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Chanceler Dom Jaime Spengler Reitor Joaquim Clotet Vice-Reitor Evilázio Teixeira Conselho Editorial Ana Maria Lisboa de Mello Agemir Bavaresco Augusto Buchweitz Beatriz Regina Dorfman Bettina Steren dos Santos Carlos Gerbase Carlos Graeff Teixeira Clarice Beatriz de C. Sohngen Cláudio Luís C. Frankenberg Elaine Turk Faria Érico João Hammes Gilberto Keller de Andrade Jane Rita Caetano da Silveira Jorge Luis Nicolas Audy – Presidente Lauro Kopper Filho Luciano Klöckner EDIPUCRS Jerônimo Carlos Santos Braga – Diretor Jorge Campos da Costa – Editor-Chefe EDIPUCRS, 2013 Capa: Rodrigo Braga Silva Revisão de Texto: Cristina Becker Lopes Perna Editoração Eletrônica: Rodrigo Valls EDIPUCRS – Editora Universitária da PUCRS Av. Ipiranga, 6681 – Prédio 33 Caixa Postal 1429 – CEP 90619-900 Porto Alegre – RS – Brasil Fone/fax: (51) 3320 3711 E-mail: edipucrs@pucrs.br - www.pucrs.br/edipucrs Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) T674 Tópicos em cognição, bilinguismo e pragmática = Topics in cognition, bilingualism and pragmatics [recurso eletrônico] / org. Cristina Becker Lopes Perna, Karina Veronica Molsing. – Dados eletrônicos. – Porto Alegre : EdiPUCRS, 2012. 175 p. Sistema requerido: Adobe Digital Edition Modo de Acesso: <http://www.pucrs.br/edipucrs> ISBN 978-85-397-0268-8 1. Bilinguismo. 2. Cognição. 3. Pragmática. 4. Aquisição da Segunda Língua. 5. Linguística. I. Perna, Cristina Becker Lopes. II. Molsing, Karina Veronica. III. Título: Topics in cognition, bilingualism and pragmatics CDD 418.04 Ficha Catalográfica elaborada pelo Setor de Tratamento da Informação da BC-PUCRS. TODOS OS DIREITOS RESERVADOS. Proibida a reprodução total ou parcial, por qualquer meio ou processo, especialmente por sistemas gráficos, microfílmicos, fotográficos, reprográficos, fonográficos, videográficos. Vedada a memorização e/ou a recuperação total ou parcial, bem como a inclusão de qualquer parte desta obra em qualquer sistema de processamento de dados. Essas proibições aplicam-se também às características gráficas da obra e à sua editoração. A violação dos direitos autorais é punível como crime (art. 184 e parágrafos, do Código Penal), com pena de prisão e multa, conjuntamente com busca e apreensão e indenizações diversas (arts. 101 a 110 da Lei 9.610, de 19.02.1998, Lei dos Direitos Autorais). Cristina Becker Lopes Perna Karina Veronica Molsing (Organizadores) Tópicos em Cognição, Bilinguismo e Pragmática Topics in Cognition, Bilingualism and Pragmatics Porto Alegre - 2013 Apresentação Esta obra traz oito trabalhos sobre diversos tópicos na cognição, no bilinguismo e na pragmática, escritos por pesquisadores estrangeiros renomados e especialistas brasileiros. O livro consiste em três seções: (I) Cognição e Aquisição de Segunda Língua; (II) Bilinguismo; e (III) Pragmática. O objetivo deste volume é destacar a natureza multidisciplinar dos estudos sobre a aquisição da linguagem e as teorias que são frequentemente aplicadas nessas pesquisas. Esta coleção representa uma contribuição valiosa para estudiosos com interesse na aquisição da linguagem e algumas das suas interfaces mais pesquisadas. A seleção ilustra a aplicabilidade das teorias de várias áreas em pesquisas de aquisição de segunda língua e de bilinguismo, principalmente, na ciência cognitiva, fonologia e pragmática. Isso demonstra a abrangência de interesses nos estudos de aquisição no Rio Grande do Sul e, em contrapartida, entre os renomados pesquisadores internacionais que participam deste volume. Além disso, o amplo leque de línguas abordadas nesses estudos, inclusive no tratamento da faculdade da linguagem humana, visa a aplicabilidade ao processo de aquisição de qualquer primeira e/ou segunda língua. Os seguintes pares de línguas são abordados neste livro: espanhol-inglês, holandês-inglês, português-inglês, catalão-espanhol; indonésio-inglês; português brasileiro-mandarim. Cognição e Aquisição de Segunda Língua Os capítulos que compõem esta primeira seção apresentam resenhas teóricas de experimentos que foram publicados na literatura na área de ciência cognitiva e de aquisição de segunda língua. Esses trabalhos fornecem uma importante reflexão teórica sobre a proliferação de publicações sobre experimentos e dados para avaliar as metodologias e a validade teórica dos resultados para poder endossá-los ou sugerir alterações para futuros experimentos nesta interface disciplinar. Essas reflexões envolvem avaliações de aplicações teóricas, da operacionalização dos elementos teóricos em questão e da interpretação apropriada dos resultados obtidos. No primeiro capítulo deste livro, Uma perspectiva da neurociência cognitiva da aquisição de segunda língua: o modelo declarativo/procedural, o autor Michael Ullman apresenta uma discussão aprofundada de um modelo específico da neurociência cognitiva que assume um paralelo entre a distinção léxico-gramática na linguagem e a distinção entre memórias declarativa-procedural no cérebro. Após apresentar o funcionamento desse paralelo teórico com respeito à aquisição da primeira língua, o autor aborda os resultados de estudos anteriores sobre lesões, neuroimagens e eletrofisiologia em relação à aquisição de uma segunda língua adquirida tardiamente. Dentro desse contexto, são feitas comparações com outros modelos de aquisição de segunda língua bem como são apresentadas implicações para pesquisas futuras. Augusto Buchweitz, no seu trabalho, Investigação de semelhanças em representações semânticas no cérebro humano entre pessoas e línguas, apresenta estudos envolvendo a aprendizagem automática e os dados de imagens do cérebro para poder entender melhor como o significado de palavras é organizado no cérebro humano. Tais investigações mostram que esse tipo de organização é relativamente consistente em pessoas diferentes, o que significa que é possível realizar previsões sobre o que alguém está pensando. Isso vem sendo entendido como a “leitura da mente” ou a “identificação de pensamentos”. Buchweitz discute as implicações de tais estudos para futuras pesquisas na ciência cognitiva bem como na aquisição de segunda língua. O autor aborda a organização do significado no cérebro de quem fala mais de uma língua e apresenta resultados preliminares de um estudo que envolve a identificação de pensamentos em línguas diferentes. Esses resultados sugerem que as representações semânticas são universais. Bilinguismo Os capítulos nesta seção também abordam as implicações de experimentos baseados na cognição sobre a linguagem, agora com foco no bilinguismo. Como a maioria dos falantes do mundo são bilíngues até certo ponto, os resultados de estudos sobre bilinguismo podem fornecer repercussões importantes em vários níveis de estudo e de aplicação linguística. O capítulo Modelos de acesso lexical no reconhecimento de palavras e na produção da fala bilíngue, escrito por Elena Preuss e colegas, concentra-se no acesso lexical dos bilíngues, especificamente a produção de fala e o reconhecimento de palavras, com relação a sua dependência de mecanismos de domínio geral ou específico. Os autores avaliam os dados de estudos de vários modelos teóricos que visam explicar esses processos no acesso lexical. Fornecem uma visão geral do debate sobre até que ponto o falante bilíngue controla a ativação de palavras na L1 ou L2. Pesquisas recentes sugerem que, entre bilíngues, uma ou outra língua no seu repertório não pode ser ativada ou desativada, mas que ambassão ativadas simultaneamente. Essa ativação envolve uma série de fatores tais como características individuais do falante, o contexto linguístico, bem como o fato de que o falante deve suprimir uma língua a favor de outra dependendo da situação. No capítulo seguinte, A relação entre bilinguismo e capacidades cognitivas: linguagem, memória e funções executivas, Paula Merode e colegas apresentam uma revisão de estudos sobre bilinguismo de uma perspectiva cognitiva, com foco no desempenho linguístico, funções executivas, atenção e memória. Os autores também abordam alguns aspectos importantes para a aquisição de linguagem e a recuperação, temas que vem ganhando cada vez mais atenção, como o papel da exposição à língua, a relação entre a plasticidade do cérebro e o bilinguismo e o papel da tipologia linguística. Além de contribuir para o entendimento de como o bilíngue saudável organiza e processa a linguagem, os resultados desse tipo de pesquisa podem ser relevantes por motivos educacionais e terapêuticos. Karina Veronica Molsing considera os fundamentos teóricos por trás de experimentos sobre a aquisição de segunda língua e bilinguismo no capítulo O lugar da relatividade linguística na ciência cognitiva: o caso de tempo. A autora se concentra em estudos que abordam a noção de tempo e sua relação com as categorias gramaticais que expressam a temporalidade na linguagem natural. Esses estudos se baseiam em experimentos sobre como a linguagem influencia o pensamento, mais especificamente, sobre como o sistema linguístico para a expressão de temporalidade influencia o modo como se pensa sobre a dimensão de tempo. Nesses experimentos, os falantes bilíngues são considerados participantes ideais quanto à relação linguagem-pensamento, pois podem ser testados em ambas as línguas e ao mesmo tempo minimiza- se a interferência de diferenças individuais entre línguas. Portanto, encontrar efeitos entre linguagem e pensamento em falantes bilíngues seria realmente extraordinário, mas depende crucialmente de como os elementos linguísticos e conceitos cognitivos, que correspondem à linguagem e pensamento, são operacionalizados. O capítulo por Mehmet Yavaş, Aquisição de sequências sC em crianças bilíngues em espanhol-inglês com desvio fonológico, apresenta os resultados de um experimento que