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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ INSTITUTO DE CIÊNCIAS DO MAR PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS MARINHAS TROPICAIS FRANCISCO GLEIDSON DA COSTA GASTÃO DUNAS EÓLICAS COSTEIRAS COMO INDICADORAS DE ALTERAÇÕES NO CLIMA DESDE O PLEISTOCENO SUPERIOR - O CASO DE DUNAS DOS ESTADOS DO CEARÁ E MARANHÃO, BRASIL ORIENTADOR Prof. Dr. Luís Parente Maia FORTALEZA 2017 FRANCISCO GLEIDSON DA COSTA GASTÃO DUNAS EÓLICAS COSTEIRAS COMO INDICADORAS DE ALTERAÇÕES NO CLIMA DESDE O PLEISTOCENO SUPERIOR - O CASO DE DUNAS DOS ESTADOS DO CEARÁ E MARANHÃO, BRASIL Tese de doutoramento submetida à Coordenação do Programa de Pós-Graduação em Ciências Marinhas Tropicais, do Instituto de Ciências do Mar - LABOMAR, como requisito parcial para obtenção do título de Doutor, outorgado pela Universidade Federal do Ceará. Orientador: Prof. Dr. Luís Parente Maia FORTALEZA 2017 Dados Internacionais de Catalogação na Publicação Universidade Federal do Ceará Biblioteca Universitária G1d GASTÃO, FRANCISCO GLEIDSON DA COSTA. Dunas Eólicas Costeiras Como Indicadoras de Alterações no Clima Desde o Pleistoceno Superior - O Caso de Dunas dos Estados dos Ceará e Maranhão, Brasil. / FRANCISCO GLEIDSON DA COSTA GASTÃO. – 2017. 171 f. : il. color. Tese (doutorado) – Universidade Federal do Ceará, Instituto de Ciências do Mar, Programa de Pós- Graduação em Ciências Marinhas Tropicais, Fortaleza, 2017. Orientação: Prof. Dr. Luis Parente Maia. 1. Dunas Costeiras. 2. Datação por LOE. 3. Sedimentologia. 4. Pleistoceno Superior. 5. Flutuações no Clima. I. Título. CDD 551.46 FRANCISCO GLEIDSON DA COSTA GASTÃO "Dunas Eólicas Costeiras Como Indicadoras de Alterações no Clima Desde o Pleistoceno Superior - O Caso de Dunas dos Estados dos Ceará e Maranhão, Brasil" Tese submetida à Coordenação do Programa de Pós-Graduação em Ciências Marinhas Tropicais do Instituto de Ciências do Mar - LABOMAR - Universidade Federal do Ceará, como requisito parcial para obtenção do grau de DOUTOR em Ciências Marinhas Tropicais, área de concentração em Utilização e Manejo de Ecossistemas Marinhos de Estuarinos. Aprovada em 28 de Março de 2017. BANCA EXAMINADORA _____________________________________________ Prof. Dr. Luís Parente Maia Instituto de Ciências do Mar – LABOMAR Universidade Federal do Ceará (Orientador) _____________________________________________ Prof a . Dra. Lidriana de Souza Pinheiro Instituto de Ciências do Mar – LABOMAR Universidade Federal do Ceará (Examinadora Interna ao Programa) _____________________________________________ Prof. Dr. Jáder Onofre de Morais Instituto de Ciências do Mar – LABOMAR Universidade Federal do Ceará (Examinador Interno ao Programa) _____________________________________________ Dr. Alexandre Medeiros de Carvalho Instituto de Ciências do Mar – LABOMAR Universidade Federal do Ceará (Examinador Externo à Instituição) _____________________________________________ Prof. Dr. Raimundo Mariano Gomes Castelo Branco Departamento de Geologia - DEGEO Universidade Federal do Ceará (Examinador Externo ao Programa) Dedico este trabalho à minha família, especialmente à minha mãe, dona Maria Cleide e à Silvelena minha esposa, por terem me apoiado bastante nas últimas conquistas. AGRADECIMENTOS Primeiramente a Deus que me deu forças o bastante pra cumprir mais uma etapa de minha vida. A toda minha família pelo o apoio. Ao orientador Professor Doutor Luís Parente Maia pelo apoio, pelo conhecimento compartilhado e por ter acreditado no desenvolvimento deste trabalho. Aos Professores e Doutores Jáder Onofre, Alexandre Medeiros e Raimundo Mariano, e à professora e doutora Lidriana Pinheiro, por colaborarem com seus conhecimentos na melhora deste trabalho. Ao Doutor José Reginaldo Lima Verde Leal, "in memoriam", pelos conhecimentos compartilhados, pelos momentos de descontração e, acima de tudo, pela grande amizade que ficou bastante marcada. Aos meus colegas do laboratório de Dinâmica Costeira do Instituto de Ciências do Mar – LABOMAR/UFC, Bruno Catunda e Raissa Silveira, pelo o apoio, mesmo que de forma indireta. Aos colegas de trabalho do laboratório de Oceanografia Geológica do Instituto de Ciências do Mar – LABOMAR/UFC, José Gonzaga, Maria Cidrônea, Mônica Pimenta de Novaes Castelo Branco e Paulo Roberto. Aos colegas da Universidade de Barcelona-Espanha, Professor Doutor Jordi Serra Raventos e Ivan Suñé Puchol, que colaboraram nas análises de MEV. Ao Instituto de Ciências do Mar (LABOMAR), da Universidade Federal do Ceará, ambiente fabuloso de trabalho, onde desenvolvi da esta tese de doutoramento. E a todos aqueles que me ajudaram, mesmo que de forma indireta, para que este trabalho fosse concluído. Todos foram importantes neste novo momento em minha vida. "A imaginação é mais importante que o conhecimento." Albert Einstein RESUMO A ocorrência de dunas eólicas costeiras deve-se, em grande parte, às variações climáticas ocorridas no Pleistoceno Superior e Holoceno. Em quase toda a zona costeira do Brasil é possível encontrar depósitos sedimentares formados por atividade eólica na zona costeira, porém há uma grande diferença no quantitativo destes depósitos espalhados pelo litoral brasileiro. A maior concentração de campos de dunas, envolvendo tanto dunas móveis como as fixadas por vegetação, está no Nordeste Setentrional com 89% do total. Nesta faixa costeira estão os estados do Ceará e Maranhão, onde estão as áreas do presente estudo. Os dois estados possuem a maior concentração dos campos de dunas do Nordeste Setentrional com 98% do total, estando as demais localizadas nos estados do Piauí e Rio Grande do Norte. O objetivo da presente pesquisa é entender a gênese e evolução dos campos de dunas costeiras do leste do estado do Maranhão e parte das zonas costeiras leste e oeste do estado do Ceará, com base nas idades das dunas obtidas por LOE, nos registros eólicos e suas formas; fazendo uma relação destes pontos com as mudanças ocorridas no clima desde o Pleistoceno Superior. Nas duas áreas foi coletado um total de 135 amostras, sendo 12 utilizadas para datação a partir do método de datação por Luminescência Opticamente Estimulada - LOE, aplicado sobe o protocolo MAR (ou multiple aliquot regenerative-dose). Foram também feitas análises sedimentológicas (granulometria e morfoscopia) e análise em Microscópio Eletrônico de Varredura (MEV) nos grãos de sedimento. A aplicação das técnicas de geoprocessamento composição colorida e filtro Passa-Alta nas imagens dos sensores Landsat 5 e 8, alémda modelagem de terreno dos dados altimétricos do SRTM, serviram para uma melhor compreensão da variação morfológica dos campos de dunas fixas vegetadas do terceiro cenário climático. Pelo menos quatro cenários climáticos foram possíveis de serem identificados a partir dos dados de datação e a compilação de dados paleoclimáticos de outras pesquisas. O primeiro cenário se estende de +/- 140 mil até +/- 110 mil anos A.P, e corresponde as fases erosivas de depósitos eólicos mais antigos (paleodunas) do final do Pleistoceno Médio. O segundo cenário, situado entre +/- 110 a +/- 25 mil anos A.P, é caracterizado por um hiato deposicional (ou erosional), correlativo as freqüentes flutuações no clima e do nível relativo do mar durante o grande e último período glacial. Neste cenário estão situadas as paleodunas sem forma definida com idades de 110, 108, 80 e 40 mil anos A.P. O terceiro cenário estar situado na faixa de tempo que vai de +/- 25 a +/-5 mil anos A.P. É caracterizado por uma faze mais intensa da atividade eólica, quando houve expansão da área coberta por dunas entre +/- 24 e 14 mil anos A.P. Após esta fase, entre +/- 14 e +/- 5 mil anos, onde houve a transição do Pleistoceno Superior para o Holoceno, o clima da região passou por alterações menos freqüentes, devido ao deslocamento da Zona de Convergência Intertropical (ZCIT), elevando a temperatura e os índices de umidade e precipitação, causando o crescimento da vegetação, sobretudo arbustiva, e fixação das dunas. O quarto e último cenário (+/- 4 mil anos até o presente) corresponde aos eolianitos, dunas parcialmente fixas e ativas que contribuem com a dinâmica costeira atual. PALAVRAS-CHAVE: Dunas Costeiras, Datação por LOE, Sedimentologia, Pleistoceno Superior, Flutuações no Clima. ABSTRACT The occurrence of coastal Aeolian dunes develops, to a large extent, and climatic variations occurred not Pleistocene and Holocene. In almost all the coastal zone of Brazil it is possible to find sedimentary deposits formed by wind activity in the coastal zone, but there is a great difference in the quantitative of these deposits spread by the Brazilian coast. The largest concentration of dune fields, involving both mobile and vegetated dunes, is in the Northeast of the North with 89% of the total. In this coastal area are the states of Ceará and Maranhão, where are the areas of the present study. The two states have the highest concentration of dune fields in the Northeast of the North with 98% of the total, and the other two are located in the states of Piauí and Rio Grande do Norte. The objective of the present research is to understand the genesis and evolution of the coastal dune fields of eastern Maranhão state and part of the eastern and western coastal zones of the state of Ceará, based on the ages of the dunes