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APOSTILA-COMUNICAÇÃO-E-EXPRESSÃO-1

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1 
 
CENTRO UNIVERSITÁRIO FAVENI 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
COMUNICAÇÃO E EXPRESSÃO 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
GUARULHOS – SP 
2 
 
SUMÁRIO 
1 COMUNICAÇÃO: A ORIGEM DO TERMO .............................................................. 3 
1.1 Os fundamentos científicos da comunicação social .............................................. 6 
2 COMUNICAÇÃO E HISTÓRIA ................................................................................. 9 
3 VARIAÇÃO LINGUÍSTICA ..................................................................................... 15 
3.1 Modalidades da língua ........................................................................................ 18 
3.2 Adequação linguística ......................................................................................... 19 
4 MODALIDADES DE FALA E GRAU DE FORMALIDADE ...................................... 20 
4.1 Gêneros de cunho oral, textual e híbrido ............................................................ 24 
4.2 Discurso................................................................................................................26 
4.3 Diálogo..................................................................................................................26 
4.4 Intencionalidade discursiva .................................................................................. 27 
4.5 Marcas de subjetividade ...................................................................................... 29 
4.6 O papel da subjetividade ..................................................................................... 32 
5 CONCEPÇÃO INTERACIONISTA E LINGUAGEM ................................................ 37 
6 TEXTO E INTERAÇÃO .......................................................................................... 41 
6.1 Intertextualidades implícita e explícita ................................................................. 43 
7 COMUNICAÇÃO ESCRITA .................................................................................... 45 
7.1 O surgimento da escrita ...................................................................................... 45 
8 GÊNEROS E TIPOS TEXTUAIS ............................................................................ 48 
8.1 Apontamentos iniciais.......................................................................................... 48 
8.2 Gêneros textuais ................................................................................................. 51 
8.3 Tipos textuais ...................................................................................................... 54 
8.4 Texto e Textualidade ........................................................................................... 59 
8.5 Intertextualidade .................................................................................................. 60 
8.6 Paródia.................................................................................................................61 
3 
 
8.7 Paráfrase..............................................................................................................64 
8.8 Estilização ........................................................................................................... 69 
8.9 Apropriação ......................................................................................................... 71 
9 O TEXTO ACADÊMICO ......................................................................................... 72 
9.1 Fichamento .......................................................................................................... 72 
9.2 Resumo................................................................................................................77 
9.3 A Resenha ........................................................................................................... 80 
9.4 Resenha Crítica ................................................................................................... 81 
9.5 Resenha Descritiva ............................................................................................. 82 
10 O TEXTO COMERCIAL ........................................................................................ 83 
10.1 As Cartas Comerciais ........................................................................................ 83 
11 E-MAILS ................................................................................................................ 86 
11.1 Internet................................................................................................................86 
11.2 O E-mail Propriamente Dito ............................................................................... 86 
11.3 E-mails Comerciais............................................................................................ 88 
11.4 E-mails Pessoais ............................................................................................... 89 
11.5 Qualidades do Texto ......................................................................................... 90 
11.6 Unidade..............................................................................................................90 
11.7 Adequação ........................................................................................................ 91 
11.8 Concisão......... .................................................................................................. 91 
11.9 Clareza...............................................................................................................91 
11.10 Coerência ........................................................................................................ 92 
11.11 Ênfase e Vigor ................................................................................................. 94 
11.12 Elegância ......................................................................................................... 94 
11.13 Objetividade .................................................................................................... 95 
12 DOMÍNIO DA INFORMAÇÃO ............................................................................... 96 
13 FERRAMENTAS DO REDATOR .......................................................................... 97 
4 
 
13.1 Gramáticas ........................................................................................................ 97 
13.2 Dicionários ......................................................................................................... 98 
13.3 Livros de Redação e Estilo ................................................................................ 98 
13.4 Textos de Consulta da Área .............................................................................. 98 
14 ESTILO E ESTÉTICA ........................................................................................... 99 
14.1 Estilística e Eficácia Redacional ........................................................................ 99 
14.2 Estilística Fraseológica .................................................................................... 100 
15 ESTÉTICA .......................................................................................................... 102 
15.1 Tipos de Estética (Estilos) utilizados ............................................................... 103 
15.2 Correspondência Oficial .................................................................................. 103 
15.3 Outros Documentos Considerados Oficiais ..................................................... 108 
15.4 Correspondência Empresarial ......................................................................... 111 
15.5 Correspondências Particulares ....................................................................... 113 
15.6 Relatórios ........................................................................................................114 
16 NORMAS GERAIS PARA REDAÇÃO ................................................................ 114 
17 REDAÇÃO OFICIAL E REDAÇÃO EMPRESARIAL ........................................... 115 
17.1 Redação Oficial ............................................................................................... 116 
17.2 Características Específicas ............................................................................. 118 
17.3 Pronomes de Tratamento ................................................................................ 118 
17.4 Fechos para Comunicações Oficiais ............................................................... 118 
17.5 Identificação do Signatário .............................................................................. 119 
18 ORATÓRIA, RETÓRICA E ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÕES................... 120 
18.1 ORATÓRIA: ESTRATÉGIA PARA O DESENVOLVIMENTO PESSOAL E 
PROFISSIONAL....................................................................................................... 122 
18.2 FATORES QUE COLABORAM PARA UMA APRESENTAÇÃO BEM 
SUCEDIDA...............................................................................................................123 
18.3 Sugestões para Organizar uma Apresentação ................................................ 124 
5 
 
18.4 Exercite sua fala com vocabulário e estruturas de frases distintas ................. 127 
 
 
3 
 
1 COMUNICAÇÃO: A ORIGEM DO TERMO 
 
https://escolaeducacao.com.br 
Antes mesmo de você se interessar em estudar e pesquisar comunicação, o 
ato de comunicar já fazia parte da sua vida intensamente, não é mesmo? 
As tradicionais interações face a face e os antigos meios, como carta, jornal, 
telégrafo, telefone, rádio e televisão, têm dividido com ou cedido espaço para as 
interações via internet nos computadores e em seguida nos celulares smartphones. 
Hoje, você está conectado durante boa parte do seu dia. Interage com os amigos no 
WhatsApp, vê o que eles fazem no Facebook, no Instagram ou no Snapchat, certo? 
Então, mesmo que não fosse um estudante de comunicação, seria interessante 
conhecer mais sobre esse tema. Afinal, ele faz parte e interfere nas vivências diárias 
de cada um. Mas você sabe o que é, de fato, comunicação? 
Para começar uma discussão sobre o conceito de comunicação, é preciso 
recorrer à etimologia da palavra, ou seja, à sua origem. João Pedro Sousa (2006), em 
Elementos de Teoria e Pesquisa da Comunicação e dos Media, alerta para o fato de 
que esse não é um conceito simples de delimitar. Isso ocorre pela sua amplitude e 
também porque diversas formas de comunicação ocorrem a todo momento, 
intencionalmente ou não. 
Afinal, o mundo está cheio de significados, e as pessoas estão frequentemente 
interpretando os acontecimentos de diversas formas. 
 
4 
 
A raiz da palavra é latina: communicatione significa “ação comum” ou 
“participar”. Communicatione deriva de commune, que quer dizer “comum”. Assim, ao 
tornar algo comum, seja uma informação, uma emoção ou uma experiência, ocorre a 
comunicação. 
No contexto do cristianismo antigo, quando o isolamento era valorizado como 
um caminho para encontrar Deus, havia duas correntes que lidavam com essa 
questão de formas diferentes. 
Uma era a dos anacoretas. Eles acreditavam na importância da solidão radical 
e viviam de forma individual. 
A outra era a dos cenobitas. Eles apostavam na vida em comunidade, em 
conventos ou mosteiros, também chamados de cenóbios, palavra que significa “lugar 
onde se vive em comum”. No mosteiro, surgiu uma nova prática, chamada de 
communicatio, referente a “tomar a refeição da noite em comum”. 
Dessa forma, communicatio significava não simplesmente ir jantar, mas sim o 
momento da quebra do isolamento, de juntar o grupo para fazer algo em comum. Por 
isso, o sentido de communicatio era diferente da noção de comer de uma comunidade 
primitiva (MARTINO, 2013). 
Esse sentido original de comunicação implica alguns pontos que são úteis para 
o entendimento dos conceitos atuais. Um aspecto é o de que comunicação não 
significa toda e qualquer relação, mas aquelas que têm o isolamento como pano de 
fundo. 
Além disso, existe a intenção de quebrar o isolamento. A ideia de uma 
realização em comum também está presente. 
O que dizem os dicionários sobre o conceito de comunicação (MARTINO, 2013, 
p. 15)? 
 
1. Fato de comunicar, de estabelecer uma relação com alguém, com alguma 
coisa ou entre coisas. 
2. Transmissão de signos por meio de um código (natural ou convencional). 
3. Capacidade ou processo de troca de pensamentos, sentimentos, ideias ou 
informações por meio de fala, gestos, imagens, seja de forma direta ou 
pelos meios técnicos. 
4. Ação de utilizar meios tecnológicos (comunicação telefônica). 
 
5 
 
5. A mensagem, informação (a coisa que se comunica: anúncio, novidade, 
informação, aviso, etc.). 
6. Comunicação de espaços (passagem de um lugar a outro), circulação, 
transporte de coisas: “vias de comunicação – artérias, estradas, vias 
fluviais”. 
7. Disciplina, saber, ciência ou grupo de ciências. 
 
