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Movimentos Sociais na Atualidade Brasileira

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Manual do Professor
Nelson Dacio Tomazi
Licenciado em Ciências Sociais pela Universidade Federal do Paraná
Mestre em História pela Universidade Estadual Paulista de Assis (SP)
Doutor em História pela Universidade Federal do Paraná
Professor de Sociologia na Universidade Estadual de Londrina (PR) 
e na Universidade Federal do Paraná
Associado à Associação Brasileira de Ensino de Ciências Sociais (Abecs)
Marco Antonio Rossi
Licenciado em Ciências Sociais pela Universidade Estadual de Londrina (PR)
Especialista em Sociologia pela Universidade Estadual de Londrina (PR)
Mestre em Ciências Sociais pela Universidade Estadual de Londrina (PR)
Professor de Metodologia de Ensino de Sociologia na Universidade Estadual 
de Londrina (PR)
Pesquisador-assistente da Stiftung Walter Benjamin (Frankfurt/Alemanha)
COMPONENTE 
CURRICULAR
SOCIOLOGIA
VOLUME ÚNICO
ENSINO MÉDIO
sociologia
Volume único
5-a edição
São Paulo, 2016
para o ensino médio
182
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Os movimentos 
sociais
Os movimentos sociais são ações coletivas com o objetivo de manter ou 
mudar uma situação. Eles podem ser locais, regionais, nacionais e internacio-
nais. Há vários exemplos de movimentos sociais em nosso dia a dia: as greves 
trabalhistas (por melhores salários e condições de trabalho), os movimentos 
por melhores condições de vida na cidade (transporte, habitação, educação, 
saúde etc.) e no campo (pelo acesso à terra ou pela manutenção da atual 
situação de distribuição de terras), os movimentos étnico-raciais, feministas, 
ambientalistas e estudantis.
Além dos movimentos organizados, existem outros que podemos chamar de 
conjunturais. São os que duram alguns dias e desaparecem para, depois, surgir 
em outro momento, com novas formas de expressão. Por causa dessa diferença 
e mobilidade, é preciso analisar cada tipo de movimento para entender as ideias 
que motivam e sustentam suas ações, assim como seus objetivos.
Os movimentos sociais não são predeterminados; dependem sempre das 
condições específicas em que se desenvolvem, ou seja, das forças sociais e 
políticas que os apoiam ou os confrontam, dos recursos existentes para manter 
a ação e dos instrumentos utilizados para obter repercussão.
Os movimentos sociais que se mantêm durante longo tempo tendem a criar uma 
estrutura de sustentação e uma organização burocrática, por mínima que seja, para 
continuar atuando. Ao se institucionalizar, correm o perigo de perder o vigor, pois, 
para continuar sua ação, precisam obter recursos e assumir gastos com aluguel de 
uma sede, telefone, pessoal de apoio fixo e materiais. A preocupação que antes 
se concentrava em organizar as ações efetivas divide-se, assim, com o cuidado em 
manter uma estrutura fixa, deslocando parte das energias para outro foco.
Confrontos e parcerias
Os movimentos sociais são sempre de confronto político e podem trabalhar para 
transformar ou manter determinada situação. Na maioria dos casos, eles têm uma 
relação com o Estado, seja de oposição, seja de parceria, de acordo com seus interes-
ses e necessidades. Observam-se várias formas de atuação dos movimentos sociais:
 contra ações do poder público consideradas lesivas aos interesses da popu-
lação ou de um setor dela, como determinada política econômica ou uma 
legislação que prejudique os trabalhadores ou os outros setores da sociedade;
 quando para pressionar o poder público a resolver problemas relacionados à 
segurança, à educação, à saúde etc. (um exemplo são as ações que exigem 
do Estado medidas contra a exploração sexual e o trabalho infantil);
 em parceria com o poder público para fazer frente às ações de outros grupos 
ou empresas privadas (é o caso dos movimentos de proteção ambiental);
18
183Capítulo 18 | Os movimentos sociais
 para resolver problemas da comunidade, inde-
pendentemente do poder público, muitas vezes 
tomando iniciativas que caberiam ao Estado (por 
exemplo, as várias ações realizadas por Organiza-
ções Não Governamentais – ONGs – e associações 
de moradores de bairros).
Existem também movimentos cujo objetivo é desen-
volver ações que favoreçam a mudança da sociedade 
com base no princípio fundamental do reconhecimento 
do outro, do diferente. Por meio desses movimentos, 
procuram-se disseminar visões de mundo, ideias e va-
lores que proporcionem a diminuição dos preconceitos 
e discriminações que prejudicam as relações sociais. 
Exemplos são os movimentos étnico -raciais, de mino-
rias sexuais, feministas, pela paz e contra a violência.
