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livros do primeiro semestre parte 1 da faculdade ucam ciencias contabeis

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Sumário 
 
Comunicação, linguagem e expressão 
Unidade 1 
 
1. Teoria da comunicação: 
elementos da comunicação 
elementos da comunicação 
Situações comunicativas com elementos da 
comunicação 
Ruídos na comunicação 
2. Teoria da comunicação: função da 
linguagem 
Elementos da comunicação 
Funções da linguagem por Roman 
Jakobson 
Intenções do emissor 
3. Comunicação, expressão e 
diversidade linguística 
Variação linguística 
Modalidades da língua 
Adequação linguística 
Unidade 2 
 
1. Comunicação oral 
Elementos de variação linguística 
Níveis de variação linguística 
Tipos de variação linguística 
Modalidades de fala e grau de formalidade 
Gêneros de cunho oral, textual e híbrido 
2. Estratégia de leitura – leitura 
textual ou literal 
Estratégias de leitura: concepções 
Leitura moderna e tradicional: diferenças 
Leituras verticais e horizontais 
Estratégias de leitura literal de um texto 
 
Contabilidade introdutória 
Unidade 1 
 
1. Conceitos e definições: 
contabilidade como planejamento 
e controle 
Conceitos e definições: contabilidade como 
planejamento e controle 
2. Campo de aplicação, finalidade e 
objetivos da contabilidade 
Campo de aplicação 
Finalidade da Contabilidade 
Objetividade da contabilidade 
O usuário 
Usuários internos: 
Usuários externos: 
Sócios, Acionistas e Proprietários de 
Quotas Societárias de Maneira Geral: 
Administradores, Diretores e Executivos 
dos mais Variados Escalões: 
Bancos, Capitalistas, Emprestadores de 
Recursos: 
Governo e Economistas Governamentais: 
3. Definições e características da 
situação patrimonial e 
componentes 
Definições e características da situação 
patrimonial 
Bens 
Direitos 
Obrigações 
Aplicações de recursos 
Unidade 2 
 
1. Conceitos e características das 
contas patrimoniais e de 
resultados 
Contas de resultado 
2. Estruturação de um plano de 
contas, agrupamento de contas do 
Balanço Patrimonial 
Estruturação de um plano de contas 
Agrupamento de contas do balanço 
patrimonial e de resultado 
Patrimônio liquido 
Contas de resultados 
Livros fiscais e contábeis, obrigatórios e 
auxiliares 
3. Esquema básico de escrituração 
contábil 
Equação fundamental da contabilidade 
Escrituração contábil 
Livros contábeis 
Definição de patrimônio 
Contas patrimoniais e contas de resultado 
 
Fundamentos da administração 
Unidade 1 
 
1. Conceito de empresa: atividade 
empresária e não empresária 
O conceito de empresa 
Atividade empresarial e atividade não 
empresarial 
Os diferentes tipos de sociedades 
decorrentes das atividades empresária e 
não empresária 
2. Introdução à administração 
Conceito e princípios da administração 
Funções da administração 
Eficiência e eficácia 
3. Definições e conceitos de gestão 
As funções da gestão 
O planejamento nos põe a caminho da 
realização de valor 
A organização reúne os recursos dos quais 
precisamos 
A liderança mobiliza as pessoasControle 
significa aprender e mudar 
A gestão exige todas as quatro funções 
Unidade 2 
 
1. Funções gerenciais 
Funções gerenciais dentro das 
organizações 
Fatores externos 
Fatores internos 
Administração por objetivos 
Fixação de objetivos 
Gerenciamento versus concretização de 
objetivos 
2. Tipos de gerente 
Modelos de liderança e suas atividades 
Comparando as lideranças 
Liderança nos tempos atuais 
Sensemaking: um auxílio para as lideranças 
atuais 
Sensemaking dentro das organizações 
Mudança organizacional e sensemaking 
3. TI, Habilidades e papeis gerenciais 
Habilidades e papéis gerenciais 
Papéis gerenciais 
Competências requeridas para uma 
gerência eficaz 
Perfil gerencial contemporâneo e a 
Tecnologia da Informação 
Tecnologia da Informação 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Comunicação, linguagem e 
expressão. 
Unidade 1 
Teoria da comunicação: elementos 
da comunicação. 
Elementos da comunicação 
Enquanto processo, a comunicação é 
indissociável do universo em que ocorre. 
Afinal, qualquer ato comunicativo está 
ligado a tudo (SOUSA, 2006). Mas, para 
compreender a realidade e os atos 
comunicativos, diversos teóricos 
desenvolveram modelos dos processos 
comunicacionais. Esses modelos são 
artefatos imaginativos, criados para 
compreender a realidade comunicacional. 
Portanto, você não deve entendê-los como 
espelho do real. 
Os elementos da comunicação foram 
evoluindo ao longo dos tempos e por meio 
de estudos. O primeiro foi proposto pelo 
filósofo Aristóteles (século IV a.C.), que 
apresentou um modelo básico. Este diz que 
para comunicar é preciso que exista 
alguém para transmitir a alguém um 
conteúdo, ou seja, três elementos: o 
emissor, o receptor e o conteúdo. 
Para Sousa (2006), todos os modelos são 
incompletos e imperfeitos, pois se tratam 
de reconstruções intelectuais e 
imaginativas da realidade. O autor cita 
inúmeros modelos entre os que propõem o 
estudo dos elementos de comunicação. 
Além do modelo de Aristóteles, há o 
modelo (ou paradigma) de Lasswell (1948), 
o modelo de Shanon e Weaver (1949), o 
Newcomb (1953), o modelo de Schramm 
(1954) e, ainda, o modelo de Roman 
Jakobson (1960). Outros modelos, como o 
da Escola de Palo Alto e o modelo de 
Maletzke, também são elencados. 
Entre os citados, você vai conhecer melhor 
o modelo de Roman Jakobson (2005). Ele é 
o mais recente e o mais utilizado em 
muitas áreas, como a literatura. O teórico 
construiu um modelo direcionado para o 
estudo da comunicação sob o prisma da 
linguística. 
Considere que o principal objetivo da 
linguagem é transmitir uma informação 
para um ou mais sujeitos. Para que essa 
comunicação ocorra, é necessário que haja 
compreensão dos elementos que fazem 
parte do processo comunicativo, certo? 
Conforme Jakobson, tais elementos são o 
emissor, o receptor, o canal, a mensagem, 
o código e o referente. O destinador envia 
uma mensagem ao destinatário. Para que 
seja operante, a mensagem precisa de um 
contexto para o qual remete. Esse 
contexto, apreensível pelo destinatário, 
ora é verbal, ora é suscetível de ser 
verbalizado. Posteriormente, a mensagem 
requer um código que seja comum aos 
dois, no todo ou, pelo menos, em parte. 
Enfim, a mensagem requer um canal físico 
e uma conexão psicológica entre 
destinador e destinatário, um contato que 
permita o estabelecimento da 
comunicação. A seguir, você pode ver esses 
fatores esquematizados na Figura 1. 
FIGURA 1 
Esses atos comunicativos podem acontecer 
com alguma intenção, seja ela explícita ou 
não. Jakobson elaborou esse esquema para 
mostrar como seis fatores essenciais, os 
chamados elementos da comunicação, 
operam para que a comunicação aconteça. 
A seguir, você pode compreender melhor 
cada um desses elementos: 
Emissor: também conhecido como 
referente, é quem emite a mensagem; 
pode ser um indivíduo ou um grupo. 
Mensagem: é o objeto da comunicação e é 
constituída pelo conteúdo das 
informações. Ou seja, é o conteúdo que o 
emissor quer transmitir. 
Canal: é a via de circulação da mensagem 
(voz, ondas sonoras, uma folha de papel, 
um blog, um livro). É o meio pelo qual a 
mensagem é transmitida. Pode ser por ar 
(ao falar), jornal, televisão, revista, 
internet, rádio, etc. Em Publicidadee 
Propaganda (PP), o canal se relaciona 
bastante com a mídia. 
Código: é o conjunto de regras, de signos e 
códigos utilizados para formar a 
mensagem. Para que a comunicação seja 
bem-sucedida, é preciso que o receptor 
compreenda o código usado pelo emissor. 
Como exemplos de código, você pode 
considerar: letras, idiomas, código morse, 
etc. 
Referente: é constituído pelo contexto, 
pela situação e pelos objetos aos quais a 
mensagem está relacionada. 
Destinatário: é aquele que recebe a 
mensagem, também chamado de receptor; 
pode ser uma pessoa ou um grupo de 
pessoas. 
Jakobson estabeleceu que cada um desses 
seis fatores determina uma diferente 
função da linguagem. O modelo mostra 
que a mensagem deve contar com um 
contexto, ou seja, precisa se referir a algo 
externo a ela. O modelo acrescenta, ainda, 
o contato. Este representa, 
simultaneamente, o canal físico em que a 
mensagem circula e as ligações psicológicas 
entre destinador e destinatário. Isso quer 
dizer que ambos só percebem a mensagem 
porque dominam o mesmo código. 
Fique atento 
No modelo proposto por Jakobson, a 
comunicação só se realiza se o receptor 
decodifica a mensagem transmitida pelo 
emissor. Ou seja, ela só acontece se o 
interlocutor entende a mensagem 
transmitida. Por exemplo, duas pessoas 
que vivem em países diferentes (Brasil e 
Japão) e que não conhecem a língua uma 
da outra utilizarão códigos diferentes. 
Portanto, a mensagem não será inteligível 
para ambas, impossibilitando o processo 
comunicacional. Mas, se, por exemplo, um 
brasileiro morador do Nordeste conversa 
com uma pessoa que vive no Sul, por mais 
que haja diferenças linguísticas, a 
comunicação ocorre, pois a língua é a 
mesma (no caso, a língua portuguesa). 
