiram à 
causa, dada a força e o grau de negatividade 
dessa associação.
É nessa conjuntura que outros grupos 
também importantes como o Triângulo 
Rosa e o Grupo Gay da Bahia atuam. Esses 
grupos tinham como estratégia de militân-
cia a interferência na política, partidária in-
clusive. Foi o Triângulo Rosa, por exemplo, 
que articulou a tentativa de incluir orienta-
ção sexual na Constituinte de 1988 – sem 
sucesso. No final dos anos 1980 o movi-
mento LGBT volta a crescer, como fruto 
dos esforços de sua militância no combate 
à AIDS. O governo repassa a supervisão de 
projetos de combate à doença aos grupos, 
levando muitos a começarem a se organi-
zar em formato de organização não-gover-
namental.
O movimento ressurge, de fato, nos 
anos 1990, ganhando espaço na mídia tra-
dicional e visibilidade por meio da orga-
nização da população LGBT e vinculando 
nossa luta pelo direito de ser e amar à luta 
por direitos humanos. Entramos nessa dé-
cada tendo a homossexualidade retirada da 
lista de doenças da Organização Mundial 
de Saúde. Os grupos também começam a 
adquirir mais pluralidade, tendo grupos 
lésbicos, gays, bissexuais e de pessoas T. O 
movimento LGBT vem em constante as-
censão, visível já no início dos anos 2000 
quando da realização da Parada de Orgu-
lho LGBT, em São Paulo, que reuniu mais 
de quinhentas mil pessoas. No mesmo ano, 
como comparativo, na França e nos Esta-
dos Unidos as paradas reuniram cerca de 
250 e 300 mil pessoas, respectivamente. A 
última parada LGBT de São Paulo, reali-
zada em junho de 2015, reuniu mais de 2 
milhões de pessoas.
Ao contrário do que muitos afirmam, 
as paradas de luta LGBT são espaços de 
extremo valor para nós, que ainda lutamos 
por direitos negados. São dias de celebra-
ção pelo orgulho de sermos quem somos e 
amarmos quem amamos, e são dias de luta, 
onde protestamos e denunciamos nossa 
invisibilidade, os crimes de ódio contra 
nós, o Estado omisso, a falta de segurança, 
educação e emprego, principalmente para 
pessoas T. 
É essencial que o movimento LGBT 
siga se inovando, sem perder nosso caráter 
de luta, ocupando as ruas e a política. Nos-
sa história já mostrou que somos capazes 
de inverter a lógica que nos oprime. Há 
muita lógica de opressão para ser invertida, 
há muito que se conquistar. Devemos nos 
espelhar nas Travestis, Transexuais, Tran-
gêneros, Lésbicas, Bissexuais e Gays que, 
no Levante de Stonewall, responderam à 
polícia e ao Estado e disseram um basta aos 
espancamentos e humilhações. Devemos 
nos espelhar em LGBTs que resistiram aos 
anos extremamente difíceis da ditadura, e 
juntos responder aos dados alarmantes que 
apontam a gritante violência contra nós, 
em especial no Brasil, que segue liderando 
o ranking das estatísticas de assassinatos de 
LGBTs.
Sigamos construindo nossa história de 
luta e resistência!
Acesso ao acervo do jornal Lampião 
da Esquina: www.grupodignidade.org.br/
blog/cedoc/jornal-lampiao-da-esquina/
Welynton Almeida
Coordenador de Diversidade Sexual e 
Identidade de Gênero do DCE/UFRGS
contribuições para o debate
 Direitos LGBTs • 27
Os desafios de LGBTs 
no Brasil: por mais 
representatividade, contra 
o fundamentalismo!
por Luciano 
Victorino
Todos os anos, milhões de lésbicas, 
gays, bissexuais, travestis e transexuais 
(LGBTs) ocupam as ruas em paradas do 
orgulho LGBT para celebrar o Levante de 
Stonewall e reivindicar igualdade. Vivemos 
tempos de urgência nas lutas sociais, dian-
te de uma crise política e econômica que 
se agrava a cada dia. Por isso, precisamos 
traçar tarefas para este período de ataques 
à classe trabalhadora e aos setores oprimi-
dos da sociedade, dentre eles, a população 
LGBT. O sistema político-econômico, que 
prioriza o lucro em detrimento da vida, e 
o governo federal, que se ancora em um 
modelo econômico antipopular baseado 
em pactos com partidos conservadores de 
direita e fundamentalistas, não têm condi-
ções de avançar nas pautas democráticas.
