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UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS FACULDADE DE ARQUITETURA E URBANISMO Trabalho Final de Graduação em Arquitetura e Urbanismo Darlane Tavares da Silva Lúcia Tone Ferreira Hidaka M A I O, 2 0 1 7. Darlane Tavares da Silva Trabalho Final de Graduação orientado pela Prof.ª Dr.ª Lúcia Tone Ferreira Hidaka para obtenção do título de Bacharel em Arquitetura e Urbanismo pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal de Alagoas. Orientadora: Professora Dr.ª Lúcia Tone Ferreira Hidaka M a c e i ó 2 0 1 7 Dedico esse trabalho à minha família. Em especial à Márcia Cristina, minha mãe, por ser a grande responsável pela minha formação pessoal, agradeço com todo meu amor e gratidão. À Filipe Santana, meu noivo, por toda paciência, compreensão, carinho e amor. AGRADECIMENTOS À minha família, por me ajudarem, direta ou indiretamente, nesta minha etapa. Obrigada por estarem ao meu lado e por acreditarem em mim. A Filipe, pelo incentivo na busca por novos horizontes principalmente no último quando, mais do que nunca, eu precisei da sua compreensão e da sua paciência. Aos amigos da FAU que, mais do que amigos, acabaram se tornando parte da minha família, por todo tempo que passamos juntos, pelos bons momentos, mas também por todas as aflições e angústias que dividimos desde 2011. Em especial para Paula, Taciane e Vinicius, em que dividi madrugadas de companheirismo e amizade. Aos amigos que a UFAL me presenteou, Clariza, Milena, Erine, João, Laura, Amanda, Ivan, Artur (in memorian), Gabriela, Adriana e tantos outros que compartilharam um café e um abraço. Aos amigos-irmãos, Andressa, Thayse, JThalysson e Nathalie pela confiança e compreensão com as minhas ausências. À professora orientadora Lúcia Tone pela atenção, dedicação e por não desistir de mim. Enfim, a todos que, direta ou indiretamente contribuíram de alguma forma para a realização deste trabalho. “A conservação de um monumento antigo não significa a conservação de uma vitrina de museu, mas a integração do antigo na vida de hoje. Neste sentido, um edifício não tem que ser isolado, monumentalizado, ao contrário, tem que ser humanizado. ” BARDI, Lina Bo. RESUMO O presente trabalho tem como objetivo propor um plano de conservação para a conservação da significância do Edifício Breda. O objeto de estudo empírico do trabalho é o Edifício Breda. A obra localiza-se no bairro do Centro em Maceió/AL. A abordagem da significância cultural se fundamenta na Carta de Burra (Austrália ICOMOS, 1999) e os procedimentos metodológicos consistem no desenvolvimento de cinco etapas: analisar a trajetória histórica do prédio, identificar e caracterizar os atributos e valores, validar e hierarquizar os valores e significados, elaborar uma declaração de significância e construir um plano de conservação. A construção do referencial teórico se baseia no Plano de Conservação da Significância, documento que define o que é significativo em um bem e quais políticas são apropriadas para sua conservação. Seu planejamento se divide em três passos que devem ser seguidos para o alcance da conservação da significância cultural de um bem, são eles: compreender o significado; desenvolver a política e gerenciar. O trabalho compreende até a fase de desenvolver política, que é o estabelecimento de alternativas de intervenções. O Plano tem como objetivo definir como as metas, identificadas no processo da significância cultural, serão alcançadas. A partir disto, foi possível elaborar um plano de conservação da significância que sirva de auxílio para intervenções no prédio, assegurando que o Edifício Breda seja conservado para as futuras gerações. Palavras-chave: conservação de edifícios, arquitetura moderna, Plano de Conservação; Significância Cultural. The present work aims to propose a conservation plan for the conservation of the significance of the Breda Building. The object of empirical study of the work is the Breda Building. The work is located in the district of Centro in Maceió / AL. The approach to cultural significance is based on the Burra Charter (Australia ICOMOS, 1999) and methodological procedures consist of five stages: analyzing the historical trajectory of the building, identifying and characterizing attributes and values, validating and prioritizing values and meanings. Draw up a declaration of significance and construct a conservation plan. The construction of the theoretical framework is based on the Plan of Conservation of Significance, document that defines what is significant in a good and which policies are appropriate for its conservation. Their planning is divided into three steps that must be followed to reach the conservation of the cultural significance of a good, they are: understanding the meaning; Develop policy and manage. The work includes up to the stage of developing policy, which is the establishment of alternative interventions. The Plan aims to define how the goals identified in the process of cultural significance will be achieved. From this, it was possible to draw up a plan for the conservation of significance that could be used to assist interventions in the building, ensuring that the Breda Building is conserved for future generations. Keywords: conservation of buildings, modern architecture, Conservation Plan; Cultural Significance. ABSTRACT Imagem 1. Plano de Paris (1851-1870), Georges Eugène Haussmann………………………………………………………………………………………… 16 Imagem 2. Frederick C. Robie House (1908-1910), Frank Lloyd Wright………………………………………………………………………………………… 18 Imagem 3. Casa da Cascata (1939), Frank Lloyd Wright………………………………………………………………………………………………………… 18 Imagem 4. Construction of Colors (1923), Théo van Doesburg…………………………………………………………………………………………………. 19 Imagem 5. Residência Rietveld Schröder (1925), Gerrit Rietveld…………………………………………………………………………………………...…... 19 Imagem 6. Fábrica Van Nelle (1928), Johannes Brinkman e Van Der Vlugt……………………………………………………………….……………....…. 20 Imagem 7. Haus am Horn (1923), Adolf Meyer……………………………………………………………………………………………………………………… 20 Imagem 8 e 9: Dessau Bauhaus (1926), Walter Gropius..................................................................................................................................................... 21 Imagem 10. Fabrica Fagus (1925), Walter Gropius............................................................................................................................................................. 21 Imagem 11. Casa Farnsworth (1951), Mies van der Rohe................................................................................................................................................. 22 Imagem 12. Pavilhão Nacional da Alemanha (1929), Mies van der Rohe..................................................................................................................... 22 Imagem 13. Maquete para uma indústria têxtil em Leningrado (1925), Erich Mendelsohn........................................................................................ 23 Imagem 14. Modelo para o Monumento à Terceira Internacional (1919-1920), Wladimir Tatlin................................................................................. 24 Imagem 15. Figuração do Modulor, Le Corbusier.............................................................................................................................................................24 Imagem 16. Villa Savoye (1929), Le Corbusier………………………………………………………………………………………………………………………. 25 Imagem 17. Capela de Ronchamp (1955), Le Corbusier................................................................................................................................................. 26 Imagem 18. Casa Experimental Muuratsalo (1953), Alvar Aalto...................................................................................................................................... 27 Imagem 19. Jyväskylä University (1959), Alvar Aalto.......................................................................................................................................................... 27 Imagem 20. Implosão de Pruitt-Igoe (1972)........................................................................................................................................................................ 28 Imagem 21 e 22. Casa Modernista da Rua Santa Cruz (1928), Gregori Warchavchik................................................................................................. 30 Imagem 23 e 24. Casa Modernista da Rua Itápolis (1930), Gregori Warchavchik........................................................................................................ 30 Imagem 25. Ministério da Educação e Saúde (1945), Lucio Costa e equipe................................................................................................................ 32 Imagem 26. Pavilhão brasileiro da Feira Mundial de Nova York (1939), Lucio Costa e Oscar Niemeyer................................................................... 32 Imagem 27. Croqui da paisagem descortinada do Grande Hotel de Ouro Preto, Oscar Niemeyer......................................................................... 