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Trabalho Final - Contratos - Gestão de Negócios

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE 
CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E APLICADAS 
DEPARTAMENTO DE DIREITO 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
GESTÃO DE NEGÓCIOS 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
São Cristóvão 
Agosto de 2019 
 
 
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE 
CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E APLICADAS 
DEPARTAMENTO DE DIREITO 
 
 
Cássio Roberto Uruga Oliveira 
Gabriela França de Oliveira Pedral 
Lucas Prado Menezes Carvalho 
Manuel Eduardo dos Santos Neto 
Rafael Mitidieri Simões Correia 
Rennan de Alcântara Menezes 
 
 
 
GESTÃO DE NEGÓCIOS 
 
 
 
Atividade solicitada pela professora Clara Angélica 
Gonçalves Cavalcanti Dias como requisito parcial para 
aprovação na disciplina Direito dos Contratos – Turma 02 
– do período 2019.1 desta universidade. 
 
 
 
 
 
 
São Cristóvão 
Agosto de 2019 
 
 
SUMÁRIO 
 
 
1. INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 4 
2. ORIGEM DO INSTITUTO NO DIREITO ROMANO ............................................................................ 5 
3. CONCEITOS E ELEMENTOS DA GESTÃO DE NEGÓCIOS ............................................................... 8 
3.1. CONCEITOS DE GESTÃO DE NEGÓCIOS ................................................................................ 8 
3.2. ELEMENTOS DA GESTÃO DE NEGÓCIOS ............................................................................. 10 
4. PRINCIPAIS DISPOSIÇÕES LEGAIS ............................................................................................... 12 
5. EFEITOS JURÍDICOS DA GESTÃO DE NEGÓCIOS ......................................................................... 19 
5.1. OBRIGAÇÕES DO GESTOR DO NEGÓCIO ............................................................................. 19 
5.2. OBRIGAÇÕES DO DONO DO NEGÓCIO ................................................................................ 21 
5.3. EFEITOS DA RATIFICAÇÃO DA GESTÃO .............................................................................. 21 
6. ENTENDIMENTOS JURISPRUDENCIAIS ........................................................................................ 22 
7. CONCLUSÕES ................................................................................................................................ 25 
BIBLIOGRAFIA ...................................................................................................................................... 26 
 
 
 
 
 
 
4 
 
 
1. INTRODUÇÃO 
 
Em algumas situações do cotidiano, a solidariedade pregada pela 
Constituição Federal impõe a necessidade de intromissão nos negócios de terceiros, 
mesmo sem autorização específica para tanto, para que se evite prejuízos ao dono do 
negócio. 
Esta situação pode ser verificada quando uma pessoa contrata um caminhão 
pipa para conter um incêndio em uma fazenda vizinha a sua, ou quando uma pessoa, na 
ausência do dono do negócio, sabendo que o mesmo se encontra sem os insumos 
necessários para a regular produção, adquire por sua conta os insumos e mantém o 
negócio em funcionamento. 
Assim, agindo no reconhecido interesse de um terceiro, ainda que presumido, 
o gestor do negócio possui direito a ter os gastos efetuados em decorrência do interesse 
alheio ressarcidos e, desta maneira, o ato unilateral praticado gera o nascimento de uma 
obrigação. 
Portanto, temos que a gestão de negócios alheios é um ato unilateral e, ainda, 
é uma das fontes de obrigação prevista no ordenamento brasileiro. 
Além disto, é notório que o instituto em questão se assemelha, em alguns 
pontos, ao contrato de mandato. Por isso, torna-se tão importante compreender as bases 
teóricas do seu desenvolvimento e analisar em quais situações podemos aplicar um ou 
outro instituto civil. 
Partindo dessas questões norteadoras, o presente trabalho visa apresentar, de 
maneira sintética, o instituto da Gestão de Negócios, dando ênfase ao seu conceito e 
elementos formadores, além das principais disposições legais, jurisprudenciais e os 
efeitos jurídicos que dele decorre. 
 
 
 
5 
 
2. ORIGEM DO INSTITUTO NO DIREITO ROMANO 
 
A Gestão de Negócios, negotiorum gestio, possui origens no direito romano 
e se desenvolveu ao longo dos séculos de modo a incorporar as novas necessidades da 
sociedade. Devido a organização dos textos do Corpus Juris, a definição precisa do 
surgimento e desenvolvimento do instituto, no direito romano, é contravertida, sendo 
possível se estabelecer três grupos de discussões1: 
i) Qual a ação ou quais as ações que, de início, sancionaram a 
negotiorum gestio; e se a origem delas se encontra no ius civile ou no 
ius honorarium; 
ii) Quais os casos, a princípio, enquadrados na negotiorum gestio, e como 
esse instituto se estendeu, pouco a pouco, até tomar a configuração 
espelhada na forma mais conhecida; e 
iii) Se essa evolução se conclui no direito clássico, ou se, ao contrário, a 
negotiorum gestio só se delineou, como instituto autônomo, no 
período justinianeu. 
Em breve síntese, a posição dominante é a de que a negotiorum gestio surgiu 
como instituto do ius honorarium, limitando-se, de início, à gestão dos negotia absentis 
(negócio do ausente) e, pouco a pouco, durante o período clássico, foi recepcionada pelo 
ius civile em duas ações civis de boa-fé: a actio negotiorum gestorum directa e a actio 
negotiorum gestorum contraria. 
A caracterização da gestão de negócios no direito romano (período pós-
classico e justinianeu) – onde já estava completamente distinta dos institutos do mandato 
e da procuração – dependia do preenchimento de alguns requisitos, conforme a lição do 
professor Moreira Alves2: 
i) Gestão do negócio alheio (negotium alienum): é um elemento objetivo 
que determina a necessidade do negócio ser de propriedade alheia, ou 
 
