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SISTEMAS DE INFORM GERENCIAIS www.esab.edu.br 3 A contabilidade tem como principal objetivo munir seus diversos usuários com informações que sejam úteis para o processo de tomada de decisões. Considerada como sendo uma das ciências mais antigas do mundo, primordialmente a contabilidade nasceu com o propósito de mensurar e controlar a riqueza de diversos tipos de proprietários (reis, proprietários de terras, mercadores, etc.) ou seja, deu-se por uma necessidade gerencial. Entretanto, se analisarmos todo o desenrolar histórico da contabilidade e seu desenvolvimento enquanto ciência, uma regularidade é enquanto, qual, seja, o objeto de munir os interessados de informação acerca do patrimônio e dos negócios. Assim, o objetivo de fornecer informações úteis no decorrer do processo decisório é uma máxima da contabilidade desde os seus primórdios e se mantem até os dias atuais, mesmo com toda transição civilizatória ocorrida no mundo. Após compreendermos que a contabilidade visa subsidiar todos os seus usuários com informações úteis no processo decisório, alguns questionamentos podem surgir, entre eles: quem são os usuários da informação contábil? Por que a informação contábil é útil? Quais informações a contabilidade fornece? Para respondermos a essas perguntas, precisamos antes entender o ambiente organizacional no qual a contabilidade atua, ou seja, é indispensável a compreensão acerca das principais dinâmicas existentes nas firmas considerando todos os agentes envolvidos. www.esab.edu.br 4 Durante muitos anos as companhias assumiram uma estrutura de propriedade altamente concentrada, onde as atribuições de gerência e propriedade estavam vinculadas a um único indivíduo. Nessa situação, o proprietário detinha o capital e, também, tomava conta de toda a empresa. A informação contábil era útil para mensurar o patrimônio e subsidiar a tomada de decisão gerencial, fornecendo informações sobre o retorno do capital investido, da situação financeira e patrimonial, mas isso sempre ligado a um controle individual ou familiar. Com os avanços, rupturas e evolução das estruturas sociais de produção, sobretudo com o surgimento das empresas industriais e as grandes organizações, uma nova configuração de gestão é requerida. Esse novo perfil de empresa requer que cada vez mais recursos de terceiros e, também, de demanda profissionais qualificados para gerir o grande volume de capital e atividades. Nesse cenário surge a segregação entre propriedade e gestão. Agora a propriedade está nas mãos de diversos detentores de capital (a sociedade por ações) e sua gestão, por vezes, divide-se entre agentes contratados para administrar as atividades ou um pequeno grupo de proprietários. Em qualquer uma dessas situações adotadas surge uma nova demanda por parte da contabilidade por conta da assimetria informacional proveniente dos potenciais conflitos de agência existentes. Agora a contabilidade além de informar o retorno do capital investido e da situação financeira e patrimonial, funciona como redutora de assimetria informacional entre os diversos usuários, cada qual com sua demanda específica. Com base no exposto, chegamos a conclusão de que a contabilidade trabalha fornecendo informações para todos os interessados na situação econômica-financeira-patrimonial da companhia, sejam eles usuários internos ou usuários externos. As informações contábeis são fornecidas por meio de demonstrações contábeis cada qual com um objetivo próprio, tema da próxima unidade. www.esab.edu.br 5 A figura XX, a seguir, apresenta de forma esquematizada os principais Stakeholders de uma firma. Figura XX: Stakeholders das empresas Assim, pode-se afirmar que a desenvolvimento de estruturas de demonstrações contábeis trata-se de uma empreitada dessa área do conhecimento em torno da organização de mecanismos que sejam, ao mesmo tempo, técnicos e científicos e consigam responder a contento às demandas por informações úteis por parte dos diversos usuários. Conforme definido nas Normas Brasileiras de Contabilidade (NBC TA 200): Demonstrações contábeis são a representação estruturada de informações contábeis históricas, incluindo notas explicativas relacionadas, com a finalidade de informar os recursos econômicos ou obrigações da entidade em determinada data no tempo ou as mutações de tais recursos ou obrigações durante um período de tempo, em conformidade com a estrutura de relatório financeiro (CONSELHO ..., 2009). Baseados nos objetivos expostos pelo Comitê de Pronunciamentos Contábeis (CPC) em seu Pronunciamento Técnico CPC 26 (R1), podemos afirmar que a apresentação das demonstrações contábeis de forma padronizada, objetiva e clara www.esab.edu.br 6 assegura a comparabilidade tanto com as demonstrações contábeis de períodos anteriores da mesma entidade quanto com as demonstrações contábeis de outras entidades. Isso porque no seu desenvolvimento, as instituições legais que regem tecnicamente e inspiram cientificamente a contabilidade estabeleceram requisitos gerais para a apresentação das demonstrações contábeis, diretrizes para a sua estrutura e os requisitos mínimos para seu conteúdo. Martins, Diniz e Miranda (2012, p. 61) lembram que: [...] a contabilidade é um modelo que procura representar o que vem ocorrendo com a empresa, mas modelo, por definição, é uma aproximação (simplificação) da realidade, nunca a própria realidade. Sempre estará mostrando algo de maneira mais simplificada do que de fato é, e estarão sempre faltando informações para se entender de forma completa o que está ocorrendo. As palavras dos autores chamam a atenção para a necessária busca incessante do desenvolvimento de uma contabilidade capaz de fornecer informações cada vez mais acurada sobre a realidade das instituições seja de natureza privada ou pública, de sociedade limitada ou por ações. Por exemplo, conforme exposto na apresentação das Normas Brasileiras de Contabilidade (NBC-T1), que trata da estrutura conceitual para a elaboração e apresentação das demonstrações contábeis, com o desenvolvimento da contabilidade é possível fornecer informação adequada para que usuários externos tomem decisões nos seguintes sentidos: • Decidir quando comprar, manter ou vender um investimento em ações; • Avaliar a administração quanto à responsabilidade que lhe tenha sido conferida, qualidade de seu desempenho e prestação de contas; • Avaliar a capacidade da entidade de pagar seus empregados e proporcionar-lhes outros benefícios; www.esab.edu.br 7 • Avaliar a segurança quanto à recuperação dos recursos financeiros emprestados à entidade; • Determinar políticas tributárias; • Determinar a distribuição de lucros e dividendos; • Preparar e usar estatísticas da renda nacional; ou regulamentar as atividades das entidades. A fim de atingir os vários objetivos expostos até aqui, no Brasil um conjunto completo de demonstrações contábeis deve conter: balanço patrimonial, demonstrações do resultado, demonstração das mutações do patrimônio líquido, demonstração dos fluxos de caixa e respectivas notas explicativas. É o Comitê de Pronunciamento Contábeis (CPC) brasileiro quem fornece os subsídios normativos para que todas essas demonstrações sejam organizadas. Além disso, caso seja necessário, e com o fim de manter essa apresentação moderna e consonante com as normas internacionais, as estruturas podem sofrer alguma atualização. Assim, um Curso de Estrutura das Demonstrações Contábeis busca oferecer aos alunos o conhecimento aprofundado sobre como a contabilidade brasileira se organiza a fim de atingir seu objetivo fundamental, que é o oferecimento de informação útil, acurada que seja útil para tomada de decisão de diversos usuários, com variadas demandas.www.esab.edu.br 8 Antes de adentramos às minúcias do processo de convergência vamos refletir sobre o seguinte questionamento: Por que harmonizar as normas contábeis brasileiras com as normas internacionais? Vamos pensar em três pontos: comunicação, divulgação e comparabilidade. Niyama (2010) ressalta que a contabilidade é a principal linguagem dos negócios, e as diferenças internacionais na divulgação das informações financeiras dificultam o processo de comunicação. Para as entidades é interessante que potenciais investidores externos tenham a capacidade de compreender suas demonstrações contábeis. Assim, uma das razões da convergência e da harmonização reside na possibilidade de comparar e poder ampliar a divulgação e comunicação das informações contábeis, ampliando o leque de usuários dessas informações. Até o ano de 2008 as empresas brasileiras que tivessem ações listadas em bolsas de valores de outros países precisavam elaborar suas demonstrações com base nas normas brasileiras de contabilidade e nas normas dos outros país. Existe diferença entre harmonização e padronização? Segundo Niyama (2010) harmonizar é um processo que busca manter as particularidades de cada país, de modo a apenas reconciliar os sistemas contábeis com os de outros países e melhorar a troca de informações, ao passo que padronização se refere a uniformização de critérios não permitindo flexibilização.A figura abaixo representa essas diferenças. www.esab.edu.br 9 Figura XX: Objetivos e características da harmonização e da padronização A história da harmonização contábil começa na década de 1930 logo após quebra da Bolsa de Valores de Nova York. Após aquele grande crash buscou-se criar normas para a prática contábil, surgindo assim os Princípios Fundamentais de Contabilidade Geralmente Aceitos (United States Generally Accepted Accounting Principles – US GAAP) (SARQUIS; VOESE, 2014). Em 1973 foi criado o Financial Accounting Standards Board (FASB). Sua criação foi permeada por apoios políticos, o que favoreceu a imposição de suas normas por todo o território norte- americano (LOPES; MARTINS, 2005). Esse órgão é responsável pela emissão de pronunciamentos contábeis dos US GAAP. Tais pronunciamentos recebem o nome de SFAC (SCHIMIDT; SANTOS; FERNANDES, 2006). Nesse sentido, o FASB possui uma série de pronunciamentos emitidos. Por exemplo, o SFAC nº 1 de novembro de 1978 estabelece os objetivos da contabilidade para as empresas com finalidades lucrativas, o SFAC nº 2 de maio de 1980 apresenta as características qualitativas da informação contábil, o SFAC nº 6 estabelece os elementos das demonstrações contábeis para todas www.esab.edu.br 10 as empresas, e assim por diante (LOPES; MARTINS, 2005). Em 1973 foi criado o International Accounting Standards Committee (IASC) com a finalidade de formular e publicar um novo padrão de normas contábeis que pudesse ser aceito mundialmente (SARQUIS; VOESE, 2014). Em 2001 o IASC sofreu uma abrangente reorganização e passou a ser denominado IASB. O IASB é uma organização internacional sem fins lucrativos que tem por objetivo publicar e atualizar as normas internacionais de contabilidade. Os pronunciamentos emitidos por esse órgão são denominados IFRS (International Financial Reporting Standard) ou Normas Internacionais de Informação Financeira. A filosofia de trabalho do IASB é baseada em princípios e não em regras, priorizando a essência sobre a forma. Entendidos sobre os principais órgãos internacionais de normas contábeis partimos para o processo de convergência das normas. A criação do IASB e a adoção plena dos IFRS pelas empresas da União Europeia listadas em bolsa de valores foram fatos que contribuíram fortemente para a harmonização contábil (IKUNO; NIYAMA; BOTELHO; SANTANA, 2012). A averiguação de diferentes práticas de país para país também influenciou o início da convergência. A Comissão de Valores Mobiliários foi criada em 1990 e desde sua criação já passou a basear suas normas às do órgão internacional IASB (GELBCKE et al., 2018). A partir das edições das Leis nº 11.638 de 2007, lei nº 11.941 de 2009 foram produzidas novas normas contábeis aderindo a convergência completas às normas internacionais (GELBCKE et al., 2018). Assim, as alterações trazidas por essas leis na Lei nº 6.404 de 1.976 representam o marco inicial da convergência no Brasil. O Comitê de Pronunciamentos Contábeis (CPC) foi criado em 2005 por meio da Resolução nº 1055 emitida pelo Conselho Federal de Contabilidade (CFC). Esse comitê é responsável por estudar, preparar e emitir pronunciamentos técnicos em www.esab.edu.br 11 convergência com os IFRS emitidos pelo IASB (NIYAMA; SILVA, 2017). Ou seja, ele deve estudar as normas internacionais de contabilidade, traduzindo-as e adequando-as ao cenário brasileiro (COSTA, THEÓPHILO; YAKAMOTO, 2012). Adicionalmente torna-se oportuno abordar acerca das diferenças dos sistemas contábeis entre os países. Podemos dividir os sistemas legais dos países em basicamente dois tipos: Common-Law e Code-Law. O sistema common-law é de origem inglesa e mais baseado nos costumes, permitindo maior flexibilidade. Já o sistema code-law, surgido na Europa Continental baseia-se primariamente na lei e não permite flexibilidade. O Brasil já foi considerado como inteiramente code-law, todavia, com a convergência das normas contábeis está caminhando para um sistema common-law. A compreensão de como o arcabouço legal repercute na contabilidade passa pelo entendimento dos códigos de leis observados nos países e nos permite classificá-los em dois sistemas. O primeiro deles, denominado code law, evoluiu do direito romano e tem como caraterística o apego às normas, que são originadas por meio de um processo formal de criação e direcionam e delimitam a ação dos indivíduos a ele submetidos. Por outro lado, o segundo sistema de leis, chamado de common law, é caracterizado por ser um sistema em que a legislação se baseia nos costumes, usos e tradição local, e a aplicação das leis leva em conta o entendimento dos fatos. Nesse sistema a preocupação foca a particularidade da execução de determinada ação, em detrimento as formas envolvendo a sua execução. A prática desses sistemas tem clara relação com a contabilidade. Em países que adotam o code law, a regulamentação das práticas contábeis pelo governo é muito maior, aumentando a rigidez dos procedimentos de reconhecimento, mensuração e evidenciação dos fatos contábeis. A margem de manobra para os www.esab.edu.br 12 profissionais é pequena, aumentando a preocupação com o atendimento da legislação. Assim, normas e decretos se tornam a base para a escrituração contábil, demonstrando uma maior preocupação com a forma das informações divulgadas. Nas nações em que o sistema common law é vigente, há uma maior discricionariedade para o profissional contábil exercer o seu trabalho, uma vez que, nesses países, há uma menor interferência governamental e o mercado financeiro possui uma influência significativa na regulação da contabilidade. Nesses casos, o aspecto fiscalizador perde importância, pois o próprio interesse dos agentes do mercado na busca de uma melhor informação para aplicação de seus recursos faz com que os profissionais do setor contábil busquem a adoção de práticas que possam melhor traduzir a situação da organização. Conforme destaca Afonso (2015) como resultado, uma maior liberdade para agir e a necessidade de uma melhor evidenciação dos fatos proporciona uma maior preocupação com a clareza e a essência das informações contábeis. www.esab.edu.br 13 Os números contábeis são evidenciados periodicamente aos diversos usuários da informação de várias maneiras, além disso, possuem diversas funções no processo de divulgaçãodaquilo que chamamos de demonstrações contábeis ou demonstrações financeiras. Assim, os relatórios são preparados conforme as necessidades dos diversos stakeholders e/ou usuários da informação contábil. Naturalmente, uma demonstração sobre o resultado anual de uma pequena empresa de serviços evidenciará muito menos detalhes se comparado aos disponibilizados por uma grande indústria, que, normalmente, tem um elevado número de dados contábeis a serem evidenciados, bem como diversas partes interessadas em seus relatórios, além de legislações ou normatizações específicas a serem cumpridas. Dos diversos relatórios existentes na contabilidade, destacam-se aqueles que são obrigatórios de acordo com a legislação brasileira (compulsórios por exigibilidade). A seguir, será apresentado um apanhado desse conjunto de demonstrações contábeis, inclusive algumas não obrigatórias. Todavia, trata-se de uma apresentação sumária, cujos pormenores serão apresentados ao longo das unidades desse curso. a) Balanço Patrimonial A informação a ser apresentada no balanço patrimonial tem uma prática bastante consolidada ao longo do tempo no Brasil, além de ser um dos mais importantes relatórios gerados pela www.esab.edu.br 14 contabilidade. Através dele pode-se identificar a posição patrimonial e financeira da empresa em determinada data, representando, portanto, uma posição estática (GELBCKE et al., 2018). Segundo o art. 178 da Lei nº 6.404/76, as contas patrimoniais devem ser classificadas segundo os elementos do patrimônio que são registrados, e agrupadas de modo a facilitar o conhecimento e a análise da situação financeira da firma. Além disso, o CPC 26 (R1) acrescenta que a adequação das contas patrimoniais deve ser julgada com base na (i) natureza e liquidez dos ativos, (ii) na função dos ativos na entidade, e (iii) nos montantes, natureza e prazo dos passivos. O Balanço Patrimonial é composto por elementos básicos, que são os ativos, passivos e o patrimônio líquido. O QUADRO XX sumariza a definição desses grandes grupos de contas patrimoniais. Quadro XX: Grandes grupos de contas do Balanço Patrimonial Balanço Patrimonial Ativo: compreende recursos controlados por uma entidade e dos quais esperam que flua benefícios econômicos futuros. Passivo: compreende as exigibilidades e obrigações. Patrimônio Líquido: representa a diferença entre o ativo e o passivo, ou seja, o valor líquido da empresa. É possível observar pela estrutura acima que o Balanço Patrimonial é dividido em duas colunas: a do lado esquerdo é o denominado Ativo, enquanto a do lado direito passivo e patrimônio líquido. Essa estruturação é mera convenção, visto que há países em que ocorre justamente o contrário. A ordenação adequada e a apresentação uniforme das contas no Balanço patrimonial é essencial para que os usuários da informação tenham condições de proceder a análise e interpretação mais acurada da situação patrimonial e financeira www.esab.edu.br 15 da empresa. Nas empresas não financeiras é usual que os ativos não circulantes contenham ativos tangíveis, intangíveis e financeiros de longo prazo. Os ativos circulantes neste tipo de empresa são identificados como os itens que participam do ciclo operacional, ou seja, do capital de giro. A exceção para este critério ocorre quando a demonstração está baseada no critério de liquidez, geralmente aplicável às instituições financeiras. b) Demonstração do Resultado do Exercício e Demonstração do Resultado Abrangente De acordo com Gelbcke et al. (2018, p. 70): A Lei nº 6.404/76 define o conteúdo da Demonstração do Resultado do Exercício, que deve ser apresentada na forma dedutiva, com os detalhes necessários das receitas, despesas, ganhos e perdas e definindo claramente o lucro ou prejuízo líquido