Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS FACULDADE DE NUTRIÇÃO ÁREA NUTRIÇÃO EM SAÚDE PÚBLICA 1 ______________________________________________________________ Profa. Dra. Giovana Longo-Silva - FANUT/UFAL Profa. Dra. Giovana Longo-Silva SAÚDE PÚBLICA II Nome: _______________________________________ 2015 UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS FACULDADE DE NUTRIÇÃO ÁREA NUTRIÇÃO EM SAÚDE PÚBLICA 2 ______________________________________________________________ Profa. Dra. Giovana Longo-Silva - FANUT/UFAL SUMÁRIO DISCIPLINA: Saúde Pública 2 COODERNADORA: Profa. Dra. Giovana Longo-Silva TÓPICO PÁGINA Cronograma 03 Ementa 04 Método de Avaliação 05 (Roteiro) Elementos da Resenha Crítica 06 (Roteiro) Elementos dos Seminários 07 Introdução à Disciplina 08 Texto introdutório – Agravos Nutricionais no Brasil 11 Desnutrição (Fome e Insegurança Alimentar) 18 Sobrepeso e Obesidade 36 Anemia Ferropriva 53 Hipovitaminose A 76 Beribéri 93 Distúrbios por Deficiência de Iodo 113 Cárie Dental 135 UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS FACULDADE DE NUTRIÇÃO ÁREA NUTRIÇÃO EM SAÚDE PÚBLICA 3 ______________________________________________________________ Profa. Dra. Giovana Longo-Silva - FANUT/UFAL CRONOGRAMA DISCIPLINA: Saúde Pública 2 COODERNADORA: Profa. Dra. Giovana Longo-Silva Disciplina: Saúde Pública 2 Código: NUTR041 Coordenadora: Profa. Dra. Giovana Longo-Silva Período letivo: 2015.2 Docente: Profa. Dra. Giovana Longo-Silva Convidados: Eloy Martin (SMS), Mônica Dâmazo (SMS), Danilo Fernandes (USF). Horário e local: quintas-feiras (08:20 às 12:00h sala 3E) Carga horária: 80h Data Assunto Atd Responsável 14/01 Apresentação e Introdução à Disciplina T Profa. Dra. Giovana 21/01 Desnutrição (fome e insegurança alimentar) T Profa. Dra. Giovana 28/01 Desnutrição (fome e insegurança alimentar) T Profa. Dra. Giovana 04/02 Sobrepeso e Obesidade T Profa. Dra. Giovana 11/02 Sobrepeso e Obesidade (Vídeo-debate¹) P Profa. Dra. Giovana 18/02 Apresentação seminários (osteoporose, diabetes, DCV, câncer) P Profa. Dra. Giovana 25/02 Política Nacional de Promoção da Saúde (PNPS) Programa Academia da Saúde T Eloy Martin Mônica Dâmazo 03/03 Anemia Ferropriva T Profa. Dra. Giovana 10/03 Hipovitaminose A T Profa. Dra. Giovana 17/03 Avaliação 1 T Profa. Dra. Giovana 24/03 Beriberi T Profa. Dra. Giovana 31/03 Epidemiologia da Cárie Dentária (SBB – PN Saúde Bucal) T Danilo Fernandes 07/04 Distúrbios por Deficiência de Iodo T Profa. Dra. Giovana 14/04 Visita técnica - Serviço de Saúde P Profa. Dra. Giovana 21/04 FERIADO 28/04 Apresentação da visita técnica T Profa. Dra. Giovana 05/05 Avaliação 2 T Profa. Dra. Giovana 12/08 Reavaliação T Profa. Dra. Giovana 19/05 Prova Final T Profa. Dra. Giovana 26/05 Revisão de Notas T Profa. Dra. Giovana ¹ Documentário norte-americano – “Fed Up”, de 2014 que aborda consumo exacerbado de alimentos obesogênicos e a consequente epidemia da obesidade e DCNT mundial. Produzido e narrado por Katie Couric (jornalista e apresentadora de TV nos EUA). Atividades não presenciais: Leitura científica e resenhas críticas com enfoque aos temas propostos e conforme bibliografia indicada. Pesquisa bibliográfica relacionada aos temas dos Seminários: osteoporose, diabetes, DCV, câncer. UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS FACULDADE DE NUTRIÇÃO ÁREA NUTRIÇÃO EM SAÚDE PÚBLICA 4 ______________________________________________________________ Profa. Dra. Giovana Longo-Silva - FANUT/UFAL DISCIPLINA: Saúde Pública 2 COODERNADORA: Profa. Dra. Giovana Longo-Silva EMENTA Epidemiologia dos problemas nutricionais da população brasileira: desnutrição energético-protéica, anemia ferropriva, hipovitaminose A, bócio, beribéri, cárie dental, sobrepeso e obesidade, doenças crônicas não transmissíveis. OBJETIVO GERAL Analisar os problemas nutricionais da população e as diversas formas de intervenção. OBJETIVOS ESPECÍFICOS - Identificar os problemas nutricionais da população; - Debater os aspectos epidemiológicos inerentes a cada problema; - Identificar e analisar as diversas formas de intervenção para prevenção e controle dos problemas nutricionais da população brasileira (Programas). MÉTODO DE TRABALHO A disciplina será desenvolvida utilizando-se aulas expositivas, técnicas de trabalho em grupo, visitas e atividades práticas na comunidade e unidades de saúde. Os meios instrucionais utilizados serão adaptados a cada tema, sendo os mais utilizados: data-show, textos, roteiros de trabalho, filmes, entre outros UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS FACULDADE DE NUTRIÇÃO ÁREA NUTRIÇÃO EM SAÚDE PÚBLICA 5 ______________________________________________________________ Profa. Dra. Giovana Longo-Silva - FANUT/UFAL DISCIPLINA: Saúde Pública 2 COODERNADORA: Profa. Dra. Giovana Longo-Silva MÉTODO DE AVALIAÇÃO: UNIDADE I Avaliação teórica¹ - 7,0 pontos Apresentação e Resenha Crítica de 1 artigo científico² – 1,0 ponto Seminário³ – 2,0 pontos UNIDADE II Avaliação teórica¹ – 6,0 pontos Apresentação e Resenha Crítica de 2 artigos científicos² – 2,0 ponto Visita técnica4 – 2,0 pontos ¹ Todas as avaliações incluem todo o conteúdo ministrado anteriormente a sua aplicação. ² Artigos a serem apresentados por Grupos de Alunos, ao final de cada aula relacionada ao tema, e conforme sorteio realizado no início da disciplina. (VER ROTEIRO PARA RESENHA CRÍTICA) ³ Seminários realizados por Grupos de Alunos, referente aos temas: (GRUPO I) Osteoporose, (GRUPO II) Diabetes, (GRUPO III) DCV, (GRUPO IV) Câncer, conforme sorteio realizado no início da disciplina. (VER ROTEIRO PARA SEMINÁRIO) 4 Visita a Secretaria Municipal de Saúde, Secretaria Estadual de Saúde e Unidades Básicas de Saúde com o objetivo de promover a interação dos alunos aos profissionais atuantes, com entrevistas estruturadas aos mesmos, visando conhecer os principais problemas e carências nutricionais vivenciados na realidade dos diferentes setores, bem como ações desenvolvidas sob a perspectiva de prevenção e promoção da saúde. UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS FACULDADE DE NUTRIÇÃO ÁREA NUTRIÇÃO EM SAÚDE PÚBLICA 6 ______________________________________________________________ Profa. Dra. Giovana Longo-Silva - FANUT/UFAL (Roteiro) ELEMENTOS DA RESENHA CRÍTICA Nomes:___________________________________________________________________________ Curso: ________________ Data: ___/___/_______ Disciplina: ______________________________ 1. Referência Bibliográfica Fazer a referência bibliográfica completa da obra resenhada de acordo com o manual da faculdade (ABNT) 2. Introdução: Situar o contexto (visão panorâmica da obra) e definir os objetivos deste artigo. Descrever sucintamente o conteúdo deste artigo. 3. Autor(es): Nome, instituição onde trabalha/pesquisa, formação. 4. Resumo do artigo: Seção por seção: resumir o artigo. 5. Perguntas Sugestivas: Faça pelo menos 3 perguntas que poderiam ser feitas a respeito do assunto tratado no artigo. Uma pessoa que leu este artigo deve estar apta a responder estas perguntas. 6. Reflexão crítica sobre a obra: Depois de apresentare compreender o autor e sua obra, deve-se traçar alguns comentários pessoais sobre o assunto, ancorados em argumentos fundamentados academicamente. UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS FACULDADE DE NUTRIÇÃO ÁREA NUTRIÇÃO EM SAÚDE PÚBLICA 7 ______________________________________________________________ Profa. Dra. Giovana Longo-Silva - FANUT/UFAL (Roteiro) ELEMENTOS DOS SEMINÁRIOS - A apresentação deverá ser realizada no Programa Microsoft Power Point e enviada ao e-mail do professor com antecedência mínima de 1 dia. - A apresentação poderá ser feita por um ou mais integrantes, a critério do grupo. A avaliação será atribuída ao grupo todo. Recomenda-se, entretanto, a preparação e participação de todos a fim de aproveitar a experiência de desenvolvimento pessoal. Ao final das apresentações, perguntas poderão ser feitas com direcionamento a integrantes específicos do grupo. - Deverão ser consultadas e informadas as referências bibliográficas utilizadas (último slide da apresentação). Estrutura da Apresentação: 1. DEFINIÇÃO DA DOENÇA. 2. FATORES DE RISCO¹ MODIFICÁVEIS E NÃO MODIFICÁVEIS ¹. 3. CONSEQUÊNCIAS INDIVIDUAIS E COLETIVAS (SAÚDE PÚBLICA). 4. DADOS EPIDEMIOLÓGICOS (Maceió, Alagoas, Brasil, Mundo). 