1 ALVES (2018), p. 616 
2 ALVES, Id., p.616 
 
6 
 
seja, não existirá gestão de negócios se o agente promover ações 
visando gerir negócio próprio, ainda que indiretamente resulte em 
proveito de terceiros (Ex.: sócios e coerdeiros); 
ii) Ânimo de benefício de terceiro independente do conhecimento de sua 
identidade (negotium uiliter coeptum): é um elemento subjetivo da 
gestão do negócio que permite que esta seja caracterizada quando o 
agente comprova que agiu com a intenção de obter, por meio dela, 
resultado em proveito de terceiro, independentemente, do 
conhecimento da identidade do proprietário do negócio (dominus 
negotii); 
iii) Atividade útil ao proprietário (negotium utiliter coeptum): se desdobra 
em duas acepções: a primeira, na necessidade do gestor iniciar uma 
atividade útil ao proprietário (e não que a gestão seja útil); já a 
segunda, determina que a aferição da utilidade da ação é realizada 
objetivamente, ou seja, que a ação seja àquela esperada por um 
indivíduo normal, na mesma situação e agindo em seu próprio 
proveito; 
iv) Espontaneidade da gestão: não se caracteriza a gestão de negócios 
quando o gestor realiza sua atividade em observância a obrigação com 
o dominus negotii. Importa destacar que, ficará caracterizada a gestão 
de negócios se o gestor realiza a interferência compelido por erro 
essencial, ou seja, acreditando falsamente existir obrigação objetiva. 
Outro ponto que gera discussões em relação ao referido instituto, no direito 
romano, diz respeito a gestão de negócios realizada contra a vontade do proprietário. A 
hipótese, conhecida como negotiorum gestio prohibente domino, encontra na doutrina 
especializada duas soluções: a um, acredita que o gestor possui, ao menos, uma actio 
utilis para reaver a controvérsia;a dois, afirma que o gestor só possui direito a actio 
utilis caso a proibição tenha ocorrido, dolosamente, depois do gestor ter realizado as 
despesas. 
 
7 
 
Já em relação a possibilidade da negotiorum gestio ser ratificada pelo 
dominus negotii, os textos romanos parecem indicar que, nesta hipótese, haveria 
mandato em relação ao gestor, que concedia a actio mandati para o gestor poder cobrar 
do dominus negotii as despesas realizadas com a negotiorum gestio. 
Paulo Nader3 destaca que, em Roma, a gestão de negócios foi alçada a 
categoria dos quase-contratos, em decorrência das suas similitudes com o contrato de 
mandato. Assevera o mestre que, a intromissão nos negócios alheios, sem justa causa, 
era uma prática condenada e, por isso, paralelamente a ação que o gestor possuía para o 
reembolso, existia a ação do proprietário para pleitear indenização em face dos prejuízos 
sofridos pela má administração do gestor. 
Por fim, tendo em vista apenas os pontos que guardam especial relação com 
a conformação atual do instituto, o professor Moreira Alves4 destaca que, embora seja 
um ato unilateral do gestor, a negotiorum gestio gerava obrigações para ambas as partes: 
o gestor e o proprietário. Devido a clareza de sua exposição, cumpre trazer à baila seu 
magistério: 
“São obrigações do negotiorum gestor: 
a) conduzir a termo a gestão, não podendo deter-se sequer pelo fato de 
ter o dominus negotii falecido; 
b) restituir ao dominus negotii, finda a gestão, as coisas objetos dela, 
bem como entregar-lhe todas as vantagens (como, por exemplo, os 
frutos) advindas da negotiorum gestio, cedendo-lhe as ações surgidas 
com a gestão; e 
c) ter a diligência do bonus pater familias, uma vez que ele responde 
até por culpa leve. 
São obrigações do dominus negotii: 
a) ressarcir o negotiorum gestor das despesas ou dos prejuízos havidos 
com a negotiorum gestio; e 
b) liberar o gestor das obrigações contraídas no interesse dele, dominus 
negotii.” (destaques nossos) 
 
Assim, firmes nas lições dos citados mestres, é indubitável a importância de 
se compreender a sistematização e o desenvolvimento do instituto no direito romano 
 
3 NADER (2018), p. 609 
4 ALVES, op. cit. p. 617-618 
 
8 
 
para a correta inteligência da natureza, elementos e aplicação do instituto no Direito 
Contemporâneo, como passaremos a analisar. 
 
3. CONCEITOS E ELEMENTOS DA GESTÃO DE NEGÓCIOS 
A correta compreensão de qualquer instituto passa pelo entendimento do 
conceito e dos elementos que o compõem. Para isso, torna-se imperioso trazer os 
conhecimentos produzidos pela doutrina especializada para iluminar o caminho de 
construção da compreensão científica. 
 
3.1. CONCEITOS DE GESTÃO DE NEGÓCIOS 
Neste item trataremos do conceito doutrinário da Gestão de Negócios, 
reservando ao item sobre as disposições legais o conceito legal do instituto. 
Diversos são os autores que definiram a gestão de negócios na doutrina 
pátria. Clóvis Beviláqua5 definiu a gestão de negócios como “a administração oficiosa de 
negócios alheios, feita sem procuração”. Esta definição, apesar da sintaxe simples, apresenta 
os elementos necessários para uma caracterização do ato de intromissão na esfera particular 
de outrem como Gestão de Negócios. Note que Bevilaqua salienta a alteridade do negócio, 
a oficiosidade de ação e a ausência do mandato, notadamente da procuração. 
Já para Silvio de Salvo Venosa6, a Gestão de Negócio trata-se da “intervenção 
de terceiro em negócio alheio, sem autorização do titular, no interesse e de acordo com a 
vontade presumida deste”. 
Nota-se que o professor Venosa substituiu a ausência de procuração pela 
ausência de autorização do dono do negócio em sua definição. De fato, é necessária a 
ausência de autorização, e não necessariamente da procuração, sob pena de restar 
 
