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Ponto dos Concursos -Direito Penal Básico

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DIREITO PENAL – CURSO BÁSICO P/ FISCAL DO TRABALHO E ICMS-SP 
CURSOS ON-LINE – PROFESSOR JULIO MARQUETI 
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APRESENTAÇÃO 
 
Caros alunos, sou bacharel em Direito desde 1995, graduado pelas Faculdades 
Integradas de São José do Rio Preto SP e Analista Judiciário – Executante de 
Mandados do Tribunal Regional Federal da 3ª Região (São Paulo/Mato Grosso do 
Sul). 
 
Atualmente trabalho no fórum criminal de São Paulo. Leciono em vários cursos 
preparatórios para concursos públicos em São Paulo e Campinas, onde ministro, 
além das aulas de Direito Penal, aulas de Direito Processual Penal e 
Administrativo. Também leciono em cursos preparatórios para o exame da OAB. 
 
Mas, desafio mesmo são os cursos preparatórios para os concursos da área fiscal, 
onde, em sala de aula, nos deparamos com grupos heterogêneos. A dificuldade 
reside em, de forma clara, objetiva, e substanciosa (já que as provas são 
extremamente difíceis), transmitir aos alunos (de várias formações universitárias, 
inclusive, olhem só, aqueles de exatas) matéria técnica como é o Direito Penal. 
Entretanto, com experiência e trabalho exaustivo, os resultados têm sido ótimos, 
tanto que hoje estou eu aqui. 
 
Nesta oportunidade, então, vamos iniciar o estudo de Direito Penal direcionado 
para os concursos de auditor do ICMS SP e FISCAL DO TRABALHO. 
 
Antes, todavia, de falarmos a respeito do programa do nosso curso, devemos 
dispensar atenção a algumas peculiaridades a respeito do Direito Penal. Nas aulas 
presenciais, sempre noto que os alunos adoram tratar das condutas criminosas, 
ou seja, do momento em que casuisticamente passamos a falar dos crimes. 
Adoram, por exemplo, quando falamos da consumação dos crimes contra a 
administração pública (concussão, corrupção ativa e passiva, prevaricação, entre 
outros). 
 
Entretanto, antes de lá chegarmos é necessário, e isso tem sido explorado em 
demasia nos concursos públicos, que dispensemos atenção extraordinária aos 
aspectos conceituais do Direito Penal (ex: o que é dolo, culpa, crime tentado, 
crime consumado). Tais aspectos são a nós trazidos pela doutrina, pela 
jurisprudência e especialmente, na sua parte geral, pelo Código Penal. 
 
Em Direito Penal os conceitos são muito próximos, o que exige uma atenção 
especial do aluno e torna o estudo desgastante e cansativo. Para minimizar o 
problema, passei a adotar em minhas aulas uma sistemática em que os crimes 
em espécie (furto, estelionato, concussão, corrupção passiva) são, a todo o 
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momento, mencionados com o intuito de ilustrar os conceitos. Também me valho, 
e acho absolutamente eficiente, de exercícios de fixação. Então, durante as aulas 
realizaremos exercícios, oportunidade em que também provoco o raciocínio 
dissertativo por meio do que chamo “questões interessantes”. 
 
Aqui no curso on-line, vou procurar, através de linguagem simples, mas 
substanciosa, fazer o mesmo tipo de trabalho que desenvolvo em sala de aula, o 
que acredito será muito facilitado pelo acesso que o aluno tem ao fórum de 
dúvidas, onde, desde já ressalto, serão resolvidas as questões trazidas em nota 
de rodapé. 
 
A respeito do curso que iniciaremos hoje, devemos ressaltar que o programa leva 
em conta os editais anteriores de Fiscal do Trabalho e de Fiscal do ICMS SP. 
Vamos tratar dos pontos comuns, isto é, de Aplicação da Lei Penal, Do crime, Dos 
Crimes contra administração pública, Dos Crimes contra a ordem tributária (Lei 
nº 8.137, de 1990) : praticados por funcionário público. 
 
O objetivo nosso não é entrar em discussões teóricas e nem mesmo em debates 
a respeito de decisões jurisprudenciais. Aqui, o que realmente nos interessa é um 
trabalho focado, direcionado à aprovação no concurso público. 
 
Nosso trabalho vai se iniciar com o tópico “DO CRIME”, seguido da “APLICAÇÃO 
DA LEI PENAL” e, finalmente, vamos tratar dos crimes propriamente ditos. Ao 
falarmos DOS CRIMES CONTRA A ORDEM TRIBUTÁRIA e DOS CRIMES CONTRA A 
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA, o faremos primeiramente de forma isolada, 
individualmente, e, ao depois, vamos confrontar os dispositivos penais, 
oportunidade em que, principalmente por meio de questões, vamos demonstrar o 
que realmente nos interessa para a resolução das provas objetivas. 
 
Não podemos deixar de enfatizar que o estudo é um método racional. A 
racionalidade nos impõe o dever de trilhar o “caminho das pedras”, que é o 
caminho para aprovação. Não nos vale um trabalho exaustivo sem direção. 
Sabemos que de regra os programas são extensos e o tempo é curto. Assim, para 
focalizar eu levo em conta, e isso me tem servido de eficiência extraordinária, o 
que cada organizadora vem exigindo dos candidatos em certames anteriores (os 
mais recentes). 
 
Estatisticamente, extraio do programa aquilo que nos interessa. Tenho obtido 
bons resultados nos cursos onde leciono, cujo nível de aprovação é alto e, 
especialmente nas matérias por mim ministradas, a pontuação até mesmo dos 
não aprovados, é muito satisfatória. 
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Teremos em frente 06 aulas, excluída a aula Zero – demonstrativa. Nos nossos 
encontros, vamos nos divertir, e, mais importante, aprender. Obrigado pela 
atenção. Vamos ao trabalho.Um abraço, 
 
JULIO MARQUETI 
 
 
AULA 0: DO CRIME 
 
 Para tratarmos de crime, devemos, primeiramente, ter em mira um 
conceito amplo segundo o qual crime seria sinônimo de infração penal. Assim, em 
sentido lato, crime nada mais significa que infração penal. Esta é o gênero do 
qual são espécies crime em sentido estrito e contravenção penal. Crime em 
sentido estrito e contravenção penal, por sua vez, têm suas espécies. 
 
O Código Penal e leis esparsas prevêem as espécies de crimes. São exemplos de 
crimes previstos no Código Penal: furto (art. 155 CP), estelionato (art. 171 CP), 
homicídio (art.121 do CP) etc. 
 
Já a Lei das Contravenções Penais (Decreto-lei nº 3.688, de 1941) traz o rol das 
espécies de contravenções. Na Lei das Contravenções Penais temos, por exemplo, 
as contravenções relativas à paz pública (artigos 39 a 42); à organização do 
trabalho (artigos 47 a 49), à fé pública (artigos 43 a 46). Ali, no artigo 50, está a 
mais conhecida contravenção penal: prática de jogo de azar (Exemplo: Jogo do 
bicho). 
 
 
 1- crime em sentido estrito. 
 
 Crime em sentido amplo 
 (ou infração penal) 2- contravenção penal. 
 
 
Substancialmente, não há diferença entre as infrações penais. O que 
efetivamente distingue o crime, em sentido estrito, da contravenção penal, é a 
resposta jurídico-penal. No primeiro, ela é mais severa, o que denota maior 
importância do bem jurídico tutelado. 
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Para o crime, por exemplo, a lei prevê pena de reclusão ou detenção, o que é 
mais severo que a pena de prisão simples prevista para os casos de contravenção 
penal. A menor severidade da prisão simples está estampada no artigo 6º da Lei 
das Contravenções Penais. 
 
Art. 6º A pena de prisão simples deve ser cumprida, sem rigor penitenciário, em 
estabelecimento especial ou seção especial de prisão comum, em regime semi-
aberto ou aberto. 
 § 1º O condenado a pena de prisão simples fica sempre separado dos 
condenados a pena de reclusão ou de detenção. 
 
A Lei de Introdução ao Código Penal e a Lei das Contravenções Penais, cuja 
literalidadesegue, define crime e contravenção penal. Os conceitos foram 
estabelecidos levando em conta a pena aplicável em cada uma das infrações 
penais. Preferiu a lei o critério quantitativo para distinguir uma infração 
penal da outra. 
 
DECRETO-LEI Nº 3.914, DE 9 DE DEZEMBRO DE 1941 (Lei de Introdução 
ao Código Penal e à Lei das Contravenções Penais 
Art 1º Considera-se crime a infração penal que a lei comina pena de reclusão ou 
de detenção, quer isoladamente, quer alternativa ou cumulativamente com a 
pena de multa; contravenção, a infração penal a que a lei comina, isoladamente, 
pena de prisão simples ou de multa, ou ambas, alternativa ou cumulativamente. 
 
Com isso, fica aqui demonstrado que o legislador pátrio adotou o sistema 
bipartido, onde crime, em sentido amplo (ou infração penal), é tanto crime, em 
sentido estrito, como contravenção penal. 
 
Não podemos nos esquecer também que a expressão delito é utilizada como 
sinônimo de infração penal, ou seja, como gênero e, eventualmente, como crime 
em sentido estrito. 
 
3.1 – Do conceito. 
 
Em um primeiro momento, ressalto que agora não vamos tratar dos crimes 
propriamente ditos (condutas criminosas). Falaremos dos crimes (furto, 
estelionato, concussão, corrupção, etc...) no momento próprio. 
 
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 Por agora, o conceito de que vamos tratar é o conceito aplicável a todos os 
crimes. Não nos cabe agora analisar casuisticamente os elementos dos crimes em 
espécie. 
 