Historicamente, foi tarefa das vozes 
progressistas lutar contra o conservado-
rismo de líderes religiosos facínoras. Há 
uma tentativa de barrar os direitos LGBTs 
com os mesmos argumentos utilizados por 
aqueles que, no século XIX, serviram de 
justificativa para a Igreja Católica escra-
vizar os negros e negras – ao afirmar que 
essas pessoas não tinham alma. Essa argu-
mentação também se expressou na metade 
do século XX, quando se tentou evitar o ca-
samento entre pessoas brancas e negras nos 
Estados Unidos, sob a justificativa moralis-
ta da “destruição da família tradicional”. 
São esses os argumentos que estão suben-
tendidos e, muitas vezes, explícitos quando 
se trata da oposição aos direitos da popula-
ção LGBT. Quem se dedica a militar contra 
os nossos direitos está do mesmo lado da 
História que todos aqueles que defende-
ram a escravidão, a Inquisição, o aprisio-
namento das mulheres em seus casamen-
tos (mediante a proibição do divórcio) e a 
proibição do casamento inter-racial.
O conservadorismo de ditos represen-
tantes dos evangélicos no Brasil (que não 
representam muitos dos religiosos, tole-
rantes e empáticos com o próximo) não é 
dado novo, tendo em vista que possuem 
uma formação baseada no fundamentalis-
mo bíblico, no puritanismo e no sectaris-
mo. Os líderes religiosos, de maneira geral, 
têm se mostrado a serviço da manutenção 
do status quo e das opressões, o que foi 
verificado com o silenciamento da Igreja 
Católica frente aos horrores do nazismo e 
com a omissão dos líderes religiosos frente 
à implantação da ditadura militar no Bra-
sil. Isso tornou possível o alinhamento de 
boa parte das lideranças evangélicas com o 
governo golpista.
contribuições para o debate
28 • Direitos LGBTs
No Brasil, a luta por igualdade para 
LGBTs tem muitas décadas e se intensifi-
cou recentemente. No começo de 2013, to-
mamos as ruas para protestar contra a pre-
sença do fundamentalista Marco Feliciano 
(PSC/SP) na presidência da Comissão de 
Direitos Humanos e Minorias (CDHM) da 
Câmara Federal. Meses depois, as Jornadas 
de Junho foram, para nós, uma continua-
ção dessa luta de décadas por direitos hu-
manos básicos, sempre negados.
A chegada ao poder do Partido dos 
Trabalhadores (PT), em 2003, fez com que 
LGBTs vislumbrassem ter, finalmente, seus 
direitos básicos. No entanto, o que se ve-
rificou foi um alinhamento do PT ao regi-
me, com governos permeados por alianças 
fisiológicas. Foi no governo Dilma que 
Marco Feliciano foi alçado à presidência 
da CDHM da Câmara, após uma negocia-
ta em nome da dita governabilidade. Foi a 
própria presidente que sustentou que não 
faria “propaganda de ‘opção’ sexual” ao ve-
tar a educação para a diversidade nas esco-
lascom o kit anti-homofobia. Enquanto, na 
campanha eleitoral de 2014, Luciana Gen-
ro mandava o candidato machista do PSDB 
Aécio Neves não levantar o dedo para ela, 
Dilma baixa a cabeça para o machismo de 
Jair Bolsonaro (PP/RJ), o deputado apolo-
gista do estupro que compõe a base aliada 
do PT. O governo federal faz tantos acor-
dos sob o pretexto de obter governabili-
dade que se tornou refém de suas próprias 
relações espúrias. E, com tanta concessão, 
não tem capacidade política para avançar.