Conforme o sociólogo alemão Axel Honneth (1949-), 
as lutas sociais vão além da defesa de interesses e ne-
cessidades, tendo como alvo também o reconhecimento 
individual e social. Quando um indivíduo se engaja em 
um movimento social, procura fazer que suas experiên-
cias com os sentimentos de desrespeito, vergonha e 
injustiça inspirem outros indivíduos, de modo que sua luta se transforme numa 
ação coletiva, de reconhecimento pessoal e social. Honneth afirma:
Cartaz de Campanha 
do Dia Internacional de 
Combate ao Trabalho 
Infantil, promovida 
pela Organização 
Internacional do 
Trabalho (OIT) e 
pelo Fórum Nacional 
de Prevenção e 
Erradicação do 
Trabalho Infantil 
(FNPETI), 2011. 
Exemplo de 
movimento social 
que visa mudar 
determinada situação.
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[…] uma luta só pode ser caracterizada de “social” na medida em que 
seus objetivos se deixam generalizar para além dos horizontes das inten-
ções individuais, chegando a um ponto em que eles podem se tornar a base 
de um movimento coletivo.
HONNETH, Axel. Luta por reconhecimento: a gramática moral dos conflitos sociais. 
São Paulo: Editora 34, 2003. p. 256.
O recurso da greve
Na sociedade capitalista, a greve é um dos instrumentos mais utilizados pelos 
trabalhadores para reivindicar, por exemplo, a manutenção dos direitos adqui-
ridos, melhores salários e condições de trabalho mais dignas. A greve pode ser 
organizada pelos trabalhadores de uma empresa, de uma categoria profissional 
ou, no caso de uma greve geral, pelos setores da sociedade que decidam de-
monstrar a insatisfação da população, por exemplo, com um governo.
A greve pode ser analisada por muitos pontos de vista. Aqui indicaremos o 
que pensam os três autores clássicos da sociologia: Karl Marx (1818-1883), Émile 
Durkheim (1858-1917) e Max Weber (1864-1920).
Para Karl Marx a greve aparentemente é apenas um movimento reivindicatório 
por melhores salários e condições de trabalho. Mas, analisando um pouco melhor 
o movimento, percebe-se que em uma greve operária existem sempre três atores 
sociais: o trabalhador, o empresário capitalista e o Estado. O trabalhador representa 
a força de trabalho e só tem isso para defender. Assim, sua luta por melhores 
salários e condições de trabalho o coloca em confronto com o empresário, que 
representa o capital, cujo objetivo é conseguir o maior lucro possível. A greve, 
para Marx, é a expressão mais visível da luta entre a burguesia e o proletariado.
207Capítulo 20 | Os movimentos sociais no Brasil
das na base da educação brasileira (1947) e o que defendia a independência na 
exploração do petróleo, caso do “O petróleo é nosso” (1954).
Dois outros tipos de movimentos que também surgiram a partir da década 
de 1950 e se prolongaram até o golpe civil-militar de 1964 foram os das associa-
ções de moradores, que reivindicavam saneamento (água e esgoto), transporte, 
educação, saúde etc., e os movimentos pela casa própria, que pleiteavam o 
estabelecimento de políticas de financiamento público para a aquisição de 
casa própria pelo trabalhador.
Movimentos sociais urbanos recentes 
Revoltas constantes aconteceram nas cidades brasileiras durante o século XX, 
reivindicando melhoria nos transportes,mais escolas, fim das mortes no trânsito, 
construção de passarelas sobre rodovias, fim da violência etc. Esses movimentos 
foram e continuam a ser movimentos pontuais, de curta duração, e visam resolver 
questões específicas da vida cotidiana dos cidadãos urbanos no Brasil.
Há outros movimentos sociais mais duradouros que tiveram e ainda têm muita 
repercussão, como as Comunidades Eclesiais de Base (CEBs), o Movimento contra 
o Custo de Vida (MCV), o Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST).
As CEBs, no início da década de 1960, fundamentadas nas diretrizes do Concílio 
Vaticano II (1962-1965), criaram espaços comunitários para debater a realidade 
social, evangelizar e alfabetizar adultos. Contavam com o apoio da Juventude 
Universitária Católica (JUC) e da Juventude Estudantil Católica (JEC). Dessas 
organizações surgiu a Ação Popular (AP), que pregava a defesa de um socialismo 
humanista como instrumento de libertação do homem.
Outro exemplo foi o MCV, iniciado em 1973, na cidade de São Paulo, que chegou 
ao fim por ocasião do Plano Cruzado (1986), que por pouco tempo obteve algum 
sucesso na redução dos preços dos alimentos.
Outro movimento social duradouro é o 
MTST, surgido em 1997 a partir da necessidade 
de organizar a reforma urbana e garantir moradia 
a todos os cidadãos.
As formas de atuação do MTST variam de 
um local para outro, mas basicamente se de-
senvolvem por meio de ocupações de edifícios 
abandonados. O objetivo é pressionar o poder 
público a permitir a ocupação desses espaços. O 
MTST também reivindica a implementação, por 
parte do governo, de programas de moradia e 
acesso pela população de baixa renda a financia-
mentos para compra de imóveis.
