Prévia do material em texto
Embriologia|Reprodutor| M3 Desenvolvimento do sistema genital Os sistemas genitais iniciais nos dois sexos são semelhantes; por esta razão, o período inicial do desenvolvimento genital é referido como estágio indiferenciado do desenvolvimento sexual. As características masculinas e femininas só começam a se desenvolver na 7a semana. As gônadas (testículos e ovários) são derivadas de três fontes: • O mesotélio (epitélio mesodérmico) que reveste a parede abdominal posterior. • O mesênquima subjacente (tecido conjuntivo embrionário). • As células germinativas primordiais (CGPs) O sistema genital se origina com o sistema urinário Em indivíduos de ambos os sexos, a formação e a diferenciação das gônadas têm início com a chegada das células germinativas primordiais ao mesoderma intermediário. Essas células germinativas normalmente migram do saco vitelino, através do mesentério dorsal, para preencher o mesênquima da parede posterior durante a 5a semana. Uma vez lá, eles se deslocam para a área adjacente ao epitélio celômico, localizado medial e ventralmente em relação aos rins mesonéfricos em desenvolvimento. Em resposta, o epitélio celômico de cada lado se prolifera, torna‑se mais espesso e, junto com as células germinativas primordiais, forma um par de cristas genitais. Durante a 6a semana, as células derivadas de cada epitélio celômico formam células somáticas de sustentação, que envolvem as células germinativas e são essenciais para o seu desenvolvimento no interior das gônadas. Também durante a 6a semana, um novo par de ductos, os ductos paramesonéfricos (ou ductos de Müller), começa a se formar lateralmente aos ductos mesonéfricos em embriões de ambos os sexos, masculino e feminino. Esses ductos surgem a partir da invaginação e da proliferação de células epiteliais celômicas. Cada ducto paramesonéfrico se estende no sentido craniocaudal, além de paralelamente aos ductos mesonéfricos. No final da 6a semana, os sistemas genitais masculino e feminino são indistinguíveis pela aparência, embora diferenças celulares sutis já possam estar presentes. Da 7ª semana em diante, os sistemas masculino e feminino seguem vias diferentes. Gene SRY como determinante de sexo Um único fator determinante do sexo parece controlar a cascata de eventos que leva ao desenvolvimento masculino. Este fator de transcrição determinante do sexo é codificado pelo gene SRY (REGIÃO DETERMINANTE DO SEXO DO CROMOSSOMA Y). Quando este fator de transcrição é expresso nas células somáticas de sustentação das futuras gônadas indiferenciadas, o desenvolvimento masculino é desencadeado. Este passo é chamado de determinação sexual primária. Caso este fator esteja ausente ou defeituoso, ocorre o desenvolvimento feminino. Embriologia|Reprodutor| M3 O gene SRY, um fator de transcrição, é ativado apenas por um curto período no interior das células somáticas gonadais e parece suprarregular genes testiculares específicos e reprimir os genes ovarianos. Desenvolvimento genital masculino O primeiro evento no desenvolvimento genital masculino é a expressão da proteína SRY no interior das células somáticas de sustentação da gônada XY. Sob a influência deste fator as células somáticas de sustentação começam a se diferenciar em células de Sertoli e a secretar o hormônio antimülleriano (AMH). AMH induz a degeneração dos ductos paramesonéfricos. Células de Sertoli emitem sinais, por meio de mecanismos ainda desconhecidos, que recrutam as células mesenquimais para o interior da crista gonadal, levando elas a se diferenciarem em células de Leydig, que passam a produzir testosterona. A testosterona induz a diferenciação dos epidídimos, dos ductos deferentes e das vesículas seminais a partir do ducto mesonéfrico. Durante a vida fetal, a conversão de testosterona em DHEA também colabora para a diferenciação das genitálias externas em pênis e escroto, além de outras estruturas como a próstata. Durante a puberdade, o aumento de testosterona faz com que os túbulos seminíferos se canalizem, amadureçam e deem início à espermatogênese, além de induzir outras alterações puberais nas características sexuais primárias e secundárias. OBS: Síndrome do ducto mülleriano persistente Indivíduos que são 46,XY e possuem mutações no AMH ou nos genes dos RECEPTORES DE AMH apresentam características típicas da síndrome do ducto mülleriano persistente, pois os ductos paramesonéfricos (müllerianos) não