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Universidade Federal de Lavras Departamento de Biologia Setor de Biologia Celular Fundamentos de Biologia Celular – GBI 174 Notas de Aula Tema 7 – Organelas conversoras de energia 7.1 ASPECTOS GERAIS Todas as células necessitam de energia livre para realizar o trabalho celular, como o transporte ativo e a movimentação, bem como para a biossíntese de moléculas indispensáveis à célula. Grande parte desta energia é produzida a partir da degradação de combustíveis químicos, especialmente carboidratos e lipídios, e armazenada na forma de ATP (adenosina-tri-fosfato), um nucleotídeo altamente energético (Figura 1). Figura 1. Estrutura molecular da Adenosina-tri-fosfato (ATP) A produção do ATP se dá, em todas as células, graças ao acoplamento quimiosmótico, em que uma forma de energia (solar ou química) é usada para acionar bombas de prótons (H+) presentes nas membranas, criando um gradiente eletroquímico, que é usado pela ATP sintase para formar o ATP, a partir de ADP e Pi. Em células animais, esta produção de ATP se dá exclusivamente a partir da degradação de macromoléculas e ocorre na mitocôndria, por meio da respiração. Para que estas macromoléculas estejam disponíveis para serem metabolizadas, os animais necessitam ingerir alimentos e são, portanto, heterotróficos, pois necessitam obter nutrientes do ambiente. Em células vegetais, além da produção de ATP na mitocôndria, ocorre produção de ATP nos cloroplastos, através da fotossíntese, que capta energia solar e a transforma em energia química, que é em parte gasta para produzir ATP e parte para produção de glicose. A energia química, armazenada na forma de ligações na molécula de glicose produzida no cloroplasto é também transformada em ATP nas mitocôndrias. Por isso, os organismos fotossintetizadores são autotróficos, ou seja, produzem seu próprio combustível. Nas células procarióticas, vale a pena comentar que a respiração nas células heterotróficas, bem como a fotossíntese e respiração nas autotróficas ocorrem na membrana plasmática, em regiões de invaginação, já que não possuem organelas especializadas como as células eucarióticas. 7.2 MITOCÔNDRIAS As mitocôndrias estão presentes em grande abundância em todas as células eucarióticas, ocupando até 25% do volume citoplasmático. A mitocôndria é uma organela que apresenta grande plasticidade, podendo assumir formato cilíndrico, arredondado ou tubular, além de exibir grande variação de volume devido à fusão e fissão destas organelas. Uma mitocôndria típica possui formato cilíndrico alongado, com diâmetro de 0,5 a 1,0 µm e comprimento de 1 a 2 µm. ORGANIZAÇÃO MOLECULAR E ESTRUTURA A principal função da mitocôndria na célula é a produção de ATP com consumo de O2, por meio da respiração celular. Para tanto, a mitocôndria possui uma organização molecular e estrutural altamente especializada para realizar esta tarefa (Figura 2). Esta organela é envolta por duas membranas, que delimitam dois compartimentos mitocondriais: o espaço interno onde se encontra a matriz e o espaço intermembranas. A membrana externa possui uma grande quantidade de proteínas, cerca de 50% de sua composição. Grande parte é constituída por proteínas transportadoras do tipo canal (porinas), as quais permitem um fluxo livre de moléculas pequenas entre o citosol e o espaço intermembranas. As outras proteínas são enzimas envolvidas na síntese e degradação de lipídios. A membrana interna, ao contrário da externa, possui uma composição lipo- protéica que a torna altamente seletiva, fazendo com que o compartimento interno tenha uma composição bastante distinta do espaço intermembranas. Esta membrana é disposta em muitas dobras ou cristas mitocondriais, que se projetam para dentro do compartimento interno. Estas cristas aumentam consideravelmente a área da membrana, aumentando a eficiência da produção de ATP, visto que é nela que estão inseridas as proteínas responsáveis pelas reações de oxidação da cadeia transportadora de elétrons e o complexo multienzimático ATPsintase, que catalisa a produção de ATP a partir de ADP e Pi. A matriz é uma solução com alta concentração de proteínas. Nela estão as enzimas responsáveis pela degradação dos ácidos graxos e pelo ciclo do ácido cítrico ou ciclo de Krebs. Na matriz estão ainda várias cópias idênticas de moléculas de DNA (genoma mitocondrial), ribossomos 70S (semelhante ao de células procariontes), tRNAs e enzimas que catalisam a replicação e transcrição do