33 Imagem 28. Igreja de São Francisco de Assis na Pampulha (1943), Oscar Niemeyer................................................................................................... 33 Imagem 29. Conjunto Residencial Prefeito Mendes de Moraes (Pedregulho) (1947), Affonso Eduardo Reidy......................................................... 34 Imagem 30. Croqui: Brasília e sua escala monumental, Lúcio Costa.............................................................................................................................. 34 Imagem 31. Foto aérea de Brasília, Lúcio Costa................................................................................................................................................................ 35 Imagem 32 e 33. Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAU-USP) (1961), João Vilanova Artigas e Carlos Cascaldi................................................................................................................................................................................................................................... 36 Imagem 34. Teatro Guaíra (1952), Rubens Meister............................................................................................................................................................. 37 Imagem 35. Faculdade de Arquitetura da UFBA (1963), Diógenes Rebouças.............................................................................................................. 37 Imagem 36. Pró-reitoria de Extensão da UFC (1961), José Liberal de Castro................................................................................................................. 38 Imagem 37. Edifício Passos, Manoel Gusmão..................................................................................................................................................................... 40 Imagem 38. Hospital Agro-industrial do Açúcar, Manoel Gusmão.................................................................................................................................. 41 Imagem 39. Palácio do Trabalhador, Saint’Yves Simon................................................................................................................................................... 41 Imagem 40. Hospital José Carneiro, Saint’Yves Simon....................................................................................................................................................... 42 Imagem 41 e 42. Casa José Lyra, Lygia Fernandes............................................................................................................................................................ 42 Imagem 43. Sociedade de Medicina, Lygia Fernandes................................................................................................................................................... 43 Imagem 44. Residência Jarbas Gomes, Israel Barros........................................................................................................................................................ 43 Imagem 45. Edifício Lagoa Mar, Israel Barros.................................................................................................................................................................... 44 Imagem 46. Parque Hotel, Zélia Maia................................................................................................................................................................................. 45 Imagem 47. Reitoria, Zélia Maia............................................................................................................................................................................................ 45 Imagem 48. Residência Ruth Nogueira, Ivo Lyra................................................................................................................................................................ 46 16 18 18 19 19 20 20 21 21 22 22 23 24 24 25 26 27 27 28 30 30 32 32 33 33 34 34 35 36 37 37 38 40 41 41 42 42 43 43 44 45 45 46 LISTA DE ILUSTRAÇÕES Imagem 49. Residência Péricles Neves, Ivo Lyra................................................................................................................................................................ 46 Imagem 50. Colégio Marista, José Nobre............................................................................................................................................................................ 47 Imagem 51 e 52. Clube do Trabalhador, José Nobre........................................................................................................................................................ 47 Imagem 53. Edifício Sede do Banco Econômico, Walter Cunha.................................................................................................................................... 48 Imagem 54. Edifício São Carlos, Walter Cunha................................................................................................................................................................... 49 Imagem 55. Procedimento metodológico para conservação de um bem segundo a Carta de Burra................................................................... 56 Imagem 56 e 57. Propriedades residenciais modernistas de Berlim................................................................................................................................ 59 Imagem 58 e 59. Villa Tugendhat, Mies van der Rohe…………………………………………………………………………………………………………….. 60 Imagem 60. Conjunto Franciscano de Olinda................................................................................................................................................................... 61 Imagem 61. Estudo de usos e fluxos do Plano Diretor de Conservação............................................................................................................................................................ 61Imagem 62. Estudo de usos e fluxos do Plano Diretor de Conservação............................................................................................................................................................. 62 Imagem 63. Localização do bairro do Centro na Cidade de Maceió............................................................................................................................................................ 63 Imagem 64. Localização do Edifício Breda no bairro do Centro...............................................................................................................................................................................63 Imagem 65. Fotografia da Rua Doutor Luís Pontes de Miranda no começo do século....................................................................................................................64 Imagem 66. Anúncio do jornal, no início das vendas das salas............................................................................................................................................................................ 64 Imagem 67. Edifício Breda na década de 60.............................................................................................................................................................................. 65 Imagem 70. Planta Baixa do Mezanino segundo documento de refêrencia................................................................................................................. 70 Imagem 69. Planta Baixa do Térreo segundo documento de refêrencia................................................................................................................................... 70 Imagem 71. Planta Baixa do Pav. tipo segundo documento de refêrencia.............................................................................................................................. 71 Imagem 72. Conjunto de circulação vertical no térreo e 1º andar................................................................................................................................. 71 Imagem 73. Conjunto de circulação vertical nos pav. tipo............................................................................................................................................. 71 Imagem 74. Conjunto de circulação vertical no Térreo e Mezanino................................................................................................................................ 71 Imagem 75. Planta Baixa da Cobertura segundo documento de refêrencia................................................................................................................. 72 Imagem 76: Fotografia mostrando o pilar interno.............................................................................................................................................................. 72 Imagem 76: Esquadria basculante original........................................................................................................................................................................ 