obtained by OSL, in the wind records and their Forms; Making a relation of these points with the changes occurred in the climate from the Pleistocene Superior. In the two areas, a total of 135 samples were collected, 12 of which were used for dating from the method of dating by Optically Stimulated Luminescence (OSL), applied by MAR (or multiple aliquot regenerative-dose) protocol. Sedimentological analyzes (granulometry and morphoscopy) and Scanning Electron Microscopy (SEM) analysis were also performed on the sediment grains. The application of the geoprocessing techniques and the High Pass filter in the images of the Landsat 5 and 8 sensors, besides the terrain modeling of the SRTM altimetric data, served to better understand the morphological variation of the vegetated fixed dune fields of the third scenario Climate change. At least four climatic scenarios were possible to be identified from the dating data and the compilation of paleoclimatic data from other surveys. The first scenario extends from +/- 140 thousand to +/- 110 thousand years B.P, and corresponds to the erosive phases of older eolian deposits (paleodunas) of the late Middle Pleistocene. The second scenario, situated between +/- 110 to +/- 25 thousand years BP, is characterized by a depositional (or erosional) gap, correlative to the frequent fluctuations in the climate and the relative sea level during the great and late glacial period. In this scenario paleodunas are defined without form defined with ages of 110, 108, 80 and 40 thousand years B.P. The third scenario is located in the time range from +/- 25 to +/- 5 thousand years B.P. It is characterized by a more intense activity of the wind activity, when there was expansion of the area covered by dunes between +/- 24 and 14 thousand years B.P. After this phase, between +/- 14 and +/- 5 thousand years, where there was a transition from the Upper Pleistocene to the Holocene, the climate of the region underwent less frequent changes due to the displacement of the Intercultural Convergence Zone (ITCZ) Raising the temperature and the humidity and precipitation indexes, causing the vegetation growth, mainly shrub, and fixation of the dunes. The fourth and last scenario (+/- 4 thousand years to the present) corresponds to the eolianitos, partially fixed and active dunes that contribute with the current coastal dynamics. KEYWORDS: Coastal Dunes, Dating by OSL, Sedimentology, Late Pleistocene, Climate Fluctuations. LISTA DE FIGURAS Figura 1 – Quantitativo dos campos de dunas costeiras no litoral brasileiro. ............................ 7 Figura 2 – Quantitativo dos tipos de dunas costeiras no litoral brasileiro. ................................. 8 Figura 3 – Equipe comandada pelo engenheiro. Bagnold é o terceiro da esquerda para a direita (Bagnold, 1991). Fotografia de Ronald Peel (Underwood, Jr., 1999). ............................... 9 Figura 4 – Estudos de vento usando um manômetro múltiplo em tempestade de areia perto de Gilf Kebir, Líbia em 1938. Fotografia de Ronald Peel (Underwood, Jr., 1999). ............. 10 Figura 5 – Esquema de formação de uma duna na zona costeira. ............................................ 20 Figura 6 – Transporte eólico na faixa de praia ou zona de estirâncio e dunas frontais após a linha de preamar no município de Itarema, Ceará. ........................................................... 20 Figura 7 – Simulação da evolução de uma duna parabólica: (a) transformação da barcana para a parabólica; (b) evolução de um blowout para uma parabólica. Fonte: Modificado de Durán et al. (2008). .......................................................................................................... 24 Figura 8 – Variações morfológicas de dunas parabólicas: (a) grampo; (b) lobular; (c) hemicílcica; (d) digitada; (e) nidiforme (dunas conjugadas, na qual dunas menores aninham-se entre os braços da duna maior e; (f) cadeias transgressivas com dunas transversais secundárias; e (g) dunas em forma de “ancinho”. (a e b) são formas simples, (c,d e “e”) compostas e (f e g) combinadas (Fonte: Pye & Tsoar, 1990). ........................ 25 Figura 9 – Relação entre alterações na energia do vento e a cobertura vegetal. (Modificado de Tsoar, 2005). ..................................................................................................................... 27 Figura 10 – Mapa de localização das áreas estudadas. ............................................................. 32 Figura 11 – Mapa de localização das estações de coleta de dados climáticos e pluviométricos (CPTEC, INMET e ANA). ............................................................................................... 33 Figura 12 – Aspectos climáticos do norte e nordeste do Brasil, com destaque para a área detrabalho. (Fonte: IBGE, 2002). ......................................................................................... 35 Figura 13 – Variação da temperatura média anual no litoral dos estados do Ceará e Maranhão. Fonte de dados: CPTEC/IPNE e INMET). ....................................................................... 35 Figura 14 – Variação da umidade média anual no litoral dos estados do Ceará e Maranhão. (Fonte de dados: CPTEC/IPNE e INMET). ..................................................................... 36 Figura 15 – Variação precipitação anual no litoral dos estados do Ceará e Maranhão. (Fonte de dados: Agência Nacional das Águas). ......................................................................... 37 Figura 16 – Regime dos ventos nas zonas costeiras do Ceará e Maranhão. Média diária. ...... 38 Figura 17 – Vegetação do tipo pioneira psamófila e m planície de deflação e duna móvel do tipo barcana em Pecém, município de São Gonçalo do Amarante, estado do Ceará. ...... 39 Figura 18 – Vegetação à retaguarda da duna no município de Preá, Ceará. ............................ 40 Figura 19 – Vegetação do tipo arbustiva sobre campo de dunas no estado do Maranhão. ...... 41 Figura 20 – Variações de maré para os estados do Ceará, Piauí e Maranhão. (Fonte de dados: DHN, 2016) ...................................................................................................................... 42 Figura 21 - Mapa Geológico do litoral leste do estado do Maranhão. (Modificado de CPRM, 2000). ................................................................................................................................ 46 Figura 22 - Mapa Geológico do litoral oeste do estado do Ceará. (Modificado de CPRM, 2000). ................................................................................................................................ 46 Figura 23 – Localização dos pontos de amostragem de sedimento. ......................................... 47 Figura 24 – Coleta de sedimento com uso de trado manual e canos de PVC. ......................... 49 Figura 25 – Pontos de coleta de amostras para datação por LOE e pontos analisados por outros pesquisadores no estado do Ceará. ........................................................................ 52 Figura 26 – Método de coleta para datação por LOE. .............................................................. 52 Figura 27 – Identificação das formas dos campos de dunas fixas em superfície enrugada na imagem LANDSAT 5 TM, composição RGB 543 do ano de 2009, cena 219/062. ........ 56 Figura 28 – Aplicação dos filtros Passa-Alta na Banda 2 e 8 do Landsat 8 OLI. Os filtros com as componentes direcionais 45 a 135° foram os utilizados para realce das feições eólicas e de fundo da plataforma continental. Destaque para a região costeira de Aquiraz, Ceará. .......................................................................................................................................... 57 Figura 29 – Esquema de Geração dos MDEs isolados para identificação das formas dos registros eólicos, a partir de dados SRMT do TOPODATA. .......................................... 58 Figura 30 – Transgressões e regressões marinhas durante o período Quaternário Superior. (Modificado de Imbrie & Imbrie, 1979). Destaque para a faixa de tempo de ocorrência da modelagem geomorfológica costeira conhecida nos dias de hoje. .............................. 60 Figura 31 – A - Mudanças na temperatura e evidências de períodos glaciais no início do Pleistoceno Superior até o recente. (modificado de Duff (1995) apud Meireles et al. (2005). B - Variação do nível do mar no Pleistoceno Superior. (Modificado de Imbrie & Imbrie., 1979). .................................................................................................................. 63 Figura 32 – Paleoduna no pós-praia e fase acentuada de voçorocamento na localidade de Preá. .......................................................................................................................................... 65 Figura 33 – Paleodunas no nível de base mostrado pela erosão da planície de deflação próximo à praia da Baleia, no município de Itapipoca. (Foto: Reginaldo Lima Verde). . 65 Figura 34 – Paleodunas no nível de base mostrado pela erosão do blowout da duna parabólica na praia do Pecem, município de São Gonçalo do Amarante. ......................................... 66 Figura 35 – Variação do d50 e tamanho dos grãos de sedimento das paleodunas do estado do Ceará. ................................................................................................................................ 