do exercício, e por ação, sem confundir-se com a conta de Lucros Acumulados, onde é feita a distribuição ou alocação do resultado. Foi o CPC 26 (R1) – “Apresentação das Demonstrações Contábeis” que trouxe a obrigatoriedade de adoção de duas demonstrações: a do resultado do exercício e a do resultado abrangente. Conforme estabelecido nesse Pronunciamento, a demonstração do resultado e outros resultados abrangentes (demonstração do resultado abrangente) devem apresentar, além das seções da demonstração do resultado e de outros resultados abrangentes: (a) o total do resultado (do período); (b) total de outros resultados abrangentes; (c) resultado abrangente do período, sendo o total do resultado e de outros resultados abrangentes. www.esab.edu.br 16 Gelbcke et al. (2018, p. 71) chamam a atenção para o fato de que: O resultado abrangente é a mutação que ocorre no patrimônio líquido durante um período que resulta de transações e outros eventos que não derivados de transações com os sócios na sua qualidade de proprietário, ou seja, é o resultado do exercício acrescido de ganhos ou perdas que eram reconhecidos direta e temporariamente na Demonstração das Mutações do Patrimônio Líquido. Para a Demonstração do Resultado Abrangente, a entidade pode optar por apresentá-la separadamente ou dentro das mutações do patrimônio líquido. c) Demonstração das Mutações do Patrimônio Líquido e Demonstração de Lucros ou Prejuízos acumulados Tratam-se de duas demonstrações que são bastante próximas, e por essa razão a Lei das Sociedades por Ações admite a divulgação de uma das duas. Todavia, é mister ressaltar que Demonstração das Mutações do Patrimônio Líquido traz um conjunto mais completo de contas e já inclui os lucros ou prejuízos acumulados. Por essa razão, o CPC 26 considera apenas a primeira demonstração. Com a Demonstração das mutações do patrimônio líquido, apresentam-se as seguintes informações: a) Mutações globais (novas integralizações de capital, resultado do exercício, ajustes de exercícios anteriores, dividendos, ajuste de avaliação patrimonial etc.); b) Mutações internas (incorporações de reservas ao capital, transferências de lucros acumulados para reservas e vice-versa etc.). www.esab.edu.br 17 d) Demonstração dos Fluxos de Caixa O “CPC 03 (R2) - Demonstração dos Fluxos de Caixa”, que estabelece os requisitos necessários para a apresentação da demonstração dos fluxos de caixa e respectivas divulgações, destaca em seu objetivo que: Informações sobre o fluxo de caixa de uma entidade são úteis para proporcionar aos usuários das demonstrações contábeis uma base para avaliar a capacidade de a entidade gerar caixa e equivalentes de caixa, bem como as necessidades da entidade de utilização desses fluxos de caixa. O CPC 03 (R2) também estabelece que na apresentação do fluxo de caixa são requeridas as seguintes unidades: a) Atividades operacionais: que são as principais atividades geradoras de receita da entidade; b) Atividades de investimento: que são as aquisições e vendas de ativos de longo prazo; c) Atividades de financiamento: que são atividades que resultam em mudanças no tamanho e na composição do patrimônio líquido e dos empréstimos da empresa. Esses itens devem ser condizentes com os negócios da empresa. Por fim, destaca o CPC 03 (R2): A demonstração dos fluxos de caixa, quando usada em conjunto com as demais demonstrações contábeis, proporciona informações que permitem que os usuários avaliem as mudanças nos ativos líquidos da entidade, sua estrutura financeira (inclusive sua liquidez e solvência) e sua capacidade para mudar os montantes e a época de ocorrência dos fluxos de caixa, a fim de adaptá-los às mudanças nas circunstâncias e oportunidades. www.esab.edu.br 18 e) Demonstração do Valor Adicionado De acordo com o Gelbcke et al. (2018, p. 72) A DVA tem como objetivo principal informar o valorda riqueza criada pela empresa e a forma de sua distribuição. Não deve ser confundida com a Demonstração do Resultado do Exercício, pois esta tem suas informações voltadas quase exclusivamente para os sócios e acionistas, principalmente na apresentação do lucro líquido, enquanto a DVA está dirigida para a geração de riquezas e sua respectiva distribuição pelos fatores de produção (capital e trabalho) e ao governo. A obrigatoriedade dessa demonstração para as companhias abertas ocorreu com a promulgação da Lei nº 11.638/07, que atualizou a Lei das Sociedades Anônimas 6.404/76, antes desse ato sua divulgação era incentivada por instituições como a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e o Conselho Federal de Contabilidade (CFC). Interessante notar que a DVA não faz parte das demonstrações obrigatórias previstas nas normas internacionais de contabilidade. f) Balanço Social De acordo com o Gelbcke et al. (2018, p. 80) O Balanço Social, componente não obrigatório das demonstrações contábeis requeridas, tem por objetivo demonstrar o resultado da interação da empresa com o meio em que está inserida. Possui quatro vertentes: o Balanço Ambiental, o Balanço de Recursos Humanos, a Demonstração do Valor Adicionado e Benefícios e Contribuições à Sociedade em geral. www.esab.edu.br 19 Assim, vê-se que o balanço social exprime as responsabilidades assumidas pelas empresas com o fim de dar conta à sociedade acerca de dos usos que faz do patrimônio público, especialmente os recursos naturais e humanos que contribuem para o aumento do valor da empresa. g) Notas Explicativas As notas explicativas trazem informações adicionais em relação às outras demonstrações contábeis. Conforme o CPC 26: As notas explicativas oferecem descrições narrativas ou segregações e aberturas de itens divulgados nessas demonstrações e informação acerca de itens que não se enquadram nos critérios de reconhecimento nas demonstrações contábeis. De acordo com Iudícibus, Martins e Gelbcke (2010, p. 6) há um mínimo requerido nas notas explicativas, havendo indução de ampliação quando forem necessários esclarecimentos acerca da situação patrimonial e dos resultados do exercício. No mínimo devem haver informações sobre a base de preparação das demonstrações financeiras e de práticas contábeis aplicadas. O que se busca com as notas explicativas é que elas forneçam informações importantes para direcionar os trabalhos daquele que avalia os relatórios, detalhando, sempre que necessário ou possível, os grupos de contas do balanço patrimonial. Ainda conforme Iudícibus, Martins e Gelbcke (2010, as notas explicativas podem descrever os critérios de avaliação dos elementos patrimoniais e das práticas contábeis adotadas, os ajustes dos exercícios anteriores, reavaliações, ônus sobre ativos. Podem ainda detalhar a composição das dívidas de longo prazo, do capital e dos investimentos relevantes em outras empresas, etc. www.esab.edu.br 20 Outras publicações podem aparecer, dependendo do tamanho da empresa, de sua composição acionária, das obrigatoriedades requeridas por leis específicas, entre elas podemos citar: Relatório da Administração; Parecer do Conselho Fiscal; Relatório do comitê de auditoria e o Relatório dos auditores independentes. Esses relatórios e pareceres serão tratados ao longo de nosso curso. www.esab.edu.br 21 Nesta unidade estudaremos as diretrizes, normas, obrigatoriedades e a evolução desses aspectos normativos na contabilidade. De maneira geral, a contabilidade sempre foi vista como cumprimento de obrigações fiscais e tributárias e o contador visto como emissor de guias de recolhimento de tributos. Apesar de essa não ser a realidade atual, há um certo fundamento para esses pensamentos, decorrente do fato de a contabilidade ter sido, ao longo dos anos, influenciada por limites e critérios fiscais, principalmente no que diz respeito à legislação do Imposto de Renda. Essa influência limitou, de certa forma, o desenvolvimento dos chamados princípios contábeis, uma vez que a contabilidade ficava por muito tempo orientada para a legislação fiscal. Apesar disso, já em 1976, a Lei 6.404 direcionava que a escrituração contábil deveria ser feita seguindo as determinações da referida lei e os princípios contábeis geralmente aceitos. Nesse sentido, caso a empresa adotasse critérios contábeis diferentes dos referidos na Lei das S.A. e dos princípios geralmente aceitos, deveria manter registros auxiliares para atender à legislação tributária. Isso significa que a evidenciação contábil ficaria desvinculada da legislação do Imposto de Renda, o que permitiria a elaboração das demonstrações contábeis sem prejuízo da declaração do Imposto de Renda e vice-versa. No processo de elaboração e divulgação das demonstrações contábeis, é mister lembrar que elas devem apresentar algumas www.esab.edu.br 22 características para que atinjam seus objetivos, principalmente seguindo as orientações do Comitê de Pronunciamentos Contábeis inseridas no Pronunciamento Conceitual Básico – “Estrutura Conceitual para Elaboração e Divulgação de Relatório Contábil- Financeiro”. Além disso, vimos que o Pronunciamento Técnico CPC 26 (R1) – “Apresentação das Demonstrações Contábeis” também atribui direcionamentos e estabelece que a organização que apresentar as demonstrações contábeis em conformidade com os Pronunciamentos, Orientações e Interpretações do CPC deve destacar isto de maneira explícita. Caso não seja possível atender a algum requisito, a entidade também deve divulgar o que motivou a não aplicação e quais fatores ou aspectos não foram cumpridos. Lembremos que grande parte da obrigatoriedade da contabilidade se refere à Lei das S.A. Segundo a Lei 6.404/76, alterada pela Lei 11.638/2007, as