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Pós guerra e o crescimento industrial

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Notas de Aula de Economia Brasileira I - Prof. Dr. Orlando Assunção Fernandes 
 
 
 
 
 
 
FAAP - Faculdade de Economia e Relações Internacionais 
1 
 
 
 
O PÓS-GUERRA E O CRESCIMENTO INDUSTRIAL 
(1946 – 1950) 
 
 
O CENÁRIO INTERNACIONAL NO INÍCIO DO GOVERNO DUTRA 
 
Até o final dos anos trinta, e durante os primeiros anos da 2° Grande Guerra, o 
governo brasileiro era visto por Washington como “uma ditadura mais aceitável que outras”. 
Entretanto, a partir de 1943, verificou-se uma reorientação da política norte-americana no 
que diz respeito ao apoio a governos latino-americanos que não haviam sido eleitos. 
 
Começou a tomar corpo, tendências, dentro do governo americano, no sentido de 
apoiar uma solução liberal no Brasil que removesse as contradições em se ter uma política 
externa pró-aliada a um regime político autoritário. 
 
É nesse contexto externo, somado a considerável agitação da política interna, que 
deve ser vista a queda de Vargas e o fim do Estado Novo, e a eleição, em 1945, de Eurico 
Gaspar Dutra. 
 
A eleição de Dutra marcaria a retomada do processo de redemocratização brasileiro, 
com um governo coadunado com os interesses liberalizantes americanos. 
 
As perspectivas que o Governo Dutra tinha em seu início foram fundamentalmente 
determinadas pela ideia de um mundo organizado de acordo com os princípios que 
emergiram de Bretton Woods: 
 
 A criação do sistema padrão ouro-divisas, com o dólar americano como moeda 
internacional. 
 A livre conversibilidade das moedas. 
 A criação do FMI, do BIRD e do GATT. 
 
Bretton Woods era compreendido como um sistema de equilíbrio econômico mundial 
e tinha como objetivo moldar a economia do pós-guerra de acordo com as convicções norte-
americanas. Contudo, na prática, não havia equilíbrio no pós-guerra. Os EUA haviam 
crescido a uma taxa de 11% ao ano em média no período 1940-45, enquanto a Europa e o 
Japão tiveram parte de suas populações dizimadas e suas economias desarticuladas com a 
destruição de seus parques produtivos. Assim, no imediato pós-guerra, praticamente só os 
EUA poderiam fornecer os bens de consumo e os equipamentos que estes países 
necessitavam. Com o dólar sendo a moeda de conversibilidade internacional, isso acarretou 
o chamado período de escassez de dólares. 
 
 A inicial indiferença americana iria ser revertida quando começou a ficar claro que os 
países europeus, deparados por um quadro econômico sem perspectivas, caminhavam a 
passos largos em direção da esquerda comunista, com o fortalecimento do poder de 
influência da União Soviética na Europa. 
 
Notas de Aula de Economia Brasileira I - Prof. Dr. Orlando Assunção Fernandes 
 
 
 
 
 
 
FAAP - Faculdade de Economia e Relações Internacionais 
2 
 
 Essa mudança de postura corresponderia à proclamação da Doutrina Truman em 
1947, com o combate à expansão comunista, e com a aprovação do Plano Marshall. A partir 
desse plano, volumosos recursos foram encaminhados ao Japão e, principalmente, à 
Europa, beneficiando 16 países em um total de USD 11,5 bilhões. Além disso, os EUA 
passaram a aceitar regras protecionistas em relação a seus produtos, bem como fortes 
desvalorizações cambiais de outras moedas frente ao dólar, sem operar quaisquer 
retaliações comerciais. 
 
 
A POLÍTICA EXTERNA DO GOVERNO DUTRA 
 
 
O início do Governo Dutra foi marcado por perspectivas favoráveis quanto à situação 
externa. Tais perspectivas justificavam-se pelas condições, que se esperavam favoráveis, 
da nova organização mundial que emergira de Bretton Woods; e pelas perspectivas de alta 
no preço internacional do café. Além disso, criou-se, dentro do Governo Dutra, aquilo que 
ficaria conhecido como a ilusão de divisas. Tal ilusão de divisas se justificava por três 
fatores: 
 
 O país possuía folga em suas reservas internacionais. 
 O governo brasileiro se julgava credor dos EUA por seu apoio na 2° Guerra. 
 Dutra e sua equipe acreditavam que a política de câmbio desatrelado ao ouro 
seria capaz de atrair investimento estrangeiro, solucionando o problema do 
Balanço de Pagamentos. 
 
Dessa forma, a taxa de câmbio foi mantida na mesma paridade de 1939, o que, com 
o passar do tempo, gerou forte sobrevalorização cambial. Os motivos que justificaram tal 
política eram: 
 
 o estímulo para as importações de bens de capital. 
 o controle na inflação via importações de bens de consumo. 
 a crença que houvesse estímulos à entrada de capitais. 
 
 O acúmulo de reservas, logo se mostrou ilusório. A balança comercial brasileira 
apresentava superávits apenas em áreas de moedas não conversíveis e déficits com os 
EUA. As reservas internacionais haviam aumentado, mas através do acúmulo de moedas 
fracas. Com o câmbio sobrevalorizado, nossas reservas de moedas conversíveis se 
reduziram drasticamente. Tal desequilíbrio no mercado cambial se devia a paralização da 
economia europeia, o que tornava os EUA a origem de cerca de 60% das nossas 
importações, enquanto as exportações correspondiam apenas a 40% do total. 
 
 Diante do rápido esgotamento das reservas internacionais conversíveis, uma 
desvalorização do cruzeiro foi colocada de lado por algumas razões: a) o impacto sobre a 
demanda do café (nosso principal produto de exportação) seria pequeno dada a 
inelasticidade de sua procura; b) a preocupação com os possíveis impactos sobre a inflação; 
c) e porque não havia necessidade de se estimular as exportações indiscriminadamente, 
haja a vista a já existência de superávits em áreas de moedas não conversíveis. 
 
Optou-se então por um controle seletivo de importações mais rígido a partir de 1947, 
com o sistema de concessão de licenças prévias para se importar. Além de contornar o 
problema da perda de reservas, o sistema de licenças prévias acabaria por se constituir em 
Notas de Aula de Economia Brasileira I - Prof. Dr. Orlando Assunção Fernandes 
 
 
 
 
 
 
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elemento chave para a promoção do processo de substituição de importações. 
 
No que tange às relações internacionais, percebe-se uma postura de indiferença dos 
EUA quanto ao Brasil. Fica claro que a ideia de ser credor americano era mera ilusão, 
levando por água abaixo quaisquer esperanças de assistência financeira. A visão americana 
era de que o desenvolvimento latino-americano deveria se consubstanciar em aumento de 
produtividade, capitais internos e capitais estrangeiros privados. 
 
Essa postura de indiferença americana com o Brasil só iria mudar em 1949. Em um 
discurso no Congresso Americano, o presidente americano Harry Truman afirmava que se 
deveria estender o conhecimento técnico americano aos países pobres do mundo. A ideia 
era reconquistar apoio, em regiões outrora negligenciadas, para a ofensiva da Coréia. A 
consequência prática dessa mudança de postura para o Brasil foi a obtenção de ajuda 
financeira do BIRD e do EXIMBANK e a criação da Comissão Mista Brasil-Estados Unidos. 
 
 
A SUBSTITUIÇÃO DE IMPORTAÇÕES E A INDUSTRIALIZAÇÃO RESTRINGIDA 
 
 
O controle das importações, através da concessão de licenças prévias, seria de 
suma importância para o crescimento da indústria brasileira no pós-guerra. Crédito 
subsidiado (via Banco do Brasil), taxa de câmbio sobrevalorizada, juntamente com medidas 
discriminatórias para as importações de bens de consumo e de bens com similar nacional, 
geraram fortes estímulos à implantação de indústrias substitutivas que passaram a contar 
com reserva de mercado e com o barateamento de matérias primas e de bens de capital 
importados. A combinação desses elementos provocou três efeitos importantes para a 
indústria nascente: 
 
 Efeito Subsídio: através do barateamento de componentes importados 
necessários à industrialização 
 
 Efeito Protecionista: através das restrições à competição dos importados 
 
 Efeito Lucratividade: ao gerar maior rentabilidade na produção para o mercado 
interno 
 
Para esses resultados, o setor cafeeirocontribui fortemente. A transferência 
intersetorial de renda, do setor cafeicultor para o setor industrial, gerada pela 
sobrevalorização cambial, constituiu-se em importante elemento. Entretanto, vale lembrar 
que as pressões contrárias dos cafeicultores foram menores do que se poderia esperar, pois 
os impactos da sobrevalorização do câmbio eram amortizados pela alta internacional do 
preço do café em dólares. 
 
Vale notar também que, apesar da intensificação do processo de substituição de 
importações, a industrialização no Brasil, conforme definição do Prof. João Manuel Cardoso 
de Melo, constituía-se, nesse momento, numa espécie de industrialização restringida, haja 
vista fomentar a produção de bens de consumo, mas ainda continuar dependente das 
importações de bens de capital. 
 
 
 
 
Notas de Aula de Economia Brasileira I - Prof. Dr. Orlando Assunção Fernandes 
 
 
 
 
 
 
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A POLÍTICA ECONÔMICA INTERNA E O PLANO SALTE 
 
 
A única tentativa de ação planejada do Estado – o primeiro embrião de sucessivas 
tentativas futuras de planificação da economia – e que deu início a história moderna de 
planos de desenvolvimento no Brasil, foi o Plano Salte de 1948. O Plano Salte era um plano 
quinquenal (1949-1953) que previa a coordenação de gastos públicos, visando 
essencialmente investimentos em quatro grandes áreas: Saúde, Alimentação, Transporte e 
Energia. 
 
Porém, a dificuldade maior do plano eram as suas fontes de financiamento. Com um 
parlamento predominantemente formado por políticos de inspiração liberal, que 
naturalmente não viam com bons olhos uma maior participação do Estado na economia, o 
Plano Salte foi aprovado apenas em 1950, quase dois anos após sua elaboração, e teve sua 
implantação fragmentada, sendo abandonado oficialmente em 1951. 
 
