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A Antijuridicidade Material Dentro do Contexto do Direito Penal Contemporâneo - Daniel Pacheco

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A antijuridicidade material dentro do contexto do direito penal contemporâneo 
 
 
Daniel Pacheco Pontes 
Professor Doutor de Direito 
Penal da Faculdade de Direito 
de Ribeirão Preto da USP 
 
 
Sumário: 1. Questões de nomenclatura e delimitação do tema; 2. A evolução do conceito de 
antijuridicidade; 3. Conceitos de antijuridicidade utilizados pela doutrina; 4. Antijuridicidade 
formal e material; 4.1 A crítica de Miguel Reale Júnior; 4.2 A posição de Claus Roxin; 4.3 
Outros posicionamentos; 4.4 Conseqüências práticas da aceitação da antijuridicidade material; 
5. Conceito de causa de justificação e antijuridicidade material; 6. Considerações Finais 
 
 
Palavras chave: antijuridicidade formal; antijuridicidade material; causas supralegais de 
exclusão da antijuridicidade. 
 
 
 
1. Questões de nomenclatura e delimitação do tema 
 
Há algumas divergências doutrinárias no que diz respeito à nomenclatura dada à categoria da 
antijuridicidade. Francisco de Assis Toledo
1
, por exemplo, entende que seria mais correto falar 
em ilicitude, já que o delito não poderia ser encarado como antijurídico, na medida em que é 
uma criação jurídica – para ele, o termo antijuridicidade seria uma tradução mal feita do alemão 
Rechtswidrigkeit. Porém, tal entendimento não é unânime, de maneira que as duas expressões 
freqüentemente aparecem na doutrina como sinônimas
2
. 
 
Ainda vale lembrar que ilicitude (ou antijuridicidade) não é o mesmo que injusto, já que a 
primeira seria uma relação de oposição entre a ação do agente e o direito, um predicado, 
enquanto que o segundo seria a própria ação. Por essa razão, o injusto penal é antijurídico 
para o ordenamento como um todo
3
, e o injusto, ao contrário da antijuridicidade, pode ser 
escalonado
4
. 
 
Neste trabalho discutiremos um pouco a questão da antijuridicidade, mais especificamente os 
seus aspectos formal e material, buscando verificar como estes devem ser manejados pelos 
operadores do direito durante a análise de um caso concreto. Em princípio, não adotaremos a 
nomenclatura ilicitude proposta por Francisco de Assis Toledo por entendermos tratar-se de 
uma mera questão de denominação, pouco relevante para a temática a ser aqui desenvolvida. 
 
Antes de adentrarmos no tema específico, faremos algumas considerações sobre o conceito de 
antijuridicidade e sua evolução dentro da dogmática penal com o objetivo de fundamentar a 
discussão que ocorrerá em seguida. 
 
 
2. A evolução do conceito de antijuridicidade 
 
A origem da antijuridicidade se deu em 1867, quando Ihering definiu duas formas de 
contrariedade ao direito: a objetiva – que foi o embrião da atual antijuridicidade – e a subjetiva, 
que se aproximava de nosso conceito atual de culpabilidade. Todavia, ainda no século XIX, em 
1884, Von Liszt diferenciou culpabilidade de antijuridicidade
5
. 
 
Nesse segundo momento, ainda dentro do contexto da Escola Clássica, a antijuridicidade era 
encarada apenas como a valoração do estado causado pelo fato. Essa idéia foi melhor 
desenvolvida apenas a partir do finalismo, quando dolo e culpa deixaram de ser elementos da 
culpabilidade e passou-se a entender que a categoria da antijuridicidade seria composta pelo 
desvalor da ação e pelo desvalor do resultado, sendo o primeiro o desvalor genérico de todos 
os delitos – por exemplo, a forma de execução – enquanto que o segundo seria a lesão ou a 
ameaça de lesão ao bem jurídico
6
. 
 
Ainda no que diz respeito ao conceito de desvalor da ação, Roxin
7
 faz uma observação 
importante, esclarecendo que é fundamental não confundi-lo com a culpabilidade, já que esta, 
seguindo os preceitos defendidos desde a Escola Clássica, se relaciona com o autor, enquanto 
aquele diz respeito a um fato, de maneira que podemos dizer que a antijuridicidade é um juízo 
sobre o acontecer, não sobre a personalidade. 
 