O crime, em sentido amplo, é conceituado de várias maneiras. A doutrina 
majoritária dá ao crime três conceitos. Para tanto, fala-se em conceitos material, 
formal e analítico. Vamos ver cada um deles. 
 
Conceito Material: crime é a conduta que ofende valores sociais 
relevantes, exigindo intervenção estatal mediante norma proibitiva de 
cunho penal. Há aqui um conceito pré-legislativo, isto é, que antecede e dá 
razão à elaboração da norma penal. 
 
A sociedade, em um dado momento, diante de seus valores, passa a considerar 
reprovável determinada conduta. A reprovabilidade é de tal monta que o 
legislador se vê obrigado a criar norma que objetive proteger tais valores. Com 
isso, cria uma norma penal, estabelecendo a conduta indesejada como crime. 
 
O conceito material sintetiza então o princípio da fragmentariedade, segundo o 
qual, normas penais só serão criadas quando houver afronta a valores sociais 
relevantes (“ultima ratio”). 
 
É o que, por exemplo, ocorreu recentemente com os crimes ambientais. A 
sociedade passou, tardiamente, a entender que a proteção ao meio ambiente 
estava a exigir uma intervenção jurídico-penal com o intuito de prevenir danos 
ambientais. Com isso, o legislador penal passou, por meio de lei, a considerar 
criminosas condutas que até então eram penalmente lícitas. 
 
Conceito Formal: crime é a conduta que ofende a norma penal proibitiva, 
isto é, o bem juridicamente tutelado pela norma penal. O conceito formal, 
diferentemente do material, traz uma idéia pós-legislativa, isto é, crime, agora, é 
uma conduta que ofende bem já protegido por uma norma penal. 
 
Já há a norma penal que define como criminosa a conduta. O agente pratica 
então uma conduta já definida como crime. Para Heleno Cláudio Fragoso crime é 
“toda ação ou omissão proibida pela lei sob ameaça de pena”. 
 
Para alguns autores nacionais (Ex: Damasio Evangelista de Jesus e Fernando 
Capez), o conceito formal de crime tem significado idêntico ao dispensado à 
conceituação sob aspecto analítico. Assim, não preferimos. Comungo da opinião 
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da doutrina majoritária, segundo a qual não há sinonímia entre os conceitos 
formal e analítico de crime. 
 
Conceito analítico (estrutural): De antemão, veremos que há uma apreciação 
estrutural do crime, a qual, sob o prisma de duas teorias que buscam explicar a 
ação (conduta) no âmbito jurídico penal, pode ser modificada ao adotarmos uma 
ou outra delas. 
 
Portanto, quando se fala em conceito analítico de crime, estar-se-á falando de 
sua estrutura, de sua forma. Daí o motivo por que alguns falam em conceito 
formal. 
 
 3.1.1 – Conceito analítico nas teorias clássica e finalista da 
ação. 
 
Acerca das teorias discorrerei, mais detidamente, quando formos tratar da 
conduta como elemento do fato típico. Neste momento, nos interessa somente o 
conceito de crime estabelecido por cada uma delas. 
 
De acordo com a teoria clássica da ação, crime é um fato típico, 
antijurídico e culpável. Portanto, estruturalmente, o crime é composto dos 
seguintes elementos: 1)- fato típico + 2)- antijuridicidade (ou ilicitude) + 3)- 
culpabilidade. 
 
De outra banda, para os que adotam a teoria finalista da ação, crime é um 
fato típico e antijurídico. Assim, estruturalmente, é ele composto dos 
seguintes elementos: 1)- fato típico + 2)- antijuridicidade (ou ilicitude). 
 
 A culpabilidade, de cujo conceito iremos tratar mais adiante, adotada a teoria 
finalista da ação, não é elemento conceitual de crime e sim pressuposto para a 
aplicação de pena. 
 
A maioria dos doutrinadores adota a teoria clássica para conceituar crime. O 
legislador, todavia, quando da reforma do Código Penal (Parte Geral), veio a 
adotar a teoria finalista da ação. 
 
Sem embargo do mérito de cada uma das teorias, daremos atenção ao conceito 
proposto pela teoria sufragada pelo legislador pátrio, isto é, teoria finalista da 
ação. 
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Em síntese, CONCEITO DE CRIME: 
 
Teoria clássica (causal ou naturalista) da ação: 
(Crime = Fato típico + antijuridicidade + culpabilidade. 
 
Teoria finalista da ação : 
Crime = Fato típico + antijuridicidade)*. 
 
 *A culpabilidade não é elemento conceitual de crime. 
 
Por ora, não se preocupem em compreender cada um dos termos, necessário 
somente que fique bem clara a distinção das conceituações propostas pelas duas 
teorias. Posteriormente, veremos que a adoção de uma ou outra teoria traz 
conseqüências extraordinárias, o que é muito explorado pelas organizadoras de 
concursos. O tema, inclusive, foi abordado pela Fundação Carlos Chagas na 
prova do Banco Central (dez/2005).1 
 
 Observe o quadro sinótico : 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
1 ANALISTA DO BACEN – 2005 (FCC) PROVA 1 (AREA4). 
24 – Adotada a teoria finalista, é possível se a firmar que o dolo e a culpa integram : 
a- tipicidade e culpabilidade, respectivamente. 
b- culpabilidade. 
c- antijuridicidade. 
d- culpabilidade e tipicidade, respectivamente. 
e- tipicidade. 
Gabarito oficial : E 
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 Material 
 Fato típico 
 
Conceito Antijuridicidade 
de crime Formal 
 Culpabilidade 
 Teoria Clássica 
 
 Analítico 
 Teoria finalista Fato típico 
 Antijuridicidade 
 
 
 
Nas próxima linhas, vamos tratar de cada um dos elementos que constituem o 
conceito analítico de crime proposto pela teoria finalista da ação. Falaremos, 
então, de fato típico e de antijuridicidade. 
 
 3.2 – Do fato típico : Conceito e elementos. 
 
Vimos que, para haver crime, mister que, inicialmente, estejamos diante de um 
fato típico. Este,acrescido de um plus, isto é, de antijuridicidade, demonstra a 
existência de um crime. 
O que é, então, um fato típico? 
 
Primeiramente devemos saber o que é um tipo penal. Tipo penal é o modelo 
de conduta descrito na norma penal (Exemplo : Artigo 121 : “Matar 
Alguém”). Fato típico, por sua vez, é aquele fato social que se amolda ao 
modelo normativo, isto é, ao tipo penal. 
 
Assim, caso eu venha a desferir golpes de faca, causando a morte de um 
desafeto, pratiquei um fato típico, já que minha conduta se amolda perfeitamente 
ao modelo (tipo penal) do crime de homicídio (Artigo 121 : “Matar alguém”). De 
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forma singela, fato típico é aquele acontecimento (fato concreto) que se 
ajusta ao modelo (tipo penal) previsto na lei penal. 
 
Entretanto, o fato típico tem seus elementos, que serão por nós analisados 
individual e oportunamente. Ressalta-se, por ora, que, de regra, todos os 
elementos do fato concreto devem, para que ele seja considerado típico, 
amoldar-se ao modelo (tipo penal) descrito na lei. 
 
Então, diante de um fato concreto (com todos os seus elementos), far-se-á uma 
comparação com o fato abstrato (descrito no modelo com todos os seus 
elementos) para se saber se aquele (concreto) é um fato típico. Trata-se da 
subsunção do fato à norma, que nada mais é que adequar o fato típico, concreto, 
ao abstrato, indicado pela norma. 
 
Imaginemos a lei penal, que descreve as condutas delituosas, como um armário 
cheio de pequenas e diferentes gavetas. Estas deverão ser preenchidas por 
objetos que ocupem de maneira perfeita todo o seu espaço, sem sobrar ou faltar. 
 
O objeto que efetivamente venha a preencher o espaço da gaveta “A” terá, por 
óbvio, a sua forma. Assim ocorre com o fato concreto. Quando ele se amolda ao 
modelo (gaveta), diz-se típico. Ao passo que, quando não se amolda, é 
atípico. 
 
Antes de tratarmos dos elementos do fato típico, devemos responder a 
uma questão absolutamente inquietante. 
 
QUESTÃO INTERESSANTE : A adequação do fato concreto (João, mediante 
golpe de faca, matou Jorge) ao fato abstrato (tipo penal que descreve a conduta 
do homicídio – Artigo 12 do CP : “Matar alguém”) leva à conclusão de que houve 
um crime ? 
 
Resposta : Adotada a teoria finalista da ação, crime existe quando há fato típico 
acrescido de antijuridicidade (ilicitude), ou seja, o fato, além de típico, deve ser 
antijurídico (ilícito). Observe o nome ANTI – JURÍDICO. O prefixo indica algo que 
contraria o ordenamento jurídico, algo que é ilícito. Notamos, então, que o fato 
concreto mencionado na questão pode ser lícito (protegido pelo direito). Será ele 
lícito, apesar de típico, quando houver uma causa que o legitime, como por 
exemplo, a legitima defesa. Caso João, autor dos golpes de faca em Jorge, o 
tenha feito tendo em conta uma agressão injusta praticada pela vítima, a sua 
conduta, apesar de típica, não é criminosa, já que lícita. Ausente a 
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antijuridicidade (a ilicitude). Lembre-se: Crime = Fato típico + 
antijuridicidade. 
 
 
O fato típico tem seus elementos. Para a maioria da doutrina, o fato típico de 
regra é composto dos seguintes elementos : 1- Conduta; 2- Resultado; 3- 
Nexo causal; 4- Tipicidade. 
 
Observe o quadro sinótico : 
 
 
 conduta 
 Fato típico resultado 
 Nexo causal 
Crime Tipicidade. 
 
