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Economia Brasileira Contemporânea: de Getúlio a Lula (Sousa) Capítulo 3 A luta pelas Reformas de Base foi um movimento em prol da continuidade do modelo nacional-desenvolvimentista, mas ao mesmo tempo expressou o momento de maior conflito com o modelo que implicava a abertura do capital estrangeiro. O interregno Jânio Cada vez se tornava impraticável a conciliação dos dois modelos, mesmo apoiado pela UDN, pautou sua campanha com conteúdo nacionalista. De um lado começou a implementar projeto político que interessava o capital estrangeiro (Jânio propôs uma reforma administrativa) que visava adaptar o Estado aos novos tempos; Adotou uma política de contenção salarial, pois acreditava que os aumentos no salário nominal era a causa da inflação; Na linha de atender certas demandas populares, adotou uma política de crédito farto e barato (para atender aos pequenos produtores rurais). Em pouco tempo de governo Jânio estava totalmente isolado, a UDN havia retirado seu apoio e as massas populares se afastado, Jânio renuncia. Os golpistas impuseram através do Congresso o Parlamentarismo e Jango só assumiria se aceitasse essa condição. Duas greves gerais pressionaram o governo para voltar ao regime de Presidencialismo, Jango assume a presidência em janeiro de 1963. Dois modelos provoca crise As contradições que vinham se desenvolvendo mergulharam o país numa profunda crise econômica. O recrudescimento da inflação vinha desde o fim dos anos 50 e acelerou de 1961 em diante, mas piorou a partir de 1963. A crise pode ter sido precipitada pela instabilidade do governo Jânio e a impossibilidade inicial de João Goulart governar. A instabilidade impediu a manutenção dos investimentos feitos por JK e apertaram os investimentos privados. Jânio Quadros na sua política de combate a inflação: cortou os investimentos públicos, encareceu o crédito e cortou os salários provocando encolhimento da demanda. Modelo nacional-desenvolvimentista: Controle nacional sobre a economia; Expansão do mercado interno; Desenvolvimento do setor IIa e setor I; Atuação do Estado na economia; Concessões aos setores populares. Modelo de maior abertura ao capital estrangeiro: Maior abertura ao capital estrangeiro; Formação de um mercado de consumo de elite; Desenvolvimento do setor IIb; Monopolização precoce da economia; Aumento da concentração de renda. Ao mesmo tempo em que o modelo nacional-desenvolvimentista tentava avançar na economia baseada no capital estrangeiro, ele o minava por dentro, favorecido pela expansão mundial das transnacionais. O desenvolvimento no novo padrão econômico exigia a redução do salário dos trabalhadores, mas as lutas sindicais e a tendência do governo de favorecer melhoras aos trabalhadores bloqueavam essa redução. O resultado dessa não redução foi à queda na taxa geral de lucro (impossibilitando o calculo econômico dos empresários, dificultando projeções de rentabilidade). Com a queda da taxa de lucro, a impossibilidade do calculo e a transferência de recursos para o exterior, levou a redução na taxa de investimentos. Deteriorando as contas externas, o Brasil perdia capacidade para viabilizar transferências para o exterior (se fortalecia o projeto de desenvolvimento nacional independente). As empresas estrangeiras reduziram seus investimentos aqui e aumentaram as remessas para o exterior. A queda na taxa de investimento reduziu a atividade econômica e como consequência a crise. Mobilização popular deflagra Reformas de Base Jango teria dois caminhos para enfrentar a crise: supera-la nos marcos do nacional- desenvolvimentismo (Reformas de Base), ou superar a crise nos marcos da economia dependente (cortes de gastos públicos, cortes no crédito e nos salários). Com a proposta de negociação da divida externa e de deflagração das Reformas de Base, o Plano Trienal previa uma série de medidas de curto prazo que implicava a contenção dos investimentos públicos e do salário real. O plano desagradou todos os lados: os conservadores e favoráveis ao capital estrangeiro (pela promessa das Reformas de Base) e os nacionalistas (pelo agravamento no curto prazo das condições de vida da população). Sem apoio popular e após condenação de partidos que apoiava o governo, o Plano trienal volta para a gaveta. Ao mesmo tempo em que a população se mobilizava contra o plano, exigia a deflagração das Reformas de Base. Não conseguindo conciliar os dois caminhos, Jango decide deflagrar as reformas, tendo como principais medidas: Regulamentação da Lei de Remessas de Lucros; O governo acabou com os privilégios que permitia o capital estrangeiro trazer máquinas obsoletas sem cobertura cambial (favorecendo a indústria nacional de bens de capital); Proibiu o financiamento estrangeiro para importação de máquinas e equipamentos, que a indústria nacional pudesse produzir; Foi instalada a Eletrobrás; Decretou aumento de 100% dos salários, estendeu os direitos trabalhistas como aposentadoria aos rurais, o 13º salário e outros. Jango assinou um decreto que desapropriava as terras ociosas às margens das rodovias e açudes federais e outro que encampava as refinarias particulares de petróleo. Essa postura não era bem vista pelo governo e as corporações dos