5 BEVILÁQUA (apud GONÇALVES, 2017, p. 778) 
6 VENOSA (2017), p. 462 
 
 
9 
 
configurado o mandato tácito, espécie de contrato já abordada em outro trabalho, e não a 
gestão de negócios. A sua definição é precedida de uma feliz observação: 
“O título desse instituto diz menos do que encerra. Cuida-se, 
evidentemente, de “gestão de negócios alheios”. Esse ato, 
atividade ou conduta é unilateral em sua origem” 
Esta observação é de vital importância para se compreender definitivamente a 
diferença entre a “Gestão de Negócios” – ato unilateral de vontade, fonte de obrigação 
descrita no código civil – e a “Gestão dos Negócios” – técnica de administração das pessoas 
jurídicas por pessoas físicas. 
O mestre Venosa, ainda, descreve de maneira precisa o que entende por 
“Negócio Alheio”. Para ele, negócio alheio seria “qualquer atividade em prol da vontade 
presumida do dono do negócio que dê origem a obrigações, sejam atos meramente 
materiais, sejam atos ou negócios jurídicos7”. 
Assim, utilizando essa visão ampla de negócio alheio, pratica a gestão de 
negócios todo aquele que, presumindo a vontade do dono do negócio, atua no sentido de 
prover do necessário para evitar prejuízos a este, agindo como se dono fosse do negócio. 
É neste sentido a definição do professor Carlos Roberto Gonçalves, eis o seu 
magistério8: 
“Dá-se a gestão de negócios quando uma pessoa, sem autorização 
do interessado, intervém na administração de negócio alheio, 
dirigindo-o segundo o interesse e a vontade presumível de seu 
dono.” 
Partindo desta definição, o ilustre doutrinador passa a analisar o que ele 
denomina de pressupostos da Gestão de Negócios e Caio Mario da Silveira, citando 
Orlando Gomes, chama de elementos da Gestão de Negócio. Vejamos quais são esses 
 
7 VENOSA, id., p. 462 
8 GONÇALVES (2017), p. 778 
 
10 
 
elementos/pressupostos e como eles são impactam no momento da identificação da 
Gestão de Negócios alheios. 
 
3.2. ELEMENTOS DA GESTÃO DE NEGÓCIOS 
Os elementos ou pressupostos da Gestão de Negócios tratam das 
características essências que conferem a ação humana o significado jurídico do instituto. 
Desta maneira, utilizando a teoria dos requisitos das relações jurídicas de Pontes de 
Miranda, podemos incluir estes pressupostos/elementos no plano de existência da 
Gestão de Negócios. 
Diante disso, a ausência de um dos pressupostos aqui mencionados 
descaracteriza a ação humana como Gestão de Negócios, podendo esta interferência ser 
reputada ilegal (se não contiver os pressupostos de outro instituto jurídico) ou 
classificada como outra relação jurídica. 
Para a apresentação dos pressupostos da Gestão de Negócios utilizaremos as 
lições do professor Carlos Roberto Gonçalves, dispostas em seu livro “Direito Civil 
Brasileiro”9. Vejamos quais são esses requisitos: 
 
i) Intervenção em “Negócio Alheio” 
O termo negócio alheio, aqui, não tem a mesma significação técnica descrita 
alhures, mas, tão somente, que o ato praticado visa interferir na esfera privada de outrem, 
ou seja, que a propriedade do negócio não seja da pessoa que executou a ação. 
Duas observações se fazem necessárias em relação a este pressuposto: o erro 
quanto a propriedade não descaracteriza a Gestão de Negócios, desta maneira se o autor 
da ação acreditasse ser o dono do negócio, ou se ele acreditava que uma outra pessoa 
era o dono, per si, não tem o condão de descaracterizar o instituto em estudo; da mesma 
 
9 GOLÇALVES, id., p. 779-781 
 
11 
 
maneira, o não conhecimento da identidade do real proprietário não obsta que a ação do 
gestor se enquadre na definição da Gestão do Negócio Alheio. 
 
ii) Ausência de autorização do dono do negócio 
A ausência de autorização, tácita ou expressa, do dono do negócio caracteriza 
a espontaneidade do gestor, elemento chave para diferenciar a Gestão de Negócios do 
Contrato de Locação de Serviços e do contratode Mandato. 
Observe que, caso o dono do negócio possua conhecimento e autorize o 
agente a praticar a ação, estaríamos diante ou de um contrato de Mandato Tácito (caso 
houvesse representação) ou de um contrato de locação de serviço (caso não haja 
representação). 
Desse pressuposto podemos inferir que a ação do gestor dever ser espontânea 
e improvisada, devendo o gestor atuar da mesma forma que o dono do negócio atuaria 
diante daquela situação. Por óbvio essa atuação em conformidade com a atuação do 
dono do negócio não é absoluta e determinada, devendo-se analisar, caso a caso, a 
adequação da ação ao comportamento esperado do homem comum. 
 
iii) Atuação no interesse e vontade presumida do “dominus” 
Ao ingerir nas atividades privadas de terceiros, deve o agente agir em 
conformidade com a vontade do dono do negócio. Como a ausência de autorização é um 
dos elementos da Gestão de Negócios, a vontade do dono do negócio só pode ser 
presumida, caso contrário estaríamos diante de uma autorização (ao menos tácita). 
Assim, para restar caracterizada a Gestão de Negócios, faz-se mister que a 
ação seja orientada a essa vontade presumida, sendo que a atuação em desconformidade 
com essa presunção gera responsabilidade pessoal pro gestor, como será melhor 
abordado em tópico posterior. 
 
 
 
12 
 
iv) Ação limitada a atos de natureza patrimonial 
Esta limitação visa impedir que, sob o pretexto altruístico, um agente interfira 
demasiadamente na esfera particular de outrem. Desta maneira, ficam excluídos do 
âmbito do instituto os assuntos de interesse público, ou os concernentes ao estado civil 
ou, ainda, aos interesses familiares. 
Cumpre destacar que, mesmo nos negócios patrimoniais há limitações ao 
exercício da Gestão de Negócios. Assim, só poderão ser executados atos que possam ser 
executados por meio de mandatário e que não se exija mandato expresso. 
 
v) Ação motivada pela necessidade ou pela utilidade 
Este pressuposto informa que a ação do Gestor deve guiar-se para prover o 
dono do negócio de um proveito. Por este pressuposto, infere-se que a utilidade é um 
elemento fundamental para a caracterização da Gestão de Negócios. 
Assim, caso a Gestão gere proveitos para o dono do negócio, este ficará 
vinculado aos compromissos assumidos pelo gestor, ainda que tal fato o desagrade, ou 
que tenha decorrido de operações arriscadas e excedentes da mera administração. 
 