Situações comunicativas com elementos 
da comunicação 
Os elementos da comunicação podem 
aparecer em diferentes situações 
comunicativas, e um elemento específico 
pode se evidenciar como o mais 
importante. A seguir, você vai ver 
exemplos de situações que envolvem os 
elementos da comunicação, de acordo com 
alguns autores, especialmente Vanoye 
(1993). Em cada uma delas, um dos 
elementos é o principal da situação 
comunicativa. 
Exemplo 1: o governador de Santa Catarina 
envia uma mensagem à população do 
estado por meio de um porta-voz. Nesse 
caso, ele seria a fonte, e o porta-voz, o 
emissor. 
Exemplo 2: um professor envia um e-mail 
para os alunos avisando sobre o material 
para a próxima aula. Aqui, emissor e fonte 
são a mesma pessoa. 
Nesses casos, o foco da situação é o 
emissor da mensagem. Observe que a 
fonte é responsável pela codificação da 
mensagem que será enviada. Ela pode 
utilizar a comunicação oral, a escrita, bem 
como gestos, desenhos. Martins e 
Zilberknop (1997, p. 24) diferenciam o 
emissor da fonte da mensagem. Eles 
consideram que, em alguns contextos 
comunicativos, é possível perceber que a 
fonte (de onde se origina a mensagem) e o 
emissor (quem envia a mensagem) não são 
a mesma pessoa. 
Nos dois exemplos, a população de Santa 
Catarina e os alunos que receberam o e-
mail são os receptores, responsáveis pelo 
recebimento e pela decodificação da 
mensagem. A comunicação só ocorre 
efetivamente quando tiver a incidência de 
um comportamento verbal ou de uma 
atitude sobre a ação do destinatário. Isso 
quer dizer que, se os alunos responderem 
o e-mail, a comunicação será efetivada. 
Mas, se não responderem, você pode 
considerar que o ato comunicativo ocorreu 
da mesma forma, já que o silêncio também 
é uma forma de comunicação não verbal. 
Em outro exemplo de situação 
comunicativa, o foco é na mensagem. Esta 
possui o conteúdo das informações que 
foram codificadas para transmissão. Além 
disso, pode ser visual, auditiva, audiovisual. 
Além disso, pode ser visual, auditiva, 
audiovisual. Por exemplo, uma mensagem 
visual pode ser escrita com o alfabeto que 
você utiliza cotidianamente: Olá! Tudo bem 
com você? Ou ainda pode ser uma 
imagem, uma fotografia, ou mesmo um 
emoticon, como =) ou <3. 
Já a auditiva pode ser uma música, um 
áudio gravado por redes sociais ou pelo 
celular. A audiovisual pode ser um vídeo 
gravado pelo próprio emissor, ou retirado 
da TV, da internet, etc. 
Para enviar essa mensagem, são 
necessários códigos verbais ou não verbais. 
Quanto mais próximos emissor e receptor 
estiverem do repertório que ambos usam, 
maior será a probabilidade de a 
comunicação ser bem-sucedida, pois a 
decodificação ficará mais fácil. 
De acordo com Barros (2004, p. 31), “[...] 
códigos diferentes impedem a 
comunicação (a não ser que ela se 
estabeleça por outro código, que não o 
verbal, por exemplo, como ocorre na 
comunicação gestual entre falantes de 
línguas diferentes).”. O código pode passar 
também por uma flutuação. É quando um 
mesmo significante pode gerar mais de um 
significado. Veja o seguinte exemplo: 
“Bombril, bom de cozinha e bom de copa.” 
(CESAD, c2017) (Propaganda veiculada 
durante o período da Copa Mundial de 
1998). 
Aqui, o signo “copa” remete ao espaço de 
uma residência, mas também está 
relacionado à Copa Mundial de Futebol, já 
que a publicidade era veiculada no período 
da competição. Nesse contexto, o 
referente é o objeto ou a situação a que a 
mensagem remete ou se refere. Ele pode 
ser situacional ou textual. 
Saiba mais 
O referente situacional engloba os 
elementos da situação do emissor, do 
receptor e do contexto em que se dá a 
comunicação. Por exemplo: „ Venha aqui 
em casa e traga teus cadernos para 
estudarmos. O termo “aqui” se refere à 
situação espacial, e “venha e traga”, à 
temporal. O uso das palavras que mostram 
(pronomes demonstrativos, pronomes 
pessoais, tempos verbais, etc.) proporciona 
às línguas naturais uma grande agilidade. 
No entanto, as frases que veiculam esses 
elementos só podem ser compreendidas 
em estreita relação com determinadas 
situações. Já o referente textual engloba os 
elementos do contexto linguístico. Ou seja, 
ele surge quando se faz referência aos 
elementos contidos no próprio texto. Por 
exemplo: 
A garota trouxe os lápis, a borracha e a 
régua e os pôs sobre a escrivaninha que 
está no escritório. 
Compre tudo o que consta na lista: tomate, 
alface, pepino, pimentão e repolho. 
O canal é o meio pelo qual o emissor 
enviará a mensagem codificada para que o 
destinatário a descodifique. É todo e 
qualquer elemento físico usado para levar 
a mensagem até o receptor. O canal pode 
ser: natural ou tecnológico. O primeiro 
trata de meios sonoros (como a voz, as 
ondas sonoras, o ouvido); de meios visuais 
(como a excitação luminosa, a percepção 
da retina); de meios táteis (como a mão, a 
pele); de meio olfativo (o nariz); e ainda de 
meio gustativo (a língua). Já o canal 
tecnológico necessita de meios criados 
para transmitir a mensagem, como rádio, 
TV, telefone, entre outros. O canal deve ser 
escolhido considerando: 
o conteúdo da mensagem; 
os tipos de mensagem (isto é, se será 
verbal ou não verbal); 
os objetivos do remetente; 
as condições de recepção da mensagem, 
etc. 
fique atento 
Na comunicação, é necessário utilizar um 
código conhecido do destinatário e usar, 
preferencialmente, um código fechado. 
Nesse sentido, se deve respeitar a 
bagagem cultural de quem vai receber a 
mensagem, além, é claro, de escolher e 
utilizar o veículo adequado. Certos tipos de 
comunicação podem se dar por meio do 
uso simultâneo de diferentes códigos e 
canaisde comunicação; é o caso do 
cinema. 
Observe a Figura 2. Nela, você pode ver o 
emissor (o menino que fala com a menina), 
a mensagem (o que ele conversa com ela), 
o canal (que é natural, por meio da fala), 
além do código (que é um conjunto de 
signos verbais), do referente (que é 
textual) e do destinatário (que é a 
Mafalda). 
FIGURA 2 
Saiba mais 
Para saber mais sobre outros modelos de 
comunicação, leia Elementos de Teoria e 
Pesquisa da Comunicação e dos Media 
(SOUSA, 2006). 
Ruídos na comunicação 
Para que haja êxito na comunicação, todos 
os elementos precisam funcionar. 
Portanto, não podem ser perturbados por 
alguma barreira ou obstáculo. Quando isso 
acontece, se fala que há um ruído na 
comunicação. O ruído se trata de qualquer 
perturbação que impeça a mensagem de 
chegar devidamente ao receptor, 
interferindo na comunicação como um 
todo. 
As causas dessas barreiras podem ser 
inúmeras. Sousa (2006) explica que 
qualquer tipo de comunicação pode sofrer 
com ruídos, e, por vezes, algumas barreiras 
chegam a impedir a comunicação ou 
mesmo afetar a fluidez das trocas 
comunicacionais. Conforme o autor, essas 
barreiras podem ser (SOUSA, 2006): 
Físicas, como um obstáculo entre dois 
interlocutores que os impede de dialogar. 
Por exemplo: a queda no sinal de um 
telefone quando se está conversando via 
telefonia, ou a queda da internet, quando 
o diálogo se dá por redes sociais. 
Culturais, como o desconhecimento do 
código de comunicação dentro de uma 
cultura (saber uma língua, por exemplo, 
nem sempre é garantia suficiente para 
interpretar adequadamente uma 
mensagem). Por exemplo, um morador de 
Portugal e uma pessoa que vive no Brasil 
podem não se entender, mesmo falando a 
língua portuguesa. Isso ocorre pois em 
cada cultura determinados termos 
significam coisas diferentes, dificultando o 
entendimento. 
Pessoais, como a maneira de estar, de ser 
e de agir de cada sujeito envolvido na 
relação de comunicação, bem como as 
capacidades ou deficiências físicas pessoais 
que facultam ou dificultam a comunicação, 
etc. Por exemplo: uma pessoa que não 
sabe a língua de sinais terá dificuldades 
para conversar com alguém que usa a 
Libras. 
Psicossociais, como o estatuto e o papel 
social que os sujeitos envolvidos na relação 
comunicacional atribuem uns aos outros. 
Estes marcam uma dada distância social, 
ou a saturação dos sujeitos envolvidos na 
comunicação em relação ao tema que 
motiva o ato comunicacional. Problemas 
de relacionamento podem ser um exemplo 
de barreira causada por questões 
psicossociais. FIGURA 3 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Teoria da comunicação: função da 
linguagem. 
Elementos da comunicação 
É impossível falar sobre funções da 
linguagem sem abordar os elementos da 
comunicação. Afinal, cada um deles dá 
origem a uma função linguística. Esses atos 
comunicativos podem acontecer de 
maneira intuitiva ou com alguma intenção, 
seja ela explícita ou não. Como você pode 
ver na Figura 1, Jakobson (2005) elaborou 
um esquema para explicar como operam 
os seis fatores essenciais para que a 
comunicação se realize, os chamados 
elementos da comunicação: 
FIGURA 1 
De acordo com o modelo, a mensagem 
precisa de um contexto. Ou seja, deve se 
referir a algo externo a ela mesma. Quanto 
ao contato, ele representa o canal físico 
em que a mensagem circula e as ligações 
psicológicas entre destinador e 
destinatário. Isso significa que ambos só 
percebem a mensagem porque dominam o 
mesmo código. Veja cada um dos 
elementos descritos: 
Emissor: também conhecido como 
referente, é quem emite a mensagem; 
pode ser um indivíduo ou um grupo. 
