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PESQUISA - Danças brasileiras na Educação Física escolar

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685
Danças brasileiras na Educação Física escolar: (re) conhecendo histórias e diferentes 
linguagens 
 
Vivian Parreira (PPGE/UFSCar) 
Cláudia Foganholi (PPGE/UFSCar e EF/Unicastelo – Descalvado) 
 
RESUMO 
Com diferentes linguagens, as danças brasileiras acrescentam aos sons e movimentos, o 
contexto histórico e cultural de cada região do país. Este artigo tem como objetivo propor 
uma reflexão acerca da dança como conteúdo da Educação Física escolar, de possível 
contribuição no ensino da história e cultura africana e afro-descendente. Para tanto, foi 
realizada uma pesquisa bibliográfica, cujos referenciais foram aliados às vivências em 
pesquisa e prática de danças brasileiras. Assim, tendo a congada como exemplo, foi possível 
identificar nas diferentes dimensões do conteúdo, sugestões para a abordagem do tema na 
escola. Além de indicar o reconhecimento de nossa história, a proposta pretende oferecer 
subsídios para a implementação da lei n˚ 10.639/2003, na prática pedagógica em Educação 
Física. 
 
Palavras-chave: educação física escolar, danças brasileiras, cultura popular 
 
Introdução 
 Apontando para a Educação Física como componente curricular do ensino básico, 
podemos encontrar nas práticas pedagógicas uma diversidade de entendimentos acerca da 
cultura, tanto em relação aos conteúdos escolhidos quanto em suas diferentes abordagens. 
Para Daolio (1996, p.40), em uma perspectiva cultural, a Educação Física pode ser entendida 
como uma “área de conhecimento que estuda e atua sobre um conjunto de práticas ligadas ao 
corpo e ao movimento criadas pelo homem ao longo de sua história: os jogos, as ginásticas, as 
lutas, as danças e os esportes”. 
 De acordo com Galvão (2005), a cultura como um conjunto de códigos simbólicos 
reconhecidos por todos os indivíduos do grupo, desde o momento de sua concepção, 
apresenta uma diversidade de conhecimentos que são ressignificados e transformados ao 
longo do tempo. 
 Situando a dança como uma das manifestações expressivas corporais, este artigo tem 
como objetivo propor uma reflexão acerca das danças brasileiras como conteúdo da Educação 
Física na escola. Para este fim, entendemos conteúdo como 
 
(...) seleção de formas ou saberes culturais, conceitos, explicações, raciocínios, 
habilidades, linguagens, valores, crenças, sentimentos, atitudes, interesses, modelos 
de conduta, etc. cuja assimilação é considerada essencial para que se produzam 
desenvolvimento e socialização adequados no aluno. (COLL et al, 2000, apud 
DARIDO, 2005) 
 686
 
Método 
Para elaboração deste trabalho foi realizada uma pesquisa bibliográfica com o intuito 
de obter dados relevantes e amparar-se em autores relacionados ao tema. Para Gil (1991), a 
pesquisa bibliográfica é elaborada a partir de materiais já publicados, constituído por livros, 
artigos de periódicos, entre outros. A fim de estruturar uma breve conceituação dos termos 
centrais tratados aqui: Educação Física Escolar, Cultura Popular e Danças Brasileiras, foram 
utilizadas publicações de livros, revistas científicas, monografia de graduação e tese de 
doutorado. 
Aliada à pesquisa bibliográfica, as experiências decorrentes no Girafulô1 - Grupo de 
Pesquisa e Práticas em danças brasileiras nos permitiram tomar aqui a Congada como 
exemplo, entre tantas outras manifestações da cultura popular, para propor uma reflexão 
acerca da prática e do conhecimento das danças brasileiras como possibilidade de conteúdo da 
Educação Física na escola. 
 