4. PRINCIPAIS DISPOSIÇÕES LEGAIS 
De maneira geral, a gestão de negócios está disposta no Código Civil de 
2002, no Capítulo II do Título VII, entre os artigos 861 e 875. Mas nem sempre foi 
assim. 
O Código Civil de 1916 alojou a gestão de contratos dentro Capítulo VIII, no 
Título V – Das várias espécies de contratos. Assim, durante a vigência deste Códex, 
diversos autores defendiam a classificação da Gestão de Negócios como quase contrato, 
espécie intermediária entre os contratos e os atos unilaterais criada no direito romano. 
Esse entendimento, hoje, não possui respaldo jurídico, estando pacífico a qualificação 
da Gestão de Negócios como ato unilateral. 
 
13 
 
Feita esta necessária digressão legislativa, visando situar no tempo o 
entendimento sobre o instituto, passemos a analisar detidamente os artigos do Título VII 
– Dos Atos Unilaterais, Capítulo II – Da Gestão de Negócios, do Código Civil de 2002 
(Lei n.º 10.406/2002). 
Art. 861. Aquele que, sem autorização do interessado, intervém 
na gestão de negócio alheio, dirigi-lo-á segundo o interesse e a 
vontade presumível de seu dono, ficando responsável a este e às 
pessoas com que tratar. 
 
O art. 861 do Código Civil define a Gestão de Negócios, estabelecendo os 
pressupostos ou elementos do instituto, já descritos em tópico anterior. Note-se que a 
parte final do artigo 861 estabelece a responsabilização do gestor perante o dono do 
negócio e, também, com os terceiros com quem contratar. Estas questões serão 
detalhadamente discutidas no tópico sobre os efeitos jurídicos da Gestão de Negócios, 
na sequência deste. 
Art. 862. Se a gestão foi iniciada contra a vontade manifesta ou 
presumível do interessado, responderá o gestor até pelos casos 
fortuitos, não provando que teriam sobrevindo, ainda quando se 
houvesse abatido. 
Art. 863. No caso do artigo antecedente, se os prejuízos da gestão 
excederem o seu proveito, poderá o dono do negócio exigir que o 
gestor restitua as coisas ao estado anterior, ou o indenize da 
diferença. 
 
Já nos artigos 862 e 863 o legislador ordinário estabeleceu a responsabilidade 
do gestor quando este agir em desconformidade ou com a vontade manifesta do dono do 
negócio, quando pela vontade presumida deste. Por estes, o Gestor responderá pelos 
prejuízos que causar nas suas ações manifestamente contrárias à vontade, expressa ou 
presumida, ainda que o ato gere benefícios parciais. 
Assim, a título de exemplo, será responsabilizado o agente que tenha 
encaminhado animal sabidamente doente terminal a um veterinário, arcando com os 
custos desta ação. Note-se que neste exemplo, tanto o dono do animal, quanto o terceiro 
 
14 
 
interveniente sabiam da condição de irrecuperabilidade do animal e que o dono não tinha 
o interesse no dispêndio financeiro incapaz de salvar o doente, portanto, a conduta não 
se amolda nos pressupostos da Gestão do Negócio. 
O artigo 864 dispõe sobre o dever anexo de informação, que decorre da boa-
fé e da eticidade. O professor Cristiano Chaves ressalta que “como negócio unilateral, 
não necessita a gestão de prévio comunicado ao dono do negócio, o qual não precisa 
anuir preteritamente10”, sendo assim, a hipótese mais comum de aplicação da casuística 
seria nas situações emergenciais, que a parte final do citado artigo dispensa da espera da 
resposta. Observe. 
Art. 864. Tanto que se possa, comunicará o gestor ao dono do 
negócio a gestão que assumiu, aguardando-lhe a resposta, se da 
espera não resultar perigo. 
 
 O artigo 865 dispõe sobre a necessidade de continuidade da gestão: 
Art. 865. Enquanto o dono não providenciar, velará o gestor pelo 
negócio, até o levar a cabo, esperando, se aquele falecer durante 
a gestão, as instruções dos herdeiros, sem se descuidar, 
entretanto, das medidas que o caso reclame. 
 
Desta maneira, ainda em atenção a boa-fé e a eticidade, o gestor do negócio, 
depois de iniciada a gestão, não pode abandoná-la, salvo se o dono do negócio tomar as 
providências necessárias para tanto. 
Art. 866. O gestor envidará toda sua diligência habitual na 
administração do negócio, ressarcindo ao dono o prejuízo 
resultante de qualquer culpa na gestão. 
Outra obrigação anexa e implícita, também decorrente da boa-fé, é o dever 
de cuidado, previsto no art. 866 do CC para a relação proveniente da Gestão de Negócio. 
O professor Cristiano Chaves assim comenta o citado artigo: 
“Por diligência habitual deve-se entender a observância de um 
dever médio de cuidado, não condizente, por exemplo, com a 
 
10 FARIAS (2017), p. 755 
 
15 
 
diligencia habitual de um mau administrador. Mutatis mutandis, 
seria o agir no direito de família como um bom pai de família”. 
 
Temos que não merecem reparos ou considerações adicionais às lições do 
aclamado mestre. 
Passando ao artigo 867, nota-se que o gestor é responsável pelas substituições 
que se fizer por outras pessoas. O principal objetivo da norma é majorar o já citado dever 
de cuidado do gestor para abarcar, também, a escolha de eventual substituto. 
Art. 867. Se o gestor se fizer substituir por outrem, responderá 
pelas faltas do substituto, ainda que seja pessoa idônea, sem 
prejuízo da ação que a ele, ou ao dono do negócio, contra ela 
possa caber. 
Parágrafo único. Havendomais de um gestor, solidária será a 
sua responsabilidade. 
 