No Congresso Nacional, a situação é 
ainda pior. As concessões e os escândalos 
de corrupção dos governos petistas possi-
bilitaram às forças conservadoras a opor-
tunidade de se reorganizar e contra-atacar 
com força total. Segundo o Departamento 
Intersindical de Assessoria Parlamentar 
(Diep), o Legislativo eleito em 2014 é o 
mais conservador do período pós ditadu-
ra. Não à toa, os fundamentalistas têm se 
articulado para barrar os avanços que te-
mos conquistado ao longo dos anos. Com 
mais de 70 deputados, os evangélicos se 
organizam como “bancada” no Congresso 
e utilizam-se de seus mandatos parlamen-
tares, que deveriam estar a serviço dos di-
reitos de todo o povo, para atacar e tentar 
retirar direitos daqueles a quem conside-
ram cidadãos de segunda classe. Enquanto 
isso, a representação de LGBTs está restrita 
a um deputado apenas, que briga contra 
toda essa bancada: o deputado Jean Wyllys 
(PSOL/RJ). É apenas um LGBT assumido 
em um universo de 513 na Câmara Federal.
O atual inimigo número 1 de LGBTs 
é o presidente da Câmara Federal, Eduar-
do Cunha (PMDB/RJ). Cunha, que agora 
vira-se contra o PT, chegou à presidência 
da Câmara fruto de articulação política 
do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Sil-
va. Ele compõe a bancada evangélica e faz 
questão de atacar LGBTs em seus discur-
sos. Apresentou dois projetos que são ver-
dadeiros deboches à nossa luta: o do “Dia 
do Orgulho Heterossexual” (como se fosse 
necessário ter orgulho de pertencer a um 
grupo hegemonicamente aceito e privile-
giado) e o que criminaliza a “heterofobia” - 
como se heterossexuais apanhassem na rua 
e fossem mortos simplesmente por serem 
heterossexuais. Cunha é fruto do peso do 
fundamentalismo e das religiões no Con-
gresso. Patético e corrupto, o deputado não 
tem moral para legislar absolutamente so-
bre nada, pois é relacionado a escândalos 
de corrupção desde a época de Paulo César 
Farias (o PC Farias, tesoureiro de campa-
nha de Fernando Collor de Mello), passan-
do pelo Mensalão e chegando, finalmente, 
à atual Operação Lava-Jato. Cunha mani-
festa repulsa ao beijo gay na televisão, mas 
contribuições para o debate
 Direitos LGBTs • 29
não parece ter repulsa a assaltar os cofres 
públicos e se locupletar às custas do povo.
Toda essa articulação das Igrejas nada 
mais é, porém, que uma contraofensiva aos 
inúmeros direitos que LGBTs têm conquis-
tado através da organização ao longo dos 
últimos anos. Por iniciativa do corajoso 
mandato do deputado Jean Wyllys, con-
seguimos a regulamentação do casamento 
civil igualitário no Conselho Nacional de 
Justiça. Lutamos, agora, para que seja apro-
vado seu Projeto de Lei “João Nery”, que 
avançará no direito à identidade de gênero 
e à autodeterminação sobre os corpos a tra-
vestis, transexuais e transgêneros.
Precisamos, todavia, avançar ainda 
mais. O Brasil hoje é responsável por 50% 
das mortes da população transexual no 
mundo – um verdadeiro escândalo. Nessa 
população, a expectativa de vida não passa 
dos 30 anos, comparados aos 75 anos da po-
pulação geral. Como se não bastasse, nosso 
país é o que mais mata LGBTs no mundo 
– um a cada 27 horas, segundo relatório 
do Grupo Gay da Bahia. Nesse contexto, o 
Governo Dilma não avança; ao contrário, 
retrocede. Com seus acordos eleitorais, PT 
e PCdoB se mostram inoperantes na defesa 
dos direitos humanos e entregam a CDHM 
da Câmara a pastores fundamentalistas.
Não podemos nos iludir: o governo fe-
deral não pauta as questões LGBTs e não as 
pautará. E, agora, a situação é ainda mais 
crítica. Com a política de ajuste fiscal e a 
nomeação de um ministério conservador, 
o governo se mostra ainda menos disposto 
a garantir direitos e aprovar políticas pú-
blicas para LGBTs. Por isso, a luta LGBT 
não pode ser desvinculada da luta contra 
os ajustes e, em hipótese alguma, pode ser 
submetida a acordos para chegar ao poder. 