Mensagem: é o objeto da comunicação e é 
constituída pelo conteúdo das 
informações. Ou seja, é o conteúdo que o 
emissor quer transmitir. 
Canal: é a via de circulação da mensagem 
(voz, ondas sonoras, uma folha de papel, 
um blog, um livro). É o meio pelo qual a 
mensagem é transmitida. Pode ser por ar 
(ao falar), jornal, televisão, revista, 
internet, rádio, etc. 
Código: é o conjunto de regras, de signos e 
códigos utilizados para formar a 
mensagem. Para que a comunicação seja 
bem-sucedida, é preciso que o receptor 
compreenda o código usado pelo emissor. 
Como exemplo de código, você pode 
considerar: letras, idiomas, código Morse, 
etc. 
Referente: é constituído pelo contexto, 
pela situação e pelos objetos aos quais a 
mensagem está relacionada. 
Destinatário: é aquele que recebe a 
mensagem, também chamado de receptor; 
pode ser uma pessoa ou grupo de pessoas. 
Para Jakobson (2005), cada um desses seis 
fatores determina uma diferente função da 
linguagem, como você verá na próxima 
seção. 
Funções da linguagem por Roman 
Jakobson 
Lev Jakubinskij, em 1916, propôs, pela 
primeira vez, uma teoria que diferenciava 
um sistema de linguagem prática de um 
sistema de linguagem poética. Um pouco 
mais tarde, em 1921, Jakobson afirmou ser 
a poesia uma linguagem que se valia da 
função estética, num sentido autônomo da 
palavra sintonia. Entre os anos de 1933 e 
1934, o teórico identificou na poesia a 
função poética da linguagem, que se 
caracteriza como palavra e sintaxe que 
possui peso e valor próprios. Já em 1935, o 
formalista russo voltou a afirmar que o uso 
dominante da função poética da linguagem 
é da natureza da poesia, num sentido em 
que a linguagem se apresenta orientada 
para o signo enquanto tal. Anos depois, em 
1960, Jakobson retomou suas teorias sobre 
a função estética da linguagem no estudo 
“Linguística e poética”, com quadro teórico 
baseado na Linguística Geral e na Teoria da 
Comunicação (ANDRADE; MEDEIROS, 
1997). 
Então, partindo dos seis elementos, 
Jakobson (2005) elaborou estudos sobre as 
funções da linguagem, necessárias para a 
análise e a produção de textos. De acordo 
com o autor, as seis funções da linguagem 
são (JAKOBSON, 2005): função referencial, 
função emotiva, função conativa ou 
apelativa, função fática, função 
metalinguística e função poética. 
Em todo processo de comunicação, a 
linguagem é expressa de acordo com a 
função que se deseja enfatizar. No 
momento em que se estabelece uma 
comunicação verbal, um dos elementos 
apresentados prevalece e determina uma 
das funções. De acordo com esse modelo, 
a mensagem é o elo entre emissor e 
receptor. 
Desse modo, o esquema de comunicação 
de Jakobson (2005), se preenchido pelas 
funções da linguagem no lugar dos 
elementos, ficaria como na Figura 2. 
FIGURA 2 
Ou seja, cada elemento comunicativo 
possui intrinsecamente uma função. 
Observe a Tabela 1: 
TABELA 1 
A seguir, você pode conhecer melhor cada 
uma das funções da linguagem. 
Função referencial: está relacionada ao 
referente, que é o objeto ou a situação de 
que a mensagem trata. A função 
referencial privilegia justamente o 
referente da mensagem, buscando 
transmitir informações objetivas sobre 
este. A função referencial, voltada ao 
contexto, predomina nos textos de caráter 
científico, em textos dissertativos, técnicos 
e instrucionais. Além disso, é privilegiada 
nos textos jornalísticos, como notícias, 
reportagens. 
Exemplo (G1 RS, 2017): Começa campanha 
de arrecadação para projeto de Memorial 
às Vítimas da Kiss Publicada em 
21/08/2017 às 07h01mG1/RS A 
construção do Memorial às Vítimas da Kiss, 
para lembrar dos 242 mortos no incêndio 
da boate em Santa Maria em 2013, terá 
financiamento coletivo. A arrecadação 
começa nesta segunda-feira (21), com o 
lançamento de uma campanha para 
levantar os fundos. 
Um evento na Praça Saldanha Marinho, no 
centro da cidade, marcou o início da 
campanha pela manhã. A captação de 
recursos deve ocorrer até outubro. A 
iniciativa é da Associação dos Familiares de 
Vítimas e Sobreviventes da Tragédia de 
Santa Maria (AVTSM). 
Função emotiva: com foco no emissor, é 
conhecida também como função 
expressiva. Imprime no texto as marcas de 
sua atitude pessoal, de sua subjetividade, 
como emoções, avaliações, opiniões. Ao ler 
o texto, o leitor sente a presença do 
emissor. É geralmente escrita em primeira 
pessoa e usa pontuações como as 
reticências e a exclamação. Como 
exemplos, você pode considerar: músicas, 
depoimentos, relatos, poesias. 
Exemplo (SEIXAS, 1976): Eu nasci há dez 
mil anos atrás (Raul Seixas) Um dia, numa 
rua da cidade, eu vi um velhinho sentado 
na calçada Com uma cuia de esmola e uma 
viola na mão O povo parou pra ouvir, ele 
agradeceu as moedas E cantou essa 
música, que contava uma história Que era 
mais ou menos assim: Eu nasci há dez mil 
anos atrás e não tem nada nesse mundo 
que eu não saiba demais. 
Função conativa ou apelativa: procura 
organizar o texto de forma que o emissor 
se imponha sobre o receptor da 
mensagem, com o intuito de persuadi-lo, 
seduzi-lo, influenciá-lo, convencê-lo, 
manipulá-lo. Nas mensagens em que 
predomina essa função, se busca envolver 
o leitor com o conteúdo transmitido, o 
levando a adotar este ou aquele 
comportamento. Alguns tipos de textos 
que possuem a função conativa ou 
apelativa são as campanhas publicitárias e 
as campanhas políticas. Observe um 
exemplo na Figura 3. 
FIGURA 3 
Função fática: está ligada ao canal de 
comunicação. Essa função acontece 
quando a mensagem se orienta sobre o 
canal de comunicação ou contato, 
buscando verificar e fortalecer sua 
eficiência. Normalmente, é usada quando o 
emissor testa o canal, com o objetivo de 
manter a comunicação. 
Exemplo: “Alô”, “Oi?”, “Entendeu?”, 
“Hum”. Exemplo (MENDEZ, 2010): Trecho 
de “Fofinhos”, de Luís Fernando Veríssimo 
— Alô, boneca. Silêncio — Eu topo Mais 
silêncio. — Como é, vamos? — O senhor 
quer fazer o favor de me deixar em paz? — 
Ah, quer dizer que o decalco aí atrás é 
falso? — Por favor... — O tal “Siga-me, 
estou indo para o motel” é papo furado, 
hein? 
Função metalinguística: nessa função, o 
emissor explica um código usando o 
próprio código. É a mensagem sobre a 
mensagem. A linguagem se volta sobre si 
mesma, se transformando em seu próprio 
referente. Quando isso acontece, ocorre a 
função metalinguística. Como exemplo, 
você pode considerar: textos sobre escrita, 
filmes sobre a indústria cinematográfica. 
Exemplo (DICIONÁRIO AURÉLIO DE 
PORTUGUÊS ONLINE, 2017): Verbete de 
dicionário Língua: s.f. Sistema de 
comunicação comum a uma comunidade 
linguística. 
Função poética: essa função é capaz de 
despertar no leitor prazer estético e 
surpresa. Ela se expressa na estrutura da 
mensagem. Assim, se utiliza da criação de 
ritmos, rimas, trocadilhos, tonalidade, etc. 
A manifestação da função poética da 
linguagem ocorre quando a mensagem é 
elaborada de forma inovadora e 
imprevista, utilizando combinações 
sonoras ou rítmicas, jogos de imagem ou 
de ideias. Como exemplo, você pode 
considerar poesias e campanhas 
publicitárias, como a da Figura 4 
FIGURA 4 
Fique atento 
Mesmo que cada função esteja ligada a um 
elemento comunicativo, elas não são 
exploradas isoladamente. De modo geral, 
ocorre a superposição de várias delas. O 
que acontece é que uma se sobressai, o 
que permite a identificação da finalidade 
principal do texto. 
Saiba mais 
Saiba mais sobre as funções da linguagem 
em Do texto ao texto: curso prático de 
leitura e redação (INFANTE, 1998). 
Intenções do emissor 
Considerando o arcabouço teórico de 
Roman Jakobson (2005), você certamente 
já compreendeu que todo evento 
comunicativo se constitui por um emissor, 
que tem o intuito de transmitir 
determinada mensagem a um receptor, 
dentro de um determinado contexto. Para 
tanto, o emissor utiliza um código e envia 
sua mensagem por um canal. Para o 
estudioso, dependendo da intenção de 
quem fala ou escreve, ou seja, do emissor, 
um desses elementos comunicativos será 
enfatizado nesse circuito. 
Nessa esteira, para compreender a 
mensagem e aprimorar o processo de 
leitura e produção de textos, é 
imprescindível entender as 
intencionalidades do emissor. Tais 
intenções podem ser inúmeras, como 
emocionar, esclarecer, persuadir, informar, 
manter contato, encantar, manipular, 
entre outras. Por exemplo, se o emissor 
pretende emocionar o receptor, a ênfase 
será no uso de verbos em primeira pessoa. 
Além disso, ele falará dos seus 
sentimentos, emoções e posicionamentos. 
