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1 UNIDADE 1 A GEOGRAFIA COMO CIÊNCIA OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS A partir desta unidade, você será capaz de: • conhecer a gênese e como o conhecimento geográfico era percebido na antiguidade; • verificar o contexto histórico de evolução da Ciência Geográfica; • relacionar o desenvolvimento do capitalismo com o surgimento da Geo- grafia Contemporânea; • compreender a importância das correntes do pensamento geográfico no desenvolvimento e ampliação do ensino da Geografia; • entender o processo de institucionalização da Geografia no Brasil; • identificar a importância do ensino da Geografia na sala de aula Esta unidade está organizada em quatro tópicos. Em cada um deles, você encontrará atividades para uma maior compreensão das informações apresentadas. TÓPICO 1 – GÊNESE E EVOLUÇÃO DA CIÊNCIA GEOGRÁFICA TÓPICO 2– AS CORRENTES DO PENSAMENTO GEOGRÁFICO E O ENSINO DA GEOGRAFIA TÓPICO 3 – A GEOGRAFIA NO BRASIL TÓPICO 4 – MAS AFINAL, QUAL É O OBJETO DE ESTUDO DA GEOGRAFIA? 2 3 TÓPICO 1 UNIDADE 1 GÊNESE E EVOLUÇÃO DA CIÊNCIA GEOGRÁFICA 1 INTRODUÇÃO Analisando o caráter atual de abrangência de estudo da ciência geográfica, podemos dizer que a Geografia sempre esteve presente no contexto histórico de formação e evolução do planeta Terra. Contudo, se a compararmos com o tempo geológico de formação do planeta (4,5 e/ou 4,6 bilhões de anos), a Geografia enquanto nomenclatura é muito recente, tem sua origem no século III a.C. pelo filósofo grego Eratóstenes, cujo significado abarca Geo = Terra e grafia = escrita, descrição. Desde então, o objeto de estudo da Geografia passou por diferentes concepções culturais e correntes epistemológicas. Assim, neste tópico, caro(a) acadêmico(a), queremos que você compreenda o processo de evolução do conhecimento geográfico, bem como a relação deste conhecimento com a formação socioespacial e o desenvolvimento econômico na Antiguidade, na Idade Média e Moderna. 2 O CONHECIMENTO GEOGRÁFICO NA ANTIGUIDADE Podemos dizer que a Geografia é uma das ciências mais antigas que existem. Isso porque, a confecção dos mapas, conforme registros históricos, ocorreu antes da própria escrita. Valiosos mapas foram deixados por diferentes povos, dentre eles: babilônios, egípcios, maias, astecas, esquimós, chineses, dentre outros. Todos eles representavam aspectos culturais de suas sociedades e sem dúvida são peças-chaves para que possamos compreender alguns dos seus aspectos socioculturais, bem como suas relações com a natureza. Desse modo, o conhecimento geográfico já se fazia presente com as primeiras civilizações. Vejamos: 2.1 O CONHECIMENTO GEOGRÁFICO ENTRE OS POVOS PRIMITIVOS Os povos primitivos, apesar de não serem detentores da escrita, já possuíam “ideias” geográficas em suas concepções de vida e cultura. Seus conhecimentos eram transmitidos de geração em geração através da versão oral UNIDADE 1 | A GEOGRAFIA COMO CIÊNCIA 4 e dos desenhos rupestres (em rochas e cavernas). Vivam da caça, pesca, coleta e, às vezes, de uma agricultura primitiva. Inicialmente retiravam da natureza o que necessitavam para sobreviver sem ocasionar expressivas transformações. Ademais eram povos nômades, permitindo que a natureza se regenerasse caso houvesse uma exploração intensiva. DICAS Para saber mais sobre os povos primitivos, indicamos a leitura do livro intitulado “Povos Primitivos: a vida dos primeiros grupos sociais humanos, desde a Idade da Pedra até seu desenvolvimento nas Américas”. Esse livro é bem didático e ilustrativo. Vale a pena conferir. É importante destacar também o conhecimento que estes povos continham em relação à natureza. Segundo Andrade (1987, p. 21): [...] conheciam vegetais que colocados na água provocavam a asfixia de peixes que poderiam ser facilmente apanhados e utilizados como alimento, sem lhes causarem danos. Conheciam também as áreas fluviais e costeiras mais piscosas onde não só pescavam peixes e crustáceos como também apanhavam moluscos que consideravam saborosos. Conheciam o mecanismo das estações, fazendo migrações, às vezes de longos percursos, a fim de acompanharem os animais silvestres que utilizavam como alimentos ou para colherem os frutos de determinadas áreas, na ocasião da “safra”. Gradativamente, os povos passaram a fixar território deixando de ser nômades para se tornarem sedentários. É evidente que neste processo, a natureza primeira ou natureza natural como diria Milton Santos, passou a ser transformada em natureza segunda ou humanizada. Na América Andina, por exemplo, TÓPICO 1 | GÊNESE E EVOLUÇÃO DA CIÊNCIA GEOGRÁFICA 5 os quéchuas, ao construírem o Império Inca, estabeleceram suas cidades em importantes pontos estratégicos, tanto do ponto de vista militar como alimentar. “Construíram estradas empedradas com centenas de quilômetros, partindo da capital em direção aos quatro pontos cardeais, como a que ligava Cuzco a Quito. Eles tinham uma noção da translação da Terra em torno do Sol e da importância da orientação”. (ANDRADE, 1987, p. 21). No que tange ainda aos conhecimentos geográficos de alguns povos primitivos, gostaríamos de destacar que os polinésios (eram predominantemente pescadores) desenvolveram a arte da navegação e por conhecerem a direção dos ventos e das correntes marinhas puderam estabelecer a comunicação entre as inúmeras ilhas distantes do oceano com a navegação em seus barcos. Alias, cabe ressaltar que estes barcos eram considerados muito seguros para a época, bem como para o nível tecnológico que dominavam. Outro aspecto importante dos povos primitivos era a concepção religiosa dominada por um Deus superior que na maioria das vezes estava atrelado aos astros (Sol, lua e estrelas). De modo geral não se pode afirmar que estes povos desenvolvessem o conhecimento geográfico em caráter científico. Contudo, suas experiências diárias, ou saberes práticos e as noções e relações com a natureza permitiram mesmo que empiricamente a ampliação e desenvolvimento do conhecimento geográfico conforme veremos na próxima seção. 2.2 O CONHECIMENTO GEOGRÁFICO ENTRE OS POVOS ORIENTAIS Associadas a outras ciências, as ideias geográficas dos povos orientais através de seus conhecimentos práticos de exploração da Terra, bem como de suas observações (viajantes) e estudos matemáticos foram responsáveis pela sistematização do conhecimento do mundo. Um exemplo típico desta sistematização foram os estudos do rio Nilo, Tigre e Eufrates realizados pelas civilizações agrícolas da Mesopotâmia e do Egito. Os estudos levavam em conta a origem, a extensão e o regime dos rios no que tange a periodicidade e a variação do volume de água durante o ano. Para estas civilizações, o período das cheias, principalmente do rio Nilo determinava a extensão da área que seria cultivada, da quantidade de alimentos que seria produzida e a oportunidade de trabalho para os que se dedicavam exclusivamente à agricultura. Podemos dizer que estas análises empíricas permitiram o desenvolvimento dos primeiros estudos da hidrografia fluvial e de geometria. Isso porque as cheias extinguiam as demarcações feitas entre as áreas cultivadas por várias famílias, forçando uma nova demarcação entre elas. UNIDADE 1 | A GEOGRAFIA COMO CIÊNCIA 6 Caso você não saiba, a Mesopotâmia (onde é o Iraque hoje) estava localizada entre os rios Tigre e Eufrates, localizada na chamada Crescente Fértil (ver mapa a seguir). Para você ter uma ideia, todas as civilizações(sumérios, acádios, amoritas, assírios, caldeus, dentre outras) que se desenvolveram nestas áreas eram denominadas de Hidráulicas, isso porque dependiam dos rios e lutavam pela posse das terras férteis e aráveis. Observe o mapa a seguir FONTE: Disponível em: <http://www.not1.com.br/wp-content/uploads/2011/03/ Mesopotamia-crescente-fertil.gif>. Acesso em: 10 abr. 2011. FIGURA 2 – LOCALIZAÇÃO DA MESOPOTÂMIA As civilizações orientais permitiram também o desenvolvimento econômico com a troca de produtos que engendrou a intensificação das relações comercias entre os povos que viviam em áreas mais distantes. Assim, a navegação se intensificou entre o mar Mediterrâneo e no mar Vermelho, ocasionando o aparecimento de núcleos coloniais e a dominação econômica e política dos povos em ascensão. Segundo Andrade (1987, p. 22), “os fenícios percorreram o Mediterrâneo e o mar Negro e, alcançando o sul da Espanha, atravessaram o estreito de Gibraltar e exploraram a costa europeia do Atlântico até a Grã-Bretanha e a África, possivelmente até o Camerum”. Traziam em suas embarcações mercadorias inexistentes na bacia do Mediterrâneo que eram trocadas por outros produtos. TÓPICO 1 | GÊNESE E EVOLUÇÃO DA CIÊNCIA GEOGRÁFICA 7 Para você ter uma ideia, no século VII a.C., a serviço do Faraó Nécao II, os fenícios fizeram a circunavegação da África. É importante destacar também [...] que um faraó planejou construir um canal que cortasse o istmo de Suez, ligando os mares Mediterrâneo e Vermelho, com a finalidade de estender as navegações mediterrâneas até o oceano Índico, detendo- se em seu propósito ao constatar que o nível do mar Vermelho era mais elevado do que do mar Mediterrâneo e que a abertura do canal provocaria a invasão do mar Mediterrâneo pelas águas do mar Vermelho e a consequente inundação das planícies costeiras, onde se localizavam importantes cidades e campos cultivados. (ANDRADE, 1987, p. 23). Os conhecimentos geográficos acumulados pelas civilizações orientais foram fundamentais para a elaboração dos conhecimentos básicos da ciência moderna. Inclusive foram utilizados pelos gregos, que se tornaram uma civilização dominante. 