O aumento das tarifas e os cortes de verbas 
afetam diretamente a comunidade LGBT 
e mostram que o governo já escolheu um 
lado, que não é o lado do povo. A extinção 
de secretarias LGBTs em alguns Estados 
é só um exemplo de como os ajustes nos 
afetam e mostra que as promessas feitas a 
nós são vazias. A luta LGBT tem um lado, 
e com certeza não é daqueles que fazem 
lindos adesivos LGBTs na campanha elei-
toral para logo depois ceder à pressão do 
fundamentalismo, debochando daqueles 
que acreditam na possibilidade de avanços. 
Não queremos a unidade com aqueles que 
estão lado a lado no Congresso e no gover-
no com fundamentalistas.
A organização da luta em torno de um 
projeto concreto é essencial. Nesse con-
texto, dois acontecimentos recentes foram 
responsáveis por uma maior politização 
e mobilização em torno do debate sobre 
questões de gênero e diversidade sexual. O 
primeiro, como já falado, foram as Jorna-
das de Junho de 2013, que cumpriram um 
papel fundamental para a auto-organiza-
ção dos mais diversos movimentos sociais 
e para a consolidação de um novo método 
de se fazer política. Percebemos o nosso 
protagonismo para a construção de uma 
sociedade mais igualitária e solidária.
Outro recente processo que teve as de-
mandas do movimento LGBT como uma 
das discussões centrais foram as eleições 
presidenciais de 2014. Luciana Genro, 
candidata a presidente pelo PSOL, teve 
coragem de levar a questão das opressões 
sofridas por LGBTs pela primeira vez em 
um debate de presidenciáveis na televisão. 
“A ausência de educação a respeito desses 
temas nas escolas faz falta. Homofobia, les-
bofobia e transfobia matam”, disse Luciana 
Genro. Após suas intervenções, a pauta 
LGBT esteve presente como nunca nos de-
bates presidenciais. De “nanica”, Luciana 
contribuições para o debate
30 • Direitos LGBTs
passou a uma gigante no combate ao pre-
conceito.
Os mesmos que queimaram LGBTs, 
mulheres e crentes de outras religiões na 
fogueira da Inquisição na Idade Média 
tentam ceifar nossos direitos e invisibilizar 
nossas vivências no Brasil da atualidade. 
Para reverter esse quadro, precisamos for-
talecer as lutas de LGBTs e de todos aque-
les e aquelas que não silenciam diante do 
preconceito. Afinal, o Brasil só teve a união 
estável reconhecida pelo Supremo Tribunal 
Federal a partir do fortalecimento das pa-
radas de luta LGBT, das paradas livres e dos 
avanços das lutas por liberdades democrá-
ticas e direitos civis. Precisamos continu-
ar organizados nas ruas e levar essa nossa 
organização na luta para os Parlamentos, 
onde LGBTs possam, eleitos e eleitas, vo-
calizar o que está engasgado na garganta 
de milhões de nós: dizer que existimos, 
que não voltaremos para o armário e que 
não queremos privilégios. Nossa luta é por 
representatividade, é por igualdade... é por 
direitos!
Luciano Victorino
Estudante de Direito da Universidade Federal 
do Rio Grande do Sul
Coordenador-Geral do DCE da UFRGS
Juntos! LGBT
contribuições para o debate
 Direitos LGBTs • 31
Visibilidade e diversidade - 
novas famílias e formas de 
ser e amar
por 
Alessandra 
Bohm
“(...) Muitas crianças vivem com a mãe 
e o pai. Mas muitas outras vivem apenas 
com o pai... ou só com a mãe. Algumas vi-
vem com a avó e o avô. Algumas crianças 
têm duas mães ou dois pais. E algumas são 
adotivas ou afilhadas (...)”. A citação acima 
faz parte do livro infantilO Grande e Mara-
vilhoso Livro das Famílias. Assim como em 
alguns outros artefatos infantis, a temática 
das famílias homossexuais é tratada com o 
mesmo status de famílias heterossexuais.