No que se refere à política econômica interna do Governo Dutra, esta foi, até meados 
de 1949, notoriamente de caráter liberal, com a prática de políticas monetária, creditícia e 
fiscal contracionistas, tanto na gestão Gastão Vidigal, como na gestão Corrêa e Castro. 
 
Nesse período, o Banco do Brasil (BB) constituía-se na principal instituição financeira 
do país, além de acumular também o status de autoridade monetária. Quem presidia a 
instituição detinha, como era de se esperar, muito prestígio político. Quando as visões de 
mundo entre o Ministro da Fazenda e o Presidente do BB não convergiam, conflitos surgiam 
naturalmente. E foi o que se viu entre Corrêa e Castro e Guilherme da Silveira (Presidente 
do Banco do Brasil). Enquanto Corrêa e Castro praticava, a frente do Ministério da Fazenda, 
políticas monetária e fiscal contracionistas, Guilherme da Silveira, a frente do BB, praticava 
uma política de crédito mais frouxa, voltada ao estímulo da atividade empresarial. 
 
Desse embate, em meados de 1949, saiu-se vitorioso Silveira que viria a substituir 
Corrêa e Castro no Ministério da Fazenda, marcando um ponto de inflexão na condução da 
política econômica do Governo Dutra. Os déficits se sucederam a partir de 49, a política 
monetária teve maior folga e a política de crédito do BB continuou sua trajetória de franco 
crescimento. A inflação recrudesceria, mas o crescimento real do produto registraria taxas 
entre 7% e 8% a.a. ao final do Governo Dutra. Essa mudança na condução da política 
econômica se justificou pela proximidade das eleições, pela forte demanda de crédito por 
parte da indústria e pelo fim da ilusão liberal. 
 
Assim, o final do Governo Dutra acabaria marcado pela retomada do crescimento 
econômico, pelo aumento das taxas de inflação e pelo desequilíbrio fiscal do setor público. 
Apesar de ser lembrado como um governo de inclinação liberal, percebe-se em várias 
medidas (a liberação de importações de bens de capital, a manutenção do câmbio fixo e 
sobrevalorizado, bem como a determinação de controles seletivos nas importações) a sua 
preocupação em dar prosseguimento à acumulação industrial e aos investimentos iniciados 
por seu antecessor. 
 
 
 
Notas de Aula de Economia Brasileira I - Prof. Dr. Orlando Assunção Fernandes 
 
 
 
 
 
 
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NACIONALISMO E CRISE NO SEGUNDO GOVERNO VARGAS 
(1951 – 1954) 
 
A POLÍTICA EXTERNA DE VARGAS: RUMO AO COLAPSO CAMBIAL DE 1952 
 
Em 1951, Vargas volta ao poder, agora de forma democrática. Em seu projeto de 
governo, a política econômica estava dividida em duas fases: 
 
i) a fase de estabilização da economia, que consistia em equilibrar as contas públicas e 
praticar uma política monetária contracionista; 
 
ii) e, depois de alcançado o objetivo central da primeira, a fase dos empreendimentos e 
realizações. 
 
Devido às semelhanças, estas fases foram, respectivamente, comparadas aos 
governos Campos Sales e Rodrigues Alves. 
 
A vitória de Vargas, nas eleições de outubro de 1950, parece ter acelerado a 
disposição americana em cooperar com os programas de expansão dos setores de 
infraestrutura. Assim, ainda em dezembro de 1950, foi constituída a Comissão Mista Brasil-
Estados Unidos (CMBEU) que representaria uma mudança de postura norte-americana 
quanto ao Brasil. 
 
A CMBEU se propunha a elaborar projetos concretos de desenvolvimento 
econômico, os quais seriam financiados pelo Eximbank e o BIRD. Tal comissão era 
fundamental para a realização da segunda fase do governo Vargas, por assegurar a 
superação de pontos de estrangulamento na infraestrutura econômica do país e, com estes 
gargalos superados, estimular o ingresso de novos investimentos e de novos empréstimos. 
 
O novo quadro das relações com os EUA (com a criação da CMBEU) e a elevação 
do preço internacional do café, traziam expectativas animadoras no setor externo. Assim, a 
política de comércio exterior, nos dois primeiros anos de governo, manteve a taxa de câmbio 
sobrevalorizada e o regime de concessão de licenças para importação mais brando. 
 
Este abrandamento no regime de concessões de licenças, devia-se à alta propensão 
a importar, ao precário abastecimento interno, à posição cambial confortável e às pressões 
inflacionárias que, do ponto de vista liberal, eram oriundas do acúmulo de reservas, do 
déficit público e da expansão monetária e creditícia. 
 
O resultado prático de tal afrouxamento foi uma abrupta redução das reservas em 
moedas conversíveis de US$ 162 milhões, em março, para US$ 43 milhões em julho. Neste 
contexto, em agosto, a SUMOC definiu instruções para que fosse reintroduzido um controle 
mais severo na concessão de licenças. 
 
Em 1951 a balança comercial apresentou pequeno superávit de US$ 68 milhões. No 
ano seguinte este resultado não se repetiria. As importações, apesar do aperto na 
concessão de licenças, permaneceram praticamente inalteradas. Já as exportações 
sofreram queda de 20%, devido aos efeitos da sobrevalorização cambial, à crise na indústria 
Notas de Aula de Economia Brasileira I - Prof. Dr. Orlando Assunção Fernandes 
 
 
 
 
 
 
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têxtil mundial e à expectativa criada em torno de uma possível desvalorização, que fazia 
com que os exportadores ampliassem os estoques. 
 
A crise cambial de 1952 foi fruto de um déficit comercial de quase US$ 300 milhões 
(oriundo da queda nas exportações de algodão e de outros produtos, e do gasto com 
importações de trigo americano), somado aos elevados gastos com fretes e aos baixos 
níveis de ingresso de investimentos diretos e financiamentos, que conduziram ao 
esgotamento das reservas internacionais, particularmente as conversíveis. 
 
Deste modo, a crise cambial correspondeu à fratura de uma das pernas de 
sustentação da política Campos Sales - Rodrigues Alves. 
 
 
A POLÍTICA ECONÔMICA INTERNA NO PERÍODO 1951-52 
 
 
A primeira fase do plano de governo de Vargas (a fase Campos Sales) seria definida 
como uma fase de austeridade fiscal e de políticas monetária e creditíciacontracionistas. 
 
Os obstáculos para a implantação de tal fase eram: 
 
- A presença de Ricardo Jafet na presidência do BB. 
- As dificuldades em mudar o sistema tributário e aumentar impostos. 
- As dificuldades em cortar despesas orçamentárias. 
 
No primeiro ano tais dificuldades foram superadas, já que: i) as despesas com 
investimento público foram cortadas; e ii) as receitas se elevaram devido à inflação, ao 
crescimento econômico, à maior eficiência do sistema arrecadatório e à forte expansão das 
importações. A combinação destes fatores resultou no primeiro superávit consolidado desde 
1926. Entretanto, no ano seguinte, a situação não se repetiria. O estouro das contas de 
estados e municípios mais que absorveu o esforço fiscal da União. 
 
A política monetária, conduzida de maneira ortodoxa, foi contracionista. Contudo, a 
política creditícia moveu-se em direção oposta, coadunada pela própria postura do 
presidente do BB que expandiu o crédito às atividades econômicas. 
 
A liberação das importações, com taxa de câmbio fortemente sobrevalorizada, além 
da disponibilidade de crédito, fomentou a compra de bens de capital, expandindo as taxas de 
investimento e, por conseguinte, o nível de atividade que pulou de 4,9% em 51 para 7,3% em 
52. Já a variação dos preços nesses dois primeiros anos de governo manteve a trajetória 
ascendente que se registrava desde o final do governo Dutra. 
 
No início de 1953 a conjuntura econômica estava dominada pelo colapso cambial do 
país. Sem ter obtido êxito no controle da inflação, ficava abalado o projeto de sanear a 
situação econômico-financeira (fase Campos Sales) para depois iniciar a fase dos 
empreendimentos (fase Rodrigues Alves) que incluía a criação do BNDE (1952) e da 
Petrobrás (1953). 
 
Ao longo do primeiro semestre de 1953, um dos pilares de sustentação da segunda 
fase ruiu, com o encerramento da CMBEU. As causas que determinaram seu fim prematuro 
devem ser vistas, não pela mudança de postura de Vargas, mas pela alternância do poder 
nos EUA e pelo conflito entre o BIRD e o Eximbank. 
Notas de Aula de Economia Brasileira I - Prof. Dr. Orlando Assunção Fernandes 
 
 
 
 
 
 
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No final de 1952, após 20 anos de domínio do partido democrata nos Estados 
Unidos, o general Eisenhower venceu as eleições presidenciais americanas. Com a alegação 
da necessidade de conter gastos, o governo americano abandonaria a política Truman, não 
mantendo, portanto, os financiamentos para os projetos da CMBEU. 
 
Outra repercussão negativa da vitória de Eisenhower para o Brasil é que este 
apoiaria o BIRD na disputa com o Eximbank. A consequência direta de tal posicionamento é 
que esta última passou a adotar condições duras para concessão de empréstimos, em 
especial um de US$ 300 milhões que só foi efetivado por pressão dos próprios exportadores 
e investidores norte americanos. 
 
Em 1953, os objetivos de política econômica do ministro Lafer continuavam os 
mesmos. A única mudança significativa havia sido a demissão de Jafet do BB. Mesmo com 
esta vitória política de Lafer, os meses vindouros não seriam bons para suas pretensões. O 
socorro a bancos com problemas financeiros e uma forte seca no Nordeste resultaram em 
forte expansão monetária. 
 
Entretanto, o maior problema continuava na questão externa. As exportações 
brasileiras não reagiam e as pressões dos cafeicultores por uma taxa de câmbio privilegiada 
aumentou. Apesar de uma queda das importações, estas não foram suficientes para 
compensar a forte queda das exportações. 
 