Os sentidos de comunicação dos dicionários são importantes para você ter uma 
ideia inicial sobre o tema, mas é preciso se aprofundar mais. 
De acordo com João Pedro Sousa (2006), é possível dissertar sobre 
comunicação sob duas grandes perspectivas. 
Uma seria a da comunicação como processo: comunicadores trocam, 
intencionalmente, gestos, palavras, imagens, ou seja, mensagens codificadas, por 
meio de um canal, gerando certos efeitos. 
A outra seria a da comunicação como uma atividade social. 
Portanto, os seres humanos, em uma dada cultura, vivem as suas realidades 
do dia a dia, criando e trocando significados. 
As duas colocações se complementam. Nesse sentido, as mensagens só têm 
efeitos porque ganham um significado em determinado contexto social e cultural. 
Por outro lado, também há diferença entre as duas posições. 
A primeira considera que só há comunicação se houver um emissor, um 
receptor e uma mensagem codificada. 
Já para a segunda, isso não é necessário. Assim, à medida que os seres 
humanos dão significado aos acontecimentos do mundo, a comunicação está 
ocorrendo. 
Ainda é possível complexificar mais os conceitos de comunicação. 
Para Muniz Sodré (1996), o termo se refere a pôr em comum os conteúdos que 
social, política ou existencialmente não devem permanecer isolados. 
De acordo com ele, o afastamento originário devido à diferença entre os seres 
humanos, à alteridade, é minimizado por causa de um laço formado pelo 
compartilhamento de recursos simbólicos. Já o termo “linguagem” se refere à “ordem 
de acolhimento das diferenças e de promoção da dinâmica mediadora entre os 
homens” (SODRÉ, 1996). 
 
6 
 
Nessa perspectiva, a comunicação é de extrema importância social, cultural e 
política. 
É por meio dela que as pessoas ultrapassam as diferenças e seguem em 
direção aos seus objetivos. 
1.1 Os fundamentos científicos da comunicação social 
 
https://www.unicentrofm.com.br 
Refletindo sobre a constituição do campo da comunicação, parte de duas 
noções. José Luiz Braga (2011) 
A primeira considera ocioso discutir sobre o estatuto acadêmico formal do 
campo. 
Assim, assume a sua existência enquanto campo social. Isso pois, quando se 
diz “comunicação social”, na atualidade, há um forte consenso sobre o assunto. A 
segunda não aceita uma explicação do campo com base em uma natureza 
interdisciplinar. 
Segundo Braga, a interdisciplinaridade pode ter diferentes sentidos. 
Um seria o de que um campo de estudos está sob influências de dados e 
conhecimentos desenvolvidos por outras disciplinas. 
Nesse caso, todos os campos do conhecimento são interdisciplinares. 
O segundo sentido seria uma referência a um espaço de interface. Neste, um 
dado conhecimento se forma na confluência de duas ou mais disciplinas, como na 
psicossociologiaou na bioquímica. 
 
7 
 
Nesse caso, seria preciso identificar e analisar um conjunto específico de 
disciplinas que estariam compondo a interface interdisciplinar da comunicação. O 
terceiro sentido indica que o terreno da comunicação é vazio e não existiria caso não 
fosse o fato de que todas as disciplinas humanas e sociais têm algo a dizer sobre essa 
temática. 
Contudo, essa perspectiva frouxa, na visão do autor, não explica o porquê do 
interesse generalizado no tema. Além disso, não esclarece por que ele não cabe nos 
espaços de cada campo particular, como acontece com outras temáticas, como 
violência, trabalho ou sexo. 
Com relação à caracterização de qual é o objeto de conhecimento que define 
a comunicação, José Luiz Braga apresenta duas primeiras alternativas. 
Ou a comunicação surge como uma questão bastante ampla e muito presente 
nas atividades humanas, a ponto de o objeto se tornar inapreensível (tudo seria 
comunicação: a política, a educação, a literatura, etc.), ou haveria ângulos e objetos 
específicos identificadores na área. 
O problema da primeira tendência é que a comunicação, estando em todo 
lugar, em todas as pautas, acaba estando em lugar nenhum, e o da segunda tendência 
é a possibilidade de se cair em um reducionismo lógico. 
Assim, preferências pessoais ou grupais de enfoque acabam pesando na 
escolha do que seria o campo. Outro problema é o de se evitar sobreposições em 
áreas de estudos mais tradicionais. 
Mas há também possibilidades menos radicais. Uma diz que o objeto da 
comunicação é qualquer “conversação” do espaço social (o que há de trocas 
simbólicas e de interações nas situações da vida social), e a outra enfoca naquilo que 
ocorre nos meios de comunicação social ou mídia. 
 “A definição da área pelos meios oferece o risco de segmentação do objeto em 
questões tecnológicas, ou jurídico-políticas, ou expressivo-interpretativas, ou outras 
[...]”, afirma Braga (2011). Portanto, o autor dá preferência à concepção de 
conversação. 
Por fim, Braga destaca que o objeto da comunicação não pode ser apreendido 
enquanto “coisas” nem “temas”, mas como certo tipo de processos caracterizados por 
uma perspectiva comunicacional. 
 
8 
 
O que importa é capturar os processos, seja nas mídias, nos signos ou em 
episódios interacionais. 
Sodré (2014), no mesmo sentido, aponta como objeto da comunicação os 
processos de vinculação. 
Ainda com relação à discussão sobre o objeto da comunicação, Vera França 
(2013) aponta para o fato de que uma reflexão rápida sobre o assunto, uma percepção 
pela vivência ou senso comum, levaria à ideia de que o objeto seria empírico – os 
meios de comunicação de massa. 
No entanto, ela lembra que os objetos do mundo são recortados, religados, pelo 
olhar dos que os estudam. 
Pois, ao se pensar em meios de comunicação de massa (televisão, rádio, etc.) 
como objeto, não se pode deixar de questionar sobre o que, exatamente, seria a 
reflexão: o desenvolvimento tecnológico dos aparelhos? A produção discursiva dentro 
do meio? A diversidade de produtos que foram aí gerados? A cultura profissional dos 
trabalhadores do veículo? 
Dessa forma, a comunicação tem ainda outra dimensão. Afinal, ela é também 
um conceito, uma forma de apreensão, uma representação de diferentes práticas – 
uma forma de conhecê-las e concebê-las. 
A partir disso, Vera França esclarece que o objeto da comunicação não são os 
objetos comunicativos do mundo, mas a forma de identificá-los e construí-los 
conceitualmente. 
Como resultado dos esforços para se saber mais sobre comunicação, surgiram 
os estudos e teorias da área. São o resultado de inúmeras iniciativas, com pretensão 
científica, de conhecer a comunicação. A constituição desse campo de estudo passou 
por tensões, contradições e dificuldades. Isso decorre, segundo a autora, da própria 
natureza do objeto ou da relação que se estabelece, às vezes de forma conflituosa, 
entre o campo da teoria e o da prática 
França lembra que o próprio espaço acadêmico da comunicação teve início por 
uma razão de ordem pragmática: os cursos profissionalizantes na área de 
comunicação, sobretudo de jornalismo. 
Então, os cursos surgiram antes da criação das teorias que apareceram logo 
depois, constituindo a formação técnica, mas também proporcionando uma dimensão 
humanista e social à formação. 
 
9 
 
Esse foco na prática trouxe algumas distorções, como a natureza instrumental 
da demanda. Assim, com certa frequência, o estudo da comunicação é realizado 
visando a determinado resultado. 
É, nesse sentido, guiado por finalidades específicas, comprometendo o 
distanciamento crítico que é preciso no âmbito científico. 
Por outro lado, a autora comenta que a crítica à identificação exagerada com a 
prática causou o efeito inverso: descolamento. 
Ela alerta que o foco na produção intelectual com desprezo pela empiria se 
transforma em pura abstração, não em produção científica. 
Assim, não faz sentido focar apenas na prática, nem só na teoria. 
Na visão de Vera França, os estudos da comunicação ainda não têm uma 
tradição estabelecida. O seu objeto ainda não foi constituído com clareza, nem a sua 
metodologia. 
Portanto, ela pensa que o campo da comunicação ainda está em constituição, 
como Sodré (2014). Diferente deste, entende que, por enquanto, trata-se de um 
domínio interdisciplinar. 
Aponta, no entanto, que “[...] a interdisciplinaridade é transitória: quando ela 
consegue se estabilizar, criar referências, fincar estacas – aí, sim, podemos falar do 
surgimento de um domínio novo” (FRANÇA, 2013) 
2 COMUNICAÇÃO E HISTÓRIA 
 
 
10 
 
A respeito do início da comunicação humana, ainda há muitas dúvidas e um 
território fértil para investigações. 
Não se sabe, de fato, se na Pré-história os seres humanos se comunicavam 
por gritos e grunhidos, assim como os animais, ou por gestos, ou ainda por uma 
mistura de tudo isso (DÍAZ BORDENAVE, 1982). 
 Sobre a origem da fala humana, se cogita que teve início com a imitação dos 
sons da natureza, como os das cachoeiras, rios e animais. 
Outra hipótese seria a de que os sons humanos começaram com as 
exclamações espontâneas, por exemplo, “ai” devido a uma dor, ou “ah” por admiração 
a algo. 
Além disso, especula-se que, nessa época, a comunicação também ocorria por 
sons emitidos por batidas das mãos e dos pés, bem como pelo uso de pedras e 
troncos ocos (DÍAZ BORDENAVE, 1982). 
O fato é que o ser humano passou a considerar alguns elementos como 
representantes dos significados de outros elementos, e assim surgiram os signos. 
Ou seja, as pessoas da Pré-história associaram sons e gestos a objetos ou 
ações. 
Os sons e gestos, nesse contexto, seriam então os signos, compartilhados 
socialmente, e o repertório dos signos, bem como as regras de combinações entre 
eles, necessárias para haver o entendimento do grupo social, deram origem à 
linguagem. 
Graças a essas regras de combinações, que você conhece como gramática, as 
intenções dos interlocutores ficam mais claras (DÍAZ BORDENAVE, 1982). 
Já imaginou se o seu amigo dissesse “o doce comeu ela” em vez de “ela comeu 
o doce”? A ordenação dos signos permite a eficiência da comunicação. 
Mais tarde, para manifestar as mais diferentes intenções dos interlocutores, os 
seres humanos passaram a usar a linguagem de diversos modos: indicativo, 
interrogativo, imperativo ou declarativo. 
Também se percebeu que na linguagem algumas palavras manifestavam uma 
ação ou o nome de algo, etc. 
Mas claro que ainda não havia as designações “verbo” ou “substantivo” (DÍAZ 
BORDENAVE, 1982) 
 