O parágrafo único do art. 867, supra, determina a responsabilidade solidária 
entre os gestores. Como a solidariedade não se presume, art. 265 do CC/2002, o 
parágrafo único do art. 867 é de extrema importância para assegurar, tanto ao dono do 
negócio quanto para terceiros, a responsabilização dos gestores de negócio alheio. 
Art. 868. O gestor responde pelo caso fortuito quando fizer 
operações arriscadas, ainda que o dono costumasse fazê-las, ou 
quando preterir interesse deste em proveito de interesses seus. 
Parágrafo único. Querendo o dono aproveitar-se da gestão, será 
obrigado a indenizar o gestor das despesas necessárias, que tiver 
feito, e dos prejuízos, que por motivo da gestão, houver sofrido. 
 
O artigo 868 do CC/2002 estabelece a responsabilidade do gestor no caso de 
ações arriscadas na gestão do negócio. Tomando, mais um vez, o magistério do 
professor Cristiano Chaves11: 
 
11 FARIAS (2017), id., p.757 
 
16 
 
“O caput art. 868 veicula duas hipóteses nas quais o gestor 
responde civilmente de forma agravada, restando responsável 
ainda que no caso fortuito. São elas: 
a) Na prática de atos extremados. O dever de cuidado na 
gestão, enunciado no art. 866 supra, não contempla a prática de 
atos extremados, ainda que fosse usual tal conduta pelo dono do 
negócio. Relaciona-se a regra com o fato de na gestão o 
patrimônio administrado ser de outrem, importando cuidado e 
diligência contumaz. Somente o dono do negócio, ou pessoa 
autorizada para tanto – o que não é o caso do gestor – poderá 
arriscar o patrimônio administrando. Conforme reiteradamente 
afirmado, ao gestor cabe administrar, e não especular. 
b) Preterição dos interesses do dono do negócio em favor do 
gestor. Ainda por tratar-se de patrimônio alheio, não admite a 
legislação civilista que a gestão do dono do negócio seja 
preterida por benefícios ao gestor, sob pena de desconfigurar o 
exercício da gestão no interesse de outrem”. 
 
No mais, o parágrafo único traz a necessidade de indenização do gestor pelas 
despesas necessárias e prejuízos sofridos no caso de aproveitamento da gestão, ainda 
que resulte de ações arriscadas. 
Art. 869. Se o negócio for utilmente administrado, cumprirá ao 
dono as obrigações contraídas em seu nome, reembolsando ao 
gestor as despesas necessárias ou úteis que houver feito, com os 
juros legais, desde o desembolso, respondendo ainda pelos 
prejuízos que este houver sofrido por causa da gestão. 
§ 1º A utilidade, ou necessidade, da despesa, apreciar-se-á não 
pelo resultado obtido, mas segundo as circunstâncias da ocasião 
em que se fizerem. 
§ 2º Vigora o disposto neste artigo, ainda quando o gestor, em 
erro quanto ao dono do negócio, der a outra pessoa as contas da 
gestão. 
 
Quando a administração do negócio pelo gestor se der de maneira útil, ou 
seja, de acordo com a vontade presumida do dono do negócio, nos limites da prudência, 
gerando benefícios, ou evitando prejuízos, gerará, para o dono do negócio, a obrigação 
de honrar com os compromissos firmados pelo Gestor perante terceiros, além de 
 
17 
 
ressarcir o Gestor pelas despesas úteis e necessárias, bem como de eventuais prejuízos 
sofridos pelo Gestor. 
Art. 870. Aplica-se a disposição do artigo antecedente, quando a 
gestão se proponha a acudir a prejuízos iminentes, ou redunde em 
proveito do dono do negócio ou da coisa; mas a indenização ao 
gestor não excederá, em importância, as vantagens obtidas com 
a gestão. 
 
O artigo supra adiciona duas hipóteses nas quais o ressarcimento ao Gestor 
se torna obrigatória para o dominus. Estas hipóteses – quando o escopo da gestão visa 
dirimir prejuízos iminentes, ou quando a gestão gere proveitos ao dominus – decorrem 
do critério da utilidade, já discutido em tópico oportuno. 
Art. 871. Quando alguém, na ausência do indivíduo obrigado a 
alimentos, por ele os prestar a quem se devem, poder-lhes-á 
reaver do devedor a importância, ainda que este não ratifique o 
ato. 
 
O artigo 871 do CC/2002 consagra o princípio da proteção integral ao 
vulnerável na medida em que dispensa o ato de ratificação da Gestão do Negócio, pelo 
dominus que neste caso é o prestador de alimentos, para gerar a obrigação de ressarcir 
o Gestor pelo valor despendido no cumprimento da obrigação de terceiro. 
Esta presunção de interesse decorre da essencialidade da prestação de 
alimentos, sem qual o alimentado tem a sua subsistência prejudicada. Nesta situação, a 
necessidade do alimentando é colocada em superposição ao interesse do prestador de ter 
a sua esfera particular preservada contra a intromissão de um terceiro. Andou bem o 
legislador nesta previsão. 
Art. 872. Nas despesas do enterro, proporcionadas aos usos 
locais e à condição do falecido, feitas por terceiro, podem ser 
cobradas da pessoa que teria a obrigação de alimentar a que veio 
a falecer, ainda mesmo que esta não tenha deixado bens. 
Parágrafo único. Cessa o disposto neste artigo e no antecedente, 
em se provando que o gestor fez essas despesas com o simples 
intento de bem-fazer. 
 
18 
 
 
Em que pese o artigo não tratar especificamente sobre a Gestão de Negócios, 
uma vez que a ação não é orientada pelos pressupostos já analisados, por sua 
aproximação com o instituto em análise, o legislador previu a possibilidade de 
indenização, nos mesmos moldes da gestão de negócios, para aquele que dispensar 
auxílio financeiro para cobrir as despesas com enterro, nos moldes e costumes do local. 
Especificamente para a Gestão de Negócios, importa analisar o parágrafo 
único deste artigo que prevê a cessação da presunção de interesse quando ficar provado 
que o terceiro agiu, pura e simplesmente, com o desejo de ajudar (altruísmo). 
Art. 873. A ratificação pura e simples do dono do negócio 
retroage ao dia do começo da gestão, e produz todos os efeitos do 
mandato. 
 