67 Figura 36 – Variação da granulação, segundo a classificação de Folk & Ward (1957), para as paleodunas do estado do Ceará. ........................................................................................ 67 Figura 37 – Gráfico de freqüência acumulada da distribuição granulométrica das paleodunas do estado do Ceará. ........................................................................................................... 68 Figura 38 – Aspectos dos graus de arredondamento e esfericidade dos grãos de sedimento das paleodunas do estado do Ceará em análise morfoscópica. ............................................... 69 Figura 39 – Coleta de amostra em paleoduna na estrada entre Tutóia e Pulino Neves, Maranhão. ......................................................................................................................... 70 Figura 40 – A - Aspectos dos grãos das paleodunas do estado do Maranhão. B - Detalhe nos grãos com oxido de ferro. ................................................................................................. 72 Figura 41 – A - Fases de hiatos de formação e erosão de dunas. E os eventos de Heinrich de acordo com a variação da temperatura no Pleistoceno Superior (ver tabela 4). (modificado de Duff (1995) apud Meireles et al. (2005). B - Variação do nível do mar no Pleistoceno Superior. (Modificado de Imbrie & Imbrie, 1979). ...................................... 75 Figura 42 – A - Eventos de Heinrich H2 e as etapas de deposição e erosão de dunas fixas da primeira fase. (Modificado de Duff (1995) apud Meireles et al. (2005). B - Variação do nível do mar no Pleistoceno Superior. (Modificado de Imbrie & Imbrie, 1979). ............ 77 Figura 43 – A - Intervalo de formação de dunas da segunda fase e os eventos Heinrich H1 e H0. (Modificado de Duff (1995) apud Meireles et al. (2005). B - Variação do nível do mar no Pleistoceno Superior. (Modificado de Imbrie & Imbrie, 1979). C - Detalhamento do final da faixa de tempo de formação dos campos de dunas da segunda fase. ............. 78 Figura 44 – Dunas da segunda fase do terceiro cenário climático localizadas a NE e SW do rio Munim na zona costeira do estado do Maranhão. ............................................................ 80 Figura 45 – A - Evento Younger Dryas e o Máximo Holoceno responsáveis pela modelagem das dunas do da terceira fase do terceiro cenário climático. ............................................ 81 Figura 46 – Dunas da terceira fase do terceiro cenário climático localizadas em planícies fluviais na zona costeira do estado do Maranhão. ............................................................ 82 Figura 47 – Aspectos das dunas da primeira fase do terceiro cenário no estado do Ceará. ..... 83 Figura 48 – Dunas parabólicas na região costeira entre as praias de Presídio e Prainha, município de Aquiraz, estado do Ceará. ........................................................................... 84 Figura 49 – Dunas parabólicas na região costeira de Pecem, município de São Gonçalo do Amarante,estado do Ceará. .............................................................................................. 84 Figura 50 – Variação do d50 e tamanho dos grãos de sedimento das dunas do terceiro cenário climático do estado do Ceará. ........................................................................................... 85 Figura 51 – Variação da granulação, segundo a classificação de Folk & Ward (1957), para as dunas do terceiro cenário do estado do Ceará. ................................................................. 86 Figura 52 – Gráfico de freqüência acumulada da distribuição granulométrica das dunas do terceiro cenário do estado do Ceará. ................................................................................. 86 Figura 53 – A - Aspectos dos graus de arredondamento e esfericidade dos grãos de sedimento em análise morfoscópica das dunas da primeira fase do terceiro cenário climático. Duna de Paraipaba. B - Grãos de metais pesados e grãos oxidados de quartzo......................... 87 Figura 54 – A - Aspectos dos graus de arredondamento e esfericidade dos grãos de sedimento em análise morfoscópica das dunas da segunda fase do terceiro cenário climático. Duna de Aquiraz. B - Grãos de quartzo agregados à vestígios de vegetação. ........................... 88 Figura 55 – A - Aspectos dos graus de arredondamento e esfericidade dos grãos de sedimento em análise morfoscópica das dunas da terceira fase do terceiro cenário climático. Duna de Pecem São Gonçalo do Amarante. B - Vestígios de matéria orgânica entre os grãos de quartzo. ............................................................................................................................. 89 Figura 56 – Tipos de dunas fixas do terceiro cenário do estado do Maranhão. A – dunas parabólicas simples. B e C – hemicíclicas e cadeias transgressivas com dunas transversais secundárias. ................................................................................................... 90 Figura 57 – (A) Imagem de satélite Landsat 5 e macro-dunas parabólicas do terceiro cenário climático de até 2 km de comprimento. (B) braços de macro-dunas parabólicas vistos em corte de estrada. (C) Desenho esquemático da ondulação do relevo em estrada. ............ 91 Figura 58 Corte de estrada em braço de duna parabólica da segunda fase do terceiro cenário climático no estado do Maranhão. .................................................................................... 92 Figura 59 Corte de estrada carroçal entre braço de duna parabólica da primeira fase do terceiro cenário climático no estado do Maranhão. Vista para sudoeste e vale do rio Munim. ............................................................................................................................. 92 Figura 60 – Variação da granulação, segundo a classificação de Folk & Ward (1957), para as dunas do terceiro cenário climático do leste do Maranhão. ............................................. 93 Figura 61 – Variação do d50 e tamanho dos grãos de sedimento das dunas do terceiro cenário climático do estado do Maranhão. .................................................................................... 93 Figura 62 – Gráfico de freqüência acumulada da distribuição granulométrica das dunas do terceiro cenário climático do estado do Maranhão. .......................................................... 93 Figura 63 – A - Aspectos dos grãos de dunas da primeira fase do terceiro cenário no estado do Maranhão. B - Detalhe em grão de mineral pesado e raiz incrustada em grãos de quartzo. .......................................................................................................................................... 95 Figura 64 – A - Aspectos dos grãos de dunas da segunda fase do terceiro cenário no estado do Maranhão. B - Detalhe dos vestígios de matéria orgânica. .............................................. 96 Figura 65 – Análise em MEV em grãos de dunas do terceiro cenário climático. A – Marcas em “V” de impacto originados pelo transporte eólico. B – Grão arredondado de quartzo com pequenas marcas de impactos. C – Placas imbricadas e escamadas em grão de quartzo. D – Aglomerado de grãos. .................................................................................. 97 Figura 66 – Modelo de classificação para as dunas parabólicas de Pye & Tsoar (1990) utilizado para as dunas fixas vegetadas do terceiro cenário climático das áreas estudadas. .......................................................................................................................................... 99 Figura 67 – Áreas com as feições eólicas pretéritas no estado do Ceará. .............................. 100 Figura 68 – Feições eólicas de dunas fixas vegetadas do tipo parabólicas na região costeira de Aquiraz, Ceará. A - imagem Landsat 5 TM composição RGB 543. B - banda pancromática 8 do Landsat 8 OLI. C - imagem em filtro passa-alta e destaque das feições eólicas. D - traçado das feições eólicas parabólicas. ...................................................... 101 Figura 69 – Feições eólicas de dunas fixas vegetadas do tipo parabólicas e mega blowout na região costeira de São Gonçalo do Amarante, Ceará. A - imagem Landsat 5 TM composição RGB 543. B - banda pancromática 8 do Landsat 8 OLI. C - imagem em filtro passa-alta e destaque das feições eólicas. D - traçado das feições eólicas parabólicas. ..................................................................................................................... 102 Figura 70 – Posição de dunas fixas parabólicas na Ponta do Iguape, Aquiraz - Ceará. ......... 102 Figura 71 – Feições eólicas de mega blowout na região costeira de Jijoca de Jericoacoara, Ceará. A - imagem Landsat 5 TM composição RGB 543. B - banda pancromática 8 do Landsat 8 OLI. C - imagem em filtro passa-alta e destaque das feições eólicas. D - traçado das feições eólicas parabólicas. ......................................................................... 103 Figura 72 – Modelos Digitais de Terreno e perfis para as dunas fixas vegetadas de Aquiraz entre Praia do Batoque e Ponta do Iguape, Ceará. Perfis A'-A", C'-C'' e E'-E'' - perfis no sentido do vento. Perfis B'-B", D'-D" e F'-F" - perfis transversais aos braços das dunas. Exagero vertical de 20x. ................................................................................................. 