 
 Antijurídico 
 
* A culpabilidade, da qual falaremos mais adiante, adotada a teoria finalista, 
não é elemento conceitual de crime, mas sim pressuposto para aplicação de 
pena. 
 
Vamos, agora, tratar de cada elemento do fato típico. 
 
3.2.1- DA CONDUTA : 
 
Ao aluno é interessante se lembrar, a todo instante, que o Direito Penal é, o que 
vulgarmente chamo de o Direito das condutas, já que trata ele de ações humanas 
ilícitas. Veremos que os verbos constantes dos dispositivos penais, nos serão de 
grande valia para distinguirmos os crimes. 
 
Conduta penalmente relevante é a manifestação exterior de vontade 
voluntária e consciente. Ela pode ser positiva (ação) ou negativa (abstenção). 
Para a teoria clássica (ou causal), a conduta é um mero acontecimento físico, 
desprovido de qualquer querer, não tem ela qualquer finalidade. Assim, para a 
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teoria clássica, conduta é o golpe de faca dado pelo açougueiro epilético, em 
momento de crise, em seu auxiliar. 
 
Já para os defensores da teoria finalista da ação, a conduta, negativa ou positiva, 
não é um simples acontecimento mecânico, físico. Ela traz em si um querer, um 
fim buscado pelo agente. 
 
As dificuldades enfrentadas pela teoria clássica (causal ou naturalista) para 
explicar, por exemplo, os crimes comissivos por omissão (ou omissivos 
impróprios, espúrios)2, onde o resultado só pode ser imputado ao agente tendo 
em conta o seu querer, sua vontade, sua finalidade, já que a omissão (a 
abstenção, o não fazer) não leva, física e naturalmente, a qualquer resultado, 
levaram ela a ser superada pela teoria finalista da ação. Só por meio da teoria 
finalista há como atribuir à mãe a morte de seu filho, quando a ele não foi, por 
ela, dado alimento. 
 
É certo que o fim buscado pelo agente não se confunde com o conhecimento do 
injusto (com o conhecimento de que está se fazendo algo errado). É a simples 
manifestação de vontade (ação ou omissão), voluntária e consciente, de alguém 
em busca de um fim. O fim buscado pelo agente é que indicará a existência 
de DOLO ou CULPA. 
 
Grosso modo, diz-se dolosa a conduta quando o agente busca o resultado; e, por 
sua vez, culposa quando tal resultado advém da incúria, falta de cautela, falta de 
cuidado do agente. 
 
Observe a conduta de alguém que, com um copo de água na mão, levá-o à boca 
e, com sucesso, vem a saciar a sua sede. Pergunto: a conduta foi dolosa ou 
culposa? É certo que dolosa, já que dirigida a um fim que foi efetivamente 
buscado pelo agente. 
 
Independentemente de ser um conduta lícita ou ilícita (certa ou errada), houve 
dolo. Por isso, que ele (dolo) é natural e não normativo. No dolo, então, não há 
juízo de valor acerca da ilicitude do ato. Há dolo até mesmo nas condutas lícitas. 
 
Imaginemos, agora, que, ao tentar beber a água do copo, o agente deixa-a, por 
falta de cuidado, cair em sua roupa. É obvio que o resultado que adveio da sua 
conduta não foi por ele buscado (buscava saciar a sua sede). Houve falta de 
 
2 Crimes omissivos impróprios são aqueles em que o agente por meio de uma abstenção (não fazer) causa um resultado 
danoso. Caso clássico é o da mãe que deixa de dar alimento a seu filho, causando-lhe a morte. Praticou homicídio (matou 
alguém) por meio de uma omissão. 
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cuidado que, por sua vez, deu causa a um resultado não pretendido. A conduta, 
portanto, é culposa. 
 
Segundo Fernando Capez e Edílson M. Bonfim, adotada a teoria finalista da ação, 
conduta é toda ação ou omissão humana, consciente e voluntária, 
dirigida a uma finalidade. 
 
São elementos da conduta: 1)- vontade (voluntariedade); 2)- finalidade; 3- 
manifestação exterior (ação ou omissão); 4)- consciência. 
A ausência de qualquer um dos elementos leva à ausência de conduta e, 
portanto, à atipicidade do fato,já que, não havendo conduta, não haverá fato 
típico (a conduta é o primeiro dos elementos do fato típico). Se, por sua vez, não 
há fato típico, não há crime. 
 
Não há conduta : 
1- Nos movimentos reflexos, pois não expressam a vontade do agente. 
 
Ex: golpe de faca dado pelo açougueiro epilético em seu auxiliar no momento de 
crise. 
 
2- Na coação física absoluta (vis absoluta), já que ausente a vontade. 
 
Ex: Antonio, dolosamente, empurra a mão de José que segurava uma faca contra 
o tórax de Anastácio que vem a sofrer lesão corporal. (José não responde, pois 
não praticou qualquer conduta. Antônio, por sua vez, responderá pelo ilícito) 
 
3- Estados de inconsciência (desde que não decorra de ato do agente), uma 
vez que não há vontade. 
 
Ex: José, em crise de sonambulismo, vem a empurrar sua mulher, Joelma, da 
sacada do seu prédio, causando-lhe a morte. 
 
Atenção : A coação moral irresistível não leva à ausência de conduta, já 
que há um resíduo de vontade. Esta não foi eliminada pela coação. Fato 
típico existirá. Todavia, ausente a culpabilidade (exemplo: João, gerente de 
banco, sob coação praticada mediante o emprego de arma de fogo, vai até sua 
agência e subtrai do cofre grande quantia em dinheiro). No caso a conduta não é 
desprezada pelo Direito Penal. Assim, praticou João um fato típico. 
 
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Sobre a culpabilidade trataremos após falarmos da ilicitude. 
 
Necessário ao aluno que tenha como certa, inarredavelmente, a afirmativa de que 
há conduta quando esta advier de coação moral irresistível (vis 
compulsiva). 
 
 3.2.1.1 - DA COMISSÃO E DA OMISSÃO. 
 
Vimos que a conduta é uma ação (positiva) ou uma omissão (negativa), 
voluntária, consciente e com finalidade. A conduta pode, assim, representar um 
fazer ou um não fazer. A ação e a omissão são os meios pelos quais a conduta se 
exterioriza, se apresenta ao mundo. 
 
No que tange ao fazer, a conduta, no âmbito penal, é aquela em que o agente faz 
aquilo que a norma proibitiva impõe um não fazer. A conduta aqui é uma ação 
(um agir, uma comissão) contra o mandamento proibitivo da norma penal. 
(Exemplo: “Crime Concussão” Art. 316 – “Exigir, para si ou para outrem, direta 
ou indiretamente, ainda que fora da função ou antes de assumi-la, mas em razão 
dela, vantagem indevida: Pena - reclusão, de dois a oito anos, e multa”). 
 
Já no caso da omissão, o agente deixa de agir. Deixa, frente determinada 
situação, de tomar uma postura ativa exigida pela lei. A omissão é uma 
abstenção, uma conduta negativa. Entretanto, a omissão só terá relevância 
jurídico-penal quando do agente tiver o dever de agir. 
 
O dever jurídico de agir advirá : 
 
1- da própria norma penal incriminadora3 que prevê a abstenção como conduta e 
estabelece a respectiva pena (crimes omissivos próprios). A norma, então, ao 
prever a abstenção como conduta. estabelecendo uma pena àquele que a 
praticar, está na realidade exigindo do omitente uma conduta ativa, um fazer. 
 
 
3 Norma penal incriminadora é aquela em que o legislador estabelece a conduta reprovável e 
determina a pena (sanção) aplicável àquele que a infringe. São as normas que emergem dos tipos 
penais incriminadores. 
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 É o que ocorre com o crime de omissão de socorro (artigo 135 do CP)4, onde o 
simples abster-se leva à existência do ilícito, não havendo necessidade de 
qualquer resultado naturalístico (dano à vítima). 
 
Assim, tais crimes (omissivos próprios) são classificados como de mera conduta, 
pois a norma penal não descreve qualquer resultado, mas tão só a conduta 
(abstenção). 
 
2- de norma penal não incriminadora5 que prevê hipóteses especiais em que o 
agente deve impedir um resultado danoso. São hipóteses especiais, onde se exige 
do agente um comportamento ativo (ação) para evitar um resultado. Não agindo, 
ele dá causa ao resultado (crimes comissivos por omissão ou omissivos 
impróprios). 
 
A omissão não vem descrita no tipo penal incriminador (tipo penal que descreve a 
conduta criminosa). Este descreve uma conduta ativa (exemplo: artigo 121 – 
matar alguém). Todavia, o resultado poderá ser alcançado por meio de uma 
abstenção, bastando que o agente esteja em qualquer das situações mencionadas 
no artigo 13, parágrafo 2º, do CP6. 
 
Exemplo clássico de crime omissivo impróprio ou comissivo por omissão é o caso 
da mãe que deixa de alimentar seu filho, causando-lhe a morte. Neste caso, 
 
4 Art. 135 – “Deixar de prestar assistência, quando possível fazê-lo sem risco pessoal, à criança abandonada 
ou extraviada, ou à pessoa inválida ou ferida, ao desamparo ou em grave e iminente perigo; ou não pedir, 
nesses casos, o socorro da autoridade pública” Pena: detenção, de um a seis meses, ou multa. 
5 São as normas penais que não têm origem em tipos penais incriminadores. Tais normas estão previstas em tipos penais não 
incriminadores, ou seja, em dispositivos que não descrevem condutas criminosas. São, por exemplo, tipos penais não 
incriminadores aqueles que prevêem as hipóteses de legitima defesa (artigo 25 do CP) e estado de necessidade (artigo 24 do 
CP), como também o é aquele que estabelece para efeito penal o que é funcionário público (artigo 327 do CP). 
6 Artigo 13 do CP : “RELEVÂNCIA DA OMISSÃO”. 
§ 2º - A omissão é penalmente relevante quando o omitente devia e podia agir 
para evitar o resultado. O dever de agir incumbe a quem: 
a) tenha por lei obrigação de cuidado, proteção ou vigilância; 
b) de outra forma, assumiu a responsabilidade de impedir o resultado; 
c) com seu comportamento anterior, criou o risco da ocorrência do resultado. 
 