regridem. Estes indivíduos desenvolvem estruturas que são derivadas do ducto paramesonéfrico, em adição aquelas derivadas do ducto mesonéfrico. Consequentemente, um homem com síndrome do ducto paramesonéfrico persistente desenvolve vagina, cérvice, útero e tubas de Falópio, bem como ductos deferentes e genitália externa masculina. Diferenciação das células de Leydig Durante a 9a ou 10a semana, as células de Leydig se diferenciam das células mesonéfricas mesenquimais, recrutadas pelas células pré‑Sertoli. Neste estágio inicial de desenvolvimento (até 12 semanas), a secreção de testosterona é regulada pelo hormônio peptídico gonadotrofina coriônica, secretado pela placenta. Mais tarde, as gonadotrofinas hipofisárias do feto masculino assumem o controle sintetizando os esteroides sexuais masculinizantes (andrógenos). Sob o controle da gonadotrofina coriônica placentária, tanto o número de células de Leydig quanto os níveis de testosterona chegam ao ponto máximo da 14a à 18a semana de gestação. Duas populações diferentes de células de Leydig são responsáveis pela biossíntese de andrógenos durante a vida fetal e pós‑natal: As células de Leydig fetais produzem a testosterona necessária para estimular o desenvolvimento do órgão masculino (criar o epidídimo, os ductos deferentes e as vesículas seminais a partir do ducto mesonéfrico). Entretanto, as células de Leydig fetais eventualmente regridem e degeneram tardiamente no período fetal ou logo após o nascimento. Na puberdade, uma nova população de células de Leydig adultas se diferencia a partir de progenitores de células de Leydig residentes no interstício peritubular. Andrógenos produzidos por este conjunto de células de Leydig desempenham um importante papel na masculinização do cérebro, mediando o comportamento sexual masculino e iniciando a espermatogênese. Embriologia|Reprodutor| M3 Diferenciação dos ductos mesonéfricos e das glândulas acessórias A maior parte do ducto mesonéfrico se diferencia no ducto espermático denominado ducto deferente (Fig. 16‑5). A extremidade mais cranial de cada ducto mesonéfrico se degenera, o apêndice epididimal, e a região do ducto mesonéfrico adjacente ao futuro testículo se diferencia no epidídimo. Durante a 9a semana, 5 a 12 túbulos mesonéfricos na região do epidídimo fazem contato com os cordões da futura rede testicular. Entretanto, até o terceiro mês esses túbulos mesonéfricos epigenitais não se unem efetivamente à futura rede testicular. Os túbulos mesonéfricos epigenitais são subsequentemente denominados ductos eferentes e fornecerão uma via dos túbulos seminíferos e rede testicular até o epidídimo. As vesículas seminais glandulares brotam durante a 10a semana, a partir dos dutos mesonéfricos, perto de seu ponto de junção à uretra. A porção dos ductos deferentes (ducto mesonéfrico) entre cada vesícula seminal e a uretra é consequentemente denominada ducto ejaculatório. Aglândula prostática também começa a se desenvolver na 10a semana como um conjunto de evaginações endodérmicas que brotam da uretra. Essas evaginações prostáticas são induzidas pelo mesênquima circunjacente, cuja atividade indutora provavelmente depende da conversão da testosterona secretada em di‑hidrotestosterona. O mesênquima circunjacente à porção glandular da próstata, derivada do endoderma, se diferencia no músculo liso e tecido conjuntivo da próstata. À medida que a próstata se desenvolve, as glândulas bulbouretrais emparelhadas (ou glândulas de Cowper) brotam da uretra, logo abaixo da próstata. Assim como na próstata, o mesênquima circunjacente ao tecido glandular endodérmico dá origem ao tecido conjuntivo e ao músculo liso dessa glândula. Desenvolvimento genital feminino A via básica de desenvolvimento gonadal resulta no desenvolvimento ovariano. A expressão do gene SRY desvia a via de desenvolvimento das gônadas para a via testicular, iniciando a diferenciação das células de Sertoli. Em embriões femininos, as células somáticas de sustentação XX não possuem o cromossoma Y ou o gene SRY, portanto, elas se diferenciam como células foliculares, em vez de células de Sertoli. Como não há produção de AMH, que se dá pelas células de Sertoli, nem de testosterona, pelas células de Leydig, os ductos genitais masculinos e as estruturas sexuais acessórias não são estimuladas a se desenvolver. Em vez disso, os ductos paramesonéfricos persistem e são estimulados a se diferenciar em tubas uterinas, útero e