Também é importante ressaltar que não há desvalor mais importante. Para que o injusto esteja 
perfeitamente configurado é necessário que haja tanto o desvalor da ação quanto o desvalor 
do resultado, afinal, para que tenhamos um delito, é necessária tanto a ação desvalorada 
quanto o resultado lesivo, ainda que apenas jurídico, já que é algo pacífico na doutrina 
atualmente que o direito penal tem como missão a proteção subsidiária de bens jurídicos
8
. 
 
Mais recentemente, o conceito de antijuridicidade ainda vem sendo desenvolvido por Roxin
9
 
que defende a consideração de toda a ordem jurídica – em sintonia com sua proposta de 
sistema aberto orientado pela política criminal – com o objetivo de promover uma solução 
social, fazendo em cada caso concreto um juízo sobre a lesividade e a ilicitude do 
comportamento. 
 
 
3. Conceitos de antijuridicidade utilizados pela doutrina 
 
Tendo em vista todo o desenvolvimento histórico, podemos citar alguns conceitos de 
antijuridicidade. Dentro de uma visão bastante tradicional, Nelson Hungria
10
 a definia apenas 
como contrariedade ao direito, já que não era adepto da doutrina finalista e, 
conseqüentemente, não seguia as idéias acima expostas. Por outro lado, Welzel
11
, idealizador 
do finalismo, a definia como juízo de valor objetivo sobre a ação, o desacordo entre ela e a 
ordem jurídica, o que ocorreria quando houvesse tanto o desvalor da ação quanto o do 
resultado. 
 
Dentro de uma perspectiva mais pragmática, a maioria dos autores
12
 entende que, em 
princípio, a ação típica seria também antijurídica, pois a tipicidade seria um indício de 
antijuridicidade. Isso significa que a ação típica não seria antijurídica apenas 
excepcionalmente, nas hipóteses de ocorrência de uma causa de justificação ou excludente de 
antijuridicidade, situações em que tal exclusão seria fundamentada pela necessidade, 
exigência de emprego imediato da força ou o consentimento do ofendido
13
, dependendo de 
pressupostos objetivos e da vontade positivamente valorada
14
. 
 
 
4. Antijuridicidade formal e material 
 
Inicialmente, a antijuridicidade era tida como simplesmente formal – o que fica claro no 
conceito de Hungria exposto acima -, surgindo a discussão acerca da possibilidade de uma 
antijuridicidade material a partir de Von Liszt
15
, que desenvolveu as idéias de Binding – cuja 
obra ressaltou a importância do bem jurídico-penal – entendendo que o fato seria formalmente 
antijurídico se implicasse em uma contradição entre o comportamento e a norma, a realização 
do tipo
16
, enquanto que a material poderia ser caracterizada pela lesão ou perigo de lesão ao 
bem jurídico protegido pela norma, aproximando-se do desvalor do resultado
17
. 
 
Do ponto de vista da evolução dogmática, podemos dizer que a doutrina finalista da ação, ao 
aceitar o desvalor da ação e do resultado como integrantes da antijuridicidade, abriu caminho 
para que fosse desenvolvido o conceito de antijuridicidade material, o que se deu a partir de 
uma crise do positivismo jurídico
18
, já que o mero conceito formal, adotado pelos positivistas, 
não traz conteúdo valorativo, o que pode ser necessário para a solução de conflitos no caso 
concreto. 
 
 
4.1 A crítica de Miguel Reale Júnior 
 
Miguel Reale Júnior, acompanhando o entendimento de Rocco, entende que tal classificação 
não trouxe nada de novo, uma vez que o dano poderia ser elemento integrante do delito, mas 
não definitório, já que existem delitos em que o resultado seria meramente jurídico
19
. 
 
No que diz respeito aos crimes sem resultado naturalístico, parece que tal reparo não é 
totalmente devido, uma vez que não é necessário haver um dano mensurável do ponto de vista 
naturalístico para a caracterização da lesão ao bem jurídico penalmente relevante. Na 
realidade, o mero resultado jurídico já indica que houve a necessária lesão. Isso ocorre, por 
exemplo, nos casos de desacato (art. 331 CP),nos quais o simples desprestígio ao funcionário 
público já configura o delito, independentemente de qualquer resultado naturalístico, o que 
certamente já significa uma lesão – ou, pelo menos, uma ameaça de lesão - ao bem jurídico 
administração pública. 
 
