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Prof.ª Grace Kellen Curso OAB 1 FASE XXIXa DIREITO EMPRESARIAL 1 SUMÁRIO SUMÁRIO ........................................................................................................................................... 1 PONTO 1 - EMPRESÁRIO E EMPRESA ...................................................................................... 3 1.1 Fontes de Direito Empresarial ............................................................................................ 5 1.2 Princípios do Direito Empresarial ...................................................................................... 5 1.3 Da caracterização e da inscrição ....................................................................................... 6 1.4 Da capacidade para ser empresário................................................................................. 8 1.5 Dos impedidos de exercer atividade empresarial ....................................................... 9 1.6 Dos tipos individuais empresariais ................................................................................. 10 Questões ........................................................................................................................................... 14 PONTO 2 - TÍTULOS DE CRÉDITO .......................................................................................... 18 1 Classificações dos títulos de crédito .................................................................................... 20 2 Títulos de créditos em espécie ............................................................................................. 21 2.1 Letras de câmbio ................................................................................................................... 21 2.1.1 Aceite ..................................................................................................................................... 22 Questão ............................................................................................................................................. 22 2.1.2 Endosso ................................................................................................................................. 22 2.1.3 Aval ......................................................................................................................................... 23 2.1.4 Vencimento .......................................................................................................................... 23 2.1.5 Protesto ................................................................................................................................. 24 2.1.6 Prescrição ............................................................................................................................. 24 2.2 Nota promissória ................................................................................................................... 25 2.3 Cheque ...................................................................................................................................... 26 2.3.1 Cheque cruzado ................................................................................................................. 26 2.3.2 Cheque para ser levado em conta ...............................................................................27 2.3.3 Cheque visado .....................................................................................................................27 2.3.4 Cheque administrativo .....................................................................................................27 2.3.5 Protesto e ação cambial ...................................................................................................27 2.4 Duplicata ................................................................................................................................... 28 PONTO 3 - SOCIETÁRIO ............................................................................................................. 30 3.1 Sociedade não personificadas .......................................................................................... 32 2 3.1.1 Sociedade em comum ..................................................................................................... 32 3.1.2 Sociedade em conta de participação ......................................................................... 36 3.2 Sociedades personificadas ................................................................................................. 38 3.2.1 Sociedade simples ............................................................................................................ 38 3.2.2 Sociedade cooperativa .................................................................................................... 49 3.2.3 Sociedade em nome coletivo ........................................................................................ 50 3.2.4 Sociedade em comandita simples ............................................................................... 51 3.2.5 Sociedade em comandita por ações .......................................................................... 53 3.2.6 Sociedade limitada ............................................................................................................ 54 PONTO 4 - TEORIA DA DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA...... 68 Incidente de desconsideração da personalidade jurídica e o CPC ............................. 73 PONTO 5 - RECUPERAÇÃO E FALÊNCIA ................................................................................ 78 5.1 Recuperação judicial ............................................................................................................ 78 5.2 Do plano especial de recuperação judicial das microempresas e das empresas de pequeno porte....................................................................................................... 96 5.3 Recuperação extrajudicial .................................................................................................. 99 5.4 Falência ..................................................................................................................................... 99 PONTO 6 - PROPRIEDADE INDUSTRIAL ............................................................................. 118 PONTO 7 - CONTRATOS EMPRESARIAIS ............................................................................ 121 3 PONTO 1 - EMPRESÁRIO E EMPRESA Nas relações empresariais, aplicam-se o Código Civil, legislação extravagante e parte do Código Comercial [relativa ao Comércio Marítimo - arts. 457-756, observando que o Título IX - Naufrágios e salvados, arts. 731-739, restou revogado]. Com o Código Civil de 2002, entra em vigor a Teoria da Empresa, de origem italiana, deixando-se de aplicar a Teoria dos Atos de Comércio, construção de origem francesa (Código Comercial de Napoleão, de 1807), adotada pelo legislador pátrio que elaborou o Código Comercial de 1850, a Lei Imperial n. 556. O Direito Empresarial pode ser dividido em três grandes fases, com forte relação com o Direito Civil. Num primeiro momento, de formação, ainda não delimitado no tempo e espaço, eis que a doutrina não é pacífica quanto ao seu início de formação. Alguns afirmam ter iniciado sua formação com a própria ideia de trocas e vendas nas primeiras formações sociais. Outros, percebem sua formação apenas com a Idade Média. Torna-se árdua a tarefa de quem tenta delimitar o surgimento do Direito Empresarial. Não adentrando no mérito de quando se tem a primeira formação legislativa específica para tratar de empresas, afirma-se quena Idade Média, surge os primeiros delineamentos acerca do Direito Empresarial. Essa fase inicial, denominada de subjetiva, tinha como sujeito o burguês, matriculado nas corporações de ofício. Criou-se um problema, pois a formação das sociedades era em feudos e compartimentada, baseada em usos e costumes. Há uma reivindicação para regulamentação das regras das corporações de ofício. Esse direito tem por base o sujeito, desde que registrado, e somente ele era regido pelo Direito Empresarial. Na sequência, passa-se por uma mutação e a teoria que passa a reger as relações comerciais é a Teoria dos Atos de Comércio, denominada de teoria objetiva, que tem seu início com a Revolução Francesa e os regramentos codicistas napoleônicos. O primeiro Código Comercial, o Código Francês, de 15 de setembro de 1807, transformou o foco de proteção das pessoas, que estavam registradas nas corporações de ofício, para os atos de natureza comercial e que estavam listados em legislação. Desse modo, era comerciante quem atuava em áreas reconhecidas como comércio. Essa teoria foi adotada e influenciou o Código Comercial brasileiro de 1850, além de outros tantos em outros Países. Atualmente, a teoria adotada é a Teoria da Empresa, fruto do Código Civil italiano de 1942. Essa teoria não concentra a proteção do Direito Empresarial nos atos praticados, mas na empresa, que é a atividade a ser protegida, por tal razão 4 essa teoria é denominada de subjetiva moderna ou subjetiva/objetiva. No Brasil ela adentra com a entrada em vigor do Código Civil, em 2003. Assim, pode-se esquematizar a formação do Direito Empresarial nas seguintes fases: Com essa modificação paradigmática, compreende-se como empresarial a atividade econômica organizada para a produção ou a circulação de bens ou de serviços. Será empresário aquele que exercer profissionalmente esta atividade. Assim, o