seu genoma. Figura 2. Organização estrutural da mitocôndria A RESPIRAÇÃO CELULAR E A PRODUÇÃO DE ATP A Figura 3 fornece uma visão geral das reações que ocorrem na mitocôndria para a produção de energia. O combustível para o metabolismo oxidativo da mitocôndria provém da degradação de carboidratos, por meio da glicólise e da degradação de ácidos graxos, pela β-oxidação. A glicólise ocorre no citosol produzindo, a partir de uma molécula de glicose, duas moléculas de piruvato, 2 ATP e poder redutor (2 NADH). Em condições aeróbicas, o piruvato é transportado para dentro da mitocôndria, onde é transformado em acetil coenzima A (acetil CoA). A β-oxidação ocorre tanto na matriz mitocondrial como nos peroxissomas, dando origem a moléculas de acetil CoA. Na matriz mitocondrial, as moléculas de acetil CoA entram no ciclo do ácido cítrico ou ciclo de Krebs. A série de reações deste ciclo leva à formação de moléculas de CO2 com liberação de átomos de hidrogênio que são capturados por aceptores Membrana externa: alta permeabilidade (porinas) Espaço intermembranas Membrana interna: muito seletiva (ppmente íons) 50% de proteína Componentes da Cadeia Transportadora de Elétrons e ATP sintase Invaginações (cristas) Matriz: Enzimas (ciclo do ácido cítrico, β-oxidação) DNA (genoma circular) Ribossomos Metabólitos e íons intermediários de elétrons (NAD+ e FAD+), formando NADH e FADH2 e energia suficiente para produzir uma molécula de GTP ( ~ ATP). Os elétrons capturados nas moléculas de NADH e FADH2 serão oxidados pelo O2 , após passarem pela cadeia de transporte de elétrons (CTE). Esta é composta por três grandes complexos enzimáticos respiratórios inseridos nas cristas. Nas cristas também está presente a ATP sintase que irá produzir as moléculas de ATP. Figura 3. Resumo dos processos metabólicos que ocorrem no interior da mitocôndria. O ciclo de Krebs produz NADH e FADH2 a partir de moléculas de acetil-CoA advindas da degradação de açúcares e lipídios. A transferência de elétrons destes carreadores de elétrons através dos três compontentes da CTE até o O2 provoca uma liberação gradativa de energia livre, que é usada para bombear prótons H+ para fora da matriz, criando um gradiente eletroquímico através da membrana interna. Os prótons tendem a retornar para a matriz, passando pela ATP sintase, a qual, através do acoplamento quimiosmótico, produz ATP a partir de ADP e Pi. Este processo de formação de ATP na cadeia respiratória é chamado de fosforilação oxidativa, uma vez que a energia usada provém da oxidação das moléculas de NADH e FADH2 A eficiência da respiração é bastante grande, gerando grande quantidade de moléculas de ATP, especialmente a partir da degradação de ácidos graxos. Devido a esta maior quantidade de ATP produzida, o uso de gorduras é a principal fonte de energia para as células animais. Estas gorduras (triglicerídeos) ficam armazenadas principalmente em células especializadas do tecido adiposo, os adipócitos, que têm grande parte do seu volume citoplasmático ocupado por gotas de gordura. Quando células de outros tecidos requerem energia, os triglicerídeos são degradados, os ácidos graxos caem na corrente sanguínea e são absorvidos pelascélulas, onde irão entrar na mitocôndria e passar pelas etapas da respiração descritas anteriormente. O glicogênio, polímero de glicose, está presente principalmente em células hepáticas na forma de grânulos e é a outra fonte de energia destas células. Já em células vegetais, o metabolismo de carboidratos constitui a principal fonte de energia, sendo sua principal reserva o amido, que é armazenado em plastídeos. 7.3 CLOROPLASTOS As células vegetais possuem no seu citoplasma uma família de organelas membranosas denominadas plastídeos. Os plastídeos são envoltos por membrana dupla, possuem genoma próprio e maquinaria para síntese protéica e apresentam grande variação quanto ao seu conteúdo, podendo ser classificados em leucoplastos e cromoplastos. Os leucoplastos são plastídeos incolores, com função de armazenar energia na forma de macromoléculas, tais como amido (amiloplastos), lipídios (elaioplastos) e proteínas (proteoplastos). Os cromoplastos são pigmentados, podendo ser ativos, quando possuem pigmento fotossintetizante ou inativos, quando não possuem. Dentre os cromoplastos ativos, o cloroplasto é o mais proeminente, possuindo alto teor de clorofila, que lhe confere coloração verde. Em determinadas algas, existem cromoplastos ativos que possuem outros pigmentos que mascaram a