105 Figura 73 – Campos de dunas parabólicas entre as praias do Batoque e Iguape no município de Aquiraz, Ceará. Vista para sudeste. (Foto: Reginaldo Lima Verde). ........................ 106 Figura 74 – Esquema de evolução de dunas grampo para dunas nidiforme e modificação na face de barlavento. .......................................................................................................... 106 Figura 75 – Esquema de evolução de dunas grampo para dunas hemicíclicas. ..................... 107 Figura 76 – Blowout e corredor preferencial de erosão destacando material avermelhado de paleoduna em São Gonçalo do Amarante....................................................................... 108 Figura 77 – Parede de blowout na região costeira de Jijoca de Jericoacoara. ........................ 108 Figura 78 – Modelos Digitais de Terreno e perfis para as dunas fixas vegetadas parabólicas hemicíclicas e feições de mega blowout na região costeira do município de São Gonçalo do Amarante, Ceará. Perfil A'-A" no sentido do vento. Perfil B'-B" transversal as paredes do mega blowout. Exagero vertical de 30x..................................................................... 109 Figura 79 – Modelos Digitais de Terreno e perfis para as feições de mega blowout na região costeira do município deJijoca de Jericoacoara, Ceará. Perfis transversais as paredes dos blowouts. Exagero vertical de 25x. ................................................................................. 110 Figura 80 – Variações morfológicas das feições de dunas eólicas do terceiro cenário climático no leste maranhense. ....................................................................................................... 112 Figura 81 – Feições eólicas de dunas parabólicas da região costeira do leste do Maranhão. Círculos - dunas do tipo lobular e oblíquas da terceira fase. Quadrados - dunas parabólicas do tipo grampo da segunda fase. ................................................................. 113 Figura 82 – Aspectos das dunas parabólicas do tipo grampo da segunda fase do terceiro cenário climático............................................................................................................. 114 Figura 83 – Aspectos das feições eólicas de dunas parabólicas do tipo hemicíclicas/nidiformes da segunda fase do terceiro cenário climático próximas ao rio Magu, a oeste do rio Parnaíba. ......................................................................................................................... 115 Figura 84 – Aspectos das feições eólicas de dunas parabólicas do tipo hemicíclicas/nidiformes e algumas transversais da segunda fase do terceiro cenário climático próximas ao rio Coqueiro, a oeste do rio Parnaíba. .................................................................................. 116 Figura 85 – Modelos Digitais de Terreno das feições eólicas de dunas parabólicas do tipo hemicíclicas da segunda fase do terceiro cenário climático próximas ao rio Magu, a oeste do rio Parnaíba. Exagero vertical de 30x. ....................................................................... 117 Figura 86 – Modelos Digitais de Terreno das feições eólicas de dunas parabólicas do tipo transversais da segunda fase do terceiro cenário climático próximas ao rio Coqueiro, a oeste do rio Parnaíba. Exagero vertical de 20x. ............................................................. 118 Figura 87 – Aspectos das feições eólicas de dunas hemicíclicas e transversais da primeira fase do terceiro cenário climático próximas ao rio Cocal e lagoa do Caçó. .......................... 119 Figura 88 – Aspectos das feições eólicas de dunas hemicíclicas e transversais da segunda fase do terceiro cenário climático próximas ao rio Munim. .................................................. 120 Figura 89 – Modelos Digitais de Terreno das feições eólicas de dunas parabólicas do tipo transversais da primeira fase do terceiro cenário climático próximas a lagoa do Caço e rio Cocal. Exagero vertical de 30x. ................................................................................ 121 Figura 90 – Modelos Digitais de Terreno das feições eólicas de dunas parabólicas do tipo transversais da primeira fase do terceiro cenário climático próximas ao rio Munim. Exagero vertical de 20x. ................................................................................................. 122 Figura 91 – Faixa de tempo de modelagem dos depósitos de pulsos eólicos no Holoceno Tardio. (Modificado de Duff (1995) apud Meireles et al. (2005). ................................. 123 Figura 92 – Eolianitos na região costeira entre Pecem e Taíba no estado do Ceará. ............. 125 Figura 93 – Aspectos das dunas do quarto cenário climático no Ceará. Cadeia de barcanóides e dunas complexas na região de Taíba, município de São Gonçalo do Amarante. ........ 126 Figura 94 – Aspectos das dunas do quarto cenário climático no Ceará. Duna barcana em primeiro plano e outras ao fundo em Jericoacoara. ........................................................ 127 Figura 95 – Gráfico de freqüência acumulada da distribuição granulométrica das dunas do quarto e atual cenário climático do estado do Ceará. ..................................................... 128 Figura 96 – Variação da granulação, segundo a classificação de Folk & Ward (1957), para as dunas quarto e atual cenário climático do estado do Ceará. ........................................... 128 Figura 97 – Variação do d50 e tamanho dos grãos de sedimento das dunas do quarto e atual cenário climático do estado do Ceará. ............................................................................ 128 Figura 98 – Aspectos dos graus de arredondamento e esfericidade dos grãos de sedimento de dunas quarto e atual cenário climático em análise morfoscópica (duna de Trairi). ....... 129 Figura 99 – Minerais pesados entre os grãos de quartzo, Detalhe da figura 58. .................... 129 Figura 100 – Aspectos dos grãos de dunas da quinta geração. A - fragmento de carapaça de organismo marinho. B - Grãos de quartzo agregados por precipitação de CaCO3. Lençóis de areia em Camocim. .................................................................................................... 131 Figura 101 Cadeias de barcanóides do campo de dunas dos Lençóis Maranhenses. .......... 132 Figura 102 – Variação da granulação, segundo a classificação de Folk & Ward (1957), para as dunas do quarto cenário climático do leste do Maranhão. ............................................. 132 Figura 103 – Variação do d50 e tamanho dos grãos de sedimento das dunas do quarto cenário climático do estado do Maranhão. .................................................................................. 133 Figura 104 – Gráfico de freqüência acumulada da distribuição granulométrica das dunas do quarto cenário climático do estado do Maranhão. .......................................................... 133 Figura 105 A – Marcas de impactos de diferentes tamanhos em “V” originadas pelo transporte eólico nos Lençóis Maranhenses. B – Superfícies imbricadas em grão de sedimento de dunas dos Pequenos Lençóis. ................................................................... 134 Figura 106 – A - Aspectos dos grãos de areia das dunas dos Lençóis Maranhenses. B - Detalhe nos grãos encobertos por oxido de ferro das dunas dos Pequenos Lençóis. ..... 135 LISTA DE TABELAS Tabela 1 – Componentes direcionais da filtragem Passa-Alta das imagens multiespectrais Landsat. ............................................................................................................................ 55 Tabela 2 – Escalas de trabalho para as imagens de satélite. ..................................................... 59 Tabela 3 Idades obtidas para os depósitos eólicos do estado do Maranhão datados por LOE. .......................................................................................................................................... 61 Tabela 4 – Descrição dos trechos da figura 41 com relação aos hiatos de deposição e erosão de dunas (paleodunas) formadas no Pleistoceno Superior. .............................................. 76 Tabela 5 – Idade das dunas fixas e parcialmente fixas dos estados do Ceará e Maranhão. ... 124 SUMÁRIO LISTA DE FIGURAS ................................................................................................................ i LISTA DE TABELAS ............................................................................................................ vii SUMÁRIO .................................................................................................................................. i CAPÍTULO 1 – INTRODUÇÃO ............................................................................................ 3 1.1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS .......................................................................................3 1.2. DISTRIBUIÇÃO DAS DUNAS COSTEIRAS NO BRASIL ........................................ 5 1.3. AS CONTRIBUIÇÕES DE RALPH ALGER BAGNOLD NOS ESTUDOS DO COMPORTAMENTO FÍSICO NA GÊNESE E EVOLUÇÃO DE DUNAS ....................... 