73 Imagem 77: Desenho das esquadrias originais em madeira............................................................................................................................................ 73 Imagem 79: Utilização de brise-soleil na fachada............................................................................................................................................................. 73 Imagem 80: Planta mostrando os acessos para o hall do prédio................. ....................................................................................................................................................74. Imagem 82: Acesso na Rua Loteamento Bráulio Cavalcante. ....................................................................................................................................... 74 Imagem 81: Acesso na Rua Doutor Luís Pontes de Miranda. .......................................................................................................................................... 74 Imagem 83: Planta mostrando o acesso para o térreo do prédio.....................................................................................................................................74 Imagem 84: Pastilhas das paredes.......................................................................................................................................................................................75. Imagem 85: Revestimento do piso.......................................................................................................................................................................................75 Imagem 86: Revestimento da escada.......................................................................................................................................................................................................................... 75 Imagem 87. Anúncios de Jornais no ano de 1963.................................................................................................................................................................... 75 Imagem 88. Planta Baixa da Galeria Breda Center........................................................................................................................................................... Imagem 90. Planta Baixa do Mezanino da Galeria Breda Center atualmente............................................................................................................. Imagem 89. Planta Baixa da Galeria Breda Center atualmente..................................................................................................................................... 76 Imagem 91. Planta Baixa do posto municipal de atendimento odontológico – PAO Breda....................................................................................... 77 Imagem 92. Planta Baixa da Cobertura atual, modificada para instalação das associações...................................................................................... 77 Imagem 93 e 94: Vista Panorâmica Norte e Sul da cobertura do Edifício Breda.......................................................................................................... 78 46 47 47 48 49 56 59 60 61 61 62 63 63 64 64 65 70 70 71 71 71 71 72 72 73 73 73 74 74 74 74 75 75 75 75 76 76 76 77 77 78 Imagem 97: Vista do prédio na Rua Dr. Luiz Pontes de Miranda.................................................................................................................................... Imagem 96: Vista do prédio na Rua Oliveira e Silva......................................................................................................................................................... Imagem 95: Vista do prédio na Rua Boa Vista.................................................................................................................................................................. Imagem 98: Vista do prédio na Praça Bráulio Cavalcante............................................................................................................................................ 79 Imagem 99: Entorno do prédio........................................................................................................................................................................................... 80 Imagem 100: Linha do tempo com a origem, transformação e estado atual do edifício....................................................................................... 80 Imagem 101: Evolução do entorno do Edifício Breda em diferentes anos.................................................................................................................. 81 Imagem102: Condicionantes físicas do Edifício Breda...................................................................................................................................................... 81 Imagem 103: Gráfico de usos do Edifício Breda...............................................................................................................................................................82 Imagem 104: Mapa com a delimitação do SPR-01, no entorno do edifício.................................................................................................................. 83 Tabela 1: Tabela de ocupação do Edifício Breda............................................................................................................................................................. 82 Tabela 2: Lista de Atributos por ordem de importância e seus respectivos pesos para conservação da significância cultural............................. 91 Quadro 1: Danos existentes na envoltória do Edifício Breda......................................................................................................................................... 85 Quadro 2: Quadro com os atributos e valores identificados do edifício Breda.......................................................................................................... 89 Quadro 3: Quadro relacionando os valores e os danos encontrados no edifício Breda........................................................................................... 95 79 79 79 79 80 80 81 81 82 83 LISTA DE TABELAS 82 91 LISTA DE QUADROS 85 89 95 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS CECI – Centro de Estudos Avançados da Conservação Integrada DOCOMOMO – Documentation and Consercation of buildings, sites and neighbourhoods of the Modern Movement FAU/USP – Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo ICCROM – International Centre for the Study of the Preservation and Restoration of the Cultural Properties ICOM – Conselho Internacional de Museus ICOMOS – Conselho Internacional de Monumentos e Sítios IPHAN – Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional OG – Operational Guidelines (for the Implementation of the World Heritage Convention) SEMPLA – Secretaria Municipal de Planejamento e Desenvolvimento de Alagoas SPR – Setor de Preservação Rigorosa UFBA – Universidade Federal da Bahia UFC – Universidade Federal do Ceará UNESCO – United Naations Educational, Scientific and Cultural Organization WHL – World Heritage List ZEP – Zona Especial de Preservação Cultural SUMÁRIO INTRODUÇÃO 14 1 ARQUITETURA MODERNA 16 1.1 O ESTILO INTERNACIONAL 16 1.2 ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA 31 1.3 ARQUITETURA MODERNA EM ALAGOAS 43 2 CONSERVAÇÃO DA ARQUITETURA MODERNA 51 2.1 CARTAS PATRIMONIAIS 51 2.2 SIGNIFICÂNCIA DA ARQUITETURA MODERNA 49 2.3 PRÉDIOS EMBLEMÁTICOS 55 3 O EDFICIO BREDA 61 3.1 CONTEXTO HISTÓRICO 61 3.2 O PROJETO 4 PLANO DE CONSERVAÇÃO 68 3.3 SIGNIFICÂNCIA CULTURAL, ATRIBUTOS, VALORES E INTEGRIDADE 78 3.4 PLANO DE CONSERVAÇÃO 103 CONSIDERAÇÕES FINAIS 106 REFÊRENCIAS BIBLIOGRAFICAS 107 APÊNDICES 110 14 16 16 29 39 51 51 53 58 63 63 76 87 87 93 99 101 103 14 INTRODUÇÃO A presente monografia, denominada “Conservação da Arquitetura Moderna: Um estudo sobre a significância cultural patrimonial do Edifício Breda no bairro do centro em Maceió/AL“ apresenta como tema central a conservação da significância em edifícios modernos, com a finalidade realizar um estudo sobre a temática do Plano de Conservação a partir da construção da significância cultural. Desta forma, o trabalho visa propor um plano de conservação para a conservação da significância do Edifício Breda no bairro do Centro de Maceió/AL. O objeto de estudo empírico do trabalho é o Edifício Breda. A obra localiza-se na esquina da Rua Loteamento Bráulio Cavalcante com a Rua Dr. Pontes de Miranda, permitindo destaque junto ao entorno. Porém, sua estima não é apenas paisagística, por ser um prédio que se encontra em atividade, exerce uma função importante para os usuários, tornando seu valor mais peculiar por estar inerente na dinâmica da cidade. Para seu desenvolvimento, foram definidos cinco objetivos específicos para a pesquisa: a) analisar a trajetória histórica do prédio a fim de reconhecer as permanências e mudanças ocorridas ao longo dos anos; b) identificar e caracterizar os atributos material e imaterial identificando valores e significados; c) analisar a relação dos atores