legislador limitou o conceito de empresariais, excluindo as profissões intelectuais, de natureza científica, literária ou artística. Logo, é empresarial toda e qualquer atividade econômica, organizada para a produção ou circulação de bens ou de serviços, excluídas as decorrentes de profissão de cunho intelectual, de natureza científica, literária ou artística. A atividade empresarial precisa ser vista a partir de vários aspectos. De modo subjetivo, deve-se proteger o empresário, aquele que exerce a atividade empresarial. Também deve ser analisado o aspecto subjetivo, que trata do conjunto de bens capazes de permitir o exercício da empresa. O aspecto corporativo ou institucional, que percebe os esforços de dirigentes e colaboradores no andamento institucional. O perfil funcional é aquele que permite verificar a atividade empresarial como sendo a que movimenta riquezas e rendas. Assim, a empresa pode ser vista a partir desses quatro perfis: subjetivo, objetivo, corporativo e funcional. O Direito Empresarial, assim nomeado com a inserção da Teoria da Empresa, engloba expressão mais abrangente e que abarca os setores da atividade econômica. Em relação à autonomia do Direito Empresarial, mesmo que parte de sua tutela esteja inserida no Código Civil, continua sendo ramo autônomo, conforme o enunciado 75 da I Jornada de Direito Civil do Conselho de Justiça Federal. Tramita, na atualidade, dois projetos de leis em relação ao novo Código Comercial. O primeiro, apresentado em 2011, na Câmara, pelo Deputado Vicente Fases do direito empresarial Contemporâneo Teoria da empresa Sistema subjet ivo- objet ivo Moderno Teoria dos atos de comércio Sistema objet ivo Primit ivo Corporações de of ício Sistema subjet ivo 5 Cândido, PLC 1572. No Senado há uma proposta, apresentada pelo Senador Renan Calheiros, de 2013, a PLS 487/2013. Além disso, o Centro de Estudos Judiciários (CEJ) do Conselho da Justiça Federal (CJF) realizou a I Jornada de Estudos de Direito Comercial, em 2012. 1.1 Fontes de Direito Empresarial O Direito Empresarial possui fontes próprias, como ramo autônomo. Dessa maneira, sua formação está assentada em diversas legislações. Além dos princípios explícitos e implícitos, e do texto constitucional, há legislação infraconstitucional e extravagante. Além da ordem econômica que é fonte do Direito Empresarial. Difícil é definir quais de legislações são aplicáveis ao Direito Empresarial, tendo em vista a gama de leis que tratam e versam sobre os diversos aspectos desse ramo que tem por principal característica ser fragmentado. Faz-se uma divisão que permite o estudo e garante uma melhor visão: a teoria do direito empresarial, societário, títulos de crédito [cambiário], concursal [recuperação e falência de empresas], propriedade industrial e contratos empresariais. 1.2 Princípios do Direito Empresarial O Direito empresarial possui princípios que expressam os valores que devem ser seguidos na interpretação desse ramo do direito. O primeiro princípio é o da função social da empresa, que visa a proteção da atividade econômica, tão importante ao desenvolvimento econômico, bem como o cuidado para que os Formais Primárias CF CC CCom Leis extravagantes Secundárias Analogia Usos e costumes Princípios gerais de DireitoMateriais Econômica 6 regramentos acerca do direito ambiental, do consumidor e do direito do trabalho também sejam seguidos. O segundo princípio e que guarda relação com o primeiro, é o da preservação da empresa. Em razão desse princípio é que se dá importância à continuidade da atividade de produção de riquezas e circulação de bens ou serviços. O desenvolvimento social passa pela empresa e sua atividade. A livre-iniciativa prevista no artigo 1º, IV, da Constituição Federal, também é princípio de direito empresarial e está atrelado ao princípio da livre- concorrência. Por certo, protegem e orientam uma atividade lícita faticamente e juridicamente, pois os todos os valores devem conviver de modo harmônico. O STF sumulou que: “Ofende o princípio da livre concorrência lei municipal que impede a instalação de estabelecimentos comerciais do mesmo ramo em determinada área” [SÚMULA 646]. A boa-fé objetiva também é princípio do direito empresarial e impõe deveres de atuação e postura proba, leal e colaborativa. 1.3 Da caracterização e da inscrição Do conceito de empresário estabelecido no art. 966 do Código Civil, afirmar-se que se considera empresário quem exerce profissionalmente atividade econômica organizada para a produção ou a circulação de bens ou de serviços, pode-se extrair as seguintes expressões, que indicam os principais elementos indispensáveis à sua caracterização: a) profissionalmente; b) atividade econômica; c) organizada; d) produção ou circulação de bens ou de serviços. Serão empresariais as atividades que tenham as seguintes características: 1) economicidade: criação ou circulação de riquezas e de bens ou serviços patrimonialmente valoráveis; 2) organização: compreende tanto o trabalho, a tecnologia, os insumos e o capital, próprios ou alheios; 3) profissionalidade: refere-se à atividade não ocasional e à assunção em nome próprio dos riscos da empresa. O art. 966 do Código Civil, ao conceituar empresário como aquele que exerce profissionalmente atividade econômica organizada, não está se referindo apenas à pessoa física (ou pessoa natural) que explora atividade econômica, mas também à pessoa jurídica. Portanto, tem-se que o empresário pode ser um empresário individual (pessoa física que exerce profissionalmente atividade econômica organizada) ou uma sociedade empresária (pessoa jurídica constituída sob a forma de sociedade cujo objeto social é a exploração de uma atividade econômica organizada). Com o advento da Lei n. 12.411, de 11de julho de 2011, a classificação para o exercício individual da atividade econômica comporta uma subdivisão: (a) 7 os simplesmente denominados empresários individuais cuja responsabilidade é ilimitada, alcançando todos seus bens pessoais; (b) as empresas individuais de responsabilidade limitada, de responsabilidade restrita ao valor do capital social integralizado. Deve-se lembrar que as sociedades empresárias e as empresas individuais de responsabilidade limitada possuem personalidade jurídica. A afirmação decorre do disposto nos arts. 40-44 do CC que classifica as pessoas jurídicas em pessoas jurídicas de direito público – interno e externo – e pessoas jurídicas de direito privado, estas compreendendo as associações, sociedades, fundações, partidos políticos, organizações religiosas e empresas individuais de responsabilidade limitada (CC, art. 44). Quando se está diante de uma sociedade empresária, é importante atentar para o fato de que os seus sócios não são empresários: o empresário, nesse caso, é a própria sociedade, ente ao qual o ordenamento jurídico confere personalidade e, consequentemente, capacidade para adquirir direitos e contrair obrigações. Assim, pode-se dizer que expressão empresário designa um gênero, do qual são espécies o empresário individual (pessoa física) e a sociedade empresária (pessoa jurídica). É obrigação legal imposta a todo e qualquer empresário (empresário individual ou sociedade empresária) se inscrever na Junta Comercial antes de iniciar a atividade, sob pena de começar a exercer a empresa irregularmente. Trata-se de obrigação legal prevista no art. 967 do Código Civil, o qual dispõe ser “obrigatória a inscrição do empresário no Registro Público de Empresas Mercantis da respectiva sede, antes do início de sua atividade”. Saliente-se, porém, que o registro na Junta Comercial, embora seja uma formalidade legal imposta pela lei a todo e qualquer empresário individual ou sociedade empresária – com exceção daqueles que exercem atividade econômica rural (arts. 971 e 984) – não é requisito para a caracterização do empresário e sua consequente submissão ao regime jurídico empresarial. Para fazer a inscrição no Registro Público de Empresas Mercantis, realizado pela Junta Comercial, o empresário individual terá de obedecer às formalidades legais previstas no art. 968 do Código Civil, ou seja, fazer requerimento que contenha: “I – o seu nome, nacionalidade, domicílio, estado civil e, se casado, o regime de bens; II – a firma, com a respectiva assinatura autógrafa que poderá ser substituída pela assinatura autenticada com certificação digital ou meio equivalente que comprove a sua autenticidade, ressalvado o disposto no inciso I do § 1.º do art. 4.º da Lei Complementar n.º 123, de 14 de dezembro de 2006; III – o capital; IV – o objeto e a sede da empresa”. Tratando-se, por outro lado, de sociedade empresária, deve-se levar a registro o ato constitutivo (contrato social ou estatuto social), que conterá todas as informações necessárias. 8 Os §§ 1.º e 2.