Ainda que o foco da ação comunicativa 
seja um só, no caso do exemplo, de 
emocionar, a mensagem pode servir para 
várias outras funções. Assim, você 
dificilmente encontrará uma única função 
da linguagem; o que terá é apenas a 
prevalência de uma sobre as outras. Sobre 
isso, Chalhub (1990, p. 8) diz que: 
Numa mesma mensagem [...] várias 
funções podem ocorrer, uma vez que, 
atualizando concretamente possibilidades 
de uso do código, entrecruzam-se 
diferentes níveis de linguagem. A emissão, 
que organiza os sinais físicos em forma de 
mensagem, colocará ênfase em uma das 
funções – e as demais dialogarão em 
subsídio. 
Nesse sentido, a ênfase dada a um dos 
elementos na construção da mensagem 
não descarta o uso dos outros. O que 
ocorre é que a utilização de mais de um 
elemento colabora para o resultado final 
proposto pelo emissor 
Fique atento 
A partir da intencionalidade, o emissor fará 
escolhas linguísticas para chegar ao seu 
objetivo. Assim, ao enfatizar algum 
recurso, ele necessita ativar sua 
capacidade criativa e levar em 
consideração se o receptor terá capacidade 
de responder a ela. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Comunicação, expressão e 
diversidade linguística. 
Variação linguística 
Uma língua viva sempre apresenta 
variações. Isso significa que, enquanto uma 
língua tiver falantes nativos, ela será 
dinâmica e heterogênea (FARACO, 2008). 
Com o passar do tempo, ela passará por 
mudanças e, se estas forem grandes 
demais, pode até se tornar uma outra 
língua, ou outras, como aconteceu, por 
exemplo, com o Latim e as línguas 
românicas que dele se originaram. Se você 
ler um texto de épocas passadas, poderá 
encontrar diferenças, tais como aquelas 
encontradas em palavras, expressões, até 
mesmo na estrutura (para exemplos ver 
textos de romances do período Realista ou 
Naturalista, como os de Machado de Assis 
e Aluísio de Azevedo). Essa diferença pode 
ser observada também entre falantes de 
diferentes gerações. 
A língua também é influenciada pelo 
espaço. Pense em um lago e em atingir sua 
superfície atirando várias pedras. Cada 
uma delas gerará ondulações e, em alguns 
pontos, irão se encontrar e se afetar umas 
às outras. Com a língua ocorre um 
fenômeno análogo, zonas próximas 
apresentam maior similaridade e são 
reconhecidas e diferenciadas, porém,conforme se afastam, as diferenças vão se 
tornando maiores, devido à experiência 
dos falantes, assim como a influência de 
outras comunidades linguísticas, de outras 
línguas. Nesse aspecto, o processo de 
colonização, imigração e migração, assim 
como a presença de diferentes tribos 
autóctones, tem fortes consequências. É 
possível observar a distância entre as 
diferentes regiões do país, e, até mesmo, 
dentro dos estados. 
Outra grande variável que se pode elencar 
é quanto ao indivíduo. Nesta, é possível 
identificar a influência do lugar onde o 
indivíduo cresceu, seu grau de contato com 
a cultura letrada, seu círculo social (mais 
informal, menos informal, entre outros). 
Esse âmbito é o que permite a 
identificação de estilo de um indivíduo 
inserido em uma comunidade linguística, 
ou seja, o que o distingue linguisticamente 
(ainda que não exclusivamente). 
Fique atento 
Comunidade linguística é um agrupamento 
de falantes que têm características 
linguísticas em comum (BELINE, 2014). 
Qualquer língua que ainda seja natural 
(diferentemente de línguas artificiais, como 
Klingon e Dothraki) tem variação, isto é, 
varia no tempo e no espaço (objeto de 
estudo da sociolinguística variacionista) e 
também de um indivíduo para outro, 
modificando-se até quando utilizada por 
um mesmo indivíduo em diferentes 
situações (objeto de estudo da 
sociolinguística interacional). 
Linguisticamente, não há uma variedade 
linguística melhor, mais bonita ou mais 
desenvolvida do que outra. Qualquer que 
seja a variedade, ela será igualmente 
válida, rica e desenvolvida. A valorização 
de uma em detrimento de outra é social, 
isto é, a sociedade (ou parte dela) que 
classifica uma variedade positiva ou 
negativamente. 
Algumas variedades são estigmatizadas, 
como, por exemplo, as do interior dos 
estados em relação às das regiões 
metropolitanas, as de classes sociais 
menos prestigiadas e menos escolarizadas 
em relação às mais prestigiadas e mais 
escolarizadas (BAGNO, 1999; FARACO, 
2008; GÖRSKI; COELHO, 2009). É comum, 
com essa postura, encontrar afirmações 
como: “eu não sei português”, “fala feio”, 
“antes de aprender inglês, francês, tinha 
que aprender português”, “matou a língua 
portuguesa”; todas com relação a falantes 
nativos. Ao dizer isso, a pessoa expõe 
desconhecimento sobre a realidade 
linguística e também sobre o preconceito 
linguístico. De acordo com Görski e Coelho 
(2009, p. 82), “[...] muitas pessoas acham 
que falar uma variedade diferente da 
variedade padrão é um problema sério 
para a sociedade, uma manifestação de 
inferioridade. Sempre que isso acontece, a 
língua se torna um veículo de preconceitos 
e exclusões.” 
Segundo Faraco (2008), todas as 
variedades linguísticas têm uma própria 
norma, isto é, um conjunto de 
características que lhes são normais, 
envolvendo aspectos fonéticos 
(identificados no sotaque), lexicais, 
semânticos, sintáticos e, às vezes, até 
pragmáticos. Contudo, saindo do âmbito 
linguístico, norma é entendida como um 
conjunto de regras que normatizam a 
forma como os falantes deveriam utilizar a 
língua. Esse tipo é chamado pelo autor de 
norma padrão, um “ideal” artificial que, 
apesar de defendido, nenhum falante 
utiliza de fato (é aquela encontrada nas 
gramáticas mais tradicionais, normativas e 
não linguísticas). Para ele, a norma 
associada aos grupos mais escolarizados é 
a norma culta. Essa seria comum aos 
falantes de áreas urbanas em situações 
mais formais, principalmente na escrita, e 
seria balizada pela linguagem urbana 
comum. 
Modalidades da língua 
Além da variação que as línguas 
apresentam, elas também podem ter mais 
de uma modalidade. A língua portuguesa, 
por exemplo, apresenta as modalidades 
oral e escrita, mas nem todas as línguas são 
assim. Algumas apresentam apenas a 
modalidade oral, sendo denominadas 
ágrafas. 
A modalidade oral, sempre primeira com 
relação à escrita, sofre e aceita mudanças 
muito mais rapidamente. Ela é mais 
dinâmica, seja por ser mais propensa à 
variação e à mudança, seja por causa do 
“jogo” comunicativo como palco e fonte. 
Ela influencia as mudanças na modalidade 
escrita, que, por sua vez, tem o poder de 
“frear” a modalidade oral. Com o advento 
da imprensa, esse poder foi intensificado. 
Entretanto, a modalidade escrita continua 
sendo uma representação da oral, 
dependendo de convenções para sua 
inteligibilidade (como ortografia e uso do 
mesmo alfabeto), bem como para questões 
políticas. 
Fique atento 
A Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS) é, 
como o nome diz, uma língua, e não uma 
modalidade da língua portuguesa. A LIBRAS 
apresenta, como qualquer outra língua, os 
sistemas fonológico (em sentido um pouco 
diferente), morfológico, sintático e 
semântico. Além disso, ela é uma língua 
natural e, consequentemente, também 
apresenta variação. 
Apesar de a modalidade oral ser mais 
identificada em registros mais informais, 
ela também ocorre em situações mais 
formais. Da mesma forma, a modalidade 
escrita, que é mais identificada em 
registros formais, ocorre em situações mais 
informais. Assim, uma conversa de texto 
por aplicativos e redes sociais irá se 
aproximar mais da oralidade, ao passo que 
uma palestra acadêmica, da escrita. Essa 
identificação advém de a oralidade 
permitir a realização da comunicação 
linguística de modo mais natural, menos 
rígido e menos regrada quando comparada 
com a escrita, principalmente quando se 
desconsidera a mudança que a cultura 
digital trouxe. Antes, por exemplo, não era 
considerado diálogo uma conversa que não 
fosse feita pessoalmente ou por telefone, 
entretanto, com a mudança de paradigma 
causada pela cultura digital, é contrassenso 
não considerar como diálogo as conversas 
por aplicativos, como Whatsapp, 
Messenger, entre outros. 
Desconsiderando-se um pouco o 
paradigma da cultura digital, qualquer 
produção, seja oral ou escrita, tem uma 
audiência (um destinatário) real ou 
imaginário. Algumas manifestações 
permitem uma interação maior entre os 
envolvidos, que, então, intercalam-se no 
papel de locutor e interlocutor. Na 
modalidade oral, quanto mais informal for 
a situação, mais interrupções e 
sobreposições serão possíveis. Além disso, 
é comum mudanças de estilo estrutural, 
sentenças incompletas na oralidade, que, 
na escrita, tornam-se difíceis de 
compreender. A escrita, enquanto 
representação da fala, apresenta menor 
possibilidade de interferência, mas permite 
que se pense, planeje e revise o texto 
antes de liberá-lo. 
Adequação linguística 
No âmbito acadêmico e profissional, você 
terá de lidar com situações que exigirão 
uma ou outra modalidade (ou até as duas, 
em conjunto). Seja qual for a modalidade a 
ser usada e em qual situação, a adequação 
linguística será fundamental. O uso da 
língua por um falante é sempre 
influenciado por uma série de fatores, 
alguns dos quais foram mencionados 
anteriormente. Em certas situações, é 
esperado o uso de um nível de fala mais 
formal, assim como uma determinada 
norma, como a culta, ao passo que, em 
outras, ocorre o oposto. Essas escolhas 
seriam feitas tendo em vista um fi m 
comunicativo, em outras palavras, como 
atingir da melhor forma um objetivo (ou 
uma série deles). Quanto a isso, até mesmo 
a escolha por não seguir o que se esperaria 
pode ser um meio de conseguir sucesso. 
