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Sumário Comunicação, linguagem e expressão Unidade 1 1. Teoria da comunicação: elementos da comunicação elementos da comunicação Situações comunicativas com elementos da comunicação Ruídos na comunicação 2. Teoria da comunicação: função da linguagem Elementos da comunicação Funções da linguagem por Roman Jakobson Intenções do emissor 3. Comunicação, expressão e diversidade linguística Variação linguística Modalidades da língua Adequação linguística Unidade 2 1. Comunicação oral Elementos de variação linguística Níveis de variação linguística Tipos de variação linguística Modalidades de fala e grau de formalidade Gêneros de cunho oral, textual e híbrido 2. Estratégia de leitura – leitura textual ou literal Estratégias de leitura: concepções Leitura moderna e tradicional: diferenças Leituras verticais e horizontais Estratégias de leitura literal de um texto Contabilidade introdutória Unidade 1 1. Conceitos e definições: contabilidade como planejamento e controle Conceitos e definições: contabilidade como planejamento e controle 2. Campo de aplicação, finalidade e objetivos da contabilidade Campo de aplicação Finalidade da Contabilidade Objetividade da contabilidade O usuário Usuários internos: Usuários externos: Sócios, Acionistas e Proprietários de Quotas Societárias de Maneira Geral: Administradores, Diretores e Executivos dos mais Variados Escalões: Bancos, Capitalistas, Emprestadores de Recursos: Governo e Economistas Governamentais: 3. Definições e características da situação patrimonial e componentes Definições e características da situação patrimonial Bens Direitos Obrigações Aplicações de recursos Unidade 2 1. Conceitos e características das contas patrimoniais e de resultados Contas de resultado 2. Estruturação de um plano de contas, agrupamento de contas do Balanço Patrimonial Estruturação de um plano de contas Agrupamento de contas do balanço patrimonial e de resultado Patrimônio liquido Contas de resultados Livros fiscais e contábeis, obrigatórios e auxiliares 3. Esquema básico de escrituração contábil Equação fundamental da contabilidade Escrituração contábil Livros contábeis Definição de patrimônio Contas patrimoniais e contas de resultado Fundamentos da administração Unidade 1 1. Conceito de empresa: atividade empresária e não empresária O conceito de empresa Atividade empresarial e atividade não empresarial Os diferentes tipos de sociedades decorrentes das atividades empresária e não empresária 2. Introdução à administração Conceito e princípios da administração Funções da administração Eficiência e eficácia 3. Definições e conceitos de gestão As funções da gestão O planejamento nos põe a caminho da realização de valor A organização reúne os recursos dos quais precisamos A liderança mobiliza as pessoasControle significa aprender e mudar A gestão exige todas as quatro funções Unidade 2 1. Funções gerenciais Funções gerenciais dentro das organizações Fatores externos Fatores internos Administração por objetivos Fixação de objetivos Gerenciamento versus concretização de objetivos 2. Tipos de gerente Modelos de liderança e suas atividades Comparando as lideranças Liderança nos tempos atuais Sensemaking: um auxílio para as lideranças atuais Sensemaking dentro das organizações Mudança organizacional e sensemaking 3. TI, Habilidades e papeis gerenciais Habilidades e papéis gerenciais Papéis gerenciais Competências requeridas para uma gerência eficaz Perfil gerencial contemporâneo e a Tecnologia da Informação Tecnologia da Informação Comunicação, linguagem e expressão. Unidade 1 Teoria da comunicação: elementos da comunicação. Elementos da comunicação Enquanto processo, a comunicação é indissociável do universo em que ocorre. Afinal, qualquer ato comunicativo está ligado a tudo (SOUSA, 2006). Mas, para compreender a realidade e os atos comunicativos, diversos teóricos desenvolveram modelos dos processos comunicacionais. Esses modelos são artefatos imaginativos, criados para compreender a realidade comunicacional. Portanto, você não deve entendê-los como espelho do real. Os elementos da comunicação foram evoluindo ao longo dos tempos e por meio de estudos. O primeiro foi proposto pelo filósofo Aristóteles (século IV a.C.), que apresentou um modelo básico. Este diz que para comunicar é preciso que exista alguém para transmitir a alguém um conteúdo, ou seja, três elementos: o emissor, o receptor e o conteúdo. Para Sousa (2006), todos os modelos são incompletos e imperfeitos, pois se tratam de reconstruções intelectuais e imaginativas da realidade. O autor cita inúmeros modelos entre os que propõem o estudo dos elementos de comunicação. Além do modelo de Aristóteles, há o modelo (ou paradigma) de Lasswell (1948), o modelo de Shanon e Weaver (1949), o Newcomb (1953), o modelo de Schramm (1954) e, ainda, o modelo de Roman Jakobson (1960). Outros modelos, como o da Escola de Palo Alto e o modelo de Maletzke, também são elencados. Entre os citados, você vai conhecer melhor o modelo de Roman Jakobson (2005). Ele é o mais recente e o mais utilizado em muitas áreas, como a literatura. O teórico construiu um modelo direcionado para o estudo da comunicação sob o prisma da linguística. Considere que o principal objetivo da linguagem é transmitir uma informação para um ou mais sujeitos. Para que essa comunicação ocorra, é necessário que haja compreensão dos elementos que fazem parte do processo comunicativo, certo? Conforme Jakobson, tais elementos são o emissor, o receptor, o canal, a mensagem, o código e o referente. O destinador envia uma mensagem ao destinatário. Para que seja operante, a mensagem precisa de um contexto para o qual remete. Esse contexto, apreensível pelo destinatário, ora é verbal, ora é suscetível de ser verbalizado. Posteriormente, a mensagem requer um código que seja comum aos dois, no todo ou, pelo menos, em parte. Enfim, a mensagem requer um canal físico e uma conexão psicológica entre destinador e destinatário, um contato que permita o estabelecimento da comunicação. A seguir, você pode ver esses fatores esquematizados na Figura 1. FIGURA 1 Esses atos comunicativos podem acontecer com alguma intenção, seja ela explícita ou não. Jakobson elaborou esse esquema para mostrar como seis fatores essenciais, os chamados elementos da comunicação, operam para que a comunicação aconteça. A seguir, você pode compreender melhor cada um desses elementos: Emissor: também conhecido como referente, é quem emite a mensagem; pode ser um indivíduo ou um grupo. Mensagem: é o objeto da comunicação e é constituída pelo conteúdo das informações. Ou seja, é o conteúdo que o emissor quer transmitir. Canal: é a via de circulação da mensagem (voz, ondas sonoras, uma folha de papel, um blog, um livro). É o meio pelo qual a mensagem é transmitida. Pode ser por ar (ao falar), jornal, televisão, revista, internet, rádio, etc. Em Publicidadee Propaganda (PP), o canal se relaciona bastante com a mídia. Código: é o conjunto de regras, de signos e códigos utilizados para formar a mensagem. Para que a comunicação seja bem-sucedida, é preciso que o receptor compreenda o código usado pelo emissor. Como exemplos de código, você pode considerar: letras, idiomas, código morse, etc. Referente: é constituído pelo contexto, pela situação e pelos objetos aos quais a mensagem está relacionada. Destinatário: é aquele que recebe a mensagem, também chamado de receptor; pode ser uma pessoa ou um grupo de pessoas. Jakobson estabeleceu que cada um desses seis fatores determina uma diferente função da linguagem. O modelo mostra que a mensagem deve contar com um contexto, ou seja, precisa se referir a algo externo a ela. O modelo acrescenta, ainda, o contato. Este representa, simultaneamente, o canal físico em que a mensagem circula e as ligações psicológicas entre destinador e destinatário. Isso quer dizer que ambos só percebem a mensagem porque dominam o mesmo código. Fique atento No modelo proposto por Jakobson, a comunicação só se realiza se o receptor decodifica a mensagem transmitida pelo emissor. Ou seja, ela só acontece se o interlocutor entende a mensagem transmitida. Por exemplo, duas pessoas que vivem em países diferentes (Brasil e Japão) e que não conhecem a língua uma da outra utilizarão códigos diferentes. Portanto, a mensagem não será inteligível para ambas, impossibilitando o processo comunicacional. Mas, se, por exemplo, um brasileiro morador do Nordeste conversa com uma pessoa que vive no Sul, por mais que haja diferenças linguísticas, a comunicação ocorre, pois a língua é a mesma (no caso, a língua portuguesa). Situações comunicativas com elementos da comunicação Os elementos da comunicação podem aparecer em diferentes situações comunicativas, e um elemento específico pode se evidenciar como o mais importante. A seguir, você vai ver exemplos de situações que envolvem os elementos da comunicação, de acordo com alguns autores, especialmente