9 1.4. OS AVANÇOS NOS ESTUDOS SOBRE A GÊNESE E EVOLUÇÃO DE CAMPOS DE DUNAS .......................................................................................................................... 12 1.5. MODELOS MATEMÁTICOS E COMPUTACIONAIS NOS ESTUDOS DA GÊNESE E EVOLUÇÃO DOS CAMPOS DE DUNAS COSTEIRAS .............................. 13 1.6. DESCRIÇÃO DOS CAPÍTULOS ................................................................................ 13 1.7. JUSTIFICATIVAS DA PESQUISA ............................................................................. 15 1.8. HIPÓTESE .................................................................................................................... 16 1.9. OBJETIVOS .................................................................................................................. 16 1.9.1. Objetivo Geral ........................................................................................................ 16 1.9.2. Objetivos Específicos ............................................................................................. 16 1.10. TRABALHOS ANTERIORES ................................................................................... 17 CAPÍTULO 2 – FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ............................................................. 19 2.1. DUNAS EÓLICAS COSTEIRAS ................................................................................. 19 2.1.1. Processos Iniciais de Formação .............................................................................. 19 2.1.2. Dunas Eólicas no Nível do Grão de Sedimento ..................................................... 21 2.1.3. Forma ou Morfologia e Gerações de Campos de Dunas Eólicas ........................... 22 2.1.4. Fatores Condicionantes na Formação e Evolução de Campos de Dunas Eólicas .. 25 2.2. SEDIMENTOLOGIA E DATAÇÃO POR LUMINESCÊNCIA OPTICAMENTE ESTIMULADA (LOE). ........................................................................................................ 28 CAPÍTULO 3 – ÁREA DE ESTUDO ................................................................................... 31 3.1. LOCALIZAÇÃO ........................................................................................................... 31 3.2. ASPECTOS CLIMÁTICOS .......................................................................................... 32 3.2.1. Clima ...................................................................................................................... 33 3.2.2. Temperatura ............................................................................................................ 34 3.2.3. Umidade ................................................................................................................. 34 3.2.4. Precipitação Anual .................................................................................................. 36 3.2.5. Regime dos Ventos ................................................................................................. 37 3.3. VEGETAÇÃO ............................................................................................................... 39 3.4. SÍNTESE DOS ASPECTOS OCEANOGRÁFICOS .................................................... 41 3.5. SÍNTESE DA GEOLOGIA ........................................................................................... 43 3.6. SÍNTESE DA GEOMORFOLOGIA ............................................................................ 45 CAPÍTULO 4 – MATERIAIS E MÉTODOS ...................................................................... 47 4.1. AMOSTRAGEM EM CAMPO .................................................................................... 47 4.2. ANÁLISE SEDIMENTOLÓGICA ............................................................................... 48 4.3. ANÁLISE EM MICROSCOPIA ELETRÔNICA DE VARREDURA (MEV) ............ 50 4.4. DATAÇÃO POR LUMINESCÊNCIA OPTICAMENTE ESTIMULADA (LOE) ..... 50 4.5. SENSORIAMENTO REMOTO E GEOPROCESSAMENTO .................................... 54 4.5.1. Identificação dos Tipos e Formas de Dunas Eólicas .............................................. 54 4.5.2. Escalas de Trabalho no Uso das Imagens de Satélite ............................................. 58 CAPÍTULO 5 – RESULTADOS E DISCUSSÕES ............................................................. 60 5.1. PRIMEIRO CENÁRIO CLIMÁTICO E AS DUNAS DO INÍCIO DO PLEISTOCENO SUPERIOR - FINAL DO PENÚLTIMO GLACIAL - DE +/-140 a 110 mil anos A.P ......................................................................................................................... 61 5.1.1. Situação Geológica e Características Sedimentológicas das Dunas do Início do Pleistoceno Superior no Estado do Ceará ......................................................................... 64 5.1.2. Situação Geológica e Características Sedimentológicas das Dunas do Início do Pleistoceno Superior no Leste do Estado do Maranhão ................................................... 70 5.2. SEGUNDO CENÁRIO CLIMÁTICO E OS HIATOS NÃO DEPOSICIONAIS (EROSIONAIS) NO PLEISTOCENO SUPERIOR - ÚLTIMO GRANDE GLACIAL - DE 110 A 25 MIL ANOS A.P .................................................................................................... 73 5.3. TERCEIRO CENÁRIO CLIMÁTICO E AS DUNAS DA TRANSIÇÃO ENTRE O PLEISTOCENO SUPERIOR E HOLOCENO - FINAL DO ÚLTIMO GRANDE GLACIAL AO ATUAL INTERGLACIAL - DE 25 a 5 MIL ANOS A.P .......................... 76 5.3.1. Primeira Fase - Dunas do Fim do Último Grande Glacial (+/-25 a 20 mil anos A.P) .......................................................................................................................................... 77 5.3.2. Segunda Fase - Dunas do Fim do Pleistoceno Superior (±18 a 11 mil anos A.P) . 78 5.3.3. Terceira Fase - Dunas do Início do Holoceno ao Holoceno Médio (+/-10 a 5 mil anos A.P) .......................................................................................................................... 81 5.3.4. Situação Geológica e Características Sedimentológicas das Dunas do Terceiro Cenário no Estado do Ceará ............................................................................................. 83 5.3.5. Situação Geológica e Características Sedimentológicas das Dunas do Terceiro Cenário no Estado do Maranhão ...................................................................................... 90 5.3.6. Variação Morfológica das Dunas do Terceiro Cenário Climático no Litoral do Estado do Ceará ................................................................................................................ 98 5.3.7. Variação Morfológica das Dunas do Terceiro Cenário Climático no Litoral do Leste do Estado do Maranhão ........................................................................................ 111 5.4. QUARTO CENÁRIO CLIMÁTICO E OS PULSOS EÓLICOS DO HOLOCENO TARDIO +/- 4 MIL ANOS ATÉ O PRESENTE ............................................................... 123 5.4.1. Situação Geológica e Características Sedimentológicas das Dunas do Quarto Cenário no Estado do Ceará ........................................................................................... 124 5.4.2. Situação Geológica e Características Sedimentológicas das Dunas do Quarto Cenário no Leste Estado do Maranhão ........................................................................... 130 CONCLUSÕES .....................................................................................................................137 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................................... 141 GASTÃO, Francisco Gleidson da Costa – Dunas Eólicas Costeiras Como Indicadoras de Alterações no Clima Desde o Pleistoceno... 3 CAPÍTULO 1 – INTRODUÇÃO 1.1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS Alterações no clima ocorridas dentro de escalas de tempo de milhares de anos, séculos ou décadas podem exercer mudanças significativas nos ecossistemas do globo terrestre. Alguns dos eventos em torno dos últimos 5.000 anos de alterações no clima do planeta Terra são acompanhados de problemas que dizimaram civilizações antigas. Como o ocorrido com as civilizações agrícolas de Harappa (Índia). Ou ainda com as comunidades indígenas de Mil Creek (grandes planícies dos Estados Unidos), a civilização Micênica e as colônias norse na Islândia e Groenlândia (Bryson & Murray, 1977). O conhecimento de variações climáticas e ambientais nos séculos XIX e XX esteve mais concentrado apenas no hemisfério norte, em partes da China, Japão e noroeste da Europa. Já no hemisfério sul os estudos que abordaram o tema foram bastante escassos nos dois séculos, o que se tornou uma preocupação nas tentativas de descrever as mudanças climáticas ocorridas nesta parte do mundo (Gribbin & Lamb, 1978). As reconstruções paleoclimáticas no hemisfério sul do globo terrestre têm se limitado nos primeiros estudos aos indicadores climáticos naturais (proxies) que nos quais são: anéis de crescimento de árvores, sedimentos lacustres laminados, testemunhos de gelo, análise de pólen, entre outros. Mas trabalhos que relatam os padrões de sedimentação do Sistema Quaternário na zona costeira do Brasil têm sido bastante aceitos até a metade do século XX (Dominguez & Bittencourt, 1994). Paleodados podem fornecer importantes informações sobre a freqüência, intensidade e padrões sub-regionais das mudanças ocorridas no passado e que nem sempre podem ser simuladas pelos modelos climáticos. As áreas semi-áridas preservam uma grande quantidade de informações destas variações climáticas, que podem ser assimiladas ou utilizadas para a calibração de modelos. E dentre os objetos de estudo que fornecem excelentes informações a cerca de alterações ambientais e climáticas do passado se destacam os depósitos arenosos originados e trabalhados a partir de atividade eólica. Estes depósitos podem ser entendidos como acumulações de material arenoso em transporte ou estagnados dentro de uma região que possui ou possuiu no passado condições favoráveis para a sua formação. Yee et al. (2001) afirmam que vastos campos de dunas com extensões regionais têm sido considerados como indicadores geomorfológicos e GASTÃO, Francisco Gleidson da Costa – Dunas Eólicas Costeiras Como Indicadoras de Alterações no Clima Desde o Pleistoceno... 