Representações como essas favorecem 
o apreço à multiplicidade de constituições 
familiares e ensinam a importância da 
construção de concepções não preconcei-
tuosas e não discriminatórias. Um mode-
lo de educação que ensine valores de re-
conhecimento e de respeito aos modelos 
familiares formados por casais homosse-
xuais ou por outros arranjos que incluam 
sujeitos não heterossexuais é fundamental, 
já que no Brasil vivemos um momento de 
busca por conquistas no campo dos Direi-
tos Humanos no que diz respeito às ditas 
minorias sexuais.
Ao mesmo tempo em que os movimen-
tos sociais reivindicam direitos igualitários 
para LGBTTs, uma forte onda reacionária 
e conservadora (em sua maioria formada 
por políticos ligados às religiões neopen-
tecostais) tenta reafirmar o erro histórico 
de considerar as diversidades sexuais como 
de caráter patológico e pecaminoso. Um 
exemplo de práticas políticas que buscam 
instituir o não reconhecimento desses no-
vos arranjos familiares e a não aquisição de 
direitos da população LGBTT é o Estatuto 
da Família. Trata-se de um projeto de lei 
(PL 6583/2013 da Câmara dos Deputados) 
que define como família casais formados 
por um homem e uma mulher, desconsi-
derando outros arranjos familiares forma-
dos por casais homossexuais e também por 
casais heterossexuais sem relação de des-
cendência.
Neste campo de disputas políticas, a te-
mática “família” é protagonista no que diz 
respeito ao reconhecimento e equidade na 
aquisição de direitos, já que cada vez mais 
as pessoas estão tornando público o que ao 
longo da história sempre ocorreu: a vivên-
cia dos afetos com pessoas do mesmo sexo 
e a constituição de família a partir desse ar-
ranjo. O não reconhecimento social e a dis-
criminação que muitas vezes famílias não 
heterossexuais sofrem são circunstâncias 
que as diferem de famílias tradicionais. As-
sim, família é todo núcleo capaz de amar, 
de cuidar e de respeitar seus membros.
O discurso da família desestruturada, 
muito em voga em diversos espaços so-
ciais, não contempla diversos outros ar-
ranjos familiares. Um país que respeita a 
diversidade e as múltiplas configurações 
saiba mais
32 • Direitos LGBTs
familiares se dará a partir da efetivação de 
políticas públicas que colaborem para o 
reconhecimento social, para a garantia de 
direitos da população LGBTT e do enten-
dimento de família como lugar de acolhi-
mento, carinho e respeito entre seus mem-
bros, independente do tipo de formação de 
gênero, de orientação sexual ou de grau de 
parentesco.
Alessandra Bohm
Psicopedagoga Clínica e Institucional
Mestra em Educação, Relações de Gênero 
e Sexualidade
Professora de Curso de Formação de 
Professores no I.E. Gen. Flores da Cunha.
contribuições para o debate
 Direitos LGBTs • 33
A quem pertence o espaço 
público? Quem não é considerado 
humano, logo, passa a não ser 
e deixa de ter necessidades 
fisiológicas?
por 
sofia favero
Travestis e transexuais ainda sofrem, 
atualmente no Brasil, uma marginalização 
compulsória; a esses indivíduos é negada 
a possibilidade de frequentar todo e qual-
quer terreno social. Essa noção perpassa a 
esfera micro e a esfera macro, seja na es-
cola ou no trabalho, essas pessoas acabam 
vendo-se impedidas de acessar, até mesmo, 
os banheiros. Cinco ou seis dias semanais, 
com duração mínima de um turno, em que 
esses indivíduos não poderão urinar ou 
defecar sem que, com isso, ocorra algum 
constrangimento, assédio, abuso, expulsão, 
agressão, humilhação ou exposição. Esse 
tratamento aversivo reflete na resistência 
que muitas travestis e transexuais passam 
a ter: elas simplesmente buscam evitar esse 
local e isso inclusive encerra em casos gra-
ves de incontinência urinária. 
Uma simples ida ao banheiro, o que pa-
rece ser um ato corriqueiro e habitual para 
os inteligíveis, os cisgêneros, causa bastan-
te desconforto e aflição para as travestis e 
transexuais. Qualquer sinal, ou não preen-
chimento de signos generificados, signifi-
cará ter a sua identidade deslegitimada por 
esses outros, finalizando em uma violência 
transfóbica ao ser, costumeiramente, ex-
pulsa daquele ambiente. 