Vanoye (1993). Em cada uma delas, um dos elementos é o principal da situação comunicativa. Exemplo 1: o governador de Santa Catarina envia uma mensagem à população do estado por meio de um porta-voz. Nesse caso, ele seria a fonte, e o porta-voz, o emissor. Exemplo 2: um professor envia um e-mail para os alunos avisando sobre o material para a próxima aula. Aqui, emissor e fonte são a mesma pessoa. Nesses casos, o foco da situação é o emissor da mensagem. Observe que a fonte é responsável pela codificação da mensagem que será enviada. Ela pode utilizar a comunicação oral, a escrita, bem como gestos, desenhos. Martins e Zilberknop (1997, p. 24) diferenciam o emissor da fonte da mensagem. Eles consideram que, em alguns contextos comunicativos, é possível perceber que a fonte (de onde se origina a mensagem) e o emissor (quem envia a mensagem) não são a mesma pessoa. Nos dois exemplos, a população de Santa Catarina e os alunos que receberam o e- mail são os receptores, responsáveis pelo recebimento e pela decodificação da mensagem. A comunicação só ocorre efetivamente quando tiver a incidência de um comportamento verbal ou de uma atitude sobre a ação do destinatário. Isso quer dizer que, se os alunos responderem o e-mail, a comunicação será efetivada. Mas, se não responderem, você pode considerar que o ato comunicativo ocorreu da mesma forma, já que o silêncio também é uma forma de comunicação não verbal. Em outro exemplo de situação comunicativa, o foco é na mensagem. Esta possui o conteúdo das informações que foram codificadas para transmissão. Além disso, pode ser visual, auditiva, audiovisual. Além disso, pode ser visual, auditiva, audiovisual. Por exemplo, uma mensagem visual pode ser escrita com o alfabeto que você utiliza cotidianamente: Olá! Tudo bem com você? Ou ainda pode ser uma imagem, uma fotografia, ou mesmo um emoticon, como =) ou <3. Já a auditiva pode ser uma música, um áudio gravado por redes sociais ou pelo celular. A audiovisual pode ser um vídeo gravado pelo próprio emissor, ou retirado da TV, da internet, etc. Para enviar essa mensagem, são necessários códigos verbais ou não verbais. Quanto mais próximos emissor e receptor estiverem do repertório que ambos usam, maior será a probabilidade de a comunicação ser bem-sucedida, pois a decodificação ficará mais fácil. De acordo com Barros (2004, p. 31), “[...] códigos diferentes impedem a comunicação (a não ser que ela se estabeleça por outro código, que não o verbal, por exemplo, como ocorre na comunicação gestual entre falantes de línguas diferentes).”. O código pode passar também por uma flutuação. É quando um mesmo significante pode gerar mais de um significado. Veja o seguinte exemplo: “Bombril, bom de cozinha e bom de copa.” (CESAD, c2017) (Propaganda veiculada durante o período da Copa Mundial de 1998). Aqui, o signo “copa” remete ao espaço de uma residência, mas também está relacionado à Copa Mundial de Futebol, já que a publicidade era veiculada no período da competição. Nesse contexto, o referente é o objeto ou a situação a que a mensagem remete ou se refere. Ele pode ser situacional ou textual. Saiba mais O referente situacional engloba os elementos da situação do emissor, do receptor e do contexto em que se dá a comunicação. Por exemplo: „ Venha aqui em casa e traga teus cadernos para estudarmos. O termo “aqui” se refere à situação espacial, e “venha e traga”, à temporal. O uso das palavras que mostram (pronomes demonstrativos, pronomes pessoais, tempos verbais, etc.) proporciona às línguas naturais uma grande agilidade. No entanto, as frases que veiculam esses elementos só podem ser compreendidas em estreita relação com determinadas situações. Já o referente textual engloba os elementos do contexto linguístico. Ou seja, ele surge quando se faz referência aos elementos contidos no próprio texto. Por exemplo: A garota trouxe os lápis, a borracha e a régua e os pôs sobre a escrivaninha que está no escritório. Compre tudo o que consta na lista: tomate, alface, pepino, pimentão e repolho. O canal é o meio pelo qual o emissor enviará a mensagem codificada para que o destinatário a descodifique. É todo e qualquer elemento físico usado para levar a mensagem até o receptor. O canal pode ser: natural ou tecnológico. O primeiro trata de meios sonoros (como a voz, as ondas sonoras, o ouvido); de meios visuais (como a excitação luminosa, a percepção da retina); de meios táteis (como a mão, a pele); de meio olfativo (o nariz); e ainda de meio gustativo (a língua). Já o canal tecnológico necessita de meios criados para transmitir a mensagem, como rádio, TV, telefone, entre outros. O canal deve ser escolhido considerando: o conteúdo da mensagem; os tipos de mensagem (isto é, se será verbal ou não verbal); os objetivos do remetente; as condições de recepção da mensagem, etc. fique atento Na comunicação, é necessário utilizar um código conhecido do destinatário e usar, preferencialmente, um código fechado. Nesse sentido, se deve respeitar a bagagem cultural de quem vai receber a mensagem, além, é claro, de escolher e utilizar o veículo adequado. Certos tipos de comunicação podem se dar por meio do uso simultâneo de diferentes códigos e canaisde comunicação; é o caso do cinema. Observe a Figura 2. Nela, você pode ver o emissor (o menino que fala com a menina), a mensagem (o que ele conversa com ela), o canal (que é natural, por meio da fala), além do código (que é um conjunto de signos verbais), do referente (que é textual) e do destinatário (que é a Mafalda). FIGURA 2 Saiba mais Para saber mais sobre outros modelos de comunicação, leia Elementos de Teoria e Pesquisa da Comunicação e dos Media (SOUSA, 2006). Ruídos na comunicação Para que haja êxito na comunicação, todos os elementos precisam funcionar. Portanto, não podem ser perturbados por alguma barreira ou obstáculo. Quando isso acontece, se fala que há um ruído na comunicação. O ruído se trata de qualquer perturbação que impeça a mensagem de chegar devidamente ao receptor, interferindo na comunicação como um todo. As causas dessas barreiras podem ser inúmeras. Sousa (2006) explica que qualquer tipo de comunicação pode sofrer com ruídos, e, por vezes, algumas barreiras chegam a impedir a comunicação ou mesmo afetar a fluidez das trocas comunicacionais. Conforme o autor, essas barreiras podem ser (SOUSA, 2006): Físicas, como um obstáculo entre dois interlocutores que os impede de dialogar. Por exemplo: a queda no sinal de um telefone quando se está conversando via telefonia, ou a queda da internet, quando o diálogo se dá por redes sociais. Culturais, como o desconhecimento do código de comunicação dentro de uma cultura (saber uma língua, por exemplo, nem sempre é garantia suficiente para interpretar adequadamente uma mensagem). Por exemplo, um morador de Portugal e uma pessoa que vive no Brasil podem não se entender, mesmo falando a língua portuguesa. Isso ocorre pois em cada cultura determinados termos significam coisas diferentes, dificultando o entendimento. Pessoais, como a maneira de estar, de ser e de agir de cada sujeito envolvido na relação de comunicação, bem como as capacidades ou deficiências físicas pessoais que facultam ou dificultam a comunicação, etc. Por exemplo: uma pessoa que não sabe a língua de sinais terá dificuldades para conversar com alguém que usa a Libras. Psicossociais, como o estatuto e o papel social que os sujeitos envolvidos na relação comunicacional atribuem uns aos outros. Estes marcam uma dada distância social, ou a saturação dos sujeitos envolvidos na comunicação em relação ao tema que motiva o ato comunicacional. Problemas de relacionamento podem ser um exemplo de barreira causada por questões psicossociais. FIGURA 3 Teoria da comunicação: função da linguagem. Elementos da comunicação É impossível falar sobre funções da linguagem sem abordar os elementos da comunicação. Afinal, cada um deles dá origem a uma função linguística. Esses atos comunicativos podem acontecer de maneira intuitiva ou com alguma intenção, seja ela explícita ou não. Como você pode ver na Figura 1, Jakobson (2005) elaborou um esquema para explicar como operam os seis fatores essenciais para que a comunicação se realize, os chamados elementos da comunicação: FIGURA 1 De acordo com o modelo, a mensagem precisa de um contexto. Ou seja, deve se referir a algo externo a ela mesma. Quanto ao contato, ele representa o canal físico em que a mensagem circula e as ligações psicológicas entre destinador e destinatário. Isso significa que ambos só percebem a mensagem porque dominam o mesmo código. Veja cada um dos elementos descritos: Emissor: também conhecido como referente, é quem emite a mensagem; pode ser um indivíduo ou um grupo. Mensagem: é o objeto da comunicação e é constituída pelo conteúdo das informações. Ou seja, é o conteúdo que o emissor quer transmitir. Canal: é a via de circulação da mensagem (voz, ondas sonoras, uma folha de papel, um blog, um livro). É