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deixando de fazer aquilo que é seu dever, ela mata seu filho; praticando, por 
omissão, um crime de homicídio. 
 
Observe, para ilustrar, que, se desprezássemos o querer, a vontade, a finalidade, 
como querem os adeptos da teoria clássica. Considerando, assim, como conduta 
o simples acontecimento mecânico, físico, não seria possível responsabilizar a 
mãe pela morte do filho, já que entre o não fazer e a morte do filho, 
mecanicamente, não há como se estabelecer vínculo, liame (nexo causal). 
 
A respeito do tema, vamos falar detidamente logo adiante (item 3.4), quando 
tratarmos do nexo causal (relação de causalidade). 
 
 
3.2.1.2 – DO DOLO E DA CULPA. 
 
A conduta pode, ainda, ser dolosa ou culposa. O legislador pátrio adotou como 
regra a responsabilidade penal quando o agente age dolosamente e, 
excepcionalmente, quando o faz culposamente. 
 
Assim, no parágrafo único do artigo 18 do CP, o legislador afirma que “Salvo os 
casos expressos em lei, ninguém pode ser punido por fato previsto como crime, 
senão quando o pratica dolosamente”. 
 
Portanto, só haverá crime culposo quando a lei expressamente o admitir. Em 
regra, todos os crimes previstos (furto, estelionato, corrupção passiva e ativa, 
homicídio etc) são dolosos. 
 
Excepcionalmente, o legislador admite a forma culposa. O crime de homicídio 
admite a forma culposa (artigo 121, parágrafo 3º, do CP). Já o crime de furto não 
prevê modalidade culposa (artigo 155 do CP). 
 
Mas o que seria dolo e culpa? 
 
Vimos de forma singela, ao discorrermos inicialmente sobre conduta, que o fim 
buscado pelo agente é que indicará a existência de dolo ou culpa. Vejamos,agora, o porquê. 
 
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Adotada a teoria finalista da ação, partiremos do pressuposto de que a conduta 
não é um simples acontecimento físico, mecânico. Ela tem um plus, que é a 
finalidade do agente. 
 
Quando, por exemplo, bebo água, tenho a finalidade, o objetivo de saciar a 
minha sede. O beber água representa, então, um comportamento doloso, já que 
é a manifestação do fim postulado pelo agente. Apesar de penalmente 
irrelevante, é uma conduta dolosa. 
 
Observemos, então, no mesmo contexto fático, ou seja, o agente busca, com o 
copo na mão, saciar a sua sede. Entretanto, por descuido, deixa a água cair em 
sua roupa. A conduta tinha uma finalidade: saciar a sede. Todavia, o resultado foi 
diverso do pretendido. Este resultado diverso adveio de um descuido, falta de 
cuidado. Aqui está a pilastra da conduta culposa. 
 
A culpa se exterioriza através daquilo que o legislador denomina imprudência, 
negligência e imperícia, que são as modalidades de culpa. 
 
O dolo, por sua vez, pode ser direto, quando o agente quis o resultado, ou 
indireto, quando assumiu ele o risco de produzi-lo. O dolo indireto, a seu 
turno, pode ser eventual ou alternativo. 
 
Art. 18 do CP : Diz-se o crime: 
I - doloso, quando o agente quis o resultado ou assumiu o risco de produzi-lo; 
II - culposo, quando o agente deu causa ao resultado por imprudência, 
negligência ou imperícia. 
Parágrafo único - Salvo os casos expressos em lei, ninguém pode ser punido por 
fato previsto como crime, senão quando o pratica dolosamente. 
 
A respeito das modalidades e espécies de culpa, falaremos quando formos tratar 
dos crimes culposos. Por ora, daremos atenção ao dolo. 
 
Mas o faremos, agora, pressupondo a conduta típica, ou seja, aquela conduta que 
se amolda a um tipo penal incriminador (Fato concreto = fato abstrato). 
 
Portanto, não vamos falar da conduta dolosa irrelevante para o direito penal (ex: 
beber água), mas daquela que, além de dolosa, é, a princípio, criminosa, pois 
constitui um fato típico. 
 
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3.2.1.3 - O DOLO NO CRIME DOLOSO. 
 
Primeiramente, vamos falar a respeito de algumas teorias que tratam do assunto, 
e, ao depois, conceituaremos o dolo trazendo à baila suas espécies. 
 
A respeito do dolo, em que pese a existência de outras, são três as teorias de 
maior relevância no nosso ordenamento jurídico-penal. 
 
Teoria da representação: segundo a teoria da representação, a simples 
antevisão do resultado ilícito, ou seja, sua representação ao agente, faz sua 
conduta ser dolosa. Adotada essa teoria, não existiria distinção entre dolo 
eventual e culpa consciente7, pois em ambos os casos o agente antevê o 
resultado danoso e, mesmo assim, age. 
 
Teoria da vontade: para os adeptos da teoria da vontade, a existência de um 
crime doloso exige que o agente tenha, diante da representação (antevisão), a 
vontade de praticar a conduta que configura um ilícito penal. Assim, necessária a 
antevisão, representação, acrescida de vontade de praticar o ilícito. 
 
Teoria do assentimento (ou do consentimento): segundo seus defensores, o 
dolo ocorre quando o agente, diante da representação do ilícito penal, apesar de 
não querê-lo (de não ter vontade de causá-lo), aceita-o como possível. 
 
De acordo com a literalidade do nosso Código Penal (artigo 18, acima transcrito), 
é manifesta a opção do legislador nacional. Para que tenhamos um crime doloso, 
mister, primeiramente, que o agente tenha vontade dirigida ao resultado danoso 
(teoria da vontade = quis o resultado) ou, quando não, que, ao menos, o 
tenha aceitado como possível (teoria do assentimento = assumiu o risco de 
produzir o resultado). 
 
Atenção: No nosso ordenamento jurídico, então, a simples representação 
do resultado não faz da conduta uma conduta dolosa. A teoria da 
representação não foi acolhida pelo legislador. 
 
Necessário que além da representação, haja vontade dirigida ao resultado (dolo 
direto) ou a assunção do risco de produzi-lo (dolo indireto). Houve, por parte do 
 
7 
Dolo eventual : antevisão (ou representação) + aceitação do resultado. 
Culpa consciente : antevisão (ou representação) + não aceitação do resultado. 
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nosso legislador, a opção pelas teorias da vontade e do assentimento para 
definir o que é uma conduta dolosa, juridicamente relevante. 
 
Não podemos nos esquecer que a ilicitude (ou antijuridicidade, que é a 
contradição da conduta frente ao ordenamento jurídico), da qual falaremos mais 
adiante, não é elemento da conduta. 
 
Assim, o dolo não traz em si qualquer juízo de valor a respeito do que é certo ou 
errado. O dolo é natural e não normativo. Basta que se queira o resultado ou se 
tenha assumido o risco de produzi-lo, ou seja, que se tenha uma finalidade. 
 
O dolo, no crime doloso, pode então ser: 
 
1- DIRETO (teoria da vontade): quis o resultado. 
2- INDIRETO (teoria do assentimento): assumiu o risco de produzir o resultado. 
 
O indireto pode ser : a)- eventual ou b)- alternativo. 
 
 
No dolo indireto há, como no direto, a antevisão do resultado. Este (o 
resultado), todavia, não é querido pelo agente, o qual, diante de sua 
representação (antevisão do resultado), age, aceitando-o (o agente se 
conforma com o resultado danoso, apesar de não querê-lo). 
 
No dolo eventual, primeira das duas espécies de dolo indireto, diante da 
antevisão do resultado, o agente prefere agir, aceitando-o como possível, a 
deixar de fazê-lo. 
 
Exemplo de dolo eventual: Substituto do atirador de facas no circo. Sem 
habilidade, o agente antevê a possibilidade de acertar a moça e não a maçã que 
está em sua cabeça. Diante de tal possibilidade, ele aceita o resultado como 
possível (se conforma com o resultado danoso) e age, acertando a maçã, mas 
não a maçã que estava em cima da cabeça, e sim a maçã do rosto da moça (sua 
face). 
 
Já no dolo alternativo, a segunda das espécies de dolo indireto, o agente 
antevê dois ou mais resultados possíveis. Dirige, entretanto, sua conduta a um 
deles (dolo direto). Mas sabe que, ao agir, poderá causar outro resultado lesivo. 
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Mesmo diante dessa possibilidade, entre o fazer e o não fazer, ele age, aceitando 
e causando o outro resultado. 
 
Exemplo de dolo alternativo: João pretende dar um tiro na perna de Antônio. 
José, está perto da vítima. João antevê a possibilidade de atingir também, ou 
unicamente, José. Busca um resultado (= atingir Antônio), mas aceita como 
possível o outro resultado (= ferir José) e age, ferindo este. 
 