º do referido artigo, a seu turno, dispõem: “com as indicações estabelecidas neste artigo, a inscrição será tomada por termo no livro próprio do Registro Público de Empresas Mercantis, e obedecerá a número de ordem contínuo para todos os empresários inscritos”; “à margem da inscrição, e com as mesmas formalidades, serão averbadas quaisquer modificações nela ocorrentes”. O Código Civil ainda determina, em seu art. 969, que “o empresário que instituir sucursal, filial ou agência, em lugar sujeito à jurisdição de outro Registro Público de Empresas Mercantis, neste deverá também inscrevê-la, com a prova da inscrição originária”. E complementa, no parágrafo único do referido artigo: “em qualquer caso, a constituição do estabelecimento secundário deverá ser averbada no Registro Público de Empresas Mercantis da respectiva sede”. • Filial é a sociedade empresária que atua sob a direção e administração de outra, chamada de matriz, mas mantém sua personalidade jurídica e o seu patrimônio, bem como preserva sua autonomia diante da lei e do público. • Agência é a empresa especializada em prestação de serviços que atua especificamente como intermediária. • Sucursal é o ponto de negócio acessório e distinto do ponto principal, responsável por tratar dos negócios deste e a ele subordinado administrativamente. Por fim, não custa repetir e lembrar: (i) a única exceção, como visto, em relação à obrigatoriedade do registro é a referente aos exercentes de atividade econômica rural, os quais possuem a simples faculdade de registrar-se na Junta Comercial, conforme estabelece o art. 971, caso seja empresário individual, e 984, caso seja sociedade, ambos do Código Civil. Importa lembrar que a Lei 8.906/1994 (Estatuto da OAB), em seu art. 1.º, § 2.º, determina que os atos de registro de empresários individuais e de sociedades empresárias devem estar visados por um advogado. 1.4 Da capacidade para ser empresário Para o exercício da atividade empresarial é necessário ser pessoa capaz, no pleno gozo de sua capacidade civil. Porém, duas são as exceções para que incapaz exerça atividade empresarial. A matéria está disciplinada no art. 974 do Código Civil, o qual prevê que “poderá o incapaz, por meio de representante ou devidamente assistido, continuar a empresa antes exercida por ele enquanto capaz, por seus pais ou pelo autor de herança”. Ressalte-se apenas que, de acordo com o art. 976, caput, do Código Civil, “a prova da emancipação e da autorização do incapaz, nos casos do art. 974, e a 9 de eventual revogação desta, serão inscritas ou averbadas no Registro Público de Empresas Mercantis”. O art. 974 do Código Civil se refere ao exercício individual de empresa (pessoa física). Já a possibilidade de o incapaz ser sócio de uma sociedade empresária configura situação totalmente distinta, prevista no § 3º do art. 974 do Código Civil e as exigências são as de que o incapaz não exerça poderes de administração, que o capital esteja totalmente integralizado e que ele seja assistido ou representado, conforme o grau de sua incapacidade. 1.5 Dos impedidos de exercer atividade empresarial São impedidos de exercer a atividade empresarial: a) Falidos, enquanto não tiverem suas obrigações extintas (art. 158 da Lei 11.101/2005); b) Leiloeiros e corretores; c) Servidores públicos no exercício da atividade pública – o impedimento recai sobre a atividade de empresário individual, administrador de sociedade empresária, mas não o impede de ser sócio ou acionista de uma sociedade (art. 117, X, da Lei 8.112/1990). No mesmo sentido, magistrados e membros do Ministério Público (art. 36, I e II, da LC 35/1979 e art. 44, III, da Lei 8.625/1993), bem como os militares na ativa (art. 204 do Código Penal Militar); d) Deputados e Senadores sofrem restrições na atividade empresarial, de tal modo que não podem ser proprietários, controladores ou diretores de empresa que goze de favor decorrente de contrato com pessoa jurídica de direito público, ou nela exercer função remunerada (art. 54, II, a, da CF/1988). No mesmo sentido, tais restrições se aplicam aos vereadores (art. 29, IX, da CF/1988); e) Estrangeiros e sociedades sem sede no Brasil, para algumas atividades, como a empresa jornalística e de radiodifusão (art. 222 da CF/1988) e a exploração e aproveitamento das jazidas e demais recursos minerais, inclusive potenciais de energia hidráulica, que só podem ser exercidas por brasileiros ou pessoas jurídicas brasileiras, mediante autorização ou concessão da União (art. 176 da CF/1988); f) Médico, no exercício simultâneo de farmácia. INCAPAZ – EMPRESÁRIO INDIVIDUAL – art. 974, §§ 1º e 2º I CONTINUIDADE DE EMPRESA II AUTORIZAÇÃO DO JUIZIII SALVAGUARDA DOS BENS DO INCAPAZ INCAPAZ – SOCIEDADE EMPRESÁRIA – art. 974, § 3º I REPRESENTAÇÃO II INTEGRALIZAÇÃO DO CAPITAL III NÃO EXERCÍCIO DA ADMINISTRAÇÃO 10 g) Impedimento de constituição de sociedade empresarial composta por cônjuges casados sob o regime da comunhão universal de bens ou da separação obrigatória. 1.6 Dos tipos individuais empresariais A) EMPRESÁRIO INDIVIDUAL A figura do empresário individual é a pessoa física que exerce profissionalmente atividade econômica organizada para a produção ou a circulação de bens ou de serviços (art. 966 do Código Civil). Em relação ao empresário casado, o art. 978 do Código Civil dispõe que é desnecessária a outorga conjugal, qualquer que seja o regime de bens, para alienação dos imóveis que integrem o patrimônio da empresa ou gravá-los de ônus real”. O art. 979 do Código Civil, por sua vez, determina que, “além de no Registro Civil, serão arquivados e averbados, no Registro Público de Empresas Mercantis, os pactos e declarações antenupciais do empresário, o título de doação, herança, ou legado, de bens clausulados de incomunicabilidade ou inalienabilidade”. Portanto, se estes atos não forem devidamente registrados na Junta Comercial, o empresário não poderá opô-los contra terceiros. O art. 980 do Código Civil determina que: “a sentença que decretar ou homologar a separação judicial do empresário e o ato de reconciliação não podem ser opostos a terceiros, antes de arquivados e averbados no Registro Público de Empresas Mercantis”. B) EXERCENTE DE ATIVIDADE ECONÔMICA RURAL O exercente de atividade econômica rural empresarial não está obrigado ao registro na Junta Comercial. Assim, há uma faculdade de se registrar ou não perante a Junta Comercial da sua unidade federativa. Logo, o registro para o exercente de atividade econômica rural tem natureza constitutiva, e não meramente declaratória, sendo o registro na Junta, pois, condição indispensável para sua caracterização como empresário e consequente submissão ao regime jurídico empresarial. C) MICROEMPRESA E EMPRESA DE PEQUENO PORTE Entende-se como microempresas ou empresas de pequeno porte, o empresário, na forma do art. 966 do Código Civil, a sociedade empresária, a sociedade simples, e a empresa individual de responsabilidade limitada, quando devidamente registrados no Registro de Empresas Mercantis ou no Registro Civil de Pessoas Jurídicas, desde que aufiram receita bruta igual ou inferior a R$ 360.000,00 (trezentos e sessenta mil reais), no caso da microempresa; e receita 11 bruta superior a R$ 360.000,00 (trezentos e sessenta mil reais) e igual ou inferior a R$ 4.800.000,00 (quatro milhões e oitocentos mil reais), em cada ano- calendário, para empresa de pequeno porte, conforme art. 3º, incisos I e II, da LC 123/2006. Não poderá se beneficiar do tratamento diferenciado da LC 123/2006, conforme o art. 3.º, § 4.º, a pessoa jurídica: “I – de cujo capital participe outra pessoa jurídica; II – que seja filial, sucursal, agência ou representação, no País, de pessoa jurídica com sede no exterior; III – de cujo capital participe pessoa física que seja inscrita como empresário ou seja sócia de outra empresa que receba tratamento jurídico diferenciado nos termos desta Lei Complementar, desde que a receita bruta global ultrapasse o limite de que trata o inciso II do caput deste artigo; IV – cujo titular ou sócio participe com mais de 10% (dez por cento) do capital de outra empresa não beneficiada por esta Lei Complementar, desde que a receita bruta global ultrapasse o limite de que trata o inciso II do caput deste artigo; V – cujo sócio ou titular seja administrador ou equiparado de outra pessoa jurídica com fins lucrativos, desde que a receita bruta global ultrapasse o limite de que trata o inciso II do caput deste artigo; VI – constituída sob a forma de cooperativas, salvo as de consumo; VII – que participe do capital de outra pessoa jurídica; VIII – que exerça atividade de banco comercial, de investimentos e de desenvolvimento, de caixa econômica, de sociedade de crédito, financiamento e investimento ou de crédito imobiliário, de corretora ou de distribuidora de títulos, valores mobiliários e câmbio, de empresa de arrendamento mercantil, de seguros privados e de capitalização ou de previdência complementar; IX – resultante ou remanescente de cisão ou qualquer outra forma de desmembramento de pessoa jurídica que tenha ocorrido em um dos 5 (cinco) anos-calendário anteriores; X – constituída sob a forma de sociedade por ações; XI – cujos titulares ou sócios guardem, cumulativamente, com o contratante do serviço, relação de pessoalidade, subordinação e habitualidade”. Da mesma forma, não pode recolher os impostos e contribuições na forma do Simples Nacional a microempresa ou a empresa de pequeno porte: “I – que explore atividade de prestação cumulativa e contínua de serviços de assessoria creditícia, gestão de crédito, seleção e riscos, administração de contas a pagar e a receber, gerenciamento de ativos (asset management), compras de direitos creditórios resultantes de vendas mercantis a prazo ou de prestação de serviços (factoring); II – que tenha sócio domiciliado no exterior; III – de cujo capital participe entidade da administração pública, direta ou indireta, federal, estadual ou municipal; IV – (Revogado); V – que possua débito com o Instituto Nacional do Seguro Social – INSS, ou com as Fazendas Públicas Federal, Estadual ou Municipal, cuja exigibilidade não esteja suspensa; VI – que preste serviço de transporte intermunicipal e interestadual de passageiros, exceto quando na 12 modalidade fluvial ou quando possuir características de transporte urbano ou metropolitano ou realizar-se