5. ESTRATÉGIAS DE ENFRENTAMENTO NO CONTEXTO DA SAÚDE PÚBLICA. Tempo de Apresentação: 30 a 50 minutos ¹ Fator de risco é um atributo individual, ou uma determinada exposição que está positiva ou negativamente associada com a ocorrência de uma doença. Os fatores de risco podem ser não modificáveis (imutáveis), considerados um atributo (uma característica do individuo: idade, sexo, por ex.) e modificáveis (mutáveis), que se referem a uma exposição (por ex. ambiental: nutrição, agente tóxico) (FLETCHER; FLETCHER; WAGNER, 1996). Todavia, a presença de um fator de risco não é obrigação da ocorrência do evento. Roteiro para avaliação dos Seminários TÓPICO AVALIADO VALOR Qualidade do conteúdo (cobertura dos itens solicitados) e dos recursos utilizados 1,0 Objetividade, clareza, didática na exposição e interesse despertado na classe 0,25 Pontualidade nas entregas e duração do seminário 0,25 Fontes de informação utilizadas 0,25 Respostas aos questionamentos da classe e do professor 0,25 ´TOTAL 2,0 UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS FACULDADE DE NUTRIÇÃO ÁREA NUTRIÇÃO EM SAÚDE PÚBLICA 8 ______________________________________________________________ Profa. Dra. Giovana Longo-Silva - FANUT/UFAL DISCIPLINA: Saúde Pública 2 COODERNADORA: Profa. Dra. Giovana Longo-Silva INTRODUÇÃO À DISCIPLINA O QUE É SAÚDE PÚBLICA? A expressão "Saúde Pública" pode dar margem a muitas discussões quanto a sua definição, campo de aplicação e eventual correspondência com noções veiculadas, muitas vezes, de modo equivalente, tais como "Saúde Coletiva" e "Medicina Social/Preventiva/Comunitária". Em geral, a conotação "Saúde Pública" se refere a formas de agenciamento político/governamental (programas, serviços, instituições) no sentido de dirigir intervenções voltadas às "necessidades sociais de saúde". Já "Saúde Coletiva", em síntese, implica em levar em conta a diversidade e especificidade dos grupos populacionais e das individualidades com seus modos próprios de adoecer e/ou representarem tal processo, e que, não necessariamente, passam pelas instâncias governamentais ditas responsáveis diretas pela saúde pública. "Medicina Social/Preventiva/Comunitária" tende a indicar uma área disciplinar/acadêmica que estudaria o adoecer para além de sua dimensão biológica. Na verdade, em linhas gerais, está voltada para abordá-la ao nível de determinantes sócio/ político/ econômico/ ideológicos. Podem-se identificar pelo menos 5o conotações diferentes em que a expressão "Saúde Pública" é empregada: 1. o termo "pública" equivale ao setor público, governamental; 2. pode incluir a participação da comunidade organizada, o "público"; 3. identifica-se aos serviços dirigidos à dimensão coletiva (saneamento, por exemplo); 4. acrescenta ao anterior serviços pessoais dirigidos a grupos vulneráveis (por exemplo, Programas de Saúde Materno Infantil); 5. refere-se a problemas de elevada ocorrência e/ou ameaçadores. Parece ainda haver consenso com a caracterização do campo da Saúde Pública mediante 2 amplos critérios: 1. a vinculação ao aparelho de Estado; 2. a dimensão coletiva como objeto de intervenção. O QUE É UM PROBLEMA DE SAUDE PÚBLICA? (FONTE: COSTA, JSD; VICTORA, CG. O que é "um problema de saúde pública"?. Rev. bras. epidemiol. 2006, 9(1): 144-146). Ao introduzir no buscador Google, a expressão "problema de saúde pública" as seguintes respostas foram encontradas na primeira página: estresse, distúrbio do sono, acidentes de trânsito, filariose linfática, ruído, esquizofrenia, infecções sexualmente transmissíveis, sífilis e abortamento. Uma pesquisa mais detalhada evidenciou inúmeras outras morbidades, muitas das quais de baixa freqüência na população. Talvez na tentativa de valorizar UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS FACULDADE DE NUTRIÇÃO ÁREA NUTRIÇÃO EM SAÚDE PÚBLICA 9 ______________________________________________________________ Profa. Dra. Giovana Longo-Silva - FANUT/UFAL teses ou dissertações, observa-se que muitos autores utilizam constantemente a expressão "problema de saúde pública" em relação ao seu tema. Vale indagar se temas tão diferentes podem ser caracterizados como verdadeiros "problemas de saúde pública". Na tentativa de encontrar definição sobre o que constitui um "problema de saúde pública" recorreu-se a uma breve revisão de alguns textos clássicos de medicina preventiva e de saúde pública. Alguns textos consultados omitiram a definição procurada, provavelmente porque não previam o amplo uso da expressão. O Dicionário de Epidemiologia de Last, por exemplo, não inclui a expressão entre seus inúmeros termos, porém define saúde pública como "um dos esforços organizados pela sociedade para proteger, promover e restaurar a saúde de populações. É a combinação de ciências, habilidades e crenças que estão direcionadas para a manutenção e melhora dos níveis de saúde de todas as pessoas através de ações coletivas ou sociais. Os programas, serviços e instituições envolvidas enfatizam a prevenção das doenças e as necessidades de saúde de toda a população. As atividades de saúde pública mudam de acordo com as inovações tecnológicas e dos valores sociais, mas os objetivos permanecem os mesmos: reduzir na população a quantidade de doença, de mortes prematuras, de desconforto e incapacidades produzidas pelas doenças". Tal definição pode ajudar na conceituação de interesse, uma vez que enfatiza os aspectos preventivos inerentes à saúde pública, assim como valoriza ações direcionadas para o controle de mortes precoces e seqüelas evitáveis. Deve-se ressaltar que no texto de Leavell e Clark a definição de problema de saúde é expressa a partir de sua natureza, extensão, severidade e significância . No livro de Morley verificou-se que os critérios que definiriam problemas prioritários seriam: o interesse da comunidade, a prevalência, a gravidade e a possibilidade de controle. Na consulta ao Oxford Textbook of Public Health não foi encontrada uma definição específica para "problema de saúde pública", entretanto chama a atenção que o primeiro princípio que deve ser atendido para implantação de qualquer medida de rastreamento é que a condição investigada seja "um importante problema de saúde pública". O texto enfatiza que ao se julgar sobre recomendações de rastreamento deve-se considerar a "cargade mortalidade, morbidade e sofrimento causados pela condição". Segundo os autores esta carga é caracterizada em duas amplas áreas: 1. O impacto no indivíduo em termos de anos potenciais de vida perdidos, a extensão de incapacidade, dor e desconforto, o custo do tratamento, e o impacto na família do indivíduo. 2. O impacto na sociedade – mortalidade, morbidade e custos do tratamento para a sociedade. De forma semelhante, Daly et al. apontam como critérios definidores de problema de saúde pública na área de saúde bucal a prevalência da condição, o impacto da condição no nível individual, seu impacto na sociedade (do ponto de vista econômico) e se a condição pode ser prevenida ou se existe um tratamento efetivo disponível. Cabe ainda salientar como possível critério para definir um problema de saúde pública o seu potencial epidêmico. Por exemplo, a gripe aviária, embora até o momento em que este texto esteja sendo escrito tenha atingido apenas um reduzido número de indivíduos, precisa ser tratada como problema de saúde publica devido a seu enorme potencial de expansão. UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS FACULDADE DE NUTRIÇÃO ÁREA NUTRIÇÃO EM SAÚDE PÚBLICA 10 ______________________________________________________________ Profa. Dra. Giovana Longo-Silva - FANUT/UFAL Mais recentemente, o aumento vertiginoso dos custos de assistência tem promovido a realização de estudos de economia em saúde, com a pretensão de auxiliar a definição de investimentos e de racionalizar gastos limitados diante de necessidades ilimitadas. Em função de necessidades metodológicas para estudos de custo- efetividade e custo-utilidade, foi proposto o indicador denominado de QALY (quality-adjusted life years), que leva em conta o impacto da morbidade sobre os a expectativa de vida livre de doença. Outro indicador similar, ainda relacionado à proposta do Banco Mundial para o investimento racional de recursos escassos, é o DALY (disability-adjusted life years) que incorporou aos anos potenciais de vida perdidos (YPLL) uma medida de tempo de incapacidade. Assim, os anos de vida de incapacidade ajustados agregam aqueles perdidos pela mortalidade precoce assim como por morbidade ou incapacidade, o que permitiu o cálculo da carga global de doenças (GBD – The Global Burden of Disease). Sem entrar no mérito da metodologia usada para tais cálculos – diversos autores criticam o uso de ajustes arbitrários e julgamentos subjetivos de valores – uma metodologia deste tipo, se devidamente validada, pode contribuir para a definição do que efetivamente constituiria um problema de saúde pública. Voltando a nossa busca inicial, vale perguntar se distúrbios de sono, esquizofrenia ou filariose linfática podem ser efetivamente caracterizados como "problemas de saúde pública". Sem dúvida são condições importantes que precisam ser adequadamente tratadas em nível individual, mas colocá-las no mesmo nível de prioridade do que, digamos, causas externas, câncer de mama ou tabagismo não contribui para uma efetiva priorização de ações sanitárias. Embora a contextualização de problema de saúde pública seja ampla, e uma determinada condição não precise certamente preencher ou atingir todos os critérios simultaneamente, sugere-se que a utilização desta terminologia seja resguardada pela análise dos princípios básicos descritos acima. O QUE É NUTRIÇÃO EM SAÚDE PÚBLICA? (FONTE: PEDRAZA, DF. Nutrição em Saúde Pública. Rev. Bras. Saude Mater. Infant. 