envolvidos com os atributos com a finalidade de validar os valores e significados; d) elaborar uma declaração de significância; e) construção do plano de conservação. O conceito de conservação utilizado neste trabalho baseia- se na Carta de Burra, onde trata-se da conservação de bens patrimoniais com significância cultural. Refere-se aos cuidados a serem dispensados a um bem para preservar as características que apresentem significação cultural. "valor estético, histórico, científico ou social de um bem para as gerações passadas, presentes ou futuras" (ICOMOS, 1999, p. 2). A carta não se refere apenas aos fatores materiais, mas a todos aqueles que incorporam significado ao bem, como o contexto, história e valores sociais e imateriais. O processo metodológico utilizado tem como base a Carta de Burra (ICOMOS, 2013). Esta carta demonstra uma estrutura para intervenção conservativa de um bem com significância cultural através de procedimentos que se dividem em três etapas: compreender a significância, desenvolver política e gerenciar A construção da significância cultural começa a partir do processo de identificação dos valores e atributos do bem, em seguida, descobre o que precisa ser conservado, ou seja, quais elementos do bem precisam permanecer para que não se perca sua significância cultural. "A significância torna-se passível de apreensão somente pela adoção de uma declaração de significância, que é um recorte circunstanciado temporalmente dos 15 significados atribuídos." (ZANCHETTI, LORETTO, MOREIRA, TINOCO, 2011, P.2) O objetivo da conservação, segundo a carta de Burra, é manter a significância cultural do bem sem afetar o valor histórico nele presente, em que as opções de conservaçãodevem ser definidas com base na compreensão de sua significação cultural e de sua condição material. “Deve implicar em medidas de segurança e manutenção, assim como disposições que prevejam sua futura destinação. ” (ICOMOS, 1980, p.2). O plano de conservação busca a manutenção das condições de interpretação da significância, passada e presente, pelas gerações atuais e futuras (ZANCHETI & HIDAKA, 2011). Visando atingir o objetivo proposto, esta monografia foi estruturada em quatro capítulos, onde o primeiro capítulo apresenta a narrativa histórica da arquitetura moderna, revelando a construção dessa arquitetura ao longo do tempo enfatizando sua tipologia. Este capítulo busca compreender o processo de concepção que esse movimento apresenta. Subdivide-se em três partes: (1.1) O estilo internacional, discorre sobre a formação da arquitetura moderna internacional; (1.2) Arquitetura moderna brasileira, elucida a produção nacional e como se desenvolveu; e, finalmente, a (1.3) Arquitetura moderna alagoana, que explana sobre a produção alagoana e como foi influenciada. O segundo capítulo expõe o referencial teórico da pesquisa, discorre sobre as cartas patrimoniais e os meios de proteção internacional. Conceitua a significância cultural e aborda sobre outros conceitos presentes no ideário do campo da conservação. Decompõe-se em três partes: (2.1) Cartas patrimoniais, discorre sobre as cartas patrimoniais, seus conceitos e abrangências; (2.2) Significância da arquitetura moderna, explica o conceito de significância e por que é importante para a elaboração do Plano, demonstrando os procedimentos que serão adotados para a sua construção; (2.3) Prédios emblemáticos, explana a alguns bens reconhecidos pela Unesco como patrimônio. No terceiro capítulo apresenta o objeto de estudo empírico do trabalho: o Edifício Breda. Esse capítulo aborda toda a caracterização do prédio até os dias atuais, a construção da sua paisagem ao longo do tempo enfatizando a tipologia do mesmo. Fragmenta-se em duas partes: (3.1) Contexto histórico, discorre sobre a época de sua construção, seu projeto original e o contexto inserido; (3.2) O projeto, esclarece a atual situação do prédio e discorre sobre as transformações sofridas ao longo do tempo. O quarto capítulo apresenta os valores e significados encontrados no Edifício Breda, bem como a declaração de significância e, por fim, o Plano de Conservação do Edifício Breda. Subdivide-se em duas partes: (4.1) Significância cultural, atributos, valores e integridade, explana os valores, atributos e significados identificados a partir das análises realizadas, e sua declaração de significância, em que, em um único texto corrido, abarcará todos os valores, atributos e significados identificados; (4.2) O plano de conservação, que discorre em termos gerais e específicos (por valores) quais as diretrizes para a conservação do imóvel. 16 FONTE: BENEVOLO, 2011. 1.1 O ESTILO INTERNACIONAL A Arquitetura Moderna é o conjunto de movimentos e escolas arquitetônicas que caracterizaram a produção na arquitetura durante o final do século XIX e começo do século XX. As ideias modernas possuem características encontradas em origens diversas, como a Bauhaus, na Alemanha; em Le Corbusier, na França; em Frank Lloyd Wright nos Estados Unidos ou nos construtivistas russos alguns ligados à escola Vuthemas, entre outros. Segundo Benevolo e Argan, não é possível encontrar uma origem pontual, a sua gênese histórica é traçada em uma série de movimentos ocorridos paralelamente em meados do século XIX, como o movimento Arts & Crafts1. O Modernismo propôs renovar a arquitetura de modo a rejeitar toda a arquitetura anterior ao movimento, principalmente o Ecletismo, a arquitetura difundida durante o século XIX. Essa escola interpreta e apoia o esforço progressista, econômico-tecnológico da sociedade industrial (ARGAN, 1992, p.185). Nos séculos XIX e XX o urbanismo passa a existir como ciência moderna, devido a necessidade de enfrentar sistematicamente problemas decorrentes das modificações na estrutura social, política e econômica devido a "Revolução Industrial". Um grande número de pessoas abandonaram os campos 1 O Arts & Crafts (artes e ofícios), foi um movimento estético que teve sua origem na Inglaterra em meados do século XIX. para buscar trabalho nas indústrias urbanas, ocorre uma carência habitacional, pois, não encontravam espaço na cidade burguesa, assim, surgindo a ideia das primeiras vilas operárias. Robert Owen 2(1771 - 1858) e Charles Fourier (1772 - 1837) iniciaram uma nova linha de pensamento e de ação ligados a ideologia socialista, propondo a construção de unidades residenciais para habitação operária, porém, maior parte das suas ideias permaneceram utópicas. Em Paris, acontece rapidamente o plano de reforma (imagem 1) idealizado por Georges-Eugène Haussmann (1809 - 1891), demonstra como o poder interfere na imagem e funcionalidade da cidade. O plano consiste em grandes artérias de tráfegos, nomeadas boulevards, obtidas da demolição de bairros populares. 2 Robert Owen foi um reformista social galês, considerado um dos fundadores do socialismo e do cooperativismo. Imagem 1. Plano de Paris (1851-1870), Georges Eugène Haussmann. 17 A cidade industrial é segregada, de um lado o poder imagina a cidade como a imagem da autoridade do Estado, e de outro os urbanistas querem reformular – respeitando a cidade antiga – para uma sociedade integral e orgânica, unificando também a classe operaria como parte da comunidade (ARGAN, 1992, p.187). Após a Primeira Guerra Mundial, surgiu a questão de pensar o espaço urbano como emergente e precedente em relação à arquitetura, onde a tarefa do arquiteto é projetar um ambiente resultado de vários elementos coordenados. "Se o edifício é apenas uma unidade numa série, e a construção em série exige a maior utilização possível de elementos industrialmente pré- fabricados, o processo que industrializa a produção de edifícios é o mesmo que transforma arquitetura em urbanismo." (ARGAN, 1992, p.187) O Modernismo traz a ideia da cidade viva, com uma sociedade ativa e moderna. Combatendo a ideia do falso historicismo e da cidade como representação da autoridade do Estado, no Ecletismo. O Movimento também se opõe a cidade deturpada pela industrialização, com os muros enegrecidos pela fumaça, os armazéns e os bairros operários miseráveis. 3 Trata-se do surgimento da tipologia do arranha-céu, criando edifícios de imagem verticalizada impactante. É caracterizada por prédios de estrutura metálica e fechamentos em alvenaria ornamentada. Na América do Norte, no início do século, o principal problema era diferenciar a cultura americana da europeia e eliminar qualquer resquício de colonialismo. Enquanto a Europa declinava pós-guerra, o arquiteto Frank Loyd Wright (1869-1959), procurava dar a arquitetura americana um estilo único. Trabalhou no início de sua carreira com Louis Sullivan (1856-1924), um dos pioneiros em arranha- céus da Escola de Chicago3. Segundo Argan, Wright afirma, implicitamente, que apenas o povo americano pode realizar uma arte plenamente criativa, pois, não trazia o peso de uma história. Até 1910, ele se apoia na classe média, onde encontra a força impulsionadora do progresso americano. Em 1909 projetou a Robie House (imagem 2) em um período das obras Prairie houses4. Para Wright, a casa não deve ser um espaço dado e rigidamente dividido,deve ser um meio de contato com a realidade, essa que cada qual realiza a si mesmo (ARGAN, 1992, p.296). Nesse momento sua arquitetura sofre uma mudança no plano formal, com plantas livremente articuladas, redução das determinantes formais, eliminação da "caixa" espacial, concentração das forças de sustentação e a anulação das separações entre externo e interno. Em 1934, ele determina suas ideias a respeito do urbanismo em um plano de cidade ideal, a Broadacre City. 4 Prairie Houses que dizer “casas da pradaria”, são casas urbanas nos subúrbios de diversas cidades nos estados de Wisconsin e Illinois. O nome reflete a característica de sua implantação horizontal em grande área plana. 