EUA. Com isso o governo dos EUA em 1963, resolveu bloquear os créditos externos ao Brasil, insistindo também que aceitassem a imposição do FMI (ao invés de aceitar, Jango leva adiante o projeto das Reformas de Base). Ele procurou recuperar o projeto de Vargas, para a produção de bens de capital (setor de base) com objetivo de propor desenvolvimento mais equilibrado e autônomo do capital estrangeiro. Com a morte de Kennedy (presidente dos EUA), Johnson começa uma virada política externa nos EUA, passando a apoiar a realização de golpes militares na América Latina como forma de proteger os investimentos dos EUA (surge o engajamento para conspirar a derrubada do governo João Goulart). Decifrando o Golpe de 1964 O governo de Jango não teve tempo de por em prática seu programa de reformas, realizava-se um golpe militar que o deporia e deteria em 1º de abril de 1964. Condições internacionais adversas, considerando o expansionismo e uma política externa intervencionista por parte dos EUA. Os fatores que tornaram o possível o golpe foram: a dificuldade de Jango em conciliar uma frente nacional que fosse capaz de sustentar o governo e o centro da campanha contra o governo que o acusava de querer implantar uma republica sindicalista (tendo como satélite a US). Em lugar de recuar, Jango deflagrou as Reformas e determinou que o BB suspendesse operações de redesconto e crédito para os empresários que estavam contra seu governo. O nacionalismo militar Com uma doutrina espelhada na escola militar dos EUA, qualquer questionamento interno era entendido como tentativa de passar para o outro bloco de “ocidental- cristão” para “comunista” e por isso deveria ser reprimido pelas Forças Armadas. A maioria das Forças Armadas brasileira participou do golpe não para alinhar o Brasil aos EUA, mas achando que estariam impedindo o país de ser subordinado a União Soviética (defesa do interesse nacional). Os EUA conspirou o golpe junto aos militares brasileiros, disponibilizou patrocínio financeiro, armas e munições em favor do golpe de 1964 como prova disso a Operação Brother Sam. Capítulo 4 O novo modelo econômico e o “Milagre Brasileiro” O novo teve como principal tarefa remover os obstáculos à expansão do capital estrangeiro e garantir uma política que desse estabilidade ao modelo a partir daírecorrente. Realizou a repressão ou cerceamento da expressão social e política das forças nacionais que sustentavam o nacional-desenvolvimentista. Empresariado brasileiro e as Forças Armadas, essa composição haveria de exigir que o estilo adotado satisfizesse os interesses do capital estrangeiro, mas também alguns interesses econômicos do empresariado nacional. O PAEG e o combate à inflação O novo regime precisava adotar várias medidas de curto e longo alcance para recuperação econômica, só assim conquistaria condições para sua consolidação política. Como primeira medida estava o combate à inflação e o controle da “temperatura política" a fim de recuperar a confiança dos empresários para investir (empresas estrangeiras). Segundo, medidas destinadas a recuperar as condições de lucratividade empresarial e eliminar todos os obstáculos que impediam o desenvolvimento do novo padrão (preparação institucional da economia para desempenho dos oligopólios). Roberto Campos – Octávio Bulhões – Mario Simonsen coordenaram a formulação do Plano de Ação Econômica do Governo (PAEG) para três anos. Na área de combate a inflação três medidas destinada a restringir a demanda (vista como responsável pela pressão dos preços): Política fiscal: adotou medidas para elevar a receita pública, atuando na contenção de gastos do governo que elevou em termos reais a receita em 25% e uma drástica redução no déficit publico; Política creditícia: o governo limitou o credito do Banco do Brasil ao setor privado e um controle estrito na expansão primaria de meios de pagamento, contração dos créditos concedidos ao conjunto dos setores produtivos; Contenção salarial: o regime ditatorial buscaria desarticular os mecanismos de defesa na condição de vida dos trabalhadores e uma das primeiras providencia adotadas pelo governo foi a prisão de lideres sindicais, intervenção dos principais sindicatos e desarticulação do CGT. Resultado: endurecimento da legislação trabalhista, proibição do direito a greve (1964), política de contenção salarial (1965), medidas que eliminavam a estabilidade no emprego (1966). Atração do capital estrangeiro Em primeiro lugar, a contenção salarial levaria ao aumento da taxa de lucro exigida para retomada dos investimentos internos e o retorno da transferência de lucro para o exterior. Em segundo lugar, a nova política tentava criar condições institucionais para garantir a continuidade de acumulação de capital sob os moldes de um modelo com maior abertura ao capital estrangeiro. A política de contenção salarial contribuía para o combate a inflação não porque contivesse a demanda, mas porque permitia que os cartéis aumentassem os lucros sem aumentar os preços. Essa política não era o instrumento do combate à inflação, mas uma exigência dos grupos estrangeiros para retomar os investimentos. Na medida em que diminuía o salário real, aumentava a possibilidade de repatriamento do capital estrangeiro e gerando a