faz parte de um projeto maior que compara crianças bilíngues com e sem desvios fonológicos. Esta investigação representa uma tentativa de remediar a falta geral de estudos sobre a aquisição de sequências em crianças bilíngues com desvios fonológicos. Nesse caso, os bilíngues são crianças que falam espanhol e inglês, entre os quais a aquisição de sequências sC no inglês é testada. Como não existem sequências desse tipo no espanhol, esse tipo de estudo representa uma oportunidade de observar qualquer interferência dessa língua e comparar esses resultados com os de crianças monolíngues. Pragmática Num leque amplo de investigações sobre o significado na comunicação, as teorias pragmáticas são frequentemente aplicadas a estudos de aquisição de segunda língua. Este é o caso especialmente com os dois tópicos abordados nesta seção: análise da conversação e hedging. Gabriele Kasper apresenta uma análise teórica sobre polidez no seu capítulo Localizando a polidez na interação. Enquanto a grande parte das pesquisas sobre polidez assume as teorias tradicionais como a Teoria dos Atos de Fala por Searle (1969) e a Teoria da Polidez por Brown e Levinson (1978/1987), Kasper sugere divergir da visão cognitivista/racionalista na determinação da polidez e da força ilocucionária através de cálculos de custo-benefício. Ela apresenta perspectivas etnometodológicas, pós-estruturalistas e construcionistas em que a polidez é entendida como uma prática sócio-discursiva, e adota a análise da conversação para destacar a sua natureza interacional. Enquanto as visões racionalistas e da análise da conversação compartilham algumas idéias com relação a estratégias convencionalizadas e recursos gramaticais, os últimos abandonam o uso de ‘formulas semânticas’ e assumem formatos de turno gramatical e organização sequencial. São esses dois conceitos, argumenta Kasper, que melhor refletem a natureza da polidez. Em outras palavras, o foco se desloca das intenções dos falantes para as práticas interacionais realizadas em conjunto pelos participantes envolvidos. De acordo com Kasper, esta perspectiva é mais alinhada com o conceito original de ‘face’ de Goffman, uma característica chave da interação e, portanto, da polidez. Outro elemento comum da comunicação é o fenômeno de hedging, que a autora Sun Yuqi aborda no seu trabalho, Hedging nas comunicações emotivas. Diferentemente de Kasper, Yuqi concilia a tradição sócio-cognitiva da investigação pragmática com a perspectiva etnometodológica da interação. Por um lado, hedging é entendido como uma estratégia retórica em que o falante atenua ou intensifica o compromisso proposicional ou um comportamento emocional. Por outro lado, ao invés de analisar as motivações cognitivas pelo uso de hedges, a autora analisa os efeitos interacionais de hedging como uma estratégia linguística utilizada pelos membros de um grupo social para cumprir os objetivos da comunicação. Considerando os dados na interface linguística-psicologia, a dimensão emocional de hedging é vista como uma atividade empática versus anti-empática, necessária para o reconhecimento da competência pragmática. No último capítulo desta seção, Cristina Perna e Sun Yuqi apresentam os resultados de uma investigação sobre o uso de hedges em Aquisição de português como língua adicional (PLA): o uso de hedges em português por falantes nativos de mandarim. Baseado em dois corpora oral de falantes de português brasileiro (PB) e de falantes de mandarim, aprendizes de PB, as autoras propõem uma classificação de tipos de hedges utilizados no PB e no português como língua adicional. A análise dos corpora mostrou que embora os aprendizes de PB, falantes de mandarim, sejam capazes de se expressarem claramente, utilizaram uma linguagem mais direta e precisa em comparação aos falantes nativos de PB. Portanto, as autoras sugerem que o uso de hedges pode refletir a proficiência comunicativa de falantes não-nativos. Nesse caso, os resultados representariam uma contribuição valiosa às metodologias para o ensino de português como língua adicional. Gostaríamos de agradecer à Ingrid Finger e Claudia Brescancini pelas imprescindíveis revisões e correções das traduções realizadas pelas organizadoras dos capítulos por Michael Ullman e Mehmet Yavaş. Agradecemos também a colaboração e esforços da equipe da Edipucrs. Cristina Perna Karina Molsing Organizadoras Presentation This collection presents eight papers on various topics in cognition, bilingualism and pragmatics, written by renowned international researchers and Brazilian specialists. The volume consists of three sections: (I) Cognition and Second Language Acquisition; (II) Bilingualism; and (III) Pragmatics. The objective of this book is to highlight the multidisciplinary nature of language acquisition studies and the theories that are often applied in these investigations. This collection represents a valuable contribution for those interested in language acquisition and some of its most researched interfaces. The selection of papers illustrates the broad applicability of the theories from the various areas and disciplines of research in second language acquisition, bilingualism and, particularly, cognitive science and pragmatics. This demonstrates the breadth of interests in acquisition studies in Rio Grande do Sul, Brazil, as well as those of the renowned international researchers participating in this volume. Moreover, the wide range of languages addressed in these studies, including in the approach to the human language faculty, have the objective of applicabilityto any first and/or second language acquisition process. The following language pairs are addressed in this book: Spanish-English, Dutch-English, Portuguese-English, Catalan-Spanish, Indonesian-English, Brazilian Portuguese-Mandarin. Cognition and Second Language Acquisition The chapters that compose this first section present theoretical reviews of experiments that have been published in the literature in the area of cognitive science and second language acquisition. These papers provide an important theoretical reflection on proliferation of publications on experiments and data to evaluate the methodology and theoretical validity of the results in order to endorse them or suggest adjustments to future experiments at this disciplinary interface. These reflections involve evaluations of the theoretical application, the operationalization of the theoretic elements in question and the proper interpretation of the results obtained. In the first chapter of the book, A cognitive neuroscience perspective on second language acquisition: the declarative/procedural model, author Michael Ullman presents an in-depth discussion of a particular model in cognitive neuroscience which assumes a parallel between the lexicon-grammar distinction in language and the declarative- procedural memory distinction in the brain. After presenting how this theoretical parallel works with respect to first language acquisition, the author then addresses results from previous lesion, neuroimaging, and electrophysiological studies with respect to later-learned second language acquisition. Within this context, comparisons are made with other second language acquisition models as well as implications for future research. Augusto Buchweitz presents, in his paper, The investigation of commonalities in human brain semantic representations across people and across languages, studies involving machine learning and brain imaging data in order to get a better understanding of how word meaning is organized in the human brain. Investigations such as these have found that this organization is relatively consistent across different people, which means that it is possible to make predictions about what someone is thinking. This has come to be understood as “mind reading” or “thought identification”. Buchweitz discusses the implications of such studies on future research in cognitive science as well as second language acquisition. The author addresses the organization of meaning in the brains of those who speak more than one language and presents preliminary results from a study that involves thought identification cross- linguistically. These results suggest that semantic representations may be universal. Bilingualism The chapters in this section continue to address the implications of cognitive-based experiments to language, this time with a focus on bilingualism. Since most speakers in the world are bilingual to some extent, results from studies on bilingualism may provide important repercussions at various levels of linguistic study and application. The chapter, Models of lexical access in word recognition and in bilingual speech production, by Elena Preuss and colleagues, focuses on lexical access in bilinguals, particularly speech production and word recognition, with respect to their reliance on either domain-general or - specific mechanisms. The authors review data from studies from various theoretical models aimed at explaining these processes in lexical access. The authors provide an overview of the debate regarding how much control the bilingual speaker actually has over the activation of words in the L1 or L2. Recent research suggests that, in bilinguals, one or the other language in the bilingual’s repertory cannot be switched on or off, but that both are switched on simultaneously. This activation involves a variety of factors such as the individual characteristics of the speaker, the linguistic context as well as the fact that the speaker must suppress one language in favor of the other depending on the situation. In the next chapter, The relationship between bilingualism and cognitive skills: language, memory and executive functions, Paula Merode and colleagues provide an extensive review of studies