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DIREITO PENAL I

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Direito Penal I
Introdução ao Direito Penal
Ubi societas ibi crimen: Onde há sociedade, há crime. 
Código Penal: Conjunto de normas, condensadas num único diploma legal, que visam tanto a definir os crimes, proibindo ou impondo condutas sob ameaça de sanção para os imputáveis e medida de segurança para os inimputáveis. 
A pena é condição de existência jurídica do crime.
Finalidade do Direito Penal: Proteger os bens (e; valores e interesses) mais importantes e necessários para a própria sobrevivência do indivíduo e da sociedade. 
Direito Penal Objetivo: É o conjunto de normas editadas pelo Estado, definindo crimes e contravenções, sob a ameaça de sanção ou medida de segurança, bem como todas aquelas que cuidem de questões de natureza penal. Direito Penal Subjetivo: É a possibilidade que tem o Estado de criar e fazer cumprir suas normas. 
Critério Político: As transformações da sociedade extinguem, criam, aumentam e diminuem penas, por isso, o Direito Penal vive em constante movimento, tentando adaptar-se às novas realidades sociais. 
Estado Constitucional de Direito: A Constituição, com base na pirâmide de Kelsen, é a ‘’mãe’’ de todas a normas. Neste sentido, as normas penais (como todas as outras) não podem contrariá-la, logo, para serem válidas devem ser compatíveis com as normas constitucionais substanciais e com os direitos fundamentais.
Fontes do Direito Penal: Fonte de produção: O Estado é a única fonte de produção do direito penal, a saber, compete privativamente à União legislar sobre direito penal. (inciso I do art. 22 da CF). Fonte de conhecimento: A lei, em obediência ao princípio da reserva legal. 
Da Norma Penal
Teoria de Binding: A lei penal teria caráter descritivo da conduta proibida ou imposta, tendo a norma, por sua vez, caráter proibitivo ou mandamental. Ex: ‘’Art. 121: Matar alguém – Pena Reclusão de 6 a 20 anos.’’, ou seja, podemos ver aí que o legislador descreveu uma conduta que, se praticada, nos levará a uma condenação correspondente a pena prevista para aquela inflação penal. 
Classificação das Normas Penais: 
Normas penais incriminadoras: É reservada a função de definir as infrações penais, proibindo ou impondo condutas, sob ameaça de pena. É a norma penal por excelência, ou seja, normas penais em sentido estrito. Preceito primário: É o encarregado de fazer a descrição detalhada e perfeita da conduta ilícita. Preceito secundário: Cabe a tarefa de individualizar a pena, cominando-a em abstrato. 
Normas penais em branco: São aquelas que há uma necessidade de complementação para que se possa entender o âmbito de aplicação de seu preceito primário. Ex: Lei de drogas, pois, não está expressamente escrito em seu texto legal quais são as drogas não autorizadas ou proibidas legalmente. Homogênea: Normas penal em branco quando seu complemento é oriundo da mesma fonte legislativa que editou a norma que precisa desse complemento. Heterogênea: quando seu complemento é oriundo de fonte diversa daquela que a editou. 
Normas penais incompletas ou imperfeitas: São aquelas que, para saber a sanção imposta pela transgressão de seu preceito primário, o legislador nos remete a outros texto de lei, ou seja, descreve a conduta ilícita, mas para saber a consequência jurídica é preciso de deslocar para outro tipo penal. Ex: Lei n° 2.889/56, que define o crime de genocídio. 
Situação das normas penais:
Anomia: Pode ser dar em virtude da ausência de normas, ou, ainda, embora existindo essas normas, a sociedade não lhes dá o devido valor, continuando a praticar as condutas por elas proibidas como se tais normas não existissem, pois que confiam na impunidade. 
Antinomia: Situação que se verifica entre duas normas incompatíveis, pertencentes ao mesmo ordenamento jurídico e tendo o mesmo âmbito de validade. Critérios para a resolução da antinomia: a) critério cronológico (a segunda, editada posteriormente, revoga a primeira); b) critério hierárquico (deve respeitar a hierarquia das normas, segundo a visão piramidal); c) critério da especialidade (a especial afastará a aplicação daquelas tida como geral). 
Concurso (ou conflito) aparente de normas penais: É quando para determinado fato, aparentemente (quer dizer que, efetivamente, não há que se falar em conflito quando da aplicação de numa dessas normas ao caso concreto), existem duas ou mais normas que poderão sobre ele incidir. O conflito, porque aparente, deverá ser resolvido com a análise dos seguintes princípios: a) princípio da especialidade: princípio da subsidiariedade; c) princípio da consunção; d) princípio da alternatividade.
Explicações dos respectivos princípios: 
Princípio da especialidade: A norma especial afasta a aplicação da norma geral. Ex: Crime de homicídio vs infanticídio. 