11 
 
A linguagem oral, apesar de sua eficiência, tinha duas grandes limitações: não 
era permanente e não tinha grande alcance. Diante desses desafios, os seres 
humanos começaram a pensar em formas de fixar os conteúdos comunicados e 
também de transmiti-los em distâncias maiores. 
Como você acha queo ser humano passou a fixar os signos então? 
Primeiramente por meio das pinturas primitivas, na Era Paleolítica (entre 35.000 e 
15.000 anos da Era Cristã). 
Seja com intenção ritualística, estética ou expressiva, as pessoas da época 
registraram cenas de caça em cavernas como as de Altamira, na Espanha, ou de 
Dordogne, na França. 
Ao longo da história, cada época teve as suas especificidades em relação aos 
processos comunicacionais. 
Dessa forma, em cada período a comunicação atendeu a objetivos diferentes. 
Em 3.500 a.C., os sumérios inventaram a escrita. 
Já pensou nas transformações que essa invenção causou? 
Depois, a escrita surgiu também entre os judeus e gregos. 
Com isso, várias versões de narrativas mitológicas passaram a ser registradas 
em documentos: a epopeia de Gilgamesh, o Antigo Testamento judaico-cristão, o 
Baghavad Gita hindu e o Corão árabe. 
Esses registros permitiram a continuidade das tradições a que se referiam 
(HOHLFELDT, 2013). 
A Grécia, no século V a.C., passou por profundas transformações. Atenas era 
uma aldeia rural com atividades agrícolas e pastoris, mas os seus acordos com 
Esparta, contra o imperador persa Xerxes, fizeram a localidade se desenvolver com 
as atividades comerciais. 
Esparta fornecia a madeira que Atenas utilizava para a construção de barcos e 
consequente intensificação do comércio. 
Esparta também oferecia segurança militar e Atenas, distribuição de suas 
riquezas. 
Com a urbanização de Atenas, a arquitetura e as artes plásticas ganharam 
importância. Uma nova etiqueta social também foi instituída: comer e beber iguarias 
de outros lugares em rituais complexos faziam parte disso. 
 
12 
 
A filosofia e outras atividades culturais passaram a ser financiadas pelos mais 
ricos. 
Dessa forma, personalidades como Sócrates ou Platão eram hóspedes das 
pessoas abastadas. 
Foram justamente os gregos que refletiram inicialmente sobre a comunicação 
humana, a partir dos pré-socráticos. 
Eles exerciam a comunicação como prática de poder. Mas quando Atenas 
começou a ter problemas com os acordos estabelecidos com Esparta, esses filósofos 
passaram a ser vistos de forma negativa pela sociedade. Eram tidos como 
perniciosos, pessoas que submetem os homens pela mente. 
O maior dos sofistas, Sócrates, foi o responsável pelo desenvolvimento da 
prática filosófica da maiêutica. Segundo esta, o aprendizado acontece por meio do 
diálogo, de perguntas e respostas. 
Assim, o mestre guia o aluno ao conhecimento. Mas as principais contribuições 
gregas para os primeiros estudos da comunicação foram de Platão e Aristóteles. 
No livro VII da obra A República, Platão (427 – 327 a.C.) apresenta o Mito da 
Caverna. 
Trata-se da história de prisioneiros que viviam dentro de uma caverna. Tudo o 
que conheciam do mundo eram apenas as sombras do que se passava atrás deles, 
na entrada da “morada”. 
Assim, não conheciam a vida como quem estava livre e sob a luz. Um dia, um 
dos prisioneiros é liberto, vê o mundo fora da caverna, se impressiona e volta para 
contar aos amigos. 
Mas estes não o entendem e enxergam o ex-prisioneiro como mais uma 
sombra deformada (HOHLFELDT, 2013). 
Por meio do exemplo do Mito da Caverna, você pode perceber que Platão 
refletiu com profundidade sobre a comunicação, mas dentro de uma perspectiva 
negativa. Platão acreditava que havia um Mundo das Ideias, das essências, que 
antecedia a materialidade. Para ele, quando o ser humano recebia um corpo, 
guardava apenas um fragmento desse outro mundo. 
A caverna seria então uma referência ao corpo, e as sombras na parede seriam 
metáforas dos objetos materiais. De acordo com essa perspectiva, o acesso ao 
conhecimento seria dificílimo para a maioria das pessoas, com exceção dos filósofos 
 
13 
 
(estes, devido à sapiência extraordinária, deveriam inclusive administrar a sociedade). 
A partir daí, Platão pode levar você a refletir sobre a impossibilidade da comunicação. 
Já para Aristóteles (384 – 322 a.C.), que foi discípulo de Platão, a comunicação 
é, sim, possível. Em Retórica, ele aborda os discursos – aquilo que diz respeito a 
alguma coisa. 
Segundo Aristóteles, o ser humano é um animal social, um ser coletivo, e não 
uma individualidade. Vivendo socialmente, o ser humano usa a razão, traduzida em 
linguagem. 
Além disso, para viver bem e feliz no grupo, ele precisa da retórica. Esta é o 
conhecimento dos meios e estratégias para alcançar a persuasão. 
Na situação da retórica, três elementos estão presentes: o que fala, aquilo de 
que fala e aquele a quem fala. Assim, Aristóteles foi o primeiro a formular a situação 
comunicativa. 
Ele também aborda três gêneros de discursos oratórios: deliberativo, judiciário 
e demonstrativo. 
 No primeiro caso, que trata sobre o futuro, se aconselha ou se desaconselha 
algo. 
No segundo caso, voltado para o passado, uma ação judiciária comporta a 
acusação e a defesa. 
E o terceiro caso, referente ao presente, comporta duas partes, o elogio e a 
censura. 
O modelo pioneiro na contemporaneidade da Teoria da Comunicação, de 
Harold D. Lasswell, tem muito do trabalho de Aristóteles (HOHLFELDT, 2013). 
Observe: 
Aristóteles – a pessoa que fala → o assunto → a pessoa a quem fala 
H.D. Lasswell – emissor (fonte) → mensagem → receptor 
A diferença entre as duas teorias é que Lasswell acrescentou “em que canal e 
com que efeitos” ao processo comunicacional. 
Por outro lado, Aristóteles tratou da questão dialógica do processo ao refletir 
sobre os gêneros citados. 
Nesse sentido, a pessoa que fala espera uma resposta do outro ou quer 
convencê-lo de algo. 
 
14 
 
Partindo para o contexto de Roma, do século I a.C. ao século I d.C., o que havia 
eram medidas no âmbito da comunicação para controle social e garantia de poder. 
Os governos romanos se mantinham bem informados, se antecipavam às 
crises, garantiam informação e opinião consensual. 
O primeiro dos 12 imperadores romanos, Caio Júlio César (102 – 44 a.C.), 
costumava escrever sobre as suas façanhas, com interesse em documentar os 
acontecimentos para as gerações futuras. 
Ele inclusive inaugurou o estilo conhecido hoje como primeira pessoa enfática 
– em uma narrativa autobiográfica, em vez de se usar eu, usa-se a primeira pessoa 
do plural, nós. Júlio César também reformou as instituições romanas. 
Ele determinou que só a língua latina fosse usada no âmbito institucional, o que 
evitou a multiplicidade de informações (HOHLFELDT, 2013). 
Mais tarde, em consequência disso, a Igreja Católica adotou a língua latina 
como oficial. Além disso, fez a produção científica ser realizada em latim também para 
controle dos censores. 
Muitos dizem que a Idade Média foi um período de pouco desenvolvimento 
intelectual e investimento no conhecimento. 
No entanto, você não deve esquecer que foi nesse período que Alexandre 
Magno (356 – 323 a.C.), rei da Macedônia, construiu a biblioteca de Alexandria. 
 Esta chegou a ter 700 mil volumes, com cópias de livros do mundo inteiro. 
A biblioteca era o centro da cultura antiga. 
Além disso, os mercadores europeus levaram da China para a Europa 
invenções como a bússola, dando segurança às navegações, a pólvora, para as 
conquistas pela força, e o papel. 
Alguns trabalhos mostram que o alemão Otto Groth, em Estrasburgo, escreveu 
algo parecido com uma enciclopédia do jornalismo – a Teoria do Diário – nas primeiras 
décadas do século XX. 
Mas só a partir dos anos 1930 é que começaram as pesquisas voltadas para 
os efeitos e funções dos meios de comunicação de massa, com a mass 
communication research, nos Estados Unidos. 
Nesse contexto, são considerados os fundadores da pesquisa em 
comunicação: Paul Lazarsfeld, Harold Lasswell, Kurt Lewin e Carl Hovland (FRANÇA, 
2013). 
 