o meio pelo qual a mensagem é transmitida. Pode ser por ar (ao falar), jornal, televisão, revista, internet, rádio, etc. Código: é o conjunto de regras, de signos e códigos utilizados para formar a mensagem. Para que a comunicação seja bem-sucedida, é preciso que o receptor compreenda o código usado pelo emissor. Como exemplo de código, você pode considerar: letras, idiomas, código Morse, etc. Referente: é constituído pelo contexto, pela situação e pelos objetos aos quais a mensagem está relacionada. Destinatário: é aquele que recebe a mensagem, também chamado de receptor; pode ser uma pessoa ou grupo de pessoas. Para Jakobson (2005), cada um desses seis fatores determina uma diferente função da linguagem, como você verá na próxima seção. Funções da linguagem por Roman Jakobson Lev Jakubinskij, em 1916, propôs, pela primeira vez, uma teoria que diferenciava um sistema de linguagem prática de um sistema de linguagem poética. Um pouco mais tarde, em 1921, Jakobson afirmou ser a poesia uma linguagem que se valia da função estética, num sentido autônomo da palavra sintonia. Entre os anos de 1933 e 1934, o teórico identificou na poesia a função poética da linguagem, que se caracteriza como palavra e sintaxe que possui peso e valor próprios. Já em 1935, o formalista russo voltou a afirmar que o uso dominante da função poética da linguagem é da natureza da poesia, num sentido em que a linguagem se apresenta orientada para o signo enquanto tal. Anos depois, em 1960, Jakobson retomou suas teorias sobre a função estética da linguagem no estudo “Linguística e poética”, com quadro teórico baseado na Linguística Geral e na Teoria da Comunicação (ANDRADE; MEDEIROS, 1997). Então, partindo dos seis elementos, Jakobson (2005) elaborou estudos sobre as funções da linguagem, necessárias para a análise e a produção de textos. De acordo com o autor, as seis funções da linguagem são (JAKOBSON, 2005): função referencial, função emotiva, função conativa ou apelativa, função fática, função metalinguística e função poética. Em todo processo de comunicação, a linguagem é expressa de acordo com a função que se deseja enfatizar. No momento em que se estabelece uma comunicação verbal, um dos elementos apresentados prevalece e determina uma das funções. De acordo com esse modelo, a mensagem é o elo entre emissor e receptor. Desse modo, o esquema de comunicação de Jakobson (2005), se preenchido pelas funções da linguagem no lugar dos elementos, ficaria como na Figura 2. FIGURA 2 Ou seja, cada elemento comunicativo possui intrinsecamente uma função. Observe a Tabela 1: TABELA 1 A seguir, você pode conhecer melhor cada uma das funções da linguagem. Função referencial: está relacionada ao referente, que é o objeto ou a situação de que a mensagem trata. A função referencial privilegia justamente o referente da mensagem, buscando transmitir informações objetivas sobre este. A função referencial, voltada ao contexto, predomina nos textos de caráter científico, em textos dissertativos, técnicos e instrucionais. Além disso, é privilegiada nos textos jornalísticos, como notícias, reportagens. Exemplo (G1 RS, 2017): Começa campanha de arrecadação para projeto de Memorial às Vítimas da Kiss Publicada em 21/08/2017 às 07h01mG1/RS A construção do Memorial às Vítimas da Kiss, para lembrar dos 242 mortos no incêndio da boate em Santa Maria em 2013, terá financiamento coletivo. A arrecadação começa nesta segunda-feira (21), com o lançamento de uma campanha para levantar os fundos. Um evento na Praça Saldanha Marinho, no centro da cidade, marcou o início da campanha pela manhã. A captação de recursos deve ocorrer até outubro. A iniciativa é da Associação dos Familiares de Vítimas e Sobreviventes da Tragédia de Santa Maria (AVTSM). Função emotiva: com foco no emissor, é conhecida também como função expressiva. Imprime no texto as marcas de sua atitude pessoal, de sua subjetividade, como emoções, avaliações, opiniões. Ao ler o texto, o leitor sente a presença do emissor. É geralmente escrita em primeira pessoa e usa pontuações como as reticências e a exclamação. Como exemplos, você pode considerar: músicas, depoimentos, relatos, poesias. Exemplo (SEIXAS, 1976): Eu nasci há dez mil anos atrás (Raul Seixas) Um dia, numa rua da cidade, eu vi um velhinho sentado na calçada Com uma cuia de esmola e uma viola na mão O povo parou pra ouvir, ele agradeceu as moedas E cantou essa música, que contava uma história Que era mais ou menos assim: Eu nasci há dez mil anos atrás e não tem nada nesse mundo que eu não saiba demais. Função conativa ou apelativa: procura organizar o texto de forma que o emissor se imponha sobre o receptor da mensagem, com o intuito de persuadi-lo, seduzi-lo, influenciá-lo, convencê-lo, manipulá-lo. Nas mensagens em que predomina essa função, se busca envolver o leitor com o conteúdo transmitido, o levando a adotar este ou aquele comportamento. Alguns tipos de textos que possuem a função conativa ou apelativa são as campanhas publicitárias e as campanhas políticas. Observe um exemplo na Figura 3. FIGURA 3 Função fática: está ligada ao canal de comunicação. Essa função acontece quando a mensagem se orienta sobre o canal de comunicação ou contato, buscando verificar e fortalecer sua eficiência. Normalmente, é usada quando o emissor testa o canal, com o objetivo de manter a comunicação. Exemplo: “Alô”, “Oi?”, “Entendeu?”, “Hum”. Exemplo (MENDEZ, 2010): Trecho de “Fofinhos”, de Luís Fernando Veríssimo — Alô, boneca. Silêncio — Eu topo Mais silêncio. — Como é, vamos? — O senhor quer fazer o favor de me deixar em paz? — Ah, quer dizer que o decalco aí atrás é falso? — Por favor... — O tal “Siga-me, estou indo para o motel” é papo furado, hein? Função metalinguística: nessa função, o emissor explica um código usando o próprio código. É a mensagem sobre a mensagem. A linguagem se volta sobre si mesma, se transformando em seu próprio referente. Quando isso acontece, ocorre a função metalinguística. Como exemplo, você pode considerar: textos sobre escrita, filmes sobre a indústria cinematográfica. Exemplo (DICIONÁRIO AURÉLIO DE PORTUGUÊS ONLINE, 2017): Verbete de dicionário Língua: s.f. Sistema de comunicação comum a uma comunidade linguística. Função poética: essa função é capaz de despertar no leitor prazer estético e surpresa. Ela se expressa na estrutura da mensagem. Assim, se utiliza da criação de ritmos, rimas, trocadilhos, tonalidade, etc. A manifestação da função poética da linguagem ocorre quando a mensagem é elaborada de forma inovadora e imprevista, utilizando combinações sonoras ou rítmicas, jogos de imagem ou de ideias. Como exemplo, você pode considerar poesias e campanhas publicitárias, como a da Figura 4 FIGURA 4 Fique atento Mesmo que cada função esteja ligada a um elemento comunicativo, elas não são exploradas isoladamente. De modo geral, ocorre a superposição de várias delas. O que acontece é que uma se sobressai, o que permite a identificação da finalidade principal do texto. Saiba mais Saiba mais sobre as funções da linguagem em Do texto ao texto: curso prático de leitura e redação (INFANTE, 1998). Intenções do emissor Considerando o arcabouço teórico de Roman Jakobson (2005), você certamente já compreendeu que todo evento comunicativo se constitui por um emissor, que tem o intuito de transmitir determinada mensagem a um receptor, dentro de um determinado contexto. Para tanto, o emissor utiliza um código e envia sua mensagem por um canal. Para o estudioso, dependendo da intenção de quem fala ou escreve, ou seja, do emissor, um desses elementos comunicativos será enfatizado nesse circuito. Nessa esteira, para compreender a mensagem e aprimorar o processo de leitura e produção de textos, é imprescindível entender as intencionalidades do emissor. Tais intenções podem ser inúmeras, como emocionar, esclarecer, persuadir, informar, manter contato, encantar, manipular, entre outras. Por exemplo, se o emissor pretende emocionar o receptor, a ênfase será no uso de verbos em primeira pessoa. Além disso, ele falará dos seus sentimentos, emoções e posicionamentos. Ainda que o foco da ação comunicativa seja um só, no caso do exemplo, de emocionar, a mensagem pode servir para várias outras funções. Assim, você dificilmente encontrará uma única função da linguagem; o que terá é apenas a prevalência de uma sobre as outras. Sobre isso, Chalhub (1990, p. 8) diz que: Numa mesma mensagem [...] várias funções podem ocorrer, uma vez que, atualizando concretamente possibilidades de uso do código, entrecruzam-se diferentes níveis de linguagem. A emissão, que organiza os sinais físicos em forma de mensagem, colocará ênfase em uma das funções – e as demais dialogarão em subsídio. Nesse sentido, a ênfase dada a um dos elementos na construção da mensagem não descarta o uso dos outros. O que ocorre é que a utilização de mais de um elemento colabora para o resultado final proposto pelo emissor Fique atento A partir da