on bilingualism from a cognitive perspective, focusing on linguistic performance, executive functions, attention and memory. The authors also touch upon some aspects important for language acquisition and recovery, which are beginning to gain more attention, such as the role of language exposure, the relationship between brain plasticity and bilingualism, and the role of language typology. In addition to contributing to the understanding of how the healthy bilingual organizes and processes language, results from this type of research can be relevant for educational and therapeutic purposes. Karina Veronica Molsing considers the theoretical foundations behind experiments in second language acquisition and bilingualism in The place of linguistic relativity in cognitive science: the case of time. The author focuses on studies involving the notion of time and its relationship with the grammatical categories expressing temporality in natural language. These studies are based on experiments of how language influences thought. More specifically, how one’s linguistic system for expressing temporality influences how one thinks about the dimension of time. In these experiments, bilingual speakers are considered the ideal participants in that the language-thought relationship can be tested in both languages while minimizing the interference of individual differences between languages. Hence, finding language-thought effects in bilinguals would be truly remarkable, but crucially depends on how the linguistic elements and cognitive concepts corresponding to language and thought are operationalized. The chapter by Mehmet Yavaş, Acquisition of /s/-clusters in Spanish–English bilingual children with phonological disorders, presents the results of an experiment which is part of a larger project that compares bilingual children with and without phonological disorders. This investigation represents an attempt to remedy the general lack of studies on cluster acquisition in bilingual children with phonological disorders. In this case, the bilinguals are children who speak Spanish and English, where the acquisition of /s/-clusters in English is tested. Since there are no /s/-clusters in Spanish, this kind of study provides the opportunity to observe any interference from this language and compare these results with those of monolingual children. Pragmatics In the wide array of investigations on communicative meaning, pragmatic theories are often applied to second language acquisition studies. This is particularly the case with the two topics addressed in this section: conversation analysis and hedging. Gabriele Kasper presents a theoretical analysis on politeness in her chapter Locating Politeness in Interaction. While most research on politeness has largely assumed front-running theories such as Searle’s Speech Act Theory (1969) and Brown and Levinson’s (1978/1987) Politeness Theory, Kasper suggests diverging from the cognitivist/rationalist view of determining politeness and illocutionary force through cost-benefit calculations. She presents ethnomethodological, poststructuralist, and constructionist perspectives in which politeness is understood as a social-discursive practice, and adopts conversation analysis to highlight its interactional nature. While rationalist views and conversation analysis views share certain ideas regarding conventionalized strategies and grammatical resources, the latter abandons the former’s use of ‘semantic formula’ in favor of grammatical turn formats and sequence organization. It is these two concepts, Kasper argues, that better reflect the nature of politeness.In other words, the focus shifts from the speakers’ intentions to the interactional practices achieved jointly by the participants involved. According to Kasper, this perspective is more aligned with Goffman’s original concept of ‘face’, a key feature of interaction and, thus, politeness. Another common element of communication is the phenomenon of hedging, which author Sun Yuqi addresses in her paper Hedging in emotive communication. Differently from Kasper, Yuqi reconciles the sociocognitive tradition of pragmatic investigation with the ethnomethodological perspective of interaction. On the one hand, hedging is understood as a rhetorical strategy in which the speaker attenuates or intensifies a propositional commitment or an emotional behavior. On the other hand, instead of analyzing the cognitive motivations for using hedges, the author analyzes the interactional effects of hedging as a linguistic strategy used by members of a social group to accomplish the objectives of communication. Considering the data at the linguistics-psychology interface, the emotional dimension of hedging is seen as an empathic versus anti-empathic activity necessary for the recognition of pragmatic competence. In the final chapter of this section, Cristina Perna and Sun Yuqi present the results of an investigation on the use of hedges in Acquisition of Portuguese as an additional language (PAL): the use of hedges in Brazilian Portuguese by native speakers of Mandarin Chinese. Based on two oral corpora of Brazilian Portuguese (BP) speakers and Mandarin- speaking learners of BP, the authors propose a classification of hedge types used in BP and in Portuguese as an Additional Language. The analysis of the corpora showed that while the Mandarin-speaking learners of BP were able to express themselves clearly, they used language that was more direct and more precise in comparison to native BP speakers. Hence, the authors suggest that the use of hedges may reflect the communicative proficiency of non-native speakers. If so, this provides a valuable contribution to methodologies for teaching Portuguese as an Additional Language. We would like to thank Ingrid Finger and Claudia Brescancini for their indispensable revisions and corrections of the translations carried out by the editors of the chapters by Michael Ullman and Mehmet Yavaş. We would also like acknowledge the collaboration and efforts of the team at Edipucrs. Cristina Perna Karina Molsing Editors Uma Perspectiva da Neurociência Cognitiva na Aquisição de Segunda Língua: O Modelo Declarativo/Procedural 1* Michael T. ULLMAN Georgetown University Resumo O capítulo apresenta um modelo que integra contribuições empíricas e teóricas advindas da neurociência cognitiva para a investigação do processo de aquisição de segunda língua. Inicialmente, são apresentadas as bases neurocognitivas do léxico mental e da gramática mental na aquisição normal de uma primeira língua na infância. A seguir, discute-se evidência empírica de estudos eletrofisiológicos, de neuroimagem e de lesões no contexto das previsões do modelo declarativo/procedural para a aquisição e o processamento de línguas aprendidas após a puberdade. Finalmente, comparações entre o modelo declarativo / procedural e outras perspectivas teóricas são feitas, destacando-se implicações e questões para estudos futuros. Palavras-chave Modelo declarativo/ procedural; léxico mental; gramática mental; aquisição de segunda língua. Abstract The chapter discusses a model that integrates theoretical and empirical approaches of cognitive neuroscience in the investigation of second language acquisition. First, it addresses the neurocognitive bases of the mental lexicon and the mental grammar in normal early-learned first language. Next, empirical data from lesion, neuroimaging, and electrophysiological studies are reviewed in the context of the predictions of the declarative/ procedural model regarding the acquisition and processing of later-learned (second) languages. Finally, comparisons between the declarative/ procedural model and other second language theoretical perspectives are made, and implications and issues for further study are pointed out. Keywords Declarative/ procedural model; mental lexicon; mental grammar; L2 acquisition. 1. Introdução As bases computacionais, cognitivas e neurais (i.e. neurocognitivas) da aquisição e processamento de segunda língua ainda não são muito bem compreendidas. Estudos empíricos nessa área são muito raros. Evidências sobre os substratos neurais específicos da segunda língua e as relações entre seus pressupostos computacionais, cognitivas e neurais têm sido especialmente escassos (e.g. quais estruturas cerebrais desempenham quais papéis computacionais e como elas interagem?). Considerando essa carência de dados, não é de surpreender que poucas tenham sido as tentativas de oferecer teorias neurocognitivas integradas sobre a segunda língua, particularmente no contexto de primeira língua e de nosso entendimento mais amplo da mente e do cérebro. Neste capítulo, apresento um modelo neurocognitivo que começa a abordar essas lacunas teóricas. De acordo com esta perspectiva, tanto a primeira quanto a segunda língua são adquiridas e processadas por sistemas cerebrais bem estudados que subjazem às funções não- linguísticas particulares. Supõe-se que esses sistemas cerebrais desempenham papéis análogos nas suas funções não-linguísticas e linguísticas. Portanto, o nosso conhecimento independente das bases farmacológicas, endócrinas, celulares, fisiológicas, neuroanatômicas, computacionais e cognitivas desses sistemas leva a previsões testáveis sobre a primeira e a segunda língua. Assim, o modelo traz a base de conhecimentos e abordagens empíricas da neurociência cognitiva para lançar luz sobre o estudo de aquisição de segunda língua (ASL). Este capítulo inicia com uma discussão de questões linguísticas e neurocognitivas mais amplas, junto com o modelo neurocognitivo relativo à aquisição normal de primeira língua (L1). Apresenta-se, em seguida, os fundamentos, a teoria e as evidências empíricas existentes com relação à aquisição e o processamento da segunda língua e de línguas subsequentes, com um foco nas línguas adquiridas tardiamente, particularmente naquelas adquiridas depois da puberdade. (O termo L2 é usado neste capítulo para referir apenas a línguas aprendidas tardiamente.) Finalmente, o capítulo conclui com comparações entre o modelo e outras perspectivas, e com uma discussão de implicações e questões para pesquisas futuras. 