Travestis e transexuais são ejetadas dos 
banheiros públicos, como os verdadeiros 
dejetos que a sociedade encara que são, e 
isso representa o resultado de um proces-
so de desumanização que, agenciado pelos 
considerados cidadãos de fato, mantém a 
existência de um projeto de ser humano 
que supostamente deu errado.
Não são gente, sequer precisam alimen-
tar-se: justifica a ausência de empregabili-
dade formal que rodeia esse contingente. 
Não são pessoas, nem mesmo demandam 
um lar: embasa o abandono familiar que 
integra parte da realidade de muitas tra-
vestis e transexuais. Não fazem parte da 
população, tampouco necessitam estudar 
com nossos filhos polidos: alicerça a eva-
são escolar e o descaso em relação ao nome 
social. Não são humanas, seus corpos ma-
terializam uma verdadeira aberração: fun-
damenta o imaginário de que existem os 
corpos naturais que, mesmo não configu-
rando em naturalidade alguma, possuem 
aparato estatal para transitar. 
Travestis e transexuais estão na mira 
de diversas violências abstratas, concretas, 
simbólicas e reais. É preciso desmistificar 
os espaços de alcance básico para que a 
contribuições para o debate
34 • Direitos LGBTs
pluralidade seja acolhida e resguardada. 
Infelizmente, como muitas mulheres cis, 
travestis e transexuais também são estu-
pradas. Empurrar essas pessoas para um 
banheiro frequentado por homens expres-
sa somente a maneira que a crueldade dos 
considerados humanos se manifesta. Tam-
bém não existem dados de homens cis que 
apresentem-se enquanto travestis ou tran-
sexuais para cometer tal crime; esse atenta-
do costuma ocorrer majoritariamente onde 
menos se espera: em casa. Medidas paliati-
vas que segregam e colocam em perigo um 
grupo de pessoas em detrimento do outro 
não deveriam ser senso comum. Mas, para 
a sociedade, algumas pessoas possuem 
mais valor que outras.
Ambos os banheiros binários possuem 
cabines e, nos ditos femininos, não existem 
mictórios. Esses fatos anulam qualquer su-
posta possibilidade de exposição anatômi-
ca por parte das travestis e transexuais. Se 
a sua preocupação é a de que alguém acabe 
visualizando o seu órgão genital, pasme, 
basta não urinar ou defecar na pia.
Sofia Favero
Estudante de Psicologia – Universidade 
Federal de Sergipe
Criadora e administradora da página Travesti 
Reflexiva
contribuições para o debate
 Direitos LGBTs • 35
Políticas Públicas para 
LGBTs no Brasil
por marcelo 
rocha
O Brasil, historicamente, vem relegan-
do a segundo plano as políticas públicas 
para os setores oprimidos de sua popula-
ção. A bem da verdade, as relações entre as 
leis e essas populações serviram muito mais 
à manutenção do status quo que a qualquer 
promoção de igualdade e de inclusão. Se é 
verdade que as grandes mudanças históri-
cas mundiais vieram através de mobiliza-
ções, em nosso país isso é especialmente 
verdadeiro. Não há qualquer menção de 
políticas públicas para LGBTs antes de o 
movimento LGBT erguer firmemente sua 
bandeira. Da mesma forma, as instituições 
de Estado, quando presentes, servem à 
promoção da exclusão, e não da inclusão, 
por meio de verdadeira LGBTfobia institu-
cional. A construção social do Brasil natu-
ralizou a existência de cidadãos e cidadãs 
considerados de segunda categoria, como 
mulheres, negros e negras e LGBTs. Essas 
pessoas não eram sujeitos de direito – ao 
contrário, muitas vezes sequer foram con-
siderados pela lei comosujeitos, mas sim 
como objetos. Foi o caso das mulheres pré-
Constituição de 1988, encaradas, do ponto 
de vista legal, como de propriedade de pais 
e maridos, e de negros e negras no período 
da escravização.
