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Direito trabalhista (pós-reforma) ALTERAÇÕES NOS CONTRATOS INDIVIDUAIS DE TRABALHO 1 Sumário Introdução ............................................................................................................................. 2 Objetivos ............................................................................................................................... 2 1. Alterações no contrato de trabalho ............................................................................ 2 1.1. Sucessão de empregadores ................................................................................. 4 Exercícios ............................................................................................................................... 5 Gabarito ................................................................................................................................. 7 Resumo .................................................................................................................................. 8 2 Introdução Já vimos na apostila sobre natureza jurídica e os requisitos do contrato de trabalho com mais detalhes sobre o contrato em si, especialmente ao fato de, em regra, não se haver necessidade de que seja escrito. Uma vez presentes os pressupostos, teremos um contrato de trabalho. A partir desse momento, entendendo que o contrato já existe, vamos buscar informações sobre as possibilidades de alterações no contrato de trabalho e ainda, o instituto da sucessão de empregadores. Para entendermos melhor o assunto, já precisamos ter em mente que o contrato de trabalho sempre deverá primar por um maior zelo com a parte mais fraca da relação, a parte hipossuficiente. Sim, ele mesmo, o empregado. Ainda que em determinamos momento você não perceba o empregado como parte mais fraca, tenha em mente que para o ordenamento jurídico brasileiro (que se preocupa em fazer regras gerais e não específicas para cada cidadão), o empregado, via de regra, será a parte mais fraca da relação. Não podemos afastar ainda o entendimento visto na aula “o que é contrato de individual de trabalho” que traz o fato de “acordo de vontades” ser parte implícita da definição do tema. Ou seja, aqui devemos sempre levar em conta, em tese, a vontade das partes. Objetivos • Conhecer e entender as possibilidades de alteração no contrato de trabalho. • Saber o que é a sucessão de empregadores e tudo que circunda este instituto. 1. Alterações no contrato de trabalho Mais uma vez, a CLT nos norteia no assunto de que vamos tratar, as alterações no contrato de trabalho estão previstas nos artigos 468 ao 470. A reforma trabalhista, combatida por uns, amada por outros, trouxe uma inovação na legislação laboral, uma maior possibilidade de diálogo entre as partes, não se afastando para isso, da proteção a parte hipossuficiente, o empregado. Nessa linha de raciocínio, o artigo 468 da CLT nos ensina que: Nos contratos individuais de trabalho só é lícita a alteração das respectivas condições por mútuo consentimento, e ainda assim desde que não resultem, direta ou indiretamente, prejuízos ao 3 empregado, sob pena de nulidade da cláusula infringente desta garantia. § 1º Não se considera alteração unilateral a determinação do empregador para que o respectivo empregado reverta ao cargo efetivo, anteriormente ocupado, deixando o exercício de função de confiança. (Redação dada pela Lei nº 13.467, de 2017) § 2º A alteração de que trata o § 1º deste artigo, com ou sem justo motivo, não assegura ao empregado o direito à manutenção do pagamento da gratificação correspondente, que não será incorporada, independentemente do tempo de exercício da respectiva função. (Incluído pela Lei nº 13.467, de 2017). Para entender melhor o que foi dito acima, lembre-se do princípio da inalterabilidade contratual lesiva, aquele que define que as alterações que prejudiquem o empregado não serão admitidas. Para que a alteração seja válida, ela deverá advir de um consenso entre as partes. Certo, mas e se o empregado concordar com alguma alteração que lhe seja prejudicial? Não há dúvidas, caso isso ocorra, a cláusula será nula, assim como todas aquelas que desta advierem, em razão do caráter de indisponibilidade e irrenunciabilidade dos direitos trabalhistas. Mas e o parágrafo primeiro, ele não diz o contrário? Na verdade, não. O que o parágrafo primeiro do artigo nos ensina é que, em caso de retorno à função da qual o empregado saiu para ocupar função de confiança, não será visto como alteração, mas sim, retorno à função primeiramente ocupada. Já o parágrafo segundo veda a possibilidade de incorporação de ganhos, normalmente maiores, obtidos na função de confiança, independentemente do tempo de serviço efetivo ali prestado, quando da revinda à função original. Até aí tudo bem, estamos entendidos. Mas e quando a empresa do meu tio Joaquim, lá de Vitória/ES o transferiu de unidade? Eles sequer perguntaram o que ele queria, simplesmente tiraram ele do centro e mandaram para outro bairro. Neste caso, o artigo 469 da CLT autoriza essa mudança sem considerar alteração no contrato de trabalho. Isso em razão de tal mudança não acarretar mudança no domicílio do tio Joaquim. Entretanto, por exemplo, se a empresa em que o tio Joaquim trabalha, quisesse transferi-lo para São Mateus/ES, a 213km da capital capixaba, essa mudança seria considerada alteração do contrato de trabalho e só poderia ocorrer com anuência das partes e, desde que não fosse prejudicial ao trabalhador. 