4 sedimentológicos de mudanças paleoclimáticas durante o Quaternário. Tais acumulações devem-se, em grande parte, às variações climáticas ocorridas na transição entre o Pleistoceno Superior e início do Holoceno. Fases de intensa transgressão e regressão marinha, oscilações nos regimes dos ventos, bem como diferenciações nos índices de umidade e aridez são fatores que contribuíram para a formação destes depósitos que também podem ajudar a entender os cenários paleoambientais. Porém estas afirmações nem sempre foram utilizadas como destaques em estudos paleoclimáticos e paleoambientais, principalmente em pesquisas que relatam as mudanças ocorridas nos últimos 100 mil anos. Com o avanço da tecnologia e o melhor domínio e relação das técnicas adequadas para a datação de sedimentos depositados no período Quaternário, os trabalhos passaram a ganhar mais importância. O trabalho de Barreto et al., (1999) caracterizou o campo de dunas inativas do médio rio São Francisco. Este representa um dos mais importantes registros de mudanças paleoambientais e principalmente paleoclimáticas durante o Quaternário no nordeste do Brasil. Segundo os autores trata-se de um testemunho de antigos climas mais secos que o atual, e que interferiram fortemente na evolução da fauna e flora lá viventes. Os autores separaram cinco domínios distintos de geração de dunas eólicas, constituindo um sítio repleto de informações a respeito do passado. Carneiro Filho et. al, (2003) destacaram as dunas fósseis da Amazônia. Atualmente se encontram cobertas por vegetação densa, típica de clima equatorial úmido. Os autores sugeriram que mudanças climáticas relacionadas a um regime mais seco e sazonal, diferente do clima tropical e úmido equatorial que reina atualmente, tenham imperado à época de ocorrência das atividades eólicas, propiciando a formação de campos dunares naquela região. Tatummi et al. (2008) ao datar sedimentos denominados de Pós-Barreiras do norte do Brasil, registraram idades que variaram entre 430.000 (±60.000) e 3.400 (±400) anos AP (Antes do Presente, tendo como base o ano de 1950 como o presente), análogas a formação ocorrida no Pleistoceno Superior ao Holoceno. Outros trabalhos trouxeram respostas satisfatórias utilizando dados sedimentológicos. Como as pesquisas de Kocurek & Lancaster (1999). Estes utilizaram a capacidade de transporte de sedimento na alteração da paisagem e ecossistemas. Ferreira et al.(2013) fizeram a reconstrução ambiental do Pleistoceno da região costeira do estado de Pernambuco, Brasil, utilizando como indicadores materiais oriundos de margem fluvial. Zhang et al. (2014), a partir de dados diferenciados de granulometria sedimentar, fizeram relatos de alterações climáticas cenozóicas na região de Lanzhou, China. GASTÃO, Francisco Gleidson da Costa – Dunas Eólicas Costeiras Como Indicadoras de Alterações no Clima Desde o Pleistoceno... 5 Os referidos estudos mostram o avanço das pesquisas e o conhecimento a cerca da dinâmica e evolução de depósitos sedimentares do período Quaternário. Alguns destes estudos, já feitos no nordeste do Brasil, também caracterizam o progressivo avanço das pesquisas que objetivam fazer uma descrição das condições climáticas e ambientais que reinaram no passado. A história do Quaternário na Terra se estende pelos dois últimos milhões de anos e é marcada por várias mudanças no clima, acompanhadas de glaciações, intermediadas por períodos interglaciais mais quentes, como o que estamos vivendo nos dias de hoje, e que muitos cientistas persistem em dizer que é culpa exclusiva do homem, ou ainda, que este tem parcela maior na contribuição do aceleramento deste aquecimento global. E é neste faixa de tempo em que se destacam as duas épocas mais conhecidas pelo homem. O Pleistoceno, que se estende de aproximadamente 1,8 milhões de anos até +/-11,5 mil anos A.P, caracterizado pela a alta freqüência entre glaciações e interglaciações. E o Holoceno que se estende desde aproximadamente 11,5 mil anos A.P até o presente. A ocorrência de registros de depósitos sedimentares de origem eólica mais recente esta associada às flutuações do nível relativo do mar, regidas pelas variações climáticas ocorridas desde o início do Pleistoceno Superior (123 mil anos A.P) até os dias atuais (Martin et al., 1993). Ressaltando o proposto pelos autores, estes eventos de transgressão e regressão marinha influenciaram a configuração geomorfológica que é conhecida hoje, a partir de eventos de deposição e/ou erosão costeira. 1.2. DISTRIBUIÇÃO DAS DUNAS COSTEIRAS NO BRASIL Em quase toda a zona costeira do Brasil é possível encontrar depósitos sedimentares formados por atividade eólica, porém há uma grande diferença no quantitativo destes depósitos espalhados pelo litoral brasileiro. Considerando a divisão regional em Nordeste Setentrional(estados do Maranhão, Piauí, Ceará e norte do Rio Grande do Norte), Nordeste Meridional (sul do estado do Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe e Bahia), Sudeste (Espírito Santo, Rio de Janeiro e São Paulo) e Sul (estados do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul) é possível notar esta diferença (Figura 1). A maior concentração de campos de dunas, envolvendo tanto dunas móveis como as fixadas por vegetação, está no Nordeste Setentrional com 89% do total. Já o Sul possui 10%, o Nordeste Meridional tem 1% e o Sudeste menos de 1% dos campos de dunas eólicas costeiras. Se GASTÃO, Francisco Gleidson da Costa – Dunas Eólicas Costeiras Como Indicadoras de Alterações no Clima Desde o Pleistoceno... 6 considerado apenas o Nordeste Setentrional os estados do Ceará e Maranhão, onde estão as áreas do presente estudo, possuem a maior concentração dos campos de dunas com 98% do total e as demais estão localizadas no estado do Piauí e Rio Grande do Norte. De toda a costa brasileira os estados do Ceará e Maranhão possuem a maior representação destes depósitos eólicos, tendo o segundo estado 97,3% do total. Entre os tipos de dunas móveis e fixas vegetadas, estas últimas representam 78% do total (Figura 2). Este número é uma realidade devido ao fato de que o estado do Maranhão especificamente possui o maior dos campos de dunas fixas vegetadas de todo o Brasil. Este sistema de campos de dunas localizado no litoral leste do estado do Maranhão consta de uma área testemunha de um dos maiores registros eólicos da costa brasileira, ou ainda, da América do Sul (Gonçalves et al., 2003). Estas dunas fixas vegetadas estão localizadas a sul e a leste do campo de dunas dos Lençóis Maranhenses, se estendendo até as proximidades do rio Parnaíba. Trata-se de uma área que alcança cerca de 150 km desde a linha de costa até o interior do continente. No estado estão inseridos também os corpos dunares móveis de origem recente (Lençóis Maranhenses) caracterizados por uma morfodinâmica diferenciada de outros locais da costa do país, com lagoas temporárias e perenes. Também como área importante de registros eólicos na zona costeira do Brasil, o litoral do estado do Ceará comporta, em quase toda sua extensão, vastos campos de dunas tendo a maior concentração no litoral oeste, trecho que segue desde o município de Caucaia até Barroquinha fronteira com estado do Piauí. No litoral leste do estado o maior campo de dunas está localizado no município de Aracati. Trata-se de dunas móveis associadas à planície fluvial e flúvio-marinha do Rio Jaguaribe. Os tipos mais comuns no estado do Ceará são as dunas móveis barcanas e cadeias de barcanóides. Há também a presença de dunas fixas vegetadas do tipo parabólica. Estas ocorrem em alguns casos como nos municípios de Aquiraz no litoral leste, e no município de São Gonçalo do Amarante no litoral oeste. As condições climáticas, ambientais e a posição geográfica na zona costeira brasileira, é que devem favorecer a grande concentração de campos de dunas no litoral do Nordeste Setentrional Brasileiro, em especial nos estados do Ceará e Maranhão. A deposição de sedimento e formação de dunas costeiras cessa por completo na região costeira do estado do Maranhão dividida pelo Golfão Maranhense, onde se encontra a Baia de São José. GASTÃO, Francisco Gleidson da Costa – Dunas Eólicas Costeiras Como Indicadoras de Alterações no Clima Desde o Pleistoceno... 