Cultura popular e Educação Física 
 
 Esta proposta contrapõe-se a uma história de abordagem dos esportes como conteúdos 
hegemônicos na escola, e comumente provenientes de outros países. No Brasil, podemos 
freqüentemente observar a atribuição de maiores valores a uma cultura externa 
simultaneamente ao comportamento de desvalorização e até ridicularização de uma cultura 
própria. No ambiente escolar, por exemplo, não é rara a prática de atividades artísticas e/ou da 
cultura corporal de origens européias ou estadunidenses, em detrimento de práticas de origens 
nacionais, ou o próprio desconhecimento destas últimas. 
 De acordo com Dussel (s/d, p.265), o desconhecimento e a desvalorização da cultura 
popular são a negação de sua própria história e tradições, e ainda cultiva a alienação daqueles 
que constituem uma elite minoritária, que tem acesso às instituições educacionais - o que o 
autor identifica como cultura ilustrada - e provavelmente, irá reproduzir os mesmos 
mecanismos de alienação e dominação em relação ao povo. 
 A cultura popular pode ser entendida como um conjunto de saberes de determinados 
grupos de sujeitos que vivem na sociedade contemporânea, uma sociedade em constante 
 
1 Grupo de pesquisa e práticas em danças brasileiras, iniciado em 2006, aberto a participação de toda a 
comunidade, no município de São Carlos, com encontros semanais coordenados pela Profa. Mda. Vivian 
Parreira 
 687
mudança. Assim, a cultura popular pode ser um processo pelo qual se mantém, criam e se 
renovam expressões e modos de vida que identificam determinados grupos. Muitas 
comunidades cultivam músicas, jogos, brincadeiras, poesias e pinturas, onde estão presentes 
processos de ensino e aprendizagem fundamentais para o convívio de uns com os outros 
dentro de grupos e comunidades (MEIRA, 2005). 
 Desta forma, aceitamos aqui que a importância do conceito de cultura na Educação 
Física2 vai além de propor uma diversificação de conteúdos, mas pode favorecer um processo 
de educação onde, a partir da consideração do contexto histórico e social em que se inserem, 
os educandos e educandas se reconheçam e se percebam como sujeitos históricos, capazes de 
criar e desenvolver-se em suas várias dimensões, de intervir e transformar a realidade 
(FREIRE, 2005). 
 Para Meira (2005, p.105), “a dança popular, assim como outras expressões 
tradicionais, é uma pratica de criação, de comunicação e de experiências de grupo”, o que nos 
remete o olhar para a concordância com os pressupostos educacionais e com os objetivos da 
Educação Física como componente curricular da educação básica. 
 As danças brasileiras apresentam-se como uma forma de valorização da cultura 
popular e ainda como um importante elemento para a implementação da Lei n˚ 10.639/2003, 
que prevê o ensino da história e cultura africana e afro-brasileira, uma vez que a cultura 
popular está estruturada também em manifestações de matrizes africanas. 
 De acordo com Silva (2009, p.44), “Os conhecimentos de raízes africanas, são 
inferências, idéias derivadas da experiência vivida e expressas em afirmações e proposições, 
em gingados de corpos que dançam, em esculturas, desenhos, pinturas, tecelagens, e outras 
formas de expressão”. 
Nas manifestações populares que vão desde as danças que celebram a convivência na 
comunidade, as relações com o outro, a luta pela continuidade da tradição, até as procissões e 
cortejos que celebram a fé, é possível reconhecer alguns elementos que nos remetem, por 
exemplo, às religiões afro-brasileiras. Como exemplo de danças brasileiras tomaremos aqui a 
prática da congada, também chamada de congado, que pode ser entendida como 
 
 (...) uma manifestação popular tradicional que gira em torno de uma grande festa 
em louvor a Nossa Senhora do Rosário e São Benedito, sendo que o grande festejo é 
o ponto culminante desta prática. As formas desta manifestação são múltiplas e 
existem em muitas cidades brasileiras diferenciando-se em cada Estado e região. A 
 