2. A Neurocognição do Léxico e da Gramática A linguagem depende de duas capacidades mentais (CHOMSKY 1965, PINKER 1994). Primeiro, toda informação idiossincrática deve ser memorizada em algum tipo de dicionário mental, que frequentemente é chamado de ‘léxico mental’. O léxico necessariamente inclui todas as palavras com pares arbitrários de som-significado, tais como a palavra não-composicional (“simples”) cat. Deve também conter outras informações irregulares específicas das palavras, isto é, informações não completamente deriváveis, tais como, se um determinado verbo necessita de argumento (e.g. hit requer um objeto direto) e se uma palavra possui alguma forma relacionada não-previsível (e.g. o tempo passado do verbo irregular teach é taught). O léxico mental pode abranger outras informações distintas também, menores ou maiores que palavras: morfemas ligados (e.g. os sufixos –ed ou –ness em inglês, como em walked ou happiness) e estruturas linguísticas complexas cujos significados não podem ser derivados de forma transparente das suas partes (e.g. frases idiomáticas, como kick the bucket) (DI SCIULLO e WILLIAMS 1987, HALLE e MARANTZ 1993). Mas a linguagem consiste também em regularidades, que podem ser capturadas por regras de gramática. As regras restringem como as formas lexicaisse combinam em representações complexas e nos permitem interpretar os significados de formas complexas sregras que subjazem às ordens sequenciais e relações hierárquicas de itens lexicais e de categorias abstratas tais como o sintagma verbal. Encontra-se tal comportamento regido por regras em vários aspectos da linguagem, inclusive sintagmas e sentenças (sintaxe) e palavras complexas como walked ou happiness (morfologia). As regras são uma forma de conhecimento mental que subjaz a nossa capacidade individual de produzir e compreender formas complexas. A aprendizagem e o uso desse conhecimento geralmente ocorre de forma implícita – isto é, não disponível ao conhecimento consciente. Por último, embora as representações complexas (e.g. a forma regular de tempo passado walked) possam ser computadas desde a origem toda vez (e.g. walk + - ed), elas poderiam em princípio também estar armazenadas no léxico mental. Várias teorias e estudos empíricos investigaram as bases neurocognitivas de capacidades lexicais e gramaticais na L1 (e.g. DAMASIO e DAMASIO 1992, ELMAN ET AL. 1996, FRIEDERICI 2002, GLEASON e RATNER 1998, GOODGLASS 1993, PINKER 1994). Essas pesquisas têm abordado várias questões inter-relacionadas, inclusive as seguintes: (a) separação: o léxico e a gramática dependem de componentes distintos que dependem de correlatos neurocognitivos separáveis? (b) mecanismos: quais mecanismos subjazem à aprendizagem, a representação, a computação e o processamento das duas capacidades linguísticas? (c) especificidade de domínio: os substratos neurocognitivos subjacentes se dedicam somente à linguagem (são específicos do domínio) ou também apóiam funções não-linguísticas (isto é, são independentes do domínio)? (d) correlatos biológicos: quais são os correlatos biológicos do léxico e da gramática, sejam estruturas cerebrais, circuitos neurais, ou sistemas moleculares? Qual é a ordem temporal de seu envolvimento durante o processamento o como interagem? Aqui, o meu foco está em uma perspectiva teórica – o modelo declarativo/procedural (DP) (ULLMAN 2001a, 2001c; ULLMAN 2004; ULLMAN ET AL. 1997), que aborda essas e outras questões relacionadas. A premissa básica do modelo DP é que aspectos da distinção léxico-gramática estão ligados à distinção entre dois sistemas de memória no cérebro que são muito bem estudados (ULLMAN 2001c, ULLMAN 2004), a memória declarativa e a memória procedural, que têm sido implicadas em funções não-linguísticas em seres humanos e outros animais (MISHKIN, MALAMUT e BACHEVALIER 1984; SCHACTER e TULVING 1994; SQUIRE e KNOWLTON 2000; SQUIRE e ZOLA 1996). Nas próximas duas seções, discuto primeiro a natureza dos dois sistemas de memória e em seguida apresento as afirmações e previsões do modelo DP em relação à L1. 3. Memória Declarativa e Procedural O sistema de memória declarativa subjaz à aprendizagem, a representação e o uso de conhecimento sobre fatos (conhecimento semântico) e eventos (conhecimento episódico) (EICHENBAUM e COHEN 2001, MISHKIN ET AL. 1984, SCHACTER e TULVING 1994, SQUIRE e KNOWLTON 2000). Esse sistema pode ser particularmente importante para a aprendizagem de relações arbitrárias (e.g. o fato que Ouagadougou é a capital de Burkina Faso) (EICHENBAUM e COHEN, 2001). O conhecimento adquirido na memória declarativa é no mínimo parcialmente (mas não completamente; CHUN, 2000) explícito, isto é, disponível ao conhecimento consciente. O sistema de memória é apoiado por regiões mediais do lobo temporal (e.g. o hipocampo), que são conectadas extensivamente a regiões neocorticais temporais e parietais (SUZUKI e ARNARAL, 1994). As estruturas temporais mediais consolidam, e possivelmente recuperam, novas memórias (EICHENBAUM e COHEN, 2001; MISHKIN ET AL. 1984; SCHACTER e TULVING, 1994; SQUIRE e KNOWLTON, 2000). As memórias parecem, no decorrer do tempo, se tornar independentes dessas estruturas e dependentes de regiões neocorticais, particularmente dos lobos temporais (HODGES e PATTERSON, 1997; MARTIN, UNGERLEIDER, e HAXBY, 2000). Outras estruturas cerebrais também desempenham um papel na memória declarativa. Porções do córtex ventrolateral prefrontal (que corresponde em maior parte à área de Brodmann [BA] 45 e BA 47) parecem desempenhar um papel na seleção ou recuperação de memórias declarativas, enquanto partes do cerebelo direito podem servir como base para a procura por esse conhecimento (BUCKNER e WHEELER, 2001; DESMOND e FIEZ, 1998; IVRY e FIEZ, 2000; WAGNER ET AL. 1998). Vale salientar que utilizo o termo sistema de memória declarativa para me referir ao sistema todo envolvido na aprendizagem e uso do conhecimento relevante (EICHENBAUM, 2000), e não apenas às estruturas que subjazem à consolidação da memória. A) B) FIGURA 5.1. Estruturas e regiões do cérebro: (A) Uma visão lateral de estruturas anatômicas no hemisfério esquerdo do cérebro e do cerebelo. As mesmas estruturas são encontradas no lado direito. Existem quatro lobos em cada hemisfério do cérebro. O lobo frontal se localiza na parte anterior (na frente) do sulco central, acima do sulco lateral. O lobo temporal se localiza na parte inferior (embaixo) do sulco lateral, indo até o lobo occipital, na parte posterior do cérebro. O lobo parietal se localiza na parte posterior (atrás) do sulco central e superior (acima de) ao lobo temporal. (B) As áreas de Brodmann do aspecto lateral do hemisfério esquerdo. As mesmas áreas são encontradas no hemisfério direito. As áreas de Brodmann no aspecto medial do cérebro não estão ilustradas. (C) Uma visão de cabeça inteira de certas estruturas subcorticais, inclusive os gânglios basais. Em cada hemisfério, os gânglios basais consistem de várias subestruturas, sendo que o caudado, o putâmen, e o globo pálido são indicados aqui. (D) Uma visão medial do cérebro, incluindo o hipocampo e várias estruturas às quais ele é estreitamente ligado. Figura 5.1A de domínio público. Figura 5.1B de The human brain: surface, three-dimensional sectional anatomy, e MRI (p. 44), por Henri M. Duvernoy, New York: Springer. Direitos Autorais 1991. Reimpresso com permissão. Figura 5.1C de Human diencephalon por Jacob L. Drisen, em http://www.driesen.com/bdsalgdnglia-2.jpg. Direitos autorais 2005 por Jacob L. Driesen, PhD. Reimpresso com permissão. Figura 5.1D de Neuroscience (2a ed.) Brain areas associated with declarative memory disorders por Dale Purves, George J. Augustine, David Fitzpatrick, Lawrence C. Katz, Anthony-Samuel La Mantia, James 0. McNamara, e S. Mark Williams (Eds.). Sunderland, MA.: Sinauer Associates. Direitos autorais 2001. Reimpresso com permissão. C) D) O sistema de memória declarativa tem sido estudado intensivamente não apenas sob perspectivas funcionais e neuroanatômicas, mas também nos níveis molecular e celular (H. V. CURRAN, 2000; LYNCH, 2002). O neurotransmissor acetilcolina desempenha um papel importante na memória declarativa e na função hipocampal (FREO, PIZZOLATO, DAM, ORI, e BATTISTIN, 2002; PACKARD, 1998). (Os neurotransmissores são moléculas que permitem a comunicação entre os neurônios.) As evidências também sugerem que o sistema de memória declarativa é afetado pelo estrogênio (PHILLIPS e SHERWIN, 1992; SHERWIN, 1988), talvez via a modulação de acetilcolina (PACKARD, 1998; SHUGHRUE, Scrimo, e Merchenthaler, 2000). Por exemplo, o estrogênio aumenta a memória declarativa em mulheres (MAKI e RESNICK, 2000; SHERWIN, 1998) e homens (KAMPEN e SHERWIN, 1996; MILES, GREEN, SANDERS, e HINES, 1998), e fortalece os correlatos moleculares e celulares de aprendizagem hipocampal de longo prazo (MCEWEN, ALVES, BULLOCH, e WEILAND, 1998; WOOLLEY e SCHWARTZKROIN, 1998). Além disso, a testosterona, que é a fonte principal de estrogênio nos homens, também aumenta a sua memória (CHERRIER ET AL. 2001). O sistema de memória procedural está envolvido na aprendizagem de capacidades e hábitos cognitivos e motoresnovos e no controle de capacidades e hábitos cognitivos e motores bem estabelecidos, especialmente aqueles envolvidos em sequências (ALDRIDGE e BERRIDGE, 1998; BOECKER ET AL. 2002; MISHKIN ET AL. 1984; SCHACTER e TULVING, 1994; SQUIRE e KNOWLTON, 2000; WILLINGHAM, 