15 
 
As motivações dos estudos eram de ordem política e econômica. 
Com a expansão industrial, era preciso aumentar a venda dos novosprodutos. 
Assim, havia muitas pesquisas focadas no comportamento das audiências e no 
aperfeiçoamento das técnicas de intervenção e persuasão. 
Na I Guerra Mundial, os meios de comunicação tiveram o papel de promover o 
fortalecimento do sentimento nacional, sustentar a economia e influenciar as vontades 
da população civil. 
Depois disso, com a crise de 1929 e a retomada da economia americana com 
o New Deal, a comunicação tinha o papel de racionalização da sociedade. 
Mas foi na II Guerra Mundial que o alcance da comunicação ficou claro, com os 
programas da Alemanha nazista orientados por Joseph Goebbels. 
Nessa época, a propaganda era utilizada para controle político-ideológico. 
Em relação à Europa e aos Estados Unidos, na segunda metade do século XX 
foi observado o surgimento de novas tecnologias, rápidas e eficientes, que afetaram 
profundamente o modo de vida das pessoas. 
A partir de 1930, o cinema teve grandes conquistas: primeiro o som, depois a 
cor, e, então, a ampliação dos quadros. 
Em relação à televisão, as primeiras experiências foram realizadas em 1929 na 
Inglaterra, na União Soviética e nos Estados Unidos. 
 E, com as descobertas da II Grande Guerra, surgiram o rádio transistorizado, 
em 1954, e o computador eletrônico, com a IBM, em 1959. 
Por fim, graças aos avanços tecnológicos, voltamos um pouco àquela noção 
clássica de comunidade grega. 
Afinal, apesar das dimensões da Terra, as distâncias diminuíram e o tempo de 
troca de mensagens também (HOHLFELDT, 2013). 
Hoje, em minutos você pode conversar com alguém que está no Japão, seja 
para fechar negócios ou por razões pessoais e afetivas. 
3 VARIAÇÃO LINGUÍSTICA 
Uma língua viva sempre apresenta variações. Isso significa que, enquanto uma 
língua tiver falantes nativos, ela será dinâmica e heterogênea (FARACO, 2008). 
 
16 
 
Com o passar do tempo, ela passará por mudanças e, se estas forem grandes 
demais, pode até se tornar uma outra língua, ou outras, como aconteceu, por exemplo, 
com o Latim e as línguas românicas que dele se originaram. 
 
 
 
Se você ler um texto de épocas passadas, poderá encontrar diferenças, tais 
como aquelas encontradas em palavras, expressões, até mesmo na estrutura (para 
exemplos ver textos de romances do período Realista ou Naturalista, como os de 
Machado de Assis e Aluísio de Azevedo). 
Essa diferença pode ser observada também entre falantes de diferentes 
gerações. A língua também é influenciada pelo espaço. Pense em um lago e em atingir 
sua superfície atirando várias pedras. Cada uma delas gerará ondulações e, em 
alguns pontos, irão se encontrar e se afetar umas às outras. 
Com a língua ocorre um fenômeno análogo, zonas próximas apresentam maior 
similaridade e são reconhecidas e diferenciadas, porém, conforme se afastam, as 
diferenças vão se tornando maiores, devido à experiência dos falantes, assim como a 
influência de outras comunidades linguísticas, de outras línguas. Nesse aspecto, o 
processo de colonização, imigração e migração, assim como a presença de diferentes 
tribos autóctones, tem fortes consequências. 
É possível observar a distância entre as diferentes regiões do país, e, até 
mesmo, dentro dos estados. 
Outra grande variável que se pode elencar é quanto ao indivíduo. 
 
17 
 
Nesta, é possível identificar a influência do lugar onde o indivíduo cresceu, seu 
grau de contato com a cultura letrada, seu círculo social (mais informal, menos 
informal, entre outros). 
Esse âmbito é o que permite a identificação de estilo de um indivíduo inserido 
em uma comunidade linguística, ou seja, o que o distingue linguisticamente (ainda que 
não exclusivamente). 
Qualquer língua que ainda seja natural (diferentemente de línguas artificiais, 
como Klingon e Dothraki) tem variação, isto é, varia no tempo e no espaço (objeto de 
estudo da sociolinguística variacionista) e também de um indivíduo para outro, 
modificando-se até quando utilizada por um mesmo indivíduo em diferentes situações 
(objeto de estudo da sociolinguística interacional). 
 Linguisticamente, não há uma variedade linguística melhor, mais bonita ou 
mais desenvolvida do que outra. Qualquer que seja a variedade, ela será igualmente 
válida, rica e desenvolvida. A valorização de uma em detrimento de outra é social, isto 
é, a sociedade (ou parte dela) que classifica uma variedade positiva ou 
negativamente. 
 Algumas variedades são estigmatizadas, como, por exemplo, as do interior dos 
estados em relação às das regiões metropolitanas, as de classes sociais menos 
prestigiadas e menos escolarizadas em relação às mais prestigiadas e mais 
escolarizadas (BAGNO, 1999; FARACO, 2008; GÖRSKI; COELHO, 2009). É comum, 
com essa postura, encontrar afirmações como: “eu não sei português”, “fala feio”, 
“antes de aprender inglês, francês, tinha que aprender português”, “matou a língua 
portuguesa”; todas com relação a falantes nativos. 
Ao dizer isso, a pessoa expõe desconhecimento sobre a realidade linguística e 
também sobre o preconceito linguístico. De acordo com Görski e Coelho (2009, p. 82), 
“[...] muitas pessoas acham que falar uma variedade diferente da variedade padrão é 
um problema sério para a sociedade, uma manifestação de inferioridade. Sempre que 
isso acontece, a língua se torna um veículo de preconceitos e exclusões. ” 
Segundo Faraco (2008), todas as variedades linguísticas têm uma própria 
norma, isto é, um conjunto de características que lhes são normais, envolvendo 
aspectos fonéticos (identificados no sotaque), lexicais, semânticos, sintáticos 
Comunicação, expressão e diversidade linguística e, às vezes, até pragmáticos. 
 
18 
 
Contudo, saindo do âmbito linguístico, norma é entendida como um conjunto 
de regras que normatizam a forma como os falantes deveriam utilizar a língua. 
Esse tipo é chamado pelo autor de norma padrão, um “ideal” artificial que, 
apesar de defendido, nenhum falante utiliza de fato (é aquela encontrada nas 
gramáticas mais tradicionais, normativas e não linguísticas). Para ele, a norma 
associada aos grupos mais escolarizados é a norma culta. 
Essa seria comum aos falantes de áreas urbanas em situações mais formais, 
principalmente na escrita, e seria balizada pela linguagem urbana comum. 
3.1 Modalidades da língua 
 Além da variação que as línguas apresentam, elas também podem ter mais de 
uma modalidade. A língua portuguesa, por exemplo, apresenta as modalidades oral e 
escrita, mas nem todas as línguas são assim. Algumas apresentam apenas a 
modalidade oral, sendo denominadas ágrafas. 
A modalidade oral, sempre primeira com relação à escrita, sofre e aceita 
mudanças muito mais rapidamente. 
Ela é mais dinâmica, seja por ser mais propensa à variação e à mudança, seja 
por causa do “jogo” comunicativo como palco e fonte. 
Ela influencia as mudanças na modalidade escrita, que, por sua vez, tem o 
poder de “frear” a modalidade oral. 
Com o advento da imprensa, esse poder foi intensificado. 
Entretanto, a modalidade escrita continua sendo uma representação da oral, 
dependendo de convenções para sua inteligibilidade (como ortografia e uso do mesmo 
alfabeto), bem como para questões políticas. (Marlise Buchweitz, 2018) 
Apesar de a modalidade oral ser mais identificada em registros mais informais, 
ela também ocorre em situações mais formais. 
Da mesma forma, a modalidade escrita, que é mais identificada em registros 
formais, ocorre em situações mais informais. 
Assim, uma conversa de texto por aplicativos e redes sociais irá se aproximar 
mais da oralidade, ao passo que uma palestra acadêmica, da escrita. 
Essa identificação advém de a oralidade permitir a realização da comunicação 
linguística de modo mais natural, menos rígido e menos regrada quando comparada 
 
19 
 
com a escrita, principalmente quando se desconsidera a mudança que a cultura digital 
trouxe. 
Antes, por exemplo, não era considerado diálogo uma conversaque não fosse 
feita pessoalmente ou por telefone, entretanto, com a mudança de paradigma causada 
pela cultura digital, é contrassenso não considerar como diálogo as conversas por 
aplicativos, como WhatsApp, Messenger, entre outros. 
Desconsiderando-se um pouco o paradigma da cultura digital, qualquer 
produção, seja oral ou escrita, tem uma audiência (um destinatário) real ou imaginário. 
Algumas manifestações permitem uma interação maior entre os envolvidos, 
que, então, intercalam-se no papel de locutor e interlocutor. 
Na modalidade oral, quanto mais informal for a situação, mais interrupções e 
sobreposições serão possíveis. Além disso, é comum mudanças de estilo estrutural, 
sentenças incompletas na oralidade, que, na escrita, tornam-se difíceis de 
compreender. (Marlise Buchweitz, 2018) 
A escrita, enquanto representação da fala, apresenta menor possibilidade de 
interferência, mas permite que se pense, planeje e revise o texto antes de liberá-lo. 
3.2 Adequação linguística 
No âmbito acadêmico e profissional, você terá de lidar com situações que 
exigirão uma ou outra modalidade (ou até as duas, em conjunto). 
Seja qual for a modalidade a ser usada e em qual situação, a adequação 
linguística será fundamental. O uso da língua por um falante é sempre influenciado 
por uma série de fatores, alguns dos quais foram mencionados anteriormente. 
Em certas situações, é esperado o uso de um nível de fala mais formal, assim 
como uma determinada norma, como a culta, ao passo que, em outras, ocorre o 
oposto. 
Essas escolhas seriam feitas tendo em vista um fim comunicativo, em outras 
palavras, como atingir da melhor forma um objetivo (ou uma série deles). Quanto a 
isso, até mesmo a escolha por não seguir o que se esperaria pode ser um meio de 
conseguir sucesso. 
 