empresas S.A abertas ou fechadas estão obrigadas a publicar: I. balanço patrimonial; II. demonstração dos lucros ou prejuízos acumulados; III. demonstração do resultado do exercício; e IV. demonstração dos fluxos de caixa; e ainda V. se companhia aberta, demonstração do valor adicionado. Além disso, de maneira complementar às demonstrações contábeis, as empresas devem fazer uso de Notas Explicativas e outros quadros analíticos ou demonstrações que possam ser necessárias para se atingir os propósitos de divulgação e informação da situação da entidade. Apesar disso, a mesma lei apresenta algumas exceções quanto às companhias fechadas: a) A companhia fechada com menos de vinte acionistas e patrimônio líquido inferior a um milhão de reais não está obrigada www.esab.edu.br 23 a publicar suas demonstrações financeiras desde que elas sejam arquivadas na Junta Comercial. b) A companhia fechada, com patrimônio líquido inferior a dois milhões de reais, não está obrigada a elaborar e publicar a demonstração dos fluxos de caixa. Já as Pequenas e Médias Empresas (PME’s) podem adotar, por opção, a NBC TG 1000 - Contabilidade para Pequenas e Médias Empresas. Segundo a NBC TG 1000, o conjunto de demonstrações contábeis completo dessas entidades deve conter: (a) balanço patrimonial ao final do período; (b) demonstração do resultado do período de divulgação; (c) demonstração do resultado abrangente do período de divulgação; (d) demonstração das mutações do patrimônio líquido para o período de divulgação; (e) demonstração dos fluxos de caixa para o período de di- vulgação; (f) notas explicativas, compreendendo o resumo das políti- cas contábeis significativas e outras informações explanatórias. A norma destaca ainda que caso as únicas alterações do patrimônio líquido forem derivadas do resultado, da distribuição de lucro, da correção de erros de períodos anteriores e de mudanças de políticas contábeis, a entidade podeapresentar a Demonstração de Lucros ou Prejuízos Acumulados em substituição à demonstração do resultado abrangente e da demonstração das mutações do patrimônio líquido. Dessa forma, seguindo as normatizações, destaca-se a importância da criação do Comitê de Pronunciamentos Contábeis, que surge principalmente da necessidade de termos uma única normatização contábil no Brasil, com mecanismos de aprovação www.esab.edu.br 24 legal, mas não limitada por esse vínculo, e caminhando rumo a uma única Contabilidade mundial. Assim, o CFC – Conselho Federal de Contabilidade emitiu a Resolução nº 1.055/05, que cria o comitê, o qual, apesar de estar suportado pelo CFC, possui independência em suas deliberações – Pronunciamentos Técnicos, Interpretações e Orientações. Gelbcke et al. (2018) destacam que o modelo proposto pelo Comitê brasileiro possui resultados ao passo em que se juntam os preparadores da informação contábil, os auditores independentes, os analistas e usuários, os intermediários e a academia para produzir uma única norma. Ressalta-se que no Brasil, a Constituição Federal impede que órgãos governamentais deleguem funções a outras instituições, o que impossibilita que o Comitê de Pronunciamentos Contábeis emita resoluções. Assim, o trâmite adotado no Brasil é o seguinte: o CPC emite seu Pronunciamento Técnico, após discussão com as entidades envolvidas e audiência pública; posteriormente, tem- se o órgão público ou mesmo privado emitindo sua própria resolução, acatando e determinando o seguimento desse Pronunciamento do CPC. Somente a partir daí é que fica o Pronunciamento transformado em norma a ser seguida pelas entidades que estiverem subordinadas aos respectivos órgãos que emitiram as resoluções. Como já comentado, o CPC emite Pronunciamentos Técnicos, Interpretações Técnicas e Orientações, as duas últimas para auxiliar no entendimento dos procedimentos e dar direcionamentos. Apresentamos a seguir uma lista dos Pronunciamentos Técnicos emitidos pelo Comitê: • Pronunciamentos Técnicos: o CPC “00” – Pronunciamento Conceitual Básico (R1) – Estrutura Conceitual para Elaboração e Divulgação de Relatório Contábil-Financeiro www.esab.edu.br 25 o CPC 01 (R1) – Redução ao Valor Recuperável de Ativos o CPC 02 (R2) – Efeitos das Mudanças nas Taxas de Câmbio e Conversão de Demonstrações Contábeis o CPC 03 (R2) – Demonstração dos Fluxos de Caixa o CPC 04 (R1) – Ativo Intangível o CPC 05 (R1) – Divulgação sobre Partes Relacionadas o CPC 06 (R2) – Operações de Arrendamento Mercantil o CPC 07 (R1) – Subvenção e Assistência Governamentais o CPC 08 (R1) – Custos de Transação e Prêmios na Emissão de Títulos e Valores Mobiliários o CPC 09 – Demonstração do Valor Adicionado” CPC 10 (R1) – “Pagamento Baseado em Ações o CPC 11 – Contratos de Seguro o CPC 12 – Ajuste a Valor Presente o CPC 13 – Adoção inicial da Lei n o 11.638/07 e da Medida Provisória n o 449/08 (válido só para 2008). o CPC 14 – Instrumentos Financeiros: Reconhecimento, Mensuração e Evidenciação o CPC 15 (R1) – Combinação de Negócios o CPC 16 (R1) – Estoques o CPC 17 (R1) – Contratos de Construção o CPC 18 (R2) – Investimento em Coligada, em Controlada e em Empreendimento Controlado em Conjunto o CPC 19 (R2) – Negócios em Conjunto o CPC 20 (R1) – Custos de Empréstimos o CPC 21 (R1) – Demonstração Intermediária o CPC 22 – Informações por Segmento o CPC 23 – Políticas Contábeis, Mudança de Estimativa e Retificação de Erro o CPC 24 – Evento Subsequente www.esab.edu.br 26 o CPC 25 – Provisões, Passivos Contingentes e Ativos Contingentes o CPC 26 (R1) – Apresentação das Demonstrações Contábeis o CPC 27 – Ativo Imobilizado o CPC 28 – Propriedade para Investimento o CPC 29 – Ativo Biológico e Produto Agrícola o CPC 30 (R1) – Receitas. Revogado a partir de 1º/01/2018 o CPC 31 – Ativo Não Circulante Mantido para Venda e Operação Descontinuada o CPC 32 – Tributos sobre o Lucro o CPC 33 (R1) – Benefícios a Empregados o CPC 35 (R2) – Demonstrações Separadas o CPC 36 (R3) – Demonstrações Consolidadas o CPC 37 (R1) – Adoção Inicial das Normas Internacionais de Contabilidade o CPC 38 – Instrumentos Financeiros: Reconhecimento e Mensuração. Revogado a partir de 1º/01/2018. o CPC 39 – Instrumentos Financeiros: Apresentação. o CPC 40 (R1) – Instrumentos Financeiros: Evidenciação o CPC 41 – Resultado por Ação o CPC 42 - Contabilidade em Economia Hiperinflacionária o CPC 43 (R1) – Adoção inicial dos Pronunciamentos Técnicos CPC 15 a 41 o CPC 44 – Demonstrações Combinadas o CPC 45 – Divulgação de Participações em Outras Entidades o CPC 46 – Mensuração do Valor Justo o CPC 47 – Receita de Contrato com Cliente o CPC 48 – Instrumentos Financeiros www.esab.edu.br 27 o Pronunciamento Técnico PME – Contabilidade para Pequenas e Médias Empresas Como visto na lista anterior, um pronunciamento “CPC” pode, além de ser substituído por outro, sofrer algumas alterações e revisões, a fim de se adequar às novas normas, melhorar o conteúdo das informações ou modificar o escopo de abrangência, por exemplo. Gelbcke et al. (2018) destacam ainda, como aspectos normativos da contabilidade e da sua independência, a Promulgação das Leis nos 11.638/07, 11.941/09 (MP nos 449/08) e 12.973/14. Segundo os autores, a partir da promulgação dessas legislações, passa a ser possível praticar a Contabilidade no Brasil sem influências diretas ou indiretas dos aspectos de natureza fiscal. Desde a vigência das legislações aqui comentadas, passam a exercer juntas as normas contábeis e as normas fiscais, mas de maneira independente. Outro aspecto destacado pelos autores são as principais consequências da adoção das normas internacionais, que trazem impactos na obrigatoriedade das divulgações, mensurações, evidenciações das informações contábeis. Algumas dessas características básicas são: contabilidade baseada mais em princípios do que regras; prevalência da essência sobre a forma; importância de controle, obtenção de benefícios e ocorrência de riscos do que da própria propriedade jurídica de elementos patrimoniais; e contabilidade para todos os usuários e não somente para o contador. Por fim, cabe ressaltar que esta unidade se centrou no estabelecimento de questões legais e/ou normativas sobre a contabilidade, para a compreensão da relevância das legislações para a construção do conhecimento contábil. Embora a presente unidade não tenha intuito de esgotar toda a legislação pertinente, as principais características e aspectos legais foram tratados, as quais são fundamentais para aqueles que buscam se lançar no mundo da ciência e da prática contábil. www.esab.edu.br 28 Conforme aprendemos na unidade anterior, apesar de toda transição civilizatória ocorrida no mundo, a contabilidade manteve inalterada sua máxima de fornecer informações úteis para processo decisório de seus diversos usuários. Vimos, também, que para atingir seu fim, a contabilidade se vale de uma série de demonstrações, cada qual com uma finalidade específica (assunto que abordaremos em unidades posteriores). Entretanto, um possível questionamento pode surgir a partir da afirmação de que a contabilidade visa fornecer informações úteis para o processo de tomada de decisão de seus diversos usuários, qual seja: o que torna a informação contábil-financeira útil? Para que tal questionamento seja respondido, precisamos abordar sobre os “princípios” que sustentam a contabilidade. Colocamos a palavra princípios entre aspas, por conta da revogação da Resolução do Conselho Federal de Contabilidade (CFC) nº 750/1993, que versava sobre os Princípios Fundamentais da Contabilidade. A resolução foi revogada a favor da adoção efetiva da Resolução nº 1.374/2011 – “NBC TG Conceitualpara