1998). Nem a aquisição nem a recordação desses procedimentos parecem ser acessíveis à memória consciente. Portanto, o sistema é frequentemente chamado de sistema de memória implícita. (Utilizo o termo memória procedural para me referir apenas a um tipo de sistema de memória não-declarativa e implícita (SQUIRE e ZOLA, 1996), e não a todos esses sistemas; ver também a seção 8 abaixo.) O sistema é composto por uma rede de várias estruturas cerebrais interligadas (DE RENZI, 1989; HEILMAN, WATSON, e ROTHI, 1997; HIKOSAKA ET AL. 2000; JENKINS, BROOKS, NIXON, FRACKOWIAK, e PASSINGHAM, 1994; MISHKIN ET AL. 1984; RIZZOLATTI, FOGASSI, e GALLESE, 2000; SCHACTER e TULVING, 1994; SQUIRE e ZOLA, 1996). Ele depende especialmente de estruturas no hemisfério esquerdo do cérebro (DE RENZI, 1989; HEILMAN ET AL. 1997; SCHLUTER, KRAMS, RUSHWORTH, e PASSINGHAM, 2001) e é enraizado em circuitos neurais que englobam os lobos frontais e gânglios basais, que são estruturas subcorticais fortemente ligadas ao córtex frontal. As evidências sugerem que neurotransmissores particulares desses circuitos, especialmente a dopamina, subjazem aos aspectos de aprendizagem procedural (HARRINGTON, HAALAND, YEO, e MARDER, 1990; NAKAHARA, DOYA, e HIKOSAKA, 2001; SAINT-CYR, TAYLOR, e LANG, 1988). Dentro do córtex frontal, duas áreas desempenham papéis particularmente importantes: as áreas pré- motoras, especialmente a região da área motora suplementar (AMS e pré-AMS); e a área de Broca, especialmente porções posteriores dessa região, que correspondem em grande parte a BA 44 (a área de Broca é definida aqui como uma parte do córtex frontal inferior, inclusive e talvez limitada ao córtex correspondente a BA 44 e 45; AMUNTS ET AL. 1999). Outras estruturas cerebrais também fazem parte da rede do sistema procedural, inclusive porções do córtex parietal inferior e o cerebelo (HIKOSAKA ET AL. 2000; RIZZOLATTI, FOGASSI, e GALLESE, 2001; SCHACTER e TULVING, 1994; SQUIRE e ZOLA, 1996; ULLMAN, 2004; WILLINGHAM, 1998). Utilizo o termo sistema de memória procedural para me referir ao sistema todo envolvido na aprendizagem e uso de habilidades motoras e cognitivas, e não apenas às estruturas cerebrais que fundamentam a sua aquisição. Os sistemas de memória declarativa e procedural interagem de várias maneiras. Essencialmente, os sistemas juntos formam uma rede que interage dinamicamente e que produz uma aprendizagem e um processamento cooperativo e competitivo, de forma que as funções de memória possam ser otimizadas (POLDRACK e PACKARD, 2003). Em primeiro lugar, os dois sistemas podem se complementar na aquisição do mesmo conhecimento, ou de conhecimentos análogos, incluindo o conhecimento de sequências. Como foi mostrado inicialmente com o paciente amnésico H.M., o sistema de memória declarativa não precisa estar intacto para que o sistema de memória procedural consiga aprender (CORKIN, 1984; EICHENBAUM e COHEN, 2001; SQUIRE e KNOWLTON, 2000). Entretanto, quando ambos os sistemas estão em funcionamento, podem ser utilizados cooperativamente para aprender uma determinada tarefa (WILLINGHAM, 1998). Pode-se esperar que o sistema de memória declarativa adquira conhecimento inicialmente, graças à sua capacidade rápida de aprendizagem, enquanto o sistema procedural pode aprender o mesmo conhecimento, ou um conhecimento análogo, de forma gradual (PACKARD e MCGAUGH, 1996; POLDRACK e PACKARD, 2003). Interessantemente, a evolução dessa mudança de memória declarativa a memória procedural no tempo pode ser modulada farmacologicamente (PACKARD, 1999). Em segundo lugar, estudos com animais e seres humanos sugerem que os dois sistemas também interagem competitivamente (para resenhas, ver PACKARD e KNOWLTON, 2002; POLDRACK e PACKARD, 2003; ULLMAN, 2004). Isso leva a um “efeito gangorra” (ULLMAN, 2004), de modo que uma disfunção em um sistema resulta na aprendizagem aprimorada em outro, ou a aprendizagem em um sistema reduz a funcionalidade no outro (HALBIG ET AL. 2002; MCDONALD e WHITE 1993; MITCHELL e HALL, 1988; PACKARD, Hirsh, e WHITE 1989; POLDRACK e PACKARD, 2003; POLDRACK ET AL. 2001; POLDRACK, PRABHAKARAN, SEGER, e GABRIELI, 1999; SCHROEDER, WINGARD, e PACKARD, 2002; ULLMAN, 2004). O efeito gangorra pode ser explicado por uma série de fatores (ULLMAN, 2004), inclusive projeções anatômicas diretas entre os dois sistemas (SORENSEN e WITTER, 1983) e um papel para acetilcolina, que pode não somente aprimorar a memória declarativa, mas também pode desempenhar um papel inibitório nas estruturas cerebrais que subjazem à memória procedural (CALABRESI, CENTONZE, GUBELLINI, MARFIA ET AL. 2000). O estrogênio também pode contribuir para o efeito gangorra, talvez via a modulação de acetilcolina (ULLMAN, 2004). Os dois sistemas de memória exibem variabilidade no seu funcionamento entre indivíduos. Isto é, os indivíduos diferem na sua capacidade de aprender ou utilizar conhecimentos em um ou outro sistema. De interesse particular aqui é a evidência que sugere diferenças de sexo na funcionalidade dos dois sistemas. As mulheres demonstram uma vantagem sobre os homens em tarefas de memória verbal (HALPERN, 2000; KIMURA, 1999; KRAMER, DELIS, KAPLAN, O’DONNELL, e PRIFITERA, 1997), que dependem da memória declarativa (SQUIRE e KNOWLTON, 2000; WAGNER ET AL. 1998). Essa diferença de sexos não é surpreendente considerando os níveis mais altos de estrogênio em meninas e mulheres (antes da menopausa) do que em meninos e homens (CUTLER JR., 1997; K. KLEIN, BARON, Colli, MCDONNELL, e CUTLER, 1994; WILSON, FOSTER, KRONENBERG, e LARSEN, 1998). Por outro lado, as evidências sugerem que os homens demonstram um desempenho superior em uma série de tarefas, tais como arremesso direcionado e rotação mental (KIMURA, 1999), que supõe-se depender da rede de sistema procedural (ULLMAN e PIERPONT, 2005). É intrigante que nos ciclos menstruais das fêmeas, o desempenho em algumas dessas tarefas “masculinas” diminui com o aumento de estrogênio e aumenta com a diminuição de estrogênio (HAMPSON, 1990; KIMURA, 1999), fortalecendo a visão de que o estrogênio pode desempenhar um papel no efeito gangorra. 4. O Modelo DP e L1 De acordo com o modelo DP, na L1, o sistema de memória declarativa subjaz ao léxico mental, enquanto o sistema de memória procedural subjaz aos aspectos da gramática mental. (Para discussão adicional, ver ULLMAN, 200la, 200lc; ULLMAN, 2004; ULLMAN ET AL. 1997). Supõe-se que cada um dos sistemas de memória desempenha papéis análogos nas suas funções linguísticas e não-linguísticas. A memória declarativa é uma memória associativa que armazena não apenas informações sobre fatos e eventos, mas também conhecimento lexical, incluindo os sons e os significados de palavras. A aprendizagem de novas palavras depende em grande parte das estruturas mediais dos lobos temporais. Com o passar do tempo, o conhecimento de palavras se torna em grande parte independente do lobo temporal medial e passa a depender de áreas neocorticais, particularmente das regiões temporal e temporoparietal. Os aspectos médios e inferiores do lobo temporal podem ser particularmente importantes para armazenar os significados das palavras, enquanto as regiões temporal superior e temporoparietal podem ser mais importantes no armazenamento de formas fonológicas de palavras e possivelmente também para armazenar estruturas morfológicas e sintáticas complexas. Essas últimas regiões podem, portanto, servir como um tipo de interface entre os sistemas declarativo e procedural. O córtex prefontal ventrolateral subjaz à recuperação ou seleção de representações lexicais armazenadas em regiões cerebrais temporais, ao passo queporções do cerebelo direito podem subjazer à procura por esse conhecimento. Portanto, essas estruturas frontais e cerebelares podem ser menos importantes em linguagem receptiva do que em linguagem expressiva. Finalmente, as manipulações farmacológicas de acetilcolina e as manipulações endócrinas de estrogênio devem modular aspectos da memória lexical. A rede do sistema procedural de estruturas cerebrais fundamenta a aprendizagem implícita e o uso não apenas das capacidades cognitivas e motoras, mas também aspectos de uma gramática combinatória governada por regras. Espera-se que o sistema desempenhe papéis computacionalmente análogos nos subdomínios gramaticais, incluindo a morfologia, a sintaxe, e possivelmente a fonologia. Pode ser especialmente importante na construção de estruturas gramaticais – isto é, a combinação hierárquica e sequencial de formas lexicais armazenadas (e.g. walk + -ed) e representações abstratas (e.g. sintagmas verbais) em estruturas complexas. Manipulações farmacológicas de dopamina, e possivelmente a modulação de estrogênio e de acetilcolina, podem afetar a aquisição do conhecimento gramatical. Os dois sistemas devem interagir de forma cooperativa e competitiva na aquisição e uso da linguagem. Por exemplo, crianças jovens devem inicialmente aprender formas idiossincráticas e complexas na memória declarativa, enquanto o sistema procedural adquire gradualmente o conhecimento gramatical que subjaz às combinações regidas por regras. O aumento da funcionalidade em um sistema pode inibir o outro e vice versa. Portanto, os avanços encontrados na memória declarativa durante a infância (DI GIULIO, SEIDENBERG, O’LEARY, e RAZ, 1994; KAIL e HAGEN, 1977; ORNSTEIN, 1978) devem não somente facilitar a aquisição lexical, mas também podem eventualmente inibir a aprendizagem procedural de conhecimento gramatical. Diferenças individuais na aquisição e uso de conhecimento lexical e gramatical, inclusive diferenças de sexo, são esperadas. Devido a sua vantagem em relação à memória declarativa, as mulheres devem demonstrar capacidades lexicais superiores em comparação aos homens. Em contrapartida, os homens podem demonstrar melhor