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FICHAMENTO DE NOTAS SOBRE A HISTÓRIA JURÍDICO-SOCIAL DE PASÁRGADA

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UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA
CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS
BACHARELADO EM DIREITO
GUILHERME MARCONI COUTINHO DE SOUZA FILHO - NOITE
FICHAMENTO DE “NOTAS SOBRE A HISTÓRIA JURÍDICO-SOCIAL DE PASÁRGADA” DE BOAVENTURA DE SOUSA SANTOS
JOÃO PESSOA-PB
2019
Nesse texto, Boaventura de Sousa Santos estuda as estruturas jurídicas internas, com foco no pluralismo jurídico, de uma favela carioca – a qual ele nomeia, ficticiamente, de Pasárgada. O fenômeno do pluralismo jurídico existe quando há mais de uma ordem jurídica em um mesmo espaço, oficialmente ou não. Geralmente, ele ocorre onde a atuação das leis estatais não são eficazes, como é o caso das favelas do Rio de Janeiro.
No caso de Pasárgada, o direito não-oficial vigora em paralelo e em conflito com o direito oficial brasileiro. Visando à prevenção e à resolução de conflitos, tal direito não-oficial regula a posse da terra e os direitos sobre as construções de casas e barracos. 
Boaventura alega que, para um entendimento adequado da presença do direito não-oficial em Pasárgada, faz-se necessário um estudo de toda a sua dimensão histórica. Para isso, o autor entrevistou os moradores mais antigos, o que não é um método muito eficaz por causa da não comprovação das respostas dadas – muitas vezes parciais e tendenciosas –, mas foi o único método possível devido à falta de documentação escrita.
Com os resultados da pesquisa histórica, o autor revela que, quando os primeiros habitantes de Pasárgada foram para lá, na década de 30, não havia muitos conflitos, já que as casas eram muito simples – feitas em questão de horas – e havia vasta disponibilidade de terras, bastando a uma das partes conflitantes se mudar. Entretanto, o povoado cresceu exponencialmente e, a partir do final da década de 40, tornou-se frequente conflitos envolvendo a terra e a propriedade, que eram resolvidos com base na violência armada. Esse aumento da violência decorre, principalmente de dois fatores: primeiro, faltava a atuação do estado na organização do novo povoado, que é feita pela polícia e pelos tribunais; segundo, não existia ainda a organização da própria comunidade. 
Com relação ao primeiro fator, os moradores de Pasárgada sempre entenderam que estavam em uma luta contínua com a polícia, uma vez que ela já teria tentado retirar os moradores – tachados de criminosos – de lá. Ademais, os profissionais dos tribunais (juízes, advogados, promotores) eram vistos como muito distanciados da realidade das classes baixas para entenderem as suas aspirações, os serviços dos advogados eram caros e eles sabiam que a comunidade era ilegal à luz da lei. Por tudo isso, requisitar a ação do estado só traria uma visibilidade indesejada para a comunidade.
Boaventura traz duas frases ditas pelos entrevistados: “Nós éramos e somos ilegais” e “Os tribunais têm que observar o código e pelo código nós não tínhamos nenhum direito”. Elas revelam uma ideia de que, por viverem na ilegalidade, os moradores não teriam direito a nada, como se o status residencial afetasse qualquer tipo de conflito a ser resolvido e extirpasse qualquer direito que cabia a eles. Por outro lado, claramente os moradores se sentem injustiçados e, por isso, recorrem a outro direito, o direito não-oficial, ou seja fez com que houvesse aquilo que o autor denominou de “privatização possessiva do direito”. Isto é, uma situação que pode ocorrer em sociedades jovens e desorganizadas, ou seja, à margem da organização estatal, nas quais há a criação e a aplicação de normas que regem a conduta social. A ocorrência dessa privatização possessiva de direito é o que faz existir o fenômeno do pluralismo jurídico.
	Por fim, Boaventura diz que, quando os dois ordenamentos jurídicos (oficial e não-oficial) entram em conflito, cria-se uma situação de suspenção jurídica ou, como ele diz, de “ajuridicidade”, cuja superação é determinada pela violência. Com nova situação de violência, há um novo processo de privatização possessiva do direito, visando a evitar um novo conflito. Entretanto, essa linha tênue entre discordâncias dos dois ordenamentos jurídicos sempre existirá, e a violência sempre estará próxima.

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