2 Sobre o assunto, sugerimos consultar: 
 DAOLIO, Jocimar. Educação física e o conceito de cultura. Campinas, SP: Autores Associados,2004. 
 688
data da festa também varia de acordo com as localidades onde é praticada. 
(PARREIRA, 2007) 
 
Para Meira (2007 p. 66), “o congado é determinado por sua história, pela descendência 
africana e pelo processo de migração; pela religiosidade católica popular e, ao mesmo tempo, 
das religiões de matriz africana, numa realidade ambígua como é a cultura popular (...)”. 
Vale ressaltar que o interesse na abordagem do tema em Educação Física vai além da 
intenção de inserir educandos e educandas no universo da cultura corporal, pois pretende dar 
ênfase ao reconhecimento e valorização da cultura popular brasileira. 
 
Danças brasileiras: o corpo que dança, versa e conta histórias 
 
As danças brasileiras, parte da cultura popular, são praticadas por diferentes grupos e 
em diversas localidades do país onde as influências culturais em suas origens são tão diversas 
quanto heterogêneas em muitas situações. Danças brasileiras como o cacuriá dançado no 
estado do Maranhão, o batuque de umbigada dançado no interior paulista, o jongo presente 
nos estados do Rio de Janeiro e São Paulo e a congada praticada nos estados de Minas Gerais, 
Goiás e São Paulo são alguns exemplos desta diversidade. 
As influências culturais dos povos africanos que chegaram escravizados ao Brasil se 
misturam às influências dos povos europeus colonizadores e dos indígenas que viviam na 
região. Exemplos deste emaranhado de influências culturais podemos observar nas Festas do 
Divino Espírito Santo realizadas no estado do Maranhão, região nordeste do país, onde 
identificamos algumas expressões de raízes africanas nas letras das músicas e na composição 
de seus ritmos, assim como instrumentos e rezas de origem européia. Entre os diversos 
componentes da Festa do Divino, estão as caixas do divino, pequenos tambores em forma de 
cilindro, tocados com duas baquetas de madeira, que são instrumentos semelhantes aos 
encontrados nos Açores. Estes tambores se juntam aos cantos e danças de religiões afro-
brasileiras como o Tambor de Mina3, muito comum no estado do Maranhão. 
Nas práticas tradicionais da cultura popular, como a congada, podemos reconhecer 
como os indivíduos e grupos se colocam ao mundo mostrando suas formas de viver em 
comunidade, de se relacionar com o outro. 
 
3 Manifestação da religião afro-brasileira típica do maranhão e predominante no norte do Brasil. 
PACHECO, Gustavo. et al Caixeiras do Divino Espírito Santo de São Luis do Maranhão. Rio de Janeiro: 
Associação Cultural Caburé, 2005. 
 689
Na congada de Uberlândia, município do estado de Minas Gerais que usaremos como 
referência neste artigo para nossa reflexão acerca das danças brasileiras e Educação Física, é 
possível perceber em seus símbolos relações bem próximas de religiões afro-brasileiras como 
a umbanda e o candomblé, ainda que de forma não declarada por seus participantes. As 
músicas, chamadas também de pontos, cantadas nos cortejos de louvor a santos católicos, 
contam a história da escravidão e fazem referências às situações de segregação e preconceito 
sofridas pelas comunidades congadeiras, de maioria negra, nas relações de trabalho e acesso à 
educação no período pós-escravidão, como observamos nos cantos do Moçambique, outra 
dança presente na congada de Uberlândia: 
 
Oh, no tempo da escravidão, 
Ah, quando a pancada batia, 
Chamava por nossa senhora, 
Mas a pancada doía.4 
 
Oh. Preto sabe língua 
Branco sabe lê 
A língua de preto custa entender 
Oi ah custa entender 
Oi ah custa entender5 
 