A queda de Lafer, que foi substituído por Osvaldo Aranha, está inserida numa ampla 
reforma ministerial que buscou fortalecer a coesão do governo, convocando antigos 
colaboradores e políticos novos e fiéis a Vargas. As dificuldades do governo só aumentavam. 
Eclodiam greves e as derrotas políticas se sucediam como, por exemplo, a vitória 
esmagadora de Jânio Quadros para a prefeitura de SP. A escolha de Osvaldo Aranha para a 
pasta da Fazenda buscava acalmar setores da UDN. Já a opção por João Goulart para o 
Ministério do Trabalho visava recompor o prestígio entre os trabalhadores e os sindicatos. 
 
 
UMA NOVA TENTATIVA DE ESTABILIZAÇÃO E A CONJUNTURA DE 1953/54 
 
 
O colapso cambial e a deterioração das relações econômicas com os EUA 
determinaram o abandono definitivo do projeto Campos Sales – Rodrigues Alves. 
 
A política do novo ministro da Fazenda consistia numa nova tentativa de 
estabilização da economia, privilegiando o ajuste cambial. A primeira medida foi 
homogeneizar o benefício cambial aos exportadores, reduzindo as pressões dos 
cafeicultores, além de uma posição externa firme, cobrando a liberação de uma 2 parcela 
(US$ 60mi) do empréstimo feito pelo Eximbank. 
 
Os problemas centrais para o sucesso desta nova tentativa de estabilização eram: i) 
o financiamento do déficit público; e ii) a situação cambial. 
 
Porém, numa única reforma, consubstanciada na instrução 70 da Sumoc, buscou-se 
equacionar tais problemas. Esta instrução restabelecia o monopólio cambial do BB e 
substituía o controle quantitativo das importações pelos leilões cambiais. 
 
Notas de Aula de Economia Brasileira I - Prof. Dr. Orlando Assunção Fernandes 
 
 
 
 
 
 
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Sistema de Taxas Múltiplas de Câmbio – 1955/57 
 
 1955 1956 1957 (*) 
Taxa Oficial (**) 18,82 18,82 18,82 
Taxa do Mercado Livre 73,54 73,59 75,67 
Taxas de Importações 
Categoria I 87,70 83,05 60,76 
Categoria II 105,23 111,10 81,56 
Categoria III 176,00 149,99 106,34 
Categoria IV 223,16 219,58 151,93 
Categoria V 303,54 309,28 316,39 
Taxas de Exportações 
Categoria I 31,50 37,06 38,16 
Categoria II 37,91 40,10 43,06 
Categoria III 43,18 49,88 55,00 
Categoria IV 50,98 59,12 67,00 
(*) Válida de Janeiro a Agosto 
(**) Taxas entre o Cruzeiro e o Dólar Americano 
 
Fonte: Dib (1985). 
 
 
Para a realização destes leilões, as importações foram classificadas em cinco 
categorias, de acordo com um critério de essencialidade, ou seja, foram fixados ágios que 
eram crescentes de acordo com a menor essencialidade da categoria. 
 
Este sistema permitiu, com a realização de amplas desvalorizações cambiais, 
substituir o controle quantitativo de importações, por outro que, via ágios, onerava a compra 
de certos produtos e favorecia a aquisição de outros, de acordo com o critério de 
essencialidade. 
 
Além disto, esperava-se que o recolhimento de ágios viesse a se constituir numa 
importante fonte de receita da União. Embora a instrução 70 determinasse que a utilização 
desta receita fosse destinada à regularização de operações cambiais e ao financiamento à 
agricultura, esperava-se superar esta rigidez. 
 
Com tal prática cambial, as exportações se recuperaram e as importações 
interromperam sua trajetória de forte crescimento. O resultado foi a positiva reversão da 
balança comercial em 1953. 
 
Apesar da intenção de Aranha de realizar uma política fiscal austera, o objetivo não 
foi alcançado. As razões deste insucesso foram: i) o aumento das despesas com obras 
públicas; ii) a forte seca que atingiu o Nordeste; iii) a concessão de um abono ao 
funcionalismo; iv) os gastos extraordinários com as eleições municipais; v) o pagamento, via 
BB, de US$ 250 milhões de atrasados comerciais; e vi) a concessão de altos empréstimos do 
BB para o tesouro paulista, diante da quase falência do Estado de São Paulo. 
 
As despesas da União cresceram 40,3%, enquanto as receitas cresceram 20,6%. A 
Notas de Aula de Economia Brasileira I - Prof. Dr. Orlando Assunção Fernandes 
 
 
 
 
 
 
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expansão do déficit público afetou também a política creditícia do governo federal, cujos 
recursos do BB passaram a ser direcionados menos para as atividades econômicas e mais 
para o Tesouro Nacional. A políticamonetária também foi expansionista em 1953. 
 
Deste modo, em 1953, a inflação deu um salto de 12% para 21%. A explicação 
liberal recaía no retorno do déficit público. Entretanto, existem forte razões para crer que a 
mudança de patamar da inflação se deveu mais ao impacto das desvalorizações cambiais 
que pressionaram os custos das empresas. 
 
O desempenho do PIB é frustrante para os padrões do pós-guerra. Em 1953 o PIB 
cresceu 2,5%. Este pequeno crescimento deve-se ao medíocre desempenho do setor 
agrícola, à estagnação do setor de serviços e à queda do nível de investimento do setor 
privado, dada as restrições às importações. 
 
A difícil situação econômica foi agravada ainda por uma crise na produção de 
energia elétrica (apagão) provocado por uma prolongada estiagem que obrigou o 
racionamento do fornecimento à região Sudeste. 
 
Para o ano de 1954 as expectativas externas eram favoráveis. Esperava-se a 
manutenção das receitas do café e a possibilidade de renegociar, em melhores condições, o 
pagamento do empréstimo do Eximbank. 
 
Assim, a preocupação central, mais uma vez, concentrava-se na questão da inflação. 
Entretanto, as grandes dificuldades a serem enfrentadas pelo ministro Aranha seriam o 
aumento do salário mínimo e os problemas do café. 
 
A proposta do então ministro do Trabalho, João Goulart, de um reajuste de 100% 
para o salário mínimo, caiu como uma bomba para Aranha que propunha um reajuste 
próximo de 33%. Todavia, no dia primeiro de maio, preocupado com o desgaste de sua 
imagem e com a aproximação das eleições de outubro, Vargas promulgou o aumento 
sugerido por Goulart. 
 
Ao reajuste salarial, somaram-se as enormes dificuldades com as exportações de 
café. Com informações meteorológicas desfavoráveis, vindas da América Central e África, 
as cotações dos preços do café dispararam. Esta disparada dos preços foi o estopim de 
uma violenta campanha desencadeada pelos EUA contra a especulação de preços. O 
Congresso norte-americano iniciou investigações sobre a elevação dos preços do café e, 
através da imprensa, consumidores eram convencidos a procurar bens substitutos. 
 
Diante deste quadro, o programa de estabilização de Aranha estava comprometido. 
Seus objetivos - a difícil situação cambial e a queda da inflação - foram frustrados. 
 
 
A EVOLUÇÃO DO QUADRO SOCIAL E POLÍTICO: A ÚLTIMA CRISE 
 
Analisar a crise de 1954 requer o esclarecimento da conjuntura que culminou no 
isolamento do Presidente. O conflito de interesses entre os diversos segmentos sociais 
fornece elementos para a compreensão da agudeza da crise política. 
 
Quando Vargas assumiu o poder em 1951, o fez sob um clima de expectativas 
generalizadas. Na impossibilidade de atendê-las, a margem de manobra do governo 
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reduziu-se. A classe média, não beneficiada pelo aumento do salário mínimo, e 
extremamente sensível ao aumento da inflação e às denúncias de corrupção, estava 
particularmente receptiva a campanha oposicionista. 
 
Mais grave era o descontentamento dos principais segmentos capitalistas: i) o setor 
do comércio importador, devido ao aperto imposto pela instrução 70; ii) a indústria, pelo 
aumento de seus custos, - devido à desvalorização cambial e o aumento do salário mínimo 
– e pela restrição creditícia do BB; e iii) os setores ligados ao café, pelas dificuldades 
externas enfrentadas, as quais a oposição tratou logo de responsabilizar o governo. 
 
Sem o apoio popular e envolvido pela crescente insatisfação de diversos setores do 
empresariado, o isolamento de Vargas era um fato. O gesto trágico do Presidente, em 
agosto de 1954, teve profundas repercussões históricas, possibilitando a formação de uma 
ampla frente antigolpista que assegurou a ordem constitucional e a democracia, 
postergando o que seria uma antecipação do golpe de março de 1964. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Notas de Aula de Economia Brasileira I - Prof. Dr. Orlando Assunção Fernandes 
 
 
 
 
 
 
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O INTERREGNO CAFÉ FILHO 
(1954-1955) 
 
 
A DIFÍCIL SITUAÇÃO ECONÔMICA HERDADA 
 
A situação econômica herdada por Café Filho era muito difícil. Havia um 
descontentamento generalizado de grande parte da sociedade com a política do Governo 
Vargas. Trabalhadores, importadores, cafeicultores e industriais estavam queixosos sobre a 
condução da vida econômica no período do segundo governo getulista. 
 
Entretanto, o gesto trágico do suicídio de Vargas deixaria marcas que permitiriam a 
manutenção da ordem constitucional e a governabilidade por parte do seu vice. Surgia entre 
a população um sentimento antigolpista. Todavia, mais do que a sensação popular, a volta 
da tranquilidade ao cenário político está ligada à retomada ao poder da elite brasileira da 
época. O desfecho da crise de 1954, com a ascensão de Café Filho à Presidência, não 
impôs qualquer descontinuidade marcante no processo político-econômico da República. As 
classes dominantes, representadas partidariamente pela UDN, com Café Filho, eram 
governo. 
 