20 
 
 
 
A experiência permite que o falante force os limites entre normas e entre níveis 
de fala, do mais formal ao mais coloquial. Entretanto, quando ainda não se tem essa 
experiência, algumas orientações se tornam úteis. (Marlise Buchweitz, 2018) 
Algumas são mais ou menos assumidas como instintivas, outras já seguem 
certos padrões estabelecidos (por exemplo, por gêneros textuais ou por contexto 
comunicativo). 
O meio acadêmico apresenta uma grande variação de contextos 
comunicativos, de conversas informais com amigos a produções formais, como tese 
de doutorado e respectiva defesa oral. Considerando-se os textos e discursos comuns 
a esse meio, alguns permitirão uma linguagem coloquial, enquanto outros, não, de 
uma linguagem urbana comum à norma culta. 
4 MODALIDADES DE FALA E GRAU DE FORMALIDADE 
As modalidades são as diferenças presentes entre fala e escrita. Isso porque 
na língua falada há, entre falante e ouvinte, uma interação direta. 
Já na língua escrita, a comunicação ocorre geralmente sem a presença de um 
dos sujeitos participantes. 
Estando próximos durante a troca, falante e ouvinte podem utilizar diversos 
outros elementos significativos que complementam o discurso verbal no processo de 
comunicação. 
Há, por exemplo, gestos, entonação, expressões faciais, entre outros. 
 
21 
 
Vistas como práticas sociais, já que o estudo da língua se funda em usos, as 
duas modalidades de fala da língua portuguesa são a oral e a escrita (MARCUSCHI, 
2001, p. 1). 
Como manifestação da prática oral, a fala é adquirida de modo natural em 
contextos informais do dia a dia. 
Também se desenvolve nas relações sociais que se estabelecem desde o 
momento em que uma criança nasce e tem os primeiros contatos com a mãe. Desse 
modo, o uso da língua natural e o aprendizado são formas de socialização e inserção 
cultural. 
É necessário identificar os elementos que fazem parte da situação 
comunicativa para compreender e analisar adequadamente um texto, seja ele falado 
ou escrito. Nesse caso, os componentes seriam falante – ouvinte/escritor – e leitor. 
Além disso, é importante considerar as condições em que cada texto foi produzido. 
São elas que possibilitam a ação social ou de interação que é estabelecida entre os 
sujeitos. 
Além disso, elas são distintas em cada modalidade. A fala, por exemplo, possui 
como características, entre outras tantas, o uso da palavra sonora e a interação face 
a face. Portanto, requer a presença dos interlocutores no mesmo espaço físico e de 
tempo; o planejamento simultâneo ou quase simultâneo à execução; a 
espontaneidade e o imediatismo. 
Além disso, pode ser repetitiva e redundante. 
Ela considera o contexto extralinguístico e possui recursos como signos 
acústicos e extralinguísticos, gestos, entorno físico e psíquico. 
No texto oral, você pode encontrar características inerentes à língua falada. Há, 
por exemplo, os marcadores conversacionais. 
Eles são elementos típicos da fala que não integram o conteúdo do texto, 
apresentando valor tipicamente interacional. 
Por exemplo: “bom”, “eu acho que”, “quer dizer”, “então”, “entende?” e “né?”). 
Há também as marcas prosódicas. 
Elas estão relacionadas à pronúncia. Um exemplo são os alongamentos, como 
nos termos “ouVIR::” e “faLAR::” (marcados com ::). 
Outros exemplos são a entonação enfática, assim como nas palavras do 
exemplo anterior, “ouVIR::” e “faLAR::” (marcado com ::); e as hesitações, como “na 
 
22 
 
medida em que... ahn” (uso do marcador “ahn” associado ao alongamento é uma 
marca prosódica). 
Outra característica é a repetição. Por exemplo: “O rádio de pilha, né? Quer 
dizer, o rádio de pilha”. 
A correção é outra das características, por exemplo: “O rádio eu acho que tem 
um papel até... numa certa medida... ele provocou pelo alCANce que tem uma 
revolução até maiOr do que a televisão...”. 
E há ainda a paráfrase. Ela é a relação de equivalência semântica: “através do 
rádio de pilha... ele pôde se ligar ao resto do mundo, saber que existem outros lugares, 
outras pessoas, que existe um governo...” (ANDRADE, 2011). 
Você deve observar também os graus de formalidade que se usam na fala. 
Geralmente, em uma situação formal, o indivíduo culto procura seguir as regras da 
língua e conversar usando a norma culta, procurando também não usar vocabulário 
vulgar. 
Há pelo menos dois níveis de língua falada: a culta ou padrão e a coloquial ou 
popular. Além dessas, a linguagem coloquial também é registrada quando há o uso 
de gírias, na linguagem familiar, na linguagem vulgar e nos regionalismos e dialetos. 
Com relação às nomenclaturas, Bagno (2001) questiona a que tipo de norma 
culta se referem aqueles que lidam direta ou indiretamente com a língua portuguesa, 
já que há dois sentidos para o termo: (1) o que é norma, frequente e habitual; ou (2) o 
que é normativo, elaborado, regra imposta. De acordo com o teórico, o primeiro 
conceito está ligado à linguagem que é empregada para designar formas linguísticas 
existentes na realidade social. Já o segundo sentido é o mais difundido. Ele tem 
circulação maior na sociedade e já se tornou senso comum, virando mais um 
preconceito do que um conceito. Isso pois trata a língua como única e estática, como 
se existisse apenas uma maneira certa de falar ou discorrer. Bagno propôs novas 
nomenclaturas, pois percebeu alguns impasses no uso da norma culta. Observe: 
 
 Norma-padrão: designa o modelo ideal de língua; algo que está fora e acima 
da atividade linguística dos falantes. 
 Variedades prestigiadas: indicam as variedades linguísticas faladas pelo 
cidadão com alta escolarização e vivência urbana. 
 
23 
 
 Variedades estigmatizadas: assinalam as variedades linguísticas que 
caracterizam os grupos sociais desprestigiados do Brasil. 
As influências de umas sobre as outras são intensas e constantes. 
Para Bagno (2001, p. 80), “Isso é mais do que natural numa sociedade 
complexa como a brasileira contemporânea, sobretudo por causa dos meios de 
comunicação de massa (principalmente a televisão e o rádio)”. 
A norma padrão fica no alto,na estratosfera da abstração, do virtual. 
Para o teórico, ela exerce uma influência muito forte sobre o imaginário de todos 
os brasileiros. Porém, essa influência diminui na medida em que se afasta das 
camadas sociais privilegiadas. 
Essa norma-padrão está ligada à escola, ao ensino formal. 
Só se aproximam dela os brasileiros que conseguiram passar pelo funil da 
educação formal, percorrendo até o fim o trajeto de formação escolar. Por outro lado, 
há autores que apontam três níveis de linguagem que colaboram para compreender 
como o indivíduo falante pode se manifestar em diferentes situações. 
De acordo com Preti (1994), é possível dividir os níveis de fala em espécies. 
Observe: 
 Formal (ou culto): usado em situações de formalidade, possui o 
predomínio de linguagem culta, ou seja, obedece à gramática normativa. 
Geralmente é usado em situações que exigem tal posicionamento do 
falante, como em discursos, sermões, apresentações de trabalhos 
científicos. 
 Coloquial (ou informal): é habitual em situações familiares ou de 
menor formalidade. 
Tem predomínio de linguagem popular, linguagem afetiva, expressões 
obscenas. É a manifestação espontânea da língua. Preti (1994) 
Nela, os falantes usam gírias, vocabulário às vezes pejorativo, formas 
subtraídas ou cortes das palavras e conjugação verbal inadequada. 
Também é pontuada por problemas de concordância verbal e nominal e outras 
marcas da oralidade, como “né”, “daí”, “a gente”, etc. 
Esse nível independe de regras e está presente nas conversas entre amigos e 
familiares, por exemplo. Na internet, é comum encontrar o nível coloquial em textos 
de diálogos, ou em redes sociais e em programas de mensagens instantâneas. 
 
24 
 
 Comum: recebe contribuições de um e de outro. 
4.1 Gêneros de cunho oral, textual e híbrido 
Ao compreender como é a funcionalidade dos textos na interação dos 
indivíduos, você também investiga os diferentes textos utilizados para a comunicação 
na sociedade. Isso leva a uma discussão sobre gêneros, já que eles estão presentes 
em todas as circunstâncias e ações humanas. 
 Afinal, em qualquer lugar em que exista linguagem, há gêneros textuais ou 
discursivos, orais ou escritos. 
Como as esferas de produção da linguagem são diversas, também há uma 
multiplicidade de gêneros em diferentes situações e em formatos diversos. No 
supermercado, por exemplo, você encontra panfletos, placas, indicações de ofertas e 
a conta no caixa. 
Desse modo, cada esfera elabora seus gêneros. E faz isso conforme aspectos 
sociais próprios, finalidades comunicativas e especificidades das situações de 
interação em que os enunciados estão sendo produzidos. 
 A denominação de gênero discursivo foi apresentada pela primeira vez pelo 
autor russo Mikhail Bakhtin (1979). 
Ele caracterizou os gêneros como tipos relativamente estáveis de enunciados. 
De acordo com o teórico, os gêneros de que os interlocutores sociais fazem uso nas 
interações verbais são tão variados e heterogêneos quanto a diversidade de esferas 
de circulação social nas interações verbais e as diferentes atividades humanas. 
Para Bakhtin (1979), nas inúmeras esferas de circulação, o uso da língua 
ocorre ou em forma de enunciados ou pela heterogeneidade de gêneros que os 
constitui. 
Você pode encontrar uma diversidade de gêneros discursivos que se modificam 
e se ampliam, dependendo dos contextos social e histórico em que circulam, conforme 
as condições e finalidades de cada uma das esferas. 
De acordo com o teórico Marcuschi (2005), os gêneros surgem como formas 
da comunicação para atender a necessidades de expressão do ser humano. 
Eles são conformados por influência do contexto histórico e social das diversas 
esferas da comunicação humana. 
 