sob fretamento contínuo em área metropolitana para o transporte de estudantes ou trabalhadores; VII – que seja geradora, transmissora, distribuidora ou comercializadora de energia elétrica; VIII – que exerça atividade de importação ou fabricação de automóveis e motocicletas; IX – que exerça atividade de importação de combustíveis; X – que exerça atividade de produção ou venda no atacado de: a) cigarros, cigarrilhas, charutos, filtros para cigarros, armas de fogo, munições e pólvoras, explosivos e detonantes; b) bebidas a seguir descritas: 1 – alcoólicas; 4 – cervejas sem álcool; XII – que realize cessão ou locação de mão de obra; XIV – que se dedique ao loteamento e à incorporação de imóveis; XV – que realize atividade de locação de imóveis próprios, exceto quando se referir a prestação de serviços tributados pelo ISS; XVI – com ausência de inscrição ou com irregularidade em cadastro fiscal federal, municipal ou estadual, quando exigível” (art. 17 da LC 123/2006). A partir desta definição e respeitadas as exclusões legais, será possível sua opção de recolhimento tributário pelo Simples Nacional (Sistema Integrado de Pagamento de Impostos e Contribuições das Microempresas e Empresas de Pequeno Porte), que permitirá o recolhimento mensal unificado do IR, IPI, CSLL, Cofins, PIS/Pasep, CPP (Contribuição Patronal Previdenciária), ICMS e ISS. Apesar de ser facultativa a opção pelo Simples Nacional, uma vez realizada, será irretratável durante o ano-calendário. O art. 179 da CF/1988 dispõe: “A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios dispensarão às microempresas e às empresas de pequeno porte, assim definidas em lei, tratamento jurídico diferenciado, visando a incentivá-las pela simplificação de suas obrigações administrativas, tributárias, previdenciárias e creditícias, ou pela eliminação ou redução destas por meio de lei”. Os principais benefícios trazidos pela LC 123/2006 são: a) a abertura e o encerramento facilitados da empresa (arts. 8.º, 9.º e 10). A facilitação se observa especialmentequanto à impossibilidade de outros órgãos envolvidos com o registro da atividade determinarem mais documentos do que os pedidos pela Junta Comercial. Além disso, não é necessária a assinatura de advogado no contrato social, além da possibilidade da baixa automática, diante da inatividade por mais de três anos; b) o incentivo à associação, por meio do consórcio simples (art. 56). Com o incentivo à associação, as ME e as EPP têm maior força de contratação, podendo, por exemplo, adquirir bens numa quantidade maior e negociar as condições de pagamento em virtude da quantidade da compra; c) a existência de uma fiscalização orientadora (art. 55). Nesse caso, a ME e a EPP estariam sujeitas a uma dupla visita da fiscalização, ressalvados os casos de falta de registro de empregado, reincidência, fraude, resistência ou embaraço 13 à fiscalização: a primeira com a finalidade de orientar e somente a segunda com o objetivo de lavrar o auto de infração se as recomendações não foram seguidas; d) o pagamento facilitado no protesto de títulos (art. 73). Nesse caso, a ME e a EPP estão liberadas do pagamento de grande parte dos emolumentos, permitindo-se o pagamento no cartório com cheque, sem a exigência de que o cheque seja administrativo ou visado. O tratamento diferenciado e favorecido para as ME e as EPP será realizado pelos seguintes órgãos: a) Comitê Gestor do Simples Nacional, vinculado ao Ministério da Fazenda, composto por quatro representantes da Secretaria da Receita Federal do Brasil, como representantes da União, dois dos Estados e do Distrito Federal e dois dos Municípios, para tratar dos aspectos tributários; b) Fórum Permanente das Microempresas e Empresas de Pequeno Porte, com a participação dos órgãos federais competentes e das entidades vinculadas ao setor, para tratar dos demais aspectos, ressalvado o disposto no inc. III do caput do art. 2.º da LC 123/2006; e c) Comitê para Gestão da Rede Nacional para Simplificação do Registro e da Legalização de Empresas e Negócios – CGSIM, vinculado à Secretaria da Micro e Pequena Empresa da Presidência da República, composto por representantes da União, dos Estados e do Distrito Federal, dos Municípios e demais órgãos de apoio e de registro empresarial, na forma definida pelo Poder Executivo, para tratar do processo de registro e de legalização de empresários e de pessoas jurídicas (inc. III do art. 2.º da LC 123/2006). D) MICROEMPREENDER INDIVIDUAL A doutrina majoritária vinha entendendo que a expressão pequeno empresário, utilizada pelo Código Civil no seu art. 970, era abrangente, englobando tanto os microempresários quanto os empresários de pequeno porte. Nesse sentido, era, inclusive, o Enunciado 235 do CJF: “O pequeno empresário, dispensado da escrituração, é aquele previsto na Lei 9.841/99”. No entanto, a legislação que trata das microempresas e das empresas de pequeno porte no Brasil, esclareceu: “Considera-se pequeno empresário, para efeito de aplicação do disposto nos arts. 970 e 1.179 da Lei 10.406, de 10 de janeiro de 2002, o empresário individual caracterizado como microempresa na forma desta Lei Complementar que aufira receita bruta anual de até R$ 81.000,00 (oitenta e um mil reais)” (art. 68 da LC 123/2006, acima referida). Cabe criticar tal determinação. Afinal, a Constituição Federal, ao determinar que a lei desse tratamento favorecido e simplificado ao microempresário e ao empresário de pequeno porte, o fez em razão das suas obrigações administrativas, tributárias, previdenciárias e creditícias. Não se justifica, pois, a restrição feita pelo legislador ordinário, ao estabelecer, no art. 14 970 do Código Civil, que esse tratamento simplificado fosse observado apenas quanto à inscrição do pequeno empresário e aos efeitos daí decorrentes. O tratamento jurídico diferenciado que o legislador constituinte pretendeu fosse dado aos pequenos empresários (na verdade, repita-se, a CF/1988 se refere ao microempresário e ao empresário de pequeno porte) é deveras abrangente, não sendo razoável que o legislador ordinário o restrinja apenas aos aspectos relacionados à inscrição no registro de empresa. E) EMPRESA INDIVIDUAL DE RESPONSABILIDADE ILIMITADA (EIRELI) A empresa individual de responsabilidade limitada (EIRELI), é considerada pessoa jurídica por força do art. 44, inciso VI, do CC. Sua constituição será feita conforme o capital social, que deve ser igual ou superior a 100 salários-mínimos. O art. 980-A não trata do administrador, portanto, seguindo o parágrafo sexto deste dispositivo, tem-se que plicar a regra da sociedade limitada. Então, conforme art. 1.061 do CC/02, o administrador não precisa ser o próprio instituidor, podendo ser nomeado uma terceira pessoa. A integralização do capital social pode ser feita em bens, dinheiro ou crédito, não sendo admitida a contribuição em serviços (art. 1.055, § 2º aplicável em consonância com o 980-A, § 6). Aplicam-se as regras do artigo 1.005, portanto, se houver integralização com bens, o instituidor ficará responsável pela evicção e por sua correta estimação (art. 1.055, § 1º, CC/02 – só não haverá solidariedade). Em caso de integralização com crédito, o instituidor ficará responsável pelo pagamento, excepcionando a regra do artigo 296 do CC/02, que trata da cessão de crédito. A EIRELI pode ser derivada de uma transformação ou constituída na sua origem desse modo. Questões (Exame XX) Maria, empresária individual, teve sua interdição decretada pelo juiz a pedido de seu pai, José, em razão de causa permanente que a impede de exprimir sua vontade para os atos da vida civil. Sabendo-se que José, servidor público federal na ativa, foi nomeado curador de Maria, assinale a afirmativa correta. a) É possível a concessão de autorização judicial para o prosseguimento da empresa de Maria; porém, diante do impedimento de José para exercer atividade de empresário, este nomeará, com a aprovação do juiz, um ou mais gerentes. b) A interdição de Maria por incapacidade traz como efeito imediato a extinção da empresa, cabendo a José, na condição de pai e curador, promover a liquidação do estabelecimento. 15 c) É possível a concessão de autorização judicial para o prosseguimento da empresa de Maria antes exercida por ela enquanto capaz, devendo seu pai, José, como curador e representante, assumir o exercício da empresa. d) Poderá ser concedida autorização judicial para o prosseguimento da empresa de Maria, porém ficam sujeitos ao resultado da empresa os bens que Maria já possuía ao tempo da interdição, tanto os afetados quanto os estranhos ao acervo daquela. (Exame XX - Reaplicação Salvador) O engenheiro agrônomo Zacarias é proprietário de quatro fazendas onde ele realiza, em nome próprio, a exploração de culturas de soja e milho, bem como criação intensiva de gado. A atividade em todas as fazendas é voltada para exportação, com emprego intenso de tecnologia e insumos de alto custo. Zacarias não está registrado na Junta Comercial. Com base nessas informações, é correto afirmar que a) Zacarias, por exercer empresa em caráter profissional, é considerado empresário independentemente de ter ou não registro na Junta Comercial. b) Zacarias, mesmo que exerça uma empresa, não será considerado empresário pelo fato de não ter realizado seu registro na Junta Comercial. c) Zacarias não pode ser registrado como empresário, porque, sendo engenheiro agrônomo, exerce profissão intelectual de natureza científica, com auxílio de colaboradores. d) Zacarias é um empresário de fato, por não ter realizado seu registro na Junta Comercial antes do início de sua atividade, descumprindo obrigação legal. 