18 Imagem 2. Frederick C. Robie House (1908-1910), Frank Lloyd Wright. A Casa da Cascata ou Casa Kaufmann (imagem 3), construída entre 1936 e 1939 é um marco da arquitetura de Wright, a casa é uma extensão do externo, feita com grandes varandas em balanço. Projetadas em ângulos retos, são elementos esculturais da casa, além de sua função. O princípio fundamental da arquitetura orgânica é que a construção deve ser natural como um crescimento (ARGAN, 1992, p.296). Wright trouxe o pensamento de que a arquitetura não é pensada como determinante de objetos, mas sim, como ação de um sujeito. Seus pensamentos são concretizados na obra da sede do Museu Solomon R. Guggenheim, em Nova York, projetado em 1958. 5 Exposição da obra de Wright, em Berlim, no ano de 1910. Em 1917, a Holanda possuía uma das escolas arquitetônicas mais avançadas do mundo, dirigida por Hendrik Petrus Berlage (1856-1934). Foi ele que estabeleceu a primeira ligação ente a arquitetura holandesa e Wright, antes mesmo da exposição em Berlim5. Neste ano, Theo Van Doesburg (1883-1931) cria o movimento do Neoplasticismo, também conhecido como De Stijl (imagem 4), que foi um dos episódios importantes da história da arte contemporânea. FONTE: ARCHDAILY, 2013. Imagem 3. Casa da Cascata (1939), Frank Lloyd Wright FONTE: ARCHDAILY, 2012. 19 De Stijl não é uma revolução a fim de renovar, mas sim, uma revolução no interior de uma cultura moderna com o intuito de imuniza-la contra os perigos de qualquer corrupção ou impureza possível (ARGAN, 1992, p. 286). Esse movimento investigava se era possível fazer arte sem referências históricas, ou seja, eliminar todas as "formas históricas" e purifica-las. No neoplasticismo, o ato construtivo é estético. Esse princípio foi adotado pelos arquitetos Gerrit Rietveld (1888-1964), Jacobus Oud (1890-1963) e Cornelis van Eesteren (1897-1988). A problemática desse movimento vem da função social da arquitetura, constrói-se para vida. A arquitetura funcionalista na Holanda não é somente ligada ao movimento De Stijl, teve uma fundamental importância para a arquitetura moderna europeia, formando toda uma nova tipologia da construção civil (ARGAN, 1992, p. 288). Em 1924, Rietveld constrói a Casa Schroder (Imagem 5), um típico modelo de habitação neoplástica. Para Oud, o neoplasticismo é uma simplificação dos processos construtivos, portanto, facilitando a possibilidade de construir em série. Com essa ideia, ele projeta os bairros de casa enfileiradas para famílias operarias em Scheveningen e Rotterdam. A Fábrica Van Nelle (Imagem 6), projetada em 1928 pelos arquitetos Johannes Brinkman (1902-1949) e Van Der Vlugt (1894- 1936), é uma inovação na tipologia da arquitetura industrial, mesmo projetando seguindo as exigências da função, a obra não possui um aspecto maquinista. Outra obra que possui uma inovação na tipologia foi o Sanatório Zonnestraal, nas proximidades de Hilversum, projetado pelo arquiteto Johannes Duiker (1890-1935). Willem Dudok Imagem 4. Construction of Colors (1923), Théo van Doesburg. FONTE: HARVARD, 2016. Imagem 5. Residência Rietveld Schröder (1925), Gerrit Rietveld. FONTE: ARCHDAILY, 2012. 20 (1884-1974) é o arquiteto holandês que mais se aproximou da lição de Wright mesmo sem sair do próprio ambiente natural. O funcionalismo alemão teve como peça marcante W. Gropius (1883-1969), e sua origem se deu no Expressionismo do Grupo de Novembro6. Além de ser um grande artista, possuía o aspecto de animador cultural, era firme defensor de um "método". Em 1919, Gropius funda e dirige a primeira escola "democrática" - a Bahaus, coordena um programa de ação com uma corrente política determinada, a socialdemocracia. "Gropius não crê na universalidade da arte, mas convoca em torno de si, na Bauhaus de Weimar [...]"(ARGAN, 1992, p.269). 6 Formado em Berlim, o Grupo de Novembro ou Novembergruppe aspirava a união de todos os artistas. Seu primeiro manifesto de 1918, estabeleceu A Bahaus foi uma escola fundada sobre o princípio da colaboração, da pesquisa conjunta entre professores e alunos. A estrutura da escola era funcional, não hierárquica. O nome Bahaus significa "casa da construção", que indica o conceito que a "forma de uma sociedade é a cidade e, ao construir a cidade, a sociedade constrói a sí mesma" (ARGAN, 1992, p.269). O norteador do ensino é o urbanismo, ensinando a construir e viver racionalmente. Segundo Argan, na visão de Groupios é o dinamismo da função que determina a forma e a tipologia dos edifícios. A Haus am Horn (Imagem 7) foi o protótipo das ideias da Bauhaus sobre habitação residencial nessa época. que: "o futuro da arte e a seriedade do presente compele-nos, revolucionários de espírito, para uma unidade e concordância". Imagem 6. Fábrica Van Nelle (1928), Johannes Brinkman e Van Der Vlugt. FONTE: ARCHITECTUUL, 2011. Imagem 7. Haus am Horn (1923), Adolf Meyer. FONTE: ARCHITECTUUL, 2011. 21 Em 1925, a Bahaus ganha a sede em Dessau (Imagem 8 e 9), uma das obras do funcionalismo arquitetônico europeu. Na escola, tudo que se inclui no âmbito da "comunicação visual" é objeto de análise e projeto. Sua teoria e didática existe uma predominância na geometrização das formas, entendendo como, a figura geométrica é uma forma pré-padronizada independente do seu significado conceitual. Apesar do proposito racionalista da Bahaus, sempre se deu importância para as atividades que estimulavam a imaginação. A obra de Gropius não pode ser considerada como pura e simples aplicação de uma fórmula racionalista. Já em 1911, com seu projeto da fábrica Fagus (Imagem 10) modifica a concepção da arquitetura industrial. Em 1914, projeta a "fábrica modelo" para a exposição do Werkbund, que mostra ter aproveitado várias sugestões da obra de Wright - o qual começava a ser reconhecido na Europa. Toda a obra de Gropius se resume na definição de uma metodologia de projeto, onde o espaço não é pura, inclassificável e ilimitada extensão. Realizou projetos na escala urbana como os bairros de Karlsnahe e Berlim, em escala de construção civil com a Casa Gropius e em desenho industrial como a carroceria do automóvel Adler. Em 1928, deixa a direção da Bauhaus e foge para Inglaterra alguns anos depois. Trabalha em colaboração com Maxwell Fry (1899 – 1987), que o convida para lecionar na Harvard University, nos Estados Unidos; e também com Breuer e K. Wachsmann. Depois da mudança, as obras de Gropius deixa o caráter político que possuía suas obras alemãs entre 1920 e 1930. Imagem 8 e 9: Dessau Bauhaus (1926), Walter Gropius. FONTE: ARCHIDAILY, 2010. Imagem 10. Fabrica Fagus (1925), Walter Gropius. FONTE: ARCHDAILY, 2015. 22 FONTE: ARCHDAILY, 2012. FONTE: ARCHDAILY, 2011.Outro protagonista do racionalismo da Alemanha é L. Mies Van Der Rohe (1886-1969), assume a direção da Bauhaus em 1930. A partir de 1920, começa a projetar arranha-céus - invólucro de vidro ao redor de uma alma estrutural, porém, na Europa esse tipo de construção era considerado um elemento característico da arquitetura americana. Contudo, Mies o considera como o resultado da ideologia do Grupo de novembro, como a "casa de vidro" límpida como um cristal, elevando-se até o céu. Na sua produção arquitetônica admite dois eixos estruturais - um vertical e um horizontal - e uma entidade formal, o plano. Levando o racionalismo as últimas consequências, sua arquitetura pode parecer, mais do que futurista, extremista. Em 1937, Mies Van Der Rohe deixa a Alemanha e continua seus projetos nos Estados Unidos. Além de ter construído obras como a Villa Tugendhat (1930), a Casa Farnsworth (1951) (Imagem 11) e o edifício Seagram (1958), em 1929 projeta o Pavilhão Nacional da Alemanha (Imagem 12) para a Exposição Internacional de Barcelona, o seu projeto mais emblemático, onde alcançou a máxima expressão de seu estilo. Logo após ter dirigido a Bauhaus até 1933, assumiu a faculdade de arquitetura do Illinois Technology Institute em Chicago, a qual viria a remodelar, tornando-se mais uma de suas importantes obras. A mudança da produção do racionalismo alemão para os Estados Unidos, devido as perseguições nazistas, foi o motivo de uma crise que possuía razões profundas. Gropius, juntamente com Breuer sacrifica o rigor da pesquisa para desenvolver uma metodologia técnica da pré-fabricação, junto com Wachsmann. A falha na raiz ideológica na corrente do racionalismo alemão é "uma reação humana e civilizada a prepotência autoritária do capitalismo [..]" (ARGAN, 1992, p. 278), afeta todas as premissas teóricas, Imagem 11. Casa Farnsworth (1951), Mies van der Rohe. Imagem 12. Pavilhão Nacional da Alemanha (1929), Mies van der Rohe. 23 FONTE: ARGAN, 1992. programáticas e didáticas da Bauhaus. O rigor racionalista leva a substituir a composição pela repetição em série. Esse aspecto da crise se manifestou principalmente na obra de Breuer, por ser o maior designer oriundo da Bauhaus. Outro protagonista da crise do racionalismo foi K. Wachsmann, também um colaborador direto de Gropius. Na Rússia, a vanguarda arquitetônica se enquadra no movimento construtivista, todavia, as artes não possuem investimento e os arquitetos carecem de qualquer preparação profissional. A arquitetura soviética deve sua tendência às soluções formais ousadas, dinâmicas, intensamente emotivas, devido as correntes da arquitetura ocidental serem tendencialmente socialistas. 