25 
 
Para o estudioso, os gêneros textuais são como “[...] entidades sociodiscursivas 
e formas de ação social incontornáveis de qualquer situação comunicativa [...]” 
(MARCUSCHI, 2005, p. 19). Isso quer dizer que os gêneros podem se modificar com 
o passar do tempo. 
Eles podem surgir e desaparecer, além de se diferenciar de uma cultura para 
outra. São dinâmicos e heterogêneos, variando de um diálogo informal até as teses 
de doutorado, por exemplo. 
Você pode encontrá-los nas formas oral, escrita e híbrida. 
Para Marcuschi (2008), não existe comunicação que não seja feita por meio de 
algum gênero. Mesmo um indivíduo falante que não possua saber técnico tem 
capacidade para se comunicar e ser compreendido por seu interlocutor. 
 Marcuschi (2002, p. 22-23) explica que: 
Usamos a expressão gênero textual como uma noção propositalmente vaga 
para referir os textos materializados que encontramos em nossa vida diária e que 
apresentam características sócio comunicativas definidas por conteúdos, 
propriedades funcionais, estilo e composição característica. 
Marcuschi (2008) explica que os gêneros orais e escritos estão relacionados, 
mas fala e escrita não são idênticas. O que dá tal classificação para cada uma é a 
forma em que se originou. Por exemplo, um texto jornalístico não deixa de ser um 
texto escrito por ter sido apresentado em um telejornal. 
Existem gêneros das culturas orais que nunca farão parte de culturas 
caracteristicamente escritas, e vice-versa. 
Também é importante você lembrar que a fala nem sempre reproduzirá a 
escrita, ou a escrita reproduzirá a fala. 
Elas podem caminhar juntas sem anular as peculiaridades de uma ou outra. 
Por outro lado, Marcuschi (2008) indica que os gêneros textuais não podem ser 
considerados estanques. 
Eles são como entidades dinâmicas da materialização de ações comunicativas. 
Podem ser híbridos, de modo a atingir determinados objetivos comunicativos. 
 
26 
 
4.2 Discurso 
 A comunicação é um fenômeno heterogêneo envolvendo elementos de 
natureza variada, tais como situação, intenção, conhecimento de mundo, meio, 
conhecimento linguístico, entre tantos outros. 
Ela, em sentido amplo, envolve qualquer forma de troca de informações, desde 
a comunicação entre máquinas até a comunicação humana. Esta pode ser 
comunicação não verbal (i.e., por meio de imagens, de sons, do corpo) ou verbal (i.e., 
por meio de palavras). 
É na comunicação verbal que se encontra o discurso. Em uma acepção ampla, 
o discurso é uma manifestação linguística em que se expõe de forma metódica 
determinado assunto. 
Discurso, entretanto, pode ser entendido não só como manifestação linguística 
para fins comunicativos, mas também como manifestação linguística que sustenta e 
é sustentada pela visão de mundo, ou ideologia, de um grupo ou de uma instituição 
(FOUCAULT, 1996). 
Nessa acepção, o discurso apresenta uma relação com poder social, 
permitindo que se diga discurso jurídico, discurso acadêmico, discurso religioso, 
discurso de direita, discurso de esquerda, etc. 
Por essa mesma razão, essa noção de discurso se liga a noções como 
subjetividade (ainda que esteja mais ligada à instituição, podendo ser representada 
por indivíduo) e intencionalidade. 
4.3 Diálogo 
Como todo e qualquer discurso é destinado a alguém, ele pode integrar um 
diálogo, isto é, uma troca comunicativa. De acordo com Walton (2008, p. 4), [...] um 
diálogo é sequência de mensagens ou atos de fala entre dois (ou mais) participantes”. 
Entendido dessa forma, será considerado diálogo não apenas aquele realizado 
face a face em tempo real (acepção tradicional), mas também aquele que ocorre por 
intermédio de outros meios (por exemplo, cartas, mensagens de textos, mensagens 
de voz, áudios, etc.), em tempo real ou com diferença temporal. 
 
27 
 
Ligada à noção de diálogo, há a enunciação. “A enunciação é vista como um 
processo, um ato pelo qual o locutor mobiliza a língua por sua própria conta” 
(BARBISAN, 2006, p. 28). 
Ao fazer isso, ele se introduz, enquanto aquele que fala (locutor), na sua fala, 
isto é, no enunciado (produto desse ato). 
Ainda de acordo com essa autora,as características linguísticas do enunciado 
serão estabelecidas pelas relações entre língua e locutor. Também é por meio desse 
processo que ele [...] enuncia sua posição com marcas linguísticas” (BARBISAN, 
2006, p. 28), implantando o outro (alocutário, interlocutor). 
Em cada enunciado, como centro de referência interna, “[...] emergem marcas 
de pessoa (relação eu-tu), de ostensão, de espaço e de tempo, em que eu é o centro 
da enunciação” (BARBISAN, 2006, p. 28), assim como o ele, a não- -pessoa, aquilo 
ou aquele sobre o que/quem se fala. 
Essas noções também estão presentes na escrita, seja pela enunciação, seja 
pelo estabelecimento de diálogo por meio dela, seja pelo discurso. 
Quando se pensa na comunicação escrita, há principalmente uma relação 
tríplice, conforme Koch e Elias (2006), autor, texto e leitor, envolvida na construção do 
sentido. 
O sentido, de acordo com as autoras, é construído na relação entre esses três, 
não dependendo apenas do autor (o que ele quis dizer), nem do texto (o que está 
codificado), nem do leitor (o que ele entendeu). 
Essa relação é a fundação da compreensão do texto, porém outros fatores são 
intervenientes, como contexto e qualidade do material (letra pequena ou ilegível, tinta 
muito fraca, etc.) 
Assim como o eu que fala se projeta no enunciado falado, também o faz na 
escrita, de modo mais ou menos intenso. Pode-se perceber essa projeção por meio 
de algumas marcas ou características, como será visto na próxima seção. 
4.4 Intencionalidade discursiva 
Toda produção oral ou textual tem uma intencionalidade por trás, que pode ser, 
por exemplo, de divulgar, informar a convencer, comover. 
 
28 
 
Devido a isso, a imparcialidade é impossível, assim como a objetividade e a 
neutralidade, “pois a linguagem é sempre carregada dos pontos de vista, da ideologia, 
das crenças de quem produz o texto” (FIORIN, 2015, p. 45). 
A parcialidade é uma questão de gradação, do declaradamente parcial ao de 
efeito praticamente nulo, isto é, aquele cuja parcialidade não é percebida facilmente. 
Esse é caso, por exemplo, de artigos científicos, em que, em uma situação 
ideal, a subjetividade será percebida na ordem como uma frase é estruturada, no uso 
de modalizadores, etc.; elementos que permitirão ao leitor perceber para quais 
informações se quis chamar mais atenção. Já nos declaradamente parciais, não só a 
opinião será expressa, como também emoções e sentimentos por meio de palavras 
que os expressem, como “amar/amor”, “odiar/ódio”, expressões pejorativas, entre 
outros. 
De acordo com Koch (2015, p. 51, grifo nosso), “[...] a intencionalidade refere-
se aos diversos modos como os sujeitos usam os textos para conseguir realizar suas 
intenções comunicativas, mobilizando, para tanto, os recursos adequados à 
concretização dos objetivos visados”. 
De modo mais restrito, pode ser entendida como o desejo (intenção) do locutor 
de se manifestar linguisticamente de modo coeso e coerente ou não para provocar 
certos efeitos sobre a audiência. 
Essa intenção está presente nos atos de fala, isto é, ações que são realizadas 
por meio das palavras (AUSTIN, 1975; SEARLE, 1976), tais como dar uma ordem, 
fazer um pedido, expressar emoções. 
Ela estará presente no que o locutor expressa ou deixa a entender, assim como 
no efeito que quer causar no outro. Veja o quadro “Exemplos”, a seguir, para maior 
compreensão. 
 
 
29 
 
 
 
Posteriormente, Searle (1976) estabeleceu outros atos de fala. O ato assertivo 
consiste em dizer a alguém como algo é (fazer uma asserção); o ato diretivo, na 
tentativa de levar o outro a fazer algo por meio de convite a ordens; o ato expressivo, 
em expressar emoções e atitudes; o ato comissivo, em provocar uma mudança ao 
agenciar outros; e, por fim, o ato declarativo consiste na possibilidade de causar uma 
mudança por meio da linguagem. 
 
 
4.5 Marcas de subjetividade 
Subjetividade é a forma como um sujeito experiência algo. Quando se fala em 
texto (oral ou escrito), é a forma como o locutor transparece sua atitude, sua opinião 
 
30 
 
sobre algo. Ela pode ser expressa de modos mais ou menos diretos, mais ou menos 
passionais. 
Para Bakhtin, “[...] a subjetividade é constituída pelo conjunto de relações 
sociais de que participa o sujeito” (FIORIN, 2016, p. 60), o que implica que, ao mesmo 
tempo que o locutor se constitui discursivamente, ele apreende [...] as vozes sociais 
que compõem a realidade em que está imerso, e, ao mesmo tempo, suas inter-
relações dialógicas”. 
São consideradas marcas de subjetividade expressões e palavras que 
permitem ao locutor expressar sua perspectiva sobre algo. Essas marcas podem ser 
mais ou menos discretas, dependendo do gênero textual e do contexto. 
É comum se associar à subjetividade o uso dos pronomes eu e nós, assim 
como verbos como achar, acreditar, crer, palavras pejorativas (palavrões e 
xingamentos), adjetivos qualitativos (fácil, difícil, furtivo); porém não são a única forma 
de se marcar a subjetividade. 
Em qualquer produção linguística, oral ou escrita, é possível fazer uso de 
indicadores modais, isto é, meios linguísticos para apresentar modalidade. 
“A modalização tem o papel de exprimir a posição do enunciador em relação a 
aquilo que diz” (FIORIN, 2000, p. 171, grifo nosso), aumentando ou diminuindo a força 
de um enunciado (em uma perspectiva mais lógica). 
De acordo com Koch (2010), os principais tipos modalizadores são: 
necessário/possível; certo/ incerto, duvidoso; obrigatório/facultativo. 
Há muitas formas de expressar a modalidade: algo é [modalizador adjetivo], é 
[modalizador adjetivo] algo; advérbios e locuções adverbiais, como talvez, 
provavelmente, possivelmente, certamente; verbos auxiliares modais, como poder, 
dever, precisar; construção de auxiliar + infinitivo (ter de + infinitivo, precisar + 
infinitivo); orações modalizadoras, como não tenho dúvida de que, todos sabem que 
(KOCH, 2010). 
No exemplo a seguir, foram destacados trechos em que ocorrem modalização. 
Nesses trechos, você perceberá que o autor usa modalizadores para dar mais 
força às afirmações e, consequentemente, expressa seu ponto de vista quando ao 
assunto. 
Tenha em mente que esse mesmo tipo de modalizadores podem aparecer em 
leis e manuais, e, nesses casos, não se trata de expressão de subjetividade. 
 