Movimentos culturais
Em 1960, no contexto das lutas estudantis lideradas pela UNE (União Nacional 
dos Estudantes), tiveram início as atividades do Centro Popular de Cultura (CPC), 
um dos instrumentos de conscientização política dos jovens e estudantes, prin-
cipalmente. Com grupos aliados, como o Centro de Estudos Cinematográficos 
e, mais tarde, os Teatros de Arena e Oficina, o CPC procurava romper com o 
elitismo cultural por meio da arte e da cultura e desenvolver uma estética com-
promissada com a transformação social. 
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Integrantes do 
Movimento dos 
Trabalhadores Sem 
Teto (MTST) estendem 
faixas durante 
ocupação em prédio 
no Pistão Sul, Brasília, 
DF, 2013.
208 Unidade 5 | Direitos, cidadania e movimentos sociais
No teatro, despontaram Gianfrancesco Guarnieri (com a peça 
Eles não usam black-tie) e Oduvaldo Vianna Filho, o Vianinha, 
(com a peça Rasga coração). No cinema, Cacá Diegues, Pedro 
de Andrade, Glauber Rocha, Nelson Pereira dos Santos e Leon 
Hirszman, entre tantos outros, produziram filmes que marcariam 
de forma permanente a sétima arte no Brasil. Na música, Carlos 
Lyra (com a canção O subdesenvolvido) foi um dos nomes de 
destaque. Na poesia, entre outros, Ferreira Gullar.
Apesar do curto tempo de existência, já que foi extinto após 
o golpe civil-militar de 1964, o CPC ainda aparece no imaginário 
cultural das lutas sociais no país como um símbolo de resistên-
cia política por meio da arte, da cultura, enfim, da sensibilidade 
criativa.
Hip-hop
Hip-hop é um movimento sociocultural iniciado no final da 
década de 1960, nas áreas centrais de comunidades jamaicanas, 
latinas e afro-americanas da cidade de Nova York (EUA), com o intuito de reagir 
aos conflitos e à violência sofrida pelas classes populares urbanas. É um tipo de 
cultura das ruas, um movimento de reivindicação de espaço e voz das periferias. 
Reúne quatro manifestações artísticas principais: o canto do rap (sigla para rythm
-and-poetry), a instrumentação dos DJs, a dança do break dance e a pintura do 
grafite. Sobressaem as letras questionadoras e agressivas, o ritmo forte e intenso 
e as imagens grafitadas pelos muros das cidades. A ideia é protestar, se divertir 
e dilatar o campo de manifestação dos jovens da periferia. Nesse sentido, no 
conjunto de suas manifestações, colabora com os processos de politização dos 
habitantes das periferias das grandes cidades, espaços urbanos atravessados 
pelas consequências da ausência do poder público e da indiferença social.
No Brasil, o movimento hip-hop foi adotado, sobretudo, pelos jovens negros e 
pobres de grandes cidades – São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília e Porto Alegre – 
como forma de discussão e protesto contra o preconceito racial, a miséria e as 
péssimas condições de vida. O hip-hop tem servido como ferramenta de inte-
gração social e mesmo de ressocialização de jovens, no sentido de romper com 
essa realidade. Desconstruindo e rompendo com a naturalização do sofrimento 
vivido por pessoas pobres, procura dizer não à aceitação da miséria e às condi-
ções de vida como única possibilidade de sobrevivência. Além disso, dissemina 
a ideia de que a criminalidade não é fonte de renda ao favorecer os mais ricos.
Conforme a arquiteta e urbanista brasileira Raquel Rolnick, o hip-hop passou 
a atuar nas áreas centrais como forma de mostrar que os moradores da periferia 
também fazem parte da cidade, também a compõem e a caracterizam, negando-se 
a aceitar a “não cidade”, o “não lugar”, que historicamente ocupam nas cidades – 
em geral, territórios originados de um modelo de urbanização sem urbanidade 
que destinou aos pobres um lugar longínquo, desequipado e sem condições para 
viver, ou seja, uma “não cidade”. O movimento hip-hop cria alternativas de arte e 
trabalho através da música em locais onde o Estado dificilmente age com polí-
ticas de educação e formação. As ações promovidas pelo hip-hop acontecem 
em núcleos de aprendizagem educacionais, oficinas, centros de inserção de 
jovens no mercado de trabalho e blocos culturais.
Hoje, no Brasil, em termos musicais, o movimento mistura vários grupos que 
mesclam diversas manifestações da cultura brasileira em sua arte.
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Cartaz do filme 
Eles não usam black- 
-tie, 1981. Direção de 
Leon Hirszman.
209Capítulo 20 | Os movimentos sociais no Brasil
Movimentos ligados ao mundo do trabalho
A indústria no Brasil já vinha se estruturando lentamente desde o final do sé-
culo XIX. Com o fim da escravidão e o processo de imigração crescente, houve 
um incremento da industrialização. Indústrias de alimentos e de vestuário foram 
implantadas, bem como as vinculadas à construção civil (tijolos e cimento). 