Apesar da redação simples, o artigo 873 do Códex confere a Gestão de 
Negócios todos os efeitos do Mandato. 
Há uma divergência doutrinária quanto a conversão da Gestão em Mandato, 
ou apenas da concessão à Gestão de Negócios dos efeitos do Mandato. Há quem, à 
exemplo de Maria Celina Bodin de Morais, Heloisa Helena Barbosa e Gustavo 
Tepedino, que defendem apenas a conversão de efeitos do mandato à Gestão de 
Negócios. O que parece ser a posição dominante. 
Art. 874. Se o dono do negócio, ou da coisa, desaprovar a gestão, 
considerando-a contrária aos seus interesses, vigorará o disposto 
nos arts. 862 e 863, salvo o estabelecido nos arts. 869 e 870. 
Aqui, artigo 874, o legislador consagra os efeitos lógicos da desaprovação da 
Gestão pelo dono do negócio. Estes efeitos já foram analisados, quando do estudo dos 
citados artigos. Sem novidades no particular. 
Art. 875. Se os negócios alheios forem conexos ao do gestor, de 
tal arte que se não possam gerir separadamente, haver-se-á o 
 
19 
 
gestor por sócio daquele cujos interesses agenciar de envolta com 
os seus. 
Parágrafo único. No caso deste artigo, aquele em cujo benefício 
interveio o gestor só é obrigado na razão das vantagens que 
lograr. 
Por fim, o legislador previu a hipótese na qual os interesses do Gestor são 
conexos aos interesses do dono do negócio. Quando esses interesses não puderam ser 
separados, presumir-se-á o gestor e o dono do negócio como sócios, aplicando-se ao 
caso as disposições sobre a sociedade. 
 
5. EFEITOS JURÍDICOS DA GESTÃO DE NEGÓCIOS 
Tendo por fundamento as análises já realizadas sobre a evolução histórica do 
instituto, as posições doutrinárias quanto ao conceito e aos pressupostos/elementos da 
Gestão de Negócios, além das disposições legais sobre o instituto fixadas no CódigoCivil de 2002, podemos enumerar os efeitos jurídicos da Gestão de Negócios em três 
grupos: as obrigações do gestor do negócio, as obrigações do dono do negócio e os 
efeitos jurídicos da ratificação da gestão pelo dono do negócio. Vejamos. 
 
5.1. OBRIGAÇÕES DO GESTOR DO NEGÓCIO 
De acordo com as lições do professor Silvio de Salvo Venosa12 “o princípio 
geral determina que o gestor se conduza dentro dos moldes de mandatário, aplicando a 
diligência habitual do bonus pater famílias (art. 866 do CC/2002). Além deste princípio 
geral, o professor Carlos Roberto Gonçalves13 destaca as seguintes obrigações do Gestor 
do Negócio: 
i) Comunicar a gestão ao dono do negócio, aguardando-lhe a resposta, 
se da espera não resultar perigo. 
 
12 VENOSA (2017), p. 464 
13 GONÇALVES (2017), p.782-784 
 
20 
 
Recebendo a comunicação do gestor, o dono do negócio tomará uma 
das deliberações assim elencadas por WASHINGTON DE BARROS 
MONTEIRO: 
a) desaprovará a gestão, caso em que a situação se regerá pelo art. 
874 do Código Civil; 
b) aprová-la-á expressa ou tacitamente, caso em que a gestão se 
converterá em mandato expresso ou tácito; 
c) aprová-la-á na parte já realizada, desaprovando-a, porém, para o 
futuro; 
d) constituirá procurador, que assumirá o negócio no pé em que se 
achar, extinguindo-se assim a gestão; 
e) assumirá pessoalmente o negócio, cessando igualmente a gestão, 
como no caso da letra anterior. 
ii) Manter a Gestão iniciada até que o proprietário tome as medidas 
cabíveis para a retomada da gestão. 
Porém, há casos em que o Gestor fica dispensado de manter a Gestão, 
como, por exemplo, doença grave ou acidente. 
Outro ponto que merece destaque é em relação a morte o dono do 
negócio. Diferente do contrato de mandato, que é celebrado intuitu 
personae, a morte do dono do negócio não faz cessar a Gestão, 
devendo o gestor continuar com as ações necessárias enquanto 
aguarda instruções dos herdeiros. 
iii) Envidar, nesse mister, a sua diligência habitual, ressarcindo ao dono 
todo o prejuízo decorrente de qualquer culpa na gestão. 
iv) Não promover operações arriscadas, ainda que o dono costumasse 
fazê-las, “nem preterir interesses deste em proveito de interesses 
seus”, sob pena de responder pelo caso fortuito. 
 
 
 
 
 
21 
 
5.2. OBRIGAÇÕES DO DONO DO NEGÓCIO 
Já as obrigações do Dono do Negócio, podem assim ser enumeradas, segundo 
as lições do professor Carlos Roberto Gonçalves14: 
i) Indenizar o gestor das despesas necessárias e dos prejuízos que houver 
sofrido, mesmo que decorram de operações arriscadas. 
ii) Cumprir as obrigações contraídas em seu nome, reembolsando ao 
gestor as despesas necessárias ou úteis, se o negócio for utilmente 
administrado (gestão útil), apreciando-se a utilidade não pelo 
resultado obtido, “mas segundo as circunstâncias da ocasião em que 
se fizerem”. 
iii) Igualmente cumprir as obrigações assumidas em seu nome e efetuar 
os aludidos pagamentos quando a gestão se proponha a acudir a 
prejuízos iminentes, ou redunde em proveito do dono do negócio, ou 
da coisa, pois nesses casos a utilidade decorre do próprio fato (gestão 
necessária); 
iv) Reembolsar, quando obrigado legalmente a fornecer alimentos a 
alguém e estiver ausente, ao gestor que prestá-los, ainda que não tenha 
ratificado o ato, bem como as “despesas do enterro” feitas por terceiro. 
 