31 
 
O autor deste texto fala sobre as alterações no Art. 149º do Código Penal e 
argumenta sobre o seu ponto de vista acerca do assunto. 
 
Texto 1 
 As alterações do Art. 149º do Código Penal foram um importante passo para 
aprimorar a legislação, fechando o cerco à prática do trabalho escravo e das condutas 
que reduzem o trabalhador à condição de escravo. 
Mas, para alcançar essa boa finalidade, [1] é necessário que haja uma correta 
aplicação da lei, que não dê margens a abusos. 
Se é certo que toda a escravidão deve ser exemplarmente punida, não se pode 
equiparar à escravidão qualquer descumprimento da lei trabalhista. 
São coisas muito diferentes, com gravidades distintas, e que, portanto, [2] 
devem produzir efeitos jurídicos diversos. De outra forma, haveria uma criminalização 
das relações trabalhistas, que, em última análise, seria extremamente prejudicial ao 
trabalhador. Fonte: O Estado de São Paulo. 
 
No trecho do exemplo acima, foram destacados dois trechos que apresentam 
modalização. Em [1], algo é indicado como sendo necessário, ao passo que, em [2], 
como obrigatório. 
A modalização, como nesses casos, pode ser uma indicação de subjetividade, 
isto é, da atitude do sujeito (locutor) frente a algo (diferente de enunciados como “para 
ferver a água é necessário elevar sua temperatura até atingir 100°C”). 
Outra forma de se identificar/expressar a subjetividade é pelo uso dos 
chamados indicadores de atitude, ou estado psicológico do locutor frente a seu 
enunciado. 
Segundo Koch (2010, p. 53), “[...] a atitude subjetivado locutor em face de seu 
enunciado pode traduzir-se também numa avaliação ou valoração dos fatos, estados 
ou qualidades atribuídas a um referente”, por meio, principalmente, de formas 
intensificadoras e adjetivos. Exemplo: 
 
Texto 2 
Em Bohemian Rhapsody, conhecemos não só a jornada de sucesso da banda 
Queen, mas toda a trajetória do grupo. 
 
32 
 
O filme nos retrata cada detalhe, a formação da banda, a composição das 
músicas mais famosas, as gravações de discos, e, claro, os altos e baixos do grupo, 
principalmente do vocalista, Freddie Mercury. 
Contar a história de uma banda que foi tão importante para o cenário mundial 
da música não é uma tarefa fácil, o diretor Bryan Singer conseguiu construir uma 
narrativa que envolve e emociona os fãs da banda que assistem ao filme. 
Além do filme como um todo ser excepcional, é preciso destacar a atuação de 
Rami Malek como Freddie Mercury, o ator se entregou completamente ao papel, 
sendo o verdadeiro destaque da história, assim como previsto, já que estava no papel 
de da banda. 
Apesar de “longo” (2h 15min), o filme não se torna cansativo em nenhum 
momento, você se envolve em cada segundo da narrativa, conhecer de perto e por 
outros ângulos a história do Queen foi uma experiência única e emocionante. 
 
Nessa crítica, foram destacados alguns trechos que deixam clara a opinião da 
expectadora sobre o filme. Entre estes, estão alguns exemplos de indicadores de 
atitude e opinião. 
A sua atitude com relação ao filme é positiva, isto é, aberta ao que o filme se 
propõe. É diferente do que seria uma crítica feita por alguém, por exemplo, homofóbico 
(que tenderia a ver como algo negativo). 
Os trechos destacam sua opinião sobre o filme, uma vez que enfoca sua 
recepção e visão sobre a obra. 
Observe que a autora da crítica não fez uso de primeira pessoa gramatical (eu 
e nós) e ainda se percebe que é a avaliação dela sobre o filme. 
Isso porque, para se indicar subjetividade, não é necessário usar eu ou nós, 
inclusive é possível escrever artigos científicos e acadêmicos usando essas pessoas 
gramaticais sem torná-los subjetivos. ( Daisy Batista Pail, 2018) 
4.6 O papel da subjetividade 
A subjetividade permite, do ponto de vista do locutor, expressar sua opinião, 
sua perspectiva sobre algo; ao passo que, do ponto de vista do interlocutor, possibilita 
a identificação e a compreensão destes, sem, no entanto, significar concordância. 
 
33 
 
Ela estará presente em diferentes tipos de produção textual, inclusive em 
respostas. 
Uma resposta subjetiva, por exemplo, se diferencia de uma objetiva. Respostas 
objetivas trazem informações pontuais ou factuais. 
Assim, ao citar uma lei (ou artigo desta, como no texto completo do exemplo) 
ou responder que horas são, quem é o presidente, quantos continentes há, se está 
fazendo uso de informações factuais e pontuais. 
Entretanto, ao se atribuir uma interpretação ou avaliação (que não quantitativa) 
a estas, passa-se para o âmbito subjetivo. 
Dependendo do objetivo da produção, certas formas de expressar a 
subjetividade serão mais produtivas que outras, pois demonstrarão mais domínio e 
preparo. Ao se pensar em respostas a questões subjetivas, é preciso ter em mente 
que não significa que qualquer resposta é válida. 
É importante apresentar argumentos que reforcem ou comprovem seu ponto 
de vista. 
Esse tipo de questão é comum em provas com questões dissertativas, 
lembrando que suas respostas terão de apresentar argumento (s) que suportem sua 
posição, perspectiva, tese. 
Para ajudá-lo a elaborar suas respostas, seguem a seguir dicas sobre como 
escrever um parágrafo, o que é esperado na resposta a partir do verbo usado na 
ordem da questão, links com dicas, ferramentas úteis e dispositivos retóricos. Um 
parágrafo é estabelecido por sua unidade e coerência entre as frases. 
Quando parte de um texto maior, cada parágrafo sustentará a ideia central. 
Dessa forma, é importante ter em mente qual é o seu argumento, sua tese, isto é, 
aquilo que você irá defender. (Daisy Batista Pail, 2018) 
Essa definição permite que você mantenha uma relação coerente entre as 
partes e não se perca escrevendo, seja um texto com múltiplos parágrafos ou apenas 
um. Há diferentes formas de se organizar um parágrafo: 
 
Forma de organização Dica de como fazer 
Narração Conte uma história, seguindo a ordem cronológica 
dos eventos 
 
34 
 
Descrição Dê detalhes específicos sobre a aparência de 
algo ou alguém, procure incluir informações, quando 
for o caso, que envolvam outros sentidos, como tato, 
paladar, audição e olfato. Organize essas informações 
por ordem de surgimento, pela disposição espacial ou 
por tópico 
Processual Explique como algo funciona, passo a passo 
Classificação Separe em grupos e explique as diferentes 
partes do tópico 
Ilustração Dê exemplos e explique como eles servem 
como suporte para o tópico 
Fonte: Adaptado de The Writing Center (2018). 
Um parágrafo bem organizado terá introdução, desenvolvimento e conclusão. 
Na introdução, você apresenta qual a ideia central, um tópico dele. Todas as 
sentenças do parágrafo devem estar relacionadas com o tópico. (Daisy Batista Pail, 
2018) 
No desenvolvimento, você expõe evidências e informações para dar suporte ao 
tópico. Por fim, há a conclusão, que pode ser para encerrar o tópico ou para introduzir 
o próximo parágrafo. 
 
Cinco passos para construir um parágrafo: 
Passo 1 — Defina sua tese e escreva a frase tópico, que ajudará a manter a 
coerência do parágrafo. Às vezes, pode ser necessário mais uma frase para 
estabelecer a tese. 
Passo 2 — Explique sua tese, fazendo uso de um operador lógico ou explanação. 
Passo 3 — Dê um exemplo (ou vários), isto é, apresente uma evidência que suporte 
o que disse nos passos anteriores. 
Passo 4 — Explique o (s) exemplo (s) dado (s) e a relevância deste (s) para o tópico 
do parágrafo. 
Passo 5 — Complete a ideia do parágrafo ou faça a transição para o próximo. Esse 
passo se trata de não deixar nós soltos e lembrar ao leitor a importância da (s) 
 
35 
 
informação (s) desse parágrafo. Ele também pode ser sobre introduzir o tópico do 
próximo. 
 
É comum em avaliações com questões dissertativas (aquelas em que se deve 
escrever um texto) que se peça a resposta em um único parágrafo. Também é comum 
que você tenha de expor seu ponto de vista sobre o assunto. 
Por ser subjetiva, há também um risco maior para não se apresentar 
argumentos, evidências que sejam válidas e sustentem sua tese. Outro risco, e este 
para qualquer questão ou atividade pedida, é a má interpretação. (Daisy Batista Pail, 
2018) 
Para poder elaborar uma boa resposta, é preciso primeiro entender o que está 
sendo pedido e, para tal, é fundamental ler atentamente. Logo abaixo que deve ser 
feito e exemplos. 
 