Fique atento 
Tipos de variação 
Variação diatópica é aquela que ocorre em 
decorrência da região, porexemplo: 
jerimum versus abóbora, mexerica versus 
bergamota, rótico velar (“erre” forte — 
comum no Rio Grande do Sul) versus rótico 
uvular (“erre” forte, caipira — comum no 
interior paulista), etc. 
Variação diastrática é aquela comum a 
estratos sociais, por exemplo: classes mais 
ou menos prestigiadas, advogados, 
influenciadores digitais (que ainda varia de 
acordo com o campo de interesse), etc. 
Variação diafásica é aquela que ocorre em 
função do contexto comunicativo, por 
exemplo: mais ou menos informal, mais ou 
menos afetiva, mais ou menos técnica, etc. 
Variação de registro é um tipo de variação 
diafásica e diz respeito ao nível de 
formalidade ou de informalidade. 
A experiência permite que o falante force 
os limites entre normas e entre níveis de 
fala, do mais formal ao mais coloquial. 
Entretanto, quando ainda não se tem essa 
experiência, algumas orientações se 
tornam úteis. Algumas são mais ou menos 
assumidas como instintivas, outras já 
seguem certos padrões estabelecidos (por 
exemplo, por gêneros textuais ou por 
contexto comunicativo). 
O meio acadêmico apresenta uma grande 
variação de contextos comunicativos, de 
conversas informais com amigos a 
produções formais, como tese de 
doutorado e respectiva defesa oral. 
Considerando-se os textos e discursos 
comuns a esse meio, alguns permitirão 
uma linguagem coloquial, enquanto 
outros, não, de uma linguagem urbana 
comum à norma culta. No Quadro 1, são 
apresentados alguns gêneros textuais, uma 
breve definição e a linguagem esperada. 
Gênero textual – Caracterização – 
Linguagem 
Memorial - Do tipo acadêmico, é uma 
apresentação textual da trajetória 
acadêmica de uma pessoa de modo mais 
detalhado do que o currículo (que 
apresenta os dados através de tópicos). - 
Norma culta. 
Resumo - Apresenta as principais ideias de 
um outro texto ou trabalho, de modo 
conciso, objetivo, coeso e coerente. - A 
linguagem tende a seguir o estilo do 
original, porém, do acadêmico, espera-se a 
norma culta. 
Entrevista - É um diálogo a princípio 
planejado, pois pelo menos uma das partes 
terá se preparado. Consiste em perguntas 
feitas a um entrevistado. Ela pode ser feita 
inteiramente de forma oral, mista (quando 
as perguntas são passadas por escrito para 
que o entrevistado possa se preparar, ou 
quando é transcrita) ou escrita. - A 
linguagem será determinada pelo 
contexto, mais informal ou mais formal. 
Em contexto acadêmico, é comum a 
entrevista de teóricos e pesquisadores, e, 
nesse caso, a linguagem será mais formal. 
Manifesto - É um texto em que um grupo 
de pessoas ou entidades expressam sua 
opinião sobre uma situação-problema. - A 
linguagem pode apresentar uma 
formalidade maior, por meio do uso da 
norma culta, ou um pouco menos formal, 
por meio da linguagem urbana comum. 
Ensaio - Consiste em um texto 
argumentativo acerca de um assunto. - 
Norma culta. 
Procuração - É um documento legal em 
que uma pessoa dá à outra o poder para 
tomar decisões, cuidar de propriedades ou 
negócios no seu lugar. - Linguagem mais 
formal, preferência da norma culta. 
Editorial - É um texto argumentativo que 
expressa a posição de um jornal ou revista 
sobre um assunto. - Linguagem mais 
formal, podendo apresentar elementos 
coloquiais, bem como se manter na norma 
culta. 
Edital - É um documento público que visa a 
comunicar, informar, convocar sobre 
determinado assunto. É comum em 
concursos, informando regras, requisitos, 
datas. - Norma culta. 
Certificado - É um documento 
comprobatório acerca da participação de 
alguém em algum evento ou acerca da 
verdade sobre algo. - Norma culta. 
Ata - É um registro resumido do que foi 
discutido ou tratado em uma reunião, 
assembleia, sessão. - Linguagem mais 
formal, preferência da norma culta. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Unidade 2 
Comunicação oral 
Elementos de variação linguística 
A necessidade de se comunicar é natural 
aos seres humanos. A fim de que 
diferentes formas de comunicação 
ocorram, ele utiliza linguagens. Por meio 
delas, é possível realizar trocas. A 
linguagem é a capacidade que o ser 
humano tem de se comunicar. Ela pode ser 
verbal e não verbal. Para Jakobson (2008), 
a linguagem é um dos sistemas de signos 
que pode ser usado como meio de 
comunicação entre sujeitos. 
Já o código é o conjunto de possibilidades 
que proporciona a comunicação e, junto 
com a linguagem, vai permitir que se 
construa uma língua. Esta caracteriza um 
povo, uma sociedade. A língua pode ser 
padrão, (ou língua formal e norma culta) 
ou informal (ou linguagem coloquial, a que 
se usa no dia a dia). Assim, o uso que cada 
indivíduo faz da língua é a fala, que pode 
ser também formal ou informal. 
Variação linguística é a capacidade que a 
língua tem de se transformar e se adaptar 
de acordo com alguns componentes, como 
o histórico, o social, o regional e o estilo 
por meio do qual os indivíduos se 
manifestam verbalmente. Ela é um 
movimento natural da língua, já que o 
sistema linguístico não é unitário e 
comporta vários eixos de diferenciação. 
Assim, a variação pode ocorrer em um ou 
em vários subsistemas de uma língua, seja 
fonético, morfológico, fonológico, 
sintático, léxico ou semântico, 
promovendo a evolução da língua. 
Níveis de variação linguística 
Todo idioma se estabelece em vários 
níveis. Estes estão relacionados à forma de 
pronunciar as palavras, que seria o nível 
fonético-fonológico. Também se 
relacionam com a maneira de organizar os 
enunciados, no caso a sintaxe. Além disso, 
têm relação com a maneira de escolher as 
palavras, que tange ao lexical ou vocabular. 
Ainda estão em jogo o modo de dar 
sentido aos vocábulos, que é o nível 
semântico, ou mesmo a maneira como a 
palavra é escrita ou utilizada, no caso o 
nível morfológico. Observe alguns 
exemplos: 
Nível fonético-fonológico: está relacionado 
à diversificação das maneiras de 
pronunciar palavras ou expressões. Por 
exemplo, gaúchos, cariocas e nordestinos 
falam de forma diferente. 
Nível morfossintático: ocorre na variação 
da estrutura dos enunciados, como na 
organização em períodos. Também há a 
conjugação de verbos irregulares como se 
fossem regulares. Exemplo: “manteu” em 
vez de “manteve”, “ansio” quando o 
correto é “anseio”. Outro exemplo é o fato 
de que em algumas regiões do Brasil se fala 
“você vai” e em outras “tu vais” ou “tu 
vai”. 
Nível vocabular: diz respeito à utilização de 
diferentes palavras para representar o 
mesmo objeto, fenômeno ou ser. Por 
exemplo: os termos moleque, garoto, 
menino e guri significam a mesma coisa, 
assim como mandioca, aipim e macaxeira. 
Outro exemplo de nível vocabular de 
variação linguística é o uso de gírias. 
Nível semântico: esse nível está 
relacionado à variação no sentido que as 
palavras adquirem ao longo do tempo, do 
espaço ou em diferentes grupos sociais. Em 
Portugal, por exemplo, se usa a palavra 
alcatrão com um sentido diferente do uso 
brasileiro. Aqui, alcatrão é um dos 
componentes do cigarro; lá, se refere ao 
asfalto. 
Tipos de variação linguística 
No Brasil, a língua portuguesa possui 
diversos linguajares e é falada de várias 
maneiras. Essas variações linguísticas são 
bastante evidentes. Afinal, cada região 
teve sua história socioeconômica e por isso 
possui peculiaridades linguísticas. Tais 
diferenças são compreendidas por meio 
dos elementos de variação linguística,como questões históricas, geográficas, 
sociais e de estilo. 
A variação linguística histórica é a maneira 
como a língua evolui ao longo do tempo. 
São as mudanças que a língua sofreu ao 
longo da história. Como exemplo, 
considere o pronome você. Ele se originou 
da expressão vossa mercê, passou para 
vosmecê, virou vancê e chegou ao termo 
que se usa atualmente: você. Isso quer 
dizer que a palavra evoluiu e se 
transformou ao longo do tempo. 
Já a variação regional é chamada também 
de diatópica. Ela está relacionada com 
palavras ditas em regiões diferentes, mas 
que significam a mesma coisa. Por 
exemplo: aipim, mandioca e macaxeira são 
três palavras diferentes usadas para 
designar a mesma coisa. Aqui também 
entra a parte fonética, como a forma de 
pronunciar certas letras. O “r” no meio das 
palavras, por exemplo, é pronunciado de 
forma diferente no Paraná e no Rio de 
Janeiro. Isso muda de acordo com a região. 
A variação social ou diastrática tem a ver 
com os diferentes grupos sociais e com os 
contrastes na linguagem. Pode ser por 
idade: quando o avô conversa com a neta, 
as falas são diferentes. Por exemplo: “Seu 
avô era um pão” e “Aquele menino é meu 
crush”. 