O capital estrangeiro, que já se fazia presente nos setores ferroviário e energé-
tico, aumentou ainda mais sua participação no Brasil durante os anos da Primeira 
Guerra Mundial. Assim, desenvolveram-se em território nacional as indústrias de 
máquinas, material elétrico, produtos químicos, farmacêuticos e de higiene pessoal, 
entre outras. Criou-se, assim, um exército de trabalhadores urbanos repleto de 
imigrantes com experiência em iniciar lutas e movimentos operários na Europa.
Os movimentos sociais ligados ao mundo do trabalho tiveram início antes do 
fim da escravidão. Segundo o sociólogo brasileiro Aziz Simão (1912-1990), a partir 
da década de 1870 começaram a surgir as Ligas Operárias em várias partes do 
Brasil com o objetivo de organizar o processo de resistência dos trabalhadores 
contra os patrões. Por essa razão, as Ligas Operárias tornaram-se conhecidas 
como associações de resistência. 
Mesmo consideradas ilegais e severamente reprimidas, as greves eram cons-
tantes nas principais cidades do país. A repressão aos operários, sempre excessi-
va, apoiava-se em uma legislação que permitia até a expulsão de trabalhadores 
imigrantese a condenação por “delitos ideológicos”. Mesmo assim, em 1906, 
no Rio de Janeiro, houve o 1o Congresso Operário Brasileiro de tendência anar-
cossindicalista, predominante no movimento operário até 1922, ano da criação 
do Partido Comunista do Brasil (PCB). Entre 1922 e 1930, ocorreram inúmeras 
greves operárias em várias cidades do Brasil, sendo que a greve geral de 1917 
reuniu aproximadamente 30 mil trabalhadores que exigiam: jornada de oito 
horas diárias, regulamentação do trabalho de mulheres e crianças, aumento de 
salários e redução de aluguéis.
No primeiro período em que Getúlio Vargas governou o país (1930-1945), 
apesar dos ganhos trabalhistas, várias greves aconteceram em muitas cidades 
do Brasil. Elas só cessaram por ocasião do golpe que instituiu o regime ditatorial 
do Estado Novo, em 1937, devido à repressão. 
Entre 1961 e 1964, formaram-se sindicatos e centrais sindicais de âmbito na-
cional. Nesse intervalo, houve greves em todo o país, silenciadas a partir de 1964, 
quando teve início o período ditatorial.
O massacre de Ipatinga 
Na década de 1960, na Usiminas e em empreiteiras a ela vinculadas trabalhavam cerca de 12 mil operários. Os trabalha-
dores das empreiteiras viviam em condições muito precárias e recebiam baixos salários. No início de outubro de 1963, 
um conflito entre trabalhadores e policiais militares terminou com 300 trabalhadores presos. Diante disso, os outros 
trabalhadores, bem como a população de Ipatinga, reuniram-se em frente à Usiminas e decretaram uma greve geral. O 
então governador de Minas Gerais, Magalhães Pinto, havia enviado reforço policial para reprimir os protestos, e naquele 
momento ocorreu um grande massacre, pois os policiais, armados de fuzis e metralhadoras, passaram a atirar contra 
a massa que se aglomerava em frente à empresa. Saldo: mais de três mil feridos e, estima-se, mais de cem mortos.
Após esse massacre, em reuniões com trabalhadores, empregadores, alguns parlamentares e o comandante da PM 
de Minas Gerais, foi acertada uma série de compromissos, como aumento salarial, assistência às famílias enlutadas 
e abertura de inquérito para punição dos responsáveis. Entretanto, com o golpe civil-militar de abril de 1964, esses 
compromissos foram cancelados ou revisados e os militares que participaram do massacre foram condecorados.
210 Unidade 5 | Direitos, cidadania e movimentos sociais
Movimentos trabalhistas recentes 
Nos últimos anos da ditadura civil-militar, muitas greves ocorreram no Brasil. 
Em 1979, em 15 dos 23 estados aconteceram mais de 400 greves, apesar de 
proibidas por lei e duramente punidas.
No processo de redemocratização do país, tiveram 
importante papel os movimentos grevistas realizados na 
década de 1980 em São Paulo, principalmente na região 
chamada ABCD (Santo André, São Bernardo do Campo, 
São Caetano do Sul e Diadema), onde se concentrava 
o maior parque industrial do Brasil e, portanto, o maior 
número de trabalhadores industriais. Eles questionaram 
não só as condições salariais e de trabalho, mas tam-
bém a legislação, que não permitia a livre organização 
dos trabalhadores e o direito de manifestação. Desses 
movimentos surgiram a Central Única dos Trabalhadores 
(CUT) e o Partido dos Trabalhadores (PT).
Os movimentos grevistas continuam a se suceder e 
ainda são a principal forma de luta dos trabalhadores, 
inclusive dos servidores públicos. Considerada crime 
contra a segurança nacional durante o período ditatorial, 
a greve de servidores públicos, conforme a Constituição 
de 1988, é reconhecida como direito, sendo proibida 
apenas aos servidores militares. Todavia, ainda não há 
regulamentação para o exercício desse direito. Por isso, 
as greves dos servidores públicos são analisadas e julgadas, como as paralisações 
dos trabalhadores do setor privado.