vagina. Embriologia|Reprodutor| M3 Em indivíduos geneticamente femininos, as células somáticas de sustentação que se delaminam do epitélio celômico não se diferenciam em células de Sertoli como o fazem em indivíduos geneticamente masculinos, mas circundam grupos de células germinativas primordiais. Na mulher, as células germinativas continuam se diferenciando em ovogônias, se proliferam e entram na primeira divisão meiótica para formar ovócitos primários. Estes ovócitos meióticos estimulam as células somáticas de sustentação adjacentes a se diferenciar em células foliculares (ou células granulosas), que então circundam os ovócitos individualmente e formam folículos primordiais dentro do ovário. Em seguida, as células foliculares suspendem o desenvolvimento subsequente dos ovócitos até a puberdade, época em que um grupo de ovócitos individuais retoma a gametogênese a cada mês. Origem da tuba uterina, útero e vagina Na ausência de Sry e expressão subsequente de genes masculinos, as gônadas femininas formam folículos primordiais e células tecais (homólogas às células de Leydig nas mulheres). As células tecais do estroma, as quais apresentam atividade esteroidogênica, expressam apenas baixos níveis dos genes necessários para a síntese de testosterona. Como os ductos mesonéfricos e túbulos mesonéfricos necessitam de testosterona para o seu desenvolvimento, eles rapidamente desaparecem na mulher. Os ductos paramesonéfricos, ao contrário, se desenvolvem sem inibição. É importante lembrar que as extremidades caudais dos ductos paramesonéfricos em crescimento aderem uma à outra logo antes de entrar em contato com a parede posterior da porção uretral do seio urogenital. Neste ponto, a parede do segmento uretral forma um ligeiro espessamento chamado tubérculo sinusal. Assim que as extremidades fundidas dos ductos paramesonéfricos se ligam ao tubérculo sinusal, os ductos paramesonéfricos começar a fundir as suas extremidades, do sentido caudal para o cranial, formando um tubo curto com um único lúmen. Este tubo, denominado canal uterovaginal ou canal genital, se torna o útero e contribui para formar a vagina. As porções craniais, não fundidas, dos ductos paramesonéfricos se tornam as tubas uterinas, e as aberturas craniais em forma de funil dos tubos paramesonéfricos se convertem nos infundíbulos das tubas. Em suma, o útero e vagina começam a se formar quando os ductos paramesonéfricos se fundem próximo ao seu ponto de fixação à parede posterior do seio urogenital. Em seguida, entre o 3o e o 5o mês, os ductos se unem em sentido cranial. Quando os ductos paramesonéfricos são atraídos para fora da parede do corpo posterior, eles arrastam uma dobra da membrana peritoneal consigo, formando os ligamentos largos do útero. Embriologia|Reprodutor| M3 A formação da vagina é pouco compreendida, e diferentes hipóteses foram propostas: 1) o tecido endodermal do tubérculo sinusal se espessa, formando um par de evaginações denominadas bulbos sinovaginais, que se fundem para formar a placa vaginal. Então acredita‑se que a placa vaginal dá a origem à porção inferior da vagina, ao passo que a região caudal do canal uterovaginal forma a vagina superior. Subsequentemente, a placa vaginal é canalizada por meio de um processo de descamação (perda de células), formando o lúmen vaginal. 2) a vagina resulta do crescimento descendente dos ductos mesonéfricos e paramesonéfricos, e que a placa vaginal é, na verdade, derivada dos segmentos persistentes mais caudais do ducto mesonéfrico. Independentemente das origens, a extremidade inferior da vagina em desenvolvimento se alonga entre o 3o e o 4o mês, e a sua ligação com o seio urogenital se desloca caudalmente até que para na parede posterior do seio urogenital e se abre separadamente da uretra dentro do vestíbulo. Desenvolvimento da genitália externa A aparência dos órgãos genitais externos é semelhante em embriões masculinos e femininos até a 12a semana, sendo difícil distinguir o sexo dos embriões nessa idade. Isso ocorre em função de o desenvolvimento da genitália externa ser parecido em ambos os sexos. O mesoderma anterior e cranial ao segmento fálico do seio urogenital se expande, gerando o tubérculo genital, que eventualmente forma o falo. Com a ruptura da membrana cloacal, a maior parte do assoalho do segmento fálico do seio urogenital é perdida, ao passo que o teto do segmento fálico se expande ao longo da superfície inferior do