desempenho em aspectos de gramática que dependem do sistema procedural. Essa diferença na funcionalidade dos dois sistemas também leva à previsão que as mulheres tendem a memorizar formas complexas (e.g. walked) que os homens geralmente computam composicionalmente no sistema gramático-procedural (e.g. walk + ed) (ULLMAN, 2004; ULLMAN ET AL. 2002). Dessa forma, o modelo DP postula que as funçoes gramaticais e lexicais são em grande parte separáveis e se associam a substratos neurais e computacionais distintos que não são dedicados à linguagem, mas que são independentes de domínio. Esses substratos são sistemas de memória cerebral bem estudados, cuja funcionalidade pode ser modulada por substâncias endócrinas e farmacológicas particulares e que variam com um certo grau de previsibilidade durante a vida de indivíduos e entre eles. Essa visão se contrapõe a duas abordagens teóricas competitivas. Embora compartilhe a visão das teorias “modulares” ou “sistema dual” tradicionais segundo as quais o léxico e a gramática dependem de dois ou mais sistemas distintos (CHOMSKY, 1995; FODOR, 1983; GRODZINSKY, 2000; LEVELT, 1989; PINKER, 1994), diverge das afirmações destas de que componentes de domínio específico subjazem a cada uma das capacidades. (Para mais discussões sobre a questão de especificidade de domínio, ver ULLMAN, 2004). Inversamente, enquanto o modelo DP concorda com teorias de “mecanismo único” (e.g. conexionismo) segundo as quais as duas capacidades dependem de mecanismos independentes de domínio, diverge da sua postulação de que ambas as capacidades estão ligadas a um único mecanismo computacional que possui uma ampla distribuição anatômica (BATES e MACWHINNEY, 1989; ELMAN ET AL. 1996; MACDONALD, PEARLMUTTER, e SEIDENBERG, 1994; RUMELHART e MCCLELLAND, 1986; SEIDENBERG, 1997). O modelo DP sozinho prevê as seguintes dissociações duplas: Um conjunto de ligações é esperado entre marcadores neurocogntivos (e.g. padrões de ativação de neuroimagem) de representações linguísticas armazenadas, conhecimento semântico-conceptual, e estruturas cerebrais da memória declarativa. Um conjunto distinto de ligações é esperado entre os marcadores neurocognitivos da gramática (nos subdomínios, incluindo a morfologia e a sintaxe), as habilidades motoras e cognitivas, e as estruturas cerebrais da memória procedural. Eu e meus colegas argumentamos de forma aprofundada anteriormente que evidências de uma ampla gama de estudos de neuroimagem, eletrofisiológicos, neurológicos, de desenvolvimento e psicolinguísticos, e convergem em grande parte a favor dessa perspectiva (ULLMAN, 2001a, 2001c; ULLMAN, 2004; ULLMAN ET AL. 1997). 5. Aquisição tardia de L2 Quem aprende uma língua em idades mais avançadas, particularmente depois da puberdade, geralmente não adquire a língua até o nível de proficiência atingida por aprendizes mais jovens (BIRDSONG 1999; HYLTENSTAM e ABRAHAMSSON, 2003; JOHNSON e NEWPORT, 1989; NEWPORT, 1990; OYAMA, 1982). Entretanto, a aquisição tardia de uma língua não parece causar dificuldades iguais para funções lexicais e gramaticais. Em L1, os estudos de crianças privadas de linguagem demonstram que a exposição tardia à linguagem resulta em uma incapacidade aparentemente irreversível de adquirir aspectos da gramática (particularmente morfologia e sintaxe), enquanto a aquisição lexical permanece relativamente intacta (S. CURTISS, 1989; S. R. CURTISS, 1977). Em L2, o quadro parece ser semelhante. Uma série de estudos demonstrou que a aquisição tardia da L2 afeta negativamente a aquisição e/ou processamento da gramática (COPPIETERS, 1987; DEKEYSER, 2000; HAHNE e FRIEDERICI, 2001; JOHNSON e NEWPORT, 1989; NEWPORT, 1993; OYAMA, 1982; PATKOWSKI, 1980; WARTENBURGER ET AL. 2003; WEBER-FOX e NEVILLE, 1996), enquanto permanecem relativamente intactos o acréscimo lexical (EUBANK e GREGG, 1999) e o processamento léxico- conceptual (HAHNE e FRIEDERICI, 2001; WARTENBURGER ET AL. 2003; WEBER-FOX e NEVILLE, 1996). Entretanto, não parece ser o caso de que a aprendizagem tardia necessariamente impeça a obtenção de um nível nativo de proficiência, nem mesmo no que diz respeito às capacidades gramaticais. Ao contrário, vários estudos sugerem que atingir níveis nativos de proficiência em L2 não é raro, se houver uma exposição suficiente à L2 (BIRDSONG, 1992; BIRDSONG e MOLIS, 2001; CRANSHAW, 1997; VAN WUIJTSWINKEL, 1994; WHITE e GENESEE, 1996). 6. O Modelo DP e a L2 O modelo DP propõe um conjunto de afirmações e previsões um pouco diferente para a aquisição tardia de L2 do que para a L1 (ver também ULLMAN, 2001b; ULLMAN, 2004). Pelo menos durante o início da vida adulta (ver abaixo para a discussão de aquisição de L2 mais tarde na vida), espera-se que a aquisição do conhecimento gramático- procedural seja mais problemática do que a aquisição do conhecimento léxico-declarativo, em comparação à aprendizagem da linguagem em crianças jovens. Isso pode ocorrer devido a um ou mais fatores que afetam de forma direta ou indireta um ou ambos os sistemas cerebrais, inclusive as habilidades reduzidas na abstração de regras devido à capacidade aumentada da memória de trabalho (ver NEWPORT, 1993), a atenuação da memória procedural, e o aumento na memória declarativa. Evidências de seres humanos e animais sugerem que a aprendizagem de habilidades motoras associadas ao sistema procedural é sujeita a efeitos iniciais de período crítico (FREDRIKSSON, 2000; SCHLAUG, 2001; WALTON, LIEBERMAN, LLINAS, BEGIN, e LLINAS, 1992; WOLANSKY, CABRERA, IBARRA, MONGIAT, e AZCURRA, 1999). Em contrapartida, existem aumentos claros na memória declarativa durante a infância, com um possível platô na adolescência (CAMPBELL e SPEAR, 1972; DI GIULIO ET AL. 1994; KAILe HAGEN, 1977; MEUDELL, 1983; ORNSTEIN, 1978; SIEGLER, 1978). As mudanças nas memórias declarativa e procedural podem ser explicadas, pelo menos em parte, pelo aumento nos níveis de estrogênio que ocorrem durante a infância/adolescência (em meninos assim como em meninas, embora os níveis de estrogênio sejam mais elevados em meninas) (ANKARBERG e NORJAVAARA, 1999; CHERRIER ET AL. 200 1; CUTLER JR., 1997; K. KLEIN ET AL. 1994; KLEIN, MARTHA, BLIZZARD, HERBST, e ROGOL, 1996), já que o estrogênio pode de alguma forma inibir o sistema de memória procedural e ao mesmo tempo melhorar a memória declarativa (CALABRESI, CENTONZE, GUBELLINI, PISANI, e BERNARDI, 2000; PACKARD, 1998; PHILLIPS e SHERWIN, 1992; SHERWIN, 1988; SHUGHRUE ET AL. 2000; ULLMAN, 2004) (também ver a discussão acima). Além disso, a interação competitiva entre os dois sistemas de memória, na medida em que a aprendizagem em um sistema inibe a funcionalidade no outro, leva à possibilidade que o aumento na memória declarativa durante a infância possa ser acompanhado por uma atenuação das capacidades de aprendizagem procedural. Devido a sua relativa facilidade com a aprendizagem declarativa em comparação à procedural, jovens adultos aprendizes de L2 tendem a depender de forma intensa da memória declarativa, até mesmo para funções que dependem do sistema procedural na L1. Em particular, os aprendizes de L2 tendem a memorizar formas linguísticas complexas (e.g. walked) que podem ser computadas composicionalmente por falantes de L1 (e.g. walk + -ed). Propriedades associativas da memória lexical (HARTSHORNE e ULLMAN, no prelo; PINKER, 1999; PRASADA e PINKER, 1993) podem levar à produtividade na L2. Os aprendizes de L2 também podem aprender regras na memória declarativa (e.g., em um contexto pedagógico), fornecendo uma fonte adicional de produtividade. Observa-se que tais regras não dependem de forma alguma de computações gramático-procedurais; de fato, o que elas especificam pode, em princípio, se distinguir radicalmente das regras gramático- procedurais em falantes nativos da língua alvo. Memorizar formas complexas e regras na memória declarativa pode levar a um grau de proficiência bastante alto, sendo que esse nível irá variar de acordo com uma série de fatores. Esses incluem a quantidade e o tipo de exposição à L2 e diferenças individuais em relação a capacidades de memória declarativa. Assim, a vantagem das mulheres na memória declarativa deve lhes fornecer uma vantagem na aquisição de uma L2. Entretanto, nem todos os tipos de conhecimento “gramatical” são igualmente aprendidos na memória declarativa. Certas formas complexas são mais fáceis de memorizar que outras, tais como as que são mais curtas ou mais frequentes. As construções que não podem ser facilmente memorizadas, como as que envolvem dependências de longa distância, devem causar dificuldades particulares. Similarmente, nem todas as regras baseadas na memória declarativa são igualmente fáceis de serem aprendidas ou aplicadas. As limitações da memória léxico-declarativa levam à expectativa de que esse sistema sozinho provavelmente não garante uma proficiência gramatical plena. Ou seja, não se espera que esse sistema sozinho dê conta de todas as funções que, na L1, dependem do sistema gramático- procedural e, portanto, a dependência em apenas esse sistema não deve levar a uma proficiência similar ao nativo em todos os aspectos da gramática. Crucialmente, no entanto, não se espera a disfunção completa do sistema gramatical na L2. Ao invés disso, de acordo com vários estudos sobre a aquisição de capacidades não-linguísticas pela memória procedural em adultos (MISHKIN ET AL. 1984; SCHACTER e TULVING, 1994; SQUIRE e KNOWLTON, 2000; SQUIRE e ZOLA, 1996), a prática deve levar à aprendizagem procedural e ao desempenho aprimorado. Assim, com suficiente experiência com a L2, espera-se que a língua se torne como a L1 em termos de sua dependência gramatical no sistema procedural, com o potencial para um grau elevado de proficiência. Se um dado indivíduo adquire ou não um conjunto de conhecimentos gramaticais no sistema procedural