clorofila, tais como a ficoeritrina dos rodoplastos, presentes nas Rodofíceas (algas vermelhas) e os carotenóides e fucoxantina dos feoplastos presentes nas Feofíceas (algas pardas). Os cromoplastos inativos possuem pigmentos com função de reserva, como é o caso dos xantoplastos presentes na cenoura, que são ricos em carotenóides precursores da vitamina D. Os pigmentos inativos também estão presente nos eritroplastos de células de flores e frutos, conferindo-lhes coloração para atração de polinizadores e animais dispersores de semente, respectivamente. Além das funções de sediar a fotossíntese e armazenar substâncias de reserva, os plastídeos também são importantes na compartimentalização do metabolismo intermediário. No interior destas organelas ocorre também síntese de bases nitrogenadas, de aminoácidos e de ácidos graxos, processos estes que ocorrem, em células animais, no citosol. O cloroplasto é o plastídeo que merece maior atenção pelo fato de ser o mais abundante na natureza, o mais estudado e ser a sede de um dos processos mais importantes de conversão de energia para a manutenção da vida, a fotossíntese. Pela equação geral da fotossíntese abaixo é possível verificar que a partir de gás carbônico, água e luz, o cloroplasto produz glicose que é o combustível orgânico para produção de ATP e oxigênio molecular que ao ser liberado mantém o teor de oxigênio atmosférico em níveis adequados para a sobrevivências dos organismos aeróbicos. ORGANIZAÇÃO MOLECULAR E ESTRUTURA Os cloroplastos são organelas bem maiores que as mitocôndrias, com tamanho médio entre 4 a 6 µm e, portanto, facilmente visíveis ao microscópio de luz. O número de cloroplastos é relativamente constante em células vegetais, de 20 a 40, enquanto as algas geralmente apresentam um único e grande cloroplasto. Os detalhes estruturais do cloropalsto foram revelados pela microscopia eletrônica e estão ilustrados na Figura 4. Assim como as mitocôndrias, os cloroplastos apresentam um envoltório com dupla membrana, uma membrana externa com alta permeabilidade e uma membrana interna rica em proteínas transportadoras que lhe conferem grande seletividade. Os cloroplastos apresentam no seu interior sacos em forma de discos e envoltos por membrana, denominados tilacóides. Os tilacóides podem estar isolados ou empilhados formando um granum e o conjunto de granum é chamado de grana. De qualquer forma, o lúmen da grande maioria dos tilacóides está interconectado formando um espaço único. É na membrana dos tilacóides que estão inseridos os fotossistemas I e II que contêm a clororofila, o pigmento verde capaz de capturar a energia luminosa, a cadeia transportadora de elétrons e a ATP sintase. A quantidade de membrana tilacóide pode variar em função da intensidade luminosa a que as células são submetidas. Plantas crescidas em ambiente muito iluminados tendem a ter maior volume de membranas e maior concentração de clorofila. Os tilacóides ficam imersos no estroma, uma matriz onde estão presentes moléculas de DNA (genoma do cloroplasto), ribossomos 70S, enzimas para processamento do DNA, proteínas solúveis e enzimas responsáveis pela fixação de CO2 e síntese de carboidratos, ácidos graxos e aminoácidos (Figura 4). Figura 4. Estrutura dos cloroplastos FOTOSSÍNTESE A produção de açúcares e oxigênio a partir de água e luz, dentro do cloroplasto, envolve uma série de reações que podem ser agrupadas em duas categorias: (1) as reações de transferência de elétrons ou fase fotoquímica, que é dependente da luz e (2) as reações de fixação de carbono ou fase bioquímica (Figura 5). Figura 5. Resumo do processo fotossintético que ocorre nos cloroplastos No primeiro grupo de reações, a luz que incide no fotossistema II energiza a molécula de clorofila presente neste fotossistema. Esta energia é usada para remover prótons e elétrons de uma molécula de água, formando O2. Os elétrons produzidos na fotólise da H2O, descrita acima, são então transferidos por meio da cadeia transportadora de elétrons pela membrana tilacóide, até o fotossistema I, que tem como aceptor final o NADP+, o qual é convertido a NADPH, na face voltada para o estroma. Na transferência de elétrons, estes passam de um nível energético maior para um menor, gerando uma energia que permite o bombeamento de prótons H+ do estroma para o lúmen do tilacóide, criando um gradiente de concentração através de sua membrana. Este gradiente, assim como na mitocôndria, gera um fluxo dos prótons do lúmen dos tilacóides (onde estão mais concentrados) para o estroma, fluxo este que dirige a síntese de ATP pela ATP sintase. Assim, a fase fotoquímica tem como produtos o ATP e poder redutor (NADPH) que serão usados na fase bioquímica, e ainda o O2 que será liberado para o meio ambiente (Figura 6). Figura 6. Fase fotoquímica da fotossíntese que ocorre nos tilacóides dos cloroplastos envolvendo Fotossistema II, Fotossistema I, Cadeia Transportadora de Elétrons e ATP sintase. 