Apesar de tudo, o período compreendido pelo suicídio de Vargas e a posse de 
Juscelino é um dos menos estudados da história do Brasil contemporâneo. Tornou-se 
comum analisá-lo como um “gap” irrelevante entre tais governos. Veremos que a realidade 
desmente tal afirmação. 
 
 
A GESTÃO GUDIN 
 
Café Filho buscou na composição de seu ministério um equilíbrio de forças capaz de 
manter a sustentação do governo. Para a pasta da Fazenda foi convidado Eugênio Gudin, 
forte crítico das propostas desenvolvimentistas e partidário ferrenho das políticas financeiras 
liberais. Gudin atribuía à monetização do déficit público e à expansão creditícia as principais 
causas do processo inflacionário. 
 
Dado o colapso dos preços do café e a contração das exportações do produto, o país 
enfrentava séria crise cambial, haja vista tal commodity ser responsável por cerca de 60% 
das exportações brasileiras da época. 
 
Diante deste contexto, Gudin embarca para Washington para participar da reunião 
anual do FMI. O ministro foi muito bem recebido pelo staff da instituição, causando-lhes 
muito boa impressão. Um exemplo disto foi um editorial de New York Times que afirmava 
que Gudin era “the right man, in the right place, at the right time.” 
 
Apesar da boa impressão, o máximo que Gudin recebeu foram US$ 80 milhões de 
créditos novos, muito aquém dos US$ 300 milhões esperados. Neste contexto, o ministro 
procurou buscar, nos bancos privados, os recursos que o país tanto necessitava. 
 
O governo Eisenhower definitivamente parecia não ter o Brasil em suas prioridades. 
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A proposta americana era criar uma subsidiária do BIRD para a América Latina. A 
centralização no BIRD, dos empréstimos para a região, afastaria definitivamente o 
Eximbank. 
 
A mencionada proposta sepultou as expectativas brasileiras de uma reversão no 
tratamento negligente que os EUA vinham dispensando à região desde o pós-guerra, 
excetuando-se, como vimos, um curto período, no qual os americanos necessitaram de 
apoio para a guerra da Coréia. 
 
Sem o apoio do governo americano, restava implantar políticas que lograssem 
desafogar o Balanço de Pagamentos. Entre elas, a mais importante, foi a instrução 113 da 
Sumoc que, coadunada com a visão liberalizante do ministro, objetivava remover os 
obstáculos à livre entrada de capitais externos. 
 
Identificando o déficit público e a resultante expansão monetária como responsáveis 
pelo processo inflacionário, o programa de estabilização do ministro estava baseado em 
dois elementos:austeridade fiscal e contração monetário-creditícia. 
 
Logo após retornar de viagem, o ministro tornou público o seu programa, baixando 
várias instruções da Sumoc que elevaram as taxas de juros e sinalizaram a orientação 
contracionista de sua política econômica. Elevou-se o compulsório dos depósitos à vista e a 
prazo, os quais passaram a ser recolhidos à Sumoc e não mais ao BB. Estabeleceram-se 
também limites para as operações de empréstimos das diversas carteiras do BB. 
 
No plano fiscal, buscou-se, inicialmente, um programa que aliasse corte nas 
despesas públicas e um incremento nas receitas. Este último mostrou-se inviável, dada a 
oposição parlamentar contra uma elevação na carga tributária. Quanto às despesas, o 
Presidente concordou em aprovar um plano que determinava um corte de 36% nas verbas 
ministeriais. 
 
Dentro da questão fiscal, a estrutura criada pela instrução 70 era peça fundamental. 
A vultosa receita cambial advinda de tal sistema era importante e tinha total simpatia do 
ministro. Porém, o congelamento da taxa de exportação para o café, em detrimento a 
correções feitas para outros produtos, como cacau e algodão, seria o estopim para a 
manifestação do descontentamento dos cafeicultores. 
 
O período da gestão Gudin testemunhou um dos mais rigorosos programas de 
estabilização da história econômica brasileira. A crise de liquidez foi tal que culminaria na 
liquidação de dois bancos. No chamado setor produtivo houve uma elevação do número de 
pedidos de falências e concordatas e uma queda na taxa de investimento da economia 
(formação bruta de capital). 
 
Entretanto, foi a inquietação dos cafeicultores, dado o confisco cambial, que resultou 
na substituição de Eugênio Gudin por José Maria Whitaker. 
 
 
A ADMINISTRAÇÃO WHITAKER 
 
A ascensão de Whitaker visava apaziguar os ânimos entre os cafeicultores. O 
banqueiro paulista tinha como principal meta a eliminação do confisco cambial. O ministro 
considerava o sistema cambial vigente uma expropriação injusta e ilegal. 
 
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A preocupação de Whitaker com o setor produtivo era latente. A concessão de 
crédito para tais setores passou a ser abundante. A fase de contenção parecia chegar ao 
fim. A inflação parecia preocupá-lo apenas enquanto exercício de retórica. 
 
Logo ao assumir, Whitaker enfrentou uma nova crise bancária com o pedido de 
liquidação extrajudicial do Banco do Distrito Federal. Isto provocou uma inusitada corrida 
bancária que, para ser sufocada, precisou de forte intervenção do BB com a consequente 
expansão monetária. 
 
Em maio de 1955 foram revogadas algumas instruções da Sumoc, restabelecendo, 
por exemplo, os recolhimentos compulsórios às taxas vigentes anteriormente. 
 
O novo ministro canalizaria as operações de crédito do BB para o comércio, indústria 
e lavoura, acreditando não serem inflacionárias as emissões destinadas aos setores 
produtivos. Sua prioridade era manter a taxa inflacionária, concedendo empréstimos apenas 
ao setor produtivo. 
 
Whitaker mostrava-se insatisfeito com a política cafeeira do governo. Acreditava ser 
possível uma recuperação da participação das exportações brasileiras no mercado mundial. 
Além disto, acreditava também que o fim da política de estoques reguladores, com a queda 
do preço internacional do produto, beneficiaria o país, através da eliminação de produtores 
ineficientes. 
 
Há muito que a política cambial de taxas múltiplas vinha sendo contestada pelos 
técnicos do FMI. Contudo, a política de diversificação das taxas seria, no governo Café 
Filho, ainda mais estendida, com um sistema que passou a conviver com onze taxas de 
câmbio diferentes. 
 
Apesar de ideologicamente contrário, Gudin havia convencido o FMI de que o 
sistema cambial era peça fundamental na redução do déficit público, haja vista a receita por 
ela advinda. 
 
Contudo, ao contrário de Gudin, Whitaker tinha, na reforma cambial, o seu principal 
objetivo. A missão de reformular o sistema foi atribuída ao liberal Roberto Campos 
(presidente do BNDE). A ideia era que a reforma cambial só seria completa se houvesse a 
desvalorização cambial e a unificação das taxas. 
 
Para levar a adiante tal reforma, Campos estabelecia três pré-condições: 
 
- Renegociação de compromissos externos (longo prazo). 
- Um novo empréstimo do FMI do tipo “stand by” (evitar flutuações bruscas na taxa). 
- Reformulação do sistema de tarifas de importação (com adoção de tarifas ad valorem). 
 
Para as duas primeiras o Brasil já havia conseguido o apoio do FMI. Para a terceira 
já havia comunicado o GATT (antiga OMC). O diretor-gerente do FMI concordava que a 
solução passaria por uma taxa única de câmbio, conjuntamente com um sistema de tarifas 
para as importações. Deste modo, ao final de setembro, estava pronta a instrução da Sumoc 
que reformularia o sistema cambial brasileiro. O Fundo Monetário aprovaria imediatamente, 
e de forma até entusiástica, o projeto. 
 
Entretanto, julgava-se inoportuno implantar tal reforma no apagar das luzes de um 
governo que era visto por muitos como apenas de transição. Sem apoio para a reforma, 
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Café Filho submeteu o projeto aos candidatos à Presidente mais bem posicionados nas 
pesquisas: Juscelino Kubitschek, Juarez da Távora e Ademar de Barros. Sem obter uma 
resposta satisfatória de tais candidatos, submeteu-o ao Congresso que o acabou 
sepultando. A manutenção do sistema, contudo, como veremos adiante, seria peça 
fundamental para o projeto desenvolvimentista de JK. 
 
O governo Café Filho, caracterizou-se assim, do ponto de vista econômico, por duas 
administrações distintas e até antagônicas. Gudin priorizava o ajuste interno via política 
monetária-fiscal contracionista, mas era favorável ao regime de taxas de câmbio flutuantes. 
Whitaker preocupava-se com o crescimento, com o apoio aos setores “produtivos” e tinha na 
eliminação do confisco cambial seu principal objetivo. 
 
Este período, nas poucas vezes que foi realmente estudado, encontra duas linhas de 
interpretação, em geral, equivocadas: 
 
a) que foi um período marcado pela interrupção no projeto desenvolvimentista nacional e 
popular de Vargas; 
b) que foi um período de interregno de estabilização marcado por políticas fortemente 
recessivas. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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CRESCIMENTO E INDUSTRIALIZAÇÃO: 
O PLANO DE METAS DE JK (1956-1960) 
 
 
PLANEJAMENTO ESTATAL: 50 ANOS EM 5 
 
O planejamento estatal começou a ser utilizado amplamente na União Soviética – a 
maior economia planificada – com o primeiro plano quinquenal de 1929. O sucesso do 
planejamento, numa época em que a economia mundial enfrentava grande depressão, levou 
políticos e técnicos de vários países a trabalhar com o chamado planejamento central. 
 
A reverberação da macroeconomia keynesiana, aliada ao sucesso da experiência 
planificadora soviética, fez com que o planejamento estatal passasse a ser uma técnica 
utilizada intensamente em todo o mundo. A implantação do Plano de Metas, e a ideia dos 
cinquenta anos em cinco, justificam-se, entre outros motivos, pelo sucesso dos planos 
quinquenais soviéticos. 
 