2.3 A CONTRIBUIÇÃO DOS GREGOS E DOS ROMANOS PARA O CONHECIMENTO GEOGRÁFICO A exemplo dos fenícios, os gregos também eram grandes navegadores, fundaram colônias na Sicília, Sul da Itália, Espanha (costa do Mediterrâneo), dentre outras e desenvolveram o comércio, bem como adquiriram um vasto conhecimento sobre estas áreas. Muitos dos seus conhecimentos principalmente astronômicos eram oriundos das civilizações da Mesopotâmia, como por exemplo, a maneira de diferenciar as estrelas dos planetas e também como identificá-los (Mercúrio, Vênus, Marte, Júpiter e Saturno). Outro conhecimento adquirido foi sobre o movimento de revolução da Lua em torno da Terra. Através das fases da Lua, os gregos passaram a dividir o ano e agrupar os dias da semana. Os gregos também adquiriram das civilizações orientais os conhecimentos de geometria que posteriormente foram realizadas por Dicearco e Eratóstenes, com a qual estabeleciam as dimensões da Terra no que concernem as latitudes. À medida que o conhecimento geográfico se expandia, estudos descritivos das áreas litorâneas e centrais de domínio grego eram enriquecidos com mapas de itinerários denominados périplos. Estes apresentavam imperfeições, pois nesta época não se utilizavam escalas, ademais não era possível fazer a medição das longitudes. Apesar de não conhecerem, mas saberem da existência de terras situadas ao norte, na Europa Setentrional e na Ásia, os gregos as viam como reservas futuras de exploração. Neste contexto de desenvolvimento do conhecimento geográfico, é importante destacar que os filósofos e matemáticos discutiam ideias sobre a forma e dimensões da Terra, bem como a distribuição das águas, terras e dos seres humanos. Aristóteles, por exemplo, admitiu a esfericidade da Terra, bem como pesquisou sobre a erosão, formação de deltas, a relação entre animais e plantas, as variações climáticas, as relações entre os seres humanos, dentre outros. UNIDADE 1 | A GEOGRAFIA COMO CIÊNCIA 8 IMPORTANT E Aristóteles chegou a apresentar que durante os eclipses, a Terra projetava na Lua uma sombra redonda, como prova da mesma (observe a imagem a seguir). Assim, os trabalhos posteriores de Geodésia elaborados por Eratóstenes para indicar as dimensões da Terra, partiam do pressuposto que ela tinha forma esférica. Para isso, Eratóstenes baseava-se na medida de inclinação dos raios solares em um poço, em dois pontos diferentes, situados na mesma longitude (Sienna e Alexandria), com o auxílio de um instrumento muito simples, o gnômon. Através deste, estabeleceu que a esfera da Terra teria 250.000 estádios, ou 42.000 km. (ANDRADE, 1987). O curioso é que esta medida é muito próxima da aceita atualmente (40.000 km). FONTE: Disponível em: <http://astro.if.ufrgs.br/antiga/antiga.htm>. Acesso em: 10 abr. 2011. FIGURA 3 – SOMBRA DA TERRA NA LUA DURANTE UM ECLIPSE LUNAR No que tange à distribuição das terras e das águas, é interessante você saber que para os gregos a Europa, Ásia e África formavam um imenso continente setentrional (norte) contornado por águas. Segundo Andrade (1987, p. 26), “quanto à existência de outro continente, antípoda do que habitavam e situado no hemisfério sul, havia grande discussão entre eles, advogando uns a existência do mesmo como necessária ao equilíbrio do globo, enquanto outros não aceitavam”. Ainda sobre o papel dos gregos no desenvolvimento da ciência geográfica, não podemos deixar de destacar a teoria geocêntrica de Ptolomeu (sec. II d.C.), ao afirmar que a Terra era o centro do Universo. Esta teoria, aceita até o século XIV, faz parte da famosa obra de Ptolomeu intitulada Sintaxis. Ptolomeu também TÓPICO 1 | GÊNESE E EVOLUÇÃO DA CIÊNCIA GEOGRÁFICA 9 fez descrições do mundo conhecido em outra obra, sendo considerada durante o final do Império Romano e durante a Idade Média, como verdade absoluta. Conforme Andrade (1987), com a queda do Império Romano e a conquista árabe, sua obra foi traduzido para a língua dos novos dominadores e continuou a ter grandes divulgações, tendo sido objeto de estudos e reflexões dos sábios da Igreja, durante a Idade Média. Por isso tem uma grande importância histórica. Ao contrário dos sábios gregos que tinham uma maior preocupação com a geografia matemática, os romanos deram maior importância à geografia descritiva. Estes procuraram desenvolver ao máximo a organização do seu império, assim como o comércio sobre as dezenas de suas províncias. Exemplo disso foram as descrições realizadas pelos grandes geógrafos romanos, Pompônio Mela e Plínio, cujas preocupações estavam pautadas com o império romano no que tange à localização das áreas ricas em produtos comerciais, o acesso a elas, os problemas ligados ao abastecimento, a distribuição étnica, os problemas fronteiriços, dentre outras. Segundo Andrade (1987, p. 28), “outro fato que se exacerbaria no período romano foi a expansão do Cristianismo, tornando religião oficial de Roma no século IV e que deu grande ênfase ao poder dos monges”. A dedicação dos monges no estudo da Bíblia Sagrada fez com que principalmente após a queda do Império Romano (século V) se tornassem detentores da cultura europeia, frente aos povos considerados bárbaros e pouco cultos. Assim, o domínio dos princípios bíblicos refutou muito das consideradas verdades científicas admitidas pelos gregos, a exemplo da esfericidade da Terra. Na verdade, muitas das obras escritas no passado, conformecoloca Andrade (1987), eram fantasiosas, sobretudo aquelas que descreviam monstros, animais de dimensões extraordinárias, bem como informações distorcidas sobre as diversas formas de terrenos, o que dificultavam o melhor conhecimento da realidade existente e assim, o progresso do conhecimento científico. Segundo Moreira (1987), a Geografia, dos romanos até a Idade Média, esteve cunhada como um inventário sistemático de terras e povos, ou seja, possuía um caráter descritivo, com o objetivo de auxiliar a administração do Estado. IMPORTANT E Caro(a) acadêmico(a)! Não podemos deixar de falar de Estrabão (nascido por volta de 64 a 63 a.C), considerado por muitos autores, o maior geógrafo de Roma. Suas viagens realizadas pela Europa, Ásia e África renderam-lhe a escrita de um tratado de dezesseis livros contendo descrições físicas de locais e povos da época. Obra considerada monumental. Observe a imagem de Estrabão. UNIDADE 1 | A GEOGRAFIA COMO CIÊNCIA 10 FIGURA 4 – IMAGEM DE ESTRABÃO FONTE: Disponível em: <http://3.bp.blogspot.com/_xujLY8HuffY/ SwxcANyk7bI/AAAAAAAAAUQ/NMl3NOXUWu8/s1600/EStrab%C3%A3o. JPG>. Acesso em: 10 abr. 2011. 3 A GEOGRAFIA NA IDADE MÉDIA Na Idade Média, o conhecimento geográfico passou por algumas reformulações porque muitos ensinamentos de sábios gregos, (Ptolomeu, Estrabão, Heródoto etc.), que haviam sido refutados durante o império romano, foram retomados. O espaço geográfico passou por um processo de reorganização associada à atuação do povo árabe, dos povos nórdicos e também com as grandes navegações. 3.1 A (RE)ORGANIZAÇÃO DO ESPAÇO GEOGRÁFICO NA IDADE MÉDIA Novas fronteiras surgiram e muitas das que existiam foram destruídas com a queda do Império Romano do Ocidente e sua divisão entre reinos bárbaros, bem como com a expansão do islamismo, a imposição dos turcos no Oriente e a decadência do Império Bizâncio. Na verdade, houve uma reorganização territorial durante a Idade Média. Para você ter uma ideia da influência da expansão do islamismo, por exemplo, no que tange à reorganização territorial, os árabes (fundamentados em sua nova crença religiosa), após a pregação de Maomé e a conversão dos povos da península arábica ao islamismo, passaram a fazer guerras no intuito de conquistar as terras do Império Bizantino na Ásia Menor e no norte da África. TÓPICO 1 | GÊNESE E EVOLUÇÃO DA CIÊNCIA GEOGRÁFICA 11 Aproximadamente um século depois, os árabes já tinham dominado as velhas civilizações da Síria e da Palestina, cristãs e ortodoxas. Conquistaram também o norte da África, até a costa atlântica, bem como toda a Península Ibérica e a Mesopotâmia. O islamismo foi expandido pela Índia e Irã. Os senhores árabes detentores de vasto Império procuravam organizar as vias de transportes não apenas por razões comercias, mas também para facilitar a peregrinação que todo muçulmano deveria fazer a Meca ao menos uma vez na vida. Anualmente, a cidade de Meca recebe milhões de muçulmanos para celebrar um ritual religioso histórico de desapego, arrependimento e reflexão. IMPORTANT E É importante você saber que muitas obras famosas pertencentes à biblioteca de Alexandria, por exemplo, caíram em poder dos árabes e foram traduzidas para a sua língua. Assim, os árabes passaram a conhecer as principais ideias de Aristóteles e Ptolomeu, dentre outras. Podemos dizer que para a Geografia, os árabes contribuíram com suas viagens descrevendo as condições naturais, os recursos que seriam explorados, as características e costumes dos povos que iam sendo dominados. É evidente que as obras deixadas pelos escritores árabes não tinham nenhuma preocupação específica com a Geografia, porém foram muito importantes para o avanço desta ciência. Neste contexto de reorganização do espaço geográfico e as contribuições para Geografia, não podemos deixar de abordar sobre os turcos. Estes, a partir do século XIV, passaram a conquistar as províncias orientais pertencentes ao Império Árabe e no século XV conquistaram a Constantinopla destruindo o Império Bizantino. Os turcos foram responsáveis pela interrupção do comércio entre o Oriente o Ocidente ocasionando sérios problemas aos países europeus que pregavam o catolicismo. Assim, estes países passaram a organizar expedições com destino à Palestina com o intuito de reconquistar os cristãos e lutar contra os turcos para garantir suas rotas comerciais do Oriente. Povo, nobres, senhores feudais e até reis, como São Luís, da França, e Ricardo Coração de Leão, da Inglaterra, participaram de expedições que por terra e por mar partiram para atacar os infiéis na Terra Santa e no norte da África. Estas expedições, que se realizaram nos séculos X a XI, contribuíram tanto para a expansão das relações comerciais, como também para o intercambio cultural. Desse intercambio, os cristãos tiveram maior acesso às obras dos gregos, dominados pelos turcos, como também à cultura árabe, que nos legou os algarismos, ainda hoje denominados arábicos, e nos transmitiria o conhecimento de invenções chinesas a que tinham tido acesso, como a pólvora, o papel e a bússola. (ANDRADE, 1987, p. 31). UNIDADE 1 | A GEOGRAFIA COMO CIÊNCIA 12 Como você pode perceber, apesar do conflito existente, foi possível a consolidação e/ou recuperação entre povos que durante séculos estiveram sob domínio do Império Romano. Gostaríamos de destacar ainda a atuação dos povos nórdicos (noruegueses, dinamarqueses, suecos, finlandeses e islandeses), que se dedicavam principalmente à pesca e à navegação. Embora não tenham deixado grandes registros de suas contribuições, é muito provável que para realizarem suas viagens transoceânicas deveriam ter certo conhecimento sobre o regime dos ventos, da direção e intensidade das correntes marítimas, da oscilação das ondas do mar, das geleiras e das condições do clima. 