Saiba mais 
É difícil falar em diferenças culturais e 
variações de linguagem sem abordar o 
preconceito linguístico. O estudioso 
Marcos Bagno, em seu livro Preconceito 
linguístico: o que é, como se faz, recusa a 
noção que separa o uso da língua em certo 
e errado. O autor apresenta alguns mitos 
sobre o preconceito linguístico, de modo a 
instigar seu combate no dia a dia. Para 
Bagno, o preconceito linguístico está 
ligado, em boa medida, à confusão que foi 
criada, no curso da história, entre língua e 
gramática normativa. Para o autor, esse 
preconceito é alimentado diariamente, 
especialmente pela mídia e por livros e 
manuais que pretendem ensinar o que é 
“certo” e o que é “errado”. Além disso, os 
instrumentos tradicionais de ensino da 
língua, que são a gramática normativa e os 
livros didáticos, também contribuem para 
esse preconceito. De acordo com Bagno 
(1999), o preconceito linguístico se baseia 
na crença de que só existe uma única 
língua portuguesa digna deste nome. Esta 
seria a língua ensinada nas escolas, 
explicada nas gramáticas e catalogada nos 
dicionários. Para Bagno (1999, p. 42): 
“Qualquer manifestação linguística que 
escape desse triângulo escola-gramática- -
dicionário é considerada, sob a ótica do 
preconceito linguístico, ‘errada, feia, 
estropiada, rudimentar, deficiente’, e não é 
raro a gente ouvir que ‘isso não é 
português’. Um exemplo. Na visão 
preconceituosa dos fenômenos da língua, a 
transformação de L em R nos encontros 
consonantais como em Cráudia, chicrete, 
praca, broco, pranta é tremendamente 
estigmatizada e às vezes é considerada até 
como um sinal do ‘atraso mental’ das 
pessoas que falam assim. Ora, estudando 
cientificamente a questão, é fácil descobrir 
que não estamos diante de um traço de 
‘atraso mental’ dos falantes ‘ignorantes’ do 
português, mas simplesmente de um 
fenômeno fonético que contribuiu para a 
formação da própria língua portuguesa 
padrão.” 
Classe social também pode apontar 
variações de linguagem. Isso tem a ver com 
o tipo de cultura com que você tem 
contato. Além disso, o grupo social em que 
os indivíduos estão inseridos, como nerds, 
skatistas, surfistas, indica variação. Se você 
não faz parte de determinado grupo, pode 
não entender parte da linguagem utilizada 
por ele. 
A variação de estilo ou diafásica é a que 
tem relação com a situação de uso da 
língua, do que é e do que não é adequado. 
O estilo pode ser formal e informal, padrão 
e não padrão, coloquial e culto. O modo de 
usar a língua vai se adequar ao momento. 
Por exemplo: diante de um juiz, o sujeito 
vai formalizar a língua, mas quando está 
com a família, amigos ou em intimidade, a 
tendência é falar informalmente. 
Saiba mais 
Você pode encontrar os mesmos tipos de 
variação com outros termos, escritos por 
outros teóricos, como Marcos Bagno. O 
pesquisador explica que há diferenças 
entre os termos utilizados nas definições 
de variações linguísticas. Observe (BAGNO, 
2007): 
Dialeto: uso da língua em determinada 
região. 
Socioleto: variedade linguística de 
determinado grupo com características 
(sociais, profissionais, econômicas) 
comuns. 
Cronoleto: variedade de certa faixa etária. 
Idioleto: modo de falar característico de 
um indivíduo. 
Fique atento 
A transcrição da língua falada é um recurso 
cada vez mais explorado pela literatura, 
tendo em vista a vivacidade que dá ao 
texto. Observe, no trecho a seguir, algumas 
das características da língua falada. Você 
pode perceber, por exemplo, o uso de 
gírias e de expressões populares e 
regionais, além de incorreções gramaticais 
e repetições. “– Menino, eu nada disto sei 
dizer. A outro eu não falava, mas a ti eu 
digo. Eu não sei que gosto tem esse bicho 
de mulher. Eu vi Aparício se pegando nas 
danças, andar por aí atrás das outras, 
contar histórias de namoro. E eu nada. 
Pensei que fosse doença, e quem sabe não 
é? Cantador assim como eu, Bentinho, é 
mesmo que novilho capado. Tenho 
desgosto. A voz de Domício era de quem 
falava para se confessar: – Desgosto eu 
tenho, pra que negar?…” (REGO, 1979). 
Modalidades de fala e grau de 
formalidade 
As modalidades são as diferenças 
presentes entre fala e escrita. Isso porque 
na língua falada há, entre falante e ouvinte, 
uma interação direta. Já na língua escrita, a 
comunicação ocorre geralmente sem a 
presença de um dos sujeitos participantes. 
Estando próximos durante a troca, falante 
e ouvinte podem utilizar diversos outros 
elementos signifi cativos que 
complementam o discurso verbal no 
processo de comunicação. Há, por 
exemplo, gestos, entonação, expressões 
faciais, entre outros. 
Vistas como práticas sociais, já que o 
estudo da língua se funda em usos, as duas 
modalidades de fala da língua portuguesa 
são a oral e a escrita (MARCUSCHI, 2001, p. 
1). Como manifestação da prática oral, a 
fala é adquirida de modo natural em 
contextos informais do dia a dia. Também 
se desenvolve nas relações sociais que se 
estabelecem desde o momento em que 
uma criança nasce e tem os primeiros 
contatos com a mãe. Desse modo, o uso da 
língua natural e o aprendizado são formas 
de socialização e inserção cultural. 
É necessário identificar os elementos que 
fazem parte da situação comunicativa para 
compreender e analisar adequadamente 
um texto, seja ele falado ou escrito. Nesse 
caso, os componentes seriam falante – 
ouvinte/escritor – e leitor. Além disso, é 
importante considerar as condições em 
que cada texto foi produzido. São elas que 
possibilitam a ação social ou de interação 
que é estabelecida entre os sujeitos. Além 
disso, elas são distintas em cada 
modalidade. A fala, por exemplo, possui 
como características, entre outras tantas, o 
uso da palavra sonora e a interação face a 
face. Portanto, requer a presença dos 
interlocutores no mesmo espaço físico e de 
tempo; o planejamento simultâneo ou 
quase simultâneo à execução; a 
espontaneidade e o imediatismo. Além 
disso, pode ser repetitiva e redundante. Ela 
considera o contexto extralinguístico e 
possui recursos como signos acústicos e 
extralinguísticos, gestos, entorno físico e 
psíquico. 
No texto oral, você pode encontrar 
características inerentes à língua falada. 
Há, por exemplo, os marcadores 
conversacionais. Elessão elementos típicos 
da fala que não integram o conteúdo do 
texto, apresentando valor tipicamente 
interacional. Por exemplo: “bom”, “eu 
acho que”, “quer dizer”, “então”, 
“entende?” e “né?”). Há também as 
marcas prosódicas. Elas estão relacionadas 
à pronúncia. Um exemplo são os 
alongamentos, como nos termos “ouVIR::” 
e “faLAR::” (marcados com ::). Outros 
exemplos são a entonação enfática, assim 
como nas palavras do exemplo anterior, 
“ouVIR::” e “faLAR::” (marcado com ::); e as 
hesitações, como “na medida em que... 
ahn” (uso do marcador “ahn” associado ao 
alongamento é uma marca prosódica). 
Outra característica é a repetição. Por 
exemplo: “O rádio de pilha, né? Quer dizer, 
o rádio de pilha”. A correção é outra das 
características, por exemplo: “O rádio eu 
acho que tem um papel até... numa certa 
medida... ele provocou pelo alCANce que 
tem uma revolução até maiOr do que a 
televisão...”. E há ainda a paráfrase. Ela é a 
relação de equivalência semântica: 
“através do rádio de pilha... ele pôde se 
ligar ao resto do mundo, saber que existem 
outros lugares, outras pessoas, que existe 
um governo...” (ANDRADE, 2011). 
Você deve observar também os graus de 
formalidade que se usam na fala. 
Geralmente, em uma situação formal, o 
indivíduo culto procura seguir as regras da 
língua e conversar usando a norma culta, 
procurando também não usar vocabulário 
vulgar. Há pelo menos dois níveis de língua 
falada: a culta ou padrão e a coloquial ou 
popular. Além dessas, a linguagem 
coloquial também é registrada quando há 
o uso de gírias, na linguagem familiar, na 
linguagem vulgar e nos regionalismos e 
dialetos. 
Fique atento 
De acordo com Marcuschi (2000), tanto a 
variedade escrita quanto a falada 
apresentam: língua padrão/variedades não 
padrão; língua culta/língua coloquial; 
norma padrão/ normas não padrão. Afinal, 
a língua em si não é um sistema único e 
abstrato, mas heterogêneo e repleto de 
variação. 
Com relação às nomenclaturas, Bagno 
(2001) questiona a que tipo de norma culta 
se referem aqueles que lidam direta ou 
indiretamente com a língua portuguesa, já 
que há dois sentidos para o termo: (1) o 
que é norma, frequente e habitual; ou (2) o 
que é normativo, elaborado, regra 
imposta. De acordo com o teórico, o 
primeiro conceito está ligado à linguagem 
que é empregada para designar formas 
linguísticas existentes na realidade social. 
Já o segundo sentido é o mais difundido. 
Ele tem circulação maior na sociedade e já 
se tornou senso comum, virando mais um 
preconceito do que um conceito. Isso pois 
trata a língua como única e estática, como 
se existisse apenas uma maneira certa de 
falar ou discorrer. Bagno propôs novas 
nomenclaturas, pois percebeu alguns 
impasses no uso da norma culta. Observe: 
Norma-padrão: designa o modelo ideal de 
língua; algo que está fora e acima da 
atividade linguística dos falantes. 
Variedades prestigiadas: indicam as 
variedades linguísticas faladas pelo cidadão 
com alta escolarização e vivência urbana. 
Variedades estigmatizadas: assinalam as 
variedades linguísticas que caracterizam os 
grupos sociais desprestigiados do Brasil. 
FIGURA 1 
Você pode observar que existe uma zona 
intermediária entre as variedades 
prestigiadas e as estigmatizadas. As 
influências de umas sobre as outras são 
intensas e constantes. Para Bagno (2001, p. 
80), “Isso é mais do que natural numa 
sociedade complexa como a brasileira 
contemporânea, sobretudo por causa dos 
meios de comunicação de massa 
(principalmente a televisão e o rádio)”. 