A emergência do HIV/AIDS na déca-
da de 1980, inicialmente entre a população 
homossexual masculina, obrigou o Estado 
brasileiro a direcionar sua primeira política 
pública para LGBTs, mais especificamente 
para gays, mas sem tratar especificamen-
te das demandas do movimento LGBT. 
Esse fato histórico fez com que, até hoje, 
as principais e mais efetivas políticas para 
LGBTs estejam na área da saúde. Em 2004, 
têm início a primeira ação de fato orienta-
da à promoção da igualdade da população 
LGBT: o programa Brasil sem Homofobia. 
Essa ação foi fruto da proximidade entre o 
Partido dos Trabalhadores (PT) e a Asso-
ciação Brasileira de Gays, Lésbicas, Bisse-
xuais, Travestis e Transexuais (ABGLT) à 
época.
Apesar do ineditismo, as iniciativas do 
PT redundaram em pouca aplicabilidade 
prática, especialmente a partir da intensi-
ficação da política de negociata de gover-
nabilidade adotada pelo governo federal. O 
Brasil sem Homofobia se caracterizou por 
ações dispersas e relacionadas principal-
mente a organizações não-governamen-
tais, com pouco aparato estatal e pouco 
investimento governamental. Ainda que 
tenha sido bem sucedido ao promover a I 
Conferência Nacional de Políticas Públicas 
para LGBTs, que definiu o I Plano Nacio-
nal de Promoção dos Direitos LGBT, ficou 
muito longe do mínimo necessário para 
um segmento populacional que perde um 
indivíduo a cada 27 horas por crime de 
ódio. Ainda seria implantado, em 2011, o 
Conselho Nacional de Combate à Discri-
contribuições para o debate
36 • Direitos LGBTs
minação e Promoção dos Direitos LGBT 
(CNDC). Boa parte do trabalho inicial do 
CNDC foi preparatório com vistas à reali-
zação da II Conferência.
De nada adianta ter Plano se não há 
atitude e vontade política para concretizá- 
-lo, por parte de um governo que cede ao 
conservadorismo e ao fundamentalismo 
religioso. Segundo Mello (2010), o Brasil 
não difere muito de países como Ugan-
da na questão de políticas públicas para 
LGBTs. Sendo assim, não surpreende que 
sejamos um país com uma presidenta que 
“não faz propaganda de ‘opção’ sexual” por 
pressão de fundamentalistas, mas que diz 
que “feliz é a nação cujo Deus é o Senhor”. 
Pode-se concluir, pela análise histórica do 
que vem sendo realizado, que as políticas 
públicas para LGBTs no Brasil estão limita-
das a planos, conferências e conselhos. De 
mudanças na vida prática de LGBTs, muito 
pouco. O kit anti-homofobia nas escolas foi 
vetado, assim como o foram propagandas a 
respeito do uso de preservativos no Carna-
val. O projeto de lei de criminalização da 
LGBTfobia foi arquivado, e os avanços de 
direitos para LGBTs vêm, tão somente, do 
Poder Judiciário. Seria o bastante no país 
que concentra 50% dos assassinatos de pes-
soas trans e travestis do mundo? No país 
em que a expectativa de vida dessa popula-
ção é de 30 anos? Está adequado fazer isso 
onde adolescentes LGBTs têm um risco de 
suicídio cinco vezes maior que adolescen-
tes heterossexuais e cis? Não há dúvidas de 
que não. O governo federal precisa, urgen-
temente, ter coragem para avançar, paran-
do de negociar direitos e vidas em nome do 
conforto de sua governabilidade. No en-
tanto, sabemos, infelizmente, que o gover-
no petista não tem mais força política para 
se livrar da cilada da “governabilidade” que 
ele mesmo criou.
Toda essa inércia governamental leva 
à perpetuação da LGBTfobia institucio-
nal. Porto Alegre, recentemente, negou a 
inclusão do debate de diversidade sexual e 
de gênero nas escolas por meio da Câmara 
de Vereadores. As escolas, que poderiam 
tornar-se espaços de convivência e tolerân-
cia, continuarão sendo espaços traumáti-
cos para LGBTs, se depender do governo 
municipal. Na saúde, apesar de a Portaria 
2.836 de 2011 do Ministério da Saúde bus-
car combater a LGBTfobia no âmbito do 
Sistema Único de Saúde, não há ações prá-
ticas de conscientização dos trabalhadores 
e de promoção da igualdade. Na área da 
segurança, as políticas públicas são motivo 
de pavor, principalmente para a população 
de travestis e transexuais, perversamente 
selecionada pelo sistema penal como ele-
mento suspeito a priori.