2013, 13(3): 267-268). A Nutrição em Saúde Pública é a parte da Saúde Pública que enfoca os aspectos da alimentação e nutrição relacionados ao bem-estar de saúde das populações. O interesse no estudo da nutrição humana por parte dos profissionais de saúde pauta-se na influência que os fatores nutricionais, sejam por deficiência ou por excesso, exercem no perfil de morbi-mortalidade das nações. A complexidade dessas relações constitui ainda um grande desafio que exige um maior entendimento das suas bases epidemiológicas, e abordagem integrada de aspectos biológicos, ambientais, comportamentais e políticos. EXERCÍCIO: Considerando os conceitos apresentados, quais são, em sua opinião, os principais problemas de saúde pública nutricionais da atualidade? R:_____________________________________ UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS FACULDADE DE NUTRIÇÃO ÁREA NUTRIÇÃO EM SAÚDE PÚBLICA 11 ______________________________________________________________ Profa. Dra. Giovana Longo-Silva - FANUT/UFAL DISCIPLINA: Saúde Pública 2 COODERNADORA: Profa. Dra. Giovana Longo-Silva TEXTO INTRODUTÓRIO – “AGRAVOS NUTRICIONAIS NO BRASIL” (Fonte: MS, 2015) O Brasil tem vivenciado uma peculiar e rápida transição nutricional: de um país que apresentava altas taxas de desnutrição, na década de 1970, passou a ser um país com metade da população adulta com excesso de peso, em 2008. No entanto, os avanços são desiguais. Ainda persistem altas prevalências de desnutrição crônica em grupos vulneráveis da população, como entre as crianças indígenas, quilombolas, residentes na região norte do País e aquelas pertencentes às famílias beneficiárias dos programas de transferência de renda, afetando principalmente crianças e mulheres que vivem em bolsões de pobreza. A melhoria ao acesso à saúde e à renda da população deveria ter impactado no avanço dos indicadores relativos à deficiência de micronutrientes, mas as pesquisas apontam a persistência das deficiências de ferro e vitamina A. Também se observa o ressurgimento de casos de Beribéri (deficiência de vitamina B1 ou tiamina) em alguns Estados brasileiros e o desajuste do consumo de iodo por adultos, proveniente do consumo excessivo do sal de cozinha iodado. Simultaneamente, o Brasil vem enfrentando o aumento expressivo do sobrepeso e da obesidade, assim como em vários países do mundo. Em função de sua magnitude e velocidade de evolução, o excesso de peso – que compreende o sobrepeso e a obesidade – é considerado atualmente um dos maiores problemas de saúde pública, afetando todas as faixas etárias. A prevenção e o controle dos agravos nutricionais requerem um conjunto amplo de ações de diversos setores. A PNAN constitui-se uma resposta oportuna e específica do SUS para reorganizar, qualificar e aperfeiçoar suas ações para o enfrentamento da complexidade da situação alimentar e nutricional da população brasileira. Desnutrição A desnutrição corresponde a uma doença de natureza clínico-social multifatorial, cujas raízes se encontram na pobreza. Quando ocorre na primeira infância, está associada à maior mortalidade, à recorrência de doenças infecciosas, a prejuízos no desenvolvimento psicomotor, ao menor aproveitamento escolar e à menor capacidade produtiva na idade adulta. Nos países em desenvolvimento, a desnutrição nessa faixa etária constitui-se importante problema de saúde pública. No Brasil, a prevalência de déficit de altura para idade foi reduzida pela metade entre 1996 e 2006, passando de 13,5% para 6,8%, com declínio médio anual de 6,3%. Cabe ressaltar que a redução nesses percentuais de desnutrição não ocorreu de forma homogênea, sendo maior entre as famílias e regiões mais pobres e vulneráveis do País. No entanto, quando observadas as crianças menores de cinco anos pertencentes a famílias beneficiárias do Programa Bolsa-Família, verifica-se que tanto a desnutrição aguda (baixo peso) quanto a crônica (baixa estatura) são mais prevalentes quando comparadas aos dados de toda a população brasileira nessa faixa etária. UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS FACULDADE DE NUTRIÇÃO ÁREA NUTRIÇÃO EM SAÚDE PÚBLICA 12 ______________________________________________________________Profa. Dra. Giovana Longo-Silva - FANUT/UFAL Da mesma forma, a desnutrição permanece elevada em algumas regiões do País, sobretudo em municípios de pequeno porte, e em grupos populacionais específicos, estando fortemente concentrada nas Regiões Norte e Nordeste. De acordo com dados do Sisvan, atualmente ainda há 253 municípios brasileiros com 10% ou mais crianças menores de cinco anos com desnutrição aguda, representando um total de 22.194 crianças. A persistência da desnutrição em um contexto histórico de declínio de sua prevalência sinaliza a necessidade de maiores investimentos sociais e de atenção focalizada de forma qualificada. Nesse sentido, o setor saúde deve monitorar os casos de desnutrição infantil, principalmente dos quadros graves e moderados, e garantir a oferta de cuidados adequados para recuperação dos indivíduos desnutridos. Compromisso do Governo Brasileiro A redução do baixo peso e da baixa estatura entre crianças menores de cinco anos de idade em 10% e 15% até 2015, respectivamente, são metas estabelecidas na Diretriz 7 – Redução dos Riscos e Agravos à Saúde da População, por Meio das Ações de Promoção e Vigilância em Saúde – do Plano Nacional de Saúde 2012-2015. Também, no Plano Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional 2012-22015, há a meta de reduzir em 20% a prevalência de baixo peso em crianças menores de cinco anos na Região Norte, ratificando o compromisso do setor saúde e dos demais setores em relação a esse importante problema de saúde pública (Objetivo 1 – Controlar e prevenir os agravos e doenças consequentes da insegurança alimentar e nutricional da Diretriz 5 – Fortalecimento das Ações de alimentação e nutrição em todos os níveis de atenção à saúde, de modo articulado às demais ações de segurança alimentar e nutricional). Prevenção e Controle da Desnutrição A elaboração de fluxos e procedimentos para o acolhimento adequado às demandas espontâneas e aos casos identificados por busca ativa, no âmbito da atenção básica e em articulação com os demais pontos de atenção, que contemplem a identificação das causas, avaliação e classificação do risco, estabelecimento de Projeto Terapêutico Singular e de articulação com outros setores e políticas sociais, é fundamental para o cuidado integral e resolutivo dessa população vulnerável. Além disso, outras ações já comprovadas e fundamentais para prevenção e controle da desnutrição, apoiadas pela CGAN/MS e que podem ser implantadas e incorporadas aos fluxos e procedimentos estabelecidos para a atenção às crianças desnutridas em seu município, incluem: - A promoção ao aleitamento materno exclusivo até os 6 meses e da alimentação complementar saudável, com continuidade do aleitamento materno até os 2 anos, fortalecida pela Estratégia Amamenta e Alimenta Brasil; UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS FACULDADE DE NUTRIÇÃO ÁREA NUTRIÇÃO EM SAÚDE PÚBLICA 13 ______________________________________________________________ Profa. Dra. Giovana Longo-Silva - FANUT/UFAL - A prevenção de deficiências nutricionais específicas, com a Suplementação de Ferro e Ácido Fólico e Vitamina A; - O acompanhamento do estado nutricional de crianças menores de cinco anos, com a utilização do SISVAN, com especial atenção às crianças pertencentes a famílias beneficiárias do Programa Bolsa Família; - A promoção e implantação de ações intersetoriais, por meio da Articulação Intersetorial, tendo em vista a determinação multifatorial da desnutrição. Para informações sobre a atenção à criança com desnutrição grave em hospitais, conheça nosso manual de atendimento da criança com desnutrição grave em nível hospitalar. Excesso de peso e obesidade A obesidade é decorrente do acúmulo de gordura no organismo, que está associado a riscos para a saúde, devido à sua relação com várias complicações metabólicas. Pode ser compreendida como um agravo de caráter multifatorial, pois suas causas estão relacionadas a questões biológicas, históricas, ecológicas, econômicas, sociais, culturais e políticas. Trata-se simultaneamente de uma doença e de um dos fatores de risco mais importantes para outras doenças crônicas não transmissíveis, como doenças cardiovasculares e Diabetes mellitus. A prevalência da obesidade vem aumentando entre adultos, tanto nos países desenvolvidos quanto naqueles em desenvolvimento. A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que pelo menos 1 bilhão de pessoas apresente excesso de peso, das quais, 300 milhões são obesos. A Pesquisa de Orçamentos Familiares realizada pelo IBGE em 2008/09 aponta aumento da prevalência de sobrepeso e obesidade no Brasil, atingindo os valores de aproximadamente 49% e 15% da população. Houve, ao longo de 34 anos, um aumento de sobrepeso de três vezes para homens e duas para mulheres. A determinação multifatorial do sobrepeso e da obesidade está relacionada ao modo de vida das populações modernas, que consomem cada vez mais alimentos processados, energeticamente densos e ricos em açúcares, gorduras e sódio, com uma quantidade de calorias consumidas além da necessidade individual. Esse desequilíbrio decorre, em parte, pelas mudanças do padrão alimentar aliadas à reduzida atividade física, tanto no período laboral como no lazer. Uma vez que as causas do sobrepeso e obesidade não são apenas individuais, mas também ambientais e sociais, a prevenção e o tratamento desses agravos requerem medidas complexas, uma atuação articulada entre os vários setores da sociedade que contribuam para que indivíduos e coletividades possam adotar modos de vida saudáveis. No âmbito do setor saúde, cabe ao SUS realizar a vigilância alimentar e nutricional, realizar ações de promoção da saúde, como promoção da alimentação adequada e saudável e atividade física, garantir atenção integral à saúde dos indivíduos com sobrepeso e obesidade e atuar no controle e regulação da qualidade dos