Atenção : A aceitação do resultado é o que difere o dolo eventual da culpa 
consciente8. Nesta, o agente antevê o resultado. Todavia, espera sinceramente 
que ele não ocorra, não o aceita, mas age. Veja algumas questões sobre o tema.9 
10 
Não podemos nos esquecer que o legislador, no artigo 18 do CP, trouxe-nos o 
conceito de crime doloso e não de dolo. O conceito de dolo é doutrinário e não 
legal, pois não há na lei a definição de dolo. 
 
Doutrinariamente, dolo é definido como a vontade e consciência de realizar 
todos os elementos constitutivos do tipo penal, ou seja, a vontade de 
“matar alguém” (elementos constitutivos do crime de homicídio). Sobreos 
elementos constitutivos do tipo penal falaremos quando formos tratar do último 
dos elementos do fato típico, isto é, quando da tipicidade. 
 
Crime doloso, por sua vez, é aquele em que o agente quis o resultado ou 
assumiu o risco de produzi-lo (vide artigo 18 do CP). 
 
 
8 Na culpa consciente, o agente antevê o resultado, mas não o aceita, não se conforma com ele. Ao agente age na crença de 
que não causará o resultado danoso. Exemplo: O atirador (não o substituto) de facas no circo. Ele atira a faca na crença de 
que, habilidoso que é, acertará a maça. Mas, ao contrário do que acreditava, ele acerta o rosto da moça. 
9 Questão OAB SP (EXAME 119º) 
Na culpa consciente, o agente: 
(A) prevê o resultado e, conscientemente, assume o risco de produzi-lo. 
(B) prevê o resultadO, mas espera, sinceramente, que ele não ocorra. 
(C) não tem previsão quanto ao resultado, mas apenas à previsibilidade do mesmo. 
(D) não tem previsão quanto ao resultado, mas, consciente-mente, considera-o previsível. 
Gabarito oficial : B 
 
 
10 QUESTÃO - TRIBUNAL DE CONTAS DO PI – (AUDITOR) 2005 – FCC (PROVA TIPO 1). 
47- Quando o agente prevê o resultado, mas espera sinceramente que ele não ocorrerá, afirma-se na doutrina que há : 
a- culpa imprópria. 
b- dolo alternativo. 
c- dolo indireto. 
d- dolo eventual. 
e- culpa consciente. 
Gabarito oficial : E 
 
 
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Atenção : Uma coisa é a definição de dolo, outra é a definição de crime 
doloso. 
 
Síntese conceitual : 
Crime doloso , cuja definição está na lei, é aquele em que o agente quis o 
resultado ou assumiu o risco de produzi-lo. 
 
Dolo, cuja conceituação não está na lei, é a vontade e consciência de realizar 
todos os elementos constitutivos do tipo penal. 
 
Espécies de dolo: 
De acordo com o que dispõe o legislador, podemos ter o Dolo direto e o dolo 
indireto. Este, como já vimos, pode ser alternativo ou eventual. 
 
Por enquanto, não trataremos de outras classificações de dolo. De tais 
classificações falaremos mais adiante, quando estiverem mais enraizados os 
conceitos de dolo e culpa. 
 
3.3. - Do Resultado. 
 
Sobre o resultado, há uma questão interessante. Iniciaremos o nosso trabalho já 
a trazendo à baila. Todo crime tem resultado? Não responderemos agora, 
deixemo-la de lado; e, após discorrermos sobre o assunto, vamos ver que a 
resposta tanto pode ser positiva quanto negativa. 
 
Resultado é o efeito que advém de uma causa. 
 
Ao matar alguém, houve um resultado que adveio de minha conduta? É óbvio que 
sim. No caso, houve a mudança do mundo (alguém morreu). Quando jogo uma 
pedra no lago, de minha conduta houve um resultado? É óbvio que sim. Quando, 
por falta de cuidado, eu, imprudentemente, invado a via preferencial e causo um 
acidente de trânsito, houve um resultado que adveio de minha conduta? A 
resposta também é positiva. 
 
Nos exemplos dados, entretanto, estamos analisando a relação causa e efeito 
mecanicamente. O resultado penalmente relevante deve ser analisado não de 
forma tão simplista. 
 
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A relação causa e efeito nos é de grande valia. Mas, devemos analisar o efeito 
natural e o efeito jurídico que advém de uma determinada conduta. Para 
respondermos àquela primeira questão, devemos tratar, portanto, do resultado 
naturalístico e do resultado jurídico. 
 
Resultado naturalístico é a mudança do mundo, ou seja, é a mudança exterior 
causada pela conduta. Assim, penalmente, o resultado naturalístico é a 
mudança do mundo (um fenômeno) causada pela conduta ilícita. 
 
Resultado jurídico, por sua vez, é a ofensa à norma penal, isto é, ofensa ao 
bem tutelado (protegido) pela norma penal. Como toda norma penal 
incriminadora objetiva proteger um determinado bem jurídico mediante um 
mandamento proibitivo, para que haja resultado jurídico, basta que se pratique a 
conduta proibida. 
 
Como de todo crime emana ofensa a uma norma penal, concluímos que todo 
crime tem resultado jurídico. 
 
Mas, conclusão diversa chegaremos ao observarmos o resultado naturalístico 
(mudança do mundo). 
 
 A lei penal em determinadas oportunidades, por opção do legislador, prevê como 
criminosas condutas que, apesar de praticadas, não levam à mudança do mundo. 
Nestes casos, não há resultado naturalístico ou, quando há, ele não é exigido 
para a perfeição do crime. Assim ocorre, por exemplo, nos crimes denominados 
de mera conduta e formais, dos quais falaremos adiante. 
 
Observe, por exemplo, o crime de concussão (artigo 316 do CP): 
Concussão 
Art. 316 - Exigir, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda que fora 
da função ou antes de assumi-la, mas em razão dela, vantagem indevida: Pena - 
reclusão, de dois a oito anos, e multa. 
 
A conduta é, em síntese, exigir vantagem indevida. 
 
 
 
 
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Pergunto: para que exista o crime é necessária a obtenção da vantagem, ou 
basta a conduta de exigi-la ? Respondo: o crime de concussão se aperfeiçoa no 
momento da exigência, a obtenção ou não da vantagem é irrelevante, é o 
denominado exaurimento do crime, também conhecido como “pos factum” 
impunível. 
 
O bem jurídico tutelado (protegido) pela norma inserta no artigo 316 do CP é o 
bom desenvolvimento da máquina administrativa.11 
 
Portanto, aquele que pratica a conduta incriminada (exigir vantagem indevida) 
causa resultado jurídico, isto é, ofende o bem tutelado pela norma penal. 
Entretanto, apesar de ofender o bem tutelado, não gera mudança no mundo 
exterior (não gera resultado naturalístico). 
 
Inobstante o resultado naturalístico estar descrito na norma penal (obtenção da 
vantagem indevida), o crime de concussão se consuma, se aperfeiçoa, sem sua 
concreção. A realização do resultado (obtenção da vantagem) é o exaurimento do 
ilícito, o que é indiferente para a existência ou não no crime. 
 
Pergunto: No crime de concussão, o agente que exige vantagem indevida 
lesiona ou não o bem tutelado pela norma jurídica? Respondo: Como vimos 
acima, o bem tutelado (protegido) pela norma inserta no artigo 316 do CP é o 
bom desenvolvimento da máquina administrativa. Assim, o servidor que exige 
vantagem indevida, em que pese não recebê-la, causa lesão ao bem protegido 
pela norma penal. No entanto, apesar disso, não muda o mundo, isto é, não 
causa resultado naturalístico. 
 
A conclusão inexorável a que chegamos é de que o bem tutelado pela norma 
penal sempre é lesionado quando a lei penal é afrontada. Isso, todavia, não leva, 
por si só, a crer que a lesão ao bem tutelado leva a um resultado naturalístico 
(mudança do mundo). 
 
Observe o crime de homicídio. A norma penal inserta no artigo 121 do CP (matar 
alguém) busca tutelar o direito à vida. Portanto, o bem protegido é a vida. 
Quando mato alguém, ofendi o bem tutelado? Sim, pois matei alguém. Houve 
resultado jurídico? Sim, ofensa ao bem tutelado: Direito à vida. Houve, por sua 
vez, resultado naturalístico? Sim, a morte de alguém (mudança do mundo). 
 
 
11 Jesus – Damásio Evangelista (Direito Penal – volume 4 – editora Saraiva). 
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No que se refere ao resultado naturalístico, o legislador se vale de três modos de 
atuação naelaboração dos tipos penais incriminadores. Descreve, nos tipos 
penais: 
 
1- conduta e resultado, exigindo este para sua perfeição (consumação). São os 
denominados crimes materiais. 
Exemplo: homicídio (artigo 121 - “matar alguém”); furto (artigo 155 – “subtrair 
coisa alheia móvel para ou para outrem”). No homicídio, para que o crime se 
consume necessário o evento morte e no furto, por sua vez, necessária a efetiva 
subtração, que é a retirada da coisa da esfera de disponibilidade da vítima. 
2- conduta e resultado, mas não o exige para sua perfeição (consumação), 
bastando a conduta para que o crime se consume. Aqui, estamos falando dos 
crimes formais. 
Exemplo: Concussão (art 316, “caput”), corrupção passiva, na modalidade 
solicitar vantagem (art 317). Em ambos os casos não é necessária a obtenção da 
vantagem para a consumação do crime, apesar de ela constituir elemento da 
descrição da conduta. Há, aqui, uma antecipação da consumação. 
3- conduta (não descreve o resultado), o crime se aperfeiçoa só com a conduta. 
São os denominados crimes de mera conduta. 
Exemplo: desobediência (Art. 338), reingresso de estrangeiro expulso (art 338). 
 
Já temos, então, condição de responder aquela questão interessante. 
 