3.2 A CONTRIBUIÇÃO DAS GRANDES VIAGENS MEDIEVAIS NO DESENVOLVIMENTO DA GEOGRAFIA Inúmeros viajantes partiram do Ocidente, sobretudo da Itália, à procura de terras no Extremo Oriente. Na verdade, eles sabiam da existência do grande Império mongol e se aventuraram sob a cobiça do comércio e também como enviados do papa no intuito de converter os soberanos do Oriente. Dentre os inúmeros viajantes merecem ser destacados o monge Piano de Carpini, que conseguiu manter contato com o soberano mongol em Samarcanda (posteriormente transferido para Pequim), bem como o comerciante veneziano Marco Polo (este nome não é estranho para você) que acompanhado de seu pai viajou até a China colocando-se à disposição do soberano mongol. Neste Império, Marco Polo desempenhou um cargo importante, era responsável pela administração de várias províncias e também executava missões de alta confiança. Retornando à Itália após vinte anos, escreveu um livro descrevendo suas viagens realizadas no Oriente. Apesar de suas contribuições descritivas, sua obra merece ser utilizada com certo cuidado, pois não havia uma preocupação com a veracidade das informações e por vezes suas histórias eram fantasiosas. De qualquer maneira não podemos desconsiderá-la. Continuando com as grandes viagens, os italianos não se limitaram a fazer suas explorações no Mediterrâneo, na Ásia Central e Oriental, ampliaram suas navegações pelo Atlântico. A quem diga que antes dos portugueses e espanhóis, alguns viajantes italianos, no século XIV, já conheciam as Ilhas Canárias, Porto Santo, Madeira e Açores. Podemos dizer que o período da Idade Média foi marcado pelas grandes e numerosas viagens realizadas principalmente pelos italianos, isso se confirma, pois nos séculos XV e XVIvários deles realizaram viagens a serviço dos reis da Espanha e Portugal. O que demonstra que tinham conhecimento sobre determinadas áreas exploradas anteriormente por eles. TÓPICO 1 | GÊNESE E EVOLUÇÃO DA CIÊNCIA GEOGRÁFICA 13 3.3 O CONHECIMENTO DO TERRITÓRIO E A EVOLUÇÃO DA GEOGRAFIA Na Idade Média, o pensamento geográfico foi influenciado pelos problemas culturais atrelados ao poder que caracterizava a Igreja Medieval. Os monges e os sacerdotes da Igreja procuravam desenvolver a fé, sobretudo quando ameaçada pela expansão muçulmana, bem como procuravam adaptar as ideias e concepções aos ensinamentos bíblicos. Assim, muitas das informações tidas como verdades foram questionadas pela igreja a exemplo da esfericidade da Terra e a distribuição das terras e das águas na superfície da Terra. A cartografia antiga sofreu reformulações principalmente com as navegações que permitiram a elaboração de mapas detalhando as rotas marítimas. As navegações oceânicas instigaram a preocupação com o fenômeno das marés e questionava-se também a existência do relevo submarino. As grandes viagens terrestres (desde o Mediterrâneo até o Extremo Oriente) possibilitaram descrições importantes a respeito dos rios, lagos, montanhas, povos (cultura, comércio), dentre outros. Os rios, por exemplo, já era objeto de estudo para os estudiosos, pois além de serem para os povos fonte de abastecimento de água para consumo e irrigação, também serviam como hidrovias já que os transportes terrestres eram muito precários. É provável que alguns desses rios você já tenha ouvido falar como o Nilo, Eufrates, Danúbio, Tigre, Reno, Volga, Ganges, Indus, Azul e Amarelo. Na verdade, esses rios exerceram e exercem ainda hoje uma grande importância socioeconômica. 4 A GEOGRAFIA NOS SÉCULOS XV, XVI E XVII No final da Idade Média, as atividades comerciais passaram a ter um desenvolvimento ascendente, assim como houve uma maior intensificação do intercâmbio entre os povos do Ocidente e Oriente, ocasionando a ampliação cultural e a difusão de instrumentos importantes nas transformações socioeconômicas que seriam realizadas posteriormente (nos séculos XV, XVI e XVII). Os séculos XV e XVI foram marcados pela intensificação das grandes navegações e com o descobrimento de caminhos marítimos, a exemplo do caminho marítimo às Índias, do descobrimento e “conquista” da América e o início da exploração no oceano Pacífico. Observe no mapa a seguir o percurso das viagens ultramarinas. Perceba que o Brasil era uma das rotas. UNIDADE 1 | A GEOGRAFIA COMO CIÊNCIA 14 FIGURA 5 – AS GRANDES VIAGENS ULTRAMARINAS FONTE: Disponível em: <http://www.curso-objetivo.br/vestibular/roteiro_estudos/imagens/ re_500anos_1.jpg>. Acesso em: 20 nov. 2010. É evidente que os exploradores tinham apoio dos soberanos de seus países (Portugal, Espanha, França, Holanda e Inglaterra) que visavam fortalecer o poderio nacional com riquezas oriundas de terras desconhecidas (além-mar) através de “saques” e do desenvolvimento do comércio. Para você ter uma ideia, foi na metade do século XVI que Fernão de Magalhães encontrou a passagem do oceano Atlântico para o Pacífico, o qual atribuiu seu nome no estreito (veja no mapa). Contudo, podemos dizer que o grande explorador do Pacífico foi o almirante James Cook. Ele navegou pelo oceano Pacífico em várias direções, acompanhado de cientistas que exploraram as águas e terras de clima tropical e glacial. Sem dúvida, as inúmeras expedições auxiliaram o desenvolvimento da ciência geográfica com as informações catalogadas dos oceanos, dos tipos de climas das diferentes áreas, da geologia dos lugares, da economia e cultura dos diferentes povos. TÓPICO 1 | GÊNESE E EVOLUÇÃO DA CIÊNCIA GEOGRÁFICA 15 4.1 O CONHECIMENTO GEOGRÁFICO NOS CHAMADOS TEMPOS MODERNOS Nos chamados Tempos Modernos (séculos, XV, XVI, XVII), as grandes revoluções para o conhecimento geográfico foram as expansões territoriais, a dominação da configuração da Terra, bem como a rejeição de inúmeras ideias sobre a superfície da mesma. É evidente que a expansão territorial repercutiu primeiramente na cartografia que gradativamente foi modificada e aprimorada. Ademais, nos novos mapas produzidos um novo continente foi abarcado, a América. Também foram aprimorados os conhecimentos a respeito do magnetismo da Terra, estabelecendo- se a diferença entre o polo geográfico e magnético. Ficou com dúvidas em relação a esta diferença? Pense um pouco e depois verifique no UNI. Continuando a nossa linha de raciocínio, a medida das longitudes também passou a ser feita com mais precisão a, as correntes marítimas, de grande influência sobre a navegação entre os continentes, foram mais bem estudadas, assim como a intensidade e a direção dos ventos, sobretudo dos alísios. Os navegadores, nos mares tropicais, necessitavam usar os alísios para impulsionar as suas embarcações e fugir da calmaria equatorial, onde poderiam permanecer meses, praticamente sem se movimentar, à falta da força propulsora do vento. (ANDRADE, 1987, p. 43). Todos esses estudos contribuíram para o surgimento de uma Geografia científica e o aparecimento de várias ciências. DICAS A Terra como você já sabe é um imenso ímã. Ela apresenta dois polos magnéticos: o Norte e o Sul. Esses polos estão próximos aos polos geográficos. Os polos geográficos são as extremidades do eixo da Terra. A extremidade localizada no Hemisfério Sul é o Polo Sul e a extremidade localizada no Hemisfério Norte é o Polo Norte. Saiba mais sobre o magnetismo da Terra acessando o site: <http://www.educacaopublica.rj.gov.br/biblioteca /fisica/0011.html>. UNIDADE 1 | A GEOGRAFIA COMO CIÊNCIA 16 4.2 OS PRECURSORES DO CONHECIMENTO GEOGRÁFICO NOS CHAMADOS TEMPOS MODERNOS Para muitos, a obra de Nicolau Copérnico foi considerada um grande impulso para a Revolução Científica. Copérnico, em sua obra, defende matematicamente um modelo de cosmo, em que o Sol seria o centro do Universo (Teoria Heliocêntrica) e a Terra, era um astro que girava em torno do Sol. A teoria Heliocêntrica sem dúvida rompeu com a Teoria Geocêntrica (a Terra era o centro do universo) de Cláudio Ptolomeu. Conforme Viviane e Müller (2009, p. 40) “tal mudança representou uma das rupturas mais marcantes daquele período, o que culminou com o início da modernidade, pois a nova teoria estabelecida era contrária a uma teoria que reinava há quase vinte séculos”. Observe na figura a seguir a representação das duas teorias FIGURA 6 – TEORIA GEOCÊNTRICA E TEORIA HELIOCÊNTRICA FONTE: Disponível em: <http://www.escolas.trendnet.com.br/sjosesbc/renascimento/obras. htm>. Acesso em: 20 nov. 2010. IMPORTANT E No período do Renascimento Cultural e Científico (séculos XVI e XVII), a Igreja Católica ainda controlava a produção cultural e científica, e defendia a teoria Geocêntrica. Galileu Galilei, por defender o Heliocentrismo, foi condenado à Inquisição. Para se livrar da morte, Galileu negou o Heliocentrismo diante do tribunal. Contudo, não deixou de fazer suas pesquisas. TÓPICO 1 | GÊNESE E EVOLUÇÃO DA CIÊNCIA GEOGRÁFICA 17 Quem foi Galileu Galilei? Nasceu na Itália no ano de 1564. Grande Físico, Matemático e Astrônomo, Galileu fez a descoberta da lei dos corpos e enunciou o princípio da Inércia. Foi um dos principais representantes do Renascimento Científico dos séculos XVI e XVII. Foi o primeiro a contestar as afirmações de Aristóteles, que, até aquele momento, havia sido o único a fazer descobertas sobre a física. Outros precursores do conhecimentocientífico que também merecem destaque, como Leibnitz que tentou explicar a deposição das rochas sedimentares; Montesquieu (famoso humanista francês) que estudou a influência dos climas na maneira de pensar e agir dos homens; Isaac Newton (famoso físico inglês) responsável pela formulação do princípio da lei da gravitação universal. No entanto, para a ciência geográfica, o holandês Bernardo Varenius (morreu com 28 anos), sem dúvida foi um dos precursores mais importantes na primeira metade do século XVII. Embora não tenha concluído sua sublime obra intitulada Geografia Geral, Varenius fez uma abordagem sintética da chamada Geografia Matemática, que estuda a Terra como astro e procura explicar as relações existentes entre este planeta e os outros, enveredando em seguida pelos temas da Geografia Física, que procurou explicar as formas de relevo, a rede fluvial e as condições climáticas se interinfluenciando, para chegar ao papel da sociedade, do homem na elaboração do espaço. (ANDRADE, 1987). Talvez a maior contribuição de Varenius tenha sido o fato de ele ter unido em uma só, a Geografia Geral, Geografia Matemática, Geografia Descritiva, Geografia Humanista e Geografia Literária. 