alimentos. Deficiência de Ferro A anemia por deficiência de ferro, no Brasil, é o problema nutricional de grande magnitude e acomete principalmente as crianças, as mulheres em idade fértil e as gestantes. No Brasil, a Pesquisa Nacional de Demografia UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS FACULDADE DE NUTRIÇÃO ÁREA NUTRIÇÃO EM SAÚDE PÚBLICA 14 ______________________________________________________________ Profa. Dra. Giovana Longo-Silva - FANUT/UFAL e Saúde - PNDS 2006 avaliou, pela primeira vez em nível nacional, a prevalência de anemia em crianças e observou que 20,9% das crianças menores de 5 anos apresentam anemia, ou seja, aproximadamente 3 milhões de crianças brasileiras apresentam anemia. As maiores prevalências foram observadas no Nordeste (25,5%), Sudeste (22,6%) e Sul (21,5%). A região Norte (10,4%) e a região Centro-Oeste (11,0%) apresentaram as prevalências mais baixas. No entanto, diversos estudos conduzidos em diferentes locais apresentaram prevalência de anemia em crianças superior a 50% (Spinelli 2005; Jordão 2009; Vieira 2010). A prevalência de anemia em mulheres no país, avaliado pela PNDS é de 29,4%, sendo que as maiores prevalências foram observadas nas regiões Nordeste (39%), Sudeste (28,5%) e Sul (24,8). A prevalência observada para as mulheres residentes na região Centro-Oeste é de 20,1% e 19,3% na região Norte. A anemia traz sérias consequências, incluindo o aumento na mortalidade em mulheres e crianças, diminuição da capacidade de aprendizagem e diminuição da produtividade em indivíduos em todos os ciclos vitais. Esses efeitos perversos sobre a saúde física e mental afetam a qualidade de vida e a produtividade. Diante desse panorama, é de extrema importância a adoção de políticas públicas para prevenção e controleda anemia por deficiência de ferro no país. Em maio de 1999, o Ministério da Saúde, com o intuito de unir forças para a redução da prevalência da anemia por deficiência de ferro no país, estabeleceu o Compromisso social para a redução da anemia ferropriva no Brasil. O propósito do Compromisso foi definir as bases e os mecanismos entre as partes, para promover ampla mobilização nacional, em prol da redução da anemia por deficiência de ferro no país, por intermédio da promoção da alimentação adequada e saudável, da orientação do consumidor para a diversificação de dieta a baixo custo, da distribuição de suplementos na rede de saúde para grupos populacionais específicos e da fortificação das farinhas de trigo e milho. Mais recentemente, a prevenção da anemia, em função da sua ampla associação com as desigualdades sociais, foi incorporada à Ação Brasil Carinhoso do Plano Brasil Sem Miséria e tem por objetivo contribuir com a eliminação da extrema pobreza no país. Deficiência de Vitamina A No Brasil, a deficiência de vitamina A é um problema de saúde pública moderado, sobretudo, na Região Nordeste e em alguns locais da Região Sudeste e Norte. A Pesquisa Nacional de Demografia e Saúde da Criança e da Mulher (PNDS-2006) traçou o perfil das crianças menores de cinco anos e da população feminina em idade fértil no Brasil. Nesta pesquisa, foram observados níveis inadequados de vitamina A em 17,4% das crianças e 12,3% das mulheres em idade fértil. Nas crianças, as maiores prevalências encontradas foram no Nordeste (19,0%) e Sudeste (21,6%) do País. Nas mulheres, as prevalências nas regiões foram: Sudeste (14%), Centro-Oeste (12,8%), Nordeste (12,1%), Norte (11,2%) e Sul (8%). Evidências científicas referentes ao impacto da suplementação com vitamina A em crianças de 6 a 59 meses de idade apontam para redução do risco global de morte em 24%, de mortalidade por diarreia em 28% e mortalidade por todas as causas, em crianças HIV positivo, em 45%. Diante desse impacto positivo, a OMS recomenda a administração de suplementos de vitamina A para prevenir a carência, a xeroftalmia e a cegueira de origem nutricional em crianças de 6 a 59 meses. Ressalta ainda que a suplementação profilática de vitamina A deve fazer parte de um conjunto de estratégias para melhoria da UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS FACULDADE DE NUTRIÇÃO ÁREA NUTRIÇÃO EM SAÚDE PÚBLICA 15 ______________________________________________________________ Profa. Dra. Giovana Longo-Silva - FANUT/UFAL ingestão desse nutriente, portanto associado à diversificação da dieta (OMS, 2011). O Programa Nacional de Suplementação de Vitamina A foi instituído por meio da Portaria nº 729, de 13 de maio de 2005, cujo objetivo é reduzir e controlar a deficiência nutricional de vitamina A em crianças de 6 a 59 meses de idade e puérperas no pós-parto imediato (antes da alta hospitalar). Esse programa faz parte da Ação Brasil Carinhoso constante no Programa Brasil sem Miséria, que objetiva o combate à pobreza absoluta na primeira infância e reforça a assistência a criança menor de 5 anos para prevenção da deficiência de vitamina A, garantindo o acesso e disponibilidade do insumo a todas as crianças nessa faixa etária nas Regiões Norte e Nordeste e os municípios das Regiões Centro-Oeste, Sul e Sudeste contemplados no Programa Brasil sem Miséria. Deficiência de Iodo Desde a década de 50 é obrigatória a iodação de todo o sal destinado ao consumo humano. Nessa época, aproximadamente 20% da população apresentavam Distúrbio por Deficiência de Iodo (DDI). Assim, com o propósito de diminuir essas altas prevalências adotou-se a iodação universal do sal. Após cerca de seis décadas de intervenção, se observa redução na prevalência de DDI no Brasil (20,7% em 1955; 14,1% em 1974; 1,3% em 1994; e 1,4% em 2000). O Iodo é um micronutriente essencial para o homem e outros animais. Existe apenas uma única função conhecida do Iodo no organismo humano: ele é utilizado na síntese dos hormônios tireoidianos (hormônios produzidos pela tireóide, uma glândula que se localiza na base frontal do pescoço): a triiodotironina (T3) e a tiroxina (T4). Esses hormônios têm dois importantes papéis: atuam no crescimento físico e neurológico e na manutenção do fluxo normal de energia (metabolismo basal, principalmente na manutenção do calor do corpo). São muito importantes para o funcionamento de vários órgãos como o coração, fígado, rins, ovários e outros. Os Distúrbios por Deficiência de Iodo são fenômenos naturais e permanentes, que estão amplamente distribuídos em várias regiões do mundo. Populações que vivem em áreas deficientes em iodo sempre terão o risco de apresentar os distúrbios causados por esta deficiência, cujo impacto sobre os níveis de desenvolvimento humano, social e econômico são muito graves. A deficiência de iodo pode causar cretinismo em crianças (retardo mental grave e irreversível), surdo-mudez, anomalias congênitas, bem como a manifestação clínica mais visível, o bócio (hipertrofia da glândula tireóide). Além disso, a má nutrição de iodo está relacionada com altas taxas de natimortos e nascimento de crianças com baixo peso, problemas no período gestacional, e aumento do risco de abortos e mortalidade materna. Associada a esses problemas, a deficiência de iodo contribui para o aumento do gasto com atendimento em saúde e em educação, uma vez que incrementa as taxas de repetência e evasão escolar, e ainda proporciona a redução da capacidade para o trabalho. Portanto, direta ou indiretamente acarreta prejuízos sócio-econômicos ao país. Consequentemente, as estratégias dirigidas a controlar a deficiência de iodo, devem ser permanentes e fundamentalmente preventivas, especialmente quando se destinam às gestantes, nutrizes e crianças menores de dois anos de idade. O que vem ocorrendo desde então são adequações à legislação para atender melhor a população na prevenção dos distúrbios causados pela deficiência de iodo. Foi o que ocorreu em 1999, quando os teores de iodação do sal se adequaram às faixas de 40 a 100 ppm. Em fevereiro de 2003, foi aberta consulta pública pela UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS FACULDADE DE NUTRIÇÃO ÁREA NUTRIÇÃO EM SAÚDE PÚBLICA 16 ______________________________________________________________ Profa. Dra. Giovana Longo-Silva - FANUT/UFAL Agência Nacional de Vigilância Sanitária, na qual a faixa de iodação foi ajustada para 20 a 60 ppm. Todas as adequações de iodação do sal, realizadas pelo Ministério da Saúde, são feitas de acordo com a recomendação da Organização Mundial da Saúde e especialistas nacionais no tema. O Programa de Combate aos Distúrbios por Deficiência de Iodo no Brasil - Pró Iodo, é uma das ações mais bem sucedidas no combate aos distúrbios por deficiência de micronutrientes e tem sido elogiado pelos organismos internacionais pela sua condução e resultado obtido na eliminação do bócio endêmico no País. Entre as ações, a iodação universal do sal para consumo humano e o monitoramento e fiscalização das indústrias salineiras são as principais responsáveis pelo sucesso do programa. Para manter a baixa prevalência dos distúrbios causados pela deficiência de iodo, a iodação universal do sal para consumo humano no Brasil deve ser mantida sem exceção. Deficiência de Vitamina B1 – Beribéri O beribéri é uma doença causada pela deficiência de tiamina (vitamina B1). No Brasil, desde 2006, têm sido notificados casos de beribéri nos Estados do Maranhão e Tocantins. Em 2008, foram identificados casos suspeitos em indígenas das etnias Ingaricó e Macuxi, no município de Uiramutã/Roraima e, desde então, estão