Todavia, há muitas outras tentativas de não aceitação de um caráter material da 
antijuridicidade, vários foram os estudos que buscaram resolver tais conflitos por meio de um 
conceito uno de antijuridicidade, provocando um ressurgimento da filosofia do direito, na busca 
por um direito justo, afinal, mesmo para Von Liszt, haveria antijuridicidade material apenas 
quando a lesão ao bem jurídico implicar em uma contraposição aos fins da ordem jurídica. A 
esse respeito, Miguel Reale Júnior
20
, fez uma interessante análise, mostrando como os 
diversos autores se posicionam frente à questão da admissibilidade do caráter material da 
antijuridicidade, passando por pontos como normas de cultura, utilidade e valoração de bens. 
Sua conclusão é a de que os valores atuam como definidores do caráter antijurídico, uma vez 
que mesmo os autores que rejeitam o conceito material de antijuridicidade reconhecem a 
ausência de ilicitude quando a ação tem uma utilidade
21
, algo próximo da aceitação de um 
conceito material de antijuridicidade. 
 
 
4.2 A posição de Claus Roxin 
 
Roxin
22
, aceitando a idéia de antijuridicidade material, entende que “o conteúdo material do 
injusto tem importância tanto para o tipo”, uma vez que “o injusto material representa uma 
lesão de bens jurídicos que, via de regra, tem que ser combatida pelos meios do direito penal”, 
quanto para a antijuricidade, já que “o injusto material da lesão de bens jurídicos pode ser 
excluído pelo fato de que, em caso de conflito entre bens jurídicos, tem preferência o bem 
jurídico mais valioso em detrimento do menos valioso”, de maneira que não ocorreria um dano 
social penalmente relevante. Haveria ainda os “casos em que a conduta poderia ser subsumida 
ao teor literal do preceito penal, mas materialmente, ou seja, de acordo com o conteúdo do seu 
significado social, não estaria de acordo com o tipo de delito”, de maneira que não poderia ser 
considerada antijurídica. 
 
Além disso, o mesmo autor também ressalta que a admissão de uma antijuricidade material 
teria outras conseqüências práticas importantes. A primeira seria a possibilidade de realizar 
gradações do injusto, algo impossível apenas com o conceito formal, afinal, deste ponto de 
vista, todos os roubos são igualmente antijurídicos, o que não acontece se analisarmos a 
questão sob a óptica material, que permite considerar, por exemplo, o valor do bem subtraído, 
o que certamente também pode influenciar na dosimetria da pena. 
 
 
4.3 Outros posicionamentos 
 
Ao se analisar apenas essas duas posições, já fica claro que o assunto não é pacífico ou 
uniforme na doutrina. Todavia, os entendimentos mais recentes caminham no sentido do 
reconhecimento da antijuridicidade material. 
 
Mir Puig
23
, por exemplo, entende que o caráter material da antijuridicidade deve ser expandido, 
já que a idéia de lesão ou ameaça de lesão a um bem jurídico seria insuficiente, por trazer 
somente um juízo ex post. De acordo com seu ponto de vista, também deveria ser realizado 
um juízo ex ante, referente à periculosidade da conduta. 
 
Jescheck
24
, por sua vez, aceita a antijuridicidade material, encarando-a como guia do legislador 
para o estabelecimento de tipos penais e dos operadores do direito para a realização da 
aplicação da norma ao caso concreto, aceitando inclusive a possibilidade de causas supra-
legais de justificação. 
 
 
4.4 Conseqüências práticas da aceitação da antijuridicidade material 
 
Com base nas reflexões expostas, a primeira conclusão a que podemos chegar é a de que o 
reconhecimento de um conceito material de antijuridicidade traz uma série de conseqüências 
importantes para a teoria do delito
25
. A primeira delas é que a lesão ao bem jurídico protegido 
pela norma serve como ponto de referência para a criação de tipos legais. Afinal, se a missão 
do direito penal é a proteção subsidiária de bens jurídicos, tal aspecto não pode passar 
despercebido pelo legislador 
 
Além disso, tal conceito nos traz uma maior facilidade para a utilização da interpretação 
teleológica nos tipos da parte especial. Dentro de uma proposta de fuga do positivismo jurídico, 
a subsunção de uma ação a um tipo sempre deve considerar o bem jurídico protegido e em 
que medida foi afetado, o que nos conduz à mesma idéia da conclusão anterior, ou seja, no 
contexto de um direito penal que visa a proteção de bens jurídicos, é descabido considerar 
como típica uma ação que não provoque lesão em nenhum bem jurídico. 
 