A repressão aos trabalhadores ainda é uma realidade hoje, caso do alarmante 
combate à greve de professores das escolas e universidades estaduais do Pa-
raná em abril de 2015, quando a polícia militar utilizou todo tipo de expediente 
e armamento para conter os professores que protestavam contra as ações do 
governo Beto Richa (PSDB). Entre outras medidas, essas ações aumentavam im-
postos, retiravam direitos do magistério público e se apropriavam de parcela 
significativa do fundo previdenciário dos servidores paranaenses.
Existem sindicatos das mais diversas categorias de trabalhadores no Brasil. 
Esses sindicatos se reúnem, nacionalmente, em centrais sindicais.
A seguir, um quadro com os nomes das centrais sindicais brasileiras reconhecidas 
pelo Ministério do Trabalho, em 2015, e seus índices de representatividade.
Central sindical Sigla
Índice de 
representatividade
Central dos Sindicatos Brasileiros CSB 7,43%
Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil CTB 9,13%
Central Única dos Trabalhadores CUT 33,67%
Força Sindical FS 12,33%
Nova Central Sindical de Trabalhadores NCST 7,84%
União Geral dos Trabalhadores UGT 11,67%
Policiais Militares 
reprimem 
manifestações de 
professores em greve 
no Estado do Paraná 
em frente à Assembleia 
Legislativa em 
Curitiba, 2015.
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211Capítulo 20 | Os movimentos sociais no Brasil
A greve no Brasil sempre foi de alguma forma delimitada pela ação do Estado. 
Sob o ponto de vista das Constituições de 1824, 1891 e 1934, houve omissão 
acerca do direito de greve; a Constituição de 1937 declarou a greve como recurso 
antissocial. A Constituição de 1946 reconheceu-a como direito dos trabalhadores, 
mas com amplas restrições aos chamados serviços essenciais e industriais básicos. 
As Constituições de 1967 e 1969 reproduziram tais restrições, especificadas na 
legislação ordinária. A Constituição de 1988 assegurou amplo exercício do direito 
de greve, estabelecendo que a lei definiria os serviços ou atividades essenciais e 
sobre o atendimento das necessidades inadiáveis da comunidade, sendo que os 
abusos cometidos poderiam ser punidos conforme a lei. A lei garante o direito, 
mas sempre há uma série de condições a serem cumpridas e condicionadas a 
análises da Justiça do Trabalho.
Movimentos civis e militares 
No Brasil, houve movimentos de caráter estritamente militar e outros nos quais 
os militares tiveram apoio de parcela da população civil. Os envolvidos nesses 
movimentos se utilizaram de articulações golpistas, intervenções armadas ou 
ações de resistência e levantes. 
Merecem destaque alguns desses movimentos, inspirados pela defesa da 
Independência e da República, na maior parte dos casos.
• Conjuração mineira (1789-1792), defendia a independência do Brasil e a ins-
tituição da República;
• Conjuração baiana (1796-1799), reivindicava a independência do Brasil, o 
fim da escravidão, a instituição da República e um governo democrático com 
liberdades plenas de livre comércio;
• Confederação do Equador (1824), envolvia Ceará, Pará, Pernambuco, Rio 
Grande do Norte e pleiteava a independência do Brasil e a instituição da 
República;
• Cabanagem (1835-1840), na província do Grão-Pará, favorável à independên-
cia da província do Grão-Pará, reivindicava melhores condições de vida para 
os cabanos (moradores das cabanas à beira dos rios) e maior participação nas 
decisões políticas;
• Revolução Farroupilha ou Guerra dos Farrapos (1835-1845), no Rio Grande 
do Sul e em Santa Catarina, onde foi proclamada a República Juliana, preten-
dia que fosse criada uma república separada do Império brasileiro, a República 
Rio-Grandense ou República de Piratini;
• Sabinada (1837-1838), na Bahia, reivindicava autonomia política e administra-
tiva para as províncias e a instituição do federalismo republicano;
• Revolução Praieira (1848-1849),em Pernambuco, lutava pelo voto livre e uni-
versal, liberdade de imprensa, independência dos poderes constituídos e fim 
do poder moderador, exercido pelo Imperador.
Todos esses movimentos foram reprimidos violentamente e seus líderes, pre-
sos, degredados ou enforcados. A ideia era que a punição fosse rigorosa, de 
forma a não encorajar novos processos revolucionários. Exemplos da violência 
imperial podem ser verificados ao analisar o número de mortos no combate à 
Cabanagem. Cerca de 30% a 40% da população existente, de aproximadamente 
120 mil habitantes, foi dizimada.