Questão Interessante : Todo crime tem resultado ? 
Resposta : Todo crime tem resultado jurídico. Todavia, não são todos os crimes 
que têm resultado naturalístico. Alguns nem mesmo descrevem o resultado 
naturalístico, não há menção a ele no tipo penal, é o caso dos crimes de mera 
conduta. Os crimes formais têm em sua descrição o resultado naturalístico. Este, 
não obstante sua previsão no tipo penal, não é necessário para que o crime se 
consume. Basta, para que o ilícito se aperfeiçoe, a conduta do agente. Dirigida, é 
certo, ao resultado naturalístico. Nos crimes materiais, por seu turno, além de, 
em sua descrição legal, constar o resultado naturalístico, eles só se consumarão 
se efetivamente o resultado vier a ocorrer. 
 
De agora em diante, fica estabelecido que, quando formos falar de resultado, 
estaremos nos referindo àquele que tem relevância jurídica, ou seja, ao resultado 
naturalístico. Portanto, para nosso estudo, resultado é a mudança do mundo 
exterior causada pela conduta ilícita. 
 
Como elemento do fato típico, o resultado não é o jurídico e sim o naturalístico. 
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Síntese conceitual : 
Resultado: é o efeito que advém de uma causa. 
Resultado jurídico: é a ofensa à norma penal, ou seja, ao bem tutelado pela 
norma penal. 
Resultado naturalístico: é a mudança exterior (mudança do mundo) causada 
pela conduta. 
 
3.4. - Do nexo Causal. 
 
O nexo de causalidade, ou nexo causal, é o liame estabelecido entre a 
conduta (causa) e o resultado (efeito). Assim, será causa a conduta que 
levou ao resultado. Nada mais é que uma relação de causa e efeito (Ex: o 
envenenamento (causa) levou à da morte (resultado) de Antônio). 
 
O nexo causal é um dos elementos do fato típico. Todavia, só existirá como tal 
quando estivermos falando de crimes materiais, ou seja, de crimes cujo resultado 
naturalístico é necessário para seu aperfeiçoamento, para sua consumação. Não 
há nexo causal nos crimes formais e de mera conduta. 
 
Nos crimes formais há resultado na descrição do tipo penal, nas não é ele exigido 
para a consumação do ilícito. Portanto, não há que se falar em nexo causal. Já 
nos crimes de mera conduta não há resultado nem mesmo como elemento 
descritivo do tipo penal. 
 
Causa é todo evento necessário para que o resultado ocorra. Assim, tudo que 
antecede o resultado e que foi necessário, que teve relevância para sua 
efetivação, é causa. 
 
Não é, ademais, uma simples relação física entre a conduta (causa) e o resultado 
que levará à existência do fato típico. Necessário que a conduta seja, ao menos, 
culposa, que tenha uma finalidade (teoria finalista da ação). 
 
Caso não fosse assim, poderíamos concluir que o nascimento do Senhor Francisco 
de Assis Pereira, o “maníaco do parque”, foi causa dos crimes por ele cometidos, 
uma vez que, caso não tivesse nascido, não teria havido os crimes. 
 
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Portanto, o nascimento seria causa e a sua mãe, em conluio com seu pai, seria 
criminosa. O que é um absurdo. É óbvio que seus pais, ao concebê-lo, não tinham 
a finalidade de praticar qualquer ilícito. 
 
Concretamente, para se saber se um evento é causa, devemos nos valer do 
processo hipotético de eliminação. Se, eliminando mentalmente o evento do 
processo causal, chegarmos à conclusão de que, com isso, o resultado não 
ocorreria do modo e no momento em que ocorreu estaremos diante de uma 
causa. 
 
Exemplo : Caminhando próximo a um abismo, João nota que José está prestes a 
cair, pois está segurando em uma pequena raiz de um arbusto (isso nos lembra 
aquelas peripécias do coiote em perseguição ao papaléguas). Diante de tal 
situação, João corta a raiz do arbusto e José cai, sobrevindo sua morte. Pergunto: 
A conduta de João pode ser considerada causa da morte de José? Eliminando 
hipoteticamente a conduta de João do processo causal (pensemos que ele não 
tivesse cortado a raiz), José teria caído? Possivelmente sim, mas não no 
momento em que caiu. Assim, a conduta de João foi relevante para que o evento 
morte viesse a ocorrer no momento em que ocorreu. Portanto, tenho-a como 
causa da morte de José. 
 
 A causa, assim, tem relevância no processo causal. Sem ela o resultado não teria 
ocorrido no momento e do modo que ocorreu. 
 
O nosso legislador adotou, no que tange ao nexo causal, a teoria da 
equivalência causal ou da “conditio sine qua non” como regra. Segundo tal 
teoria, basta que haja relevância no processo causal para que o evento seja tido 
como causa. Absolutamente eficiente o procedimento mental de eliminação para 
definirmos o que efetivamente é causa para o nosso legislador. No exemplo 
acima, vimos que a conduta de João foi relevante para que o evento morte de 
José viesse a ocorrer no momento em que ocorreu. 
 
Excepcionalmente, todavia, a teoria utilizada pelo Código Penal é, de acordo com 
Fernando Capez e Edilson M. Bonfim, a teoria da causalidade adequada, 
segundo a qual causa somente será o evento que, isolada e individualmente 
(desprezado o processo causal), teve idoneidade para produzir o resultado.12 
 
 
12 (vide : Capez – Fernando e Bonfim – Edílson M. - Direito Penal Parte Geral – Editora Saraiva – 2ª edição). 
 
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De acordo com a teoria da causalidade adequada, não há entre vários eventos de 
um contexto fático relação de dependência. Serão eles considerados 
isoladamente. Só haveria uma causa, desprezando-se todo o processo causal. 
 
Observe a seguinte situação, para dimensionar os efeitos práticos da adoção de 
uma ou outra teoria. 
 
 “A vítima de um golpe de faca em um dos braços é levada ao hospital, onde vem 
a falecer tendo em conta trauma craniano decorrente de acidente de trânsito 
ocorrido no trajeto da viatura de emergência”. 
 
Pela teoria da equivalência dos antecedentes, o golpe de faca é causa da morte, 
já que, sem ele, a vítima não estaria na ambulância e, com isso, não sofreria a 
lesão que a levou à morte. 
 
De outro lado, adotada a teoria da causalidade adequada, o golpe de faca não 
pode ser considerado causa, já que isolada e individualmente não teria condição 
de levara vítima a óbito. A teoria da causalidade adequada é utilizada pelo 
legislador quando trata da superveniência de causa relativamente independente 
(artigo 13, parágrafo 1º, do CP). 
 
 
O artigo 13 do Código Penal trata da relação de causalidade, observe sua 
literalidade no quadro abaixo. 
 
Relação de causalidade 
Art. 13 - O resultado, de que depende a existência do crime, somente é 
imputável a quem lhe deu causa. Considera-se causa a ação ou omissão sem a 
qual o resultado não teria ocorrido. 
Superveniência de causa independente 
§ 1º - A superveniência de causa relativamente independente exclui a imputação 
quando, por si só, produziu o resultado; os fatos anteriores, entretanto, 
imputam-se a quem os praticou. 
Relevância da omissão 
§ 2º - A omissão é penalmente relevante quando o omitente devia e podia agir 
para evitar o resultado. O dever de agir incumbe a quem: 
a) tenha por lei obrigação de cuidado, proteção ou vigilância; 
b) de outra forma, assumiu a responsabilidade de impedir o resultado; 
c) com seu comportamento anterior, criou o risco da ocorrência do resultado. 
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Sabemos que, pela teoria da equivalência causal, todo evento que leva ao 
resultado é sua causa. Sabemos, também, que para imputá-lo ao agente é 
necessário que este tenha agido ao menos culposamente. 
 
No processo causal – desenvolvimento físico -, podem existir vários eventos. 
Necessário sabermos se todos foram relevantes para o resultado. Não são poucas 
as vezes em que um evento está relacionado a outro, havendo aí uma 
dependência. 
 
Juntamente com a conduta do agente (evento) outros acontecimentos podem 
também ser causa do resultado. A doutrina, então, fala em causa dependente ou 
independente da conduta do agente. A independência pode ser relativa ou 
absoluta, como também pode ser preexistente, concomitante ou superveniente à 
conduta do agente. 
 
Será absolutamente independente a causa que, por si só, sem a dependência 
de qualquer outro evento deu causa ao resultado. Se a causa absolutamente 
independente foi a conduta do agente, o resultado a ele será imputado. É o que 
reza o “caput” do artigo 13 do CP: “O resultado, de que depende a existência do 
crime, somente é imputável a quem lhe deu causa. Considera-se causa a ação ou 
omissão sem a qual o resultado não teria ocorrido”. 
 
Logicamente, portanto, que se a causa for absolutamente independente da 
conduta do agente, o resultado a ele não se imputará. 
 
Atenção : em provas objetivas os elaboradores podem trazer, na redação das 
questões, jogo de palavras com o intuito de levar o candidato à confusão, e, 
normalmente, obtêm sucesso. Quando a questão, todavia, falar somente em 
causa absolutamente independente, está se referido a outra causa e não à 
conduta do agente. 
 
Observe as três questões que seguem : 
1- Advindo o resultado de uma causa absolutamente independente da 
conduta do agente, podemos afirmar que: 
a- o resultado não lhe será imputado. 
b- O resultado lhe será imputado ao agente. 
c- O resultado poderá lhe ser imputado. 
d- Nda. 
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Gabarito : A 
2- Sendo a conduta do agente causa absolutamente independente : 
a- O resultado não lhe será imputado. 
b- O resultado lhe será imputado. 
c- O resultado poderá lhe ser imputado. 
d- Nda. 
Gabarito : B 
3- Advindo o resultado de uma causa absolutamente independente, podemos 
afirmar que: 
a- O resultado não será imputado ao agente. 
b- O resultado será imputado ao agente. 
c- O resultado poderá ser imputado ao agente. 
d- Nda. 
Gabarito : A. 
 