Princípio da subsidiariedade: Na ausência da impossibilidade de aplicação de norma principal mais grave, aplica-se a norma subsidiária menos grave. Ex: Art. 239
Princípio da consumação: Podemos falar desse princípios nas seguintes hipóteses: 1. Quando um crime é meio necessário ou normal fase de preparação ou de execução de outro crime. 2. Nos casos de antefato (situação antecedente praticada pela agente a fim de conseguir levar a efeito o crime, e que sem não seria possível a prática do ilícito pretendido) e pós-fato (exaurimento do crime principal praticado pelo agente) impuníveis. A consumação absorve a tentativa e este absorve o incriminado ato preparatório; o crime de lesão absorve o correspondente crime de perigo; o homicídio absorve a lesão corporal, etc. 
Princípio da alternatividade: Terá aplicação quando estivermos diante de crimes tidos como de ação múltipla ou de conteúdo variado, ou seja, crimes plurinucleares, nos quais o tipo penal prevê mais de uma conduta em seus vários núcleos. Ex: Lei de drogas, art 33, ‘’importar, exportar, remeter, (...). Mesmo que o agente tenha em depósito e venda drogas, praticando, desta forma, três dentre as condutas previstas pelo mencionado artigo, ele só poderá ser punido apenas por uma modalidade. 
Princípios Limitadores do Poder Sancionatório Estatal:
Princípio da intervenção mínima:
O direito penal só deve preocupar-se com a proteção dos bens mais importantes e necessários à vida em sociedade. 
O direito penal deve, portanto, interferir o menos possível na vida em sociedade, devendo ser solicitado somente quando os demais ramos do Direito, comprovadamente, não forem capazes de proteger aqueles bens considerados de maior importância. 
Ultima Ratio: Se outras formas de sanções ou ouros meios de controle social revelarem-se suficientes para a tutela desse bem, a criminalização será inadequada e desnecessária. 
Princípio da Culpabilidade:
É a exigência de um juízo de reprovação jurídica que se apoia sobre a crença de que ao homem é dada a possibilidade de, em certa circunstâncias, ‘’agir de outro modo’’. 
Culpabilidade como elemento integrante do conceito de crime: A culpabilidade é a terceira característica ou elemento integrante do crime. 
Culpabilidade como princípio medidor da pena: Uma vez concluído que o fato cometido pelo agente é típico, ilícito e culpável. Ao aplicar a pena, a primeira circunstância judicias a ser aferida pelo juiz é, justamente, a culpabilidade. 
Culpabilidade como princípio impedidor da responsabilidade penal objetiva, ou seja, o da responsabilidade penal sem culpa: Para que determinado resultado seja atribuído ao agente é preciso que a sua conduta tenha sido dolosa ou culposa. Se não houve dolo ou culpa, é sinal que não houve conduta; se não houve conduta, não se pode falar em fato típico; e não existindo fato típico, como consequência lógica, não haverá crime. 
Princípio da Legalidade (Reserva Legal):
Art. 5°, XXXIX e art. 1° do CP:
‘’XXXIX - não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prévia cominação legal;
Art. 1º - Não há crime sem lei anterior que o defina. Não há pena sem prévia cominação legal.’’
É o mais importante do Direito Penal. Nãose fala da existência de crime se não houver uma lei definindo como o tal. Segurança jurídica do cidadão de não ser punido se não houver previsão legal, evitando assim conduta arbitrária e imprevisível do Estado. 
Finalidade: Proibir a retroatividade da lei penal, proibir a criação de crimes e penas pelos costumes, proibir o emprego de analogia para criar crimes e proibir incriminações vagas e indeterminadas (ou seja, as leis penais devem ser taxativas). 
A garantia, obrigatoriamente, aos critérios de legalidade forma e material, sendo ambos indispensáveis à aplicação da lei penal. Por legalidade formal, entende-se, a obediência aos trâmites procedimentais previstos pela CF para que determinado diploma legal possa vir a fazer parte de nosso ordenamento jurídico. Material é quanto ao conteúdo da norma, respeitando-se as proibições e imposições previstas na CF para a garantia de nossos direitos fundamentais.
Princípio da humanidade:
Princípio segundo o qual o objetivo da pena não é o sofrimento ou a degradação do apenado. O Estado não pode aplicar sanções que atinjam a dignidade da pessoa humana ou que lesionem a constituição físico-psíquica do condenado, e proibi qualquer consequência que crie deficiência física ou medida permanente. 
Incisos XLIX, XLVII e L, art. 5°, da CF. 
XLVII - não haverá penas:
a) de morte, salvo em caso de guerra declarada, nos termos do art. 84, XIX;
b) de caráter perpétuo;
c) de trabalhos forçados;
d) de banimento;
e) cruéis;
XLIX - é assegurado aos presos o respeito à integridade física e moral;
L - às presidiárias serão asseguradas condições para que possam permanecer com seus filhos durante o período de amamentação;
Princípio da adequação social:
Proíbe a tipificação de condutas socialmente adequadas/aceita. 