Podemos perceber que a forma de viver em sociedade por meio das práticas culturais, 
como as danças brasileiras, pode ser uma forma de ver o mundo em sua pluralidade, 
tensionamentos e diferenças, não se tratando de um espelho ou oposição ao modelo 
hegemônico, europeu e dominador que se estabelece na sociedade, mas constituindo uma 
maneira de perceber a diversidade e a complexidade em nossas relações. 
Os saberes populares são elaborados a partir da experiência concreta, a partir das 
vivências de uma forma diferente daquela vivida pelo profissional. Na cultura popular os 
conhecimentos são transmitidos de forma predominantemente oral, onde os menos 
experientes aprendem com os mais experientes. 
 
Eu tinha a vovó e tinha o vovô, 
A reza que eu sei ele que me ensinou 
Reza o pai nosso reza o bendito 
A reza que eu tenho é de São Benedito.6 
 
Para Larrosa Bondía (2000), o saber de experiência se dá na relação entre o 
conhecimento e a vida humana, o saber de experiência é um saber particular, subjetivo, 
 
4 Capitão Baltazar do Moçambique do Oriente , CUNHA e MEIRA, 2000 apud MEIRA, 2007, p.20 
5 Moçambique Pena Branca, CUNHA e MEIRA, 2000 apud MEIRA, 2007, p.32 
6 Idem a nota 4. 
 690
relativo, contingente e pessoal. Para este autor o acontecimento é coletivo, mas a experiência 
é única. 
Nas danças brasileiras as diferentes maneiras de dançar, cantar, tocar, contar histórias 
sobre a dança, e até mesmo as relações que o sujeito estabelece com este universo estão 
diretamente ligadas aos saberes de experiência que cada sujeito tem ao vivenciar a prática da 
dança. 
De acordo com Meira (2007, p. 70), a dança para os congadeiros não se restringe aos 
passos, movimentos ou coreografias, mas compõem um todo formado por “expressões 
sensíveis”, representado também pelas vestimentas, pelas personagens e, entre outros 
elementos, pela própria ocupação do espaço urbano durante os festejos. 
Deste modo, ao falarmos de saberes populares estamos falando de conhecimentos 
diferentes daqueles ensinados na escola ou na academia. Neste texto, gostaríamos de convidar 
o leitor a refletir acerca da dança, e de como ela pode nos auxiliar enquanto educadores e 
educadoras em nossas práticas pedagógicas, em particular o professor de Educação Física. 
 