Elaboração de Relatório Financeiro”. Embora não exista mais no ordenamento jurídico uma norma que estabeleça explicitamente os Princípios Fundamentais da Contabilidade, a contabilidade permanece embasada em princípios, pois eles são os pilares básicos de sustentação de qualquer campo do saber. Enquanto www.esab.edu.br 29 Ciência Social Aplicada que se constitui, na contabilidade não seria diferente. Portanto, os princípios contábeis foram revogados, mas sua essência permanece implícita nas normas e técnicas contábeis. Ao longo desse curso vamos utilizar o termo princípios, mas lembrem-se que estaremos sempre nos referindo aos princípios gerais da contabilidade, e não a normas especificas. A Resolução do CFC nº 1.374/2011 - NBC TG ESTRUTURA CONCEITUAL – Estrutura Conceitual para Elaboração e Divulgação de Relatório Contábil-Financeiro, conforme destaca Pena (2008) é utilizada atualmente como fonte dos conceitos básicos e fundamentais a serem adotados na elaboração e na interpretação dos pronunciamentos técnicos emitidos pelo CPC, bem como na preparação e utilização das demonstrações contábeis das entidades comerciais, industriais e outras. Dessa maneira, a estrutura conceitual recepciona as características essenciais para que a contabilidade alcance seu objetivo de prover informações uteis no processo de tomada de decisões de seus usuários, dessa maneira, são elas: características qualitativas fundamentais e as características qualitativas de melhorias. As características qualitativas fundamentais, conforme o próprio nome sugere, são indispensáveis quando da elaboração das demonstrações contábeis. A estrutura conceitual considera como características fundamentais, a relevância e a representação fidedigna. Já as características de melhoria, embora importantes, exercem papel complementar: comparabilidade, verificabilidade, tempestividade, compreensibilidade. A informação contábil é relevante se for capaz de afetar a tomada de decisão dos usuários. Por exemplo, imagine a situação em que um investidor pretende aportar seu capital nos ativos da companhia XVI. Esse investidor recorre às demonstrações contábeis como fonte de informação e, após uma minuciosa www.esab.edu.br 30 análise, decide alocar seus recursos na empresa. Alguns meses após o aporte, o mesmo investidor descobre, por meio de portais de notícias, que a companhia XVI terá seus contratos de concessão revogados. Se essa informação tivesse sido evidenciada nas notas explicativas da companhia, por exemplo, a decisão de investir provavelmente seria outra. Portanto, informação relevante deve ter o poder de alterar a tomada de decisão do usuário das demonstrações. Além disso, mesmo que o usuário decida não utilizar a informação, ela permanece sendo relevante se tiver o potencial de alterar decisões. Ainda sobre a relevância da informação contábil-financeira, a estrutura conceitual menciona que ela é capaz de fazer diferença se possuir: valor preditivo e valor confirmatório. O valor preditivo diz respeito ao potencial que a informação tem de servir como preditor de resultados futuro. Já o valor confirmatório diz respeito a capacidade que a informação possui de confirmar a projeção realizada anteriormente com base na informação. Por fim, tem-se a materialidade, um importantíssimo atributo da informação relevante, que diz respeito a natureza e/ou a magnitude dos itens os quais a informação está relacionada. O que é material para um usuário pode não ser material para outro. Um critério para decidir se a informação possui materialidade é definir se sua omissão e/ou distorção afeta ou não a decisão do usuário. A segunda característica qualitativa fundamental é a representação fidedigna. A informação contábil para ser útil no processo de tomada de decisões não basta representar fenômenos relevantes, ela precisa representar com fidedignidade tais fenômenos econômicos. Dessa maneira, para que o fenômeno seja reportado com um elevado grau de fidedignidade, é preciso que seja completa, neutra e livre de erro. Uma representação completa é aquela que abrange o necessário para que a compressão do fenômeno reportado seja compreendida pelo www.esab.edu.br 31 usuário da informação. O atributo de neutralidade diz respeito a inexistência de vieses e distorções na apresentação das informações, assim, a representação neutra não recebe qualquer tipo de manipulação. O atributo livre de erros não tem o objetivo de atingir a perfeição, pois reconhece as limitações humanas. Dizer que a representação é livre de erros significa que o profissional responsável por reportá-la adotou os melhores métodos possíveis. Quadro XX - Processo para aplicação das características qualitativas fundamentais Primeiro passo Segundo passo Terceiro passo Identificar o fenômeno e c o n ô m i c o potencialmente útil para os usuários da informação Identificar o tipo de informação sobre o fenômeno que seria mais relevante se estivesse disponível. Determinar se a informação está disponível e pode ser representada com fidedignidade. Exemplo: descoberta de um poço de petróleo. Exemplo: data provável do início da exploração econômica. Exemplo: estimativas sobre a quantidade e valor dos bens exploráveis. Fonte: Marques (2014, p. 33), adaptado. A informação que é relevante e fidedigna pode ter sua utilidade aperfeiçoada com a introdução das características qualitativas de melhoria: comparabilidade, verificabilidade, tempestividade e compreensibilidade. Os usuários da informação contábil muitas vezes se encontram em situação de escolha como, por exemplo, investir ou não em uma companhia em detrimento de outra. Consequentemente, a informação terá mais utilidade, para esse usuário, se permitir a comparabilidade dos itens similares reportados entre as companhias, ou se possibilitar a comparação entre diferentes períodos dos itens da mesma companhia (para acompanhar a evolução histórica do desempenho, por exemplo). Para que a comparabilidade possa atingir seu fim, ela utiliza a consistência como meio. Consistência diz respeito a utilização dos mesmos métodos para os mesmos itens, de um período para o outro. www.esab.edu.br 32 Entretanto, vale ressaltar que, se determinada prática contábil for modificada entre um período e outro, a consistência deve ser abandonada em prol da necessidade da informação relevante e, sobretudo, fidedigna. Por fim, para que a comparabilidade ocorra, coisas iguais necessitam parecer iguais, e o inverso também é verdadeiro. A verificabilidade garante aos usuários a fidedignidade da informação ao proporcionar que diferentes observadores possam chegar a um consenso quanto ao retrato de uma realidade econômica. A verificação pode ser direta ou indireta. Um exemplo de verificação direta é a contagem do saldo em caixa; na verificação indireta tem-se a contagem dos estoques por meio dos valores registrados nas contas de controle. Já a tempestividade diz respeito a informação oportuna reportada em tempo hábil. Informação para ser útil, necessita ser relevante e, informação relevante precisa observar o tempo hábil em que o usuário utilizará. De nada, ou pouco adianta, uma informação com potencial de ser útil se é reportada tempos após a decisão ser tomada. Portanto, faz-se necessário uma agilidade ao divulgar a informação contábil, entretanto, essa agilidade não pode comprometer a realidade do evento divulgado. Por fim, temos a compreensibilidade. Uma informação compreensível é aquela que classifica, caracteriza e apresenta a informação contábil-financeira com observância a clareza e a concisão. Entretanto, a característica da compreensibilidade não significa que uma informação complexa deva ser omitidapor conta da potencial dificuldade que seus usuários possam enfrentar para entendê-la. Nessa situação, cabe ao usuário buscar meios para compreender, pois os relatórios provenientes da contabilidade são elaborados partindo do pressuposto de que o usuário de sua informação tenha conhecimentos prévios e razoáveis de negócios em geral e das atividades nas quais pretende analisar. Excluir a www.esab.edu.br 33 informação não é uma alternativa viável, pois acarretaria potencialmente a perda da fidedignidade, por conta das distorções ocasionadas com a omissão ou exclusão. A figura xxx apresenta um resumo esquematizado das características qualitativas da informação contábil que apresentamos na presente unidade. Vale ressaltar que as características qualitativas seguem uma ordem hierárquica. De nada adianta uma informação tempestiva que não representa com fidedignidade determinado fenômeno econômico, por exemplo. Além disso, uma questão importante a ser considerada pelos profissionais responsáveis pela elaboração das demonstrações contábeis, diz respeito a necessidade de ponderação entre custos e os benefícios de reportar a informação contábil-financeira. Com base na existência de restrição de custos quando na elaboração, os profissionais devem avaliar se o custo de gerar a informação é compensada por seus benefícios. A presente unidade teve como objetivo apresentar as características que tornam as informações reportadas pela www.esab.edu.br 34 contabilidade útil. Vimos que para a informação ser útil no processo de tomada de decisões, ela precisa observar as características qualitativas fundamentais e de melhoria presentes na Estrutura Conceitual. www.esab.edu.br 35 Na presente unidade vamos estudar o Balanço Patrimonial, considerado por muitos estudiosos como sendo um dos mais importantes demonstrativos contábeis existentes. O Balanço Patrimonial (BP) tem como objetivo evidenciar a situação patrimonial e financeira da empresa