Dupla função: 1° função: restringir o âmbito de abrangência do tipo penal, limitando sua interpretação, e dele excluindo condutas consideradas socialmente adequadas e aceitas pela sociedade. 2° função: É dirigida ao legislador em duas vertentes. A primeira delas orienta o legislador quando da seleção das condutas que deseja proibir ou impor, com a finalidade de proteger os bens considerados mais importantes, ou seja, se a conduta que está na mira do legislador for considerada socialmente adequada, não poderá ele reprimi-la valendo-se do Direito Penal. A segunda destina-se a fazer com que o legislador repense os tipos penais e retire do ordenamento jurídico a proteção sobre aqueles bens cujas condutas já se adaptaram perfeitamente à evolução da sociedade. Ex: Vadiagem. 
Princípio da ofensividade/lesividade:
Diz quais são as condutas que poderão ser incriminadas pela lei penal. 
Funções: 
- Proibir a incriminação de uma atitude interna, ou seja, ninguém pode ser punido por aquilo que pensa ou mesmo por seus sentimentos pessoais. Se tais sentimentos não forem exteriorizados e não produzirem lesão a bens de terceiros, jamais o homem poderá ser punido por aquilo que traz no íntimo do seu ser.
- Proibir a incriminação de uma conduta que não exceda o âmbito do próprio autor, ou seja, não poderá punir aquelas condutas que não sejam lesivas a bens de terceiros. Ex: Autolesão, todos os atos preparatórios que antecedem a execução de determinada infração, crime impossível, pois que aqui, como se percebe, não existe possibilidade de lesão ao bem jurídico em face da absoluta ineficácia do meio utilizado, bem como a absoluta impropriedade do objeto. 
- Proibir a incriminação de simples estados ou condições existenciais, ou seja, impedir que o agente seja punido por aquilo que ele é, e não pelo que fez. 
- e proibir a incriminação de condutas desviadas que não afetem qualquer bem jurídico, ou seja, muitas condutas que agridem o senso comum da sociedade, desde que não lesivas a terceiros, não poderão ser proibidas ou impostas pelo direito penal. 
Princípio da individualização da pena:
CF: 
XLVI - a lei regulará a individualização da pena e adotará, entre outras, as seguintes:
XLVIII - a pena será cumprida em estabelecimentos distintos, de acordo com a natureza do delito, a idade e o sexo do apenado;
A individualização da pena ocorre com a seleção feita pelo legislador, quando escolhe para fazer parte do pequeno âmbito de abrangência do Direito Penal aquelas condutas, positivas ou negativas, que atacam nossos bens mais importantes. Destarte, uma vez feita essa seleção, o legislador valora as condutas, cominando-lhes penas que variam de acordo com a importância do bem a ser tutelado. 
A fase seletiva, realizada pelos tipos penais no plano abstrato, chamamos de cominação. É a fase na qual cabe ao legislador, de acordo com um critério político, valorar os bens que cabe ao legislador, de acordo com um critério político, valorar os bens que estão sendo objeto de proteção pelo Direito Penal individualizando as penas de cada infração penal de acordo com sua importância e gravidade. Já no plano concreto, fixará a pena-base de acordo com o critério trifásico determinado pelo art. 68 do CP, atendendo às chamadas circunstâncias judiciais; em seguida, as circunstâncias atenuantes e agravantes, e por último as caudas de diminuição e aumento de pena. 
Os condenados serão classificados, segundo os seus antecedentes e personalidades, para orientar a individualização da execução penal. 
Princípio da Proporcionalidade:
O princípio da proporcionalidade exige eu se faça um juízo de ponderação sobre a relação existente entre o bem que é lesionado ou posto em perigo (gravidade do fato) e o bem de que pode alguém ser privado (gravidade da pena). 
O princípio da proporcionalidade rechaça, portanto, o estabelecimento da cominações legais (proporcionalidade em abstrato) e a imposição de penas (proporcionalidade em concreto) que careçam de relação valorativa com o fato cometido considerado em seu significado global. 
O poder legislativo: Tem a função de estabelecer penas proporcionais, em abstrato, à gravidade do delito. O poder judiciário: As penas que os juízes impõem ao autor do delito têm de ser proporcionados à sua concreta gravidade, respeitando o critério trifásico de aplicação da pena, que fornece meios para que o juiz pudesse, no caso concreto, individualizar a pena do agente, encontrando, com isso, aquela proporcional ao fato por ele cometido.
Princípio da responsabilidade pessoal:
Art. 5 – XLV, CF - nenhuma pena passará da pessoa do condenado, podendo a obrigação de reparar o dano e a decretação do perdimento de bens ser, nos termos da lei, estendidas aos sucessores e contra eles executadas, até o limite do valor do patrimônio.
Em virtude do princípio da responsabilidade pessoal, também conhecido como princípio da pessoalidade ou da intranscendência da pena, somente o condenado é que terá de se submeter à sanção que lhe foi aplicada pelo Estado, ou seja, mais ninguém poderá responder pela infração praticada. Nenhuma pena passará da pessoa do condenado, pois, a questão pecuniária é personalíssima.

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