O governo de Juscelino Kubitschek caracterizou-se pelo integral comprometimento 
do setor público com uma explícita política de desenvolvimento. Os diagnósticos e projeções 
da economia brasileira, empreendidos no período do pós-guerra, desembocaram na 
formulação do Plano de Metas. A economia cresceria a taxas aceleradas em um ambiente 
político aberto e democrático. 
 
OS FATORES DE ADOÇÃODO PLANO 
 
As técnicas de planejamento foram rapidamente aperfeiçoadas com a utilização de 
modelos de política econômica e de novos instrumentos, como programação linear, modelos 
econométricos, matrizes insumo-produto etc. 
 
Com o fracasso do Plano Salte, que praticamente não chegou a ser implantado, 
considera-se que o início da atividade de planejamento no país ocorreu entre 51/53, ainda 
no Segundo Governo Vargas, com os trabalhos da Comissão Mista Brasil-Estados Unidos 
(CMBEU). 
 
Apesar do programa da CMBEU ter sido frustrado, ela trouxe consequências 
importantes como a criação de um banco de desenvolvimento (BNDE). Este teria como 
atribuições, entre outras, gerir um fundo especial, cujos recursos seriam utilizados na 
implantação do Programa de Reaparelhamento Econômico que consistia no conjunto de 
projetos da CMBEU. 
 
Com o fim prematuro, em 1953, da CMBEU, iria se constituir, no seu lugar, o Grupo 
Misto CEPAL-BNDE que, sem sombra de dúvidas, constituiu-se numa das pilastras de 
sustentação do Plano de Metas. 
 
O trabalho desenvolvido em conjunto pelo BNDE e pela CEPAL objetivou fazer um 
levantamento exaustivo dos principais pontos de estrangulamento da economia brasileira – 
em áreas como energia, transporte, alimentação – além de identificar áreas industriais com 
demanda reprimida, a qual não poderia ser satisfeita com importações, haja vista a 
escassez de divisas do país. 
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A partir deste diagnóstico, coube à comissão propor projetos e planos específicos 
para a superação de tais gargalos econômicos, considerando as repercussões e as 
necessidades criadas pela introdução de novos setores industriais, do qual é exemplo a 
indústria automobilística. 
 
Destarte, o Plano de Metas foi um plano quinquenal que teve como base, para a 
maioria de seus projetos, os diagnósticos e definições da CMBEU e da Comissão 
CEPAL/BNDE. Ao contrário de planos anteriores, o sucesso do Plano Metas se justifica pelo 
fato de ter sido levado adiante com o total comprometimento do setor público. 
 
OBJETIVOS E RESULTADOS DO PLANO DE METAS 
 
Em um plano mais geral, o objetivo central do Plano de Metas era elevar o quanto 
antes o padrão de vida do povo, ao máximo compatível com as condições de equilíbrio 
econômico e estabilidade social, observadas as condições no nível interno de emprego, 
principalmente do capital, e do balanço de pagamentos. 
 
As hipóteses que sustentavam o plano eram: 
 
- crescimento anual de 2% da renda per capita; 
- preços do café estabilizando-se ao nível 1949-52; 
- incremento nas receitas de exportação de 6,2% a.a.; 
- substituição de 30% das importações até 1962; 
- inflação na casa dos 13,5% a.a. 
 
O plano possuía 30 metas que contemplavam investimentos em cinco principais 
áreas: energia, transportes, indústrias de base, alimentação e educação. Além destas, uma 
meta autônoma, cujos gastos não estavam orçados inicialmente no Plano, era a construção 
da nova capital do país. 
 
Energia e transportes eram as áreas principais de investimento com 71,3% do total 
de recursos, que ficariam a cargo quase que integralmente do setor público. Para as 
indústrias de base previa-se um total de 22,3% da inversão total. As metas de educação 
(integralmente a cargo do setor público) e alimentação receberiam juntas 6,4% dos 
recursos. 
 
O investimento total previsto eqüivalia a 5% do PIB no período de 1957/61. Um 
montante apreciável para uma economia cuja taxa bruta de poupança no período havia sido 
em média de 16% a.a. 
 
As principais metas do plano eram: 
 
 Energia Elétrica – elevar a capacidade geradora de 3,2 milhões de KW em 1955 para 
5,2 milhões de KW em 1960; 
 Carvão – aumentar a produção de 2,1 milhões de toneladas em 1955 para 3,1 milhões 
de toneladas em 1960; 
 Petróleo – aumentar a produção para 96.000 barris/dia em 1960; 
 Ferrovias – reaparelhamento e construção de 3.110 km de linhas novas; 
 Rodovias – construção de 13.000 km de rodovias novas e pavimentação de 5.800 km; 
 Siderurgia – elevar a produção de aço bruto de 1,2 milhões de toneladas em 1955 para 
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2,3 milhões de toneladas em 1960; 
 Cimento – aumentar a produção de 3,6 milhões de toneladas em 1955 para 5 milhões 
de toneladas em 1960; 
 Indústria automobilística – instalar a indústria e produzir em 1960 um total de 170.000 
veículos com índice de nacionalização de 90% para os automóveis; 
 
 
Plano de Metas: Previsão e Resultados 
Metas Previsão Resultados Grau de realização 
Energia elétrica (mil KW) 2000 1650 82% 
Carvão (mil ton.) 1000 230 23% 
Petróleo (mil barris/dia) 96 75 76% 
Ferrovias (mil Km) 3,1 1 32% 
Rodovias (mil Km) 13 17 138% 
Aço (mil ton.) 1100 650 60% 
Cimento (mil ton.) 1400 870 62% 
Carros e caminhões (mil unid.) 170 133 78% 
Nacionalização (carros %) 90 75 - 
Fonte: Lessa (1983). 
 
Além destas, foram especificadas também metas para a indústria metal-mecânica e 
de material elétrico, além de metas para educação e alimentação. Ao setor público caberia 
cerca de 50% do desembolso. Os fundos privados contribuiriam com 35% e o restante viria 
de agências públicas de fomento. Previa-se um crescente déficit no balanço de pagamentos, 
o qual se equilibraria em 1961. 
 
Entretanto, na ausência de uma reforma tributária, os gastos significariam um déficit 
de aproximadamente 2,2% do PIB. Este valor era incompatível com uma meta de inflação 
de 13,5%, dada a impossibilidade de financiamento de déficits de outra forma que não a 
emissão de moeda. Some-se que o plano não contemplava as fontes de recursos para a 
construção de Brasília que absorveu o equivalente a 3% do PIB no período. 
 
A política econômica implícita no Plano de Metas continha quatro peças básicas: 
 
- Tratamento preferencial para o capital estrangeiro. 
- Financiamento dos gastos públicos através da expansão de moeda e do crédito. 
- Ampliação da participação do setor público na formação do capital. 
- Estímulo à iniciativa privada. 
 
Os estímulos às inversões privadas compreendiam: i) reserva de mercado, via 
política cambial e lei de similares; ii) crédito farto, subsidiado e de longo prazo, via BNDE e 
BB; iii) concessão de avais pelo BNDE para empréstimos contratados por empresas 
privadas no exterior. 
 
No período 1957-1961 o PIB cresceu a uma taxa anual de 8,2%, o que significou 
uma elevação de 5,1% a.a. da renda per capita. A inflação média foi de 22,6% a.a. As 
previsões para o setor externo também foram otimistas demais. O preço do café caiu 
constantemente a partir de 1955 e as exportações estagnaram no triênio 1958-60. A 
capacidade de importar ficou bem abaixo das previsões, compensada pelo forte ingresso de 
capitais de longo prazo do exterior. 
 
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Apesar da maior parte das metas específicas não ter sido alcançada, quase todas 
alcançaram alto grau de realização. Deste modo, o Plano de Metas representou um impulso 
extraordinário ao desenvolvimento. 
 
A estrutura econômica modificou-se rapidamente com o crescimento industrial e sua 
modernização. As bases para a solução dos problemas de infraestrutura foram lançadas. A 
construção da nova capital acentuou o processo de integração nacional, iniciando a 
ocupação da faixa não litorânea do país. De qualquer forma, os desequilíbrios regionais e 
setoriais foram aprofundados. 
 
A ESTRUTURA DE FINANCIAMENTO DO PLANO DE METAS 
 
O crescente papel do setor público na economia, que já vinha se acelerando desde o 
pós-guerra, atinge percentual significativo no período do Plano de Metas. O Estado passa a 
ter sobseu controle a produção de aço (CSN, Cosipa e Usiminas); a produção e refino de 
petróleo (Petrobras); a exploração e exportação do minério de ferro (CVRD); a produção de 
energia elétrica (CHESF e Furnas); o crédito de longo prazo (BNDE e BB); ferrovias 
(RFFSA); navegação (Lloyd); rodovias (DNER) etc. 
 
Tal política aumentou em muito as responsabilidades do governo federal. Suas 
despesas cresceram a altas taxas no período. A participação no dispêndio total cresceu de 
19% em 1952 para 24% em 1961. Esta expansão no gasto corrente do governo residia, 
principalmente, nos auxílios e coberturas de déficits das empresas públicas, em especial as 
ligadas ao setor de transportes. 
 
Esta crescente participação do governo na atividade econômica não encontrava 
grande resistência por parte do setor privado. Em uma pesquisa feita em 1963, 72% dos 
entrevistados concordavam que a participação do Estado tinha contribuído para o 
desenvolvimento econômico. 
 
As restritas disponibilidades de poupança eram obviamente ineficientes para 
financiar os requerimentos da formação de capital. E neste ponto o plano resultou em sérias 
dificuldades não previsíveis ou fora de controle da autoridade planificadora. 
 
Na ausência de um sistema financeiro com dimensão, maturidade e flexibilidade para 
captar as poupanças requeridas pelos investimentos, a única solução teria sido a elevação 
da carga tributária. Entretanto, mesmo que aprovada no Congresso, esta encontraria forte 
oposição do empresariado. 
 
As principais fontes de recursos tributários neste momento são o Imposto sobre o 
Consumo e o Imposto de Renda. Entretanto, a arrecadação federal não era suficiente para 
fazer sozinha frente aos elevados dispêndios do setor público no período. 
 