A norma padrão fica no alto, na 
estratosfera da abstração, do virtual. Para 
o teórico, ela exerce uma influência muito 
forte sobre o imaginário de todos os 
brasileiros. Porém, essa influência diminui 
na medida em que se afasta das camadas 
sociais privilegiadas. Essa norma-padrão 
está ligada à escola, ao ensino formal. Só 
se aproximam dela os brasileiros que 
conseguiram passar pelo funil da educação 
formal, percorrendo até o fim o trajeto de 
formação escolar. 
Por outro lado, há autores que apontam 
três níveis de linguagem que colaboram 
para compreender como o indivíduo 
falante pode se manifestar em diferentes 
situações. De acordo com Preti (1994), é 
possível dividir os níveis de fala em 
espécies. Observe: 
Formal (ou culto): usado em situações de 
formalidade, possui o predomínio de 
linguagem culta, ou seja, obedece à 
gramática normativa. 
Geralmente é usado em situações que 
exigem tal posicionamento do falante, 
como em discursos, sermões, 
apresentações de trabalhos científicos. 
Coloquial (ou informal): é habitual em 
situações familiares ou de menor 
formalidade. Tem predomínio de 
linguagem popular, linguagem afetiva, 
expressões obscenas. É a manifestação 
espontânea da língua. Nela, os falantes 
usam gírias, vocabulário às vezes 
pejorativo, formas subtraídas ou cortes das 
palavras e conjugação verbal inadequada. 
Também é pontuada por problemas de 
concordância verbal e nominal e outras 
marcas da oralidade, como “né”, “daí”, “a 
gente”, etc. Esse nível independe de regras 
e está presente nas conversas entre amigos 
e familiares, por exemplo. Na internet, é 
comum encontrar o nível coloquial em 
textos de diálogos, ou em redes sociais e 
em programas de mensagens instantâneas. 
Comum: recebe contribuições de um e de 
outro. 
FIGURA 2 
Gêneros de cunho oral, textual e híbrido 
Ao compreender como é a funcionalidade 
dos textos na interação dos indivíduos, 
você também investiga os diferentes textos 
utilizados para a comunicação na 
sociedade. Isso leva a uma discussão sobre 
gêneros, já que eles estão presentes em 
todas as circunstâncias e ações humanas. 
Afinal, em qualquer lugar em que exista 
linguagem, há gêneros textuais ou 
discursivos, orais ou escritos. 
Como as esferas de produção da linguagem 
são diversas, também há uma 
multiplicidade de gêneros em diferentes 
situações e em formatos diversos. No 
supermercado, por exemplo, você 
encontra panfletos, placas, indicações de 
ofertas e a conta no caixa. 
Desse modo, cada esfera elabora seus 
gêneros. E faz isso conforme aspectos 
sociais próprios, finalidades comunicativas 
e especificidades das situações de 
interação em que os enunciados estão 
sendo produzidos. 
A denominação de gênero discursivo foi 
apresentada pela primeira vez pelo autor 
russo Mikhail Bakhtin (1979). Ele 
caracterizou os gêneros como tipos 
relativamente estáveis de enunciados. De 
acordo com o teórico, os gêneros de que 
os interlocutores sociais fazem uso nas 
interações verbais são tão variados e 
heterogêneos quanto a diversidade de 
esferas de circulação social nas interações 
verbais e as diferentes atividades humanas. 
Para Bakhtin (1979), nas inúmeras esferas 
de circulação, o uso da língua ocorre ou em 
forma de enunciados ou pela 
heterogeneidade de gêneros que os 
constitui. Você pode encontrar uma 
diversidade de gêneros discursivos que se 
modificam e se ampliam, dependendo dos 
contextos social e histórico em que 
circulam, conforme as condições e 
finalidades de cada uma das esferas. 
Saiba mais 
Circulando em diferentes esferas, os 
gêneros refletem o conjunto de temas e 
relações possíveis nas formas de enunciar 
ou dizer algo. Assim, o enunciado está 
sempre nas relações sociais. Ele constitui a 
unidade formal da língua e incorpora o 
estilo, a composição e o tema. Bakhtin 
considerava esses aspectos 
indissoluvelmente vinculados. Também 
afirmavaque eles se concretizam em 
forma de gêneros. 
De acordo com o teórico Marcuschi (2005), 
os gêneros surgem como formas da 
comunicação para atender a necessidades 
de expressão do ser humano. Eles são 
conformados por influência do contexto 
histórico e social das diversas esferas da 
comunicação humana. Para o estudioso, os 
gêneros textuais são como “[...] entidades 
sociodiscursivas e formas de ação social 
incontornáveis de qualquer situação 
comunicativa [...]” (MARCUSCHI, 2005, p. 
19). 
Isso quer dizer que os gêneros podem se 
modificar com o passar do tempo. Eles 
podem surgir e desaparecer, além de se 
diferenciar de uma cultura para outra. São 
dinâmicos e heterogêneos, variando de um 
diálogo informal até as teses de doutorado, 
por exemplo. Você pode encontrá-los nas 
formas oral, escrita e híbrida. Para 
Marcuschi (2008), não existe comunicação 
que não seja feita por meio de algum 
gênero. Mesmo um indivíduo falante que 
não possua saber técnico tem capacidade 
para se comunicar e ser compreendido por 
seu interlocutor. 
Marcuschi (2002, p. 22-23) explica que: 
Usamos a expressão gênero textual como 
uma noção propositalmente vaga para 
referir os textos materializados que 
encontramos em nossa vida diária e que 
apresentam características sócio-
comunicativas definidas por conteúdos, 
propriedades funcionais, estilo e 
composição característica. 
Exemplo 
De acordo com o Marcuschi (2005), alguns 
exemplos de gêneros textuais seriam: 
telefonema, sermão, carta comercial, carta 
pessoal, romance, bilhete, reportagem 
jornalística, aula expositiva, reunião de 
condomínio, notícia jornalística, 
horóscopo, receita culinária, bula de 
remédio, lista de compras, cardápio de 
restaurante, instruções de uso, outdoor, 
inquérito policial, resenha, edital de 
concurso, piada, conversação espontânea, 
conferência, carta eletrônica, bate-papo 
por computador, aulas virtuais e assim por 
diante. 
Marcuschi (2008) explica que os gêneros 
orais e escritos estão relacionados, mas 
fala e escrita não são idênticas. O que dá 
tal classificação para cada uma é a forma 
em que se originou. Por exemplo, um texto 
jornalístico não deixa de ser um texto 
escrito por ter sido apresentado em um 
telejornal. 
Existem gêneros das culturas orais que 
nunca farão parte de culturas 
caracteristicamente escritas, e vice-versa. 
Também é importante você lembrar que a 
fala nem sempre reproduzirá a escrita, ou a 
escrita reproduzirá a fala. Elas podem 
caminhar juntas sem anular as 
peculiaridades de uma ou outra. Por outro 
lado, Marcuschi (2008) indica que os 
gêneros textuais não podem ser 
considerados estanques. Eles são como 
entidades dinâmicas da materialização de 
ações comunicativas. Podem ser híbridos, 
de modo a atingir determinados objetivos 
comunicativos. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Estratégia de leitura – leitura oral e 
textual 
Estratégias de leitura: concepções 
A leitura é um processo em que o leitor 
constrói significados para o texto. Para 
isso, deve considerar o conhecimento que 
possui sobre o tema, o autor, o sistema de 
escrita e o gênero textual. O leitor também 
deve considerar o que busca no texto. As 
informações do texto não são extraídas a 
partir de cada letra ou de cada palavra, 
mas do significado que juntas formam. 
De acordo com as pesquisadoras Marisa 
Lajolo e Regina Zilberman (1982), a leitura 
é um processo de interlocução que ocorre 
entre leitor e autor por meio da mediação 
do texto. Nas palavras das teóricas 
(LAJOLO; ZILBERMAN, 1982, p. 59): 
Ler não é decifrar, como num jogo de 
adivinhações, o sentido de um texto. É, a 
partir do texto, ser capaz de atribuir-lhe 
significado, conseguir relacioná-lo a todos 
os outros textos significativos para cada 
um, reconhecer nele o tipo de leitura que 
seu autor pretendia e, dono da própria 
vontade, entregar-se a esta leitura, ou 
rebelar-se contra ela, propondo outra não 
prevista. 
Cavalcante Filho (2011) explica que ler 
adequadamente vai além de apenas ser 
capaz de decodificar palavras ou 
expressões ordenadas linearmente em 
sentenças ou textos. “Se as pessoas lessem 
assim, não seriam capazes de perceber 
quando um texto é irônico, não 
entenderiam ‘indiretas’ e duplos sentidos, 
muitos avisos, e, além disso, a maior parte 
das piadas e textos de propaganda, por 
exemplo.” (CAVALCANTE FILHO, 2011, p. 
1722). Desse modo, como você viu, a 
leitura é resultado de dois tipos de fatores: 
os propriamente linguísticos, que são os 
significados literais das palavras e os 
fatores sintáticos; e os contextuais ou 
situacionais, que podem ser de natureza 
bastante variada. 
A decodificação é apenas um dos artifícios 
usados na prática da leitura, pois esse 
processo envolve outras estratégias na 
construção de significados. As estratégias 
de leitura são técnicas utilizadas pelos 
leitores para adquirir uma informação. 
Além disso, podem ser consideradas 
procedimentos ou atividades escolhidas 
que facilitam o processo de compreensão 
da leitura. Elas se adaptam a diversas 
situações, variando conforme o texto lido e 
de acordo com a abordagem, que é 
previamente elaborada para facilitar a 
compreensão do leitor. 
Saiba mais 
De acordo com Solé (1998), na literatura 
especializada uma estratégia poderia ser 
considerada um procedimento e, na 
tradição psicopedagógica, “estratégias de 
leitura”. 
Existem estratégias que facilitam a 
compreensão do leitor a respeito do texto. 