Verbos O que é esperado Exemplo de questão 
Redigir (elaborar, 
escrever, 
discorrer 
Significa expor por 
escrito, e por si só é 
muito vago. 
É importante que se 
observe outras 
informações, como 
tema e textos 
motivadores. 
É possível que seja, 
nesse caso, pedido 
que se aborde um ou 
mais aspectos e 
conceitos. 
Nesse caso, atente 
se é pedido para que 
se faça isso com um 
dos tópicos ou se 
com o conjunto deles. 
(BRASIL, 2017a) A partir das 
informações apresentadas, REDIJA 
um texto acerca do tema: Epidemia 
de sífilis congênita no Brasil e 
relações de gênero. Em seu texto 
ABORDE OS SEGUINTES 
ASPECTOS: - a vulnerabilidade das 
mulheres às DSTs e o papel social 
dos homens em relação à 
prevenção dessas doenças; - duas 
ações especificamente voltadas 
para o público masculino a serem 
adotadas no âmbito das políticas 
públicas de saúde ou de educação, 
para reduzir o problema. 
(Questão 1 de formação geral da 
prova do ENADE do curso de 
Arquitetura e urbanismo) 
 
36 
 
Leia a questão completa em:https://bit.ly/2zbxhAS 
Explicar Significa que você 
deverá dizer o que 
algo é, como algo 
funciona, ou como 
ocorre, ou por que 
ocorre(organização 
processual). 
(BRASIL, 2017a) Considerando os 
dois modelos apresentados, elabore 
um texto que EXPLIQUE duas 
consequências relacionadas à 
qualidade do espaço urbano ou à 
infraestrutura urbana. 
(Questão 3 de componente 
específico da prova do ENADE do 
curso de Arquitetura e urbanismo) 
Leia a questão completa em: 
https://bit.ly/2zbxhAS 
Descrever Significa que você 
deve dar detalhes 
específicos sobre 
algo, alguém ou 
algum fenômeno, 
evento. 
(BRASIL, 2017b) Considerando a 
temática presentada nos textos, 
faça o que se pede nos itens a 
seguir. 
 - Descreva dois possíveis efeitos 
da ampliação das unidades de 
conservação sobre a 
biodiversidade. - Apresente três 
exemplos de ações que integrem o 
reconhecimento e a valorização do 
contexto sociocultural com a 
conservação da biodiversidade. 
(Questão 3 de componente 
específico da prova do ENADE do 
curso de Ciências biológicas) 
Leia a questão completa em: 
https://bit.ly/2K8TxQ8 
 
 
 
37 
 
No primeiro exemplo, é especificado nos tópicos o que se espera da questão. 
Uma resposta bem elaborada teria na primeira frase a tese relacionada ao tema 
(incluindo o primeiro aspecto). 
No desenvolvimento, seriam defendidos argumentos ou evidências que 
sustentem a tese. Já na conclusão, seria possível fazer a proposta de duas soluções 
em vista ao problema do tema. Uma resposta ao segundo teria uma organização 
diferente, o que não significa que são dispensáveis introdução, desenvolvimento e 
conclusão. (Daisy Batista Pail, 2018) 
Na primeira frase, seria importante declarar o tema e/ou a tese (as duas 
consequências sobre as quais se falará) na introdução, de modo a ser o fio condutor 
do desenvolvimento em que explicará duas consequências. 
Ao final, retomar o tema e apresentar a relevância ou potencial do que abordou. 
O exemplo 3 pode ser respondido seguindo os 5 passos. Deveria ser dito sobre o que 
irá se falar, seguido da descrição dos efeitos. O ideal seria que os exemplos dados 
estivessem ligados com os efeitos descritos e que isso fosse explicado. 
São importantes na escrita coesão e coerência. 
A coesão permite as ligações entre as partes de uma frase, entre frases e entre 
parágrafos. Nela, entra o uso de pronomes para retomar o que já foi dito e conjunções 
que estabelecem relações lógicas e de dependência entre si, entre outros. 
Já a coerência garante que o interlocutor poderá interpretar o que foi dito ou 
está escrito. Entretanto, não são as únicas características importantes. Também o são 
as figuras de retórica. 
Figuras de retórica são estratégias que o locutor ou escritor emprega para 
convencer seu interlocutor. 
Como visto, há diferentes formas de se expressar subjetividade, do pessoal à 
argumentação para defender seu ponto de vista. 
No âmbito acadêmico e profissional, somente o segundo é válido. 
5 CONCEPÇÃO INTERACIONISTA E LINGUAGEM 
A linguagem, compreendida como um lugar de interação humana, possui 
caráter interlocutivo e é construída socialmente. Nesse sentido, ela é um instrumento 
de comunicação e também uma forma de expressar pensamentos. 
 
38 
 
Assim, você não deve conceber a linguagem apenas como um código que 
transmite informações. Precisa compreendê-la como modo de interagir: uma pessoa 
atua sobre a outra, influencia e é influenciada durante a troca comunicativa 
(ANDRADE, 2008). 
De acordo com Andrade (2008), ao se estabelecer um paralelo entre essas 
concepções, é possível encontrar as correntes dos estudos linguísticos da gramática 
tradicional. São elas o estruturalismo e a linguística da enunciação, que é o foco aqui. 
Nela, a linguagem se dá pelo caráter dialógico, pois vários discursos estão presentes 
e são permitidos. 
 A corrente teórica de concepção interacionista da linguagem surgiu como 
categoria de análise nos anos 1960. 
Contudo, ganhou força no âmbito da filosofia e da sociologia apenas no final 
dos anos 1970 e início dos anos 1980, a partir da obra de Mikhail Bakhtin no campo 
da linguística. 
O teórico estuda a linguagem enquanto fenômeno de interlocução viva, que se 
pauta na relação indissociável entre o ser humano, a sociedade e a linguagem. Nesse 
contexto, as pessoas trocam enunciados constituídos com a ajuda das unidades da 
língua, e não trocam orações, palavras ou combinações de palavras. 
A utilização da língua efetua-se em forma de enunciados (orais e escritos), 
concretos e únicos, que emanam dos integrantes duma ou outra esfera da atividade 
humana. 
 [...] Qualquer enunciado considerado isoladamente é, claro, individual, mas 
cada esfera de utilização da língua elabora seus tipos relativamente estáveis de 
enunciados, sendo isso que denominamos gêneros do discurso (BAKHTIN, 1997, p. 
280). 
Para o teórico, não existe interação sem língua. Se ela não ocorrer, não há 
qualquer tipo de relação social. Afinal, todas as esferas da atividade humana estão 
sempre relacionadas com o uso da língua, por mais variadas que sejam. Essa corrente 
teórica se sustenta, de acordo com Morato (2004), como linguística interacional. Ela 
se trata de outra maneira de compreender a linguagem, interpretada por correntes de 
estudos da língua. 
De acordo com o teórico, essa ideia se acentua “[...] com a introdução de uma 
concepção histórico-discursiva de sujeito e da afirmação de uma ordem social na qual 
 
39 
 
se inscreve a linguagem, vista a partir de uma perspectiva dialógica.” (MORATO, 
2004, p. 330). 
Em seu livro Desvendando os segredos do texto, Koch (2002) aborda 
questões relativas às concepções de língua, sujeito, texto, sentido, contexto e 
gêneros discursivos. 
Essas questões, para a autora, estão entrelaçadas. Por isso, é complicado 
isolá-las para definir conceitos. 
Para a teórica, na concepção sociointeracional da linguagem, há a interação 
dos sujeitos ativos com as ações linguísticas, cognitivas e sociais. Isso ocorre de modo 
dialógico, com o texto, o contexto e a língua. 
Nessa perspectiva linguística, os textos permitem a organização do mundo, 
bem como a produção, a preservação e a transmissão de saber pelo homem. Nessa 
ideia, Koch explica que a concepção de sujeito de linguagem vai variar conforme a 
concepção adotada de língua. 
Quer dizer, língua e sujeito são indissociáveis, é impossível não pensar em 
ambos. Dessa forma, a teórica propõe três posições clássicas acerca de língua, texto 
e sentido. São elas (KOCH, 2002): 
 
1. Predomínio, ou exclusividade, da consciência individual no uso da 
linguagem; 
2. Assujeitamento; 
3. Lugar de interação. 
 
A primeira traz a ideia de que o responsável pelo sentido é o sujeito da ação. 
Além disso, compreende a língua como uma representação de pensamento. 
Assim, o texto, que seria um produto do pensamento, é entendido como uma 
representação mental do autor. Quem deve captar a mensagem, portanto, é o 
leitor/ouvinte. 
Aqui há um sujeito ativo, consciente, que constrói a sua história; ele é ativo e 
responsável pelo sentido. Há, assim, o predomínio da consciência individual no uso 
da linguagem. 
No caso do assujeitamento, perspectiva ligada à análise do discurso, entra em 
jogo a desconstrução do sujeito. É como se ele não fosse mais dono do seu próprio 
 
40 
 
discurso, mas apenas resultado do seu inconsciente e de uma ideologia, sendo 
determinado pelo sistema. 
Um dos teóricos que trabalha essa concepção é Possenti (apud KOCH, 2002), 
que diz que o indivíduo não é dono de seu discurso e de sua vontade. 
Na verdade, sua consciência, quando existe, é produzida de fora, e ele pode 
não saber o que faz e o que diz. O teórico afirma que, para a compreensão de textos, 
é necessário ter conhecimento linguístico, além de outros conhecimentos e 
experiências: 
 “Penso que a A. D. ganharia

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