5 A CONTRIBUIÇÃO DO CAPITALISMO NO DESENVOLVIMENTO DA CIÊNCIA GEOGRÁFICA Antes de iniciarmos a nossa conversa sobre o papel do capitalismo no que tange ao desenvolvimento da ciência geográfica, gostaríamos que você refletisse. Será que o capitalismo realmente contribuiu para o desenvolvimento da ciência? De que forma? Pense um pouco. Sim, sem dúvida o capitalismo contribuiu não só para o desenvolvimento da ciência geográfica, mas também para as demais ciências principalmente com sua expansão nos século XVIII e XIX proporcionando um acelerado desenvolvimento das mesmas. Para facilitar o seu entendimento, vamos voltar ao século XV. A partir deste, o capitalismo comercial marcado pela expansão das grandes navegações ocasionou o descobrimento de novas terras, culturas, bem como intensificou a comercialização entre os povos que viviam em condições naturais e organização social diversificadas. Neste período, a Europa detinha o núcleo de civilização mais dinâmica e também possuía um controle maior sobre UNIDADE 1 | A GEOGRAFIA COMO CIÊNCIA 18 a “tecnologia”. Gradativamente, expandiu sua influência econômica e política por grande parte da superfície da Terra, principalmente nas áreas litorâneas, cujo acesso às embarcações era mais fácil. O capitalismo comercial proporcionou o enriquecimento da burguesia e esta, por sua vez, passou a exercer uma influência maior junto ao governo e na administração e com isso estimulou as técnicas e pesquisa com o intuito de ampliar, por exemplo, as explorações dos recursos naturais. Cabe destacar, que a burguesia, ao forçar o controle dos meios de produção promoveu sua revolução política ocasionando a destruição da monarquia francesa. Conforme destaca Andrade (1987, p. 46): os ideais da Revolução Francesa foram levados a outros países da Europa, sobretudo durante o Império Nopoleônico, e, embora essas monarquias subsistissem, fizeram concessões e assimilaram diretrizes que permitiram e as vezes estimularam a sociedade burguesa, em formação. Na Inglaterra, por sua vez, desde a Revolução Gloriosa (1688), a burguesia vinha apossando-se de fatias do poder e enfraquecendo os poderes do rei frente aos interesses de classe. Daí a Revolução Industrial ter-se iniciado na Inglaterra, no século XVIII, se expandindo pela França na primeira metade do século XIX, e depois pela Europa central e ocidental, em meados do século XX. Neste contexto, é importante destacar que a política da burguesia engendrou uma verdadeira revolução cultural e técnica. Para você ter uma ideia, em meados do século XVIII, as ciências naturais (Biologia, Botânica, Zoologia, dentre outras) desenvolveram-se com repercussões na Geografia. Os filósofos passaram a questionar ideias e crenças desenvolvidas em séculos anteriores, formulando novas bases para a ciência. Assim, a ciência geográfica se beneficiou com as reflexões de Immanuel Kant (filósofo alemão, que tinha como centro de sua filosofia, o ser humano, como um ser dotado de razão e liberdade), por exemplo. A classe dominante europeia era cada vez mais deslumbrada com as novas áreas descobertas e buscavam explicações para tentar entender a diversidade dessas áreas no que concerne a paisagem, a cultura, hábitos, crenças e a própria relação entre o homem e a natureza. Desse modo, enquanto que os filósofos e cientistas políticos tentavam explicar as relações entre o meio e o homem (organização em sociedade, as formas de governo, de religiões, dentre outras), os comerciantes e os administradores articulavam os recursos disponíveis e possíveis de exploração, bem como constituíam a sua contabilidade para otimizar os lucros obtidos. Conforme Claval (1978), assim deu-se o desenvolvimento da estatística e a origem da Geografia Política e da Economia, inicialmente formadas por catálogos de estados e cidades, de um lado, e da distribuição da produção de outro. Assim, inicia-se o século XIX (chamado século das luzes) com ampla revolução econômica e cultural que culminaria com a consolidação do domínio da burguesia e do modo de produção capitalista em quase todo o globo terrestre. Uma superestrutura ideológica e cultural passou a se consolidar consagrando TÓPICO 1 | GÊNESE E EVOLUÇÃO DA CIÊNCIA GEOGRÁFICA 19 a racionalidade da ação do homem sobre a natureza, “o que permitiria a sua exploração com grandes vantagens, a dominação técnica, a valorização do pensamento científico, com a preocupação do estabelecimento de leis universais, a partir das formulações de Newton, e a crença generalizada no progresso, que seria linear e contínuo”. (MENDONZA, 1982 apud ANDRADE, 1987, p. 49). UNI Você muito provavelmente deve se perguntar se este caderno é voltado à Geografia ou à História. Pois bem, para entendermos a Geografia atual precisamos entender o contexto histórico de produção do espaço geográfico. 6 O SURGIMENTO DA GEOGRAFIA MODERNA E SEUS PRECURSORES No início do século XIX, as condições culturais, econômicas e políticas, engendraram as novas diretrizes intelectuais e científicas do século. Expandem- se as ciências da observação e da experimentação em virtude da preocupação com o controle da natureza. Assim, muitos cientistas passaram a formular suas próprias teorias com o acúmulo de suas observações (conhecimento empírico). É evidente que a expansão colonial (de países como a Inglaterra, França, Portugal, dentre outros) estimulou a formação de “sociedades” geográficas com o intuito de realizar expedições científicas à procura de recursos naturais para explorar, como as expedições realizadas no interior do continente africano, asiático e sul-americano. Você certamente já ouviu falar do inglês Charles Darwin, pois bem, este homem é considerado um dos mais famosos cientistas do século XIX que deu a volta ao mundo estudando os animais e plantas. Uma de suas célebres obras é o livro intitulado “A origem das espécies”. Neste livro, Darwin abarca a teoria da evolução das espécies conforme sua capacidade de adaptação ao meio natural. Sua teoria contrariava as concepções da Bíblia, bem como gerou forte influência aos estudos de numerosos cientistas, a exemplo de Haekel (uso da expressão ecologia) e Spencer (desenvolvimento do evolucionismo). Estas concepções influenciaram os fundadores da Geografia Moderna (Humboldt e Ritter).Outro aspecto importante que marcou o século XIX e que merece ser destacado foram as desigualdades sociais. Estas eram tão intensas que levaram alguns estudiosos a formular teorias que contrariavam os princípios do capitalismo. Num primeiro momento, as contestações ao capitalismo eram realizadas por idealistas utópicos que imaginavam uma sociedade mais justa, posteriormente, eram realizadas por pensadores materialistas que criticavam as estruturas sociais através de uma análise mais dialética. Neste contexto, não podemos deixar de UNIDADE 1 | A GEOGRAFIA COMO CIÊNCIA 20 falar de Karl Marx e Friedrich Engels que tentaram elucidar a dinâmica social de forma totalizadora. Na verdade, estes dois pensadores estavam engajados na ação política e não exerceram grande influência aos geógrafos da época (século XIX), pois a maioria deles estava comprometida com as “políticas” de poder de seus países. 6.1 A CONTRIBUIÇÃO DE ALEXANDRE VON HUMBOLDT Alexandre von Humboldt (1769-1859) é considerado um dos fundadores da Geografia Moderna. O nobre prussiano possuía formação naturalista e realizou inúmeras viagens pela Europa, na porção central e norte da Ásia e na América Latina. Procurou conhecer a natureza física no intuito de obter explicações sobre a evolução da sociedade sem se preocupar com as relações sociais. FIGURA 7 – ALEXANDRE VON HUMBOLDT FONTE: Disponível em: <http://en.academic.ru/pictures/ enwiki/65/AvHumboldt.jpg>. Acesso em: 10 set. 2010. Na cartografia (que estava em expansão), Humboldt concebeu um traçado de linhas ligando pontos que apresentassem as mesmas temperaturas médias (as isotermas), a princípio para definir o que chamou de zodíaco isotérmino, que segundo Claval (1978), deveria ter uma largura de 35º tendo como centro o paralelo de 40º Norte. É importante destacar que Humboldt, através de suas análises, comparava a distribuição do relevo, do clima e das associações vegetais, bem como a interação que ocorria entre estes elementos, no que tange causas e efeitos. Formulou o princípio da causalidade (a necessidade de explicar o porquê dos fatos). Pode-se dizer que é o princípio básico da Geografia moderna. TÓPICO 1 | GÊNESE E EVOLUÇÃO DA CIÊNCIA GEOGRÁFICA 21 Dentre suas obras merecem destaque os livros Quadros da Natureza e Cosmos. Na verdade, Humboldt reuniu, de forma sistemática, as tradições das narrativas de viagens e das cosmografias num só conjunto lógico. Em sua obra, encontram-se também alguns dos principais elementos que definem a ciência moderna, a explicação por meio das generalizações e um método de observação submetido a critérios bem definidos. (GOMES, 2007). Assim, a Geografia proposta por Humboldt envolve “[...] uma reflexão sobre o homem e uma reflexão sobre a natureza, sob um mesmo patamar de inteligibilidade. Por este programa, Humboldt legou à posteridade as bases de uma nova ciência, rica em tradições e, ao mesmo tempo, moderna e sistemática”. (GOMES, 2007, p. 162). Podemos dizer que para a Geografia, Humboldt exerceu um papel fundamental nos novos tempos, ao produzir um discurso e uma imagem coerente e científica do mundo moderno. Cabe ressaltar também a obra “Ensaios políticos sobre o reino de Nova Espanha”, utilizado mais tarde por Thomas Malthus para formular suas teorias demográficas. 