1.7 Nome empresarial O direito ao nome empresarial, segundo a doutrina majoritária, é um direito personalíssimo -o lesado pelo seu uso indevido poderá a qualquer tempo propor ação contra Junta Comercial para anular sua inscrição, se feita com violação de lei ou de contrato. Como sinal distintivo que identifica o empresário no exercício de sua atividade, o nome empresarial possui duas funções relevantes, uma de ordem subjetiva – de individualizar e identificar o sujeito de direitos exercente da atividade empresarial – e outra de ordem objetiva – de lhe garantir fama, renome, reputação etc. A marca, conforme se verificará com o estudo da propriedade industrial, é um sinal distintivo que identifica produtos ou serviços do empresário (art. 122 da Lei 9.279/1996). 16 O nome de fantasia, por sua vez, é a expressão que identifica o título do estabelecimento. Grosso modo, está para o nome empresarial assim como o apelido está para o nome civil. O nome de domínio é o endereço eletrônico dos sites dos empresários na internet, hoje muito usados para negociação de produtos e serviços, em razão do desenvolvimento do chamado comércio eletrônico (e-commerce ou e-business). Os sinais de propaganda, por fim, são aqueles que, embora não se destinem a identificar especificamente produtos ou serviços do empresário, exercem uma importante função de mercado: chamar a atenção dos consumidores. É a firma ou denominação social, composição do nome empresarial, que garante a apresentação do empresário e da sociedade empresária no exercício de suas atividades. O empresário deve adotar nome que o distinga de qualquer outro já inscrito no mesmo registro. A firma só pode ter por base o nome civil do empresário ou os dos sócios, que constitui também sua assinatura, por exemplo, Grace Kellen Freitas; G. K. Freitas; G. Kellen Jóias. Já na denominação, poder-se-á usar nome civil ou um “elemento fantasia”, mas a assinatura, neste último caso, será sempre com o nome civil, lançado sobre o nome empresarial impresso carimbado. De acordo com o princípio da veracidade, o nome empresarial não poderá conter nenhuma informação falsa. Sendo a expressão que identifica o empresário em suas relações como tal, é imprescindível que o nome empresarial só forneça dados verdadeiros àquele que negocia com o empresário. Por princípio da novidade, por sua vez, se entende a proibição de se registrar um nome empresarial igual ou muito parecido com outro já registrado. Com efeito, segundo o disposto no art. 1.163 do Código Civil, “o nome de empresário deve distinguir-se de qualquer outro já inscrito no mesmo registro”. O parágrafo único desse dispositivo prevê que “se o empresário tiver nome idêntico ao de outros já inscritos, deverá acrescentar designação que o distinga”. O nome empresarial não poderá ser objeto de alienação. Só poderá ocorrer se houver permissão contratual, utilizando o do alienante, precedido do seu próprio na qualidade de sucessor. Se houver óbito, exclusão ou retirada de sócio cujo nome civil constava da firma social, esta precisará ser alterada. 1.8 Estabelecimento Complexo de bens organizado, tangíveis ou intangíveis, para o exercício da empresa, por empresário, ou por sociedade empresária. 17 Salvo disposição em contrário, a transferência importa a sub-rogação do adquirente nos contratos estipulados para exploração do estabelecimento, se não tiverem caráter pessoal, podendo os terceiros rescindir o contrato em noventa dias a contar da publicação da transferência, se ocorrer justa causa, ressalvada, neste caso, a responsabilidade do alienante Para tratar da locação empresarial como fator de proteção do ponto de negócio, necessário determinar o “ponto de negócio” como bem incorpóreo, elemento do estabelecimento empresarial. A proteção ao ponto empresarial tem relevância quando o empresário exerce suas atividades em imóvel locado. Nesse caso, a locação será regulada pelos artigos 51 e seguintes da Lei nº 8.245/1991. O locatário deve ser empresário ou intelectual. O artigo 55 da Lei nº 8.245/1991 dispõe que: “Considera-se locação não residencial, quando o locatário for pessoa jurídica e o imóvel destinado ao uso de seus titulares, diretores, sócios, gerentes, executivos ou empregados”. 1. O contrato de locação deve ser determinado e de no mínimo cinco anos, admitida a soma dos prazos de contratos escritos, sucessivamente renovados. Soma essa, inclusive, que pode ser feita pelo sucessor ou cessionário do locatário; 2. O locatário deve explorar o mesmo ramo de atividade econômica pelo prazo mínimo e ininterrupto de três anos na data da propositura da ação renovatória. Conclui-se, portanto, que, se o locatário empresário exerce a mesma atividade econômica pelo prazo mínimo de três anos, em imóvel locado por prazo determinado e não inferior a cinco anos, terá direito à renovação compulsória do contrato de locação. O exercício desse direito de renovação compulsória se materializará por meio de uma ação de rito especial chamada ação renovatória, como determina o § 5º do artigo 51 da Lei nº 8.245/1991. A própria lei apresenta, em rol exemplificativo, situações em que o direito à renovação compulsória será ineficaz, pela proteção dada ao direito de propriedade: 1. Ter o locador melhor proposta de terceiro (artigo 72, III, da Lei nº 8.245/1991). Ainda que o locatário, no momento da propositura da ação renovatória, apresente valor locativo compatível com o valor de mercado, se o locador tiver proposta de terceiro que seja mais vantajosa, não deverá obrigatoriamente renovar a locação, pois isso seria uma limitação ao seu direito de propriedade. Nesse caso, o locatário terá direito à indenização pela perda do ponto (artigo 52, § 3º, da Lei nº 8.245/1991). Por outro lado, se o locatário concordar em pagar o valor oferecido pelo terceiro, o contrato deverá ser renovado. 18 2. Reforma no prédio locado realizada pelo locador (artigo 52, I, da Lei nº 8.245/1991). Essa hipótese abrange duas situações: obras executadas em razão de determinação do Poder Público e obras executadas por iniciativa do proprietário locador a fim de valorizar seu patrimônio. Nas duas situações descritas, não será concedida a renovação compulsória do contrato de locação. Se a obra, nos dois casos, não começar no prazo de três meses a contar da desocupação do imóvel pelo locatário, caberá a este indenização pelos prejuízos sofridos e lucros cessantes. 3. Retomada do imóvel para uso próprio do locador (artigo 52, II, da Lei nº 8.245/1991). O locador poderá retomar o imóvel objeto da locação, seja para nele exercer atividade econômica ou não. O artigo 52, § 1º, restringe a possibilidade de retomada do imóvel para uso próprio, quando locador pretende exercer atividade no mesmo ramo do locatário. Nas duas situações descritas, não será concedida a renovação compulsória do contrato de locação. Súmula nº 409, STF. 4. Transferência do estabelecimento empresarial. Desde que existente há mais de um ano e de titularidade logicamente do próprio locador, de ascendente, descendente, cônjuge, ou de sociedade por ele controlada (artigo 52, II, da Lei nº 8.245/1991). Nesses casos, há presunção de sinceridade do retomante, porém, essa presunção é relativa, podendo ser impugnada pelo locatário. PONTO 2 - TÍTULOS DE CRÉDITO Os estudos acerca dos títulos de crédito serão concentrados em relação à letra de câmbio, nota promissória, cheque e duplicata. O título de crédito é um documento formal, com força executiva, representativo de dívida líquida e certa, de circulação desvinculada do negócio que o originou. O Código Civil prevê que se trata de “um documento necessário ao exercício do direito literal e autônomo nele contido”. 19 As suas principais características são: • Cartularidade: não pode ser verbal; não há o que secobrar, em sede de Direito Empresarial, sem o documento, sem o título propriamente dito. O fenômeno da cartularidade decorre da literalidade e da autonomia. É em razão de ser o Direito mencionado no título literal e autônomo que a apresentação da cártula se torna necessária para o exercício desse Direito. • Literalidade: vale somente aquilo que efetivamente está escrito no título, nada mais, nada menos. • Autonomia: Divide-se em dois subprincípios: 1) Abstração: a obrigação consubstanciada em título se desvincula do negócio que lhe deu origem; 2) Não oposição das exceções a terceiros de boa-fé: A invalidade de uma relação não prejudica as demais. Um ótimo exemplo é daquele que dá aval a um menor que endossa o título em favor de um terceiro de boa-fé. Fica claro que civilmente o terceiro de boa-fé não poderá cobrar o menor, porém o avalista não poderá opor exceção (defesa) no sentido de argumentar por não cumprir a obrigação já que avalizou um menor. Nessa lógica, temos a proibição de o avalista opor defesa ao terceiro de boa-fé; logo, o avalista terá de cumprir a obrigação. NOÇÕES DE TÍTULOS DE CRÉDITOS CIRCULAM LIVREMENTE CRÉDITO É TRANSFORM ADO EM DINHEIRO INCORPORA M DIREITOS DOS CREDORES PODER DE CRÉDITO INCORPORA M O CRÉDITO AUMENTAM AS TRANSAÇÕES COMERCIAIS INSTRUMENT OS DE CIRCULAÇÇà O DE RIQUEZES AFASTAM VÍNCULOS ENTRE CREDOR E DEVEDOR 20 1 Classificações dos títulos de crédito O título poderá ser livre, não existindo um padrão definido para sua confecção, como é o caso da letra de câmbio e da nota promissória, ou vinculado, como é o caso do cheque e da duplicata, que estão vinculados a um padrão específico. O título também poderá ser promessa ou ordem de pagamento. No caso de promessa de pagamento, tal