intencionalidade, o emissor fará escolhas linguísticas para chegar ao seu objetivo. Assim, ao enfatizar algum recurso, ele necessita ativar sua capacidade criativa e levar em consideração se o receptor terá capacidade de responder a ela. Comunicação, expressão e diversidade linguística. Variação linguística Uma língua viva sempre apresenta variações. Isso significa que, enquanto uma língua tiver falantes nativos, ela será dinâmica e heterogênea (FARACO, 2008). Com o passar do tempo, ela passará por mudanças e, se estas forem grandes demais, pode até se tornar uma outra língua, ou outras, como aconteceu, por exemplo, com o Latim e as línguas românicas que dele se originaram. Se você ler um texto de épocas passadas, poderá encontrar diferenças, tais como aquelas encontradas em palavras, expressões, até mesmo na estrutura (para exemplos ver textos de romances do período Realista ou Naturalista, como os de Machado de Assis e Aluísio de Azevedo). Essa diferença pode ser observada também entre falantes de diferentes gerações. A língua também é influenciada pelo espaço. Pense em um lago e em atingir sua superfície atirando várias pedras. Cada uma delas gerará ondulações e, em alguns pontos, irão se encontrar e se afetar umas às outras. Com a língua ocorre um fenômeno análogo, zonas próximas apresentam maior similaridade e são reconhecidas e diferenciadas, porém,conforme se afastam, as diferenças vão se tornando maiores, devido à experiência dos falantes, assim como a influência de outras comunidades linguísticas, de outras línguas. Nesse aspecto, o processo de colonização, imigração e migração, assim como a presença de diferentes tribos autóctones, tem fortes consequências. É possível observar a distância entre as diferentes regiões do país, e, até mesmo, dentro dos estados. Outra grande variável que se pode elencar é quanto ao indivíduo. Nesta, é possível identificar a influência do lugar onde o indivíduo cresceu, seu grau de contato com a cultura letrada, seu círculo social (mais informal, menos informal, entre outros). Esse âmbito é o que permite a identificação de estilo de um indivíduo inserido em uma comunidade linguística, ou seja, o que o distingue linguisticamente (ainda que não exclusivamente). Fique atento Comunidade linguística é um agrupamento de falantes que têm características linguísticas em comum (BELINE, 2014). Qualquer língua que ainda seja natural (diferentemente de línguas artificiais, como Klingon e Dothraki) tem variação, isto é, varia no tempo e no espaço (objeto de estudo da sociolinguística variacionista) e também de um indivíduo para outro, modificando-se até quando utilizada por um mesmo indivíduo em diferentes situações (objeto de estudo da sociolinguística interacional). Linguisticamente, não há uma variedade linguística melhor, mais bonita ou mais desenvolvida do que outra. Qualquer que seja a variedade, ela será igualmente válida, rica e desenvolvida. A valorização de uma em detrimento de outra é social, isto é, a sociedade (ou parte dela) que classifica uma variedade positiva ou negativamente. Algumas variedades são estigmatizadas, como, por exemplo, as do interior dos estados em relação às das regiões metropolitanas, as de classes sociais menos prestigiadas e menos escolarizadas em relação às mais prestigiadas e mais escolarizadas (BAGNO, 1999; FARACO, 2008; GÖRSKI; COELHO, 2009). É comum, com essa postura, encontrar afirmações como: “eu não sei português”, “fala feio”, “antes de aprender inglês, francês, tinha que aprender português”, “matou a língua portuguesa”; todas com relação a falantes nativos. Ao dizer isso, a pessoa expõe desconhecimento sobre a realidade linguística e também sobre o preconceito linguístico. De acordo com Görski e Coelho (2009, p. 82), “[...] muitas pessoas acham que falar uma variedade diferente da variedade padrão é um problema sério para a sociedade, uma manifestação de inferioridade. Sempre que isso acontece, a língua se torna um veículo de preconceitos e exclusões.” Segundo Faraco (2008), todas as variedades linguísticas têm uma própria norma, isto é, um conjunto de características que lhes são normais, envolvendo aspectos fonéticos (identificados no sotaque), lexicais, semânticos, sintáticos e, às vezes, até pragmáticos. Contudo, saindo do âmbito linguístico, norma é entendida como um conjunto de regras que normatizam a forma como os falantes deveriam utilizar a língua. Esse tipo é chamado pelo autor de norma padrão, um “ideal” artificial que, apesar de defendido, nenhum falante utiliza de fato (é aquela encontrada nas gramáticas mais tradicionais, normativas e não linguísticas). Para ele, a norma associada aos grupos mais escolarizados é a norma culta. Essa seria comum aos falantes de áreas urbanas em situações mais formais, principalmente na escrita, e seria balizada pela linguagem urbana comum. Modalidades da língua Além da variação que as línguas apresentam, elas também podem ter mais de uma modalidade. A língua portuguesa, por exemplo, apresenta as modalidades oral e escrita, mas nem todas as línguas são assim. Algumas apresentam apenas a modalidade oral, sendo denominadas ágrafas. A modalidade oral, sempre primeira com relação à escrita, sofre e aceita mudanças muito mais rapidamente. Ela é mais dinâmica, seja por ser mais propensa à variação e à mudança, seja por causa do “jogo” comunicativo como palco e fonte. Ela influencia as mudanças na modalidade escrita, que, por sua vez, tem o poder de “frear” a modalidade oral. Com o advento da imprensa, esse poder foi intensificado. Entretanto, a modalidade escrita continua sendo uma representação da oral, dependendo de convenções para sua inteligibilidade (como ortografia e uso do mesmo alfabeto), bem como para questões políticas. Fique atento A Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS) é, como o nome diz, uma língua, e não uma modalidade da língua portuguesa. A LIBRAS apresenta, como qualquer outra língua, os sistemas fonológico (em sentido um pouco diferente), morfológico, sintático e semântico. Além disso, ela é uma língua natural e, consequentemente, também apresenta variação. Apesar de a modalidade oral ser mais identificada em registros mais informais, ela também ocorre em situações mais formais. Da mesma forma, a modalidade escrita, que é mais identificada em registros formais, ocorre em situações mais informais. Assim, uma conversa de texto por aplicativos e redes sociais irá se aproximar mais da oralidade, ao passo que uma palestra acadêmica, da escrita. Essa identificação advém de a oralidade permitir a realização da comunicação linguística de modo mais natural, menos rígido e menos regrada quando comparada com a escrita, principalmente quando se desconsidera a mudança que a cultura digital trouxe. Antes, por exemplo, não era considerado diálogo uma conversa que não fosse feita pessoalmente ou por telefone, entretanto, com a mudança de paradigma causada pela cultura digital, é contrassenso não considerar como diálogo as conversas por aplicativos, como Whatsapp, Messenger, entre outros. Desconsiderando-se um pouco o paradigma da cultura digital, qualquer produção, seja oral ou escrita, tem uma audiência (um destinatário) real ou imaginário. Algumas manifestações permitem uma interação maior entre os envolvidos, que, então, intercalam-se no papel de locutor e interlocutor. Na modalidade oral, quanto mais informal for a situação, mais interrupções e sobreposições serão possíveis. Além disso, é comum mudanças de estilo estrutural, sentenças incompletas na oralidade, que, na escrita, tornam-se difíceis de compreender. A escrita, enquanto representação da fala, apresenta menor possibilidade de interferência, mas permite que se pense, planeje e revise o texto antes de liberá-lo. Adequação linguística No âmbito acadêmico e profissional, você terá de lidar com situações que exigirão uma ou outra modalidade (ou até as duas, em conjunto). Seja qual for a modalidade a ser usada e em qual situação, a adequação linguística será fundamental. O uso da língua por um falante é sempre influenciado por uma série de fatores, alguns dos quais foram mencionados anteriormente. Em certas situações, é esperado o uso de um nível de fala mais formal, assim como uma determinada norma, como a culta, ao passo que, em outras, ocorre o oposto. Essas escolhas seriam feitas tendo em vista um fi m comunicativo, em outras palavras, como atingir da melhor forma um objetivo (ou uma série deles). Quanto a isso, até mesmo a escolha por não seguir o que se esperaria pode ser um meio de conseguir sucesso. Fique atento Tipos de variação Variação diatópica é aquela que ocorre em decorrência da região, porexemplo: jerimum versus abóbora, mexerica versus bergamota, rótico velar (“erre” forte — comum no Rio Grande do Sul) versus rótico uvular (“erre” forte, caipira — comum no interior paulista), etc. Variação diastrática é aquela comum a estratos sociais, por exemplo: classes mais ou menos