217Capítulo 20 | Os movimentos sociais no Brasil
Na década de 2000, alguns partidos políticos passaram a incorporar às suas 
pautas as demandas do movimento LGBT, que são, resumidamente: o direito à 
vida, independentemente de orientação sexual; o direito à integridade social; a 
garantia aos direitos civis, incluindo o direito ao casamento civil e à união estável 
entre pessoas do mesmo sexo, com reflexos nos direitos de pensão, sucessão 
de bens, adoção de filhos etc.; o direito a tratamento médico, no qual travestis e 
transexuais buscam ser atendidos pelos órgãos de saúde públicos para realizar 
as mudanças hormonais e/ou cirúrgicas conforme o desejo; e o direito de revisão 
de nome e de sexo nos registros civis para os transexuais.
Mais recentemente, por meio de eventos como as paradas gays, organizadas 
nas grandes cidades, o movimento procura divulgar essas demandas e conseguir 
o apoio de toda a sociedade civil. A luta, no entanto, tem enfrentado a atuação de 
grupos contrários a seus avanços políticos, como as bancadas de fundamentalis-
tas religiosos e conservadores, o que parece ser o grande desafio do movimento 
para os próximos anos.
Movimentos sociais recentes: politização 
e despolitização
De 1988 aos dias atuais, pode-se observar uma série de movimentos pela 
efetivação de direitos existentes e pela conquista de novos.
Esses movimentos desenvolveram algo muito importante: a politização da 
esfera privada, ao tornar as demandas das populações pobres (urbanas e rurais), 
dos negros, das mulheres, das crianças, entre outras, uma preocupação de toda a 
sociedade, não somente do Estado. Assim, abriu-se no Brasil a possibilidade de 
se desenvolverem movimentos sem o controle do Estado, dos partidos políticos 
ou de qualquer instituição.
O objetivo desses movimentos não é alcançar o poder do Estado. Por meio 
deles, a população organizada participa politicamente sem precisar estar atrelada 
às estruturas estatais de poder. O que importa é ir além da legislação existente, 
procurando construir espaços políticos públicos, nos quais possam ser debatidas 
todas as questões que envolvem a maioria da sociedade, como saúde, alimen-
tação, transporte e segurança públicos.
Apesar da crescente democratização do país, desde 2003, verificou-se uma 
redução do ritmo das reivindicações dos movimentos sociais. A ascensão do PT 
ao poder representou a consagração dos movimentos sociais mas, de modo 
paradoxal, também a efetivação de um grande dilema: o exercício do governo 
por um presidente oriundo do movimento sindical e a perda de autonomia dos 
movimentos sociais. Esses dois fatores contribuíram para diminuir a capacidade 
de intervenção popular.
Há setores desses movimentos e organizações sociais, porém, que não per-
deram de vista a necessidade de avançar na luta pela garantia de direitos já 
estabelecidos e pela conquista de novos direitos, não aceitando a justificativa 
de que o governo está fazendo o possível.
Movimentos conservadores 
É importante citar os movimentos sociais que lutam pela manutenção de con-
dições sociais, políticas e econômicas conservadoras. Esses movimentos se articu-
lam ao propor intervenções militares e até o fechamento do Congresso Nacional. 
Geralmente, são movimentos contra a ampliação dos direitos e disseminadores 
218 Unidade 5 | Direitos, cidadania e movimentos sociais
de preconceitos e desinformação, como as campanhas contrárias ao divórcio, à 
legalização do aborto ou à garantia dos direitos civis aos homossexuais, além de 
alguns fundamentalismos religiosos e ideológicos. Esses movimentos opõem- 
-se também às possibilidades de igualdade de condições de acesso aos bens 
públicos, como saúde, educação, transporte e moradia.
Outro setor que utiliza todos os recursos contra qualquer proposta de mudan-
ça da estrutura da propriedade rural é o agropecuário. Essa postura se expressa 
nas campanhas contrárias a mudanças na regulamentação do uso da terra no 
Brasil e à demarcação das terras indígenas, evidenciando uma oposição cerrada 
ao novo código florestal e às possibilidades de reforma agrária ou uso inteligente 
da terra voltado para a cultura de alimentos que privilegia produtos naturais, sem 
agrotóxicos, cultivados por trabalhadores vinculados a cooperativas familiares e 
solidárias em pequenas porções de terra.
Do vertical ao horizontal 
As manifestações urbanas de junho de 2013 no Brasil trouxeram alguns aspec-
tos novos em relação aos movimentos anteriores, tanto na formação e articulação 
quanto na no modo de atuação, em decorrência, principalmente, do impacto 
crescente da globalização e dos novos modelos de comunicação trazidos à tona 
pela chamada sociedade da tecnologia e da informação.
Protesto no Rio 
de Janeiro, entre 
várias manifestações 
ocorridas nas principais 
cidades brasileiras 
em junho de 2013. 
Dezenas de milhares 
de manifestantes 
marcharam pelas ruas 
reivindicando melhores 
serviços públicos, o fim 
da violência policial e da 
corrupção do governo.