6H 2 O + 6 ADP + 6Pi + 6 NADP + 3O 2 + 6ATP + 6NADPH A fase de redução do carbono consiste na incorporação de H no CO2 para formar (CH2O)n, ou seja, conversão de carbono inorgânico em carbono orgânico. Esta conversão se dá por meio do ciclo de Calvin-Benson, que se inicia com a incorporação do CO2 ao composto ribulose 1,5 bifosfato (pentose), pela ação da enzima ribulose bifosfato carboxilase (RuBisCO). Este ciclo consome ATP e NADPH, produzidos na fase fotoquímica e produz moléculas de gliceraldeído- 3- fosfato (3C) que originarão as hexoses. Estas poderão formar a sacarose que será transportada ou convertida em amido, o polímero de reserva de energia dos vegetais, dentro do estroma (Figura 7). Figura 7. Fase bioquímica de fixação do carbono inorgânico que ocorre no estroma do cloroplasto no Ciclo de Calvin-Benson. A enzima ribulose bifosfato carboxilase (RuBisCO) existe em grande quantidade no estroma, perfazendo cerca de 50% do total de proteínas presente no cloroplasto, sendo também a proteína mais abundante do planeta. Ela é composta por duas subunidades: uma é produzida pelo próprio cloroplasto e a outra importada do citosol, dependendo, portanto, do DNA nuclear. 3CO 2 + 3RuBP+ 6ATP + 6NADPH C 6 H 12 O 6 + 6 ADP + 6Pi + 6 NADP + Umaimportante particularidade da RuBisCO é que ela catalisa duas reações competitivas entre si: a adição do CO2 à ribulose, que dará origem aos carboidratos ou a adição de O2, quando este está em maior quantidade. Portanto, em condições de baixa concentração de CO2, a RuBisCO adiciona O2 na ribulose bifosfato gerando grandes quantidades de ácido glicólico ou glicolato. Esse composto não pode ser usado no Ciclo de Calvin para produção de açúcar, podendo levar a um decréscimo de 25% na eficiência fotossintética. Este prejuízo é minimizado pela ocorrência da fotorrespiração, em que este glicolato sai dos cloroplastos e entra nos peroxissomas adjacentes, onde é convertido em ácido glioxílico ou glioxilato. Ainda nos peroxissomas, este glioxilato pode ser convertido em glicina que, indo para o citoplasma, poderá participar da síntese protéica ou ainda ir para as mitocôndrias, onde é convertida em serina. Este aminoácido pode também ser convertido em glicerato que retorna ao cloroplasto para ser incorporado ao Ciclo de Calvin, por ser um intermediário desse ciclo (Figura 8). Apesar de a recuperação ocorrer, tem um custo considerável para as células. Este processo é denominado fotorrespiração, pois utiliza os produtos da fase fotoquímica da fotossíntese, mas ao final consome O2 e produz CO2. Figura 8. Esquema da fotorrespiração envolvendo o cloroplasto, o peroxissomo e a mitocôndria. Condições ambientais de alta temperatura e baixa umidade favorecem muito a ação oxigenase da RuBisCO e, portanto, a taxa de fotorrespiração em detrimento da fotossíntese. Isso se deve, principalmente, ao fato de as plantas fecharem seus estômatos para diminuir a perda de água. Um grupo de plantas, chamadas C4, se adaptaram melhor a essas condições por possuírem alterações anatômicas e bioquímicas no tecido foliar que fixam o CO2 por outra via mais eficiente que produz o malato (C4) nas células do mesófilo foliar. O malato é então transportado para as células da bainha, especializadas na produção normal de açúcar. Dentro dessas células o malato libera o CO2 que é usado no Ciclo de Calvin (Figura 9) . Assim, a ação oxigenase da RuBisCO é bastante reduzida e, consequentemente, a taxa de fotorrespiração. 