Note que uma coisa é a causa ser absolutamente independente da 
conduta do agente, outra coisa é a conduta do agente ser a causa 
absolutamente independente. 
 
Causa absolutamente independente é aquela que inexoravelmente leva ao 
resultado. Por si só ela leva ao resultado. Se essa causa é a conduta do agente 
ele responderá pelo resultado. Em contrapartida, se essa causa não for a conduta 
do agente, ele não responderá pelo resultado, já que sua conduta foi irrelevante. 
 
Observação: No exemplo do abismo em que João corta a raiz que segurava José, 
a causa da morte foi a conduta de João. Pergunto: A conduta de João foi a causa 
absolutamente independente de qualquer outra para o evento morte? Sim. Ela, 
por si só, tinha (e efetivamente teve) o condão de levar a efeito a morte de José. 
Assim, é causa absolutamente independente a conduta de João. Quando, 
entretanto, a causa absolutamente independente for outra, João não responde. 
Portanto, quando a causa for absolutamente independente da conduta de João, 
ele não será responsabilizado. 
 
A causa relativamente independente é aquela que tem relevância no processo 
causal, mas que depende de um outro evento para que o resultado ocorra. Já 
vimos que a relação de dependência ou não deve ser aferida tendo em conta a 
conduta do agente (vide os exemplos abaixo, quando falamos das causas 
relativamente independentes – preexistentes, concomitantes e supervenientes). 
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Será, então, causa relativamente independente aquela que deu causa ao 
resultado, mas que, para tanto, dependeu relativamente da conduta do agente. 
Esta causa (relativamente independente) pode ser preexistente, concomitante 
e superveniente à conduta do agente. 
 
A relação de dependência ou independência relativas será aferida tendo em conta 
a conduta do agente, o que também ocorrerá para se saber sobre sua 
preexistência, concomitância e superveniência. Assim, sempre teremos em conta 
a conduta do agente. 
 
A causa relativamente independente pode ser: 
 
1- Preexistente : é o evento (causa) que preexistiu à conduta do 
agente. O resultado poderá ser imputado ao agente. O agente responde pelo 
resultado. (Ex: Morte por hemorragia de vítima hemofílica que foi ferida por 
golpes de faca). 
 
No exemplo dado, a hemofilia preexistia à conduta do agente. Caso não houvesse 
tal patologia, o evento morte não ocorreria. Não podemos nos esquecer que a 
hemorragia só se iniciou por meio da conduta do agente. Assim, há uma relação 
relativa de independência. 
 
2- Concomitante: é o evento (causa) que ocorreu simultaneamente 
à conduta do agente. O resultado a ele poderá ser imputado. O agente 
responde pelo resultado. (Ex: Vítima que assustada com o tiro que lhe foi 
desferido vem a falecer em razão de ataque cardíaco). 
 
Neste caso, o que levou à morte foi a parada cardíaca e não a lesão causada pelo 
projétil da arma de fogo. Houve, aqui, uma simultaneidade (concomitância) de 
eventos. Como no caso anterior, não nos esqueceremos que caso não houvesse o 
disparo da arma de fogo não teria ocorrido a parada cardíaca. Assim, há uma 
relação de relativa independência entre os eventos. 
 
3- Superveniente : é o evento (causa) que ocorreu após a conduta 
do agente. O resultado a ele NÃO SERÁ IMPUTADO (vide artigo 13, 
parágrafo 1º , do CP). O agente não responderá pelo resultado. Todavia, 
poderá ele, caso dolosa a sua conduta, responder por crime tentado ou por outro 
ilícito na forma consumada (Ex: vítima de disparo de arma de fogo que levada de 
ambulância sofre acidente no trajeto e vem a falecer em razão de traumatismo 
craniano). 
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No exemplo dado, a causa da morte foi a lesão decorrentedo acidente de 
trânsito. Todavia, caso não tivéssemos a conduta do agente (disparo de arma de 
fogo) a vítima não teria sofrido o acidente de trânsito. Portanto, aqui há uma 
relativa independência causal. 
 
Mas, diferentemente das hipóteses outras, à causa relativamente independente, 
desde que superveniente, o legislador pátrio adotou, em detrimento da teoria da 
equivalência causal, a teoria da causalidade adequada. Com isso, o disparo da 
arma de fogo não é causa da morte, pois, isolada e individualmente, não teria ele 
condição de levar ao resultado. 
 
Portanto, ao seu autor não será imputado resultado morte. Responderá ele, 
todavia, por crime de homicídio (se teve vontade de matar) ou lesão corporal 
consumada, caso a vontade foi exatamente causar a lesão. 
 
Dica importante: Normalmente as questões tratam da causa relativamente 
independente superveniente, pois sobre ela o texto legal é expresso. Assim, 
devemos deixar enfaticamente frisadas duas assertivas: A primeira de que a 
causa absolutamente independente da conduta do agente, não leva a sua 
responsabilidade; A segunda de que a causa relativamente independente, desde 
que superveniente, não leva à responsabilidade do agente. 
 
Quadro sinótico : 
 
 
 Absolutamente independente (Não responde o agente) 
 
causa 
 Preexistente (poderá responder) 
 relativamente independente concomitante (poderá responder) 
 superveniente 
 
 
Não responde pelo resultado 
Artigo 13, parágrafo 1º, do CP. 
 
 
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3.4.1 - DO NEXO CAUSAL NOS CRIMES OMISSIVOS E OMISSIVOS 
IMPROPRIOS. 
 
Como já vimos, o nexo causal é o liame que vincula o resultado à conduta do 
agente. Os crimes omissivos são crimes cuja conduta é uma abstenção. De 
pronto, vamos deixar registrado que o crime omissivo, próprio ou impróprio, é 
praticado pelo agente por meio de uma abstenção. Observe bem, aqui, estamos 
falando da prática do crime, de sua concreção (não da letra da lei). 
 
Quando falamos da conduta, demos atenção aos modos pelos quais ela se 
exterioriza (vide item 3.2.1.1.). Sabemos, então, que quando o crime descreve 
uma ação como sua forma de conduta é conhecido como crime comissivo. De 
outra banda, quando descreve uma omissão como forma de conduta, é conhecido 
como crime omissivo. 
 
Assim, para categorizá-lo como crime comissivo ou omissivo levamos em conta a 
letra da lei. Para tanto, observamos, então, somente a letra da lei, deixando de 
lado a concreção, a prática do crime. 
 
Temos, entretanto, os crimes omissivos impróprios ou comissivos por 
omissão. Para visualizá-los, contudo, não devemos observar somente a letra da 
lei. A letra da lei nos serve para saber se a conduta descrita é ou não positiva, se 
o crime é comissivo ou omissivo. 
 
Crimes omissivos impróprios ou comissivos por omissão são aqueles em que a 
letra da lei (observe bem: A LETRA DA LEI) descreve uma conduta positiva e um 
resultado, mas o resultado pode ser alcançado por uma omissão. Assim, 
devemos observar primeiro a letra da lei e depois a conduta do agente. 
 
São, portanto, crimes que podem ser concretizados por meio de uma abstenção, 
apesar de a letra da lei descrever uma conduta positiva. Devemos, então, 
observar a concreção do ilícito para termos o crime como comissivo por omissão 
ou omissivo impróprio. 
 
Pergunto, agora: 
 
 
 
 
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Questão : Nos crimes omissivos há nexo causal ? 
Resposta : Fisicamente, da abstenção (não fazer) não decorre qualquer 
resultado que não seja a própria inação. Ela, por si, não leva a evento algum. “Do 
nada, nada surge”. Se da abstenção nada surge, não havendo resultado 
naturalístico, concluímos que não há nexo causal quando estivermos diante de 
uma abstenção. Mas, ainda, não respondemos à indagação. Quando falamos dos 
crimes omissivos próprios, não há qualquer dúvida de que nexo causal não há, 
uma vez que, na descrição típica, o legislador não descreve qualquer resultado. 
São crimes de mera conduta. Mas, quando tratamos dos crimes omissivos 
impróprios (ou comissivos por omissão), o problema surge, pois são crimes em 
que, apesar da abstenção, há resultado danoso a ser imputado ao agente. O 
liame, o nexo causal, aqui, não é natural, mas normativo, pois fisicamente já 
concluímos que “do nada, nada surge”. Há um problema que deve ser 
solucionado. 
 
Temos, portanto, um problema para solucionar e uma certeza absoluta a 
registrar. 
 Do problema trataremos nas linhas seguintes. Agora, vamos deixar, 
enfaticamente, registrada a certeza absoluta de que nos crimes omissivos 
(omissivos próprios)13, não há nexo causal como elemento do fato típico, 
uma vez que nem mesmo resultado naturalístico há. São crimes que se 
incluem no rol dos denominados crimes de mera conduta, onde o legislador 
descreve somente a conduta no tipo penal incriminador. 
 
No caso da omissão de socorro (artigo 135 do CP), para que o crime se 
aperfeiçoe basta a inação, o deixar de fazer, não exigindo o tipo penal a 
ocorrência de resultado. Não é preciso, assim, que a pessoa ferida, por exemplo, 
venha a sofrer dano decorrente da omissão. O crime já se aperfeiçoou quando da 
abstenção. 
 
Vamos, então, resolver o problema e tratar do nexo causal nos crimes 
omissivos impróprios ou comissivos por omissão. 
 