A solução para essa situação é simples: 
efetivação do Estado laico, afirmação de 
direitos e mobilização. Se precisamos lidar 
com um governo que rifa direitos e nego-
cia vidas, não resta outro caminho senão 
aquele que trouxe aos setores oprimidos da 
sociedade todas as suas conquistas: organi-
zação, mobilização conectada às necessi-
dades de nosso tempo e exigência firme de 
reconhecimento de direitos. Nem um pas-
so atrás pode ser dado. As vozes do atraso 
serão jogadas na lata de lixo da História, 
pois o avanço daqueles e daquelas que lu-
tam pode ser retardado, mas jamais será 
barrado. À luta!
Marcelo Rocha
Médico da Estratégia Saúde da Família de 
Porto Alegre
Mestrando em Saúde Coletiva e Estudante de 
Direito/UFRGS
Setorial de Saúde do PSOL
contribuições para o debate
 Direitos LGBTs • 37
LGBTs e escolas: uma 
relação (ainda!) 
problemáticapor Ana Paula de Souza dos Santos & Cristian Nunes
O ambiente escolar é o primeiro espa-
ço de socialização para muitas crianças, ali 
elas se conectam com outras condições de 
vida e se entendem como um ser coletivo. 
Infelizmente o bullying é uma realidade 
triste das escolas, desde pequeno a socieda-
de separa “o gordo”, “o negro” e outras de-
finições opressoras que prejudicam muito 
a formação da personalidade das crianças. 
Os LGBTs sofrem a mesma coisa. Hoje, 
nas escolas, o que mais acontece são os ca-
sos de LGBTfobia, onde muitos têm medo 
de assumir a sua orientação sexual para 
não sofrer represálias. Falta capacitação 
dos professores, que muitas vezes também 
cometem atos LGBTfóbicos, alimentando 
a intolerância e o preconceito. As travestis 
e transexuais sofrem ainda mais, porque 
nem nas escolas estão, onde 90% delas vai 
para a prostituição e tem expectativa de 
vida de 30 anos.
Em 2011, a presidenta Dilma vetou um 
programa importante de inclusão de deba-
tes LGBTs nas escolas, deixando claro que a 
sua “governabilidade” não tem espaço para 
o combate a LGBTfobia, tapando o sol com 
a peneira ao tratar de um problema que 
existe e é concreto para milhares de jovens. 
Os conservadores também se mobili-
zaram para tirar o debate de “orientação 
sexual e identidade de gênero” dos Planos 
de Educação, onde o movimento LGBT lu-
tou muito para manter metas importantes 
de combate à intolerância. Infelizmente em 
diversos Estados e cidades do país os rea-
cionários venceram essa queda de braço, 
mas o importante é que temos uma cate-
goria de professores que sabe que a LGB-
Tfobia é um problema que deve ser colo-
cado na agenda escolar em Porto Alegre. A 
ATEMPA (Associação dos Trabalhadores 
em Educação do Município de Porto Ale-
gre) vai construir um plano de inclusão nas 
escolas que debata esses temas retirados na 
Câmara de Vereadores.
O governo brasileiro e suas bancadas 
conservadoras tentam tornar invisível 
algo que existe e tem grande relevância: 
um LGBT morre todo dia no Brasil e esse 
número vem aumentando cada vez mais. 
Ainda assim, não se pode esperar nada dos 
governos que estão aí, por isso a nossa saí-
da é a mobilização permanente dos LGBTs 
na luta por mais respeito nas escolas e pela 
garantia do direito de ser e amar quem qui-
ser.
Ana Paula de Souza dos Santos
Presidente do Grêmio Estudantil do Colégio 
Estadual Protásio Alves
Cristian Nunes
Grupo de Trabalho Estadual do Juntos! RS
contribuições para o debate
38 • Direitos LGBTs
Mídia e população LGBT:
(In)visibilidade,

Continue navegando