em determinado período, representando, assim, a situação estática da organização. Explicações a respeito da origem terminológica da expressão Balanço Patrimonial são dadas por Iudícibus (2017). Segundo o autor, a expressão balanço surge a partir da idealização de uma balança formada por dois pratos que sempre estão em situação de igualdade. Já a expressão Patrimonial deriva do patrimônio organizacional, ou seja, agrupamento dos bens, direitos e obrigações. Dessa maneira, o Balanço Patrimonial é a esquematização patrimonial da empresa, que representa o equilíbrio e igualdade patrimonial em determinado período. Quanto a sua composição, esta se dá por meio de três elementos, são eles: Ativo, Passivo e Patrimônio Líquido. Grosso modo, podemos conceituar o Ativo como sendo o conjunto de Bens e Direitos da organização. Já o Passivo compreende o conjunto de obrigações da organização com terceiros, e, por fim, o Patrimônio líquido. O Patrimônio Líquido é a equação contábil, obtido através da subtração do Ativo e o Passivo. www.esab.edu.br 36 Esquematização dos elementos dos elementos patrimoniais dispostos no BP. Segundo o artigo 178 da Lei nº 6.404/76, o BP é estruturado com vistas a “(...) a facilitar o conhecimento e a análise da situação financeira da companhia”. Portanto, o BP segue uma estrutura lógica para que seu objetivo possa ser alcançado. A Lei nº 6.404/76, por meio dos artigos 178 a 182, apresentam uma série de determinações a serem seguidas relacionadas a estrutura do BP. Ainda conforme art. 178 da referida legislação, as contas pertencentes ao Ativo devem ser dispostas de forma decrescente ordenadas conforme ao seu grau de liquidez, e subdivididas em dois grupos: Ativo Circulante e Ativo não Circulante. O ativo circulante é representado pelas contas cujo vencimento ocorrem no curto prazo, enquanto o ativo não circulante engloba as contas com liquidez no longo prazo. A lei nº 6.404/76 define também o curto prazo como sendo o período transcorrido entre a data do balanço e o término do exercício social subsequente. Já o longo prazo abrange todo o período posterior ao encerramento do exercício social subsequente. Como exemplo, podemos citar contas a receber de clientes e os empréstimos concedidos à terceiros. As contas a receber representam valores decorrentes de venda ou prestação de serviços com recebimento a ser efetivado no futuro. O montante dessa conta deverá ser liquidado, ou seja, www.esab.edu.br 37 os clientes deverão pagar o valor devido antes que o exercício social, do qual o BP se refere, seja finalizado. Já os empréstimos concedidos serão alocados no ativo não circulante desde que o prazo para o seu recebimento ocorra em um período posterior ao encerramento do exercício social futuro. Geralmente, esse tipo de empréstimo é concedido a empresas do mesmo grupo econômico ou a sócios da companhia. Portanto, sua liquidação tende a ter um prazo superior ao praticado nas demais modalidades. Em relação ao passivo, as contas também deverão ser classificadas conforme a mesma lógica apresentada de curto e longo prazo, representadas por passivo circulante e passivo não circulante e, adicionalmente, em patrimônio líquido. O que muda na classificação das contas do Passivo é que a ordem decrescente considerará a ordem de exigibilidade de pagamento, ou seja, contas que tenham pagamento prioritário. Como exemplo de contas com alto grau de exigibilidade, podemos citar o montante referente a verbas trabalhistas devidas a funcionários da companhia. Vale ressaltar que na literatura encontramos definições para o curto prazo como sendo os 12 meses transcorridos até a data do balanço, e o longo prazo os 12 meses após a data do balanço. Tal definição não está incorreta, mas está sujeita a limitações por conta das especificidades relacionadas às atividades das empresas. A depender do ciclo operacional de cada companhia, a noção de curto prazo e longo prazo pode alterar-se, não sendo comum à todas empresas. A FIGURA XX, evidenciada a seguir, é a representação geral da estrutura do Balanço Patrimonial conforme a Lei nº 6.404/76, comum a todas companhias. www.esab.edu.br 38 ATIVO PASSIVO Ativo Circulante Passivo Circulante Passivo não-circulante Ativo não-circulante Patrimônio Líquido Realizável a Longo Prazo Capital Social Investimentos Reservas de Capital Imobilizado Ajustes de Avaliação Patrimonial Intangível Reserva de Lucros Ações em Tesouraria Prejuízos Acumulados Conforme podemos observar, o BP é estruturado dividindo seus elementos (ativo, passivo, patrimônio líquido) em grupos pré-determinados, cada conta deverá seguir uma lógica para se classificar nos respectivos grupos. A lei 6.404/76, em seus artigos 179 e 182, discorre de forma geral sobre a essência de classificação a ser considerada em cada grupo do BP. No ativo circulante, serão classificadas as contas que representem a disponibilidade de recursos da companhia (em caixa ou equivalentes); os direitos de recebíveis que serão exercidos ou os recursos que serão consumidos no desenrolar do ciclo operacional; os bens mantidos com a intenção de serem vendidos. Além disso, as parcelas das despesas antecipadas que vençam dentro do curto prazo, também serão classificadas no ativo circulante. Como exemplo de contas mais usuais do ativo circulante, temos os estoques mantidos pra venda e/ou consumo; os investimentos em instrumentos financeiros de liquidez imediata, entre outros. O ativo não circulante, é subdividido em quatro grupos, sejam eles: realizável a longo prazo, investimentos, imobilizado e intangível. De forma geral, podemos dizer que o ativo não circulante representa as contas que atendem ao conceito de longo prazo, apresentado anteriormente na presente unidade.www.esab.edu.br 39 No ativo realizável a longo prazo, são classificadas as parcelas referentes a direitos a receber que excedam o conceito de curto prazo (saldos de contas a receber de clientes, por exemplo), os empréstimos ou adiantamentos concedidos à companhias do mesmo grupo (coligadas ou controladas), e aos acionistas, executivos e outros diretores, desde que não represente atividade usual da empresa. Como exemplo, podemos citar o empréstimo concedido à uma organização que faça parte do mesmo grupo de uma companhia que tenha como atividade principal a venda de equipamentos hospitalares. Realizar empréstimos não elenca o rol das atividades da empresa que concedeu o montante, portanto, o valor deverá ser classificado no ativo realizável a longo prazo, independentemente da data que conste na cláusula do contrato de empréstimo. No subgrupo de investimentos, devemos classificar os direitos que a companhia possui, desde que estes não se enquadrem nos requisitos do ativo circulante, e não tenham como objetivo a manutenção da atividade da empresa. Ou seja, o bem ou direito classificado como investimento não deve ser utilizado para geração de recursos futuros relacionados com a atividade que a empresa exerce. A título de exemplo, podemos citar uma obra de arte avaliada em milhões de reais. Se a empresa em questão não tiver como atividade principal a venda de quadros artísticos, este bem deve ser considerado um investimento. Em contrapartida, se a empresa tem como atividade principal a venda de quadros artísticos, o mesmo deverá compor a conta de estoques mantidos para vendas, no ativo circulante, pois constitui uma atividade usual da empresa. Em síntese, devemos elencar no subgrupo investimentos todos os itens que propiciem benefícios futuros para as empresas, mas que não sejam produtos por elas vendidos, ou serviços prestados, no decorrer das atividades usuais. Como exemplo, www.esab.edu.br 40 temos as participações acionárias em outras empresas, desde que não seja para fins especulativos, ou seja, o investimento deverá ter caráter permanente com vistas a obtenção de controle acionário ou até mesmo como fonte de renda permanente. É neste subgrupo que elencamos as participações nas empresas controladas e coligadas. No ativo imobilizado, devemos classificar os bens que tenham relação com a manutenção da atividade da empresa. Um exemplo para isso são os veículos usados para fazer entregas. Este bem em questão é essencial para a realização das atividades da empresa, portanto, elenca o ativo imobilizado. Outro exemplo são os imóveis utilizados como sede da empresa ou alojamentos para seus funcionários que, embora não tenham uma relação direta com a atividade fim, são essenciais para realização de tal. Por fim, temos o intangível, que é representado por direitos ou bens incorpóreos da companhia relacionados à manutenção de suas operações. Nesse caso destacam-se as marcas que a empresa detém, o licenciamento para utilização de softwares, as patentes, etc. a grande característica do intangível é que os bens e direitos são incorpóreos. Em relação ao passivo, este deverá ser segregado em curto e longo prazo. Destina-se ao passivo as obrigações assumidas pela empresa seguindo a mesma lógica utilizada no ativo quanto ao curto e longo prazo. O passivo não tem um grupo de contas predeterminados como o grande grupo do ativo, aqui as contas são elencadas conforme o grau de exigibilidade. Por fim, temos o patrimônio líquido, que é constituído pelas seguintes contas: Capital Social, Reservas de Capital, Ajuste de Avaliação Patrimonial, Reserva de Lucros, Ações em Tesouraria e Prejuízos Acumulados. Em unidades posteriores vamos abordar cada elemento do BP de maneira detalhada, bem como suas principais contas. www.esab.edu.br 41 Neste capítulo começaremos a estudar mais detalhadamente as contas que compõem o Balanço Patrimonial. O