4 FIQUE ATENTO! Existem mais detalhes a serem observados. Caso haja extinção de unidade, a transferência do empregado é lícita, partindo do ponto que uma alteração de localidade de trabalho é menos prejudicial à perda do emprego (art. 469, §2º, CLT). E se mesmo assim, o empregador quiser transferir temporariamente o empregado em caso diferente do artigo 468 da CLT? Afinal ele possui o poder diretivo. Bom, nesse caso, o parágrafo 3º do artigo 469 da CLT determina que ao empregado seja pago um adicional de não menos que 25% do seu salário recebido antes da transferência, enquanto o “temporariamente” durar. Além disso, todas as despesas de transferência correrão por conta do empregador (artigo 470 da CLT). Vamos a um exemplo para elucidar qualquer questão que venha ter surgido: você se lembra do tio Joaquim? Pois bem, ele é um engenheiro renomado na arte elaborar máquinas para tirar o couro do boi, sem causar danos nem ao couro, tampouco à carne. A empresa em que ele trabalha, sediada em Vitória/ES, acaba de montar uma filial em Maçambara/RS, pensando na expansão dos trabalhos específicos, visto que a região é ampla produtora de gado de corte. Neste contexto, Joaquim é o único da empresa capacitado e com técnica o bastante para instalar o equipamento, além de treinar aqueles que vão operá-lo. Dessa forma, para este caso, aplicaremos o parágrafo 3º do artigo 469 da CLT, onde, temporariamente, Joaquim será movido ao RS para executar o serviço e, durante o período que lá estiver, deverá perceber 25% (no mínimo) a mais em seu salário e ter todas as despesas de mudanças arcadas pelo empregador. 1.1. Sucessão de empregadores Três características importantes do direito do trabalho são a continuidade, a despersonalização do empregador e a intangibilidade contratual. Mas porque falar disso agora? Simples,pois esses pontos têm total relação com o instituto denominado “sucessão de empregadores”. O parágrafo primeiro do artigo 469 da CLT apresenta duas exceções à regra citada acima. São elas: empregado que ocupe cargo de confiança e aquele empregado que em seu contrato tenho condições implícitas ou explicitas de transferência em caso de real necessidade. 5 A sucessão ocorre quando há a transferência de titularidade de uma empresa. A partir dessa transferência, a nova “administração” assume exclusivamente todos os encargos e débitos presentes na empresa. Caso haja fraude comprovada na sucessão, a empresa sucedida responderá solidariamente à sucessora (art. 448A da CLT). Os artigos 448 e 448-A da CLT são taxativos em aplicar o instituto. E essa assunção de responsabilidades advém exatamente das características citadas no início desse tema. Ao trabalhador não importa as questões de fato ou direito sobre a propriedade/controle da empresa ou estabelecimento. Ainda que haja alteração nos administradores, seu contrato como trabalhador permanecerá valendo pautando-se na continuidade, na despersonalização do empregador e na intangibilidade contratual. Lembrando-se sempre que os institutos e características aqui mencionados se dão pelo fato do empregado ser tratado como parte mais fraca dessa relação jurídica. Com a evolução dos entendimentos jurisprudenciais, hoje entende-se que a sucessão se dará com a ocorrência de um requisito fundamental: a transferência da unidade produtiva. Ou seja, a alteração de propriedade de onde se produz essencialmente o objeto principal da empresa. O que não ocorre, por exemplo, quando uma lavanderia que alugava um estabelecimento para funcionar, devolve o imóvel ao proprietário e esse retorna a locá-lo, agora para uma empresa de pet- shop. É necessária a transferência da unidade produtiva. Exemplo.: Restaurante substitui um restaurante no mesmo endereço comercial. Exercícios 1. (Adaptado de FCC, 2014 – Analista Judiciário) A empresa X Ltda. localizada na cidade de São Luís/MA possui filial em Maravilhas/MG. Tendo em vista que parte da filial foi acometida por um incêndio, danificando arquivos importantes, a empresa irá transferir unilateralmente três empregados especialistas no assunto de sua matriz para ajudar na restauração dos arquivos danificados. Neste caso, considerando que ocorrerá necessariamente a mudança de domicílio, a empresa X Ltda. a) poderá transferir desde que haja consentimento expresso dos empregados, bem como efetue o pagamento do adicional de transferência nunca inferior a 25%. b) não poderá transferir, uma vez que a Consolidação das Leis do Trabalho veda qualquer transferência unilateral, sem o consentimento do empregado, independentemente do pagamento de qualquer adicional. 6 c) poderá transferir independentemente do consentimento dos empregados, desde que seja provisória, e que efetue o pagamento do adicional de transferência nunca inferior a 30%. d) poderá transferir desde que haja consentimento expresso dos empregados, bem como efetue o pagamento do adicional de transferência nunca inferior a 30%. e) poderá transferir independentemente do consentimento dos empregados, desde que seja provisória, e que efetue o pagamento do adicional de transferência nunca inferior a 25%. 