prestigiadas, advogados, influenciadores digitais (que ainda varia de acordo com o campo de interesse), etc. Variação diafásica é aquela que ocorre em função do contexto comunicativo, por exemplo: mais ou menos informal, mais ou menos afetiva, mais ou menos técnica, etc. Variação de registro é um tipo de variação diafásica e diz respeito ao nível de formalidade ou de informalidade. A experiência permite que o falante force os limites entre normas e entre níveis de fala, do mais formal ao mais coloquial. Entretanto, quando ainda não se tem essa experiência, algumas orientações se tornam úteis. Algumas são mais ou menos assumidas como instintivas, outras já seguem certos padrões estabelecidos (por exemplo, por gêneros textuais ou por contexto comunicativo). O meio acadêmico apresenta uma grande variação de contextos comunicativos, de conversas informais com amigos a produções formais, como tese de doutorado e respectiva defesa oral. Considerando-se os textos e discursos comuns a esse meio, alguns permitirão uma linguagem coloquial, enquanto outros, não, de uma linguagem urbana comum à norma culta. No Quadro 1, são apresentados alguns gêneros textuais, uma breve definição e a linguagem esperada. Gênero textual – Caracterização – Linguagem Memorial - Do tipo acadêmico, é uma apresentação textual da trajetória acadêmica de uma pessoa de modo mais detalhado do que o currículo (que apresenta os dados através de tópicos). - Norma culta. Resumo - Apresenta as principais ideias de um outro texto ou trabalho, de modo conciso, objetivo, coeso e coerente. - A linguagem tende a seguir o estilo do original, porém, do acadêmico, espera-se a norma culta. Entrevista - É um diálogo a princípio planejado, pois pelo menos uma das partes terá se preparado. Consiste em perguntas feitas a um entrevistado. Ela pode ser feita inteiramente de forma oral, mista (quando as perguntas são passadas por escrito para que o entrevistado possa se preparar, ou quando é transcrita) ou escrita. - A linguagem será determinada pelo contexto, mais informal ou mais formal. Em contexto acadêmico, é comum a entrevista de teóricos e pesquisadores, e, nesse caso, a linguagem será mais formal. Manifesto - É um texto em que um grupo de pessoas ou entidades expressam sua opinião sobre uma situação-problema. - A linguagem pode apresentar uma formalidade maior, por meio do uso da norma culta, ou um pouco menos formal, por meio da linguagem urbana comum. Ensaio - Consiste em um texto argumentativo acerca de um assunto. - Norma culta. Procuração - É um documento legal em que uma pessoa dá à outra o poder para tomar decisões, cuidar de propriedades ou negócios no seu lugar. - Linguagem mais formal, preferência da norma culta. Editorial - É um texto argumentativo que expressa a posição de um jornal ou revista sobre um assunto. - Linguagem mais formal, podendo apresentar elementos coloquiais, bem como se manter na norma culta. Edital - É um documento público que visa a comunicar, informar, convocar sobre determinado assunto. É comum em concursos, informando regras, requisitos, datas. - Norma culta. Certificado - É um documento comprobatório acerca da participação de alguém em algum evento ou acerca da verdade sobre algo. - Norma culta. Ata - É um registro resumido do que foi discutido ou tratado em uma reunião, assembleia, sessão. - Linguagem mais formal, preferência da norma culta. Unidade 2 Comunicação oral Elementos de variação linguística A necessidade de se comunicar é natural aos seres humanos. A fim de que diferentes formas de comunicação ocorram, ele utiliza linguagens. Por meio delas, é possível realizar trocas. A linguagem é a capacidade que o ser humano tem de se comunicar. Ela pode ser verbal e não verbal. Para Jakobson (2008), a linguagem é um dos sistemas de signos que pode ser usado como meio de comunicação entre sujeitos. Já o código é o conjunto de possibilidades que proporciona a comunicação e, junto com a linguagem, vai permitir que se construa uma língua. Esta caracteriza um povo, uma sociedade. A língua pode ser padrão, (ou língua formal e norma culta) ou informal (ou linguagem coloquial, a que se usa no dia a dia). Assim, o uso que cada indivíduo faz da língua é a fala, que pode ser também formal ou informal. Variação linguística é a capacidade que a língua tem de se transformar e se adaptar de acordo com alguns componentes, como o histórico, o social, o regional e o estilo por meio do qual os indivíduos se manifestam verbalmente. Ela é um movimento natural da língua, já que o sistema linguístico não é unitário e comporta vários eixos de diferenciação. Assim, a variação pode ocorrer em um ou em vários subsistemas de uma língua, seja fonético, morfológico, fonológico, sintático, léxico ou semântico, promovendo a evolução da língua. Níveis de variação linguística Todo idioma se estabelece em vários níveis. Estes estão relacionados à forma de pronunciar as palavras, que seria o nível fonético-fonológico. Também se relacionam com a maneira de organizar os enunciados, no caso a sintaxe. Além disso, têm relação com a maneira de escolher as palavras, que tange ao lexical ou vocabular. Ainda estão em jogo o modo de dar sentido aos vocábulos, que é o nível semântico, ou mesmo a maneira como a palavra é escrita ou utilizada, no caso o nível morfológico. Observe alguns exemplos: Nível fonético-fonológico: está relacionado à diversificação das maneiras de pronunciar palavras ou expressões. Por exemplo, gaúchos, cariocas e nordestinos falam de forma diferente. Nível morfossintático: ocorre na variação da estrutura dos enunciados, como na organização em períodos. Também há a conjugação de verbos irregulares como se fossem regulares. Exemplo: “manteu” em vez de “manteve”, “ansio” quando o correto é “anseio”. Outro exemplo é o fato de que em algumas regiões do Brasil se fala “você vai” e em outras “tu vais” ou “tu vai”. Nível vocabular: diz respeito à utilização de diferentes palavras para representar o mesmo objeto, fenômeno ou ser. Por exemplo: os termos moleque, garoto, menino e guri significam a mesma coisa, assim como mandioca, aipim e macaxeira. Outro exemplo de nível vocabular de variação linguística é o uso de gírias. Nível semântico: esse nível está relacionado à variação no sentido que as palavras adquirem ao longo do tempo, do espaço ou em diferentes grupos sociais. Em Portugal, por exemplo, se usa a palavra alcatrão com um sentido diferente do uso brasileiro. Aqui, alcatrão é um dos componentes do cigarro; lá, se refere ao asfalto. Tipos de variação linguística No Brasil, a língua portuguesa possui diversos linguajares e é falada de várias maneiras. Essas variações linguísticas são bastante evidentes. Afinal, cada região teve sua história socioeconômica e por isso possui peculiaridades linguísticas. Tais diferenças são compreendidas por meio dos elementos de variação linguística,como questões históricas, geográficas, sociais e de estilo. A variação linguística histórica é a maneira como a língua evolui ao longo do tempo. São as mudanças que a língua sofreu ao longo da história. Como exemplo, considere o pronome você. Ele se originou da expressão vossa mercê, passou para vosmecê, virou vancê e chegou ao termo que se usa atualmente: você. Isso quer dizer que a palavra evoluiu e se transformou ao longo do tempo. Já a variação regional é chamada também de diatópica. Ela está relacionada com palavras ditas em regiões diferentes, mas que significam a mesma coisa. Por exemplo: aipim, mandioca e macaxeira são três palavras diferentes usadas para designar a mesma coisa. Aqui também entra a parte fonética, como a forma de pronunciar certas letras. O “r” no meio das palavras, por exemplo, é pronunciado de forma diferente no Paraná e no Rio de Janeiro. Isso muda de acordo com a região. A variação social ou diastrática tem a ver com os diferentes grupos sociais e com os contrastes na linguagem. Pode ser por idade: quando o avô conversa com a neta, as falas são diferentes. Por exemplo: “Seu avô era um pão” e “Aquele menino é meu crush”. Saiba mais É difícil falar em diferenças culturais e variações de linguagem sem abordar o preconceito linguístico. O estudioso Marcos Bagno, em seu livro Preconceito linguístico: o que é, como se faz, recusa a noção que separa o uso da língua em certo e errado. O autor apresenta alguns mitos sobre o preconceito linguístico, de modo a instigar seu combate no dia a dia. Para Bagno, o preconceito linguístico está ligado, em boa medida, à confusão que foi criada, no curso da história, entre língua e gramática normativa. Para o autor, esse preconceito é alimentado diariamente, especialmente pela mídia e por livros e manuais que pretendem ensinar o que é “certo” e o que é “errado”. Além disso, os instrumentos tradicionais de ensino da língua, que são a gramática normativa e os livros didáticos, também contribuem para esse preconceito. De acordo com Bagno (1999), o preconceito linguístico se baseia na