Congada e africanidades como proposta de conteúdo 
 
 Ainda que o conteúdo “dança” seja considerado no currículo das escolas de ensino 
básico brasileiras, como propõe os Parâmetros Curriculares Nacionais (BRASIL, 1997), 
raramente as danças brasileiras são lembradas, quando não desconhecidas da maioria dos 
professores. Outras vezes, quando lembradas na escola, as danças brasileiras são 
categorizadas como folclóricas e carregadas de elementos caricatos que representam 
grotescamente, não apenas a dança, mas as pessoas que compõem seu universo e suas origens, 
quando não as ridiculariza. 
 A própria formação profissional em Educação Física frequentemente contempla em 
seus currículos danças como balé clássico, dança contemporânea ou dança flamenca, de 
origens européias, mas não leva ao conhecimento dos futuros professores informações sobre 
as danças brasileiras e as manifestações expressivas da cultura popular. De maneira 
conflitante à sua formação, a temática das danças brasileiras e manifestações populares pode, 
por vezes, ser solicitada aos professores, principalmente em datas comemorativas (como dia 
do índio, festas juninas) que acabam reproduzindo em suas aulas alguns modelos 
desconectados do contexto da prática. O mesmo ocorre diante da proposta do ensino da 
história e cultura africana e afro-brasileira (Lei n˚10.639 de 2003 e parecer CNE/CE 3/2004). 
A estas situações, Meira (2005, p.105) refere que, “O educador que deseja trabalhar com este 
 691
universo deve, sempre que possível, participar de festas e celebrações nas quais a cultura 
tradicional se apresenta na íntegra.” 
 Na mesma direção, podemos encontrar recomendação semelhante em Silva (2009, 
p.46), quando em alusão às africanidades, expressões de culturas de raiz africana, indica que 
“Para identificar,conhecer e compreender africanidades há que conviver com pessoas negras 
que reconheçam seu pertencimento étnico-racial enraizado na África, há que freqüentar 
territórios negros, há que buscar obras de autores e outros profissionais negros.” 
 Assim como na cultura popular a prática das danças não busca o melhor rendimento, 
desempenho ou padronização de movimentos, a abordagem das danças em Educação Física 
escolar não se baseia no ensino de técnicas de danças ou formação de dançarinos, mas 
possibilitam uma discussão de todas as dimensões de conteúdo: atitudinais, conceituais e 
procedimentais. Resumida e respectivamente, estas dimensões, relacionadas aos conteúdos 
abordados, representam a consideração de valores e atitudes; o entendimento de seu conceito, 
histórico e significados; e os procedimentos para sua realização, ou saber fazer. 
 Para Darido e Rangel (2005), a consideração destas dimensões de conteúdos em 
Educação Física, representa a superação de uma história de ênfase nas dimensões 
procedimentais, quando não como única forma de abordagem de seus conteúdos na escola. 
 Em uma dimensão atitudinal pode-se, a partir da congada, promover a discussão sobre 
as posturas de estranhamento, admiração ou repulsa, adotadas diante da manifestação por 
diferentes grupos de pessoas. Relacionar estas posturas, ou atitudes de valorização ou não da 
dança à forte influência da mídia sobre a determinação do que é belo, do que é cultura e do 
que é arte, também pode promover uma interessante discussão sobre o tema. 
 No mesmo sentido, é possível questionar a falta de visibilidade destas práticas, como 
um importante fator de reflexão sobre os interesses políticos e econômicos envolvidos na 
escolha de determinadas expressões culturais para divulgação nos meios de comunicação, em 
detrimento de outras, e ainda como esta divulgação influencia a sociedade, ditando padrões de 
comportamento social, de expressão corporal e até de relações interpessoais. Valorizar o 
patrimônio cultural de seu contexto, reconhecer e valorizar atitudes não-preconceituosas 
também são objetivos desta dimensão. 
 Aliada às sugestões de discussões acima citadas, a dimensão conceitual da congada 
como manifestação de dança brasileira propõe que educandos e educandas tomem 
conhecimento das construções e transformações sociais que acarretaram a origem e a prática 
atual da congada. Nesta dimensão de conteúdo pode-se também, buscar o conhecimento dos 
 692
elementos constituintes da congada e seus significados, como seus instrumentos, suas 
vestimentas, personagens, letras de músicas e coreografias. 
 Durante a congada, a cada ano na Festa em Uberlândia, existe o momento da coroação 
de novos reis: o rei congo e a rainha conga. A escolha destes reis e rainhas é feita pela 
Irmandade de Nossa Senhora do Rosário junto aos capitães dos ternos7. Neste momento, são 
escolhidos um casal de reis para serem festeiros de Nossa Senhora do Rosário e outro casal de 
festeiros para São Benedito. Estes reis e rainhas têm o papel de organizar, junto à comunidade 
congadeira, a festa na cidade. O momento da coroação acontece na igreja de Nossa Senhora 
do Rosário quando todos os ternos de congada e a população que participa da festa estão 
presentes. Ao relacionar este acontecimento com evento semelhante da tradição de alguns 
povos africanos, Silva (1999) refere que 
Através da coroação dos reis negros recria-se algo que é central na tradição africana, 
isto é, o espírito de comunidade. Coroar os reis negros através de um ritual em que 
se refaz a dimensão coletiva é sem dúvida uma dimensão forte da experiência 
africana ancorada na filosofia banto. Na tradição banto a família é central, ela é a 
razão da continuidade da comunidade. (...) Coroar o rei é assegurar a continuidade 
da comunidade através se um símbolo de sua sustentação. O que o ritual apresenta 
de significativo é menos os objetos trocados e ofertados e sim o esforço de 
restauração do coletivo, da grande família historicamente dispersa pela diáspora. 
 