irá depender de fatores como o tipo de conhecimento gramatical sendo adquirido, a natureza da exposição à L2, e as características do aprendiz, tais como as capacidades intrínsecas de aprendizagem procedural. Assim, enquanto as mulheres tendem a demonstrar uma velocidade mais acelerada na aprendizagem durante as fases iniciais de aquisição de L2 (devido às suas capacidades superiores na memória declarativa), os homens podem demonstrar uma vantagem em estágios posteriores (devido à possível vantagem masculina na memória procedural). As afirmações e previsões apresentadas acima para jovens adultos diferem um pouco no caso de adultos mais velhos. A capacidade para aprender nova informação na memória declarativa entra em declínio no início da vida adulta, com perdas mais notáveis nas idades mais avançadas (PARK ET AL. 2002; PRULL, GABRIELI, e BUNGE, 2000). Esse padrão pode ser pelo menos em parte explicado pelo fato de que os níveis de estrogênio entram em declínio com o passar da idade em ambos os sexos, especialmente na idade mais avançada e especialmente em mulheres (i.e. declínios depois da menopausa) (CARLSON e SHERWIN, 2000; CARR, 1998; FERRINI e BARRETT- CONNOR, 1998; SHERMAN, WEST, e KORENMAN, 1976). Para complicar a questão ainda mais, enquanto algumas formas de aprendizagem procedural não são afetadas pelo envelhecimento, outras, como a aprendizagem de sequências contendo estruturas de nível superior, parecem entrar em declínio gradualmente durante os anos da vida adulta (CHURCHILL, STANIS, PRESS, Kushelev, e GREENOUGH, 2003; T. CURRAN, 1997; FEENEY, HOWARD, e HOWARD, 2002; HOWARD, HOWARD, DENNIS, YANKOVICH, e VAIDYA, 2004; PRULL ET AL. 2000). Consequentemente, os adultos mais velhos podem exibir maior dificuldade do que os jovens adultos com aspectos procedurais assim como declarativos da aquisição de L2. Dessa maneira, espera-se que os efeitos da idade de exposição na aquisição de L2 que ocorrem durante a infância e a adolescência sejam qualitativamente diferentes daqueles que ocorrem durante a vida adulta. Enquanto, no primeiro caso, o declínio na capacidade de aquisição de linguagem é previsto a partir de uma dependência decrescente na memória procedural relativa à memória declarativa, no segundo caso, o declínio ocorre principalmente devido a problemas com a memória declarativa, e pode ser ainda mais agravado por dificuldades com a memória procedural. Assim, os efeitos da idade de exposição na aquisição da linguagem podem ser explicados por mais de um mecanismo, com diferentes mecanismos em jogo durante diferentes períodos durante a vida. Em suma, com níveis mais baixos de experiência na L2, supõe-se que a memória declarativa subjaz à aprendizagem e uso não apenas do conhecimento lexical idiossincrático, mas também de representações linguísticas complexas. Durante o início da vida adulta, as mulheres demonstram uma vantagem na aquisição de L2 em comparação aos homens. Devido à atenuação da memória declarativa, as mais velhas (especialmente mulheres depois da menopausa) provavelmente terão dificuldades particulares na aquisição de uma L2, mesmo em níveis iniciantes de proficiência. Em níveis mais elevados de experiência com a L2, o sistema procedural deve ser capaz de adquirir o conhecimento gramatical (embora, novamente, isso possa ser mais difícil para aprendizes de L2 mais velhos), resultando em um padrão neurocognitivo parecido com o da L1 – isto é, com o conhecimento lexical idiossincrático armazenado na memória declarativa, enquanto as formas complexas governadas por regras são compostas pelo sistema procedural. Assim, dissociações entre as formas simples e complexas são esperadas em aprendizes com muita experiência com a L2 e com a L1, mas menos esperadas ou completamente não esperadas em aprendizescom pouca experiência com a L2. Em comparações diretas entre a L1 e a L2 entre sujeitos, o uso de formas complexas deve depender mais de estruturas cerebrais da memória declarativa no caso de aprendizes com pouca experiência com a L2 do que na L1 ou se os aprendizes possuem muita experiência com a L2, situação em que as formas complexas devem demonstrar uma dependência maior de estruturas cerebrais da memória procedural. Em contrapartida, o conhecimento lexical idiossincrático deve ser armazenado na memória declarativa em todos os indivíduos e, portanto, não deve haver dissociações lexicais entre a L1 e a L2, independentemente de os aprendizes possuírem pouca ou muita experiência com a L2. 7. Evidências Empíricas sobre a Neurocognição da L2 Apresento aqui várias linhas de evidências neurocognitivas que abordam uma série de afirmações e previsões sobre a L2 no modelo DP. Para mais discussões sobre alguns desses dados, ver ULLMAN (2001b). Afasia geralmente se refere a um desvio que resulta de lesões relativamente delimitadas no cérebro. Na L1 em adultos, o início de danos a regiões temporais neocorticais frequentemente leva a capacidades lexicais prejudicadas, enquanto o uso de estruturas complexas gramaticalmente adequadas permanece relativamente poupado. Em contrapartida, lesões frontais e nos gânglios basais frequentemente resultam em um desempenho debilitado na gramática (em todos os domínios linguísticos, inclusive na sintaxe e na morfologia), deixando o conhecimento lexical em grande medida intacto (GOODGLASS, 1993; ULLMAN, 2004; ULLMAN ET AL. 1997; ULLMAN ET AL. 2005). Os danos cerebrais em falantes de L2 produzem um padrão diferente. Primeiramente, os danos relativamente delimitados no lobo temporal podem levar a um desempenho gramatical pior na L2 do que na L1 (KU, LACHMANN, e NAGLER, 1996; ULLMAN, 2001b). Mais importante, as lesões nos gânglios basais no hemisfério esquerdo e no lobo frontal esquerdo produzem maiores deficiências gramaticais na L1 do que na L2, assim como em aprendizes de L2 mais proficientes em comparação a aprendizes de L2 menos proficientes (FABBRO, 1999; FABBRO e PARADIS, 1995; ULLMAN, 2001b). Esse padrão é particularmente marcante, porque os danos levam a problemas mais severos nas línguas aprendidas mais cedo e nas línguas em que o falante possui maior proficiência. Entretanto, danos frontais ou nos gânglios basais do lado esquerdo não parecem acarretar diferenças no desempenho lexical entre a L1 e L2 ou entre aprendizes de L2 de alta ou baixa proficiência, mesmo nos mesmos pacientes que demonstram um desempenho gramatical pior na L1 do que na L2 ou no aprendiz de L2 mais proficiente (FABBRO, 1999; FABBRO e PARADIS, 1995; ULLMAN, 2001b). Assim, os danos frontais ou nos gânglios basais parecem ser, em alguma medida, seletivos, o que resulta em deficiências particulares de gramática na L1 e na L2 em que o aprendiz é proficiente. A tomografia por emissão de pósitrons (PET, sigla em inglês) e a ressonância magnética funcional (RMf, sigla em português; fMRI, sigla em inglês) medem mudanças no fluxo sanguíneo ou nos níveis de oxigenação no cérebro. Como essas mudanças são relacionadas a mudanças nas atividades neurais, as técnicas fornecem um método indireto para identificar as estruturas cerebrais que estão ativas durante tarefas cognitivas específicas. A representação e/ou o processamento do conhecimento lexical na L1 e da informação semântico-conceptual não- linguística (i.e. conhecimento sobre o mundo em nossa volta) é fortemente relacionada à ativação nas regiões temporal e temporoparietal (DAMASIO, GRABOWSKI, TRANEL, HICHWA, e DAMASIO, 1996; MARTIN ET AL. 2000; NEWMAN, PANCHEVA, OZAWA, NEVILLE, e ULLMAN, 2001; ULLMAN, 2004). A seleção ou recuperação desse conhecimento certamente leva à ativação no córtex prefrontal ventrolateral, especialmente em BA 45 e BA 47 (BUCKNER, 2000; FIEZ, 1997; POLDRACK, WAGNER ET AL. 1999; THOMPSON- SCHILL, D’ESPOSITO, AGUIRRE, e FARAH, 1997). Uma ampla gama de tarefas elaboradas para investigar o processamento sintático tanto em linguagem receptiva como expressiva produzem uma ativação preferencial na área de Broca, especialmente na região de BA 44 (CAPLAN, ALPERT, e WATERS, 1998; EMBICK, MARANTZ, MIYASHITA, O’NEIL, e SAKAI, 2000; FRIEDERICI, 2002; FRIEDERICI, 2004; INDEFREY, HAGOORT, HERZOG, SEITZ, e BROWN, 2001; MORO ET AL. 2001; NI ET AL. 2000; STROMSWOLD, CAPLAN, ALPERT, e RAUCH, 1996). Em segundas línguas adquiridas mais tarde, observou-se que as tarefas que envolvem apenas o processamento léxico-conceptual não produzem mais ativação na L2 do que na L1 (CHEE, TAN, e THIEL, 1999; ILLES ET AL. 1999; KLEIN, MILNER, ZATORRE, ZHAO, e NIKELSKI, 1999; PILLAI ET AL. 2003), o que sugere uma base neurocognitiva comum. Tais tarefas também levaram a uma ativação maior na L2 do que na L1 em regiões que podem refletir demandas maiores da L2 adquirida com menos proficiência na articulação (putâmen: KLEIN, MILNER, ZATORRE, MEYER, e EVANS, 1995; KLEIN, ZATORRE, MILNER, MEYER, e EVANS, 1994), na memória de trabalho (BA 44 superior esquerdo e SMA: CHEE, HON, LEE, e SOON, 2001), ou na recuperação e seleção lexical (B5 e BA 47 esquerdo: CHEE ET AL. 2001; DE BLESER ET AL. 2003). As tarefas que envolvem o processamento gramatical (e.g. a compreensão de sentenças) geralmente levam a padrões de ativação diferentes na L2 e na L1, em particular nas regiões do lobo temporal, o que sugere uma dependência maior dessas estruturas na L2 do que na L1. Perani et al. (1996) observou uma ativação maior na L2 do que na L1 apenas no giro parahipocampal, bilateralmente. Igualmente, em Perani et al. (1998), as únicas áreas de ativação encontradas na L2 (em comparação à base de referência) e não na L1 foram no giro parahipocampal (bilateralmente) e no giro temporal médio esquerdo. Dehaene et al. (1997) observou uma ativação maior na L2 do que na L1 em várias regiões neocorticais temporais do hemisfério direito, no giro temporal médio esquerdo, e nas regiões frontais implicadas na