6.2 A CONTRIBUIÇÃO DE KARL RITTER Assim como Humboldt, Karl Ritter (1779-1859) também é considerado fundador da Geografia Moderna. Ritter, filósofo e historiador, preocupou-se em estudar exaustivamente a Ásia Menor. Foi professor de alguns dos maiores geógrafos do final do século XIX: Ratzel, Reclus e La Blache. FIGURA 8 – KARL RITTER FONTE: Disponível em: <http://www.iamthewitness.com/ books/img/Karl.Ritter.jpg>. Acesso em: 10 set. 2010. UNIDADE 1 | A GEOGRAFIA COMO CIÊNCIA 22 Ao contrário de Humboldt, Ritter não foi um viajante e/ou explorador, mas sim um grande leitor e expositor. Buscou explicar a evolução da humanidade, ligando-a às relações entre o povo e o meio natural, fazendo sobretudo a descrição da sociedade. Segundo Moraes (1986), na visão de Ritter a Geografia era o estudo dos lugares, a busca pela individualidade destes e, sendo assim, deveria estudar os arranjos individuais, bem como compará-los. No que tange aos arranjos, “cada arranjo abarcaria um conjunto de elementos, representando uma totalidade, onde o homem seria o principal elemento”. (MORAES, 1986, p. 49). Para Ritter, a Geografia teria a incumbência de explicar a individualidade dos sistemas naturais, pois nesta se expressaria o desígnio da divindade ao criar aquele lugar específico. (MORAES, 1986). Ainda conforme Moraes (1986), o objetivo para Ritter, era chegar a uma harmonia entre a ação humana e os desígnios divinos, manifestos na variável natureza dos meios. Desse modo, a ordem natural obedeceria a um fim previsto por Deus, a causalidade da natureza obedeceria à designação divina do movimento dos fenômenos. A proposta de Ritter é considerada antropocêntrica, pois o homem é o sujeito da natureza. Também é considerada regional porque aponta para o estudo de individualidades, valorizando a relação homem-natureza. (MORAES, 1986). De modo geral, podemos dizer que tanto Humboldt quanto Ritter eram ligados às classes dominantes de seu país. Estes dois sábios alemães respondiam aos desafios da sociedade europeia em que viviam, tanto em função da dominação capitalista como para a própria formação da unidade da Alemanha. Assim, para os grupos dominantes e/ou nações dominantes, o conhecimento do mundo, bem como das relações entre a sociedade e a natureza eram de grande importância para a ampliação do domínio extraeuropeu. Daí a importância dos estudos realizados por Humboldt e Ritter naquela época. IMPORTANT E Segundo Pereira (1989, p. 91) [...] “é em solo alemão que a Geografia alcança sua forma de Ciência Moderna. [...] com Humboldt e Ritter nasce a Geografia Científica ou Geografia Acadêmica. Isto é, uma Geografia produzida agora a partir dos centros universitários e, mais tarde, ensinada nas escolas. Apesar de Humboldt ser naturalista e Ritter historiador, ambos possuíam uma visão de totalidade típica do avanço alemão (Kant, Hegel, dentre outros). TÓPICO 1 | GÊNESE E EVOLUÇÃO DA CIÊNCIA GEOGRÁFICA 23 6.3 A CONTRIBUIÇÃO DE FRIEDRICH RATZEL O alemão Friedrich Ratzel (1844-1904) representou um papel fundamental no processo de sistematização da Geografia Moderna, expressa principalmente através de suas duas obras mais importante, a Antropogeografia e a Geografia Política. FIGURA 9 – FRIEDRICH RATZEL FONTE: Disponível em: <http://people.wku.edu/charles.smith/ chronob/RATZEL.jpg>. Acesso em: 10 set. 2010. Na primeira obra, Ratzel fundamenta sua teoria determinista inspirada na teoria de Darwin e depois Spencer. Para Ratzel, “o homem, em todos os seus planos de existência, tanto mental como civilizatório, é o que determina seu meio natural”. (MOREIRA, 1987, p. 31). Essa teoria ficou conhecida como teoria do Determinismo Geográfico. Na visão de Ratzel, “como na luta das espécies pelo domínio do espaço que contém sua nutrição, os homens organizam-se em Estados para os quais o espaço é fonte de vida”. (MOREIRA, 1987, p. 32). Teoria esta que ficou conhecida como Teoria do Espaço Vital, ou seja, entende-se como espaço vital o equilíbrio entre os recursos naturais disponíveis e a população que tenta satisfazer suas necessidades locais. Neste contexto, observe como Moreira (1987, p. 33) descreve o raciocínio linear de Ratzel: Os homens agrupam-se em Sociedade, a Sociedade é o Estado, o Estado é um organismo. A sociedade e o Estado são o fruto orgânico do determinismo do meio. O Estado éa expressão orgânica do “determinismo geográfico”. O Estado é um organismo em parte humano e em parte terrestre. É a forma concreta que adquire em cada UNIDADE 1 | A GEOGRAFIA COMO CIÊNCIA 24 canto a relação homem-meio. O Estado é assim porque possui uma relação necessária com a natureza. Os Estados necessitam de espaço, como as espécies, por isto lutam pelo seu domínio. A subsistência, energia, vitalidade e o crescimento dos Estados têm por motor a busca e a conquista de novos espaços. Troquemos “Estados” por “Imperialismo” e entenderemos Ratzel. Do pensamento de Ratzel nasceu a Geografia Política, com a sua importante obra intitulada Geografia Política (1897). Nesta, Ratzel pensa o Estado como um organismo articulador entre o povo e o solo. Para ele, o solo condiciona as formas elementares e complexas da vida, bem como favorece e/ou emperra o desenvolvimento dos Estados. Conforme coloca Costa (1992, p. 33): não se trata, porém de um determinismo estreito, meramente causal. O que está em jogo é a ideia de que o solo e seus condicionantes físicos são apenas um dado geral, uma base concreta, um potencial enfim, cuja eficácia para o desenvolvimento estatal de uma nação ou de um povo dependerá antes de tudo da sua capacidade em transformar essa potencialidade em algo efetivo. Para Ratzel, a efetivação das potencialidades só seria concretizada com a existência de um Estado forte, centralizador e capaz de criar políticas territoriais, econômicas, culturais, dentre outras, visando à unidade nacional. De acordo com Costa (1992), outro aspecto importante do pensamento ratzeliano é o papel desempenhado pelo comércio internacional, que teria a função de transformar a terra inteira num vasto organismo econômico. Ratzel defendia a ideia de que o desenvolvimento dos povos, sobretudo, o alemão, deveria passar obrigatoriamente pelo “alargamento” do horizonte geográfico. 6.4 A CONTRIBUIÇÃO DE ÉLISÉE RECLUS E DE PIETR KROPOTKIN Diferentemente dos geógrafos estudados anteriormente, que estavam à mercê da classe dominante, bem como ocuparam cátedras universitárias, os geógrafos (final do século XIX e início do século XX) Élisée Reclus (origem francês) e Pietr Kropotkin (origem russa) se colocaram contra a estrutura de poder, negando a validade do Estado, adotaram concepções de reformas sociais radicais e defenderam as classes menos favorecidas. Segundo Andrade (1987, p. 57), para Reclus os geógrafos deveriam fazer uma análise a partir das seguintes concepções: “que a sociedade está dividida em classes sociais; a diferença de classes provoca a luta entre as classes dominadas; a melhoria das estruturas sociais a partir do aperfeiçoamento progressivo do homem”. O cientificismo de Reclus estava pautado na ciência como solução dos problemas, ou seja, a ciência desenvolvida era capaz de solucionar os problemas e aperfeiçoar socialmente os homens. Dentre suas obras merecem destaque: A TÓPICO 1 | GÊNESE E EVOLUÇÃO DA CIÊNCIA GEOGRÁFICA 25 terra (dois volumes) publicada em 1869; A Nova Geografia Universal (dezenove volumes) publicada de 1875 a 1892 e O homem e a terra (seis volumes) publicada de 1905 a 1908. Kropotkin tinha uma verdadeira paixão pela natureza. Para ele, a Geografia era uma ciência da natureza. Acreditava no poder da ciência e admitia que tanto nas ciências naturais como nas ciências sociais existiam leis gerais que regiam os fenômenos. Conforme coloca Andrade (1987, p. 59), Kropotkin “manteve-se fiel ao positivismo e admitia que a dialética, defendida por Marx e Engels, não podia dar contribuição positiva ao desenvolvimento das ciências. Preocupava-se muito com a educação e com o papel a ser desempenhado pela Geografia no processo educativo”. Na visão de Kropotkin o ensino da Geografia deveria encaminhar os estudantes para maior compreensão dos povos, sem fronteiras territoriais, onde as diferentes culturas pudessem viver em harmonia. Na verdade, ele propunha o desaparecimento do Estado e a preparação de uma juventude para viver em uma sociedade livre. Podemos dizer que estes dois geógrafos lutavam por uma Geografia Libertária, que não estivesse à mercê da conquista do poder. UNI Como você pôde perceber no decorrer do estudo realizado neste tópico, a Geografia até se tornar uma ciência percorreu um longo caminho. Neste longo caminho, muitas foram as concepções e/ou interpretações para tentar entender o nosso planeta, bem como a própria Geografia. Procure agora resolver as autoatividades e, se for necessário, retome a leitura deste tópico. 