7 Figura 1 – Quantitativo dos campos de dunas costeiras no litoral brasileiro. Fonte: o autor GASTÃO, Francisco Gleidson da Costa – Dunas Eólicas Costeiras Como Indicadoras de Alterações no Clima Desde o Pleistoceno... 8 Figura 2 – Quantitativo dos tipos de dunas costeiras no litoral brasileiro. Fonte: o autor GASTÃO, Francisco Gleidson da Costa – Dunas Eólicas Costeiras Como Indicadoras de Alterações no Clima Desde o Pleistoceno... 9 1.3. AS CONTRIBUIÇÕES DE RALPH ALGER BAGNOLD NOS ESTUDOS DO COMPORTAMENTO FÍSICO NA GÊNESE E EVOLUÇÃO DE DUNAS As pesquisas acerca do comportamento genético e evolutivo de campos de dunas eólicas, sobre o ponto de vista dos processos físicos atuantes nestes depósitos, têm seu início no final da década de 20 do século XX, durante o período entre a primeira e a segunda guerra mundial, quando o brigadeiro e primeiro comandante do exército britânico e também engenheiro Ralph Alger Bagnold fez suas primeiras anotações estudando dunas do deserto da Líbia. Durante os anos de 1927, 1929, 1930 e 1932 Bagnold, utilizando-se de veículo pessoal e apoiado por uma equipe montada pelos seus colegas militares, percorreu o deserto do Saara no território da Líbia, dando início as suas primeiras observações (Bagnold, 1991) (Figura 3). Figura 3 – Equipe comandada pelo engenheiro. Bagnold é o terceiro da esquerda para a direita (Bagnold, 1991). Fotografia de Ronald Peel (Underwood, Jr., 1999). O tamanho, a geometria, a assimetria e o espaçamento aparentemente regular entre os campos de dunas do grande deserto chamaram a atenção do pesquisador, e os levaram à curiosidade acerca da origem e evolução destes depósitos sedimentares a partir das ações do vento. O comportamento físico das dunas, com base na relação entre taxas de massa e a força de deslocamento impulsionada pelo vento, foi o carro chefe do avanço para seus estudos iniciados no fim da década de 20 até o início da década de 30 (Figura 4), resultando na GASTÃO, Francisco Gleidson da Costa – Dunas Eólicas Costeiras Como Indicadoras de Alterações no Clima Desde o Pleistoceno... 10 publicação intitulada de Libyan Sands: Travel in a Dead World, publicada no ano de 1935 (Bagnold, 1991). Figura 4 – Estudos de vento usando um manômetro múltiplo em tempestade de areia perto de Gilf Kebir, Líbia em 1938. Fotografia de Ronald Peel (Underwood, Jr., 1999). As teorias designadas por Bagnold sobre o transporte de sedimento influenciado pelos fluidos confrontavam com as idéias dos engenheiros hidráulicos de sua época, que defendiam o fluxo de massa, desconsiderando a diferença de densidade entre o fluido e os grãos de sedimento. Para o Bagnold essa disparidade entre as densidades dos meios foi bastante importante para entender a dinâmica de formação dos grandes desertos de areia, logo no início dos seus estudos (Bagnold, 1991). Após a aposentadoria médica do exército no ano de 1935, Bagnold passou a se dedicar mais ainda aos estudos relacionados ao transporte de sedimento, sempre fundamentados em teorias físicas e matemáticas. Esta dedicação resultou na construção de instrumentos necessários para modelar em laboratório o que via em campo. O cientista construiu túneis de vento onde pode simular o transporte eólico do sedimento. A partir daí foi possível concretizar várias de suas teorias físicas e matemáticas sobre o assunto, o que resultou na publicação do mais famoso trabalho de sua autoria, intitulado de The Physics of Blown Sand and Desert Dunes, concluído em 1939 e publicado no ano de 1941(Kenn, 1993). Este, ainda GASTÃO, Francisco Gleidson da Costa – Dunas EólicasCosteiras Como Indicadoras de Alterações no Clima Desde o Pleistoceno... 11 considerado uma grande obra no assunto, é referencia para atuais pesquisas, como o estudo das dunas de Marte realizado pela National Aeronautics and Space Administration (NASA) (Underwood, Jr., 1999). No ano de 1944 Bagnold tem sua aposentadoria definitiva das atividades do exército, evento que lhe rendeu mais tempo para continuar suas pesquisas a cerca do transporte das areias pelo vento e a física do movimento de todos os materiais granulares em qualquer fluido. A partir dai iniciou-se uma séries de publicações a cerca do tema apoiadas pelo serviço geológico americano a United States Geological Survey (USGS), cujo um dos mais importantes foi publicado em 1966 'An Approach to the Sediment Transport Problem from General Physics'. Bagnold também contribuiu no campo da oceanografia, estudando o movimento da areia na faixa de praia (Thorne & Soar, 1996). A clássica publicação The Physics of Blown Sand and Desert Dunes de 1941 permaneceu como sendo a única referência em estudos geomorfológicos de depósitos de sedimentos transportados e formados pelo vento por muitas décadas. O segundo livro publicado sobre processos eólicos foi lançado cerca de quatro décadas, no ano de 1985, após a publicação do livro de Bagnold (Tsoar, 1994). Um grupo de estudiosos da Dinamarca, EUA e Reino Unido redescobrem no final da década de 1970, devido ao aumento do interesse internacional em estudos eólicos, o trabalho do pioneiro Britânico. As pesquisas a partir daí foram embasadas por equipamentos mais modernos e por conceitos e teorias físicas e matemáticas mais avançadas, além de técnicas estatísticas mais evoluídas (Tsoar, 1994). Segundo Tsoar (1994) alguns dos trabalhos que tomaram como base os estudos de Bagnold publicados no livro de 1941, pelo menos até a metade da década de 1990 do século XX, foram publicados nos anos de 1987, 1988, 1990 e 1991, pelos autores Ungar e Haff, Anderson e Haff, Werner e Sorensen, respectivamente. Segundo o autor a percepção de Bagnold pelo processo de saltação como uma nuvem constante de areia em movimento, ganhando da pressão do vento, para compensar os impactos da perca de energia, foi o carro chefe para a publicação dos referidos trabalhos das décadas de 80 e a primeira metade da década de 90. O autor ressalta ainda que estimativas empíricas relatadas pelos investigadores acima mencionados indiquem que Bagnold não considerou o impulso do vento ou transferência de energia dos grãos para a camada de impacto. Para Bagnold os grãos transportados em equilíbrio com o vento desenham uma baixa elevação e curto comprimento de salto, o que explica a baixa velocidade de impacto, e que tem como conseqüência a não ejeção de outros grãos. GASTÃO, Francisco Gleidson da Costa – Dunas Eólicas Costeiras Como Indicadoras de Alterações no Clima Desde o Pleistoceno... 12 Se tratando de classificação e descrição dos tipos de dunas, o trabalho pioneiro de Bagnold, segundo Tsoar (1994), está restrito apenas às dunas do deserto da Líbia. Tsoar (1994) relata que se forem excluídos alguns tipos relacionados à vegetação, as classificações de Bagnold são muito semelhantes às classificações mais modernas, como as citadas em Pye & Tsoar (1990). 1.4. OS AVANÇOS NOS ESTUDOS SOBRE A GÊNESE E EVOLUÇÃO DE CAMPOS DE DUNAS A definição dos depósitos de dunas eólicas ao longo das últimas décadas do século XX tem se limitado à complementação da descrição de uma geologia mais recente. O que é visto nos livros e artigos que tratam destes depósitos sedimentares, na maioria das vezes, é uma caracterização que ajudou a compor, de forma bem detalhada por partes dos autores, a estratigráfia que tem no topo material depositado no Quaternário. Tais caracterizações estão fundamentadas em observações que vão desde o nível da granulometria até os níveis da geomorfologia, da localização e posicionamento das dunas na zona costeira. A interação destes depósitos com outros ecossistemas periféricos também é fator considerado pelos autores. Trabalhos como de Dominguez e Bittencourt realizados entre as décadas de 80 e 90 (Dominguez & Bittencourt, 1994) são exemplos disto. As pesquisas realizadas por estes e outros autores ajudaram a entender, mesmo sem a utilização de técnicas que auxiliam uma melhor descrição da cronologia dos eventos climáticos, a influência dos fenômenos climáticos na formação de depósitos eólicos costeiros. O avanço nos estudos das dunas eólicas impulsionou uma relação mais estreita entre estes depósitos e as mudanças climáticas e as flutuações do nível relativo do mar ainda nas décadas de 80 e 90 do século XX e no começo dos anos 2000. Alguns autores fizeram a divisão em gerações de dunas, das mais antigas para as mais novas, com base em observações de campo e dados sedimentológicos. Este avanço foi impulsionado devido o aperfeiçoamento das técnicas utilizadas para a datação dos sedimentos. Os métodos de datação recente, antes mais utilizados nas pesquisas da área da arqueologia, deram espaço às áreas da geologia e sedimentologia. Os estudos de fato estão situados dentro da faixa do tempo geológico compreendida no final do Pleistoceno Superior, ou seja, desde aproiximadamente123 mil anos antes do presente (AP) até os dias atuais (Poupeau et al. 1984, 1988; Barreto & Suguio, 1993; Barreto, 1996; Barreto et al. 1999; Maia et al. 1999). Estes estudos utilizando dunas eólicas GASTÃO, Francisco Gleidson da Costa – Dunas Eólicas Costeiras Como Indicadoras de Alterações no Clima Desde o Pleistoceno... 13 como indicadores de mudanças climáticas vêem contribuindo bastante com a comunidade científica, sobretudo na área de paleoclimatologia, devido ao bom resultado adquirido para identificar a transição entre as épocas do Pleistoceno e Holoceno do período Quaternário. 