sendo empreendidas ações em parceria com o Estado emunicípio na investigação, acompanhamento, prevenção e controle do beribéri. Após a oficina de formação e desenvolvimento dos trabalhadores da saúde para o enfrentamento do beribéri, realizada nos dias 5 e 6 de dezembro de 2011, a Coordenação-Geral de Alimentação e Nutrição (CGAN/DAB/SAS) desenvolveu o Guia de Consulta para Vigilância Epidemiológica, Assistência e Atenção Nutricional dos Casos de Beribéri, que foi lançado em 2012. Esse guia de consulta destina-se aos profissionais de saúde de toda a rede de atenção do Sistema Único de Saúde (SUS) e de seu Subsistema de Atenção à Saúde Indígena, em especial àqueles que atuam na atenção básica, vigilância epidemiológica e que permanecem em contato direto com as populações sob risco, e destaca os aspectos relativos à vigilância epidemiológica, assistência e atenção nutricional do beribéri. Esse enfoque visa à adoção das medidas de detecção, prevenção e controle da doença em tempo oportuno. Cárie Dentária A nutrição e a dieta apresentam forte influência sobre o binômio saúde/doença da cavidade bucal. O estado nutricional do paciente pode influenciar a formação da estrutura dental, alterar a resposta das mucosas bucais frente aos microorganismos patogênicos, provocar alterações nas mucosas, especialmente língua e tecido gengival, e ainda atuar na função e secreção das glândulas salivares. A dieta assume um papel de atuação tópica importante na superfície dental, podendo provocar a erosão do esmalte dental e a doença cárie. A cárie dentária, por sua vez, pode afetar de maneira negativa a qualidade de vida do indivíduo, pois pode causar dor e inflamação, levando a ansiedade e problemas sociais; além de alterar a função da mastigação e consequentemente alterar a ingestão de alimentos. No Brasil, apesar da redução sistemática da prevalência da cárie apontada nos levantamentos epidemiológicos, ainda existem focos de polarização onde altos índices da doença são encontrados; estes focos de UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS FACULDADE DE NUTRIÇÃO ÁREA NUTRIÇÃO EM SAÚDE PÚBLICA 17 ______________________________________________________________ Profa. Dra. Giovana Longo-Silva - FANUT/UFAL polarização situam-se em regiões carentes, pois estudos realizados apontam uma grande associação entre os fatores sócioeconômicos e os altos índices da doença. Estudos realizados em diversas partes do mundo apontam baixo nível de escolaridade dos pais e baixo nível econômico como fatores de risco para a cárie dentária. O controle da prevalência e incidências de cárie dentária pode ser feito através de estratégias associadas. O uso racional do flúor, a redução do consumo de açúcar e o aumento do controle do biofilme dental. Dentre os fatores que contribuíram para a redução da doença carie no Brasil e no mundo, a literatura é unânime em apontar o uso do flúor como o principal responsável pela redução da prevalência de cárie em mais de 40%, sendo ele adicionado a água de abastecimento público, aos dentifrícios ou em outras formas de aplicação. O Brasil Sorridente - Política Nacional de Saúde Bucal - é o programa do governo federal que tem mudado a Atenção da Saúde Bucal no Brasil. De modo a garantir ações de promoção, prevenção e recuperação da saúde bucal da população brasileira, o Brasil Sorridente reúne uma série de ações para ampliação do acesso ao tratamento odontológico gratuito, por meio do Sistema Único de Saúde (SUS). As principais linhas de ação do programa são: 1. Reorganização da Atenção Básica em saúde bucal, principalmente com a implantação das Equipes de Saúde Bucal na Estratégia Saúde da Família; 2. Ampliação e qualificação da Atenção Especializada, em especial com a implantação de Centros de Especialidades Odontológicas e Laboratórios Regionais de Próteses Dentárias. Na Atenção Especializada encontra- se também a Assistência Hospitalar. O Brasil Sorridente contempla ainda o Brasil Sorridente Indígena e apresenta interface com outras ações desenvolvidas pelo Ministério da Saúde, o que ajuda a compreender seu alcance. Saiba mais sobre as ações em Saúde Bucal nas seguintes ações do governo federal: Programa Saúde na Escola , Brasil sem Miséria, Plano Nacional para Pessoas com Deficiência, Qualificação Profissional e Científica e Fluoretação das Águas de Abastecimento Público. UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS FACULDADE DE NUTRIÇÃO ÁREA NUTRIÇÃO EM SAÚDE PÚBLICA 18 ______________________________________________________________ Profa. Dra. Giovana Longo-Silva - FANUT/UFAL Desnutrição (Fome e Insegurança Alimentar) Bibliografia: BATISTA FILHO, M; RISSIN, A. Desnutrição energético-proteica. In: TADDEI, J.A.; LANG, R.M.F.; LONGO-SILVA, G.; TOLONI, M.H.A. Nutrição em Saúde Pública. 2. ed. Rio de Janeiro: Rubio, 2015. Artigos para discussão: MONTEIRO, Carlos Augusto. A dimensão da pobreza, da desnutrição e da fome no Brasil. Estud. av. 2003, vol.17, n.48, pp. 7-20. ISSN 0103-4014. (GRUPO I*) MONTEIRO, Flávia; SCHMIDT, Suely Teresinha. O Programa Bolsa Família no contexto da segurança alimentar e nutricional no Brasil. Sau. & Transf. Soc., ISSN 2178-7085, Florianópolis, v.5, n.3, p.91-97, 2014. (GRUPO II*) WOLF, Miriam Regina; BARROS FILHO, Antonio de Azevedo. Estado nutricional dos beneficiários do Programa Bolsa Família no Brasil – uma revisão sistemática. Ciência & Saúde Coletiva, 19(5):1331-1338, 2014 * Artigos a serem apresentados por Grupos de Alunos, ao final de cada aula relacionada ao tema e conforme sorteio realizado no início da disciplina. UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS FACULDADE DE NUTRIÇÃO ÁREA NUTRIÇÃO EM SAÚDE PÚBLICA 19 ______________________________________________________________ Profa. Dra. Giovana Longo-Silva - FANUT/UFAL ATIVIDADE COMPLEMENTAR 1- MONTEIRO, Carlos Augusto. A dimensão da pobreza, da desnutrição e da fome no Brasil. Estud. av. 2003, vol.17, n.48, pp. 7-20. ISSN 0103-4014. Identificar no artigo: a. Definição de Pobreza b. Definição de Fome c. Definição de desnutrição crônica d. Diferença entre Pobreza e Fome e. Diferença entre Fome e Desnutrição f. Diferença entre Pobreza e Desnutrição g. Como aferir Pobreza h. Como aferir Fome i. Como aferir Desnutrição Crônica 2- MONTEIRO, Flávia; SCHMIDT, Suely Teresinha. O Programa Bolsa Família no contexto da segurança alimentar e nutricional no Brasil. Sau. & Transf. Soc., ISSN 2178-7085, Florianópolis, v.5, n.3, p.91-97, 2014. Identificar no artigo: a. Definição de Segurança Alimentar e Nutricional (SAN) b. Definição de Direito Humano a Alimentação Adequada (DHAA) UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS FACULDADE DE NUTRIÇÃO ÁREA NUTRIÇÃO EM SAÚDE PÚBLICA 20 ______________________________________________________________ Profa. Dra. Giovana Longo-Silva - FANUT/UFAL LIVRO NUTRIÇÃO EM SAÚDE PÚBLICA TADDEI, J.A.; LANG, R.M.F.; LONGO-SILVA, G.; TOLONI, M.H.A. Nutrição em Saúde Pública. 2. ed. Rio de Janeiro: Rubio, 2015. Desnutrição Energético-Proteica Malaquias Batista Filho | Anete Rissin Capítulo 1 █ INTRODUÇÃO É curioso (e emblemático) observar que um dos problemas de saúde dos mais antigos, permanentes e importantes de toda a história da humanidade (a desnutrição energético-proteica, ou DEP) só tenha sido descrito como entidade nosológica há cerca de 80 anos, quando Williams notificou o “kwashiorkor” como uma manifestação grave de carênciaalimentar1. Foi com essa descrição clássica que, ao lado do marasmo nutricional (crianças e adultos em “pele e osso” na imagem da observação popular que, a DEP foi divulgada durante quase duas décadas, até que, em meados da década de 1940, o livro de um brasileiro (Geografia da Fome, de Josué de Castro, traduzido em 25 idiomas)2 resgatou para a literatura médica, antropológica, política, econômica e social a magnitude do problema alimentar e nutricional no Brasil e no mundo, retratando a situação das doenças carenciais na década de 40 e no passado da humanidade. Havia até então, na observação crítica do autor, uma “conspiração do silêncio”, ocultando uma situação que, de fato, põe em questionamento os fundamentos éticos da própria civilização. Na verdade, até mesmo do ponto de vista médico (aqui entendido como visão hegemônica dos profissionais de saúde), a designação DEP representa um reducionismo, na medida em que, como expressão conceitual, fundamenta-se em um balanço negativo de calorias e proteínas. Simplificando: como concepção básica, a DEP traduz um déficit de proteínas, tendo no “kwashiorkor” (ou desnutrição edematosa) sua representação típica, ao passo que o marasmo, caracterizado por perda acentuada de tecido muscular e adiposo, seria a característica dominante da deficiência energética. De fato, a DEP configura uma situação bem mais abrangente, seja como conceito fisiopatológico, problema epidemiológico ou doença social, na medida em que representa a manifestação de vários balanços negativos decorrentes das estruturas e funções distorcidas do organismo social. Como processo patológico, além de suas formas graves já relatadas, o problema se difunde em suas manifestações leves e moderadas, as quais, sendo as mais comuns, acabam produzindo um impacto bem maior, em termos de risco atribuível às suas consequências expressas em mortes e limitações funcionais em nível populacional. Essas consequências, por sinal, ressaltam um aspecto epidemiológico