26 Neste tópico você estudou que: • A Geografia é considerada uma das ciências mais antigas. Isso porque, a confecção dos mapas, conforme registros históricos ocorreu antes da própria escrita. • Os povos primitivos, apesar de não serem detentores da escrita, já possuíam “ideias” geográficas em suas concepções de vida e cultura. Suas experiências diárias, ou saberes práticos, e as noções e relações com a natureza permitiram mesmo que empiricamente a ampliação e desenvolvimento do conhecimento geográfico. • As ideias geográficas dos povos orientais, através de seus conhecimentos práticos de exploração da Terra, bem como de suas observações e estudos matemáticos, foram responsáveis pela sistematização do conhecimento do mundo. • Os filósofos e matemáticos gregos contribuíram para o desenvolvimento do conhecimento geográfico com suas ideias sobre a forma e as dimensões da Terra, bem como a distribuição das águas, terras e dos seres humanos, sem falar da teoria geocêntrica de Ptolomeu (século II d.C.), ao afirmar que a Terra era o centro do Universo. • Os romanos deram maior importância à geografia descritiva. Eles procuraram desenvolver ao máximo a organização do seu império, assim como o comércio sobre as dezenas de suas províncias. • Na Idade Média, o conhecimento geográfico passou por algumas reformulações isso porque muitos ensinamentos de sábios gregos, que haviam sido refutados durante o império romano, foram retomados. Este período foi marcado pelas grandes e numerosas viagens realizadas principalmente pelos italianos. Isso se confirma, pois nos séculos XV e XVI vários deles realizaram viagens a serviço dos reis da Espanha e Portugal. • Nos chamados Tempos Modernos (séculos, XV, XVI, XVII), as grandes revoluções para o conhecimento geográfico foram as expansões territoriais, a dominação da configuração da Terra, bem como a rejeição de inúmeras ideias sobre a sua superfície. Para muitos, a obra de Nicolau Copérnico foi considerada um grande impulso para a Revolução Científica com sua teoria heliocêntrica. RESUMO DO TÓPICO 1 27 • O capitalismo contribuiu não só para o desenvolvimento da ciência geográfica, mas também para as demais ciências, principalmente, com sua expansão nos século XVIII e XIX, proporcionando um acelerado desenvolvimento delas. • No início do século XIX, as condições culturais, econômicas e políticas, engendraram as novas diretrizes intelectuais e científicas do século. Expandem- se as ciências da observação e da experimentação em virtude da preocupação com o controle da natureza. Assim, muitos cientistas passaram a formular suas próprias teorias com o acúmulo de suas observações. • Alexandre Von Humboldt e Karl Ritter são considerados os fundadores da Geografia Moderna. Enquanto Humboldt procurou conhecer a natureza física, no intuito de obter explicações sobre a evolução da sociedade sem se preocupar com as relações sociais, Ritter buscou explicar a evolução da humanidade,ligando-a às relações entre o povo e o meio natural, fazendo, sobretudo, a descrição da sociedade. • O alemão Friedrich Ratzel representou um papel fundamental no processo de sistematização da Geografia Moderna, expressa principalmente através de suas duas obras mais importante, a Antropogeografia e a Geografia Política. • Élisée Reclus e Pietr Kropotkin se colocaram contra a estrutura de poder, negando a validade do Estado, adotaram concepções de reformas sociais radicais e defenderam as classes menos favorecidas. 28 Diante do estudo realizado neste tópico, como autoatividade, sugerimos que você faça uma síntese da sua compreensão em relação ao conhecimento geográfico: a) Da ANTIGUIDADE _____________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ b) Da IDADE MÉDIA _____________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ c) Dos chamados TEMPOS MODERNOS _____________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ AUTOATIVIDADE 29 TÓPICO 2 AS CORRENTES DO PENSAMENTO GEOGRÁFICO E O ENSINO DA GEOGRAFIA UNIDADE 1 1 INTRODUÇÃO O pensamento geográfico passou por profundas transformações ao longo dos últimos séculos, principalmente com as concepções e obras de ilustres geógrafos. Vimos no tópico anterior as várias contribuições de diferentes povos no que tange ao desenvolvimento da ciência geográfica. Contudo, a Geografia enquanto ciência, deve a sua existência a um grande estímulo social ligada ao contexto histórico da Alemanha. Neste tópico, propomos a você, caro acadêmico, a entender a institucionalização da Geografia e o papel das diferentes escolas geográficas no desenvolvimento desta ciência. Começaremos o nosso estudo com algumas considerações sobre o papel da Geografia Clássica ou Tradicional marcada pela Escola Geográfica Alemã, Francesa, Britânica, Norte-americana e Soviética. Neste estudo, você perceberá a relação destas escolas geográficas com a classe dominante, bem como a disputa de poder e a conquista por território. Posteriormente, veremos a busca de novos paradigmas para a ciência geográfica com o desenvolvimento da Geografia Teorética ou Quantitativa marcada pelo uso em larga escala de modelos matemático-estatísticos. E, finalizaremos o estudo deste tópico com o surgimento da Geografia Radical ou Crítica em resposta aos graves problemas enfrentados pela sociedade e atuação da Geografia Clássica e a Geografia Teorética ou Quantitativa. Concentre-se e bons estudos! 2 A GEOGRAFIA CLÁSSICA OU TRADICIONAL A Geografia Clássica exerceu um importante papel, pois atendeu aos desafios da classe dominante pela exploração dos recursos naturais e do povo. Segundo Andrade (1987, p. 66), “conforme a situação econômica e social de cada país e os desafios que os governos, comprometidos com as classes dominantes, encontravam para fazer o seu próprio “desenvolvimento”, fossem diversos, ela se fragmentou em escolas nacionais ou até regionais”. Assim, emergem as escolas geográficas, dentre elas podemos destacar a escola alemã, francesa, britânica, soviética e norte-americana. Estas escolas visavam a estudos que atendessem aos interesses de seus países buscando soluções e orientações que justificassem as ações dos mesmos. Vejamos algumas características de cada uma delas. UNIDADE 1 | A GEOGRAFIA COMO CIÊNCIA 30 2.1 A ESCOLA GEOGRÁFICA ALEMÃ Podemos dizer que foi na Alemanha que a Geografia se institucionalizou. Foi na Alemanha também que viveram três grandes geógrafos, Humboldt, Ritter (inclusive considerados pais da Geografia Moderna – vimos no tópico anterior) e Ratzel. Da escola clássica alemã, merece destaque também Alfred Hettner que direcionou o conhecimento geográfico à ecologia, preocupando- se com a paisagem natural e também com a ação do homem no que tange ao uso e degradação. Essa tendência ecológica exerceu e ainda exerce uma grande importância no pensamento alemão. A Geografia enquanto ciência moderna teve sua gênese devido [...] “a existência de um estímulo social mais direto presente na particularidade histórica da Alemanha e de certas características individuais relativas ao pensamento de alguns cientistas alemães”. (PEREIRA, 1993, p. 90). Na verdade, o desenvolvimento do capitalismo na Alemanha nos permite entender as razões que levaram este país a valorizar a ciência geográfica. Assim, é na Alemanha que a Geografia obtém o status de ciência moderna. Conforme coloca Pereira (1993), o salto qualitativo se dá entre os alemães no momento em que as questões relativas ao desenvolvimento do capitalismo encontram-se resolvidas na Inglaterra e em curso bastante adiantado na França, enquanto a Alemanha permanece ainda às voltas com o seu processo de unificação. Para Moreira (1981, p. 22), “se para o capitalismo inglês e francês o papel da geografia é o de lhes viabilizar a expansão colonial, para o capitalismo alemão seu papel será o de dar respostas as questões ainda preliminares: a unidade alemã”. A questão da unificação da Alemanha se coloca então como parte de um projeto político econômico visando à hegemonia no país, como uma condição para o avanço do capitalismo [...] que vê no nacional a possibilidade de realizar o universal”. (PEREIRA, 1993, p. 106). Neste contexto, emerge a Geografia para responder duas necessidades básicas da Alemanha: a unificação do território e a conquista de um lugar privilegiado do país com as demais nações. A Geografia se configura como algo novo que vai tomando corpo na sociedade alemã, calcada nos latifúndios, na indústria, extremamente vinculada à aristocracia rural alemã, bem como às características gerais da cultura alemã. (PEREIRA, 1993). Podemos dizer que a Geografia Moderna emerge já comprometida com a aristocracia alemã. Afinal de contas os fundadores (Humboldt e Ritter) estavam direta e indiretamente ligados a esta aristocracia. É importante destacar que “a obra de Humboldt e Hitter, embora num certo sentido complementar, representa duas direções bem distintas da ciência geográfica no início do século XIX”. (PEREIRA, 1993, p. 116). Ambos manifestam uma afinidade de pretensões científicas que traduzem sua vinculação ao modelo cognitivo da época em que viviam. TÓPICO 2 | AS CORRENTES DO PENSAMENTO GEOGRÁFICO E O ENSINO DA GEOGRAFIA 31 Como já dissemos anteriormente, é com Humboldt e Hitter que surgiu a Geografia científica ou a Geografia acadêmica, ou seja, uma Geografia estudada a partir dos centros universitários e, posteriormente, ensinadas nas escolas. Assim, caro(a) acadêmico(a),a Geografia que atualmente é ensinada nos diferentes níveis de escolaridade foi sistematizada a partir das formulações de Humboldt e Hitter e acrescida da contribuição de Ratzel e também da escola geográfica francesa, principalmente com as contribuições de Vidal de La Blache (próxima seção). DICAS Caso você queira aprofundar seus estudos sobre esta corrente geográfica e/ou a Alemanha como berço da Geografia Moderna, sugerimos a leitura da obra intitulada “Da Geografia que se ensina à gênese da Geografia Moderna”, de Raquel Maria Fontes do Amaral Pereira. 2.2 A ESCOLA GEOGRÁFICA FRANCESA A escola geográfica francesa emergiu na primeira metade do século XX, tendo como idealizador o francês Paul Vidal de La Blache. Este foi o primeiro francês a ocupar uma cátedra universitária de Geografia. Na verdade, a Geografia passa a ter uma grande importância para os franceses quando a França foi derrotada pela Alemanha em 1871. Para muitos a vitória alemã foi resultado dos estudos da escola geográfica alemã. Segundo Mamigonian (2003, p. 12), a crise econômica após a derrota “despertou sentimentos nacionais, inclusive entre os intelectuais, e uma autocrítica cultural e ideológica, que desembocou na valorização dos estudos geográficos até então incipientes na França”. Desse modo, a França tentou se reerguer da derrota reorganizando o ensino. Assim, passou a dar maior importância às disciplinas de Geografia e História no nível secundário. Posteriormente, foi criada a cadeira (disciplina) de Geografia na Universidade de Nancy e o responsável por ministrá-la foi o historiador Vidal de La Blache. La Blache, passou a estudar as relações entre o homem e o meio físico, admitindo que o meio exercia algum tipo de influência sobre o homem, e que este, dependendo das condições técnicas e financeiras disponíveis, poderia influenciar o meio. Assim surgiu o possibilismo, apontado como a principal característica da escola francesa. UNIDADE 1 | A GEOGRAFIA COMO CIÊNCIA 32 As concepções de La Blache não somente manteve certa uniformidade entre os pensadores franceses, como também deu origem a um elo comum que