concentração de renda necessária para ampliação da demanda interna para seus produtores. Inflação cai, mas a crise continua A crise econômica com altos e baixos persistirá até 1967, as novas medidas lograram uma vitória rápida no terreno da inflação, no entanto até 1967 a taxa de lucro continuou baixando. Por conseguinte, a taxa de investimento seguiu reduzindo e ampliava-se a capacidade ociosa do aparato produtivo. Bulhões – Campos – Simonsen põe em prática suas ideias Para eles, a inflação seria produto de excesso de moeda, que resultará no excesso de gasto público, de investimento privado e de salários. O centro da sua política seria a eliminação desses excessos. O que ocorria naquele momento, era a existência capacidade ociosa. Nestas circunstâncias, o aumento da demanda pode ser suprido por aumento da produção, em lugar de pressionar os preços para cima. Colocaram também em prática suas ideias sobre o capital estrangeiro. Bulhões transformou-se, a partir de 1950 no mais duro opositor do ideário da Cepal e converteu em sua obsessão o combate sem trégua à inflação e a defesa do capital estrangeiro. A maneira de Gudin, industrialização só com capital estrangeiro. As ações do PAEG se inseriram na ótica de desobstruir os obstáculos à ação do capital estrangeiro no Brasil. Capital estrangeiro não responde Em lugar de investi-se no país, o capital estrangeiro evadia-se. Ao mesmo tempo que não subia o investimento direto estrangeiro, aumentava as remessas de lucro para o exterior. Não bastava a segurança oferecida pelo novo regime, nem o apoio que recebiam dos países desenvolvidos. As grandes corporações e agencias internacionais esperavam pelo fim da crise econômica e por mais garantias (estabilização do novo regime para poderem aumentar a participação na economia brasileira). A crise econômica gera insatisfação A persistência da crise econômica até 1967 começou a romper a unidade do novo bloco de poder. O resultado da crise, agravada pela política de aumento de impostos e das tarifas públicas, pelo corte do crédito, do gasto público e do salário gerou multiplicação das falências das pequenas e médias empresas. Os assalariados das camadas médias sofriam os efeitos da contenção salarial. Favorecia uma certa minoria de elevados rendimentos, mas prejudicava as grandes massas dos assalariados médios (principalmente os servidores públicos). O movimento sindical começa a retomar sua luta econômica em 1965: a despeito de toda legislação proibitiva e da repressão governamental (ocorreram várias greves em 1965 e 1966). Os trabalhadores se mobilizaram contra a deterioração de suas condições de vida. Em 1966, também era retomada a luta dos estudantes pela reforma universitária, pela anistia e contra a política econômica. A encruzilhada de 1968 Em 1967, Castelo Branco caiu e entra Costa e Silva no governo. Delfim Neto assume a política econômica e há a flexibilização dessa política e criação de novos instrumentos coercitivos. O golpe dentro do golpe Após realizar uma dura repressão à greve de Osasco e de colocar a ilegalidade a Frente Ampla o governo aproveitou o episodio para fechar o Congresso, cassar mandatos dos parlamentares mais ativos contra o regime e consolida novos instrumentos repressivos (Ato Institucional nº 5 que concedia poderes ditatoriais ao Presidente). Aproveitou-se também da doença de Costa e Silva para decretar seu impedimento e de seu vice. Iniciou-se o processo de consolidação da ditadura, fechando-se o espaço para luta política legal, tanto no terreno parlamentar, quanto na mobilização de massa. Era o regime rompendo com sua própria legalidade. A escolha de Médici Após impedimento de Costa e Silva, o general nacionalista Albuquerque Lima (Ministro do Interior) destacou-se como nome mais forte dentro das Forças Armadas para encabeçar o novo governo. Mas a maioria do Alto Comando, dominada pelo núcleo favorável ao capital estrangeiro e ao alinhamento automático com os EUA, já optava pelo chefe do SNI: Emilio Garrastazu Médici. Crescimento acelerado da economia No período que se abre de 1968 a 1973, houve uma expansão acelerada da economia brasileira, batizada da época como “milagre brasileiro” atribuindo-o ao chamado “modelo brasileiro de desenvolvimento”. A predominância da dependência externa na economia brasileira não significou a destruição dos elementos nacionais desenvolvidos antes, mas sua incorporação ainda que subordinada, ao novo padrão de desenvolvimento. Entre essas características podemos destacar: Investimentos públicos; As estatais; As medidas protecionistas; O processode substituição de importações; Legislação do trabalho; Desenvolvimento do mercado interno. Condições internas para o crescimento A etapa da reanimação que vai de 68 a 70, deveu-se basicamente a utilização de capacidade ociosa (utilização de capacidade produtiva gerada anteriormente). Essa ociosidade tinha sido criada no período de estagnação econômica (1963 a 1967). Foi essa a base inicial da reanimação do pós 1968. Outro fator esta associado ao papel do investimento público, particularmente das estatais. Ficando evidente que as estatais cumpriram um papel fundamental no crescimento acelerado da época do “milagre”.
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