que não é devidamente contabilizado nas avaliações habituais do processo saúde/doença. O reducionismo conceitual também se aplica à observação de que a DEP raramente ocorre como processo singular ou único: simultaneamente, UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS FACULDADE DE NUTRIÇÃO ÁREA NUTRIÇÃO EM SAÚDE PÚBLICA 21 ______________________________________________________________ Profa. Dra. Giovana Longo-Silva - FANUT/UFAL associa-se a outras carências nutricionais, como as anemias, a deficiência de vitamina A (DVA) e carências menos evidentes de cálcio, iodo, zinco e vitaminas do complexo B. São, portanto, processos multicarenciais, e não apenas deficiências energéticas e proteicas3. Ademais, ao lado das deficiências nutricionais, a DEP mantém estreitas vinculações com outras doenças, notadamente de caráter infeccioso, sejam sistêmicas como a sepse, ou localizadas, como as infecções respiratórias, diarreicas, urinárias, piodermites e meningites, entre outras. Nessas situações, estabelecem-se mecanismos de interação, de tal modo que a desnutrição, reduzindo as defesas orgânicas, favorece a instalação e o agravamento das infecções, ao passo que estas, diminuindo o apetite, comprometendo a digestão e a absorção dos nutrientes, aumentando as necessidades metabólicas e produzindo perdas adicionais de nutrientes, agravam a própria desnutrição. Esta abordagem é conveniente e até necessária para a compreensão, em nível individual e coletivo, do caráter abrangente que a DEP assume e, portanto, da variedade de aspectos simultaneamente envolvidos em sua gênese, sua evolução e seu desenlace. Nesta perspectiva, é importante ressaltar que, considerando-se o amplo espectro de situações que esta síndrome envolve, cerca de 40% de todas as crianças e 60% de todos os adultos vivos apresentam na atualidade, manifestações ativas ou passaram por experiências relacionadas com sua ocorrência. Estima-se que 35% das mortes de menores de 5 anos têm a desnutrição como um fator associado4. Em 2011, 6,9 milhões de crianças menores de cinco anos de idade morreram, principalmente por causas evitáveis, como pneumonia, diarreia, malária e problemas neonatais frequentemente combinados com a DEP5. Em todo o mundo, é estimado que uma em cada quatro crianças (26%, 165 milhões) são desnutridas, segundo o indicador altura/idade. Ao se considerar o déficit do peso em relação à idade, uma em cada seis crianças (16%, 101 milhões) apresentavam essa condição e 8% (52 milhões) estavam com baixo peso em relação à altura6. Por outro lado, formas moderadas e graves de DEP podem ter consequências prolongadas, alterando os parâmetros dos processos fisiológicos, como no conjunto de efeitos que caracterizam o chamado “imprinting metabólico”.7 Como consequência, doenças que formam o grupo das enfermidades crônicas não transmissíveis, como o diabetes mellitus tipo 2 (DM-2), a obesidade, as dislipidemias e doenças cardiovasculares e cerebrovasculares, que respondem por 58% de todas as causas de morte na atualidade, podem representar o efeito prolongado de predisposições geradas pela DEP na infância. Existem, inclusive, instigantes linhas de pesquisa que estudam essas manifestações tardias da desnutrição no ciclo da vida humana8,9 . Por outro lado, seja por seus efeitos diretos ou por consequências associadas, a DEP correlaciona- se negativamente com o desempenho físico e mental, deixando em seus portadores sequelas e restrições funcionais que se prolongam por toda a vida, implicando em comprometedora inferioridade biológica para UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS FACULDADE DE NUTRIÇÃO ÁREA NUTRIÇÃO EM SAÚDE PÚBLICA 22 ______________________________________________________________ Profa. Dra. Giovana Longo-Silva - FANUT/UFAL as demandas de um mundo que exige crescente capacidade competitiva. Assim, como consequência residual da DEP, pode ocorrer redução da força muscular e da habilidade motora, diminuindo a produtividade do trabalho físico10. Dependendo da gravidade, da precocidade e da duração do processo carencial, a população de neurônios do córtex cerebral, suas conexões, a bainha de mielina dos axônios e o tecido glial podem não completar o ciclo evolutivo do sistema nervoso. A atividade elétrica cortical muitas vezes está alterada. Já foram consistentemente documentados prejuízos nas funções de memória e atenção11. Esses efeitos, seguramente evidenciados em animais de laboratório e em testes clínicos em humanos, têm sido comprovados em escala epidemiológica, representando um ônus adicional e permanente para a própria manutenção das desigualdades que alimentam (ou são, em si) as matrizes estruturais da desnutrição nas crianças, suas famílias e suas comunidades12. A DEP e suas manifestações, que implicam em várias repercussões no campo de saúde, derivam de processos que têm na própria carência nutricional um sinal patognomônico da exclusão como estigma social. O desemprego, os baixos salários, a carência de moradias salubres, de saneamento ambiental, de acesso aos serviços de saúde e de educação, a redução da autoestima, a falta de perspectiva de progresso humano, de segurança alimentar como um direito pleno de cidadania, do exercício de uma atividade ética e culturalmente digna, do direito à participação em diferentes níveis – todo esse complexo de condições negadas no contexto da ecologia da pobreza participa, em maior ou menor escala, na gênese da desnutrição e suas consequências12 . Mais do que um problema de saúde, a DEP deve ser vista da perspectiva da ética do desenvolvimento humano, que não pode ser reduzida aos indicadores de multiplicação da riqueza, como o Produto Interno Bruto (PIB), devendo implicarno usufruto dos bens e serviços produzidos e acesso aos próprios meios de sua produção. Esta foi a visão pioneira de Rousseau há quase 250 anos, de Marx há 130 anos, de Josué de Castro há 50 anos e, na atualidade de pensadores de uma economia humanizada, como Amartya Sen13, Ignacy Sachs14, Robert Fogel15 e Richard Conway16 . █ INDICADORES DA DEP Em nível de saúde coletiva, considera-se como indicadores de DEP o conjunto de informações que se prestam para caracterizar e dimensionar a magnitude do problema, sua natureza, especificação dos grupos biológicos e sociais mais vulneráveis, delimitação dos espaços geográficos atingidos e avaliação de tendências temporais que representam, assim, os pontos referenciais da epidemiologia descritiva do problema. Conceitualmente, estes seriam os indicadores diretos, ainda que sua sensibilidade e especificidade devam ser relativizadas em muitas situações. No entanto, esses possíveis questionamentos não chegam a comprometer a confiabilidade das avaliações em nível populacional, sobretudo se seus resultados se afastam significativamente dos padrões de normalidade esperados e se são aplicados vários indicadores simultaneamente, de modo que as limitações de uns possam ser supridas por informações próprias e complementares de outros. Os indicadores diretos podem ser bioquímicos, clínicos e CITAR O LIVRO? UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS FACULDADE DE NUTRIÇÃO ÁREA NUTRIÇÃO EM SAÚDE PÚBLICA 23 ______________________________________________________________ Profa. Dra. Giovana Longo-Silva - FANUT/UFAL antropométricos, sendo os últimos os mais aplicados em avaliações populacionais. Outros indicadores, diretos ou indiretos, têm um papel mais supletivo, podendo ser estudados em outras publicações.3,17 Na medida em que alterações no crescimento representam as manifestações mais sensíveis da DEP, sua avaliação em nível populacional, principalmente em crianças, pode ser efetuada por meio de medidas que referem o peso corporal, o comprimento (ou altura) ou a relação dessas medidas combinadas entre si e comparadas com populações que alcançaram patamares mais elevados de desenvolvimento socioeconômico, notadamente em termos de otimização dos níveis de saúde, nutrição e condições correlatas. A antropometria nutricional oferece um conjunto de instrumentos para a avaliação do estado de nutrição em nível individual e coletivo, prestando-se notadamente para crianças, uma vez que o crescimento constitui o processo mais característico da própria biologia da infância e suas demandas ambientais. Aliás, do ponto de vista conceitual e pragmático, o crescimento e o desenvolvimento constituem os eixos em torno dos quais devem girar os grandes objetivos e estratégias da assistência pediátrica,18 como prática profissional e como políticas públicas. Por sinal, estas diretrizes não são devidamente consideradas na prestação de cuidados de saúde das crianças, exceto em uns poucos países. Alguns dos indicadores antropométricos são bastante simples, como o peso ao nascer e suas classificações. Outros já envolvem conceitos e formulações mais complexas, como os índices que operam com medidas corporais consideradas em relação ao gênero, à idade e aos padrões de normalidade antropométrica, suas variações e cálculos biomatemáticos em que se fundamentam. Em termos simplificados, essas avaliações consideram um valor idealizado (média ou mediana de uma população normal) e as variações convencionalmente aceitáveis em torno desses valores, expressas em desvios-padrão ou em distribuições percentilares. Admite-se que as variações de mais ou menos um desvio-padrão definem um campo de valores normais, com uma