De acordo com Solé (1998), essas 
estratégias podem ser invocadas antes da 
leitura para situar o leitor, estimulando-o 
para que assuma um papel ativo no 
processo. Durante a leitura, as estratégias 
podem atuar de modo que o leitor possa 
construir uma interpretação que o ajude a 
resolver problemas. Depois da leitura, elas 
podem unificar de forma concreta as 
etapas anteriores. De acordo com a autora 
(SOLÉ, 1998, p. 72): 
Consideramos as estratégias de 
compreensão leitora como um tipo 
particular de procedimento de ordem 
elevada. Como poderão verificar, cumprem 
todos os requisitos: tendem à obtenção de 
uma meta, permitem avançar o custo da 
ação de leitor, embora não a preservem 
totalmente; caracterizam-se por não 
estarem sujeitas de forma exclusiva a um 
tipo de conteúdo ou a um tipo de texto. 
Leitura moderna e tradicional: diferenças 
Conforme os estudos realizados na área da 
linguística foram evoluindo, os conceitos 
sobre leitura também sofreram variações. 
Nessa esteira, há três principais 
perspectivas de leitura que apareceram no 
decorrer do tempo: são a leitura 
ascendente (estruturalista), a leitura 
descendente (construtivista) e a leitura 
sociointeracionista (interacionista). A 
seguir, você vai conhecer melhor cada uma 
delas. 
Leitura ascendente: o ensino de leitura 
tradicional é fundamentado na concepção 
de leitura ascendente. De acordo com 
Kleiman (2002), alguns definem essa leitura 
como um processo de decodificação 
sonora das unidades linguísticas, e o 
sentido da leitura só pode sair da página 
impressa. É um processo sistêmico, no qual 
se identifica letra por letra, da esquerda 
para a direita, realizando uma 
decodificação. Isso significa que ler seria 
apenas perceber as informações que estão 
implícitas no texto. O leitor fica restrito a 
determinadasestruturas e só atingirá a 
compreensão e o sentido do texto a partir 
da formulação de perguntas superficiais, 
que possuem suas respostas em certos 
excertos do texto, o que não exige do leitor 
uma reflexão ou uma leitura mais atenta. 
Esse tipo de leitura também é conhecido 
como perspectiva do texto. Assim, o texto 
é, de acordo com Kleiman (2002), 
considerado um objeto completo. Quando 
os seus elementos são decodificados, dão o 
seu sentido, sem depender do leitor e das 
circunstâncias em que foi produzido. 
Leitura descendente: essa perspectiva de 
leitura segue uma linha construtivista, 
segundo Figueiredo (1985). Nessa linha, a 
leitura é considerada um complexo 
processo psicolinguístico, e o leitor atinge o 
sentido do texto a partir de seu 
conhecimento de mundo e da criação de 
hipóteses. Tal perspectiva de leitura é 
fundamentada em aspectos cognitivos e 
está centrada no leitor. Nesse processo, ele 
possui a função de dar significado ao texto, 
como em um jogo de adivinhação. Esse 
processo de leitura acontece de forma 
inconsciente pelo aluno, pois não é 
apresentado pelos professores. Desse 
modo, é necessário cuidado ao utilizar 
apenas esse modo de leitura. Isso pois o 
docente é como um facilitador do aluno no 
momento da leitura. Portanto, acredita 
que é o leitor que pode descobrir os 
significados e os sentidos do texto a partir 
de seu conhecimento próprio e da sua 
subjetividade. 
Essa perspectiva é centrada no leitor. Ele é 
a fonte dos sentidos, pois a compreensão 
parte da sua mente. De acordo com 
Goodman (1989) e Smith (1999), o leitor 
toma o texto somente para confirmar 
expectativas e hipóteses. 
Leitura sociointeracionista: essa 
perspectiva está relacionada com a 
psicolinguística, a teoria dos esquemas e a 
pragmática. Aqui, a leitura ocorre a partir 
dos dois movimentos anteriores: o 
ascendente e o descendente. Isso significa 
que ocorre uma integração entre a 
informação que o leitor encontra no texto 
impresso e o seu conhecimento de mundo, 
suas vivências. É o que se conhece por 
perspectiva moderna. 
Fique atento 
Como você viu, a leitura tradicional se trata 
de decodificar o texto, porém a moderna 
pretende que o leitor construa um sentido 
a partir da leitura. As duas primeiras, 
ascendente e descendente, podem ser 
consideradas restritas para a leitura, pois 
confiam ou só no leitor ou só no texto. 
Leituras verticais e horizontais 
As leituras são classificadas de diferentes 
formas por pesquisadores da área. Aqui, 
você vai conhecer melhor a proposta de 
Nascimento (2009), baseada nos tipos de 
leitor de Santaella (2004). Para os autores, 
são quatro os tipos de leitura, como você 
pode ver a seguir. 
Leitura contemplativa, meditativa: de 
acordo com o pesquisador (NASCIMENTO, 
2009), é a leitura típica do livro. Nela, o 
leitor se dedica a uma leitura aprofundada, 
também chamada de vertical. “Esse leitor 
se debruça, contempla, medita sobre o 
texto.” (NASCIMENTO, 2009, p. 100). Sobre 
esse tipo de leitura, Santaella (2004, p. 23) 
diz que “[...] nasce da relação íntima entre 
o leitor e o livro, leitura de manuseio, da 
intimidade, em retiro voluntário, num 
espaço retirado e privado, que tem na 
biblioteca seu lugar de recolhimento, pois 
o espaço da leitura deve ser separado dos 
lugares de um divertimento mundano.”. 
Leitura movente, fragmentária: para 
Nascimento (2009), essa leitura é típica da 
cidade, do leitor que recebe vários 
estímulos o tempo todo, como as pessoas 
que passam na rua, o outdoor, a buzina e o 
anúncio de carro de som. De acordo com 
esse autor, “É a leitura da industrialização, 
da produção em série, de um leitor que 
descobre que o mundo é muito maior do 
que ele imaginava, o qual conhece por 
meio dos jornais, das revistas, das 
publicidades, da fotografia, do rádio, da 
televisão, do cinema.” (NASCIMENTO, 
2009, p. 101). Para o autor (NASCIMENTO, 
2009), esse tipo de leitor fica fascinado 
com tantos textos aos quais possui acesso 
e quer lê-los com avidez. 
Fique atento 
Na leitura movente, o leitor não consegue 
contemplar, meditar sobre o texto, pois 
depende do tempo. Então, ou ele passa 
pelos textos, ou os textos passam por ele. É 
uma leitura horizontal. 
Leitura imersiva, virtual: essa leitura se 
centra na era digital. Exige que o leitor faça 
seleções para não se perder na 
virtualidade. De acordo com Nascimento 
(2009, p. 105), o leitor imersivo “[...] tem 
(ou deveria ter) consciência de que o 
mundo é muito maior do que ele pode 
abraçar e escolhe, na infinidade de textos a 
sua disposição (todos a distância de poucos 
cliques), os textos e caminhos que lhe 
interessam, que deseja.”. 
Leitura oral, dialógica: Nascimento (2009) 
inclui, entre os tipos de leitura anteriores, 
citados por Santaella (2004), essa quarta 
classificação, que ele viu evidenciada à 
leitura contemplativa. “Trata-se de uma 
leitura coletiva, em que alguém narra (a 
partir de um registro escrito ou não) aos 
demais espectadores-leitores.” 
(NASCIMENTO, 2009, p. 107). De acordo 
com o pesquisador, nessa leitura, o leitor 
acaba sendo um coautor. Exemplo disso 
são as lendas passadas de geração em 
geração. 
Saiba mais 
Para saber mais sobre o processo de 
leitura, leia o texto “As multifaces da 
leitura: A construção dos modos de ler” 
(ALMEIDA, 2008). 
Estratégias de leitura literal de um texto 
As leituras literais ou textuais estão 
relacionadas aos níveis de compreensão de 
leitura. Esses níveis são três, de acordo 
com a taxonomia de Barret, apresentada 
por Alliende e Condemarín (1987): nível de 
compreensão literal, nível de compreensão 
interpretativa ou inferencial e nível de 
compreensão crítico. 
A compreensão literal se trata da 
reorganização de ideias, informações ou 
outros elementos do texto a partir das 
atividades de classificação, esboço, resumo 
e síntese. Assim, cada uma dessas 
atividades possui um objetivo na leitura, 
como você pode ver a seguir. 
Classificação: localização de categorias que 
aparecem no texto, como pessoas, lugares 
e ações. 
Esboço: reprodução do texto em forma de 
esquema; usa frases, representações ou 
disposições gráficas. 
Resumo: condensação do texto, que 
ocorre por meio de frases que narram os 
elementos ou fatos principais. 
 
Síntese: conversão de diversas ideias, fatos 
ou elementos por meio de amplas 
formulações. 
Esse tipo de leitura vai levar você a 
identificar o gênero do texto, o domínio 
discursivo, a linguagem usada, o veículo em 
que é difundido, as informações literais, 
entre outros aspectos. Observe, a partir do 
texto a seguir (G1, 2017), como funcionam 
essas estratégias de leitura. 
Vingadores: Guerra Infinita bate recorde 
de trailer mais visto em 24 horas, diz 
Marvel “O primeiro trailer de Vingadores: 
Guerra Infinita, lançado na quarta-feira 
(29), bateu o recorde de trailer mais visto 
em 24 horas. Foram 230 milhões de 
reproduções, de acordo com a Marvel, 
superando a prévia de It – A Coisa, antiga 
dona da marca com 197 milhões de 
visualizações. A editora postou uma 
mensagem de agradecimento aos fãs no 
Twitter. “Obrigado aos melhores fãs do 
universo por fazer de Vingadores: Guerra 
Infinita o trailer mais visto da história em 
24 horas, com 230 milhões de 
visualizações”, disse o perfil da Marvel na 
rede social. O filme estreia no Brasil no dia 
26 de abril de 2018. 
Vingadores x Thanos Guerra Infinita é o 
terceiro filme da equipe de super-heróis 
que conta com Capitão

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