Deste modo, o esquema financeiro encontrado para a realização do PM baseou-se 
essencialmente no sistema de ágios e bonificações (oriundo do sistema de taxas múltiplas 
de câmbio) e no financiamento inflacionário (emissão de moeda). 
 
O aumento dos lucros, o elevado crescimento do produto e a expansão da renda 
urbana permitiram uma transferência de renda sem que as elites perdessem posição 
absoluta na participação do produto. Conjuntamente, a utilização de subterfúgios como a lei 
do inquilinato, e os subsídios em tarifas de serviços públicos e na cesta básica, permitiram 
também que as populações de renda baixa não sofressem tanto com os efeitos danosos da 
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alta inflacionária. 
 
Assim, via emissão de moeda (senhoriagem), endividamento externo, sistema de 
taxas cambiais múltiplas e a própria expansão do nível de atividade, permitiu-se ao governo 
financiar boa parte dos projetos previstos no PM. 
 
Neste contexto, os planos de estabilização empreendidos neste período são meras 
tentativas políticas de mostrar que o governo estava preocupado com a expansão do custo 
de vida, agradando à sociedade e ao FMI. A política monetária do tipo “stop and go” 
empreendida no período foi mais uma tentativa de compatibilizar variáveis muitas vezes 
antagônicas como crescimento, estabilidade, realização de altos lucros e baixo custo de 
vida. As tensões geradas neste processo, contudo, foram amortecidas em grande parte pelo 
forte ritmo de crescimento do produto. 
 
A POLÍTICA ECONÔMICA DO GOVERNO JK 
 
A política cambial 
 
A política cambial constituiu-se durante os anos cinquenta no mais importante, se 
não - em determinados momentos – o único instrumento de política econômica. 
 
Com a progressiva diminuição das receitas de exportação, no final dos anos 50, a 
única solução para tentar equalizar o eterno desequilíbrio do Balanço de Pagamentos 
brasileiro era estimular o ingresso de capitais autônomos. Dentro deste contexto vê-se a 
importância das instruções 70 e 113 da Sumoc. 
 
Não obstante o crescimento das saídas de recursos, via amortizações e remessas de 
lucros e dividendos, os fortes ingressos de capitais externos no período garantiram um 
resultado líquido médio da ordem de US$ 200 milhões/ano no período 1956-61. Este 
número dá a real medida da contribuição do capital estrangeiro à formação de capital no 
período. 
 
Em agosto de 1957 operou-se uma nova reforma cambial. O objetivo era simplificar o 
sistema de taxas múltiplas, (mais coadunado com os princípios do FMI), introduzindo no 
lugar um sistema de proteção específica, sem perder ao mesmo tempo a importância da 
receita advinda de tal operacionalidade. 
 
A reforma resultou na redução das cinco categorias de importação para apenas três: 
a Geral, a Específica e a Especial. Na categoria geral entravam as importações de bens 
intermediários, máquinas e equipamentos, além de bens genéricos que não contassem com 
suficiente suprimento interno. Na categoria específica eram importados bens de consumo 
restritos e bens que já contavam com suprimento interno suficiente. A terceira categoria foi 
criada para a importação de bens que possuíam tratamento privilegiado: papel, trigo, 
petróleo, fertilizantes e bens de capital para setores considerados prioritários. Para as 
exportações foram mantidas as quatro categorias em vigor. 
 
Para manter o protecionismo e conseguir aumentar as receitas foram instituídas as 
tarifas de importação “ad valorem”. Além de propiciar aumento de receita, era uma forma de 
dar mais flexibilidade às receitas oriundas da política externa, haja vista a vinculação legal 
das receitas a certos gastos. 
 
Para compatibilizar a contradição latente entre prover bens de capital a baixo custo e 
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estimular sua produção interna, criou-se mecanismos como redução de até 50% nas tarifas 
de importação e a aplicação da lei do similar nacional. 
 
De um ponto de vista mais amplo, a reforma de 1957 implicou num aprofundamento 
do Processo de Substituição de Importações (PSI), na medida em que se alcançavam 
estágios mais avançados de industrialização. A ideia foi acelerar a substituição de bens de 
capital, diminuindo-se a ênfase dada, em anos anteriores, ao PSI de bens de consumo. 
 
 
As políticas fiscal e monetária 
 
A forte ênfase, dada no período, à estratégia desenvolvimentista, transferiu as 
questões relativas à política fiscal e monetária para o segundo plano. 
 
No caso da política monetária, primeiramente é importante examinar com quais 
instrumentos as autoridades podiam contar para restringir a expansão monetária e creditícia. 
 
As operações de mercado aberto eram inexistentes, haja vista a ausência de papéis 
que atraíssem o público em geral, dada a manutenção da lei da usura e a inexistência de 
mecanismos de correção monetária. O redesconto, por sua vez, era operado de forma 
estranha ao que conhecemos hoje. A concessão de assistência financeira era permitida até 
certo limite, o qual era atrelado ao porte da instituição e, portanto, não havia utilização de 
taxas punitivas. 
 
No caso do depósito compulsório, as autoridades relutavam em utilizá-lo dado o seu 
grande impacto no volume de crédito da economia. Além disto, qualquer alteração de 
alíquota tinha que ser autorizado pelo Congresso, o que tornava o processo bastante 
moroso. 
 
Desta forma, a possibilidade de financiar o déficit público e interromper a expansão 
indesejada da base monetária, dependia, em primeiro lugar, de um aumento da receita 
tributária, cuja estrutura anacrônica do sistema e a falta de aprovação de uma reforma 
tributária não permitiam elevação desta fonte de recursos de caixa. 
 
A única alternativa que restava aos gestores de política era tentar comprimir a 
despesa e diminuir o déficit. Entretanto, com o objetivo de não amortecer o ritmo de 
crescimento da economia, planejava-se corte nos gastos de custeio, mantendo-se 
inalterados os gastos de investimentos.A elevação do índice geral de preços de 7% para 24% representou séria ameaça ao 
ritmo acelerado de implantação dos programas previstos no PM. Em 27 de outubro de 1958, 
através de mensagem presidencial, o Presidente anunciou o Programa de Estabilização 
Monetária (PEM) como um conjunto de medidas enérgicas para a contenção do impulso 
inflacionário. 
 
O PEM constituía-se, basicamente, de cinco recomendações: 
 
- Controle da expansão monetária, através do estabelecimento de um teto máximo de 4% 
para a expansão monetária entre junho e dezembro de 1958. 
- Correção do desequilíbrio financeiro do setor público através de medidas administrativas 
relacionadas ao funcionalismo e a revisão da estrutura dos tributos de renda e consumo, 
além de uma maior fiscalização. 
Notas de Aula de Economia Brasileira I - Prof. Dr. Orlando Assunção Fernandes 
 
 
 
 
 
 
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- Definição de uma política salarial, na qual o salário mínimo passa a ser definido pelo 
volume mínimo de bens econômicos necessários à subsistência do trabalhador. 
- Definição de uma política de reajustes de tarifas de empresas públicas de modo a 
dimensionar suas possibilidades de custeio. 
- Correção do desequilíbrio do Balanço de Pagamentos através da redução da demanda 
por bens de consumo importados, taxa de câmbio realista e desburocratização do setor 
exportador. 
 
O PEM gerou forte polêmica. Os debates foram extremamente politizados e muito 
pouco técnicos. Diversos fatores fizeram com que o programa – associado a uma estratégia 
ideologicamente conservadora da dupla Lucas Lopes e Roberto Campos – sofresse rápido 
desgaste junto à classe política e à opinião pública. As dificuldades, já bem antigas, em 
conciliar as políticas de estabilização propostas pelo Ministério da Fazenda com a política de 
crédito farto do BB se repetiam em escala ampliada. Além disto, a política salarial do PEM 
logo foi vista por trabalhadores, sindicatos e partidos de oposição como política de arrocho 
salarial. 
 
Em 1959, Lucas Lopes foi substituído na pasta da Fazenda por Sebastião Paes de 
Almeida (ex-BB) e Juscelino rompe com o FMI, dadas as exigências de que o Brasil 
adotasse medidas econômicas mais radicais do que as já propostas no PEM. 
 
Deste modo, no contexto delineado, o Presidente acabou por decidir pela 
continuação de seu governo desenvolvimentista, endossando a visão estruturalista-
keynesiana de que economias subdesenvolvidas só poderiam se industrializar com algum 
grau de inflação. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Notas de Aula de Economia Brasileira I - Prof. Dr. Orlando Assunção Fernandes 
 
 
 
 
 
 
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CRISE E RUPTURA NO INÍCIO DOS ANOS SESSENTA 
(1961-1964) 
 
O GOVERNO JÂNIO QUADROS 
 
Em 31 de janeiro de 1961 Jânio Quadros assumiu a Presidência da República 
amparado por uma das mais significativas votações populares registradas pela nossa 
história republicana. 
 
Com sua posse, a visão conservadora na formulação e implantação da política 
econômica prevaleceria. O próprio Presidente denunciaria as dificuldades econômicas 
herdadas de Kubitschek como sendo a aceleração inflacionária, a indisciplina fiscal e a 
deterioração do balanço de pagamentos. 
 
Uma de suas primeiras medidas no campo econômico foi a revogação do sistema de 
taxas múltiplas de câmbio. Em março de 1961, implantou-se uma reforma cambial com a 
publicação da Instrução 204 da Sumoc. Esta objetivava promover ampla desvalorização 
cambial e a unificação da taxa de câmbio. 
 
Os motivos da alteração dos rumos da política cambial eram, segundo o próprio 
Ministro da Fazenda, Clemente Mariani, o déficit do balanço de pagamentos, pelo lado 
externo, e o déficit potencial do Tesouro (e os seus impactos nas taxas de inflação), pelo 
lado interno. 
 
Em maio e junho o governo obteve sucesso nas negociações com credores 
internacionais, conseguindo obter novos empréstimos e o reescalonamento da dívida 
externa que venceria entre 1961 e 1965. Assim foi possível reduzir o serviço da dívida e 
estabilizar a dívida externa na casa dos US$ 3 bilhões até 1964. 
 