relação cria duas situações: a de quem paga – emitente ou sacador – e a de quem recebe – beneficiário ou tomador. Podemos dar como exemplo de promessa de pagamento a nota promissória. A ordem de pagamento criar três situações jurídicas: a do secador, que emite a ordem para que alguém pague; a do sacado, que recebe a ordem; e a do tomador, que se beneficia da ordem. Como exemplo, temos o cheque e a duplicata. Finalmente, os títulos podem ser nominativos: se o nome da pessoa, natural ou jurídica, com direito à prestação, encontra-se anotado no próprio título ou nos registros especiais do instituto emissor, sendo transferíveis mediante ato formal; ou à ordem: se emitidos em benefício da pessoa indicada ou daquela a que esta determinar (ordenar) e transferíveis por meio do endosso neles lançado. Ao portador: se emitidos genericamente em favor do possuidor e transferíveis por simples tradição. Mistos: títulos nominativos munidos de cupões ao portador. O surgimento de um título ocorre pelo saque e possui uma ordem estabelecida para sua realização. PRINCÍPIOS LITERALIDADE SERÁ VÁLIDO O QUE ESTIVER CONTIDO NO TÍTULO CARTULARIDADE APRESENTAR A CÁRTULA AUTONOMIA DAS OBRIGAÇÕES INOPONIBILIDADE E ABSTRAÇÃO 21 2 Títulos de créditos em espécie 2.1 Letras de câmbio A letra de câmbio é um título de crédito abstrato, que corresponde a um documento formal, decorrente da relação de crédito entre duas ou mais pessoas. Por essa relação de crédito, o sacador dá ordem de pagamento pura e simples, à vista ou a prazo, ao sacado, a seu favor ou de terceira pessoa (tomador ou beneficiário), no valor e nas condições nela constantes. As legislações aplicadas à letra de câmbio são: a CONVENÇÃO DE GENEBRA – Lei uniforme sobre letras de câmbio e nota promissória trazida ao nosso país por intermédio do Decreto nº 57.663/1966 (Lei Uniforme – LU) e a Lei Saraiva, de 1098 (Lei 2044). A letra de câmbio é uma ordem de pagamento. Portanto, seu saque ou emissão geram três relações jurídicas. O sacador emite a ordem para que o sacado pague e o tomador se beneficie. O saque autoriza o tomador a procurar o sacado para, ocorridas determinadas condições, receber a quantia referida no título, e vincula o sacador ao pagamento da letra de câmbio. Caso o sacado não pague ao tomador o valor mencionado na letra de câmbio, poderá este cobrar o valor do sacador, na medida em que o sacador, ao praticar o saque, tornou-se codevedor do título. São requisitos da letra de câmbio: a) a expressão letra de câmbio; b) a ordem de pagar a quantia; c) o nome do sacado; d) o lugar do pagamento; e) o nome do tornador; f) o local e a data do saque; g) a assinatura do sacador. Caso o sacador não assine, deverá ser representado por procurador, nomeado por instrumento público e com poderes especiais. SAQUE EMISSÃO DO TÍTULO FEITO PELO SACADOR SACADO (QUEM DEVE PAGAR) PODE SER O SACADOR BENEFICIÁRIO OU TOMADOR (QUEM RECEBE) PODE SER O SACADOR 22 Registre-se que os requisitos constantes da letra de câmbio e de outros títulos de crédito não precisam estar completos (preenchidos no instrumento) no momento do saque, conforme o art. 3º do Decreto nº 2.044/1908. 2.1.1 Aceite O sacado apenas obriga-se ao pagamento da letra de câmbio, vinculando- se à obrigação expressa no título, quando expressamente, por meio do ACEITE, concorda com essa obrigação. O aceite é representado pela assinatura do sacado no anverso ou no verso do título, acompanhado do termo aceito. Aceite limitativo: é aquele em que o sacado aceita pagar apenas uma parte do valor do título. Cláusula não aceitável: é a que traz a proibição do aceite. Somente será apresentada ao sacado para pagamento, o que evitará sua não aceitação. Questão (Exame Unificado VI) 50 Com relação ao instituto do aceite de títulos de crédito, assinale a alternativa correta. (A) A duplicata pode não ser aceita, sem qualquer fundamentação pelo sacado; neste caso, ele não será responsável pelo pagamento do título. (B) Para a cobrança de uma duplicata não aceita, é necessária apenas a realização de seu protesto. (C) O aceite de cheque é condição essencial para que o beneficiário possa executar o sacado. (D) O aceite de uma letra de câmbio torna o sacado devedor direto do título. 2.1.2 Endosso No que se referem ao ato jurídico que opera a transferência da titularidade, os títulos de crédito são obrigatoriamente nominativos e poderão ser “à ordem” ou “não à ordem”. Os títulos “à ordem” são aqueles cuja circulação ocorre mediante endosso; os “não à ordem” circulam mediante cessão civil de crédito. Endosso é o ato cambiário que opera a transferência do crédito representado por um título “à ordem”. A cláusula “à ordem” é tácita. Dessa forma, para que um título de crédito seja considerado “à ordem” e, portanto, transferível por endosso, basta que contenha uma cláusula “não à ordem”. O primeiro endosso deverá ser efetuado pelo tomador, que é o primeiro credor do título. O segundo endossador ou endossante é o endossatário do tomador, e assim sucessivamente. 23 Cada endossante, ao endossar o título de crédito a um endossatário, deixa de ser credor do valor nele mencionado, passando a figurar como codevedor, juntamente com os demais endossadores e o sacado. Endosso em preto é aquele que identifica o endossatário; e endosso em branco é aquele que não identifica o endossatário. Outra modalidade de endosso é o chamado endosso mandato, em que o credor pode constituir um representante para o exercício dos direitos mencionados na cártula, logicamente, à vista do título. Finalmente, tem-se o endosso caução, que é o ato cambiário por meio do qual o credor onera o título, considerado bem móvel, a título de penhor. 2.1.3 Aval O aval é o ato cambiário pelo qual uma pessoa, denominada avalista, garante opagamento de um título em favor do devedor principal ou de um coobrigado. O devedor, em favor de quem o aval foi prestado, é chamado de avalizado. O aval resulta da assinatura do avalista no anverso do título, geralmente acompanhada da expressão por aval. O vencimento faz que surja a obrigação para o devedor de pagar o valor mencionado no título de crédito. Avais em branco e superpostos consideram-se simultâneos e não sucessivos. Questão (Exame 2010.03) Em relação aos Títulos de Crédito, é correto afirmar que, quando (A) presente na letra de câmbio, a cláusula “não à ordem” impede a circulação do crédito. (B) insuficientes os fundos disponíveis, o portador de um cheque pode requerer a responsabilidade cambiária do banco sacado pelo seu não pagamento. (C) firmado em branco, o aval na nota promissória é entendido como dado em favor do sacador. (D) não aceita a duplicata, o protesto do título é a providência suficiente para o ajuizamento da ação de execução contra o sacado. 2.1.4 Vencimento O vencimento poderá ser à vista, a certo termo da data, a certo termo da vista ou a dia certo. A certo termo da vista: verifica-se o vencimento após o transcurso de um lapso temporal iniciado na data do aceite. 24 A certo termo da data: tem-se o vencimento após o transcurso de um lapso temporal iniciado na data do saque. À data certa: tem-se por vencido o título em dia predeterminado pelas partes. As regras de contagem do prazo de vencimento no Direito cambiário estão dispostas no art. 36 da LU. Ressalte-se que, para efeito de contagem de prazo, dia útil é aquele em que há expediente bancário. As obrigações de pagar, em geral, poderão ser quesíveis (QUÉRABLE) ou portáveis (PORTABLE). São quesíveis quando cabe ao credor a iniciativa de procurar o devedor para a satisfação de seu crédito. São portáveis quando cabe ao devedor a iniciativa de procurar o credor para o pagamento de seu débito. 2.1.5 Protesto O protesto é um ato notarial que visa documentar, no próprio título, a ocorrência de um fato que tem relevância para as relações cambiais. A letra de câmbio comporta três tipos de protesto: o protesto por falta de aceite; por falta de data de aceite; e por falta de pagamento. O protesto por falta de aceite é extraído contra o sacador, não podendo ser extraído contra o sacado, que não aceitou o título, na medida em que, não aceitando o título, não está vinculado à obrigação cambial. Uma vez efetuado o protesto por falta de aceite, intimar-se-á o sacado para que compareça e aceite o título. Se não o fizer, o protestado é o sacador. Já no que se refere ao protesto por falta de data de aceite e ao protesto por falta de pagamento, o protestado é o sacado. Se protesto por falta de pagamento, a letra de câmbio deverá ser apresentada nos dois dias seguintes àquele em que o título for pagável, ou seja, na data de seu vencimento. Se cair em dia não útil, o vencimento se dará no primeiro dia útil seguinte. A inobservância desse prazo gera a perda do direito de crédito perante os coobrigados: sacador, endossantes e avalistas, nos termos do art. 53 da LU. Observa-se que a falta de protesto não prejudica o direito de crédito contra o aceitante sacado e respectivo avalista. O protesto por falta de pagamento é necessário para cobrar os codevedores e respectivos avalistas, mas é facultativo para a cobrança do devedor principal e respectivo avalista. Com a inclusão da cláusula “sem despesas” o protesto necessário fica dispensado. O credor fica dispensado do protesto para a constituição de seu direito de crédito contra qualquer devedor do título. 2.1.6 Prescrição O prazo prescricional está fixado no art. 70 da LU. 25 • 3 anos: A contar da data do vencimento do título para o exercício do direito de crédito contra o devedor principal e seu avalista; • 1 ano: a contar da data do protesto do título – para o exercício do direito de crédito contra os coobrigados (sacador, endossantes e respectivos avalistas); • 6 meses: a contar do pagamento – para o exercício do direito de regresso por qualquer um dos coobrigados. 