denominou de geografia francesa por várias décadas e se expandiu pelo exterior, sobretudo, pela Grã-Bretanha e pelo Brasil. (ANDRADE, 1987). Embora La Blache tenha exercido um papel fundamental na escola geográfica francesa, não podemos deixar de citar outros personagens que também contribuíram no desenvolvimento desta escola, tais como: Lucien Febvre, L. Galois, Emanuel de Martonne, Pierre Deffontaines, Camille Valloux, Max Sorre, Roger Dion e André Chollay. De modo geral, a escola geográfica francesa caracterizou-se pela acentuada preocupação regionalista, pela orientação ideográfica, pela posição política conservadora, encoberta pela neutralidade científica e por dar grande importância à descrição. (ANDRADE, 1987). Com a Segunda Guerra Mundial, esta escola teve que se adaptar às novas condições criadas e os geógrafos passaram a ter uma grande importância na reconstrução e planejamento do país. Assim, a formação cultural precisou dar mais importância ao papel da indústria e das cidades na produção e reorganização do espaço geográfico. FIGURA 10 – IMAGEM DE VIDAL DE LA BLACHE FONTE: Disponível em: <http://oguiageografico.files.wordpress. com/2008/09/vidal-de-la-blache.jpg>. Acesso em: 22 nov. 2010. TÓPICO 2 | AS CORRENTES DO PENSAMENTO GEOGRÁFICO E O ENSINO DA GEOGRAFIA 33 2.3 A ESCOLA GEOGRÁFICA BRITÂNICA A Escola geográfica britânica, fortemente ligada à Universidade de Cambridge e Oxford, sofreu grande influência da escola francesa no que tange aos estudos regionais. Segundo observa Sodré (1977), os estudos realizados pela escola britânica estavam fortemente comprometidos com uma Geografia ideológica, bem como com uma imensa preocupação militar. “Foi necessário, para o geógrafo inglês, analisar a importância das comunicações e das relações entre o dominante e os dominados, assim como entre os diversos povos dominados, para melhor exercer sua prepotência”. (ANDRADE, 1987, p. 75). Assim, a Geopolítica passa a ter um importante papel neste contexto, com as concepções do geógrafo e parlamentar Helford J. Mackinder que admitiu a existência de “[...] áreas coração ou país pivô, que se encontram em um ponto central que os beneficia como centro potencialmente forte para dirigir agressões e dominar os países vizinhos e também aqueles que se apresentam, em face da sua extensão [...]”. (ANDRADE, 1987, p. 75). Mackinder considerou a Eurásia (Europa, Ásia e África do Norte), como área central ou uma grande área coração, tendo esta vocação para dominar o resto do mundo. Embora os ingleses dessem maior preocupação ao uso da Geografia para o domínio externo (além de suas fronteiras), também a utilizaram para organizar suas estruturas produtivas, bem como para controlar o crescimento demográfico e o forte crescimento urbano. 2.4 A ESCOLA GEOGRÁFICA NORTE-AMERICANA Enquanto que a escola geográfica britânica sofreu grande influência da escola francesa, a escola geográfica norte-americana (desenvolveu-se a partir da segunda metade do século XIX) foi estimulada através da presença de dois geógrafos suíços que se estabeleceram nos Estados Unidos: Arnold Guyote e Louis Agassiz. Passaram a desenvolver estudos pautados na Geografia regional e na geomorfologia respeitando os modelos germânicos (escola alemã). A contribuição dos geógrafos mencionados proporcionou um maior desenvolvimento da Geografia norte-americana no que concerne a seus aspectos físicos, com os estudos realizados por J. W. Powell e William Morris Davis. Este último foi o grande teorizador da geomorfologia. Desenvolveu teorias importantíssimas como a do ciclo geográfico que constitui o primeiro conjunto de concepções que poderia descrever e explicar, de modo coerente, a gênese e a sequência evolutiva das formas de relevo existentes na superfície terrestre. (MARQUES, 2009). UNIDADE 1 | A GEOGRAFIA COMO CIÊNCIA 34 Quanto ao estudo da Geografia Humana, estudiosos admitem a existência de duas escolas norte-americanas, a de Chicago e a de Berkeley. Na de Chicago, geógrafos como Elen Semple e E. Huntington se inspiraram nas teorias deterministas de Ratzel. Na escola geográfica de Berkeley, atuou como principal geógrafo Carl Sauer, também influenciado pelas concepções de geógrafos alemães como as de Hettner. Podemos dizer que ainda hoje estas duas escolas geográficas constituem dois importantes centros de estudos geográficos nos Estados Unidos. Não podemos deixar de falar também sobre Richard Hartshorne, que foi um dos grandes teóricos da Geografia da escola clássica norte-americana. Hartshorne (influenciado pelas concepções de Hettner) desenvolveu reflexões sobre a epistemologia, bem como sobre a natureza da Geografia como ciência em suas obras “A natureza da geografia” (publicado em 1939) e “Propósitos e natureza da geografia” (publicada em 1966). (ANDRADE, 1987). Para muitos, Hartshorne é considerado um dos maiores teóricos da escola clássica dos Estados Unidos. 2.5 A ESCOLA GEOGRÁFICA SOVIÉTICA A escola geográfica soviética também sofreu influência da escola alemã. Isso pode ser explicado pela proximidade geográfica dos dois países. Na verdade, os soviéticos concentraram seus estudos na análise do clima e do solo, devido às condições rigorosas do clima (de frio a frio polar ou subpolar) e as dificuldades no desenvolvimento da agricultura. A Revolução Bolchevista e a aplicação do planejamento na economia fizeram com que os geógrafosfossem convocados a prestar serviços na reconstrução de novas cidades, vias de comunicação e de organização do espaço agrícola e industrial, no intuito de corrigir os desníveis de desenvolvimento regional. (ANDRADE, 1987). Outro ponto importante destacado por Andrade (1987) foi o fato dos soviéticos terem sido os pioneiros na planificação da economia e também na compreensão de que a Geografia não era apenas cultural, acadêmica e política, mas também poderia ser aplicada no planejamento do território. Esta compreensão possibilitou vastas perspectivas de inovação para os estudos dos geógrafos. IMPORTANT E Conhecer mesmo que simplificadamente algumas das principais escolas geográficas, como as que você acabou de estudar é importante para entendermos a própria evolução do ensino da Geografia, inclusive aqui no Brasil. Desejo lembrar que a antiga República Socialista Soviética foi desintegrada em 1991. TÓPICO 2 | AS CORRENTES DO PENSAMENTO GEOGRÁFICO E O ENSINO DA GEOGRAFIA 35 3 A CIÊNCIA GEOGRÁFICA E A BUSCA DE NOVOS PARADIGMAS O impacto da Segunda Guerra Mundial na ciência geográfica ocasionou na reflexão dos geógrafos a respeito da natureza da Geografia. Muitos passaram a criticar os princípios científicos e filosóficos buscando novos caminhos, ou seja, passaram a desenvolver outras correntes teórico-metodológicas para a Geografia. Segundo Amorim Filho (1985), dentre os vários impactos à renovação do conhecimento geográfico, merece destaque, a formulação da teoria geral dos sistemas, a formulação do estruturalismo, as bases teóricas da cibernética, a teoria dos conjuntos, a teoria dos jogos e as bases teóricas da comunicação. As concepções da Geografia Tradicional indutiva (do particular para o geral) gradativamente eram substituídas pelas formulações gerais, dedutivas (do geral para o particular). Vejamos, agora, duas das correntes teórico-metodológicas neste contexto de novos paradigmas para a Geografia. 3.1 A NOVA GEOGRAFIA – TEORÉTICA – QUANTITATIVA A Geografia Teorética-quantitativa destacou-se por fazer uso em larga escala de modelos matemático-estatísticos. Podemos dizer que esta corrente rompeu com a Geografia Clássica e apresentou a Nova Geografia, trazendo grandes formulações nomotéticas que facilitavam o uso da estatística. Esta corrente, considerada revolucionária por não considerar as origens da Geografia, conforme afirma Andrade (1987), desenvolveu-se primeiramente na Suécia, Estados Unidos e na Grã-Bretanha, tendo fortes repercussões na União Soviética e na Polônia. Contudo, sofreu forte resistência na Alemanha e na França. No Brasil, a Geografia Teorética-quantitativa emergiu no final da década de 1960 e inicio da década de 1970, quando o Governo Militar já estava consolidado e “procurava integrar a economia brasileira, como dependente à economia mundial e projetava, de forma linear, um crescimento da economia brasileira que a levaria a colocar o país entre as grandes potências”. (ANDRADE, 1987, p. 109). Para isso, o Governo acionou o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) que tinha à disposição valiosas informações estatísticas, bem como geógrafos que apoiavam o uso dos novos métodos. O Governo passou a enviar geógrafos para fazer pós- graduação nos Estados Unidos, bem como trouxeram profissionais desse mesmo país e também da Grã-Bretanha para ministrar cursos e seminários no nosso país. Os novos métodos passaram a ser publicados em livros, na Revista Brasileira de Geografia e até a Associação dos Geógrafos Brasileiros (AGB) era utilizada como tribuna para divulgação o que ocasionava uma verdadeira guerra contra os geógrafos que não aderiram à “revolução quantitativa”. (ANDRADE, 1987). UNIDADE 1 | A GEOGRAFIA COMO CIÊNCIA 36 No entanto, “passada a fase áurea de crescimento capitalista, pós-guerra da Coreia, sobreviveu a crise com uma série de problemas ligados à recessão econômica e à desestabilização dos regimes autoritários do Terceiro Mundo”. (ANDRADE, 1987, p. 110). Assim, ainda de acordo com Andrade (1987), os geógrafos quantitativistas perceberam a fragilidade de seus métodos e se dividiram em dois grandes grupos: um liderado por Harvey, que aderiu ao marxismo e o outro comandado por Brien Barry que procurou atenuar a agressividade dos quantitativistas, promovendo reflexões sobre a Geografia, teorética-quantitativa. Você deve se perguntar e no Brasil? No Brasil, a reação ocorreu tanto por parte dos geógrafos clássicos como também dos geógrafos que desde a década de 1940 já questionavam os métodos usados na Geografia. Em 1977, o Boletim Paulista de Geografia publicou vários artigos apresentando novos caminhos para o pensamento geográfico brasileiro e criticando fortemente a experiência da Geografia Teorética-quantitativa. 