Entretanto, no terreno da política externa, o governo distanciou-se da posição norte-
americana de isolar Cuba, preparou o reatamento de relações diplomáticas com a União 
Soviética e apoiou a descolonização da África, lançando as bases da chamada política 
externa independente seguida também por João Goulart (Jango). 
 
A renúncia de Jânio, em 25 de Agosto de 1961, resultou no colapso de seu programa 
de estabilização, não havendo evidência empírica convincente sobre os efeitos das políticas 
monetária, fiscal e creditícia implantadas. Infelizmente, a curta duração de sua gestão 
dificulta a avaliação criteriosa dos resultados de suas políticas econômicas. 
 
 
O IMPASSE PARLAMENTARISTA 
 
De setembro de 1961 ao mês de janeiro de 1963 a República viveu o seu mais longo 
período de indefinição política. Adotou-se o sistema parlamentarista de governo através de 
uma emenda constitucional elaborada em poucas horas no calor emocional de 
acontecimentos excepcionais. Esta indefinição política teria consequências paralisantes do 
ponto de vista da tomada de decisões no terreno econômico. 
 
O primeiro gabinete parlamentarista, liderado por Tancredo Neves, empossou na 
Notas de Aula de Economia Brasileira I - Prof. Dr. Orlando Assunção Fernandes 
 
 
 
 
 
 
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pasta da Fazenda o banqueiro Moreira Salles. Pretendia-se com tal escolha apaziguar os 
ânimos das elites conservadoras quanto às implicações econômicas da guinada à esquerda 
decorrente da posse de Goulart. 
 
O programa de governo deste primeiro gabinete estabelecia como objetivos: i) taxa 
de crescimento de 7,5% a.a.; ii) absorção da mão de obra subempregada; iii) melhorar a 
distribuição de renda; iv) alcançar razoável estabilidade de preços; v) atenuar os 
desequilíbrios do BP e vi) prover condições mínimas de habitação e saneamento. 
 
Para atingir tais objetivos o governo estabeleceu medidas de emergência e de 
reforma institucional. As medidas na área monetária contemplavam controles do volume de 
crédito, elevação dos recolhimentos compulsórios sobre os depósitos à vista e até a menção 
à criação do Banco Central. 
 
Quanto à política financeira o governo propunha a aplicação de um plano de 
economia de gastos, o não financiamento monetário do déficit do Tesouro e uma reforma 
fiscal que estimulasse a formação bruta de capital. 
 
No âmbito da política cambial o programa defendia a manutenção de uma taxa única 
de câmbio fixada em níveis realistas, haja vista que desde a reforma tarifária de 1957 era 
permitida a utilização de tarifas ad valorem para as importações. 
 
No campo da política externa, as relações entre Brasil e EUA se deterioraram. O 
governo federal cancelou a autorização para exploração de minério de ferro de uma 
empresa norte-americana; apoiou a desapropriação, pelo governador do RS, Leonel Brizola, 
dos bens da Cia Telefônica Nacional, subsidiária da empresa americana ITT; reatou 
relações diplomáticas com a União Soviética; e, divergindo da posição norte-americana, 
absteve-se da votação, na reunião do OEA em 1962, pela expulsão de Cuba da 
organização. 
 
Apesar do episódio da renúncia de Jânio, os resultados econômicos de 1961 foram 
razoáveis. A inflação manteve-se na casa dos 30% ao ano; o PIB cresceu 8,6% e o Balanço 
de Pagamentos foi beneficiado pela recuperação das exportações e pela já mencionada 
bem sucedida renegociação da dívida externa. 
 
Todavia, tais resultados foram sendo revertidos a partir do começo de 1962. As 
políticas financeira e monetária, previstas no programa do Gabinete Neves, não se 
realizaram. A partir de maio de 1962 tornou-se claro o descontrole financeiro do governo 
com o aumento significativo do déficit público, gerado pelo aumentodas despesas públicas - 
principalmente àquelas associadas aos déficits de estatais do setor de transportes -, e pela 
expansão da oferta monetária. 
 
O presidente explicitou suas divergências com o gabinete, questionando a demora 
na reforma agrária e antecipando o plebiscito sobre o regime de governo. Tornava-se claro 
que o fim do Gabinete Neves se aproximava. 
 
Com a renúncia coletiva do Gabinete de Tancredo Neves, o Congresso aprovou o 
nome de Brochado da Rocha como Primeiro-Ministro. Num discurso, em agosto de 1962, o 
novo chefe de gabinete apresentou seu imenso programa que abordava diversos temas de 
reforma agrária até política de energia nuclear. 
 
Entretanto, o cerne da gestão política de Brochado da Rocha, concentrou-se na 
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tentativa de obter delegação legislativa para diversas finalidades, entre as quais a 
promulgação da lei de reforma tributária. As recusas de delegação de poderes especiais 
pelo Congresso provocaram a renúncia de todo o novo Gabinete ainda no mês de 
Setembro. 
 
Com o plebiscito sobre o regime de governo antecipado para 6 de janeiro de 1963, o 
novo Gabinete de Hermes Lima foi apenas provisório. O programa deste gabinete 
transitório, que incluía um plano de controle da inflação, logo foi comprometido pela 
concessão do 13. salário aos trabalhadores urbanos. As eleições legislativas de outubro 
mantiveram a maioria conservadora no Congresso e, portanto, o cabo de guerra entre o 
Presidente e o Congresso. 
 
A instabilidade política refletiu-se de forma clara no comportamento das variáveis 
macroeconômicas, com a queda no ritmo de crescimento do produto, em especial, do 
produto industrial e na própria taxa de Formação Bruta de Capital Fixo. A inflação 
ultrapassou a marca dos 50% a.a., com expansão dos meios de pagamento num patamar 
acima de 4% ao mês, e o Balanço de Pagamentos voltava a apresentar dificuldades com a 
redução das exportações e a elevação do déficit em conta corrente para quase US$ 400 
milhões. 
 
O PLANO TRIENAL E A CRISE INDUSTRIAL ENDÓGENA 
 
No final de dezembro de 1962 foi apresentado o Plano Trienal de Desenvolvimento 
Econômico e Social, elaborado sob a coordenação de Celso Furtado, – o mais influente e 
bem sucedido economista brasileiro – Ministro Extraordinário para Assuntos de 
Desenvolvimento Econômico. 
 
Aparentemente, as condições políticas para a implantação do Plano Trienal eram 
garantidas pela espetacular vitória dos defensores do regime presidencialista no plebiscito 
de 06 de janeiro de 1963. A volta do regime presidencialista, contudo, estava muito mais 
ligado ao repúdio da sociedade ao sistema parlamentarista, votado sob circunstâncias 
extraordinárias, do que ao apoio da sociedade ao Presidente Goulart. 
 
O primeiro ministério de Goulart, sob o regime presidencialista, é singular pela 
qualidade intelectual de seus integrantes e, também, pela ausência de representantes do 
empresariado. 
 
O Plano Trienal, apesar de elaborado por Celso Furtado, caracterizava-se por 
diagnóstico bastante conservador da inflação no Brasil. O receituário proposto, embora 
gradualista, era semelhante ao de outros programas liberais: i) inflação corretiva; ii) redução 
do déficit público; e iii) controle de crédito ao setor privado. As suas metas centrais eram 
obter uma inflação da ordem de 25% em 1963 e crescimento anual de 7% do Produto 
Interno Bruto. 
 
Foram anunciados aumentos nos preços do trigo, dos derivados de petróleo e de 
tarifas de transportes urbanos. Foi estabelecida uma meta de expansão de crédito ao setor 
privado de 35% ao ano (contra uma inflação de 60%), elevou-se o depósito compulsório dos 
depósitos à vista de 24% para 28%, e solicitou-se a vinda de uma nova missão do FMI ao 
Brasil. 
 
O Plano e as negociações internacionais dele decorrentes foram duramente 
criticados por setores de esquerda que denunciavam o caráter recessivo da política 
Notas de Aula de Economia Brasileira I - Prof. Dr. Orlando Assunção Fernandes 
 
 
 
 
 
 
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econômica e a submissão do Brasil aos EUA. 
 
Já ao final de abril, Goulart deu sinais de haver desistido de seus esforços 
estabilizadores. Voltou-se a reintroduzir os subsídios às importações de trigo e de derivados 
de petróleo. Iniciaram-se negociações com o funcionalismo para um reajuste de 70% (contra 
40% proposto pelo FMI), além da concessão de um reajuste de 56% para o salário mínimo. 
A consequência foi a liberação de apenas um crédito stand by de US$ 60 milhões pela 
missão do FMI no Brasil. 
 
Os resultados das principais variáveis macroeconômicos em 1963 são 
negativamente impressionantes. A taxa de crescimento do PIB foi de apenas 0,6%, a menor 
de todo o pós-guerra até os anos oitenta, com o produto industrial apresentando taxa 
negativa de 0,2%. A inflação atingiu a impressionante marca dos 80%. 
 
 Entre 1963 e 1967 a taxa média de crescimento do PIB caiu à metade da alcançada 
no período anterior. Para autores de tradição estruturalista, como Maria da Conceição 
Tavares e José Serra, a explicação para tal fato se dá por uma típica crise cíclica, 
relacionada ao fim do volumoso conjunto de investimentos do Plano de Metas. Já para 
autores de tradição liberal, como Mário Henrique Simonsen, o início da crise se deve à 
instabilidade política presente no país e que teria desestimulado novos investimentos 
privados internos e externos. Outras economistas, por sua vez, mencionam, como causas 
desta crise, os próprios conflitos distributivos, o aumento da atividade política e sindical dos 
trabalhadores e os efeitos recessivos do Plano Trienal. 
 
 Contudo, fica claro que, independente da posição e da forma como se interprete a 
crise, esta foi a primeira ocasionada dentro das próprias fronteiras brasileiras, ou seja, não 
foi, como em outros episódios, iniciada por choques externos e, sim, por questões 
puramente internas. Assim, a crise econômica de 1963-67 passaria a ser conhecida, na 
historiografia econômica, como a primeira crise industrial endógena. 
 