1.5. MODELOS MATEMÁTICOS E COMPUTACIONAIS NOS ESTUDOS DA GÊNESE E EVOLUÇÃO DOS CAMPOS DE DUNAS COSTEIRAS O estudo de Maia (1998) serviu de subsidio para os trabalhos de Jimenez et al., (1999) e Levin et al., (2007-A). Estes avaliaram quantitativamente a dinâmica de campos de dunas costeiros como função das condições climáticas locais, já que a dinâmica do nível de água nestes depósitos sedimentares está ligada ao regime de chuvas. A partir de um projeto financiado pela Fundação Volkswagen foram desenvolvidos diversos outros modelos onde foi estudada a gênese de campos de dunas costeiras através do modelo DUNE, desenvolvido por Sauermann et al., (2001) e Kroy et al., (2002), e posteriormente aprimorado por Schwämmle e Herrmann (2004). O modelo DUNE foi desenvolvido para calcular o transporte de grãos por saltação e para a formação de dunas de areia. Depois passou a levar em consideração também o crescimento da vegetação (Durán e Herrmann, 2006; Herrmann et al., 2008). Estes últimos ao acrescentarem dados de crescimento da vegetação sobre as dunas conseguiram elaborar um modelo de evolução de dunas barcanas para parabólicas. Luna (2010) realizou simulações da evolução dos campos de dunas sob a influência do crescimento de vegetação e da exposição do nível freático da água. O autor destacou a evolução geomorfológica das dunas móveis dos Lençóis Maranhenses, como conseqüência da interação da ação do vento sobre as dunas, regida pela sazonalidade das lagoas interdunas. A utilização destes modelos permitiu o avanço do conhecimento sobre este sistema climático e ambiental no nordeste do Brasil, mais especificamente na região dos Lençóis Maranhenses, considerado como ponto de transição entre os climas semi-árido e úmido equatorial. 1.6. DESCRIÇÃO DOS CAPÍTULOSA presente tese é dividida em cinco capítulos que têm como foco arquitetar a temática abordada sobre a hipótese central. GASTÃO, Francisco Gleidson da Costa – Dunas Eólicas Costeiras Como Indicadoras de Alterações no Clima Desde o Pleistoceno... 14 O capítulo introdutório aborda algumas considerações a cerca dos trabalhos pioneiros relacionados ao assunto da tese, e mostra de forma bastante breve uma seqüência do progresso e avanço dos estudos relacionados aos depósitos eólicos costeiros como indicadores de alterações no clima durante o Quaternário. No capítulo um também é mostrada a situação, em termos quantitativos, das dunas eólicas costeiras no Brasil. Sua distribuição ao longo da costa brasileira e a ocorrência dos tipos móveis e fixas vegetadas. Fecham o capítulo inicial, as justificativas e motivações para o estudo, a hipótese central, os objetivos da pesquisa e os trabalhos anteriores realizados nas áreas do presente estudo. O capítulo dois faz uma abordagem sobre as definições e fundamentações teóricas que auxiliam no entendimento do escopo principal da pesquisa. São mostrados os processos iniciais de formação dos campos de dunas eólicas costeiras e sua relação com o clima e as possíveis alterações climáticas e ambientais. Também são relacionadas algumas pesquisas que tratam das variações e tipos morfológicos dos depósitos eólicos. Os indicadores de evolução costeira são explanados no segundo capítulo a partir da exposição de algumas pesquisas que utilizaram diferentes objetos de estudo, além de dunas eólicas, e também diferentes escalas de observação. Encerra o segundo capítulo a exposição de alguns trabalhos que tiveram como metodologia principal a aplicação da sedimentologia e a datação por Termoluminescência Opticamente Estimulada - LOE. O capítulo três faz uma descrição da área e mostra sua localização geográfica. Além de abordar sobre os aspectos fisiográficos como clima, vegetação, e as sínteses oceanográfica, geológica e geomorfológica. Tais tópicos ajudaram a entender alguns aspectos importantes da temática da tese. O capítulo quatro mostra a metodologia utilizada para o desenvolvimento da tese. Uma descrição das técnicas e a importância das mesmas para o tema são os pontos mostrados nesta quarta parte. O capítulo cinco é destinado a exposição dos resultados e discussões da tese. Neste capítulo as idades obtidas por LOE, os dados da sedimentologia e os dados de sensoriamento remoto, além dos dados de datação e resultados de outros autores que trabalharam nas áreas da pesquisa, ajudaram a compor a descrição da gênese e evolução dos campos de dunas conforme as flutuações climáticas e do nível relativo do mar ocorridas durante o Pleistoceno Superior. No capítulo cinco são mostrados os cenários de evolução desde o Pleistoceno Superior (entre mais ou menos 140 mil anos até o presente). O seccionamento da evolução dos depósitos de sedimento de origem eólica em quatro cenários (de 140 a 110 mil anos AP, 110 a GASTÃO, Francisco Gleidson da Costa – Dunas Eólicas Costeiras Como Indicadoras de Alterações no Clima Desde o Pleistoceno... 15 25 mil anos A.P, 25 a 5 mil anos A.P, e 4 mil anos até o presente) é produto dos dados de datação e relações morfológicas. As dunas do final do Pleistoceno Superior e início do Holoceno foram divididas em três grupos, conforme a situação climática envolvida nos processos de gênese e evolução. 1.7. JUSTIFICATIVAS DA PESQUISA O estudo das dunas de areia dos estados do Ceará e Maranhão, sob o ponto de vista de seus processos de formação e evolução ligados as mudanças climáticas pretéritas, torna-se importante não só pelo fato da existência de algumas lacunas na bibliografia científica referente ao assunto na região, mas também porque estes depósitos sedimentares estão sob as formas fixas e ativas no mesmo espaço, com variações geomorfológicas dividindo o mesmo ecossistema. Estas características dão a esta região o título de um dos maiores sítios de registros geológicos do passado na zona costeira do Brasil. Um detalhamento a cerca dos processos eólicos correspondentes às idades datadas por LOE também não é parte dos assuntos abordados em pesquisas anteriores. A maioria das pesquisas divide a ocorrência de dunas em gerações, sem fazer menção aos eventos climáticos acontecidos entre os marcos que separam os grandes pulsos eólicos responsáveis pela gênese dos campos de dunas. E a presente tese tem a proposta de mostrar estes eventos, fazendo com que a história de evolução dos campos de dunas eólicas costeiras se torne cada vez mais completa. É bem verdade que muitas pesquisas ainda precisão ser feitas para alcançar um modelo mais definitivo. O que também motivou a presente pesquisa foi o fato de que os dois estados do nordeste brasileiro abordados neste trabalho, mesmo estando inseridos no mesmo regime climático regional, possuem características climáticas diferenciadas. De um lado o setor leste do estado do Maranhão que limita com o clima equatorial úmido do norte do país. Do outro o estado do Ceará com um clima mais seco voltado para o semi-árido. Outra peculiaridade da região é a área ocupada por sedimento eólico que a mesma comporta. Seguindo de leste para oeste, do estado do Ceará para o Maranhão, esta área aumenta consideravelmente cerca de 70%, diminuindo e quase que cessando o acúmulo no litoral leste do estado do Maranhão, na área onde começa uma região costeira marcada por diversas ilhas estuarinas. GASTÃO, Francisco Gleidson da Costa – Dunas Eólicas Costeiras Como Indicadoras de Alterações no Clima Desde o Pleistoceno... 16 A contribuição ao conhecimento acerca dos processos de formação e evolução destes depósitos eólicos da zona costeira é de grade valia. Como estes processos estão aliados às mudanças climáticas, que podem ocorrer em diferentes escalas do tempo, acabam por implicar em diferentes características e modelos geomorfológicos deste ecossistema, tanto no passado como no presente. 1.8. HIPÓTESE Esta pesquisa trabalhou sob a hipótese de que os registros eólicos dos campos de dunas costeiras, suas diferentes formas e gerações situadas no mesmo ecossistema, podem indicar alterações climáticas e ambientais ocorridas desde o Pleistoceno Superior. 1.9. OBJETIVOS 1.9.1. Objetivo Geral O objetivo da presente pesquisa é entender a gênese e evolução dos campos de dunas costeiras do leste do estado do Maranhão e parte das zonas costeiras leste e oeste do estado do Ceará, com base nas idades das dunas obtidas por LOE, nos registros eólicos e suas formas; fazendo uma relação destes pontos com as mudanças ocorridas no clima desde o Pleistoceno Superior. 1.9.2. Objetivos Específicos A partir dos dados de datação por Luminescência Opticamente Estimulada (LOE) fazer a relação cronológica das gerações de dunas zonas costeiras dos estados do Ceará e Maranhão e propor os cenários climáticos, conforme a evolução dos depósitos eólicos desde o Pleistoceno Superior (<140 mil anos A.P) até o presente. A partir das análises sedimentológicas e da aplicação da Microscopia Eletrônica de Varredura (MEV) fazer a caracterização sedimentológica das dunas eólicas costeiras para destacar possíveis distinções no nível do grão de sedimento existentes nas dunas dos dois estados. GASTÃO, Francisco Gleidson da Costa – Dunas Eólicas Costeiras Como Indicadoras de Alterações no Clima Desde o Pleistoceno... 17 E identificar e diferenciar a variação geomorfológica de dunas do Pleistoceno Superior e Holoceno a partir dos dados de sensoriamento remoto. 1.10. TRABALHOS ANTERIORES Os trabalhos
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