 
5.3. EFEITOS DA RATIFICAÇÃO DA GESTÃO 
Ratificação é o ato pelo qual o dono do negócio, ciente da gestão, aprova o 
comportamento do gestor. 
Existem duas espécies de ratificação: a expressa – quando o dominus 
aquiesce com a Gestão perpetrada – e a tácita – quando tomando conhecimento da 
Gestão e podendo desautorizá-la, o dominus simplesmente silencia. 
O professor Venosa15 destaca que “somente o dono do negócio, ou seu 
representante legal, ou com poderes especiais, pode ratificar a gestão. Se o dono é pessoa 
jurídica, a ratificação deve ser formalizada pelo órgão que a represente”. 
 
14 GONÇALVES, id., p.784-786 
15 VENOSA (2017), p. 465 
 
22 
 
Finalizando a análise sobre os efeitos jurídicos da Gestão de Negócios, 
colacionamos a doutrina do professor Carlos Roberto Gonçalves16 que de maneira 
didática resume os efeitos da ratificação da Gestão de Negócios: 
A afirmação de que a ratificação retroage ao dia do começo da 
gestão (“omnis ratihabitio prorsus retrotrahitur”) equivale a 
dizer que esta se extingue, transformando-se em mandato. Por 
essa razão, cessam as responsabilidades especiais que vinculam 
o gestor e não mais se cogitará de saber se foi útil, ou não, a 
gestão. É como se não tivesse havido gestão de negócios, mas 
apenas mandato. 
 
6. ENTENDIMENTOS JURISPRUDENCIAIS 
Com a entrada em vigor do novo CPC (Lei 13.105/2015), o sistema de 
uniformização da jurisprudência, prevista nos arts. 926 – 928 do novo código, majorou 
a importância da atenção aos precedentes judiciais na prática forense nacional. Diante 
desse cenário e valoração dos precedentes, torna-se indispensável compreender como os 
tribunais pátrios se posicionam acerca de determinadas questões. 
Em se tratando de Gestão de Negócios, temos uma farta produção 
jurisprudencial, como não seria producente buscar esgotar toda a produção 
jurisprudencial em um trabalho desta natureza, optamos por trazer alguns temas mais 
recorrentes, que já foram objeto de apreciação pelos tribunais pátrios. 
 Reconhecimento dos elementos constitutivos, ou pressupostos, da Gestão 
de Negócios: 
Agravo regimental no recurso especial. Ação de prestação de contas. 
Gestão de negócios não caracterizada. Súmula n. 7/ST). 1- Para 
configurar o instituto da gestão de negócios é necessária a reunião 
dos seguintes elementos: administração de negócio alheio; atuação 
por iniciativa do gestor; inexistência de autorização por parte do 
dono; e, por fim, ser o negócio de um terceiro que se encontra ausente 
e não possui mandatário. 2 - Não caracteriza gestão de negócios a 
atuação de advogado nos limites das instruções dadas pelo mandante. 
(STJ, Ag. Reg. no REsp. n. 723.816, 4' T., rei. Min. João Otávio de 
Noronha, j. 13.10.2009, D] 26.10.2009) 
 
16 GONÇALVES, op. cit., p. 787 
 
23 
 
 É válida a interpelação extrajudicial realizada pelo Gestor de Negócios 
para denunciar comodato: 
Declaratória. Nulidade de ato jurídico. Interpelação extrajudicial 
para comunicar denúncia de comodato. Ato jurídico válido. Ato 
promovido por terceiro, alheio ao contrato de comodato. Irrelevância. 
Terceiro que atuou como gestor de negócios, segundo a vontade 
presumível do titular do direito. Art. 861 do CC. Manutenção de posse. 
Impossibilidade. Posse precária. Extinção do comodato a partir da 
interpelação extrajudicial válida, promovida por terceiro gestor de 
negócios. Sentença mantida. Recurso desprovido. 
(TJSP, Ap. n. 0041042-91.2008.8.26.06021Sorocaba, 20' Cãm. de Dir. 
Priv., rei. Álvaro Torres Júnior, D]e 13.09.2012) 
 Deve se aplicar as regras previstas para a Gestão de Negócios ao caso de 
pessoa que se investe na condição de “síndico temporário”, sem eleição, 
de imóveis em condomínio: 
Dever de prestação de contas, em imóvel tido em condomínio, com 
administrador que se aponta como temporário, sem eleição, 
disposições estatutárias ou regulamento, que deve se reger não pela 
estrita aplicação das regras do condomínio edilício, mas da gestão de 
negócios. 
(TJRJ, Ap. n. 0014057-35.2007.8.19.0208 (2008.001.56780), 3' Câm. 
Civel, rei. Des. luiz Fernando de Carvalho, j. 15.12.2009) 
 Dever de prestar contas do Gestor do Negócio: 
Ação de prestação de contas. Gestão de negócios. Primeira fase. Ainda 
que réu não tenha assumido o encargo de curador da autora, o seu 
dever, para esta primeira fase da demanda, decorredo fato de ter 
atuado, como ele próprio admite, como gestor de negócios em relação 
à irmã incapaz, nos termos do art. 861 do CC. Sentença mantida. 
Negado provimento. Unânime. 
(TJRS, Ap. Cível n. 70.015.305.618, 7' Câm. Cível, rei. Des. Maria 
Berenice Dias, j. 27.09.2006) 
 Diferença entre Gestão de Negócio e mandato: 
Gestão de negócios. Administrador. Procurador od negotio. 
Comparecimento em juízo em nome próprio. Inadmissibilidade. A 
gestão de negócios possui analogia com o mandato, sobretudo com o 
mandato tácito. A diferença é que no mandato existe prévio acordo 
entre mandante e mandatário. Na gestão de negócios, inexiste esse 
ajuste prévio. 
(]TAIRT 106/316) 
 Reclassificação para Gestor de Negócio do mandatário que excede os 
poderes do mandato: 
Gestão de negócios. Administradora de bens. Atos excessivos ao 
poder outorgado no mandato. Reconhecimento. A 
administradora de bens (mandatária) que excede os poderes do 
 