crença de que só existe uma única língua portuguesa digna deste nome. Esta seria a língua ensinada nas escolas, explicada nas gramáticas e catalogada nos dicionários. Para Bagno (1999, p. 42): “Qualquer manifestação linguística que escape desse triângulo escola-gramática- - dicionário é considerada, sob a ótica do preconceito linguístico, ‘errada, feia, estropiada, rudimentar, deficiente’, e não é raro a gente ouvir que ‘isso não é português’. Um exemplo. Na visão preconceituosa dos fenômenos da língua, a transformação de L em R nos encontros consonantais como em Cráudia, chicrete, praca, broco, pranta é tremendamente estigmatizada e às vezes é considerada até como um sinal do ‘atraso mental’ das pessoas que falam assim. Ora, estudando cientificamente a questão, é fácil descobrir que não estamos diante de um traço de ‘atraso mental’ dos falantes ‘ignorantes’ do português, mas simplesmente de um fenômeno fonético que contribuiu para a formação da própria língua portuguesa padrão.” Classe social também pode apontar variações de linguagem. Isso tem a ver com o tipo de cultura com que você tem contato. Além disso, o grupo social em que os indivíduos estão inseridos, como nerds, skatistas, surfistas, indica variação. Se você não faz parte de determinado grupo, pode não entender parte da linguagem utilizada por ele. A variação de estilo ou diafásica é a que tem relação com a situação de uso da língua, do que é e do que não é adequado. O estilo pode ser formal e informal, padrão e não padrão, coloquial e culto. O modo de usar a língua vai se adequar ao momento. Por exemplo: diante de um juiz, o sujeito vai formalizar a língua, mas quando está com a família, amigos ou em intimidade, a tendência é falar informalmente. Saiba mais Você pode encontrar os mesmos tipos de variação com outros termos, escritos por outros teóricos, como Marcos Bagno. O pesquisador explica que há diferenças entre os termos utilizados nas definições de variações linguísticas. Observe (BAGNO, 2007): Dialeto: uso da língua em determinada região. Socioleto: variedade linguística de determinado grupo com características (sociais, profissionais, econômicas) comuns. Cronoleto: variedade de certa faixa etária. Idioleto: modo de falar característico de um indivíduo. Fique atento A transcrição da língua falada é um recurso cada vez mais explorado pela literatura, tendo em vista a vivacidade que dá ao texto. Observe, no trecho a seguir, algumas das características da língua falada. Você pode perceber, por exemplo, o uso de gírias e de expressões populares e regionais, além de incorreções gramaticais e repetições. “– Menino, eu nada disto sei dizer. A outro eu não falava, mas a ti eu digo. Eu não sei que gosto tem esse bicho de mulher. Eu vi Aparício se pegando nas danças, andar por aí atrás das outras, contar histórias de namoro. E eu nada. Pensei que fosse doença, e quem sabe não é? Cantador assim como eu, Bentinho, é mesmo que novilho capado. Tenho desgosto. A voz de Domício era de quem falava para se confessar: – Desgosto eu tenho, pra que negar?…” (REGO, 1979). Modalidades de fala e grau de formalidade As modalidades são as diferenças presentes entre fala e escrita. Isso porque na língua falada há, entre falante e ouvinte, uma interação direta. Já na língua escrita, a comunicação ocorre geralmente sem a presença de um dos sujeitos participantes. Estando próximos durante a troca, falante e ouvinte podem utilizar diversos outros elementos signifi cativos que complementam o discurso verbal no processo de comunicação. Há, por exemplo, gestos, entonação, expressões faciais, entre outros. Vistas como práticas sociais, já que o estudo da língua se funda em usos, as duas modalidades de fala da língua portuguesa são a oral e a escrita (MARCUSCHI, 2001, p. 1). Como manifestação da prática oral, a fala é adquirida de modo natural em contextos informais do dia a dia. Também se desenvolve nas relações sociais que se estabelecem desde o momento em que uma criança nasce e tem os primeiros contatos com a mãe. Desse modo, o uso da língua natural e o aprendizado são formas de socialização e inserção cultural. É necessário identificar os elementos que fazem parte da situação comunicativa para compreender e analisar adequadamente um texto, seja ele falado ou escrito. Nesse caso, os componentes seriam falante – ouvinte/escritor – e leitor. Além disso, é importante considerar as condições em que cada texto foi produzido. São elas que possibilitam a ação social ou de interação que é estabelecida entre os sujeitos. Além disso, elas são distintas em cada modalidade. A fala, por exemplo, possui como características, entre outras tantas, o uso da palavra sonora e a interação face a face. Portanto, requer a presença dos interlocutores no mesmo espaço físico e de tempo; o planejamento simultâneo ou quase simultâneo à execução; a espontaneidade e o imediatismo. Além disso, pode ser repetitiva e redundante. Ela considera o contexto extralinguístico e possui recursos como signos acústicos e extralinguísticos, gestos, entorno físico e psíquico. No texto oral, você pode encontrar características inerentes à língua falada. Há, por exemplo, os marcadores conversacionais. Elessão elementos típicos da fala que não integram o conteúdo do texto, apresentando valor tipicamente interacional. Por exemplo: “bom”, “eu acho que”, “quer dizer”, “então”, “entende?” e “né?”). Há também as marcas prosódicas. Elas estão relacionadas à pronúncia. Um exemplo são os alongamentos, como nos termos “ouVIR::” e “faLAR::” (marcados com ::). Outros exemplos são a entonação enfática, assim como nas palavras do exemplo anterior, “ouVIR::” e “faLAR::” (marcado com ::); e as hesitações, como “na medida em que... ahn” (uso do marcador “ahn” associado ao alongamento é uma marca prosódica). Outra característica é a repetição. Por exemplo: “O rádio de pilha, né? Quer dizer, o rádio de pilha”. A correção é outra das características, por exemplo: “O rádio eu acho que tem um papel até... numa certa medida... ele provocou pelo alCANce que tem uma revolução até maiOr do que a televisão...”. E há ainda a paráfrase. Ela é a relação de equivalência semântica: “através do rádio de pilha... ele pôde se ligar ao resto do mundo, saber que existem outros lugares, outras pessoas, que existe um governo...” (ANDRADE, 2011). Você deve observar também os graus de formalidade que se usam na fala. Geralmente, em uma situação formal, o indivíduo culto procura seguir as regras da língua e conversar usando a norma culta, procurando também não usar vocabulário vulgar. Há pelo menos dois níveis de língua falada: a culta ou padrão e a coloquial ou popular. Além dessas, a linguagem coloquial também é registrada quando há o uso de gírias, na linguagem familiar, na linguagem vulgar e nos regionalismos e dialetos. Fique atento De acordo com Marcuschi (2000), tanto a variedade escrita quanto a falada apresentam: língua padrão/variedades não padrão; língua culta/língua coloquial; norma padrão/ normas não padrão. Afinal, a língua em si não é um sistema único e abstrato, mas heterogêneo e repleto de variação. Com relação às nomenclaturas, Bagno (2001) questiona a que tipo de norma culta se referem aqueles que lidam direta ou indiretamente com a língua portuguesa, já que há dois sentidos para o termo: (1) o que é norma, frequente e habitual; ou (2) o que é normativo, elaborado, regra imposta. De acordo com o teórico, o primeiro conceito está ligado à linguagem que é empregada para designar formas linguísticas existentes na realidade social. Já o segundo sentido é o mais difundido. Ele tem circulação maior na sociedade e já se tornou senso comum, virando mais um preconceito do que um conceito. Isso pois trata a língua como única e estática, como se existisse apenas uma maneira certa de falar ou discorrer. Bagno propôs novas nomenclaturas, pois percebeu alguns impasses no uso da norma culta. Observe: Norma-padrão: designa o modelo ideal de língua; algo que está fora e acima da atividade linguística dos falantes. Variedades prestigiadas: indicam as variedades linguísticas faladas pelo cidadão com alta escolarização e vivência urbana. Variedades estigmatizadas: assinalam as variedades linguísticas que caracterizam os grupos sociais desprestigiados do Brasil. FIGURA 1 Você pode observar que existe uma zona intermediária entre as variedades prestigiadas e as estigmatizadas. As influências de umas sobre as outras são intensas e constantes. Para Bagno (2001, p. 80), “Isso é mais do que natural numa sociedade complexa como a brasileira contemporânea, sobretudo por causa dos meios de comunicação de massa (principalmente a televisão e o rádio)”. A norma padrão fica no alto, na estratosfera da abstração, do virtual. Para o teórico, ela exerce uma influência muito forte sobre o imaginário de todos os brasileiros. Porém, essa influência diminui na medida em que se afasta das camadas sociais privilegiadas. Essa norma-padrão está