Essa conceituação também facilita a discussão de um dos aspectos mais tormentosos do 
direito penal, a problemática do erro, já que tanto nos casos de erro de tipo, quanto nos de erro 
de proibição, discute-se a questão da lesão ao bem jurídico e do desvalor. 
 
Porém, a conseqüência que nos parece mais importante é a possibilidade de formular um 
princípio para as causas de justificação e seu alcance, o que na prática viabilizaria o 
reconhecimento de causas supra-legais de justificação. 
 
Tal possibilidade é totalmente rejeitada pelos positivistas
26
, de maneira coerente com a sua 
forma de aplicação do direito – caracterizada pelo adágio dura lex sed, Lex. Porém, atualmente 
não podemos comungar com tal visão. Não podemos esquecer o fato de que o direito é criação 
humana para servir a humanidade – logo, o homem não existe para servir ao direito, mas sim o 
direito para servir ao homem – de maneira que devemos sempre buscar a justiça e não 
simplesmente utilizar o tecnicismo jurídico para fazer subsunções. 
 
Assim, não parece fazer sentido considerar como antijurídica a conduta do agente que subtrai 
um bem de um terceiro com o seu consentimento apenas porque é tipificada pelo artigo 155 
CP e não se encaixa em nenhuma das causas de justificação legais. Em um caso deste tipo 
não há antijuridicidade material, uma vez que o patrimônio é bem disponível e houve o 
consentimento do ofendido, de maneira que não há lesão a qualquer bem jurídico. 
 
Por sinal, o próprio Hungria, ao analisar esse exemplo específico, entende que não haveria 
crime. Todavia, tal conclusão não é atingida por meio da fundamentação aqui defendida, no 
sentido do reconhecimento de uma causa de justificação supralegal. Para ele, de forma 
extremamente positivista, a própria lei traria essa possibilidade
27
, o que é controverso e não 
resolve todos os problemas que podem vir a ocorrer no caso concreto. 
 
O grande temor dos positivistas é que o direito penal caminhe na direção de uma anarquia 
jurídica por meio do reconhecimento das causas supralegais de justificação. Todavia, tal temor 
é infundado, uma vez que, de acordo com nosso entendimento, tal interpretação jamais poderia 
ser contrária à Constituição Federal
28
, que prevê, dentre outras garantias, o princípio nullum 
crimen, nulla poena, sine lege (art. 5º XXXIX CF), de maneira que um entendimento desta 
natureza jamais poderia prejudicar o réu. 
 
Na realidade, defendemos o princípio da legalidade, entendendo que, se o direito penal muitas 
vezes tem o seu código denominado magna charta do delinqüente, é justamente porque as 
regras têm que ser definidas previamente e com segurança. Em outras palavras, não há como 
tornar a situação do réu mais gravosa sem previsão legal, mas nada impede que sua ação seja 
julgada de maneira mais branda – exatamente como ocorre por meio das causas supralegais 
de justificação. 
 
Assim, se deixarmos de lado o positivismo jurídico não haverá qualquer impedimento ao 
reconhecimento do conceito material de antijuridicidade. O próprio Francisco de Assis Toledo
29
 
estabelece dois pressupostospara a antijuridicidade: a conduta voluntária em antagonismo 
com o comando normativo – o que excluiria a casualidade – e a existência de possíveis ou 
reais conseqüências danosas – justamente o conceito material de antijuridicidade. 
 
Em suma, entendemos que a antijuridicidade deve ter tanto o aspecto formal quanto o material. 
O formal é indispensável, já que é conseqüência do princípio da legalidade, de modo que, na 
sua ausência, não cabe qualquer discussão acerca da antijuridicidade material. Já o material 
precisa ser reconhecido por força da missão do direito penal e pela necessidade de adotarmos 
um sistema aberto e sua não aceitação implicaria na negação de outros elementos 
fundamentais da doutrina finalista e pós-finalista. 
 
 
5. Conceito de causa de justificação e antijuridicidade material 
 
Ao admitirmos a antijuridicidade material – e conseqüentemente as causas supra-legais de 
justificação – precisamos pensar em um conceito de causa de justificação coerente com tal 
realidade, que possa ensejar o reconhecimento de uma causa supralegal no caso concreto, já 
que, dentro do contexto positivista, causas de justificação seriam apenas as hipóteses 
previstas em lei. 
 