24 
 
mandato é reputada como mero gestor de negócios (exegese do 
art. 1.297, do CC). 
(li TAC, AI n. 571.954-00/5, 7ª Câm., rei. Juiz Willian Campos, j. 
27.04.1999) 
 Possibilidade de análise isolada de ações que, per si, eram suficientes para 
caracterizar a Gestão de Negócios – possibilidade de procedência parcial 
do pedido de indenização do gestor: 
Apelação. (...) Tio dos herdeiros que, ao realizar tal específica 
contratação, agiu como gestor de negócios, gestão útil e merecendo ser 
assim referendada, nos termos do art. 869 do CC. Gestão não 
proveitosa, contudo, no que se refere à ulterior contratação dos 
serviços relacionados à defesa criminal da herdeira que já então 
confessara coautoria no assassinato dos pais, tanto porque também 
contrária aos presumíveis interesses dos autores da herança. Sentença 
de improcedência da demanda parcialmente reformada, para o 
acolhimento, apenas, do pedido de arbitramento e cobrança de 
honorários referentes à primeira contratação. Julgamento do mérito 
da apelação verificado por maioria de votos, mediante a adoção do 
voto intermediário. Apelação parcialmente provida, prejudicado o 
agravo retido. 
(TJSP, Ap. cível s/ rev. n. 1.087.552.000, 25ª Câm. de Dir. Priv., rei. 
Ricardo Pessoa de Mello Belli, j . 07.07.2009, DJ 19.08.2009) 
 Reconhecimento da obrigação de ressarcir o pagamento das despesas de 
funeral realizado por terceiro: 
A partir do expresso no art. 872, caput, do CC e ficando evidenciado 
que a autora efetuou o pagamento dos serviços relativos ao funeral 
da filha dos réus (...) tem o direito de ser ressarcida. A testemunha [ 
... ] confirmou que a autora emprestou o valor para realização dos 
atos pertinentes ao funeral, sendo que o réu ( ... ) na ocasião, 
comprometeu-se com a autora a efetuar o pagamento até o próximo 
final de semana após o funeral. O pagamento de valor diretamente à 
funerária não afasta o direito da autora receber, integralmente, a 
quantia que despendeu. Irrelevante, perante à autora, o pagamento 
efetuado pelo recorrente à funerária, porquanto a pretensão deduzida 
nesta demanda tem como base a relação estabelecida entre os 
litigantes. Sendo os réus, independente do divórcio, pais da falecida( ... 
]. ambos, em tese, tinham obrigação alimentar (arts. 872 e 1.696 do 
CC). Logo, há responsabilidade solidária, inexistindo razão para 
ocorrer individualização da condenação. Desnecessidade, no mais, em 
sede de Juizado Especial Cível, de se formalizar o julgamento, 
principalmente na instância recursai, repetindo-se argumentos 
apresentados n a decisão da 1·' fase (art. 46 da Lei n. 9.099/95). 
Recurso improvido. Proposta de decisão homologada mantida por seus 
próprios 
fundamentos. 
 
25 
 
(T. Rec. - RS, Rec. cível n. 71.000.560. 755, 2• T. Rec. Cível, rei. Juiz 
Leandro Figueira Martins, j. 20.10.2004) 
 Equivalência entre ato ratificado do Gestor de Negócio e ato do 
mandatário: 
Monitória. Instrumento de confissão de dívida. Assinatura da 
funcionária do autor. Gestão de negócios. Art. 873 do CC. Ato 
ratificado equivale a ato praticado por meio de mandato. Ação 
procedente. Coação moral. Inexistência de prova. Art. 333, I, do CPC 
(art. 373, 1, do CPC/2015). Ônus do autor. Desconsideração de 
personalidade jurídica. Inaplicabilidade. Recurso não provido. 
(TJSP, Ap. cível c/ rev. n. 7.339.137.000, 21• Cãm. de Dir. Priv., rei. 
Silveira Paulilo, j. 13.05.2009, D} 29.05.2009) 
 
 
 
7. CONCLUSÕES 
 
Diante do exposto, temos que a correta compreensão do instituto da Gestão 
de Negócios fornece ao operador do direito o ferramental teórico necessário para, em 
uma dada situação concreta, conseguir diferenciar o instituto em tela, do mandato (seja 
ele expresso ou tácito) e, até mesmo, da ingerência indevida na esfera privada de outrem. 
Desta maneira, entendendo a Gestão de Negócios como a administração de 
negócio alheio, não autorizada pelo interessado, realizada por altruísmo e segundo o 
interesse a vontade, ao menos presumida, do dono do negócio, temos que diversas são 
as ocasiões em que se pode atuar sob o manto de proteção do referido instituto. 
Cumpre destacar que, mesmo sendo um ato unilateral de vontade, a Gestão 
de Negócios se une a lei, aos contratos e aos atos ilícitos como fonte de obrigações e, 
efetivamente, as gera, tanto para o gestor quanto para o dono do negócio quando 
presentes todos os seus pressupostos. 
Por fim, destaca-se que a aplicação do instituto é relativamente sedimentada 
na jurisprudência nacional, o que firma as bases para a consolidação de um instituto tão 
importante e que vem se desenvolvendo desde o Direito Romano. 
 
 
26 
 
BIBLIOGRAFIA 
 
ALVES, José Carlos Moreira. Direito Romano. 18ª ed. rev. Rio de Janeiro: Forense, 
2018 
Coelho, Fábio Ulhoa - Curso de direito civil, volume 3 – Contratos. 5. ed. — São 
Paulo - Saraiva, 2012. 
Diniz, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro - Volume 3 - Teoria das 
Obrigações Contratuais e Extra Contratuais. 26. ed., São Paulo: Saraiva 2010. 
FARIAS, Cristiano Chaves, et. al. Código Civil para Concursos. 5ª ed. Salvador: 
Juspodivm, 2017 
GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil brasileiro, volume 3: contratos e atos 
unilaterais. 14ª ed. São Paulo: Saraiva, 2017 
NADER, Paulo. Curso de direito civil, volume 3: contratos. 9ª ed. rev. e atual. Rio de 
Janeiro: Forense, 2018 
Pereira, Caio Mario da Silva - Instituições de Direito Civil - Volume III – Contratos. 
Rio de Janeiro: Forense, 2014. 
VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito Civil – Contratos em Espécie. São Paulo: Editora 
Atlas, 17. Ed. 2017.

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