primeiro conjunto de contas a ser estudado, conforme visto no capítulo anterior, será o Ativo. Aparentemente, a conceituação de Ativo pode ser bastante simples, presente no cotidiano da maior parte das pessoas, mas será que de fato sabemos o que representa um Ativo? Alguns autores ressaltam a importância da definição e discussão sobre as definições de ativo. Segundo Gelbcke et al. (2018) a discussão conceitual tem relação direta com a prática, apesar de, às vezes, ser confundida como “diversão teórica e filosófica”. Já para Iudícibus (2009) a definição de ativo e sua mensuração envolve a diversidade das transações possíveis dentro da rotina de uma empresa. Hendriksen e Van Breda (1999) também exploram essa necessidade em definir os ativos, uma vez que essa conceituação é capaz de trazer direcionamentos adequados para o desenvolvimento da área contábil. Gelbcke et al. (2018) destacam que três etapas são importantes no processo contábil, que seriam a identificação, a mensuração e o registro e a divulgação. A identificação parte da ocorrência dos fenômenos que afetam o patrimônio de uma entidade. Para este caso, que é a primeira etapa do processo contábil, se enquadra o conceito e definição de ativo. O conceito de ativo tem apresentado mudanças ao longo dos anos, apesar de alguns componentes patrimoniais do conceito www.esab.edu.br 42 ainda continuarem sendo utilizados, como é o caso da noção de propriedade, recursos, controle, dentre outros. Gelbcke et al. (2018) representa por meio do gráfico a seguir, quais as principais características e conceitos relacionados aos ativos ao longo dos anos, além da evolução pela qual passou com o desenvolvimento da contabilidade. Os autores ressaltam que as palavras destacadas na figura representam características essenciais que foram apresentadas por autores ao longo dos anos. Fonte: Gelbcke et al. (2018). De acordo com o Comitê de Pronunciamentos Contábeis em seu pronunciamento que versa sobre a Estrutura Conceitual (CPC 00 R1, 2011), no item 4.4, define-se ativo como “[...]um recurso controlado pela entidade como resultado de eventos passados e do qual se espera que fluam futuros benefícios econômicos para a entidade”. Dessa forma, observam-se, no conceito de ativo, três aspectos importantes para sua definição, ou três características essenciais: a) suas contas devem gerar um provável benefício futuro, envolvendo capacidade de contribuir na geração de fluxos de caixa futuro; b) a empresa deve possuir o www.esab.edu.br 43 controle desse ativo; e c) as transações que o originaram devem já ter ocorrido. A esperança de geração de futuros benefícios econômicos significa que ao ativo deve estar incorporado sua capacidade em gerar fluxos de caixa futuros para a entidade, podendo ser ocorridos de diversas maneiras, segundo o CPC 00 R1 (2011). Assim, o ativo pode ser usado, por exemplo: na produção de bens ou serviços a serem vendidos na entidade; trocado por outros ativos; usado para liquidar um passivo; ou distribuído aos proprietários da entidade. A característica do controle ressalta que o direito de propriedade não é essencial. Iudícibus (2009) destaca que as duas características mais essenciais de um ativo seriam a geração de benefícios econômicos e o controle pela entidade, e reforça que a conceituação de ativo é importante e relevante e, inclusive, se confunde com a própria essência e com o objetivo da contabilidade. Já o fato de ser gerado de eventos passados revela que o ativo decorre de uma transação passada, o que não significa o pagamento pela entidade. Essa obtenção de ativos por meio de eventos passados geralmente ocorre pela compra ou fabricação dos ativos, mas outras transações também podem gerar ativos. Agora que já definimos o que é ativo e quais são suas características essenciais, é importante também entenderque os valores de ativo que aparecem no balanço patrimonial passam por um processo de mensuração e reconhecimento. Hendriksen & Van Breda (1999, p. 303) destacam que “mensurar é atribuir uma quantidade numérica a uma característica ou a um atributo de algum objeto, como um ativo, ou de uma atividade, como a de produção”. Pelo CPC 00 R1 (2011, item 4.54), a mensuração envolve determinar os valores dos elementos das demonstrações contábeis a serem reconhecidos no balanço patrimonial e na Demonstração do Resultado do Exercício. Ainda www.esab.edu.br 44 segundo o CPC 00 R1 (2011), esse processo envolve a seleção de uma base específica para atribuir estes valores. Nesse sentido, além da dificuldade de definir ativo e os debates referentes a essa conceituação, existe também a dificuldade em determinar qual seria a melhor forma ou a melhor base para se mensurar um ativo. Seguindo em frente, com relação aos valores de entrada destacam-se as seguintes bases de mensuração, conforme Gelbcke et al. (2018): Custo histórico: sacrifício ocorrido no passado quando houve a transação. Essa base se configura como útil principalmente pela sua objetividade e por não necessitar de juízos de valor. Sendo assim, o que determina o valor de um elemento nessa base são as evidências da transação que o originou. Custo histórico corrigido: parte do pressuposto do custo histórico, porém com correções ou atualizações dos valores pelos dados de inflação, o que melhoraria a comparabilidade entre informações contábeis. Custo corrente: essa base se refere ao preço de troca para se obter na data presente um mesmo ativo ou um ativo equivalente ao registrado. Valor justo: é uma base variante do custo corrente. É considerada importante por prover ao usuário informações mais apropriadas sobre as condições econômicas de uma entidade, dependendo da situação e disponibilidade do mercado em que o ativo é negociado. Segundo o CPC 46 – “Mensuração do Valor Justo”, o objetivo da mensuração a valor justo é “estimar o preço pelo qual uma transação não forçada para vender o ativo ou para transferir o passivo ocorreria entre participantes do mercado na data de mensuração sob condições correntes de mercado”. Valores líquidos realizáveis: se refere ao preço corrente menos o valor corrente dos custos e despesas para efetuar a transação. www.esab.edu.br 45 Já com relação às bases de mensuração para saída, as mais relevantes, segundo Gelbcke et al. (2018), são: Equivalentes correntes de caixa: montante de caixa a ser obtido com a venda de um ativo em condições reais de negociação, podendo ser cotados por preços reais de mercado, por bens semelhantes. Valores de liquidação: envolve uma venda forçada de um ativo, geralmente abaixo dos valores de custos, o que ocorre principalmente devido a necessidade de venda de ativo. Valores descontados de fluxos de caixa ou capacidade de geração de serviços futuros: representa o valor descontado no momento presente pelos valores totais a serem recebidos no futuro. Agora que vimos as principais bases de mensuração de ativos, tanto a valores de entrada quanto a valores de saída, vamos ver o que o CPC 00 R1 (2011) nos retrata sobre o reconhecimento dos ativos, conforme segue a íntegra a seguir: “4.44. Um ativo deve ser reconhecido no balanço patrimonial quando for provável que benefícios econômicos futuros dele provenientes fluirão para a entidade e seu custo ou valor puder ser mensurado com confiabilidade. 4.45. Um ativo não deve ser reconhecido no balanço patrimonial quando os gastos incorridos não proporcionarem a expectativa provável de geração de benefícios econômicos para a entidade além do período contábil corrente. Ao invés disso, tal transação deve ser reconhecida como despesa na demonstração do resultado. Esse tratamento não implica dizer que a intenção da administração ao incorrer nos gastos não tenha sido a de gerar benefícios econômicos futuros para a entidade ou que a administração tenha sido malconduzida. A única implicação é que o grau de certeza quanto à geração de benefícios econômicos para a entidade, além do período contábil corrente, é insuficiente para garantir o reconhecimento do ativo.” (grifo nosso). www.esab.edu.br 46 Tendo entendido as principais características do ativo, bem como sua mensuração e reconhecimento, vamos agora estudar sobre outras duas classificações sobre os ativos. Os ativos podem ser divididos em monetários e não monetários. Os ativos monetários podem ser representados por valores em espécie ou por valores que sejam recebíveis pela entidade, como as contas a receber e as aplicações financeiras, por exemplo. Já os ativos não monetários se referem a ativos que não serão realizados, liquidados ou recebidos em dinheiro, como é o caso de imobilizados, por exemplo. Além dessa classificação de monetário e não monetário, destaca-se ainda a divisão do ativo entre Ativo Circulante e Não Circulante, que se refere à permanência de uma conta no balanço patrimonial de uma empresa. O ativo circulante é composto por ativos que se espera que sejam consumidos ou vendidos durante o ciclo operacional normal de uma entidade. Nesse sentido, pode-se dizer que eles possuem uma permanência mais curta dentro de uma organização, que fica atrelada ao ciclo da empresa. O ativo não circulante, por sua vez, se refere aos ativos de maior permanência, possuindo menor rotatividade, o que se caracteriza, principalmente, pela função de geração de receitas com sua utilização. Esse grupo de ativos é ainda subdividido entre: investimentos, imobilizado e intangível; além do próprio realizável a longo prazo, o qual seria ativos realizáveis fora do exercício ou ciclo normal da entidade. O grupo de investimentos constitui participações e aplicações financeiras que tem por objetivo a