Este elemento da congada pode ser explorado em seu contexto histórico, 
desenvolvendo na escola a compreensão de elementos da cultura africana e suas 
ressignificações no Brasil, por populações negras e não negras no período escravista e nos 
dias de hoje. 
 Em concordância com Silva (2009, p.47), consideramos aqui que o estudo das 
africanidades brasileiras representa o conhecimento de 
 
um jeito peculiar de ver a vida, (...) de lutar pela dignidade própria, bem como 
pela de todos os descendentes de africanos, mais ainda de todos os que a 
sociedade marginaliza. Significa também conhecer e compreender os trabalhos e 
a criatividade dos africanos e de seus descendentes no Brasil e de situar tais 
produções na construção da nação brasileira. 
 
 
7 Os ‘ternos’ são os grupos de congada compostos por homens e mulheres de todas as idades que se 
organizam a partir de características peculiares como o ritmo musical, instrumentos utilizados, roupas, danças e 
cores. 
 
 693
 Considerando a dimensão procedimental do conteúdo proposto, a riqueza de vivências 
passa pelas atividades rítmicas e expressivas, com a experimentação dos processos de dançar, 
cantar, bater palmas, tocar um instrumento, ou elaborar versos. 
 O “saber fazer” neste caso está atrelado ao entendimento de cada procedimento 
proposto, e de sua importância na formação da congada. Os movimentos propostos pela dança 
na congada podem ser bases constitutivas de diversos jogos que trabalhem as posturas e 
ritmos fundamentais da prática. Ao mesmo tempo, existe na realização da dança referida uma 
atitude de valorização dos saberes individuais, assim como dos repertórios motores próprios, 
uma vez que cada pessoa pode atribuir livremente aos passos da dança suas características de 
movimento, seu gingado e suas expressões corporais particulares. 
 
Considerações 
“Não sou apenas objeto da História, mas seu sujeito igualmente”. 
 (Paulo Freire, 1996, p.85) 
 
 Tendo a congada como manifestação da cultura popular e apontando tanto para sua 
história quanto para suas linguagens expressivas (dança, música, versos), as propostas aqui 
formuladas nos levam a identificar a abordagem do conteúdo nas dimensões conceituais, 
procedimentais e atitudinais. No entanto, embora separadas aqui para uma melhor 
organização e visualização de suas possibilidades, consideramos que as três dimensões de 
conteúdo não estejam fragmentas na prática pedagógica. Elas se complementam e ocorrem 
simultaneamente durante a atuação de educadores e educadoras. 
 As manifestações da cultura popular brasileira são múltiplas em suas representações e 
nas suas formas de compreensão. Deste modo, acreditamos que as linhas que tecem as 
grandes teias pelas quais se engendram os saberes populares são dinâmicas, se transformando 
e se renovando sempre, para que a tradição se mantenha atuante em nosso presente. A 
tradição se renova e se reconfigura, ao mesmo tempo em que garante a transmissão destes 
saberes e a permanência destas manifestações nas comunidades e na vida das pessoas que as 
praticam. Assim, há que considerar os conhecimentos de educandos e educandas, suas 
histórias de vida e seu contexto social nas possíveis interpretações e impressões que 
estabeleçam diante do conteúdo proposto. 
Se pensarmos a cultura como um processo social que compõe modos de vida em suas 
diversas representações, a cultura popular não deve ser entendida como um conjunto de 
eventos isolados ou como manifestações pontuais que se encerram em si mesmas. Segundo 
 694
Tião Rocha8 (2005), “todos têm cultura e trata-se de um bem universal porque é a rede de 
relações que define o desenhode uma comunidade”. Então, ao falarmos de danças brasileiras 
e cultura popular estamos falando de modos de vida e formas de estar no mundo de diversos 
sujeitos, que significam este mundo a partir das suas experiências de vida. 
 Assim, nas práticas populares todos ensinam e aprendem mutuamente e o saber de 
experiência garante a transmissão do conhecimento que se dá na experiência concreta, no 
fazer e no vivenciar a dança, o canto, a poesia, os toques dos instrumentos, etc. 
Consideramos ainda, que ao propor a reflexão sobre os possíveis significados, não 
apenas da congada, mas das danças brasileiras no currículo escolar, seja possível oferecer 
subsídios para a abordagem da história e cultura africana e afro-brasileira e, sobretudo sobre o 
reconhecimento de nossas origens, histórias e saberes. 
 