2.2 Nota promissória É a promessa de pagamento que uma pessoa faz a outra. Vimos que, quando do saque das letras de câmbio, surgem três situações jurídicas distintas: sacador, sacado e tomador. Tratando-se de notas promissórias, surgem duas situações jurídicas distintas: aquele que promete pagar determinada quantia e o beneficiário dessa promessa. A pessoa que promete pagar denomina-se sacador, promitente ou emitente. A pessoa em favor de quem é feita a promessa denomina-se sacado ou beneficiário. Os requisitos essenciais das notas promissórias são: a) denominação NOTA PROMISSÓRIA expressa no idioma empregado no título; b) promessa pura e simples de pagar quantia determinada; c) pessoa a quem deve ser paga; d) data de emissão; e) assinatura do emitente. A época e lugar do pagamento não são requisitos essenciais da letra de câmbio. A nota promissória está, basicamente, sujeita às mesmas regras da letra de câmbio, desde que sejam compatíveis com a natureza de promessa de pagamento. Questão (Exame 2010.03) Em relação aos Títulos de Crédito, é correto afirmar que, quando (A) presente na letra de câmbio, a cláusula “não à ordem” impede a circulação do crédito. (B) insuficientes os fundos disponíveis, o portador de um cheque pode requerer a responsabilidade cambiária do banco sacado pelo seu não pagamento. (C) firmado em branco, o aval na nota promissória é entendido como dado em favor do sacador. 26 (D) não aceita a duplicata, o protesto do título é a providência suficiente para o ajuizamento da ação de execução contra o sacado. (Exame unificado IV) Em relação ao Direito Cambiário, é correto afirmar que (A) o aceite no cheque é dado pelo banco ou instituição financeira a ele equivalente, devendo ser firmado no verso do título. (B) a duplicata, quando de prestação de serviços, pode ser emitida com vencimento a tempo certo da vista. (C) o protesto é necessário para garantir o direito de regresso contra o(s) endossante(s) e o(s) avalista(s) do aceitante de uma letra de câmbio. (D) o aval dado em uma nota promissória pode ser parcial, ainda que sucessivo. 2.3 Cheque É uma ordem de pagamento à vista, emitida contra um banco e com base em suficiente provisão de fundos ou oriundos de abertura de crédito. O sacador é o emitente do cheque, e o sacado é o banco. Beneficiário é aquele em favor do qual determinada quantia é paga. É elemento essencial do cheque ser um título à vista. No Brasil, o cheque é necessariamente nominativo. Observa-se, entretanto, que o Plano Collor (Lei nº 8.021/1990) estabeleceu que o cheque poderá ser ao portador até determinada quantia. O prazo de apresentação do cheque será de: a) 30 dias, tratando-se de cheque da mesma praça; b) 60 dias, tratando-se de cheques de praças diferentes. O termo inicial para a contagem do prazo de prescrição do cheque é a expiração do prazo de apresentação citado anteriormente, que será de 6 meses. Após o transcurso do prazo prescricional, o cheque não será mais considerado título executivo; porém, como título monitório, poderá consubstanciar prova escrita para o ajuizamento da ação monitória. 2.3.1 Cheque cruzado Caracteriza-se pela aposição de dois traços paralelos no anverso do título. O cheque cruzado pode ser: a) geral, ou em branco (não há indicação do banco entre as linhas paralelas); e b) especial, ou em preto (há indicação do banco entre as linhas paralelas). A diferença entre o cheque com cruzamento em branco (ou geral) e um cheque com cruzamento em preto (ou especial) está no fato de que o cheque com cruzamentoem branco ou geral deve ser pago por meio de crédito em conta 27 de um banco qualquer; já o cheque com cruzamento em preto, ou especial, somente deve ser pago a um banco expressamente mencionado no título. Caso esse banco seja o próprio banco sacado, apenas poderá ser pago a um de seus clientes, mediante depósito em conta. 2.3.2 Cheque para ser levado em conta A Lei nº 7.357/1985, em seu art. 46, o define como o cheque que não pode ser pago em dinheiro. Tal proibição se dá mediante inscrição transversal, no anverso do título, da cláusula "para ser creditado em conta". 2.3.3 Cheque visado É aquele em que o banco atesta a existência de fundos durante o prazo de apresentação, conforme o art. 7º da Lei nº 7.357/1985. 2.3.4 Cheque administrativo O cheque administrativo é emitido pelo próprio banco sacado. O banco, dessa forma, ocupa simultaneamente a posição de emitente e sacado. Ex.: traveller check. 2.3.5 Protesto e ação cambial A cobrança de um cheque sem fundos, pela lei, pressupõe o protesto do cheque dentro do prazo de apresentação, sob pena de o credor perder seu direito de crédito contra os endossantes e os avalistas. Observa-se que, para fins cambiários, o protesto do cheque pode ser substituído pela declaração de inexistência de fundos feita pelo banco sacado ou pela câmara de compensação. O prazo para execução do cheque é de 6 (seis) meses contados a partir da expiração do prazo para sua apresentação (art. 59 da Lei nº 7.357/1985). Uma vez prescrita a execução, cabe, no prazo de até 2 (dois) anos seguintes ao término do prazo prescricional, ação de enriquecimento ilícito. Para todos os efeitos, emissão de cheque sem fundos é crime previsto no art. 171, § 2º, VI do Código Penal. Não é considerado crime a emissão de cheque pós-datado sem fundos. Para que se caracterize o crime é necessário que tenha havido dolo. No que se refere à conta conjunta, a responsabilidade dos titulares da conta não é solidária quanto à emissão do cheque. É solidária apenas no que se refere ao contrato de abertura de crédito com o banco. Questão (Exame unificado VIII) Com relação ao instituto do cheque, assinale a afirmativa correta. 28 A) O cheque pode ser sacado contra pessoa jurídica, instituições financeiras e instituições equiparadas. B) O portador não pode recusar o pagamento parcial do cheque. C) O cheque pode consubstanciar ordem de pagamento à vista ou a prazo. D) A ação de execução do cheque contra o sacador prescreve em 1 (um) ano contado do prazo final para sua apresentação. Exame unificado IX - Prova 1 (Reaplicação – Ipatinga/MG) Questão 49 A sociedade empresária Congelados da Vovó Ltda., com sede na cidade de Montanha, realizou o pagamento a um fornecedor por meio de cheque administrativo. Sobre esta espécie de cheque, assinale a afirmativa correta. A) É aquele sacado para ser creditado em conta, podendo ser emitido ao portador até o valor de R$ 100,00 (cem reais). B) É aquele que contém visto em seu verso, atestando a existência de fundos durante o prazo de apresentação. C) É aquele sacado contra o próprio banco sacador, sendo necessariamente nominal qualquer que seja seu valor. D) É aquele sacado em favor de órgão ou entidade da administração pública para pagamento de taxa ou emolumento. 2.4 Duplicata A Lei nº 5.474/1968, em seu art. 1º, estabelece que todo empresário que realiza uma venda, com prazo não inferior a 30 (trinta) dias, deverá extrair uma FATURA e apresentá-la ao devedor. A fatura é um documento emitido pelo vendedor relacionando as mercadorias vendidas, discriminando-as, indicando sua quantidade e o respectivo valor. A fatura é um documento que tem o condão de facilitar a atividade do Fisco, aumentando seu poder de controle sobre as atividades mercantis. Para isso, foi criada a chamada nota fiscal-fatura. Por um único documento, o empresário cumpre duas obrigações: uma de caráter empresarial – emissão da fatura; e a outra de caráter fiscal – emissão de nota fiscal. O art. 1º da Lei nº 5.474/1968 prevê que no ato da emissão da fatura o empresário poderá emitir um título de crédito denominado DUPLICATA. A duplicata pode ser então pode então ser definida como uma ordem de pagamento emitida pelo empresário com o escopo de documentário crédito oriundo de uma operação de compra e venda Mercantil. Os requisitos da duplicata são encontrados no art. 2º, § 1º, da Lei nº 5.474/1968. 29 A duplicata é um título de crédito de aceite obrigatório, o que significa dizer que o comprador da mercadoria – sacado – não poderá deixar de aceitar o título. A recusa do aceite apenas poderá ocorrer em situações expressamente previstas em lei, especificamente no art. 8º da Lei nº 5.474/1968. O protesto deverá ser efetuado nos 30 (trinta) dias seguintes ao vencimento da duplicata, sob pena de o credor perder seu direito de crédito contra os endossantes e seus avalistas, mantendo-se, porém, em relação ao sacado e seu avalista. O documento para a propositura de ação de execução depende do tipo de aceite da duplicata: a) se for aceite ordinário, o protesto é uma necessidade; b) se for aceite por duplicata, deve ser apresentada a duplicata ou triplicata (protestada), acompanhada do comprovante de entrega de mercadorias. O protesto por falta de devolução representa uma exceção ao princípio da cartularidade. O credor, que não está na posse do título, protesta-o por indicação. Essa indicação da emissão de duplicata é extraída do Livro de Registro de Duplicatas. A ação de execução contra o sacado e seu avalista prescreve em 3 (três) anos, a contar do vencimento do título; contra os coobrigados (endossantes e seus avalistas), prescreve em 1 (um) ano, a contar da data do protesto do título. Por ser um título casual, a duplicata mercantil não pode ser emitida e protestada sem que tenha havido a efetiva prestação de serviços. A ação para cobrança da duplicata sem aceite deve estar acompanhada de comprovante de entrega de mercadorias. O foro competente para a propositura da execução do título extrajudicial é, em princípio, o do lugar do pagamento. A ação de anulação de cambial tanto pode ser movida nas hipóteses de extravio ou destruição parcial ou total como nas hipóteses de furto, roubo ou apropriação indébita do título. A doutrina e jurisprudência têm entendido, acertadamente, que a ação também pode ser ajuizada pelo credor pignoratício ou pelo endossatário- mandatário, pois ambos podem exercer os direitos emergentes da cambial. Ação de anulação e substituição de títulos ao portador tem inequívoca semelhança com ação de anulação de cambial; contudo, não se aplica às cambiais. O portador do título que pagou o valor previsto na cambial pode propor ação de regresso contra os coobrigados anteriores. 