probabilidade de 68%. Abaixo de um desvio-padrão, começaria o risco de DEP em sua forma leve, que passaria à condição de moderada ao se atingir –2 desvios-padrão, tornando-se grave quando se alcança –3 desvios-padrão. Essas descrições podem ser encontradas em tabelas e guias instrutivos bem detalhados, como os recomendados pela Organização Mundial de Saúde (OMS)19,20 ou obtidos em operações de computação (software ANTHRO)21 ou ainda calculadas manualmente, mediante a fórmula de escore Z: Escore Z = x – x , onde: DP x = valor individual do caso em avaliação. x = média de uma população normal, referenciada para idade e gênero do caso X. DP = desvio-padrão da população eleita como normal, reportada à idade e ao gênero do caso sob avaliação. UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS FACULDADE DE NUTRIÇÃO ÁREA NUTRIÇÃO EM SAÚDE PÚBLICA 24 ______________________________________________________________ Profa. Dra. Giovana Longo-Silva - FANUT/UFAL Estas operações acham-se mais detalhadamente explicadas nos manuais de antropometria. Caso o resultado da aplicação da fórmula seja negativo, considera-se um valor “proxi” da desnutrição, segundo os pontos de corte propostos no item anterior. Esses fundamentos, que não se aplicam à classificação do peso ao nascer, prestam-se para a avaliação do peso para a idade e gênero, da altura (ou comprimento) para a idade e gênero e da relação entre peso e altura. ■ Peso ao nascer (PN): reflete, genérica e simultaneamente, as condições de saúde e nutrição da mãe e do concepto, classificando-se os resultados em baixo peso (<2.500g), peso insuficiente (≥2.500 a 2.999g) e peso normal (3.000g ou mais). É um indicador muito importante, pois o baixo peso ao nascer representa, isoladamente, o principal preditor da chance de sobrevivência dos recém-natos, evidenciando-se que 50% a três quartos da mortalidade infantil precoce no mundo ocorre em crianças nascidas com menos de 2.500g. Recente informe das Nações Unidas relata que, nos países mais desenvolvidos, menos de 7% das crianças têm baixo peso ao nascer (BPN), ao passo que nos países mais pobres, como Índia e Iêmen, esta condição atinge, respectivamente, 28% e 32% dos nascidos vivos22. Na China, a ocorrência de BPN teria declinado para 2%, o que representa um resultado excepcional e auspicioso, pois este país abriga um quinto de toda a população humana e ainda não alcançou plenamente a situação de um país desenvolvido. Ademais, sua evolução é muito singular e ilustrativa, pois, na década de 1990, 19% das crianças chinesas nasciam com menos de 2.500g, percentual que se reduziu para 7,8% em 2002, 3,6% em 2007 e, finalmente, 2%, segundo informe das Nações Unidas 22. ■ Peso para a altura (P/A): avalia o grau de correspondência do peso corporal em relação à altura (ou ao comprimento), de modo que as crianças mais baixas devem ter menos peso, ocorrendo o contrário nas mais altas, resultando em uma esperada correlação entre estas variáveis. Assim compreendido, o indicador peso/altura aplica-se primordialmente para avaliação da relação entre a massa de tecidos moles e o crescimento esquelético como medida dominante das relações corporais. Indica, portanto, a situação nutricional atual ou recente, podendo sinalizar a ocorrência de desnutrição aguda e sua gravidade, ou seja, um processo patogenicamente ativo. ■ Peso para a idade (P/I): avalia, nos primeiros meses e anos de vida, o crescimento ponderal em relação ao padrão de normalidade internacionalmente recomendado como expressão do potencial de crescimento previsto para idade (anos e meses) e sexo das crianças. Nos casos de baixo peso, esta classificação não distingue se o déficit ponderal é recente (desarmonia entre peso e altura), se é prolongado (déficit entre altura e idade) ou se combina as duas condições. Esta seria, na realidade, a situação mais comum. ■ Altura para a idade (A/I): ao avaliar o crescimentolento e irreversível do esqueleto, a relação entre altura e idade reflete a história pregressa do estado de nutrição. Informa, portanto, a condição retrospectiva do crescimento, o efeito acumulado de avanços e retardos referentes aos meses e anos de vida da criança. É um indicador histórico da biologia do crescimento, retratando o passado nutricional. Por UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS FACULDADE DE NUTRIÇÃO ÁREA NUTRIÇÃO EM SAÚDE PÚBLICA 25 ______________________________________________________________ Profa. Dra. Giovana Longo-Silva - FANUT/UFAL esse motivo, torna-se a medida mais indicada para representar o efeito negativo (e muitas vezes irreversível) da DEP sobre o crescimento linear. Alegoricamente, pode-se dizer que altura é status. Nos tópicos a seguir, descrevem-se alguns indicadores complementares da antropometria nutricional, como possíveis componentes das práticas de vigilância da saúde das crianças. Assim, a avaliação do estado de nutrição energético-proteica pode ser realizada por métodos alternativos ou complementares da antropometria, tais como: ■ Relação entre a circunferência braquial e o perímetro cefálico: ambos são obtidos em centímetros e milímetros. Da divisão de uma medida pela outra resulta o índice de Kanawati & McLaren23. Seria um correspondente da relação entre peso e altura, tendo mais uma destinação clínica do que uma indicação epidemiológica24. ■ Circunferência braquial: recomendada, sobretudo para crianças de 1 a 4 anos de idade, foi proposta, e muito usada, por Jelliffe & Jelliffe25 nas décadas de 1970 e 1980. ■ Antropometria tissular: avalia, sobretudo, a deposição subcutânea de tecido adiposo e, portanto, o aporte calórico da alimentação, acumulado em forma de gordura. Os principais locais de medida são: dobra cutânea tricipital, ponto subescapular e dobra cutânea abdominal. ■ Medidas de composição corporal: sejam diretas, como a ultrassonografia, ou indiretas, como as estimativas de bioimpedância, constituem métodos alternativos e experimentais, valendo mais como questões de estudo do que como instrumentos rotineiros de avaliação do estado de nutrição proteico- calórica. █ O CENÁRIO EPIDEMIOLÓGICO Situação mundial Ao lado da anemia, a DEP é o problema carencial mais difundido no mundo, com uma distribuição geográfica que praticamente se sobrepõe à própria cartografia da pobreza. Estima-se que aproximadamente seis milhões de crianças são afetadas pelo problema em diferentes estágios de gravidade e em formas diversificadas de manifestações clínicas e epidemiológicas. Em geral, os informes sobre a DEP em crianças e em escala populacional baseiam-se, em âmbito mundial, na consolidação de estatísticas referentes às formas moderadas e graves do problema – ou seja, com o uso de pontos de corte abaixo de –2 desvios-padrão como critérios universais de informações epidemiológicas. Ao se considerar as formas leves, incorporando os desvios entre –1 e –2 desvios-padrão, com toda a probabilidade sua prevalência alcançaria mais de 50% de todas as crianças do mundo. Ademais, é possível que a magnitude da DEP esteja subestimada, pelo efeito importante da mortalidade em menores de 5 anos, concentrando-se nos casos de desnutrição moderada e grave e produzindo, com isso, uma redução nos níveis da prevalência, o que implica num viés de sobrevivência26. Ou seja, os estudos epidemiológicos têm como base a população de crianças sobreviventes, representando um numerador UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS FACULDADE DE NUTRIÇÃO ÁREA NUTRIÇÃO EM SAÚDE PÚBLICA 26 ______________________________________________________________ Profa. Dra. Giovana Longo-Silva - FANUT/UFAL desfalcado dos casos de mortes que afetam, principalmente, os desnutridos. Estima-se que 80% das crianças que vivem expostas às mazelas biológicas e sociais da DEP situam-se na Ásia Meridional e em países africanos ao sul do Saara. O retardo do crescimento estatural e o déficit na relação entre peso e idade são os indicadores mais expressivos do cenário epidemiológico do problema. Com essas observações, apresenta-se na Tabela 1 um quadro consolidado da prevalência de DEP em crianças de diferentes blocos de países classificados pelas Nações Unidas segundo o nível de condições socioeconômicas. A inclusão de uma coluna informativa sobre a renda per capita evidencia a correlação entre o estrato geoeconômico e a distribuição dos indicadores de baixo peso ao nascer e de outros déficits antropométricos. Observa-se que o “déficit” altura/idade (A/I) representa o principal indicador de diferenciação no quadro de distribuição geográfica da DEP em crianças no mundo, com frequências de 38% a 40% em grande parte resumindo informações da África (Sul do Saara, Oriental/Meridional e Oriental/Central) e conjunto dos países menos desenvolvidos. É uma distribuição territorial que discrimina de fato, o contraste de desigualdades socioeconômicas, simplificado na Tabela 1, representadas nos índices de renda per- capita. Secundariamente, chama-se a atenção para a prevalência de 28% de baixo peso ao nascer e de “déficit” no índice P/A, sinalizando situações de risco de sobrevivência e instalação de sequelas morfofuncionais, como o retardo do desenvolvimento mental. Tabela 1 - Indicadores antropométricos de menores de 5 anos de diferentes blocos de países, segundo sua condição de desenvolvimento econômico. Espaços geográficos Renda per Baixo peso Déficits Antropométricos (%) capita (U$) ao