 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 
 
BRASIL, Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais. 
Educação Física, 1˚ e 2˚ ciclos, v.7, Brasília: MEC, 1997. 
 
DAOLIO, Jocimar. Educação física e o conceito de cultura. Campinas, SP: Autores 
Associados, 2004. 
 
DARIDO, Suraya, e RANGEL, Irene C. A. Educação Física na escola: implicações para a 
prática pedagógica. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2005. 
 
DUSSEL, Enrique D. Cultura Imperial, Cultura Ilustrada e Libertação da Cultura 
Popular. In: DUSSEL, Enrique D. Para uma ética da libertação latino americana III: erótica e 
pedagógica. São Paulo: Loyola; Piracicaba:UNIMEP. (s/d), p. 253- 281. 
 
FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. Rio de 
Janeiro: Paz e Terra, 1996. 
 
_____________. Pedagogia da esperança: um reencontro com a pedagogia do oprimido. 
12ªed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2005. 
 
GALVÃO, Z. et al. Cultura corporal de movimento. In: DARIDO, Suraya, e RANGEL, 
Irene C. A. Educação Física na escola: implicações para a prática pedagógica. Rio de Janeiro: 
Guanabara Koogan, 2005, p.25-36. 
 
GIL, Antônio Carlos. Métodos e técnicas de pesquisa social. São Paulo: Atlas, 1991. 
 
8 Tião Rocha é antropólogo, educador e folclorista. Foi professor da PUC-MG da Universidade Federal 
de Ouro Preto e membro do Conselho Universitário da Universidade Federal de Minas Gerais. É presidente do 
Centro Popular de Cultura e Desenvolvimento, que fundou em 1984 em Minas Gerais. 
 695
 
MEIRA, Renata B. Experienciar, aprender, criar e ensinar. Revista de Educação Popular. 
Uberlândia: Universidade Federal de Uberlândia. N. 4. Jan/dez, 2005, p. 103-114. 
 
______________. Baila Bonito Baiadô: educação dança e culturas populares em Uberlândia, 
Minas Gerais. Campinas, SP: Unicamp, 2007 (Tese de Doutorado). 
PACHECO, Gustavo. et al. Caixeiras do Divino Espírito Santo de São Luis do Maranhão. 
Rio de Janeiro: Associação Cultural Caburé, 2005. 
 
PARREIRA, Vivian. A Tradição cantada – a congada de Uberlândia por meio dos versos 
Uberlândia. Uberlândia: Universidade Federal de Uberlândia, 2005 (Monografia de 
Graduação) 
 
ROCHA, Tião. As Tramas da Identidade. Revista Onda Jovem. Ano I. Edição 3. Nov., 
2005, p. 14-17. 
 
SILVA, Petronilha B. G. A palavra é... africanidades. Presença pedagógica. Belo Horizonte: 
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SILVA, José Carlos Gomes. Negros em Uberlândia e a Construção da Congada: um 
estudo sobre ritual e segregação urbana (1940- 1970). Uberlândia: UFU- FAPEMIG, 1999.

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