2. (FCC, 2014 – SABESP – Advogado) A reversão do empregado ao cargo efetivo anteriormente ocupado, deixando o exercício da função de confiança, segundo a Consolidação das Leis do Trabalho a) só é considerada alteração unilateral do contrato individual de trabalho se não houver autorização do sindicato da categoria. b) é considerada alteração unilateral do contrato individual de trabalho se não houver consentimento do empregado. c) é considerada alteração unilateral do contrato individual de trabalho independente do consentimento do empregado. d) não é considerada alteração unilateral do contrato individual de trabalho. e) só não é considerada alteração unilateral do contrato individual de trabalho se não houver prejuízo para o empregado. 3. (FCC, 2014 – TRT 19ª Região – Analista Judiciário) Só é admissível a alteração do contrato de trabalho quando a) feita por mútuo acordo entre as partes. b) não seja prejudicial ao empregado. c) feita por mútuo acordo entre as partes e, concomitantemente, não seja prejudicial ao empregado. d) autorizada pelo sindicato, em negociação coletiva. e) autorizada pelo sindicato, mediante homologação do ajuste, se prejudicial ao empregado. 7 Gabarito 1. RESPOSTA CORRETA “E” a) A declaração expressa da vontade do trabalhado, em casos específicos como o da questão, não é necessária. b) Não está correta a afirmação de que a CLT impeça todo o tipo de transferência. No direito, sempre fique atento às expressões “sempre”, “nunca”, “impossível”, “perpetuamente”, “jamais”, normalmente essas opções vão está erradas, afinal, no direito, “tudo depende”. c) O valor pago ao trabalhador nesses casos de transferência não poderá ser menor que 25% e não 30%. d) O consentimento, mais uma vez, é dispensado e o valor mínimo, novamente, é de 25% e) Vimos nesse capítulo que a mudança temporária necessária do trabalhador, poderá ser feita unilateralmente e que o benefício a ele pago, não poderá ser inferior a 25% (art. 496 e seus parágrafos, da CLT). 2. RESPOSTA CORRETA “D” a) Assim como em tantos outros pontos pós reforma, o sindicato, aqui, deixa de ser essencial. Portanto, sua manifestação de vontade é irrelevante. b) A CLT, para o caso específico, não menciona a manifestação de vontade do empregado para a realização do retorno ao cargo original. c) O artigo 468 da CLT define essa possibilidade de alteração de cargo, desconsiderando-a como alteração de contrato. d) O artigo 468 da CLT regulamenta a possibilidade usando as mesmas palavras inclusive que o enunciado desta alternativa. e) Não confunda os institutos. A Alteração que trata a questão é exceção à regra de não alteração do contrato de trabalho sem consentimento do empregado. 3. RESPOSTA CORRETA “C” a) A resposta está incompleta, visto que a alteração sim deve ser acordada, mas sem ser também prejudicial ao trabalhador. b) No mesmo sentido da opção anterior, a alteração não pode ser prejudicial, mas deve haver também o consentimento das partes. c) A resposta mais completa, que abarca as duas alternativas anteriores em uma só. Antes de marcar sua opção, sempre analise todas as alternativas, neste caso, temos uma alternativa completa e duas que não estão 8 “erradas”, mas incompletas. Então, sempre busque a alternativa que mais trouxer dados corretos. d) Dispensa-se a oitiva do sindicato nesses casos, bastando a vontade do empregado e do empregador, desde que não seja prejudicial ao elo mais fraco da relação. e) Mais uma vez, o sindicato não intervirá nesse assunto. Resumo Vimos aqui as possibilidades de alteração no contrato de trabalho mais o instituto da sucessão do empregador. Sempre importante lembrar que as alterações devem ser acordadas entre as partes, sem prejuízo ao empregado, salvo disposição contrária da CLT, como no caso de uma necessidade extraordinária. Lembre-se, alterações nas relações trabalhistas sempre deverão vir para benefício do empregado, nunca do empregador. E, ainda que seja em seu benefício, o empregado precisa aceitar a alteração, sob pena de ser considerada nula. Precisamos sempre ter em mente que algumas “mudanças” não são alterações do contrato de trabalho. Exemplo disso: fechamento de uma filial, mudançade unidade de trabalho que não acarrete alteração do domicílio do trabalhador, entre outras. Não deixe de ler com calma cada uma das exceções desse tipo que estão muito bem discorridas nesta apostila. Da mesma forma, ao empregado não importa se houve ou não sucessão de empregador, havendo a manutenção da atividade com transferência de propriedade da unidade produtiva, o instituto da sucessão de empregador será entendido, a obrigação do sucessor em arcar com todas as obrigações resultantes das relações, ainda que adquiridas anteriormente. Sendo assim ele responderá exclusivamente pelas obrigações, salvo se identificada fraude na sucessão, sendo, neste caso, sucessor e sucedido, responsáveis solidariamente pelas obrigações. Aqui teremos como sucessão de empregador quando houver compra, incorporação ou alteração de propriedade/administração da empresa. Essa sucessão de que tratamos, não tem relação, necessariamente com a sucessão causa mortis do direito civil. 9 Referências bibliográficas BRASIL. Decreto-Lei n. 5.452, de 1º de maio de 1943. Aprova a Consolidação das Leis do Trabalho. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del5452.htm>. Acesso em: 20 mar. 2019.
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