7 Associação dos Novos Arquitetos, fundada em 1923, na qual se discute os preceitos gerais da nova arquitetura. Em 1925, Erich Mendelsohn (1887-1953) constrói uma grande fábrica em Lenigrado (Imagem 13), que é particularmente importante para a corrente russa, pois, “o construtivismo, que visa expressar nas formas arquitetônicas o ímpeto dinâmico da revolução, possui um forte componente expressionista” (ARGAN, 1992, p.283). "A estética do Construtivismo pretende que 'todos os acréscimos que a rua da grande cidade traz à construção (placas, propagandas, relógios, alto- falantes e até os elevadores internos) sejam incluídos na composição como pontos de igual importância': exatamente como fazia Mendelsohn para expressar na forma o conteúdo do edifício" (ARGAN, 1992, p.283). A nova arquitetura soviética se concretiza com o projeto de Vladimir Tatlin (1885-1953) para o Monumento à Terceira Internacional (Imagem 14) - com todas as premissas do construtivismo, em 1919. O arquiteto El Lissitzky (1890-1941) desenvolve também uma atividade de “relações públicas”, viaja e está em permanente contato com Gropius, Mies, Van Doesburg. Lissitzy e os outros arquitetos do grupo Asnova7 defende o geometrismo, pois a geometria expressa o espirito racionalista da revolução. Imagem 13. Maquete para uma indústria têxtil em Leningrado (1925), Erich Mendelsohn. 24 FONTE: ARGAN, 1992. Em 1925, inicia-se o sucesso da vanguarda russa na Europa Ocidental, com o premiado pavilhão soviético executado por Konstantin Melnikov (1890-1974) para a Exposição Internacional das Artes Decorativas, em Paris. No ano de 1930 aconteceu dois concursos para os projetos do Teatro estatal de Charkow e para o edifício do soviete em Moscou, onde participaram muitos arquitetos modernistas europeus. Porém, no auge da arquitetura moderna 8 “Máquina de morar”. soviética, a burocracia do partido conquista a supremacia e se contrapõe a vanguarda revolucionária. Em 1928 na França, Le Corbusier (1887-1965) começa a projetar. Sua conduta é política, “uma grande política, generosa e esclarecida, do urbanismo e da arquitetura” (ARGAN, 1992, p. 265). Para Le Corbusier, o centro da cultura mundial é a França, por conta do seu desenvolvimento iluminista. Uma de suas principais contribuições foi o entendimento da casa como uma machine à habiter8, em concordância com os avanços industriais. Sua principal preocupação era a funcionalidade. Com seu estudo sobre a forma, ele desenvolve o homem como medida de todas as coisas, o Modulor9 (Imagem 15). 9 Uma série de medidas proporcionais, que dividia o corpo humano de forma harmônica e equilibrada. Baseava-se nisso para orientar os seus projetos e suas pinturas. Imagem 14. Modelo para o Monumento à Terceira Internacional (1919-1920), Wladimir Tatlin. FONTE: ARGAN, 1992. Imagem 15. Figuração do Modulor, Le Corbusier. 25 “O edifício não atrapalhará a natureza aberta colocando-se como um bloco hermético: a natureza não se deterá à soleira, entrará na casa. O espaço é contínuo, a forma deve se inserir, como espaço da civilização, no espaço da natureza. ” (ARGAN, 1992, p. 266). Le Corbusier propõe um novo repertório arquitetônico, conhecido como os “cinco pontos para uma nova arquitetura”, potencializando utilizações das novas soluções tecnológicas. “1. Pilotis, liberando o edifício do solo e tornando público o uso deste espaço antes ocupado, permitindo inclusive a circulação de automóveis; 2. Terraço jardim, transformando as coberturas em terraços habitáveis, em contraposição aos telhados inclinados das construções tradicionais; 3. Planta livre, resultado direto da independência entre estruturas e vedações, possibilitando maior diversidade dos espaços internos, bem como mais flexibilidade na sua articulação; 4. Fachada livre, também permitida pela separação entre estrutura e vedação, possibilitando a máxima abertura das paredes externas em vidro, em contraposição às maciças alvenarias que outrora recebiam todos os esforços estruturais dos edifícios; e 5. A janela em fita, ou fenêtre en longueur, também conseqüência da independência entre estrutura e vedações, se trata de aberturas longilíneas que cortam toda a extensão do edifício, permitindo iluminação mais uniforme e vistas panorâmicas do exterior. ” (MACIEL, 2012) Em 1928, é construída a Villa Savoye, maison Savoye ou residência Savoye (Imagem 16), considerada um marco da arquitetura moderna. A residência é à síntese das ideias pregadas por Le Corbusier com relação à nova arquitetura - marcada pela máquina, pela razão e pelo progresso. De toda sua produção apenas a Villa Savoye os cinco pontos são integralmente concretizados. Imagem 16. Villa Savoye (1929), Le Corbusier.FONTE: ARCHDAILY, 2010. 26 Le Corbusier produziu projetos urbanistas para várias cidades do mundo, entre elas, Chandigarh, nova capital do Punjab, em 1950. Suas “unidades habitacionais” em Marselha e Nantes são verdadeiras cidades-casas, onde combina-se a exigência de intimidade individual, juntamente com a de viver em comunidade. Na escala da Construção civil produziu edifícios públicos e destinados a assistência social, escolas, museus e casas. Em 1953, Le Corbusier constrói seu primeiro edifício sagrado, a capela de peregrinação (Imagem 17) em Ronchamp, Notre-Dame-du-Haut. As edificações eram projetadas para serem usadas. Definiu a arquitetura como o jogo dos volumes sob a luz, motivada na utilização dos novos materiais como concreto armado, vidro plano em grandes dimensões e outros produtos artificiais. Le Corbusier e Gropius, sentiram a necessidade de um fórum internacional de debates que fortalecesse a união dos arquitetos do Movimento, por conta do desinteresse principalmente nos concursos internacionais, sobretudo no da Sociedade das Nações, em Genebra, 1927. Em 1928, criaram os CIAMs (Congrés Internationaux d’Architecture Moderne), onde aconteciam discussões e pesquisas inéditas até então, que revolucionaram o pensamento estético, cultural e social do período. Introduziram e ajudaram a difundir uma arquitetura considerada limpa, sintética, funcional e racional. Entre os anos de 1928 a 1956, houveram diversos congressos, tratando de temas como o habitat mínimo, o edifício racional, a cidade funcional, a habitação coletiva, o núcleo da cidade. Seu mais conhecido produto foi a “Carta de Atenas”, produzida no CIAM IV, de 1933. O CIAM enfrentou críticas juntamente com a arquitetura moderna, como a generalização das necessidades do indivíduo, termina por projetar espaços coletivos que acabam por transformarem-se em espaços abandonados e destituídos de identidade, devido à falta de propriedade definida. Os aspectos culturais e climatológicos eram ignorados. Com a crise do racionalismo arquitetônico internacional, os arquitetos escandinavos mudaram a concepção do racionalismo. O principal arquiteto dessa corrente, Alvar Aalto (1898-1976) partiu do Imagem 17. Capela de Ronchamp (1955), Le Corbusier. FONTE: ARCHDAILY, 2012. 27 racionalismo para depois se aproximar do princípio orgânico de Wright, o que lhe permitiu estudar os espaços internos. Aalto projeta a partir do objeto, para ele todo espaço é interno, mesmo os volumes externos estão envolvidos por um espaço concreto. Utiliza materiais locais em seus projetos, porém, não com a intenção de continuidade do lugar, mas porque esses materiais "tem qualidade de elasticidade e de 'textura' que os tornam sensíveis a luz, quase congênitos ao espaço 'empírico' da casa ou da natureza"(ARGAN, 1992, p. 292). A contribuição dos países escandinavos se deu no campo do desenho industrial, em uma maior precisão no projeto. Ficou conhecido como o projetista de todas as escalas, a sua produção arquitetônica apresenta uma visão da arquitetura como uma obra de arte completa, considerando desde o mobiliário até o controle da luz e do espaço. Projetou desde edifícios cívicos à centros universitários, suas principais obras foram a Casa Experimental Muuratsalo (Imagem 18), a Universidade Jyväskylä (Imagem 19) e a Villa Mairea. O declínio dos ideais modernistas iniciou-se a partir do final da década de 1950, representado primeiramente pelo trabalho de arquitetos como Louis Kahn (1901-1974) e Philip Johnson (1906-2005), que começaram a demonstrar discordância da postura demasiadamente dogmática dos princípios do Movimento Moderno. Durante a década de 60, o arquiteto Charles Jencks (1939- ), determinou até uma data exata para o fim do Movimento Moderno, com a demolição do projeto produzido pelo arquiteto FONTE: ARCHDAILY, 2012. Imagem 18. Casa Experimental Muuratsalo (1953), Alvar Aalto. Imagem 19. Jyväskylä University (1959), Alvar Aalto. FONTE: ARCHDAILY, 2013. 