Para tanto, inicialmente é necessário lembrar que uma das funções da antijuridicidade
30
 é 
justamente a de solucionar colisões de interesses, como ocorre nas hipóteses de estado de 
necessidade, de maneira que, seguindo a linha de Roxin
31
 podemos definir as causas de 
justificação como institutos que buscam a regulação socialmente correta de interesses 
colidentes, isto é, que não implique em uma lesão injustificada de bens jurídicos, o que significa 
a aceitação da antijuridicidade material. 
 
Além disso, tal definição não entra em conflito com as demais funções da antijuridicidade, uma 
vez que soluciona conflito de interesses, não obsta a aplicação da medida de segurança ou de 
outras conseqüências jurídicas e também não deixa de ligar o direito penal a outros ramos 
jurídicos. 
 
É importante lembrar que a aceitação de tal conceito traz implicações práticas. No que diz 
respeito ao consentimento do ofendido no crime de furto, por exemplo, se o ofendido for menor 
de 18 anos, tal conceito viabilizará a exclusão de sua responsabilização penal, mas não 
necessariamente a civil. Todavia, isso não nos traz qualquer problema jurídico, já que nem todo 
ilícito civil tem também natureza penal
32
. 
 
 
6. Considerações Finais 
 
Vimos que o conceito de antijuridicidade material foi desenvolvido apenas a partir de uma crise 
do positivismo jurídico, que nem sempre conseguia resolver adequadamente o caso concreto, 
tendo como pano de fundo o desenvolvimento da teoria finalista da ação. 
 
Também parece estar evidente que a aceitação de tal conceito como integrante da teoria do 
delito traz muitas conseqüências práticas na análise de casos concretos, o que aumenta a 
controvérsia existente na doutrina acerca da aceitação desse integrante. 
 
Tudo isso nos faz defender a aplicação da antijuridicidade material, primeiro porque é bastante 
difícil aceitar o finalismo - ou o pós-finalismo rejeitando tal instituto ao mesmo tempo. Na 
realidade, todas as escolas penais foram desenvolvidas dentro de um determinado contexto 
filosófico, de modo que é difícil e freqüentemente equivocado do ponto de vista metodológico 
aplicar ao mesmo tempo institutos desenvolvido em contextos ou momentos diferentes, como 
ocorre, por exemplo, quando se tenta aplicar a teoria da imputação objetiva dentro de um 
contexto finalista, negando a doutrina funcionalista. 
 
Assim, entendemos que, caso não se queira admitir a antijuridicidade material como integrante 
da teoria do delito, também não se deve admitir as doutrinas finalista e pós-finalista. Como 
aceitamos o pensamento pós-finalista, parece-nos que a admissão da antijuridicidade material 
é, antes de tudo, uma questão de coerência. 
 
Além disso, conforme tentamos demonstrar ao longo desse texto, parece-nos que as 
conseqüências práticas de tal admissão são todas extremamente benéficas e vão no sentido 
em que o direito penal deve caminhar, de maneira que nossa conclusão não poderia ser outra. 
 
 
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2
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3
 Hans Welzel. Direito Penal. Campinas: Romana, 2004, p. 100; Claus Roxin. Strafrecht 
Allgemeiner Teil – Grundlage Aufbau der Verbreche Lehre. 4ª Ed. Munique: Beck, 2006, p. 
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4
 Francisco de Assis Toledo. Princípios Básicos de Direito Penal. 5ª Ed. São Paulo: Saraiva, 
2007, p. 120. 
5
 Cezar Roberto Bittencourt. Tratado de Direito Penal – Parte Geral. Volume 1. 8ª Ed. São 
Paulo: Saraiva, 2003, p. 239. 
 