geração de rendimentos para uma entidade. O imobilizado diz respeito aos ativos denominados de corpóreos ou tangíveis, que são destinados ao funcionamento normal de uma organização e manutenção da atividade. Por fim, os intangíveis são bens não corpóreos e que têm o controle da empresa, como, por exemplo, marcas, patentes, direitos autorais, dentre outros. www.esab.edu.br 47 Nesta Unidade vimos o principal conceito que gira em torno da contabilidade financeira, qual seja, o Ativo. Destaca-se a importância ainda dos conhecimentos acerca dos aspectos gerais dos ativos para sua mensuração e reconhecimento, como é o caso de se basear nos ativos todas as expectativas para benefícios econômicos futuros de uma entidade, o que se torna importante para evidenciar a correta formação patrimonial das firmas. www.esab.edu.br 48 O Passivo representa o capital de terceiros, ou também as origens dos recursos que financiam o patrimônio de uma entidade. Ele pode ser entendido como uma obrigação da organização, podendo ser de curto ou longo prazo e decorrente de um evento já ocorrido. O International Accounting Standard Board (IASB), órgão regulador de normas internacionais, e o Pronunciamento Conceitual Básico definem passivo como uma obrigação presente da entidade, derivada de eventos passados, cuja liquidação se espera que resulte na saída de recursos da entidade capazes de gerar benefícios econômicos. Nesse sentido, Iudícibus (2000, p. 144) defende que o passivo está ligado à exigibilidade e ressalta que o “passivo implica no comprometimento da entidade em consumir ativos, numa data determinada ou determinável, para satisfazê-lo ou para extingui-lo e provém, sempre, de eventos ou transações que já ocorreram, embora o desembolso vá ocorrer somente no futuro.”. Vejamos agora as principais características de um passivo. Hendriksen e Breda (1999) elencam as seguintes características específicas dos passivos:a) a obrigação existe; b) não é possível evitá-la, pois a obrigação compromete a entidade com sacrifício futuro; e, por fim, c) ressaltam que o evento já ocorreu, ou seja, a transação que obriga a entidade já aconteceu. Dessa forma, o passivo se caracterizaria por uma obrigação presente e inevitável, cujo evento que a origina já teria ocorrido. De acordo com a Resolução nº 1.374 do CFC (2011), as características principais de um passivo são: www.esab.edu.br 49 I. Obrigação presente da entidade; II. Passivos resultam de transações ou outros eventos passados; III. Espera-se que a liquidação do passivo resulte na saída de recursos capazes de gerar benefícios econômicos futuros. E o que significa cada uma dessas características? Vamos estudar a seguir o que cada uma representa, de acordo com a resolução, e quais os principais pontos a serem avaliados para identificá-las. I. Obrigação presente da entidade Uma obrigação representa um dever ou responsabilidade de agir ou de desempenhar uma determinada tarefa de certa maneira. Elas podem ser: • Legalmente exigíveis (contratos ou exigências estatutárias); • Práticas usuais do negócio; • Usos e costumes; • Desejo de manter boas relações comerciais; • Agir de maneira equitativa. II. Passivos resultam de transações ou outros eventos passados Eventos passados podem ser: • Aquisição de bens e o uso de serviços dão origem a contas a pagar; • Contratação de empréstimo bancário; • Futuros abatimentos baseados no volume das compras anuais dos clientes. Obs: A entidade também pode ter a necessidade de reconhecer como passivo os futuros abatimentos baseados no volume das compras anuais dos clientes. Nesse caso, a venda de bens no passado é a transação que dá origem ao passivo. III. Liquidação de um Passivo www.esab.edu.br 50 A saída de recursos de uma entidade pode acontecer por: • Pagamento em caixa; • Transferências de outros ativos; • Prestação de serviços; • Substituição da obrigação por outra; ou • Conversão da obrigação em item do patrimônio líquido. Obs: A obrigação pode também ser extinta por outros meios, tais como pela renúncia do credor ou pela perda dos seus direitos. A partir disso, é importante saber que o passivo que aparece no balanço patrimonial já passou por etapas como a mensuração e o reconhecimento. Agora que já sabemos quais são as características de um passivo, vamos estudar sobre a sua mensuração e reconhecimento. A mensuração de um passivo nada mais é do que o processo de atribuir valor ou determinar um montante monetário pelo qual o passivo deve ser apresentado no balanço patrimonial de uma empresa. Entretanto, para Iudícibus (2009), o principal problema do passivo não se refere a sua definição ou mensuração, mas sim em quando reconhecê-lo e registrá-lo. Hendriksen e Van Breda (1999) destacam que uma obrigação deve ser reconhecida quando atender a quatro critérios gerais: • Corresponde à definição de passivo. • A transação pode ser mensurável ou razoavelmente estimada. • É relevante – a informação faz diferença na decisão do usuário. • É precisa – a informação é representada com fidelidade, é verificável e neutra. Dessa forma, de acordo com a Resolução nº 1.374 do CFC (2011): O critério para reconhecimento de um item é que ele possua custo ou valor que possa ser mensurado com confiabilidade. Em muitos www.esab.edu.br 51 casos, o custo ou valor precisa ser estimado; o uso de estimativas razoáveis é parte essencial da elaboração das demonstrações contábeis e não prejudica a sua confiabilidade. Ressalta-se ainda, conforme Hendriksen e Breda (1999), que o reconhecimento de um passivo vai depender também do reconhecimento da sua contrapartida, seja ela uma despesa, uma perda ou o recebimento de um ativo específico. Caso um passivo não possa ser mensurado com confiabilidade, ele deve ser divulgado em Nota Explicativa, tal como veremos mais a frente ao longo desse curso. Outro aspecto importante a ser estudado sobre os passivos são as definições de contingência, provisão e passivo contingente. Uma contingência é uma situação na qual é envolvido um conjunto de incertezas sobre uma possível perda no futuro, a qual, por sua vez, depende da ocorrência ou não de outros eventos. Já a provisão é um passivo com prazos e valores incertos, dentro deste contexto, de forma a atender ainda as características de um passivo. A Resolução nº 1.374 do CFC (2011) destaca que “Alguns passivos somente podem ser mensurados por meio do emprego de significativo grau de estimativa. No Brasil, denominam-se esses passivos de provisões.”. Assim, o que seria um passivo contingente? No Brasil, temos a NBC TG 25 (2017) que define como passivo contingente: a) uma possível obrigação que resulta de eventos passados e cuja existência será confirmada apenas pela ocorrência ou não de um ou mais eventos futuros incertos não totalmente sob controle da entidade; ou b) uma obrigação presente que resulta de eventos passados, mas que não é reconhecida porque: www.esab.edu.br 52 i. não é provável que uma saída de recursos que incorporam benefícios econômicos seja exigida para liquidar a obrigação; ou ii. o valor da obrigação não pode ser mensurado com suficiente confiabilidade. Outro aspecto a ser discutido trata da exigibilidade dos passivos de uma empresa. De acordo com a Lei 6.404/76 o grupo do passivo deve ser composto por Passivo Circulante, Não Circulante e Patrimônio Líquido. Neste capítulo nos interessa as definições de Passivo Circulante e Passivo Não Circulante. Conforme a NBC TG 26 R5 (2017), um passivo circulante é aquele em que: a) espera-se que seja liquidado durante o ciclo operacional normal da entidade; b) está mantido essencialmente para a finalidade de ser negociado; c) deve ser liquidado no período de até doze meses após a data do balanço; ou d) a entidade não tem direito incondicional de diferir a liquidação do passivo durante pelo menos doze meses após a data do balanço. Por sua vez e por complementariedade, os passivos não circulantes seriam todos os outros passivos. Para finalizar, vamos levantar, então, as seguintes questões: SE UM PASSIVO DEVE SER LÍQUIDO E CERTO, ENTÃO CONTINGÊNCIAS NÃO SÃO PASSIVOS? Veja o quadro a seguir que ajuda a ilustrar esse questionamento: PASSIVOS PASSIVOS CONTINGENTES São obrigações presentes e é provável que uma saída de recursos que incorporam benefícios econômicos seja necessária para liquidar a obrigação Não são reconhecidos como passivo porque são: (i) obrigações possíveis, visto que ainda há de ser confirmado se a entidade tem ou não uma obrigação presente que possa conduzir a uma saída de recursos que incorporam benefícios econômicos; ou (ii) obrigações presentes que não satisfazem os critérios de reconhecimento (não é provável a saída de recurso ou não pode ser feita uma estimativa confiável do valor). Fonte: Adaptado de NBC TG 25 (2017). www.esab.edu.br 53 SE PASSIVOS CONTINGENTES NÃO SÃO CONTABILIZADOS, ENTÃO POR QUE EXISTE NO BALANÇO PATRIMONIAL A CONTA “PROVISÃO PARA CONTINGÊNCIA”? De acordo com a NBC TG 25 (2017), temos as seguintes informações: Para que um passivo se qualifique para reconhecimento, é necessário haver não somente uma obrigação presente, mas também a probabilidade de saída de recursos que incorporam benefícios econômicos para liquidar essa obrigação. Uma saída de recursos ou outro evento é considerado como provável se a probabilidade de que o evento ocorrerá for maior do que a probabilidade de isso não acontecer. Quando não for provável que exista uma obrigação presente, a entidade divulga um passivo contingente, a menos que a possibilidade de saída de recursos que incorporam benefícios econômicos
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