28 Minoru Yamasaki (1912-1986), o complexo habitacional Pruitt-Igoe, construído em 1951, segundo os preceitos dos CIAM. A demolição teve início em março de 1972. A partir de 1974, Peter Blake (1920-2006) publica uma série de artigos na revista Atlantic os quais evidenciavam a degradação dos ideais modernistas. Ele publica também o livro intitulado, “Form Follows Fiasco: Why Modern Architecture Hasn’t Worked” (A forma segue o fiasco: Por que a arquitetura moderna não funcionou). Porém, as críticas do Blake não definem a arquitetura moderna, apenas seu conceito inicial. Ao longo deste movimento podemos identificar uma série de tendências: o estilo internacional, no qual a função passa a adquirir primordial importância nas questões projetuais; o organicismo, no qual se destaca Frank Lloyd Wright, o construtivismo russo, onde se observa o uso de novos materiais e da arquitetura-objeto, a arquitetura brutalista, na segunda metade do século XX, cujo desenvolvimento foi promovido por arquitetos como Frank Lloyd Wright, Le Corbusier e Philip Johnson, dentre outras vertentes. Imagem 20. Implosão de Pruitt-Igoe (1972). FONTE: ARCHDAILY, 2012. 29 1.2 ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA A Arquitetura Moderna no Brasil teve início com um grupo de jovens e com construções realizadas em um período curto de tempo. Em poucos anos, a ideia criou raízes em São Paulo e no Rio de Janeiro, alcançando uma maturidade paradoxal (MINDLIN, 1999, p. 23). Lúcio Costa (1902 - 1998), o arquiteto cujo papel na história do Modernismo Brasileiro é fundamental, analisa o período que vai de 1930 a 1940 e que antecede a construção do Ministério da Educação e Saúde em seu ensaio sobre arquitetura brasileira, assinala com propriedade que “a arquitetura jamais passou, noutro igual espaço de tempo, por tamanha transformação” (MINDLIN, 1999, p. 23). "São Paulo, na década de 1910, já se gabaritava como a grande metrópole Brasileira do século 20. Lugar onde a riqueza do café patrocinava um quadro de prosperidade material e capacitação industrial num Brasil ainda dominantemente rural. Era um ambiente provinciano, mas a elite urbana 10 Manifesto da Poesia Pau-Brasil é um manifesto redigido pelo escritor brasileiro Oswald de Andrade, apresentando as noções estéticas que iriam nortear o seu trabalho em poesia e o de outros modernistas brasileiros. espelhava-se nos centros irradiadores de cultura fora do país." (SEGAWA, 1999, p.41-42) Durante a década de 20 acontecia no Brasil o movimento arquitetônico neocolonial. O marco inicial do movimento moderno aconteceu em São Paulo, segundo historiadores, no ano de 1917, com a exposição de pinturas da Anita Malfatti (1896-1964). Durante esses anos ocorreram eventos isolados, porém, não tão visíveis quanto ao de 1917, como a exposição de Lasar Segall (1891-1957) em 1913 e a “descoberta” do escultor Vítor Brecheret (1894-1955), em 1920. A pintura catalisou o movimento que visava algo além das artes plásticas e da literatura, a causa era a renovação do ambiente cultural. Durante esse tempo, apesar das críticas iniciais à vanguarda artística brasileira, em 1922, aconteceu a Semana de Arte Moderna, um período de fervor intelectual com Manifestos como o Pau-Brasil10 e o Antropofágico11, foram apresentadas inúmeras inovações em diversos campos da expressão artística, com a produção de uma arte moderna e um modernismo literário caracteristicamente brasileiro. Esse acontecimento questionouo academicismo existente no período, essa oposição já havia se iniciado anteriormente. A arquitetura não apresentava o mesmo 11 O movimento antropofágico foi uma manifestação artística brasileira da década de 1920, fundada e teorizada pelo poeta paulista Oswald de Andrade. 30 vigor nem o espaço do debate literário e pictórico, consequentemente, durante a semana não houve registro de qualquer discussão sobre a arquitetura. Lúcio Costa vinculou-se ao pensamento intelectual e político presente nesses movimentos e propôs uma arquitetura moderna brasileira com uma expressão nativa. Em meados dos anos 1920 acontece uma parceria entre Lúcio Costa e Gregori Warchavchik (1986-1972) um arquiteto russo emigrado que havia sido influenciado pelo Futurismo durante seus estudos em Roma e que foi responsável pelas primeiras casas cubistas no Brasil. Em 1928, construiu sua casa no subúrbio da Vila Mariana (Imagem 21 e 22), em São Paulo, a mesma “constituiu a primeira expressão de arquitetura moderna nos termos do proselitismo do arquiteto" (SEGAWA, 1999, p. 44-45). Entre os anos de 1928 e 1931, o arquiteto projetou residências e conjuntos de moradias econômicas em São Paulo e no Rio de Janeiro. Entre essas obras, a casa em Itápolis (Imagem 23 e 24), em São Paulo, foi a que mais se aproximou do ideal da Bauhaus de integração das artes. Em 1929, foi convidado por Le Corbusier para ser delegado para a América do Sul do CIAM (Congres International d’Architecture Moderne) enquanto esteve em São Paulo. O surgimento do modernismo foi em uma época de contradições e ambiguidades políticas, o período governamental de Vargas a Kubistchek, do rádio a televisão, do Rio de Janeiro como capital até antes do concurso de Brasília, entre outras. No início da década de 1930, surgiu um novo regime que iria afetar profundamente a vida administrativa, social e econômica do país. Imagem 21 e 22. Casa Modernista da Rua Santa Cruz (1928), Gregori Warchavchik. FONTE: ARCHDAILY, 2013. Imagem 23 e 24. Casa Modernista da Rua Itápolis (1930), Gregori Warchavchik. FONTE: ARCHDAILY, 2013. 31 "[...]a revolução liderada por Getúlio Vargas impôs um novo regime e um novo estado de espirito. O movimento de 30 foi desencadeado sobretudo por jovens militares e civis, e lançou um sopro renovador em todos os setores da vida política, social e econômica do país." (MINDLIN, 2000, p. 26) O governo de Getúlio Vargas com o desejo de deixar sua marca nas formas da capital federal na época, decide construir palácios para abrigar os ministérios e órgãos públicos. Nesse período as empresas e elites só adotavam um estilo depois que ele tivesse sido testado em obras públicas, tornando essa decisão um fator importante para difundir a arquitetura moderna. "Com a revolução liderada por Getúlio Vargas em 1930 e a nomeação de Costa como diretor da Escola de Belas-Artes, a arquitetura moderna passou a ser acolhida, no Brasil, como uma questão de política nacional." (FRAMPTON, 1997, p. 310) Nesta época a Europa passava por uma crise social, política e econômica relacionada com a Grande Depressão, afetando as oportunidades para os arquitetos modernos como Le Corbusier, que vieram até o Brasil estabelecer relações com o Estado. O Brasil não foi tão afetado pela guerra, pelo contrário, foi ela e a conturbada década que a precede, que haviam permitido, em parte, com que a produção brasileira preenchesse o vácuo criado no cenário arquitetônico internacional. Nesse contexto a arquitetura moderna brasileira que se materializou com o projeto do Ministério da Educação e Saúde (Imagem 25), teve como idealista o arquiteto Lúcio Costa e a consultoria de Le Corbusier. Sua construção aconteceu em 1937, compondo-se de elementos que buscam expressar o caráter peculiar da cultura brasileira. "A obra incorporava toda a sintaxe corbusieriana – sobretudo, ‘cinco pontos da arquitetura nova’" (SEGAWA, 1999, p. 91). "Mas a versão final, erguida sobre um peristilo de pilotis, deu ensejo a primeira aplicação monumental de muitos dos elementos corbusianos característicos, inclusive o toit-jardin, o brise-soleil e o pan-verre. Os jovens seguidores brasileiros de Le Corbusier transformaram imediatamente esses componentes puristas numa expressão nativa extremamente sensual que fazia eco, em sua exuberância plástica, ao Barroco brasileiro do século XVIII." (FRAMPTON, 1997, p. 310) Apesar do edifício ser considerado a expressão materializada do modernismo brasileiro, aconteceram experiências arquitetônicas modernistas em outras capitais e algumas antes mesmo do projeto do MES ser realizado. 32 Enquanto acontecia a construção da sede do Ministério da Educação e Saúde, os norte-americanos organizaram duas feiras - uma em Nova York e outra em São Francisco, das quais o Brasil participou. O pavilhão brasileiro da Feira Mundial de Nova York (Imagem 26) ganhou destaque mundial, a obra juntou aspectos dos arquitetos modernistas Lúcio Costa e Oscar Niemeyer. A versão final possuía pilotis, rampa de acesso e os elementos vazados de fachada proposta por Costa, enquanto a curvatura da parede acompanhando o terreno e o jardim na parte posterior foi proposta por Niemeyer. O sucesso internacional do pavilhão se deu a postura serena quanto ao significado da arquitetura brasileira no contexto mundial. A arquitetura superou o racionalismo mais ortodoxo, com a consciência de uma nova dimensão estética da arquitetura acima da aridez e do rebatimento da função sobre a forma. A obra que teve um uso efêmero e gerou alguns dos discursos arquétipos que iria povoar a arquitetura brasileira (SEGAWA, 1999, p. 95). Imagem 25. Ministério da Educação e Saúde (1945), Lucio Costa e equipe. FONTE: ARCHDAILY, 2013. FONTE: ARCHDAILY, 2014. Imagem 26. Pavilhão brasileiro da Feira Mundial de Nova York (1939), Lucio Costa e Oscar Niemeyer. 