3.2 A GEOGRAFIA RADICAL OU CRÍTICA A Geografia Radical ou Crítica pode ser caracterizada pela conscientização e/ou preocupação por parte de alguns geógrafos com a existência de problemas muitos graves na sociedade em que viviam. Segundo Andrade (1987), alguns geógrafos compreenderam que toda a Geografia, tanto Tradicional como a Quantitativa, embora neutras, tem um sério compromisso com o status quo, com a sociedade de classe. De acordo com o mesmo autor, a neutralidade científica anunciada por estas correntes era uma forma de esconder os compromissos políticos e sociais. Para os geógrafos radicais, as poucas críticas que os geógrafos clássicos e da Geografia quantitativista faziam no que tange às injustiças, a sociedade em que viviam tinham o intuito de corrigir detalhes sem ir ao centro do problema. Assim, os geógrafos radicais passaram a analisar as injustiças sociais e os bloqueios do desenvolvimento social na sua raiz, ou seja, passaram a analisar as verdadeiras causas dos problemas sociais sem se preocupar com a neutralidade da ciência geográfica. Por isso, são chamados de geógrafos radicais e/ou ainda a chamada Geografia Radical ou Crítica. É importante destacar que nesta corrente ocorreram algumas subdivisões do pensamento geográfico, ou seja, tivemos geógrafos não marxistas (mas comprometidos com as reformas sociais), geógrafos anarquistas (que criticavam a sociedade burguesa) e os geógrafos de formação marxistas (tinham suas concepções pautadas nas formulações de Karl Marx). TÓPICO 2 | AS CORRENTES DO PENSAMENTO GEOGRÁFICO E O ENSINO DA GEOGRAFIA 37 UNI Para que você consiga entender melhor o marxismo geográfico é importante relembrar algumas concepções básicas sobre Karl Marx. Mas primeiro, vou lhe perguntar, você sabe quem foi Karl Marx? Se você nunca ouviu falar aconselho fazer uma pesquisa na internet sobre este ilustre pensador. No site indicado você conhecerá os traços biográficos de Marx, bem como sua filosofia. Acesse: <http://www.culturabrasil.pro.br/marx.htm>. Destacaremos alguns aspectos do marxismo geográfico porque teve uma maior influência na Geografia. Para você ter uma ideia, nos Estados Unidos, o marxismo geográfico resultou na reflexão de alguns geógrafos quantitativistas que compreenderam o “esvaziamento” de suas técnicas e o comprometimento que tinham com a sociedade capitalista em expansão. (ANDRADE, 1987). Pois estes geógrafos indicavam os locais ideais para a localização das indústrias, bem como as formas de organização do espaço urbano e agrário, sem a mínima preocupação com as consequências com o meio ambiente e a sociedade em geral. Na verdade, para a Geografia Crítica, as concepções de Marx foram de grande valia, principalmente com suas formulações sobre os modos de produção e as formações socioeconômicas,bem como sua análise das relações do campo e das cidades e a vinculação da luta de classes. Ao analisarmos o avanço da Geografia Crítica nos Estados Unidos, pode-se dizer que emergiu do desejo de alguns geógrafos conhecerem mais a realidade das injustiças sociais no país. Desse modo, surgiram no país três movimentos paralelos e ao mesmo tempo convergentes: o das expedições geográficas, comandado por William Bunge na cidade de Detroit, onde passou a fazer investigações em um bairro negro (Fitzgerald), próximo a sua residência, constatando a precariedade em que viviam os habitantes deste bairro; o da criação da revista Antipode, criada a partir de 1969, com o intuito de publicar os trabalhos das expedições geográficas de Bunge, onde passou a fazer fortes críticas à Geografia Tradicional e Quantitativa; e o da formação em 1974 da União dos Geógrafos Socialistas, uma espécie de associação sem caráter político-militante nem profissional, apenas objetivava abarcar os interessados por desenvolver uma Geografia revolucionária, bem como promover trabalhos que pudessem ocasionar uma mudança radical na sociedade. (ANDRADE, 1987). NA Europa, a Geografia Crítica têm suas raízes em trabalhos realizados no século XIX por escritores como Karl Marx, Friedrich Engels, V. Lênin, Élisée Reclus e Kropotkin. O marxismo geográfico esteve fortemente presente na Europa. Na França, a corrente mais marcante foi liderada por Yves Lacoste, responsável pela criação da revista Herodote (em 1976) que passou a publicar temas relacionados com a crise na Geografia e as novas tendências. Contudo, Lacoste não se limitou em apenas comandar a revista, passou a escrever obras UNIDADE 1 | A GEOGRAFIA COMO CIÊNCIA 38 que analisavam a Geografia “para fazer a guerra”. Uma de suas memoráveis obras é o livro “A Geografia serve antes de mais nada para fazer a guerra”. No Brasil, a Geografia Crítica tem sua repercussão no final da década de 1970 com publicações criticando fortemente a experiência da Geografia Teorética- quantitativa, bem como apresentando novos caminhos para o pensamento geográfico brasileiro. Conforme Andrade (1987, p. 129): A crise do regime autoritário levou os geógrafos a procurarem novos caminhos, a tomarem conhecimento do surgimento de Antipode e de Herodote. A volta de Milton Santos de longo exílio e a sua participação no Conselho Editorial destas duas revistas trouxe novo impulso à crítica na e sobre a Geografia, sobretudo com a publicação de seu livro Por uma Geografia Nova, em 1978. Muitos geógrafos quantitativistas, surpreendidos com as novas posições de Bunge e de Harvey e sempre ligados à Geografia americana, passaram a tentar superar e até a criticar acerbamente os princípios que antes defendiam, partindo para posições críticas, enquanto outros que não tinham participado da grande querela da “revolução quantitativista” e que tinham compromissos com um pensamento dialético passaram a desenvolver o pensamento em direção a novas linhas, em publicações prestigiadas como o Boletim Paulista de Geografia [...]. Antes de finalizarmos esta discussão é importante destacar a inter-relação entre o pensamento da Geografia Crítica com a sociologia e a economia. Esta inter- relação pode ser justificada, pois muitos leitores da Geografia Crítica no Brasil eram sociólogos e economistas. De muitos deles, você certamente já ouviu falar, a exemplo dos sociólogos Florestan Fernandes, Fernando Henrique Cardoso, Octávio Ianni, José Souza Martins e os economistas Celso Furtado e Luiz Carlos Bresser Pereira. (ANDRADE, 1987). Cabe destacar também que com a Geografia Crítica, emergiu tanto no exterior como no Brasil o desenvolvimento da chamada Geografia Política. UNI Caro(a) acadêmico(a)! Ao finalizarmos o estudo deste tópico, talvez, você esteja se perguntando, por que eu enquanto futuro pedagogo preciso saber sobre as correntes do pensamento geográfico, bem como os novos paradigmas para a Geografia? A resposta parece ser simples, as escolas geográficas foram responsáveis pelo desenvolvimento e ampliação do ensino da Geografia, em especial no Brasil, tivemos forte influência da escola geográfica alemã e também da francesa. A busca por novos paradigmas também gerou fortes implicações no ensino da Geografia, levando a reflexão do conteúdo ensinado e do próprio método utilizado para ensinar a Geografia. Podemos dizer que estas implicações foram positivas para o ensino desta ciência, pois ela passou a formar cidadãos mais críticos e participativos com que acontece na sociedade (Discutiremos sobre isto mais adiante). Agora, procure responder às autoatividades e não se esqueça de entrar em contato via 0800 642 5000, ou através do Ambiente Virtual de Aprendizagem, caso você tenha alguma dúvida ou queira simplesmente trocar ideias sobre o que foi discutido neste tópico. 39 RESUMO DO TÓPICO 2 Neste tópico você estudou: • A Geografia Clássica ou Tradicional exerceu um importante papel, pois atendeu aos desafios da classe dominante pela exploração dos recursos naturais e do povo. Na Geografia Clássica ou Tradicional, encontraremos as escolas geográficas que visavam à realização de estudos que atendessem aos interesses de seus países, buscando soluções e orientações que justificassem as suas ações. Dentre elas, podemos destacar a escola geográfica alemã, francesa, britânica, soviética e norte- americana. • Na escola geográfica alemã, podemos destacar três grandes geógrafos: Humboldt, Ritter e Ratzel. Foi na Alemanha que a Geografia se institucionalizou. É com Humboldt e Hitter que surgiu a Geografia científica ou a Geografia acadêmica, ou seja, uma Geografia estudada a partir dos centros universitários e, posteriormente, ensinada nas escolas. • A escola geográfica francesa emergiu na primeira metade do século XX, tendo como idealizador o francês Vidal de La Blache. Ele passou a estudar as relações entre o homem e o meio físico, admitindo que o meio exercia algum tipo de influência sobre o homem. Este, dependendo das condições técnicas e financeiras disponíveis, poderia influenciar o meio. Assim surgiu o possibilismo, apontado como a principal característica da escola francesa. • A escola geográfica britânica sofreu grande influência da escola francesa no que tange aos estudos regionais. Embora os ingleses dessem maior preocupação ao uso da Geografia para o domínio externo, também a utilizaram para organizar suas estruturas produtivas, bem como para controlar o crescimento demográfico e o forte crescimento urbano. • A escola geográfica norte-americana foi estimulada através da presença de dois geógrafos suíços que se estabeleceram nos Estados Unidos: Arnold Guyote e Louis Agassiz. Eles passaram a desenvolver estudos pautados na Geografia regional e na geomorfologia, respeitando os modelos germânicos. Richard Hartshorne foi um dos grandes teóricos da Geografia da escola clássica norte-americana. • A escola geográfica soviética também sofreu influência da escola alemã. Os soviéticos concentraram seus estudos na análise do clima e do solo, devido às condições rigorosas do clima (de frio a frio, polar ou subpolar) e as dificuldades no desenvolvimento da agricultura. 40 • O impacto da Segunda Guerra Mundial na ciência geográfica ocasionou a reflexão dos geógrafos a respeito da natureza da Geografia. Muitos passaram a criticar os princípios científicos e filosóficos, buscando novos caminhos, ou seja, passaram a desenvolver outras correntes teórico-metodológicas para a Geografia. