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A prática de Revenge Porn e a lei 13 718_2018


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25/06/2019 A prática de Revenge Porn e a lei 13.718/2018
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A prática de Revenge Porn e a lei 13.718/2018
Uma das condutas mais reprováveis praticadas no mundo contemporâneo e que foi
facilitada pelo avanço da tecnologia, a prática do “revenge porn” ou “pornografia de
vingança” começou a se tornar alvo das preocupações do legislador brasileiro.
Essa conduta consiste na divulgação de cenas de sexo ou nudez de uma pessoa, sem a
autorização desta, com o objetivo de praticar vingança ou humilhação. Geralmente,
esse ato criminoso é praticado por alguém que teve um relacionamento com a vítima, e
que usa o vídeo ou foto para se vingar desta. Ainda em relação ao conceito do “revenge
porn”, aduz Ítalo Augusto Campos Pereira:
"O termo estrangeiro – traduzido como Pornô de Vingança – é utilizado no Brasil para
se referir as (sic) imagens e filmes de conteúdos pornográficos adquiridos de maneira
consensual, porém distribuídos sem o consentimento da vítima. Acerca dessa definição
cabe ressaltar a ressalva feita pela professora Mary Anne Franks. Sob o seu prisma de
análise esse conceito é exíguo por não abranger a distribuição de conteúdo íntimo
adquirido sem o consentimento da vítima, pois, não raro, o acesso a essas informações
se dá sem a anuência do proprietário. Basta evocar o caso Carolina Dieckmann no qual
informações de cunho pessoal da atriz foram obtidas sem seu assenso por hackers que
as utilizaram ulteriormente para extorqui-la. Portanto, Franks (2013) sugere que ‘um
termo mais preciso é pornografia não consensual, definida como a distribuição de
imagens sexuais de indivíduos sem seu consentimento’ (tradução do autor)".
Como não havia previsão específica dessa conduta como crime no direito penal
brasileiro, a prática do “revenge porn” era punida muitas vezes como difamação ou
injúria, crimes cujas penas são consideradas brandas. Diante desse cenário, diversos
parlamentares se mobilizaram no sentido de procurar elaborar textos que
estabelecessem uma punição mais efetiva para os crimes sexuais praticados através de
meios virtuais, incluindo o “revenge porn”.
De acordo com Pereira, até 21 de fevereiro do ano de 2017,
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“tramitavam no Congresso Nacional alguns Projetos de Lei orientados para a
criminalização da pornografia não consensual, e, de forma particular, o revenge porn.
Ao todo eram doze projetos propostos por diferentes parlamentares e com
peculiaridades específicas nessa matéria. [...] Onze dos projetos estavam apensados ao
Projeto de Lei (PL) nº 5.555/2013 de João Arruda (PMDB/PR), pois foi o primeiro
projeto a ser proposto nessa direção. Ele previa alterações na Lei Maria da Penha com
intuito de criar mecanismos para o combate a condutas ofensivas contra a mulher na
Internet ou em outros meios de propagação da informação”.
Finalmente, em 24 de setembro de 2018, foi editada a lei 13.718/18, que trouxe
importantes modificações no direito pátrio em relação aos crimes sexuais. A referida
lei, apesar de não enquadrar especificamente o “revenge porn” como um crime por si
só, o considera uma causa de aumento de pena do crime de divulgação de cena de sexo
ou nudez sem o consentimento da vítima, novo tipo penal incluído através do art. 218-
C:
Art. 218-C. Oferecer, trocar, disponibilizar, transmitir, vender ou expor à venda,
distribuir, publicar ou divulgar, por qualquer meio - inclusive por meio de
comunicação de massa ou sistema de informática ou telemática -, fotografia, vídeo ou
outro registro audiovisual que contenha cena de estupro ou de estupro de vulnerável ou
que faça apologia ou induza a sua prática, ou, sem o consentimento da vítima, cena de
sexo, nudez ou pornografia:
Pena - reclusão, de 1 (um) a 5 (cinco) anos, se o fato não constitui crime mais grave.
Aumento de pena
§ 1º A pena é aumentada de 1/3 (um terço) a 2/3 (dois terços) se o crime é
praticado por agente que mantém ou tenha mantido relação íntima de
afeto com a vítima ou com o fim de vingança ou humilhação.
Como se pode ver, o parágrafo primeiro do artigo citado prevê uma causa considerável
de aumento de pena no caso de prática do crime como forma de vingança ou
humilhação. Esse esforço legislativo é louvável no sentido de que efetua um necessário
preenchimento de uma lacuna normativa que existia em nosso ordenamento jurídico.
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Assim, além de incluir no Código Penal o crime do art. 218-C, bastante comum nos
tempos atuais, a lei 13.718/18 andou muito bem ao considerar a circunstância da
prática de tal delito com motivações de vingança ou humilhação como causa de
aumento de pena.