33 Com a consagração do pavilhão brasileiro, Lúcio Costa ampliou o prestigio já consolidado, enquanto, Oscar Niemeyer (1907-2012) teve sua ascensão. Em 1939, Niemeyer foi convidado para projetar o "Grande Hotel de Ouro Preto" (Imagem 27), tratava- se de um edifício novo de grande porte. O projeto resultou em uma obra cujo o volume e a implantação eram destoantes da paisagem existente, com isso, configurou-se como um uma atitude inicial em que a convivência do "novo" dentro do "velho", atribuía para uma identidade própria. Juscelino Kubitschek convidou Niemeyer para desenvolver o projeto do Teatro Municipal de Belo Horizonte e um conjunto de edifícios em um novo bairro afastado, a Pampulha. Porém, o projeto final contou apenas com os três primeiros edifícios e a capela, conhecida como a Igreja de Pampulha (Imagem 28). Nessa obra Niemeyer produziu uma arquitetura própria, afastando-se da influência corbusieriana. A qualidade dessa produção moderna foi a chave da sua futura atuação em Brasília, pela confiança que o presidente Kubitschek depositava no seu trabalho. Em 1943, o prestígio internacional pela arquitetura moderna brasileira voltou a ter destaque, com a exposição Brazil Builds, no MoMA, em Nova York, levando críticos da Europa e Estados Unidos a rotular as manifestações dos arquitetos do Rio de Janeiro como Brasilian School, Cariocan School, First National Style in Modern Architecture. Enquanto no Brasil, o escritor Mário de Andrade, pela primeira vez, se referiu ao movimento como "Escola Carioca" (SEGAWA, 1999, p.102). Em 1947, o Conjunto ResidencialPrefeito Mendes de Moraes, conhecido como Pedregulho (Imagem 29), no Rio de Janeiro, foi projetado pelo arquiteto Affonso Eduardo Reidy. O Pedregulho compõe o conjunto de projetos de Reidy, ao lado da Unidade Residencial da Gávea (1952) e do Teatro Armando Gonzaga (1950), em Marechal Hermes. A partir de 1932, torna-se Imagem 27. Croqui da paisagem descortinada do Grande Hotel de Ouro Preto, Oscar Niemeyer. FONTE: SEGAWA, 1999. Imagem 28. Igreja de São Francisco de Assis na Pampulha (1943), Oscar Niemeyer. FONTE: ARCHDAILY, 2012. 34 responsável pelos serviços de arquitetura e urbanismo da Prefeitura do Rio de Janeiro, inclusive, o do Aterro do Flamengo. No ano de 1956 iniciaria a consagração definitiva da arquitetura moderna brasileira, com o projeto de Brasília. Nesse mesmo ano, foi aberto um Concurso Público para elaborar o Plano Piloto de Brasília - futura Capital do Brasil. O Presidente Kubitschek convocou Niemeyer para “projetar todo os edifícios públicos” da nova capital e também para ser jurado no concurso. "Brasília está no bojo desse projeto desenvolvimentista e constitui o marco final dessa vanguarda arquitetônica alimentada por uma política de 'conciliações' ideológicas" (SEGAWA, 1999, p.114). O edital do concurso exigia o traçado básico da cidade, e a proposta de Lúcio Costa foi apresentada em uma única planta e em um memorial ilustrado com croquis (Imagem 30), com simplicidade estabeleceu o princípio básico que norteou os eixos principais de Brasília: o Eixo Monumental e o Eixo Rodoviário- Residencial. "O relatório de Lucio Costa era direto quanto à apresentação das soluções: propunha a cidade 'não apenas como urbs, mas como civitas, possuidora dos atributos inerentes a uma capital'. Seu desenho inicial nasceu de uma poética analogia ao 'gesto primário de quem assina-la um lugar ou dele toma posse: dois eixos cruzando-se em angulo reto, ou seja, o próprio sinal da cruz'" (SEGAWA, 1999, p.124). O estudo de Lúcio Costa é interessante observar que, apesar da simplicidade da apresentação, revelava a integração entre o urbanismo e a arquitetura de forma clara. A arquitetura de Oscar Niemeyer em Brasília que viria a influenciar toda uma geração de arquitetos no país provocou também desgaste do repertório moderno, pela reprodução desenfreada das formas, inclusive pelo Imagem 29. Conjunto Residencial Prefeito Mendes de Moraes (Pedregulho) (1947), Affonso Eduardo Reidy. FONTE: ARCHDAILY, 2011. Imagem 30. Croqui: Brasília e sua escala monumental, Lúcio Costa. FONTE: SEGAWA, 1999. 35 próprio arquiteto, que passaram a simbolizar a modernidade local (Imagem 31). Em São Paulo, com o destaque da "Escola Carioca", o sucesso de Brazil Builds e a crítica de Mário de Andrade - com o "complexo de inferioridade" por parte dos arquitetos paulistas - serviu como um argumento para um exercício de autoestima e imensurável autovalorização dos arquitetos na época (SEGAWA, 1999, p.101). No começo do século, o arquiteto Vítor Dubugras (1868 - 1933) desenvolvia suas obras em São Paulo na vertente neocolonial, porém, ele sempre demonstrou uma preocupação com a revisão das técnicas construtivas tradicionais. Sua produção caracterizou- se pela busca constante de um racionalismo – apesar da linguagem adotada. O arquiteto projetava obras utilizando o repertório art nouveau, o eclético, o neocolonial e o protomoderno, com obras como a Estação de Mayrink, de 1905. João Batista Vilanova Artigas (1915-1985), sofreu modificações ideológicas em três momentos na sua produção, onde manifestam-se a influência de Frank Lloyd Wright; a influência de Le Corbusier e da Escola Carioca - a busca por uma maior racionalidade; e a influência do brutalismo inglês. "Não se pode negar que arquitetos brasileiros também foram tributários do Brutalismo; muitos paulistas caminharam por essa senda, e talvez nela tenham identificado um recurso conceitual de legitimação de uma prática. Todavia, distinguir a produção paulista como 'brutalista' força uma relação de ascendência que minimiza as demais influências ou condicionantes significativas na formação desse pensamento arquitetônico." (SEGAWA, 1999, p. 151) É a partir do projeto da Casa Baeta, em 1956, que o arquiteto ganha destaque e passa a liderar a produção da arquitetura de São Paulo, marcada pela ênfase na técnica Imagem 31. Foto aérea de Brasília, Lúcio Costa. FONTE: ARCHDAILY, 2015. 36 construtiva, pela adoção do concreto armado aparente e valorização da estrutura. Entre 1959 e 1961, realizou uma sequência de projetos - Casa Mário Taques Bitencourt, Ginásio de Itanhaém, Ginásio de Guarulhos, Anhembi Tênis Clube, Garagem de Barcos do Iate Clube Santa Paula e a Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAU/USP) - que ajudaram a definir o caráter arquitetônico da escola paulista. A partir de 1957, aconteceram encontros de arquitetos em que surgiram debates acerca da formulação de um currículo mínimo para os cursos de arquitetura. O currículo da Faculdade de Arquitetura na Universidade de São Paulo, na proposição de Vilanova Artigas, tinha o projeto como estruturador do curso. O projeto do Edifício da FAU (Imagem 32 e 33) inicia-se em 1961, Artigas com a colaboração de Carlos Cascaldi. Professor da Escola de Arquitetura da USP, realiza um projeto que demonstra as influências de sua concepção de arquitetura, assim como suas ideias a respeito da formação do arquiteto. A arquitetura moderna de São Paulo também teve a contribuição dos arquitetos Rino Levi (1901-1965); Oswaldo Bratke (1907 – 1997); Jacques Pilon (1905 - 1962); Fábio Penteado (1929 - 2011) e Lina Bo Bardi (1914 - 1992). Imagem 32 e 33. Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAU-USP) (1961), João Vilanova Artigas e Carlos Cascaldi. FONTE: ARCHDAILY, 2011. 37 Em Curitiba, aconteceu a prole mais expressiva do pensamento de São Paulo, devido à duas coisas: a porção paulista do corpo docente do curso de Arquitetura na cidade e a proximidade entre o Paraná e São Paulo que asseguraram um intenso intercâmbio de conhecimento e influência profissional (SEGAWA, 1999, p.152). Os arquitetos que mais se destacaram foram Luiz Forte Netto; José Maria Gandolfi; Roberto Luis Gandolfi; Joel Ramalho Jr; Jorge Wilheim e Rosa Kliass. Na segunda metade dos anos 40, o engenheiro Rubens Meister (1922 – 2009), projetou o Teatro Guaíra (Imagem 34), em comemoração ao centenário de emancipação política do Estado do Paraná. O desenvolvimento da arquitetura moderna nos outros estados, deu-se principalmente pela troca de conhecimento, como pela presença de arquitetos cariocas e paulistas que contribuíram para a arquitetura local, como também, arquitetos locais que saíram para estudar em outra cidade e retornaram posteriormente. Em Salvador, durante as décadas de 1950 e 1960 a produção do arquiteto Diógenes Rebouças (1914 - 1994), resultou em grande parte dos edifícios modernistas da cidade. As melhores obras de Rebouças foram feitas em parceria, como o Hotel da Bahia projetado em 1947, com a coautoria de Paulo Antunes Ribeiro, e a Faculdade de Arquitetura da UFBA (Imagem 35), em 1963, foram marcos da arquitetura modernista de Salvador. Imagem 34. Teatro Guaíra (1952), Rubens Meister. FONTE: GOVERNO DO ESTADO DO PARANÁ, 2016. Imagem 35. Faculdade de Arquitetura da UFBA (1963), Diógenes Rebouças. FONTE: ARCHDAILY, 2014. 38 Contudo, um dos mais
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