 
3.4.1.1 – DO NEXO CAUSAL NOS CRIMES OMISSIVOS IMPROPRIOS ou 
COMISSIVOS POR OMISSÃO. 
 
 
13 O crime de omissão de socorro é exemplo clássico de crime omissivo, observe a descrição típica : 
Artigo 135 do CP “Deixar de prestar assistência quando possível fazê-lo sem risco pessoal, a criança abandonada ou 
extraviada, ou a pessoa inválida ou ferida, ao desamparado ou em grave e iminente perigo; ou não pedir, nesses casos, o 
socorro a autoridade pública. Pena – detenção de um a seis meses ou multa. 
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Para tratarmos do assunto, vou, primeiramente, transcrever abaixo um trecho do 
que foi falado sobre o dever de agir na oportunidade em que vimos a comissão e 
a omissão (3.2.1.1): 
 
O dever de agir advém: 
2- de norma penal não incriminadora que prevê hipóteses especiais em que o 
agente deve impedir um resultado danoso. São hipóteses especiais, onde se exige 
do agente um comportamento ativo (ação) para evitar um resultado. Não agindo, 
ele dá causa ao resultado (crimes comissivos por omissão ou omissivos 
impróprios). 
 
A omissão não vem descrita no tipo penal incriminador (tipo penal que descreve a 
conduta criminosa). Este descreve uma conduta ativa (exemplo : artigo 121 – 
matar alguém). Todavia, o resultado poderá ser alcançado por meio de uma 
abstenção, bastando que o agente esteja em qualquer das situações mencionadas 
no artigo 13, parágrafo 2º, do CP14. 
 
Exemplo clássico de crime omissivo impróprio ou comissivo por omissão é o caso 
da mãe que deixa de alimentar seu filho causando-lhe a morte. Neste caso, 
deixando de fazer aquilo que é seu dever ela matou seu filho. Praticou ela, por 
omissão, um crime de homicídio. 
 
 
 
Observemos o crime de homicídio15, cuja conduta é matar alguém. Trata-se de 
um crime comissivo, já que, observando a letra da lei (atenção : devemos 
 
14 Artigo 13 do CP : “RELEVÂNCIA DA OMISSÃO”. 
§ 2º - A omissão é penalmente relevante quando o omitente devia e podia agir 
paraevitar o resultado. O dever de agir incumbe a quem: 
a) tenha por lei obrigação de cuidado, proteção ou vigilância; 
b) de outra forma, assumiu a responsabilidade de impedir o resultado; 
c) com seu comportamento anterior, criou o risco da ocorrência do resultado. 
 
15Homicídio simples 
Art 121. Matar alguem: 
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observar a letra da lei e não o caso concreto), notamos que a lei exige para a 
concreção um conduta positiva. Diferentemente do que ocorre nos crimes 
omissivos, onde a letra da lei descreve como conduta negativa, um abster-se. 
 
Pergunto: É possível matar alguém por meio de uma abstenção? 
Respondendo positivamente, estou reconhecendo que da abstenção poderá advir 
um resultado naturalístico, o que, como visto no trecho transcrito acima, não está 
errado. Mas, o que nos interessa agora é estabelecer o modo pelo qual se vincula 
o resultado (morte) ao não agir (à abstenção), já que da abstenção, física e 
normalmente, nada surge. 
 
O nexo causal não se estabelece naturalmente. Devemos, para fazê-lo, emitir um 
juízo de valor acerca da existência ou não de um dever de agir, um dever de 
impedir o resultado imposto ao agente. 
 
Caso o agente esteja em uma das situações mencionadas no artigo 13, parágrafo 
2º do CP, tem ele o dever de impedir o resultado e, não o impedindo, responderá 
por ele. 
O nexo causal entre a abstenção e o resultado é estabelecido pelo dever de agir 
imposto ao agente. Com isso, o nexo causal não é natural, mas sim normativo. 
 
Para que alguém responda por crime omissivo impróprio ou comissivo por 
omissão é necessário que tenha o dever jurídico de impedir o resultado danoso. 
São, de acordo com a lei, casos em que o agente tem o dever jurídico de agir 
aquele que: 
 
1- tenha por lei obrigação de cuidado, proteção ou vigilância. 
 
Neste caso, o dever de agir é imposto pela lei. É o caso, por exemplo, da mãe em 
relação a seus filhos; do salva-vidas em relação aos banhistas; do médico em 
relação ao ferido. 
 
2- De outra forma, assumiu a responsabilidade de impedir o resultado. 
 
 
Pena - reclusão, de seis a vinte anos. 
 
 
 
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Neste caso, a posição de garantidor não decorre da lei, mas de qualquer outra 
forma. Exemplo clássico é o dever de cuidado assumido por meio do contrato. 
Exemplo: a babá em relação à criança aos seus cuidados; o guia em relação as 
pessoas a serem guiadas; o instrutor em relação aos escoteiros. 
 
3- Com seu comportamento anterior, criou o risco da ocorrência do resultado. 
 
No último caso, o legislador impõe o dever de impedir o resultado, àquele que, 
por meio de conduta anterior, criou o risco do resultado. Exemplo: motorista do 
caminhão que não freia o seu veículo deve agir no sentido de impedir que ocorra 
o evento danoso; aquele que acende a fogueira deve agir no sentido de impedir 
que do incêndio causado decorra dano. 
 
Atenção : O que se exige é que o agente não se omita. Deve ele agir com intuito 
de impedir o resultado. Caso, apesar de ter agido, não tenha conseguido evitar o 
resultado, não será ele responsabilizado. A lei não impõe um agir com sucesso, 
mas sim um agir em busca do sucesso. 
 
Questões para fixação da matéria : 
PROCURADOR DO BACEN – 2002 – ESAF. 
01- Em relação à culpa lato sensu pode-se dizer que: 
a) a punição a título de culpa stricto sensu é a regra, enquanto a sanção por dolo 
é excepcional. 
b) no dolo eventual é suficiente que o agente tenha-se conduzido de maneira a 
assumir o risco de produzir o resultado e, assim, não se exige que haja ele 
assentido com o resultado; já na culpa consciente o sujeito não prevê o 
resultado, embora este seja previsível. 
c) no crime culposo é dispensável haver nexo de causalidade entre a conduta e o 
resultado, pois este é reprovável pela desatenção do agente ao dever de cuidado 
para evitar o previsível. 
d) culpa própria é aquela que o agente prevê e quer o resultado, mas sua 
vontade baseia-se em erro de tipo inescusável ou vencível; na culpa imprópria o 
sujeito não prevê o resultado nem assume o risco de provocá-lo. 
e) se o agente não deu seu assentimento último ao resultado, não agiu com dolo 
eventual, mas com culpa consciente. 
 
OAB – BA (2005) – VUNESP. 
02- O artigo 13, § 2.º, ao afirmar que: “A omissão é penalmente 
relevante quando o omitente devia e podia agir para evitar o 
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resultado”, se aplica aos chamados crimes 
(A) omissivos próprios. 
(B) comissivos por omissão. 
(C) comissivos. 
(D) de pequeno potencial ofensivo. 
 
 
Resolução das questões : 
 
1- Alternativa A - incorreta: Vimos na aula que a responsabilidade por 
crime culposo é exceção e que, de regra, o agente é responsabilizado a 
titulo doloso. Assim estabelece o parágrafo único do artigo 18 do CP. 
Alternativa B – incorreta: Aqui, nós temos duas afirmativas equivocadas. 
No dolo eventual, é necessário que o agente tenha assumido o risco de 
produzir o resultado e se conformado, assentido, com o resultado. O 
assentimento é necessário para que haja o dolo eventual (Dolo eventual = 
representação ou antevisão + assentimento ou aceitação). Na culpa 
consciente, há a representação (excepcionalidade), mas não há 
assentimento. O agente espera sinceramente que o resultado não ocorra 
(Culpa consciente = representação ou antevisão sem assentimento ou 
aceitação). Alternativa C - incorreta: Nos crimes culposos, só há crime 
quando houver resultado naturalístico. Caso eu falte com o dever de 
cuidado, mas de minha imprudência não surge qualquer dano, não 
responderei penalmente, pois atípica a conduta. O resultado naturalístico, 
nos crimes culposos, é imputado ao agente, desde que haja nexo de 
causalidade. Alternativa D – incorreta: Na culpa própria, que é a culpa 
típica, não há previsão do previsível. Se há previsão do resultado e querer 
por parte do agente, não estamos falando de culpa, mas sim de dolo. O 
erro de tipo inescusável ou vencível, do qual não falamos, leva à culpa 
imprópria e não à própria. Alternativa E - correta : O assentimento é 
necessário para que tenhamos o dolo indireto, do qual uma das espécies é 
o dolo eventual. Para que tenhamos dolo eventual, mister a aceitação 
(assentimento) do resultado. Não havendo o assentimento, apesar de 
presente a representação (antevisão), temos a culpa consciente. Portanto, 
correta a alternativa E. 
 
 
2- Alternativa A - incorreta: Nos crimes omissivos próprios, o próprio tipo 
penal incriminador traz o dever de agir. Assim, no caso da omissão de 
socorro o dever de agir decorre do próprio tipo penal incriminador que 
estabelece como conduta criminosa a própria abstenção. Portanto, não há 
que se falar em aplicação do artigo 13, parágrafo 2º, do CP aos crimes 
omissivos próprios. Alternativa B – correta: Os crimes comissivos por 
omissão são aqueles conhecidos também como omissivos impróprios, 
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omissivos espúrios. O tipo penal incriminador descreve uma conduta ativa e 
um resultado naturalístico. Este, todavia, pode ser concretizado por meio de 
uma abstenção, bastando, para isso, que o agente esteja em uma das 
condições previstas

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