7.4 BIOGÊNESE E ORIGEM DE MITOCÔNDRIAS E CLOROPLASTOS Tanto cloroplastos como mitocôndrias possuem uma biogênese diferenciada das demais organelas, por possuírem um genoma próprio e produzir parte de suas proteínas e, ainda, no caso dos cloroplastos, produzir os seus lipídios constituintes. As mitocôndrias formam-se por divisão de organelas preexistentes, por meio do crescimento por adição de membrana, incremento de proteínas por importação do citosol (via pepetídeo sinal) ou produção própria, com posterior divisão por invaginação das membranas (Figura 10). Comparada com os cloroplastos, as mitocôndrias são mais dependentes das proteínas citosólicas. Figura 9. Figura 10. Biogênese da mitocôndria por crescimento e fissão. Os cloroplastos originam-se tanto a partir de outros preexistentes como a partir da diferenciação de um pró-plastídeo. Os pró-plastídeos são limitados por membrana dupla e estão presentes desde as células meristemáticas. À medida que a célula vai sofrendo o processo de diferenciação e começa a receber estímulos externos e internos, estes precursores também se diferenciam nos diferentes tipos de plastídeos vistos anteriormente (Figura 11). Figura 11. Biogênese dos plastídeos tanto a partir do pró-plastídeo quanto a partir da transformação de um plastídeo pé-existente. Note que o cloroplasto tem fases intermediárias de desenvolvimento a partir da indução desencadeada pela luz no pró- plastídeo e também pode ser formado a partir de amiloplastos e cromoplastos. No caso do cloroplasto, a membrana interna começa a se dobrar e desprender vesículas que originarão os tilacóides, em cuja membrana vão se formando a clorofila e os demais componentes dos fotossistemas I e II, até que a maturação se complete. Assim como a mitocôndria, o cloroplasto importa proteínas do citosol. O estágio entre o pró- plastídeo e o cloroplasto é chamado de etioplasto e pode persistir se não houver fornecimento de luz à célula. O genoma do cloroplasto é bem maior que o da mitocôndria e faz dele uma organela mais autônoma. Muitas evidências confirmam que os plastídeos e as mitocôndrias das células eucarióticas originaram-se a partir da entrada de organismos procarióticos, os quais passaram a estabelecer uma simbiose mutualística dentro das células eucarióticas primitivas, estabilizando-se permanentemente. As evidências que suportam a hipótese endossimbiótica são: • cloroplastos e mitocôndrias são organelas semi-autônomas, uma vez que possuem seu próprio DNA, o qual é replicado e transcrito de forma autônoma, mas ainda dependem do DNA nuclear; • originam-se de outras organelas preexistentes, em um processo de divisão bem semelhante ao das bactérias; • o genoma se assemelha em tamanho e estrutura ao das células procarióticas, apresentando DNA circular sem associação com proteínas. O DNA dos cloroplastos é cerca de 100 vezes maior que o da mitocôndria, que é semelhante ao da Escherichia coli; • os ribossomos são bastante semelhantes aos das células procarióticas (70S), tanto estruturalmente como no que diz respeito à reação a antibióticos; Provavelmente, as células eucarióticas primitivas eram anaeróbicas. Quando o oxigênio passou a ser produzido e liberado por organismos fotossintetizantes na atmosfera (1,5 x 109 anos), deve ter ocorrido a endocitose do procarioto que originou a mitocôndria. Mais tarde, bactérias fotossintetizantes também entraram nas células, dando origem aos cloroplastos de células vegetais (Figura 12). Figura 12. Eventos envolvidos na origem endossimbiótica de mitocôndrias e cloroplastos de células eucarióticas. A partir do estudo dos genomas nucleares e dos genomas destas organelas, existem evidências de que, durante o processo de evolução da relação simbiótica e das organelas, houve transferência de genes das organelas para o núcleo, o que explica a parcial dependência das proteínas importadas do citosol. 8.5 EXERCÍCIOS PROPOSTOS 1. O que é o ATP e qual a sua importância? 2. O que é acoplamento quimiosmótico? 3. Quais são as etapas de respiração celular que ocorrem na mitocôndria? 4. Descreva a estrutura da mitocôndria, mostrando em quais compartimentos ocorrem as diferentes fases da respiração aeróbica. 5. Esquematize um cloroplasto nomeando seus compartimentos e indicando com qual etapa da fotossíntese estão relacionados. 6. Quais são as etapas da fotossíntese e seus produtos? 7. O que é a hipótese da origem endosimiótica de mitocôndrias e cloroplatos? 8. Quais evidências confirmam esta hipótese? 9. Descreva, resumidamente, a fotorrespiração. 10. Qual a relação entre a evolução das plantas C4 e o processo de fotorrespiração? BIBLIOGRAFIA: ALBERTS, B. et al. Fundamentos de biologia celular. 3a ed. Porto Alegre: Artmed editora, 2011. 864p. DE ROBERTIS, E. D.P. e DE ROBERTIS, E. M. F. Bases da Biologia Celular e Molecular. 9ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2012, 376p. JUNQUEIRA, L. C.; CARNEIRO, J. Biologia Celular e Molecular. 9ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2012, 376p
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