tubérculo genital à medida que o tubérculo genital aumenta. Esta extensão endodérmica forma a placa urogenital (ou placa uretral). Em sua extremidade distal, remanescentes da membrana cloacal adjacentes ao tubérculo genital permanecem como a placa da glande. No início da 5a semana, um par de intumescências denominadas pregas urogenitais (ou pregas cloacais) desenvolve‑se em ambos os lados da placa urogenital por meio de uma expansão do mesoderma subjacente ao ectoderma. Embriologia|Reprodutor| M3 Distalmente, essas pregas se encontram e se juntam ao tubérculo genital. Do mesmo modo, há uma expansão do mesoderma subjacente que flanqueia a membrana anal, formando as pregas anais. Em seguida, as intumescências labioescrotais aparecem em ambos os lados das pregas uretrais. HOMENS: Durante a 6a semana, forma‑se um sulco uretral ao longo da superfície ventral da placa urogenital enquanto acontece o alongamento do tubérculo genital. Inicialmente, o sulco uretral e as pregas uretrais se estendem apenas até uma parte do caminho ao longo do eixo do falo em alongamento. Distalmente, o sulco uretral e a placa urogenital terminam na placa sólida da glande. Como o falo continua a se alongar, as pregas uretrais crescem uma em direção à outra e se fundem na linha média, começando proximalmente na região perineal e estendendo‑se distalmente para a glande do pênis. Issoconverte o sulco uretral em uma uretra peniana tubular. Ainda não se sabe exatamente como a uretra humana se forma no interior da glande do pênis. Acredita-se que a placa sólida da glande se canalize e se junte à uretra peniana em desenvolvimento para formar a uretra da glande e o meato peniano externo. Iniciando‑se no 4o mês, os efeitos da di- hidrotestosterona na genitália externa masculina se tornam perceptíveis: -A região perineal que separa o seio urogenital do ânus começa a se expandir. -As intumescências labioescrotais se fundem na linha média para formar o escroto e as pregas uretrais se fundem para fechar a uretra peniana. -A uretra peniana é totalmente fechada até a 14a semana. Descida dos testículos Durante a vida embrionária e fetal, tanto os testículos quanto os ovários descem da sua posição original no nível do décimo segmento torácico, embora os testículos desçam muito mais que os ovários. Em ambos os sexos, a descida das gônadas depende de um ligamento, o gubernáculo. O encurtamento dos gubernáculos faz com que os testículos desçam para dentro do escroto. Os testículos passam pelo canal inguinal, na parede abdominal anterior. Após a 8a semana, uma evaginação peritoneal denominada processo vaginal forma-se ventralmente aos gubernáculos e empurra Embriologia|Reprodutor| M3 extensões da fáscia transversal em forma de meia, o músculo oblíquo interno e o músculo oblíquo externo, formando assim os canais inguinais. Os canais inguinais se estendem da base da fáscia transversal evertida (anel profundo) à base do músculo oblíquo externo evertido (anel superficial). Após o processo vaginal ter se evaginado para dentro do escroto, os gubernáculos se encurtam e puxam as gônadas através dos canais. MULHERES: Na ausência de di‑hidrotestosterona em embriões femininos, o tubérculo genital não se alonga e as intumescências labioescrotais e pregas uretrais não se fundem ao longo da linha média. O falo se curva inferiormente, formando o clitóris, e a porção fálica do seio urogenital torna‑se o vestíbulo da vagina. As pregas uretrais convertem-se nos pequenos lábios e as intumescências labioescrotais se tornam os grandes lábios. Derivados do gubernáculo na mulher No sexo feminino, o gubernáculo não aumenta de volume ou se encurta. No entanto, os ovários ainda descem um pouco durante o 3o mês e são levados para uma prega peritoneal denominada ligamento largo do útero. Esta translocação ocorre porque o gubernáculo adere aos ductos paramesonéfricos em desenvolvimento. À medida que os ductos paramesonéfricos se fundem a partir de suas extremidades caudais, eles carregam os ligamentos largos e, simultaneamente, puxam os ovários para essas pregas peritoneais. Por consequência, o remanescente do gubernáculo feminino une os grandes lábios à parede do útero e é, então, redirecionado lateralmente, aderindo ao ovário. O gubernáculo inferior torna‑se o ligamento redondo do útero, que liga a fáscia dos grandes lábios ao útero, e o gubernáculo superior se transforma no ligamento redondo do ovário, que liga o útero ao ovário.