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Ainda que as antigas matrizes de mobilização social através de estruturas vertica-
lizadas (sindicatos, igrejas, partidos ou associações) continuem existindo e atuando 
de maneira mais significativa, surgem a cada dia novas mobilizações, mais hori-
zontais, que permitem diferentes modos de participação e formação política aos 
indivíduos e grupos sociais. Algumas características desse novo caráter horizontal 
podem ser apontadas:
 utilização de ferramentas virtuais para a articulação e a efetivação das mani-
festações sociais;
 articulação desconectada de um movimento social com trajetória e pertenci-
mento claros;
 existência de muitos protagonistas, sem a obrigatoriedade de líderes que se 
destaquem entre os participantes;
219Capítulo 20 | Os movimentos sociais no Brasil
Os movimentos sociais e as transformações recentes
[...] O universo dos movimentos sociais se amplia e se restringe ao mesmo tempo. Ampliam-se as 
formas e restringem-se as esperanças quanto a suas potencialidades transformadoras. A defesa 
de particularismos, os radicalismos e a intolerância de alguns têm levado analistas e militantes a 
repensar a questão da transformação social. A liberdade, a igualdade, a solidariedade e a fraternidade 
estão a merecer novas reflexões sobre que trilhas seriam necessárias para alcançá-las.
Muitos movimentos se institucionalizaram em organizações por meio de políticas sociais. A grande 
novidade passou a ser a centralidade das ONGs no cenário das demandas sociais [...]. O perfil do 
militante dos movimentos também se alterou. Nos anos 60, 70 e 80 os militantes não dissociavam 
sua vida particular da atuação nos movimentos, e estes eram associados à política. [...]
Nos anos 90, os antigos militantes envelheceram, ou cansaram-se, ou tornaram-se dirigentes de 
organizações, parlamentares etc. E não se formaram novos quadros de militantes. Os poucos novos 
que surgiram passaram a atuar de forma radicalmente diferente. O slogan “o importante é ser feliz” é 
bastante ilustrativo. Ninguém quer mais sobrepor os interesses do movimento aos de suavida pessoal, 
particular. A militância passou a ser mais seletiva e qualitativa. A militância quantitativa — que dava 
visibilidade aos movimentos nas ruas, na mídia etc. — reduziu-se consideravelmente ou simplesmente 
desapareceu. Estamos apenas constatando as novas opções dos mais jovens. Usualmente, nos anos 
90 se participa de causas coletivas quando estas causas têm a ver com o mundo vivido pelas pessoas, 
e não porque estejam motivadas pelas ideologias que fundamentam aquelas causas. [...]
Quanto a nós, preferimos continuar acreditando na necessidade das utopias e esperando que as 
lições que os movimentos sociais democráticos e progressistas têm dado ao mundo venham a 
contribuir para a redefinição dessas utopias, a reinstaurar a esperança e a crença de que vale a 
pena lutar por uma sociedade mais justa e igualitária.
[...] Os movimentos são fluidos, fragmentados, perpassados por outros processos sociais.
Como numa teia de aranha eles tecem redes que se quebram facilmente, dada a sua fragilidade; 
como as ondas do mar que vão e voltam, eles constroem ciclos na história, ora delineando fe-
nômenos bem configurados, ora saindo do cenário e permanecendo nas sombras e penumbras, 
como névoa esvoaçante. Mas sempre presentes.
GOHN, Maria da Glória. Teorias dos movimentos sociais: paradigmas clássicos e contemporâneos. 
São Paulo: Loyola, 2006. p. 339-342.
GOHNnas palavras de
 marca da horizontalidade como crítica, não só contra a ação/omissão do Esta-
do, mas contra outros setores da sociedade, como organismos internacionais 
e bancos multinacionais;
 luta por políticas públicas aliadas à qualidade;
 não envolvimento com partidos políticos;
 diversificação de manifestações, motivadas por razões muito diferentes, uma vez 
que alguns querem maior eficiência do Estado (em relação à saúde, mobilidade 
urbana, educação e segurança), outros pedem o fim do Estado, outros ainda 
pretendem a volta dos militares ao poder, outros exigem total liberdade, e outros 
defendem a ideia individualista segundo a qual “se sobe na vida por esforço 
próprio”, o que configura uma pauta de reivindicações ampla e até contraditória;
 falta de propostas para alcançar o que pretendem, o que leva à descontinuidade 
e até à fugacidade do movimento.
Os novos – ou novíssimos – movimentos sociais são descentralizados, articulam-se 
através das redes sociais e respondem rapidamente a questões que emergem muito 
repentinamente e que devem receber respostas rápidas. São respostas de quem atua 
com rapidez num tempo repleto de carências e dúvidas políticas, econômicas, sociais 
e culturais. São novas formas de se fazer presente na cena política contemporânea.
222 Unidade 5 | Direitos, cidadania e movimentos sociais
Jornadas de junho de 2013
As manifestações de junho foram um evento sem 
precedentes, único e irreprodutível nas suas origens. 