ligada à escola, ao ensino formal. Só se aproximam dela os brasileiros que conseguiram passar pelo funil da educação formal, percorrendo até o fim o trajeto de formação escolar. Por outro lado, há autores que apontam três níveis de linguagem que colaboram para compreender como o indivíduo falante pode se manifestar em diferentes situações. De acordo com Preti (1994), é possível dividir os níveis de fala em espécies. Observe: Formal (ou culto): usado em situações de formalidade, possui o predomínio de linguagem culta, ou seja, obedece à gramática normativa. Geralmente é usado em situações que exigem tal posicionamento do falante, como em discursos, sermões, apresentações de trabalhos científicos. Coloquial (ou informal): é habitual em situações familiares ou de menor formalidade. Tem predomínio de linguagem popular, linguagem afetiva, expressões obscenas. É a manifestação espontânea da língua. Nela, os falantes usam gírias, vocabulário às vezes pejorativo, formas subtraídas ou cortes das palavras e conjugação verbal inadequada. Também é pontuada por problemas de concordância verbal e nominal e outras marcas da oralidade, como “né”, “daí”, “a gente”, etc. Esse nível independe de regras e está presente nas conversas entre amigos e familiares, por exemplo. Na internet, é comum encontrar o nível coloquial em textos de diálogos, ou em redes sociais e em programas de mensagens instantâneas. Comum: recebe contribuições de um e de outro. FIGURA 2 Gêneros de cunho oral, textual e híbrido Ao compreender como é a funcionalidade dos textos na interação dos indivíduos, você também investiga os diferentes textos utilizados para a comunicação na sociedade. Isso leva a uma discussão sobre gêneros, já que eles estão presentes em todas as circunstâncias e ações humanas. Afinal, em qualquer lugar em que exista linguagem, há gêneros textuais ou discursivos, orais ou escritos. Como as esferas de produção da linguagem são diversas, também há uma multiplicidade de gêneros em diferentes situações e em formatos diversos. No supermercado, por exemplo, você encontra panfletos, placas, indicações de ofertas e a conta no caixa. Desse modo, cada esfera elabora seus gêneros. E faz isso conforme aspectos sociais próprios, finalidades comunicativas e especificidades das situações de interação em que os enunciados estão sendo produzidos. A denominação de gênero discursivo foi apresentada pela primeira vez pelo autor russo Mikhail Bakhtin (1979). Ele caracterizou os gêneros como tipos relativamente estáveis de enunciados. De acordo com o teórico, os gêneros de que os interlocutores sociais fazem uso nas interações verbais são tão variados e heterogêneos quanto a diversidade de esferas de circulação social nas interações verbais e as diferentes atividades humanas. Para Bakhtin (1979), nas inúmeras esferas de circulação, o uso da língua ocorre ou em forma de enunciados ou pela heterogeneidade de gêneros que os constitui. Você pode encontrar uma diversidade de gêneros discursivos que se modificam e se ampliam, dependendo dos contextos social e histórico em que circulam, conforme as condições e finalidades de cada uma das esferas. Saiba mais Circulando em diferentes esferas, os gêneros refletem o conjunto de temas e relações possíveis nas formas de enunciar ou dizer algo. Assim, o enunciado está sempre nas relações sociais. Ele constitui a unidade formal da língua e incorpora o estilo, a composição e o tema. Bakhtin considerava esses aspectos indissoluvelmente vinculados. Também afirmavaque eles se concretizam em forma de gêneros. De acordo com o teórico Marcuschi (2005), os gêneros surgem como formas da comunicação para atender a necessidades de expressão do ser humano. Eles são conformados por influência do contexto histórico e social das diversas esferas da comunicação humana. Para o estudioso, os gêneros textuais são como “[...] entidades sociodiscursivas e formas de ação social incontornáveis de qualquer situação comunicativa [...]” (MARCUSCHI, 2005, p. 19). Isso quer dizer que os gêneros podem se modificar com o passar do tempo. Eles podem surgir e desaparecer, além de se diferenciar de uma cultura para outra. São dinâmicos e heterogêneos, variando de um diálogo informal até as teses de doutorado, por exemplo. Você pode encontrá-los nas formas oral, escrita e híbrida. Para Marcuschi (2008), não existe comunicação que não seja feita por meio de algum gênero. Mesmo um indivíduo falante que não possua saber técnico tem capacidade para se comunicar e ser compreendido por seu interlocutor. Marcuschi (2002, p. 22-23) explica que: Usamos a expressão gênero textual como uma noção propositalmente vaga para referir os textos materializados que encontramos em nossa vida diária e que apresentam características sócio- comunicativas definidas por conteúdos, propriedades funcionais, estilo e composição característica. Exemplo De acordo com o Marcuschi (2005), alguns exemplos de gêneros textuais seriam: telefonema, sermão, carta comercial, carta pessoal, romance, bilhete, reportagem jornalística, aula expositiva, reunião de condomínio, notícia jornalística, horóscopo, receita culinária, bula de remédio, lista de compras, cardápio de restaurante, instruções de uso, outdoor, inquérito policial, resenha, edital de concurso, piada, conversação espontânea, conferência, carta eletrônica, bate-papo por computador, aulas virtuais e assim por diante. Marcuschi (2008) explica que os gêneros orais e escritos estão relacionados, mas fala e escrita não são idênticas. O que dá tal classificação para cada uma é a forma em que se originou. Por exemplo, um texto jornalístico não deixa de ser um texto escrito por ter sido apresentado em um telejornal. Existem gêneros das culturas orais que nunca farão parte de culturas caracteristicamente escritas, e vice-versa. Também é importante você lembrar que a fala nem sempre reproduzirá a escrita, ou a escrita reproduzirá a fala. Elas podem caminhar juntas sem anular as peculiaridades de uma ou outra. Por outro lado, Marcuschi (2008) indica que os gêneros textuais não podem ser considerados estanques. Eles são como entidades dinâmicas da materialização de ações comunicativas. Podem ser híbridos, de modo a atingir determinados objetivos comunicativos. Estratégia de leitura – leitura oral e textual Estratégias de leitura: concepções A leitura é um processo em que o leitor constrói significados para o texto. Para isso, deve considerar o conhecimento que possui sobre o tema, o autor, o sistema de escrita e o gênero textual. O leitor também deve considerar o que busca no texto. As informações do texto não são extraídas a partir de cada letra ou de cada palavra, mas do significado que juntas formam. De acordo com as pesquisadoras Marisa Lajolo e Regina Zilberman (1982), a leitura é um processo de interlocução que ocorre entre leitor e autor por meio da mediação do texto. Nas palavras das teóricas (LAJOLO; ZILBERMAN, 1982, p. 59): Ler não é decifrar, como num jogo de adivinhações, o sentido de um texto. É, a partir do texto, ser capaz de atribuir-lhe significado, conseguir relacioná-lo a todos os outros textos significativos para cada um, reconhecer nele o tipo de leitura que seu autor pretendia e, dono da própria vontade, entregar-se a esta leitura, ou rebelar-se contra ela, propondo outra não prevista. Cavalcante Filho (2011) explica que ler adequadamente vai além de apenas ser capaz de decodificar palavras ou expressões ordenadas linearmente em sentenças ou textos. “Se as pessoas lessem assim, não seriam capazes de perceber quando um texto é irônico, não entenderiam ‘indiretas’ e duplos sentidos, muitos avisos, e, além disso, a maior parte das piadas e textos de propaganda, por exemplo.” (CAVALCANTE FILHO, 2011, p. 1722). Desse modo, como você viu, a leitura é resultado de dois tipos de fatores: os propriamente linguísticos, que são os significados literais das palavras e os fatores sintáticos; e os contextuais ou situacionais, que podem ser de natureza bastante variada. A decodificação é apenas um dos artifícios usados na prática da leitura, pois esse processo envolve outras estratégias na construção de significados. As estratégias de leitura são técnicas utilizadas pelos leitores para adquirir uma informação. Além disso, podem ser consideradas procedimentos ou atividades escolhidas que facilitam o processo de compreensão da leitura. Elas se adaptam a diversas situações, variando conforme o texto lido e de acordo com a abordagem, que é previamente elaborada para facilitar a compreensão do leitor. Saiba mais De acordo com Solé (1998), na literatura especializada uma estratégia poderia ser considerada um procedimento e, na tradição psicopedagógica, “estratégias de leitura”. Existem estratégias que facilitam a compreensão do leitor a respeito do texto. De acordo com Solé (1998), essas estratégias podem ser invocadas antes da leitura para situar o leitor, estimulando-o para que assuma um papel ativo no