6
 Luiz Régis Prado. Curso de Direito Penal Brasileiro. Volume 1. 3ª Ed. São Paulo: RT, 2002, 
p. 252; Cezar Roberto Bittencourt. Tratado de Direito Penal – Parte Geral. Volume 1. 8ª Ed. 
São Paulo: Saraiva, 2003, p. 245. 
7
 Claus Roxin. Strafrecht Allgemeiner Teil – Grundlage Aufbau der Verbreche Lehre. 4ª Ed. 
Munique: Beck, 2006, p. 205. 
8
 Antonio Luis Chaves Camargo. Imputação Objetiva e Direito Penal Brasileiro. São Paulo: 
Cultural Paulista, 2001, p. 125. 
9
 Claus Roxin. Política Criminal e Sistema Jurídico Penal.Rio de Janeiro: Renovar, 2000, p. 
49. 
10
 Nelson Hungria. Comentários ao Código Penal. Vol. I. Tomo II. 4ª Ed. Rio de Janeiro: 
Forense, 1958, p. 21. 
11
 Hans Welzel. Direito Penal. Campinas: Romana, 2004, p. 99. 
12
 Nelson Hungria. Comentários ao Código Penal. Vol. I. Tomo II. 4ª Ed. Rio de Janeiro: 
Forense, 1958, p. 21; Claus Roxin. Strafrecht Allgemeiner Teil – Grundlage Aufbau der 
Verbreche Lehre. 4ª Ed. Munique: Beck, 2006, p. 600. 
13
 Hans Welzel. Direito Penal. Campinas: Romana, 2004, p. 137. 
14
 Luiz Régis Prado. Curso de Direito Penal Brasileiro. Volume 1. 3ª Ed. São Paulo: RT, 
2002, p. 315. 
15
 Francisco de Assis Toledo. Princípios Básicos de Direito Penal. 5ª Ed. São Paulo: Saraiva, 
2007, p. 161; Claus Roxin. Strafrecht Allgemeiner Teil – Grundlage Aufbau der Verbreche 
Lehre. 4ª Ed. Munique: Beck, 2006, p. 602; Miguel Reale Júnior. Teoria do delito. 2ª Ed. São 
Paulo: RT, 2000, p. 93. 
16
 Luiz Régis Prado. Curso de Direito Penal Brasileiro. Volume 1. 3ª Ed. São Paulo: RT, 
2002, p. 314. 
17
 Santiago Mir Puig. Direito Penal – Fundamentos e Teoria do Delito. São Paulo: RT, 2007, 
p. 129. 
18
 Miguel Reale Júnior. Teoria do delito. 2ª Ed. São Paulo: RT, 2000, p. 89. 
19idem, p. 94. 
20
 idem, p. 89-119. 
21
 idem, p. 117. 
22
 Claus Roxin. Strafrecht Allgemeiner Teil – Grundlage Aufbau der Verbreche Lehre. 4ª 
Ed. Munique: Beck, 2006, p. 602. 
23
 Santiago Mir Puig. Direito Penal – Fundamentos e Teoria do Delito. São Paulo: RT, 2007, 
p. 129. 
24
 Hans Heinrich Jescheck. Tratado de Derecho Penal – Parte General. 4ª Ed. Madri: 
Granada: 1993, p. 211. 
 
25
 Francisco de Assis Toledo. Princípios Básicos de Direito Penal. 5ª Ed. São Paulo: Saraiva, 
2007, p. 161; Cezar Roberto Bittencourt. Tratado de Direito Penal – Parte Geral. Volume 1. 8ª 
Ed. São Paulo: Saraiva, 2003, p. 242; Claus Roxin. Strafrecht Allgemeiner Teil – Grundlage 
Aufbau der Verbreche Lehre. 4ª Ed. Munique: Beck, 2006, p. 602. 
26
 Nelson Hungria. Comentários ao Código Penal. Vol. I. Tomo II. 4ª Ed. Rio de Janeiro: 
Forense, 1958, p. 268. 
27
 idem, p. 268. 
28
 Claus Roxin. Strafrecht Allgemeiner Teil – Grundlage Aufbau der Verbreche Lehre. 4ª 
Ed. Munique: Beck, 2006, p. 605. 
29
 Francisco de Assis Toledo. Princípios Básicos de Direito Penal. 5ª Ed. São Paulo: Saraiva, 
2007, p. 163. 
30
 Claus Roxin. Strafrecht Allgemeiner Teil – Grundlage Aufbau der Verbreche Lehre. 4ª 
Ed. Munique: Beck, 2006, p. 224; o autor também lembra que a antijuridicidade teria a função 
de servir de apoio para a medida de segurança e outras conseqüências jurídicas – lembremos 
que, nos casos de aplicação de medida de segurança, não há crime por ausência de 
culpabilidade, logo é necessário um ponto de apoio para que o juiz possa aplicá-la, o que pode 
ser dado pela antijuridicidade -, além de ligar o direito penal à totalidade do ordenamento 
jurídico – vimos que o injusto é sempre antijurídico, mas nem sempre o que é antijurídico em 
outros ramos do direito também será no direito penal. 
31
 idem, p. 617. 
32
 Francisco de Assis Toledo. Princípios Básicos de Direito Penal. 5ª Ed. São Paulo: Saraiva, 
2007, p. 161.

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