A AGONIA DA TERCEIRA REPÚBLICA E A RUPTURA DEMOCRÁTICA 
 
Em junho de 1963, dados os claros sinais de fracasso do programa de estabilização, 
Goulart promoveu uma reforma ministerial, substituindo Santiago Dantas por Carvalho Pinto 
na Fazenda. 
 
O Presidente parece haver superestimado a capacidade de seu novo ministro em 
apaziguar o descontentamento empresarial e, ao mesmo tempo, a crescente crítica dos 
setores mais radicais que apoiavam o Presidente. Tornou-se explícita a polarização da 
disputa pelo poder entre as massas urbanas mobilizadas pelo populismo e as antigas 
estruturas do poder. 
 
A renúncia de Roberto Campos da posição de Embaixador do Brasil em Washington 
indicava que a credibilidade do governo chegava ao fim. O quadro político deteriorou-se 
ainda mais com a rebelião de sargentos da Marinha e da Aeronáutica em outubro. A 
fragilidade do governo torna-se gritante quando Carvalho Pinto foi substituído pelo obscuro 
político gaúcho Ney Galvão. A rotatividade de políticos nos cargos de peso da República já 
não era capaz de acomodar o fragmentado apoio político. 
 
O descontrole das contas públicas era crescente. A oferta monetária expandiu-se 
significativamente a partir de maio de 1963. O Plano Trienal só havia alcançado a redução 
da taxa de inflação no mês de abril. A partir de maio ela reverteu-se rapidamente a taxas 
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semelhantes e logo superiores às do passado. A política cambial, num proposital sistema de 
sobrevalorização, prejudicava os exportadores. 
 
Em 13 de março de 1964, Goulart compareceu ao comício organizado pelas forças 
de esquerda, assinando decretos quedeterminavam a encampação de refinarias 
particulares e a desapropriação de terras. Em resposta a tais medidas, forças 
conservadoras organizaram manifestações que mobilizaram maciçamente a classe média. 
 
As resistências residuais de parte do oficialato, quanto à deposição de Goulart, foram 
quebradas pela fraqueza do governo em reagir à chamada Revolta dos Marinheiros e pela 
desastrada presença de Goulart em uma reunião de sargentos realizada em 30 de março. 
 
Assim, em 31 de março de 1964, teve início a insurreição militar que, com amplo 
apoio do empresariado, da classe média e respaldo ou omissão da maioria parlamentar, pôs 
fim à Terceira República. O remendo constitucional de 1961 e o plebiscito de 1963 
mostraram-se insuficientes para impedir a ruptura da legalidade constitucional. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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ESTABILIZAÇÃO E REFORMAS: O INÍCIO DO REGIME MILITAR 
(1964 – 1967) 
 
 
OS OBJETIVOS DO PROGRAMA DE AÇÃO ECONÔMICA DO GOVERNO (PAEG) 
 
Com o golpe de 1964 o movimento militar toma o poder com a ascensão do 
Marechal Humberto Castelo Branco à Presidência da República. Castelo Branco 
representaria, por mais paradoxal que possa soar o termo, a face mais branda do regime 
militar. 
 
Uma das primeiras medidas de Castelo Branco foi convidar a dupla Roberto Campos 
e Otávio Bulhões para assumirem as pastas do Planejamento e da Fazenda, 
respectivamente. 
 
O recém-criado Ministério do Planejamento, sob o comando de Roberto Campos, 
lançou, em novembro de 1964, o Programa de Ação Econômica do Governo (PAEG). Os 
objetivos iniciais do PAEG eram: 
 
- Acelerar o ritmo de crescimento econômico. 
- Conter, gradativamente, o processo inflacionário. 
- Atenuar as desigualdades regionais e setoriais. 
- Criar oportunidades de emprego. 
- Diminuir a dependência externa. 
 
Os instrumentos de ação para conseguir tais objetivos foram: 
 
 
- No escopo da política financeira: 
 i) Reduzir o déficit público; 
 ii) Implantar uma reforma tributária; 
 iii) Empreender uma política monetária stop and go; 
 iv) Fazer uma ampla reforma bancária; 
 v) Realizar uma política de investimentos públicos que fortalecesse a infraestrutura. 
 
- No escopo da política externa: 
 i) Incentivar as exportações e diversificar as fontes de suprimento; 
 ii) Restaurar o crédito do país e executar rígido controle sobre a dívida externa; 
 iii) Estimular o ingresso de capitais externos; 
 iv) Expandir a cooperação com as agências internacionais. 
 
- No escopo da política salarial: 
 i) Assegurar a participação dos trabalhadores no crescimento econômico; 
ii) Permitir a sincronia do combate à inflação, tanto do lado da procura, como da 
oferta. 
 
- No escopo da política habitacional: 
 i) Estimular o setor de construção civil e seus efeitos propagadores, visando, 
simultaneamente, solucionar uma importante questão social. 
Notas de Aula de Economia Brasileira I - Prof. Dr. Orlando Assunção Fernandes 
 
 
 
 
 
 
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O diagnóstico da inflação brasileira, segundo o PAEG, responsabilizava como seus 
fatores causadores/mantenedores: 
 
1) Os déficits públicos. 
2) A expansão do crédito às empresas. 
3) Os aumentos salariais acima dos ganhos de produtividade. 
 
A partir desse diagnóstico, o PAEG propunha como elementos chaves para combater 
o forte processo inflacionário: 
 
- O corte de despesas públicas e um sistema tributário mais racional. 
- O controle na política de crédito do Banco do Brasil. 
- Salários acompanhando os ganhos de produtividade. 
 
Nesse diagnóstico, portanto, os formuladores do PAEG também admitiam, como 
causa da inflação brasileira, o conflito distributivo entre o capital e o trabalho (visão 
estruturalista). 
 
A POLÍTICA SALARIAL 
 
Como um elemento de heterodoxia econômica, dentro de um plano de estabilização 
teoricamente ortodoxo, a política salarial foi fundamental para reversão do quadro 
inflacionário brasileiro. 
 
A política salarial do PAEG, no papel, baseava-se em três pontos: 
 
- Manter a participação dos assalariados no produto. 
- Impedir reajustes salariais desordenados. 
- Corrigir distorções salariais no serviço público. 
 
Mostrando o grau de intervencionismo estatal no período, o governo determinou a 
forma de reajuste salarial para o funcionalismo federal, estendendo logo depois para os 
governos estaduais, municipais e no dissídio do setor privado. 
 
A regra dos reajustes salariais era a seguinte: 
 
- Definição da anuidade dos reajustes. 
- Definição do salário real médio dos últimos 24 meses. 
- Sobre tal salário médio deveria incidir uma complexa taxa de produtividade. 
- Deveria incidir também a metade da taxa de inflação futura esperada pelo governo. 
 
Com as atividades sindicais severamente reprimidas, o poder de barganha dos 
sindicatos era nulo. Desta forma, a livre negociação foi substituída pela fórmula de reajuste 
proposto no PAEG. Esta fórmula de reajustes reduziu brutalmente o poder de compra dos 
trabalhadores. A subestimação, por parte do governo, da inflação esperada, reduzia ainda 
mais o poder aquisitivo de salários. 
 
A política salarial constituiu-se, talvez, no mais importante elemento no combate à 
inflação do período. Tal política só pôde ser posta em prática devido ao regime autocrático e 
repressivo em vigor naquele momento. 
Notas de Aula de Economia Brasileira I - Prof. Dr. Orlando Assunção Fernandes 
 
 
 
 
 
 
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A CONDUÇÃO DA POLÍTICA ECONÔMICA E OS IMPACTOS DO PAEG 
 
A política monetária alternou momentos de contração e expansão, procurando 
sempre atender a dois objetivos: maior crescimento e menor inflação. Os momentos de forte 
expansão estiveram ligados a forte entrada de recursos externos, haja vista o bom trânsito 
de Campos no meio financeiro internacional. A redução das importações, com a queda no 
nível de crescimento em 1964 e 1965, e o nível recorde das exportações em 1965 fizeram 
as reservas dobrarem. 
 
A inflação atingiu a casa dos 90% a.a. em 1964 e em parte foi atribuída ao fenômeno 
conhecido como inflação corretiva. A partir de 1965, iniciou-se um processo gradativo de 
queda da inflação, com a entrada em vigor da fórmula salarial do PAEG (56,8% a.a em 1965 
e 33% a.a. em 1966). 
 
Com a folga das políticas monetária e fiscal de 1964, o governo impôs nos anos 
seguintes uma verdadeira política ortodoxa com forte redução de despesas e rígido controle 
das fontes de emissão monetária. A retração da atividade começou a dar sinais evidentes. 
 
O uso da política monetária restritiva, que atingiu mais fortemente as pequenas 
empresas, causou uma expansão nos pedidos de falência e concordatas em setores como 
vestuário e alimentos. Outro setor que sentiu fortemente os impactos de tais políticas 
restritivas foi a construção civil. Este foi influenciado pela redução dos investimentos 
governamentais em obras públicas. 
 
O período de 1963-1967, como vimos, acabou apresentando assim o menor ritmo de 
crescimento desde o pós-guerra. A marca mais evidente e cruel deste processo foi a 
interrupção da taxa de crescimento do emprego. 
 
 
 AS REFORMAS BANCÁRIA E TRIBUTÁRIA 
 
Seguramente, um dos aspectos mais importantes do PAEG foi o conjunto de 
reformas institucionais impostas ao país e consubstanciadas nas reformas bancária e 
tributária. A convicção da necessidade de reformas acompanhou o plano desde seu início. 
 
A reforma bancária, iniciada com a lei 4.595/64, criou a estrutura básica do atual 
sistema financeiro. Transformou a SUMOC e seu Conselho, respectivamente, no Banco 
Central do Brasil (que incorporou funções antes exercidas pelo Banco do Brasil) e no 
Conselho Monetário Nacional, e permitiu a especialização do

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