nascer (%) A/I P/I P/A África ao sul do Saara 1.269 12 40 7 9 África Oriental e Meridional 1.621 xxx 40 5 7 África Ocidental e Central 937 12 39 8 12 Oriente Médio e Norte da África 6.234 xxx 20 xxx 9 Ásia Meridional 1.319 28 39 14 16 Leste da Ásia e Pacífico 4.853 6 12 4** 4 América Latina e Caribe 8.595 8 12 xxx 2 ECO/CEI*** 7.678 7 12 xxx 1 Países menos desenvolvidos 695 xxx 38 7 10 UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS FACULDADE DE NUTRIÇÃO ÁREA NUTRIÇÃO EM SAÚDE PÚBLICA 27 ______________________________________________________________ Profa. Dra. Giovana Longo-Silva - FANUT/UFAL Países industrializados**** 38.579 7 # # # Fonte: Unicef, 2013. * Relações peso/idade (P/I), altura/idade (A/I) e peso/altura (P/A) classificadas cumulativamente como moderada e grave (abaixo de -2 desvios-padrão das tabelas de normalidade). Estas situações não são detectáveis em escala significativa. *** ECO/CEI: Albânia; Armênia; Azerbaijão; Belarus; Bósnia e Herzegóvina; Bulgária; Cazaquistão; Croácia; Federação Russa; Geórgia; Macedônia; Moldova; Montenegro; Quirguistão; Romênia; Sérvia; Tadjiquistão; Turcomenistão; Turquia; Ucrânia; Uzbequistão. **** Estados Unidos e Canadá (América); Alemanha, França, Inglaterra, Itália, Bélgica, Dinamarca e Suécia (Europa); Japão (Ásia), segundo o Unicef (2009) # Não detectável como problema de saúde coletiva Situação no Brasil O Brasil figurou, até décadas recentes, ao lado da Índia, Nigéria, Paquistão e Bangladesh, na relação dos cinco países do mundo mais afetados pela DEP em termos de números absolutos27. No entanto, desde 1974-1975, o problema tem apresentado substancial redução em seus níveis de prevalência, inicialmente nas regiões mais desenvolvidas (Sul, Sudeste e Centro-Oeste) e, em seguida, no Norte e no Nordeste, configurando os espaços geográficos que concentram os maiores contingentes de pobreza no País. Nos últimos 35 anos, a diminuição da prevalência do déficit estatural (a manifestação epidemiológica mais representativa da DEP) de crianças brasileiras foi de cercade 88%, de modo que o problema praticamente desapareceu nos estados centro-meridionais. O caso brasileiro, cuja evolução temporal encontra-se ilustrada na Figura 1, é considerado como exemplar para o bloco de nações em desenvolvimento, praticamente refletindo o que ocorreu no Chile, em Cuba e Costa Rica, em décadas também recentes. Com exceção do baixo peso ao nascer, cuja prevalência tem apresentado pequenas variações nos últimos trinta anos, os indicadores antropométricos da situação nutricional evidenciam uma tendência nitidamente declinante da DEP no Brasil. Os dados da Figura 1, descrevem, de forma muito ilustrativa, a evolução temporal dos principais indicadores antropométricos de menores de cinco anos em nosso país, a partir do biênio 1974/1975 até 2006. Ressalta-se que já em 1989, praticamente desapareceu o “déficit” na relação peso/altura (P/A), situação que também foi alcançada segundo o índice peso/idade (P/I) em 200628. Desafortunadamente, não se dispõe de dados consistentes em nível nacional e macrorregional nos anos pós-2006. No estado UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS FACULDADE DE NUTRIÇÃO ÁREA NUTRIÇÃO EM SAÚDE PÚBLICA 28 ______________________________________________________________ Profa. Dra. Giovana Longo-Silva - FANUT/UFAL de Pernambuco, projeção de tendências estatísticas fundamentadas em três inquéritos a partir de 1991, permitem estimar que, entre 2013/2014, a DEP estaria controlada em menos de cinco anos, caindo para patamares abaixo de 3,0%29. Será que o mesmo exercício preditivo poderia ser utilizado para crianças brasileiras com menos de cinco anos? * BPN = Baixo peso ao nascer ** Prevalência de déficits nas relações peso/idade (P/I), altura/idade (A/I) e peso/altura (P/A) Figura 1 - Estado nutricional e baixo peso ao nascer de crianças menores de cinco anos no Brasil: evolução no período 1975 – 2006. Fontes: Nóbrega, 1985 30; PNSN, 198931; PNDS, 199632; MS/DATASUS, 200533; Monteiro CA; Benício MHA, Freitas ICM, 200034; Monteiro CA, Benício MHA, Konno SC, Silva ACF, Lima ALL, Conde WL35; Monteiro CA, Benício MHA, Iunes RF, Gouveia NC, Cardoso MAA 36; Monteiro, 200037; PNDS, 200628; IBGE, 197738. Ao lado das tendências temporais de evolução da DEP em crianças brasileiras, é importante ressaltar que ocorreram marcantes alterações em sua ocorrência no que se refere à sua distribuição social. É pertinente considerar que as mudanças de caráter geográfico e temporal se devem às modificações estruturais no processo socioeconômico, ampliando as chances de produção e acesso de bens e serviços nos estratos de mais baixa renda, de modo que a prevalência global de DEP praticamente se define em função de sua ocorrência específica nas categorias mais baixas da estratificação social. Portanto, os ganhos epidemiológicos referenciados em termos de espaço e tempo refletem, basicamente, ganhos sociais representados por diferentes fatores, principalmente em relação à renda familiar, às melhorias nas condições de saneamento, aos avanços na educação dos pais e acesso e resolutividade das ações de saúde39. Estas observações aplicam-se muito bem ao caso brasileiro, como ressalta 4,4 10,0 7,1 2,0 5,7 2,1 6,8 1,6 8,3 32,9 18,4 15,7 8,4 13,5 8,1 1,9 0,0 5,0 10,0 15,0 20,0 25,0 30,0 35,0 BPN* A/I** P/I** P/A** % 74/75 1989 1996 2006 UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS FACULDADE DE NUTRIÇÃO ÁREA NUTRIÇÃO EM SAÚDE PÚBLICA 29 ______________________________________________________________ Profa. Dra. Giovana Longo-Silva - FANUT/UFAL Monteiro et al., ao analisarem as mudanças de prevalência da DEP e fatores associados entre 1996 e 2006-200735. De maneira muito ilustrativa, pode-se verificar que, nos quatro blocos de variáveis analisadas em 1996, todos resultaram em riscos relativos estatisticamente significativos, enquanto dez anos após (2006-2007) apenas a escolaridade das mães manteve-se como uma fonte significativa de variação dos resultados (Tabela 2). Tabela 2 - Prevalência e risco relativo de desnutrição (déficit de altura-para-idade) em crianças menores de cinco anos segundo classes de poder aquisitivo familiar, escolaridade materna, acesso à assistência à saúde e condições de saneamento. Brasil*, 1996 e 2006/2007. Especificações 1996 2006/7 n % RR** n % RR** Classes de poder aquisitivo**** p =0,000*** p = 0,065* A, B ou C 619 4,3 1,00 1.269 3,8 1,00 C2 512 6,4 1,10 949 6,1 1,30 D 1.334 9,5 1,26 1.081 8,8 1,66 E 1.587 25,5 2,24 442 10,9 1,68 Escolaridade materna (anos) p =0,000*** p = 0,012* 12 ou mais 149 2,2 1,00 245 2,0 1,00 8 a 11 1.052 5,9 1,81 1.807 5,2 2,05 4 a 7 1.589 12,0 2,61 1.181 6,8 2,27 0 a 3 1.269 24,9 3,47 508 12,5 4,66 Assistência à saúde p =0,000*** p = 0,654* ≥ 6 consultas de pré-natal e parto hospitalar 2.303 8,2 1,00 2.948 5,9 1,00 Uma das condições acima 1.471 19,0 1,38 747 8,8 1,08 Nenhuma das condições acima 278 39,7 2,00 46 13,8 1,29 Saneamento p =0,000*** p = 0,666* Rede pública de água e rede de esgoto 923 5,6 1,00 1.069 4,9 1,00 Uma das condições acima 1.935 13,6 1,56 1.569 7,9 1,28 Nenhuma das condições acima 1.194 22,6 1,65 1.108 7,1 1,09 * Excluído o Norte rural UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS FACULDADE DE NUTRIÇÃO ÁREA NUTRIÇÃO EM SAÚDE PÚBLICA 30 ______________________________________________________________ Profa. Dra. Giovana Longo-Silva - FANUT/UFAL ** Risco relativo da desnutrição *** Teste de Wald **** Classificação da ABEP - Associação Brasileira de Estudos Populacionais Fonte: Monteiro CA et al, 200935. █ FATORES CONDICIONANTES Assim como todas as doenças carenciais e, de modo mais abrangente, todos os problemas de nutrição humana que alcançaram reconhecida importância em escala de saúde coletiva, a DEP representa a articulação de vários fatores que se combinam de diferentes maneiras e em diferentes contextos e circunstâncias, como já foi notificado na introdução deste capítulo. Para fins de análise, esses fatores,podem ser sistematizados em níveis hierárquicos, em função de suas relações mais diretas ou imediatas na cadeia complexa de fatores que representa a gênese da DEP. Assim, o consumo de alimentos, sua composição em termos de calorias e proteínas e, secundariamente, de outros nutrientes, a inadequação fisiológica e cultural em relação aos alimentos, as doenças que interferem no metabolismo (sobretudo infecções) podem ser considerados como fatores proximais. Diante de um caso de desnutrição, torna-se pertinente perguntar: como é a alimentação desta criança? Existiria uma doença em curso, prejudicando o consumo alimentar e a rede de eventos que se seguem, como a digestão, a absorção, a utilização e a excreção de nutrientes? Na medida em que são questões imediatas, esses fatores podem ser considerados proximais, compondo o nível explicativo mais simples da rede causal. Muitas vezes o pragmatismo clínico se limita a este patamar de análise. É evidente, no entanto, que a inadequação alimentar e a incidência de doenças repetidas e prolongadas, demandam, por si mesmas, outros questionamentos. É bem sabido que as práticas alimentares, as infecções e outras doenças não ocorrem aleatoriamente, como eventos sujeitos às leis do simples acaso. Pelo contrário, são situações que têm seus próprios antecedentes ou sua própria explicação: a pobreza, o analfabetismo, as famílias com muitas pessoas,
Compartilhar