30 Questão Exame unificado IX Com relação aos títulos de crédito, assinale a afirmativa correta. A) No endosso de letra de câmbio após o protesto por falta de pagamento, o portador tem ação cambiária contra o seu endossante. B) A cláusula não à ordem inserida no cheque impede sua circulação tanto por endosso quanto por cessão de crédito. C) O endosso de cheque poderá ser realizado pelo sacado ou por mandatário deste com poderes especiais. D) A duplicata pode ser apresentada para aceite do sacado pelo próprio sacador ou por instituição financeira. PONTO 3 - SOCIETÁRIO Sucintamente, pode-se dizer que o direito societário compreende o estudo das sociedades. E as sociedades, por sua vez, são pessoas jurídicas de direito privado, decorrentes da união de pessoas, que possuem fins econômicos, ou seja, são constituídas com a finalidade de exploração de uma atividade econômica e repartiçãodos lucros entre seus membros. São justamente a finalidade econômica e o intuito lucrativo as características que diferenciam as sociedades das associações. Com efeito, ambas são pessoas jurídicas de direito privado decorrentes da união de pessoas, mas o traço diferencial entre elas é o fato de que a sociedade exerce atividade econômica e visa à partilha de lucros entre seus sócios (art. 981 do Código Civil), enquanto a associação não possui fins econômicos e, consequentemente, não distribui lucros entre seus associados (art. 53 do Código Civil). Segundo o art. 983 do Código Civil, “a sociedade empresária deve constituir-se segundo um dos tipos regulados nos arts. 1.039 a 1.092; a sociedade simples pode constituir-se de conformidade com um desses tipos, e, não o fazendo, subordina-se às normas que lhe são próprias”. Assim, uma sociedade empresária pode organizar-se das seguintes formas: a) sociedade em nome coletivo (arts. 1.039 a 1.044); b) sociedade em comandita simples (arts. 1.045 a 1.051); c) sociedade limitada (arts. 1.052 a 1.087); d) sociedade anônima (arts. 1.088 a 1.089 c/c a Lei 6.404/1976); e) sociedade em comandita por ações (arts. 1.090 a 1.092). A sociedade simples, por sua vez, não ganhou a previsão de tipos societários específicos, mas pode, segundo a dicção do art. 983, organizar-se sob a forma de um dos tipos de sociedade empresária, com exceção das sociedades por ações, em razão da regra do art. 982, parágrafo único, do Código Civil. Assim, uma sociedade simples pode organizar-se das seguintes formas: a) sociedade simples pura ou simples simples (arts. 997 a 1.038); b) sociedade em 31 nome coletivo (arts. 1.039 a 1.044); c) sociedade em comandita simples (arts. 1.045 a 1.051); d) sociedade limitada (arts. 1.052 a 1.087). É preciso destacar ainda a sociedade cooperativa, que é considerada sempre uma sociedade simples, independentemente do seu objeto social (art. 982, parágrafo único, do Código Civil). Assim como nem todas as pessoas físicas que exploram atividade econômica são qualificadas como empresários individuais (cite-se, por exemplo, o profissional intelectual – art. 966, parágrafo único, do Código Civil), não são todas as sociedades que podem ser qualificadas como sociedades empresárias. Assim, as sociedades podem ser de duas categorias: a) sociedades simples, que são aquelas que exploram atividade econômica não empresarial, como as sociedades uniprofissionais; b) sociedades empresárias, que exploram atividade empresarial, ou seja, exercem profissionalmente atividade econômica organizada para a produção ou a circulação de bens ou de serviços (art. 966 do Código Civil). Interessa ao direito empresarial, especificamente, o estudo da sociedade empresária. O Código Civil estabelece, em seu art. 982, que “salvo as exceções expressas, considera-se empresária a sociedade que tem por objeto o exercício de atividade própria de empresário sujeito a registro (art. 967); e, simples, as demais”. Isso mostra que, em regra, o que define uma sociedade como empresária ou simples é o seu objeto social: se este for explorado com empresarialidade (profissionalismo e organização dos fatores de produção), a sociedade será empresária; ausente a empresarialidade, ter-se-á uma sociedade simples. Há apenas duas exceções a essa regra, previstas no parágrafo único do art. 982, o qual prevê que “independentemente de seu objeto, considera-se empresária a sociedade por ações; e, simples, a cooperativa”. Assim, a sociedade por ações (por exemplo, uma sociedade anônima) é sempre uma sociedade empresária, ainda que não tenha por objeto o exercício de empresa; e a sociedade cooperativa é sempre uma sociedade simples, ainda que tenha por objeto o exercício de empresa. Repetindo o que já se disse anteriormente, a síntese conclusiva é a seguinte: é o requisito da organização dos fatores de produção que caracteriza a presença do chamado elemento de empresa no exercício de profissão intelectual e que, consequentemente, faz com que o profissional intelectual receba a qualificação jurídica de empresário. Isso, obviamente, vale tanto para o exercício de profissão intelectual individualmente quanto para o exercício de profissão intelectual em sociedade. Portanto, a grande diferença entre as sociedades simples e as sociedades empresárias não está no fato de estas possuírem finalidade lucrativa, porque aquelas também podem ostentar essa característica. O traço distintivo entre ambas é mesmo o objeto social: a sociedade empresária tem por objeto o 32 exercício de empresa (atividade econômica organizada de prestação ou circulação de bens ou serviços); a sociedade simples tem por objeto o exercício de atividade econômica não empresarial. 3.1 Sociedade não personificadas 3.1.1 Sociedade em comum Segundo o art. 986 do Código Civil, trata-se da sociedade que ainda não inscreveu seus atos constitutivos no órgão de registro competente: Junta Comercial, em se tratando de sociedade empresária, e Cartório de Registro Civil de Pessoas Jurídicas, em se tratando de sociedade simples. Eis o teor da norma em comento: “enquanto não inscritos os atos constitutivos, reger-se-á a sociedade, exceto por ações em organização, pelo disposto neste Capítulo, observadas, subsidiariamente e no que com ele forem compatíveis, as normas da sociedade simples”. Interpretando cuidadosamente o art. 986 do Código Civil, apontam esses autores que ao usar a expressão “enquanto não inscritos os atos constitutivos” o legislador quis disciplinar, na verdade, as sociedades contratuais em formação, e não exatamente as antigas sociedades de fato e irregulares. Dizemos especificamente que a norma se refere apenas às sociedades contratuais porque o próprio art. 986 deixa claro que estão excluídas do seu âmbito de incidência normativa as sociedades por ações em organização, já que a legislação acionária específica (Lei 6.404/1976 – LSA) já cuida detalhadamente das sociedades por ações no seu período de formação. Realmente, interpretando com cuidado a regra do art. 986 do Código Civil, não há como negar que a sociedade em comum não corresponde às sociedades de fato ou irregulares, como preconiza boa parte da doutrina. As regras da sociedade em comum, na verdade, aplicam-se às sociedades contratuais que estão se constituindo, ou seja, aplicam-se às suas relações entre o momento real da constituição até o respectivo registro do contrato social. Isso ocorre porque nenhuma sociedade é constituída da noite para o dia. Ao contrário, no Brasil, o Sociedades Conceito: Celebram contrato de sociedade as pessoas que reciprocamente se obrigam a contribuir, com bens ou serviços, para o exercício de at ividade econômica e a part ilha, entre si, dos resultados. Natureza jurídica: contrato plurilateral (escopo comum e pluralidade de partes Elementos: pluralidade de sócios (REGRA), af fect io societat is, contribuição para o capital social e part ilha de resultados 33 trâmite para constituição de uma sociedade é bastante lento, se comparado a outros países. Desde o momento em que os sócios decidem constituir a sociedade até o momento em que o registro é deferido pelo órgão competente (Junta ou Cartório, conforme o caso), a sociedade já existe, embora ainda não tenha personalidade jurídica, e já pratica alguns atos (por exemplo: aluga um imóvel para lhe servir de sede, contrata advogados para redação do ato constitutivo, contrata contadores para obtenção de registro nas repartições fiscais etc.). Grosso modo, pode-se fazer um paralelo com as pessoas físicas (pessoas naturais): embora elas só adquiram personalidade após o nascimento com vida, o ordenamento jurídico lhes reconhece existência e confere proteção desde a concepção (art. 2.º do Código Civil). Da mesma forma,
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