recuperação de memórias declarativas (ver acima; BUCKNER e WHEELER, 2001; ULLMAN, 2004). Observa-se que embora Kim, Relkin, Lee e Hirsch (1997) não discutem as diferenças na ativação do lobo temporal, o artigo não menciona dados fora do córtex temporal superior posterior esquerdo. Até aprendizes que adquiriram a L2 mais cedo demonstram um padrão de maior envolvimento do lobo temporal na L2 em comparação à L1 (e.g. ativação no córtex parahipocampal, em Perani et al. 1998). Entretanto, como seria de se esperar se a L2 adquirida mais cedo depende de correlatos neurocognitivos semelhantes aos da L1, alguns estudos constataram que não há diferenças de ativação entre a L1 e a L2 adquirida bem cedo (CHEE ET AL. 1999; WARTENBURGER ET AL. 2003). Finalmente, além das regiões frontais associadas à recuperação encontradas por Dehaene et al. (1997), não foi observada uma maior ativação no lobo frontal na L2 do que na L1, em geral, (CHEE ET AL. 1999; KIM ET AL. 1997; PERANI ET AL. 1996; PERANI ET AL. 1998, em nenhum experimento; WARTENBURGER ET AL. 2003, que observaram uma ativação frontal maior na L2 adquirida mais tarde mas não quando foi adquirida mais cedo, em comparação à L1, em uma tarefa de julgamento de gramaticalidade). Interessantemente, um estudo recente de RMf que examinou a aquisição de uma língua artificial por adultos constatou que, nas fases iniciais de aprendizagem, o processamento sintático envolveu as regiões temporais neocorticais e o hipocampo esquerdos, inclusive o giro temporal médio esquerdo (OPITZ e FRIEDERICI, 2003). Entretanto, a ativação nessas estruturas cerebrais diminuiu durante o experimento (i.e. na medida em que aumentou a experiência e a proficiência), enquanto a ativação aumentou em BA 44, dentro da área de Broca. Esse resultado apóia diretamente a previsão do modelo DP sobre uma mudança do sistema declarativo para o proceduraldurante as fases mais tardias da aprendizagem da L2. Potenciais relacionados a eventos (ERPs, sigla em inglês) são potenciais elétricos gravados através do couro cabeludo que refletem em tempo real a atividade eletrofisiológica cerebral desencadeada por processos cognitivos que são ligados temporalmente à apresentação de estímulos alvo, tais como palavras. O processamento lexical na L1 e o processamento conceptual não-linguístico levam a negatividades bilaterais centro-posteriores (N400s) que alcançam um pico por volta de 400 milissegundos após a apresentação do estímulo (BARRETT e RUGG, 1990; KUTAS e HILLYARD, 1980). O componente N400 depende pelo menos em parte de estruturas do lobo temporal (MCCARTHY, NOBRE, BENTIN, e SPENCER, 1995; NOBRE, ALLISON, e MCCARTHY, 1994; SIMOS, BASILE, e PAPANICOLAOU, 1997) e supõe-se envolver o sistema de memória declarativa (ULLMAN, 2001b, 2001c). Estímulos lexicais que produzem componentes N400 na L1 também consistentemente os produzem na L2, tanto em falantes de proficiência alta como baixa (HAHNE, 2001; HAHNE e FRIEDERICI, 2001; MCLAUGHLIN, OSTERHOUT, e KIM, 2004; WEBER-FOX e NEVILLE, 1996), fortalecendo a perspectiva de que a memória léxico- declarativa é, em grande parte, disponível aos aprendizes de L2. Na L1, as tarefas que envolvem o processamento de violações gramaticais frequentemente produzem negatividades anteriores esquerdas (LANs, sigla em inglês) (FRIEDERICI, PFEIFER, e HAHNE, 1993; NEVILLE, NICOL, BARSS, FORSTER, e GARRETT, 1991). As LANs já foram ligadas ao córtex frontal esquerdo e ao processamento gramatical automático (FRIEDERICI, 2002; FRIEDERICI, HAHNE, e MECKLINGER, 1996; FRIEDERICI, HAHNE, e VON CRAMON, 1998). Já foi proposto que as LANs refletem o processamento pelo sistema gramático-procedural (ULLMAN, 2001b , 2001c). Em falantes com menor proficiência na L2, as LANs não são encontradas, mesmo quando a mesma violação produz uma LAN na L1 (HAHNE, 2001; HAHNE e FRIEDERICI, 2001; WEBER-FOX e NEVILLE, 1996). Ao invés de LANs, ou negatividades não são observadas (HAHNE, 2001; HAHNE e FRIEDERICI, 2001), ou os sujeitos demonstram mais negatividades posteriores que se assemelham a N400s do que LANs (ULLMAN, 2001b; WEBER-FOX e NEVILLE, 1996). N400s também já foram encontrados em aprendizes com baixa proficiência na L2 para anomalias gramaticais que não produzem uma LAN (ou um N400) na L1 (OSTERHOUT e MCLAUGHLIN, 2000). Juntos, esses resultados sugerem que o processamento gramatical em aprendizes menos proficientes na L2 depende de estruturas cerebrais que são parcialmente distintas daquelas que subjazem à gramática na L1 e se sobrepõem, em pelo menos alguns casos, àquelas que subjazem ao processamento léxico- conceptual. Em contrapartida, um estudo de ERP com adultos adquirindo uma língua artificial evidenciou que violações gramaticais produziram uma LAN em aprendizes altamente proficientes (FRIEDERICI, STEINHAUER, e PFEIFER, 2002), como seria esperado após a proceduralização do conhecimento gramatical. Na mesma linha, parece que a única LAN que foi encontrada em uma língua natural adquirida como uma L2 foi produzida por sujeitos que possuíam proficiência nessa L2 (HAHNE, MULLER, e CLAHSEN, 2003). Finalmente, é interessante observar que o componente P600 positivo tardio, que é ligado ao processamento sintático controlado (isto é, não automático) tardio na L1 (FRIEDERICI ET AL. 1996) e supostamente não depende de processamento procedural (ULLMAN, 2001 b, 2001c), é (diferentemente da LAN) geralmente exibido por falantes de L2 (HAHNE, 2001; OSTERHOUT e MCLAUGHLIN, 2000; WEBER-FOX e NEVILLE, 1996). A sua ausência em um experimento foi atribuída a um efeito solo, devido a positividades de amplitude mais elevada na condição correta na L2 (HAHNE e FRIEDERICI, 2001). 8. Discussão Em suma, o modelo DP postula que na aquisição tardia de uma segunda língua ou línguas subsequentes, a aprendizagem da gramática na memória procedural é mais problemática do que a aprendizagem de conhecimento lexical ou de outros conhecimentos linguísticos na memória declarativa, em comparação à aquisição de L1. Assim, os aprendizes adultos de segunda língua dependem mais fortemente da memória declarativa, contando com esse sistema não apenas para armazenar o conhecimento lexical idiossincrático, mas também para memorizar formas complexas e “regras”. Entretanto, com experiência suficiente com a língua, o sistema procedural deve ser capaz de adquirir grande parte ou talvez todo o conhecimento gramatical que subjaz ao L1. Diferenças em termos de capacidades na aquisição de L2 são esperadas na vida adulta e entre indivíduos; como a aprendizagem na memória declarativa e possivelmente na memória procedural se torna mais problemática com o avanço da idade durante a vida adulta, particularmente nos anos mais avançados, deve-se encontrar cada vez mais problemas com a aquisição de L2 durante esse período. As mulheres tendem a ser mais rápidas do que os homens na aquisição de L2, pelo menos durante as etapas iniciais de aprendizagem, devido às suas vantagens na memória declarativa, embora tais vantagens possam ser eliminadas a partir da menopausa. Espera-se que o estrogênio desempenhe um papel importante em uma série desses efeitos. Evidências comportamentais atuais, assim como dados neurocognitivos de pacientes com danos cerebrais, de neuroimagem, e de potenciais relacionados a eventos, em grande parte apóiam essa perspectiva. Entretanto, muitas lacunas nos dados permanecem. Por exemplo, os experimentos neurocognitivos ainda não investigaram a relação entre a L2 e as diferenças de sexo ou o status hormonal subjacente e ignoraram mudanças nas capacidades de aquisição de L2 nos anos mais tardios na vida. Além disso, é importante salientar que nem todas as evidências parecem ser consistentes com as previsões do modelo DP. Estudos de corpora e algumas pesquisas que examinaram aprendizes de L2 altamente proficientes sugerem que a aquisição tardia de L2 pode exercer um impacto nas formas flexionadas irregulares e nos traços idiossincráticos da língua tanto quanto ou mais do que nas formas flexionadas regulares e nas estruturas gramaticais abstratas (BIRDSONG, 1992; BIRDSONG e FLEGE, 2001; FLEGE, YENI- KOMSHIAN, e LIU, 1999; GASS e SELINKER, 1994). Além disso, enquanto vários estudos sugerem uma vantagem de mulheres sobre homens no desempenho de L2 em medidas de proficiência geral de linguagem (BOYLE, 1987; WEN e JOHNSON, 1997), de memorização de vocabulário (GARDNER e LAMBERT, 1972; NYIKOS, 1990) e de leitura (CHAVEZ, 2001), outras pesquisas não encontraram diferenças de sexo na compreensão auditiva (BACON, 1992), na compreensão de leitura (PHAKITI, 2003), em medidas globais de realização (SPURLING e ILYIN, 1985). Outros ainda relatam uma vantagem dos homens em certas medidas de vocabulário (BOYLE, 1987; SCARCELLA e ZIMMERMAN, 1998) e na leitura (BÜGEL e BUUNK, 1996). Para maiores discussões sobre diferenças de sexo na aquisição de segunda língua (ASL), ver Bowden, Sanz e Stafford (2005). Essas lacunas empíricas e inconsistências indicam a necessidade de mais estudos, em particular estudos especificamente desenhados para testar diretamente e potencialmente falsificar as previsões relacionadas à L2 no modelo DP. Crucialmente, esses estudos devem investigar não apenas o desempenho, mas também um leque de medidas dos correlatos neurocognitivos da aprendizagem e uso de L2. Tais estudos devem controlar uma série de fatores como itens, tarefas e sujeitos, que desempenham papéis importantes no modelo DP, tais como a idiossincrasia versus a regularidade de itens, assim como o sexo, a idade de aquisição, os anos de exposição, e o status hormonal dos sujeitos. A perspectiva DP pode ser comparada e contrastada diretamente com uma série de hipóteses anteriores sobre e ASL. Além disso, ela leva a várias questões que merecem maior discussão,
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