O inusitado de uma janela histórica permitiu reunir 
contradições sociais muitos fortes, a ponto de deixar 
as mentes mais perspicazes em paralisia – ou seja, 
com enorme dificuldade para entender o que levou 
tanta gente diferente às ruas.
Junho foi único. O Movimento Passe Livre (MPL) sur-
preendeu em termos de reivindicação e capacidade de 
mobilização. Mas sua atuação não explica o que se su-
cedeu. Seus sucessos iniciais estão ligados à dificulda-
de dos governos para ler as insatisfações – muito mais 
para lidar com elas. Os jornais falharam. A polícia ainda 
age como se estivesse em tempos de ditadura. Diante 
da paralisia das velhas instituições, as mídias sociais 
surgiram como grande novidade e tiveram um papel 
catalisador. A mídia alternativa foi fundamental para 
desbancar as maquiagens arquitetadas por governos 
e forças políticas antidemocráticas. O jogo mudou na 
medida em que o mar de descontentes reconheceu a le-
gitimidade de protestar. Em algum momento, protestar 
por qualquer coisa ganhou vasto apoio da sociedade.
À mobilização dos grupos ligados à agenda social soma-
ram-se as insatisfações das classes médias, que há mui-
to ensaiavam ir às ruas. Ambos os vetores somaram-se 
porque, quanto maior a massa, mais as pautas ganha-
vam destaque. A direita empresarial do antigo movi-
mento “Cansei” e o MPL nas ruas, lutando por transpor-
tes públicos de qualidade e contra a corrupção. Cada um 
a seu modo, mas todos nas ruas. Tanto é verdade que, 
tão logo as contradições começaram a tornar-se claras, 
o movimento geral perdeu fôlego e dispersou.
Porém, mais do que contraditórias, as pautas de junho 
eram genéricas, pouco claras. Congregaram interesses 
distintos, embora isso não tenha sido percebido, num 
primeiro momento. Vale a pena um esforço para en-
tender as forças presentes nos protestos como de fato 
são – e não como se manifestam na aparência.
[...]
Minha tese é que as contradições no seio da sociedade 
motivaram os protestos de junho. Foi um momento em 
que os contrários não se dividiram, somaram-se. Pouco 
antes, a pauta pública havia deixado de se renovar. As 
ruas expressaram o esgotamento dos avanços sociais. 
Ambos os extremos da sociedade pressionavam por 
políticas governamentais que os favorecessem. [...]
Mas, não devemos ignorar a relação dialética entre 
os ganhos sociais e as classes. A visão das esquerdas 
mostra-se míope por não perceber que os setores 
abastados também foram afetados (ainda que indire-
tamente) pelos movimentos das classes subalternas. 
Seja no aumento das filas nos aeroportos, seja pelo 
custo dos serviços em geral ou pelo “ultrajante” res-
gate da cidadania, que permite ao oprimido reclamar 
seus direitos… A dialética sugere que nenhuma ação 
histórica existe sem sua antítese. E não se eleva o 
poder dos pobres sem alterar a correlação de forças 
com os ricos. O governo é o colchão que acomoda 
todas essas demandas. [...]
Diante de todos esses contrastes, erraram todos os 
que viram, nas ruas de junho, consequências de longo 
prazo. Os protestos não desencadearam mudanças; 
por enquanto, eles expressaram reações diante do 
que houve anteriormente: maior acesso das maiorias 
a uma parcela da riqueza; incômodo de setores da 
classe média com isso. Talvez o próprio projeto de 
ampliar benefícios sociais sem alterar a estrutura de 
renda esteja no seu limite. É possível que manter a 
trajetória iniciada há dez anos não seja mais praticá-
vel, sem produzir fissuras nas estruturas que repro-
duzem desigualdade e privilégios. Isso, naturalmente, 
despertará reações no chamado “andar de cima”. Para 
escandalizá-lo, nem é preciso falar de reforma agrária 
– basta mencionar a reforma tributária…
Junho não pode ser visto como algo maior do que foi. 
Foi um momento de catarse, não de transformações 
sociais. Nenhum dos movimentos que se uniram na-
quela ocasião têm hoje força para lançar isolada-
mente uma convocação expressiva de protesto. Os 
fatores históricos que permitiram aqueles aconteci-
mentos dispersaram-se e os diferentes setores, antes 
unidos em uma mesma luta, já não se reconhecem.
Se a pauta de reivindicações não pôde ser capturada 
pelas direitas, hoje na oposição, uma boa dose de reali-
dade permitirá perceber a dimensão dos desafios com 
que se deparam as esquerdas, no futuro próximo. Para 
que sejam efetivos, os avanços sociais deverão atingir 
diretamente os privilégios das classes dominantes. 
Haverá vontade e força suficiente para tanto? [...]
VITAGLIANO, Luiz Fernando. Jornadas de junho: três enganos 
e uma hipótese. Disponível em: <http://outraspalavras.net/
brasil/jornadas-de-junho-tres-enganos-e-uma-hipotese/>. 
Acesso em: 1o dez. 2015. 
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