processo. Durante a leitura, as estratégias podem atuar de modo que o leitor possa construir uma interpretação que o ajude a resolver problemas. Depois da leitura, elas podem unificar de forma concreta as etapas anteriores. De acordo com a autora (SOLÉ, 1998, p. 72): Consideramos as estratégias de compreensão leitora como um tipo particular de procedimento de ordem elevada. Como poderão verificar, cumprem todos os requisitos: tendem à obtenção de uma meta, permitem avançar o custo da ação de leitor, embora não a preservem totalmente; caracterizam-se por não estarem sujeitas de forma exclusiva a um tipo de conteúdo ou a um tipo de texto. Leitura moderna e tradicional: diferenças Conforme os estudos realizados na área da linguística foram evoluindo, os conceitos sobre leitura também sofreram variações. Nessa esteira, há três principais perspectivas de leitura que apareceram no decorrer do tempo: são a leitura ascendente (estruturalista), a leitura descendente (construtivista) e a leitura sociointeracionista (interacionista). A seguir, você vai conhecer melhor cada uma delas. Leitura ascendente: o ensino de leitura tradicional é fundamentado na concepção de leitura ascendente. De acordo com Kleiman (2002), alguns definem essa leitura como um processo de decodificação sonora das unidades linguísticas, e o sentido da leitura só pode sair da página impressa. É um processo sistêmico, no qual se identifica letra por letra, da esquerda para a direita, realizando uma decodificação. Isso significa que ler seria apenas perceber as informações que estão implícitas no texto. O leitor fica restrito a determinadasestruturas e só atingirá a compreensão e o sentido do texto a partir da formulação de perguntas superficiais, que possuem suas respostas em certos excertos do texto, o que não exige do leitor uma reflexão ou uma leitura mais atenta. Esse tipo de leitura também é conhecido como perspectiva do texto. Assim, o texto é, de acordo com Kleiman (2002), considerado um objeto completo. Quando os seus elementos são decodificados, dão o seu sentido, sem depender do leitor e das circunstâncias em que foi produzido. Leitura descendente: essa perspectiva de leitura segue uma linha construtivista, segundo Figueiredo (1985). Nessa linha, a leitura é considerada um complexo processo psicolinguístico, e o leitor atinge o sentido do texto a partir de seu conhecimento de mundo e da criação de hipóteses. Tal perspectiva de leitura é fundamentada em aspectos cognitivos e está centrada no leitor. Nesse processo, ele possui a função de dar significado ao texto, como em um jogo de adivinhação. Esse processo de leitura acontece de forma inconsciente pelo aluno, pois não é apresentado pelos professores. Desse modo, é necessário cuidado ao utilizar apenas esse modo de leitura. Isso pois o docente é como um facilitador do aluno no momento da leitura. Portanto, acredita que é o leitor que pode descobrir os significados e os sentidos do texto a partir de seu conhecimento próprio e da sua subjetividade. Essa perspectiva é centrada no leitor. Ele é a fonte dos sentidos, pois a compreensão parte da sua mente. De acordo com Goodman (1989) e Smith (1999), o leitor toma o texto somente para confirmar expectativas e hipóteses. Leitura sociointeracionista: essa perspectiva está relacionada com a psicolinguística, a teoria dos esquemas e a pragmática. Aqui, a leitura ocorre a partir dos dois movimentos anteriores: o ascendente e o descendente. Isso significa que ocorre uma integração entre a informação que o leitor encontra no texto impresso e o seu conhecimento de mundo, suas vivências. É o que se conhece por perspectiva moderna. Fique atento Como você viu, a leitura tradicional se trata de decodificar o texto, porém a moderna pretende que o leitor construa um sentido a partir da leitura. As duas primeiras, ascendente e descendente, podem ser consideradas restritas para a leitura, pois confiam ou só no leitor ou só no texto. Leituras verticais e horizontais As leituras são classificadas de diferentes formas por pesquisadores da área. Aqui, você vai conhecer melhor a proposta de Nascimento (2009), baseada nos tipos de leitor de Santaella (2004). Para os autores, são quatro os tipos de leitura, como você pode ver a seguir. Leitura contemplativa, meditativa: de acordo com o pesquisador (NASCIMENTO, 2009), é a leitura típica do livro. Nela, o leitor se dedica a uma leitura aprofundada, também chamada de vertical. “Esse leitor se debruça, contempla, medita sobre o texto.” (NASCIMENTO, 2009, p. 100). Sobre esse tipo de leitura, Santaella (2004, p. 23) diz que “[...] nasce da relação íntima entre o leitor e o livro, leitura de manuseio, da intimidade, em retiro voluntário, num espaço retirado e privado, que tem na biblioteca seu lugar de recolhimento, pois o espaço da leitura deve ser separado dos lugares de um divertimento mundano.”. Leitura movente, fragmentária: para Nascimento (2009), essa leitura é típica da cidade, do leitor que recebe vários estímulos o tempo todo, como as pessoas que passam na rua, o outdoor, a buzina e o anúncio de carro de som. De acordo com esse autor, “É a leitura da industrialização, da produção em série, de um leitor que descobre que o mundo é muito maior do que ele imaginava, o qual conhece por meio dos jornais, das revistas, das publicidades, da fotografia, do rádio, da televisão, do cinema.” (NASCIMENTO, 2009, p. 101). Para o autor (NASCIMENTO, 2009), esse tipo de leitor fica fascinado com tantos textos aos quais possui acesso e quer lê-los com avidez. Fique atento Na leitura movente, o leitor não consegue contemplar, meditar sobre o texto, pois depende do tempo. Então, ou ele passa pelos textos, ou os textos passam por ele. É uma leitura horizontal. Leitura imersiva, virtual: essa leitura se centra na era digital. Exige que o leitor faça seleções para não se perder na virtualidade. De acordo com Nascimento (2009, p. 105), o leitor imersivo “[...] tem (ou deveria ter) consciência de que o mundo é muito maior do que ele pode abraçar e escolhe, na infinidade de textos a sua disposição (todos a distância de poucos cliques), os textos e caminhos que lhe interessam, que deseja.”. Leitura oral, dialógica: Nascimento (2009) inclui, entre os tipos de leitura anteriores, citados por Santaella (2004), essa quarta classificação, que ele viu evidenciada à leitura contemplativa. “Trata-se de uma leitura coletiva, em que alguém narra (a partir de um registro escrito ou não) aos demais espectadores-leitores.” (NASCIMENTO, 2009, p. 107). De acordo com o pesquisador, nessa leitura, o leitor acaba sendo um coautor. Exemplo disso são as lendas passadas de geração em geração. Saiba mais Para saber mais sobre o processo de leitura, leia o texto “As multifaces da leitura: A construção dos modos de ler” (ALMEIDA, 2008). Estratégias de leitura literal de um texto As leituras literais ou textuais estão relacionadas aos níveis de compreensão de leitura. Esses níveis são três, de acordo com a taxonomia de Barret, apresentada por Alliende e Condemarín (1987): nível de compreensão literal, nível de compreensão interpretativa ou inferencial e nível de compreensão crítico. A compreensão literal se trata da reorganização de ideias, informações ou outros elementos do texto a partir das atividades de classificação, esboço, resumo e síntese. Assim, cada uma dessas atividades possui um objetivo na leitura, como você pode ver a seguir. Classificação: localização de categorias que aparecem no texto, como pessoas, lugares e ações. Esboço: reprodução do texto em forma de esquema; usa frases, representações ou disposições gráficas. Resumo: condensação do texto, que ocorre por meio de frases que narram os elementos ou fatos principais. Síntese: conversão de diversas ideias, fatos ou elementos por meio de amplas formulações. Esse tipo de leitura vai levar você a identificar o gênero do texto, o domínio discursivo, a linguagem usada, o veículo em que é difundido, as informações literais, entre outros aspectos. Observe, a partir do texto a seguir (G1, 2017), como funcionam essas estratégias de leitura. Vingadores: Guerra Infinita bate recorde de trailer mais visto em 24 horas, diz Marvel “O primeiro trailer de Vingadores: Guerra Infinita, lançado na quarta-feira (29), bateu o recorde de trailer mais visto em 24 horas. Foram 230 milhões de reproduções, de acordo com a Marvel, superando a prévia de It – A Coisa, antiga dona da marca com 197 milhões de visualizações. A editora postou uma mensagem de agradecimento aos fãs no Twitter. “Obrigado aos melhores fãs do universo por fazer de Vingadores: Guerra Infinita o trailer mais visto da história em 24 horas, com 230 milhões de visualizações”, disse o perfil da Marvel na rede social. O filme estreia no Brasil no dia 26 de abril de 2018. Vingadores x Thanos Guerra Infinita é o terceiro filme da equipe de super-heróis que conta com Capitão
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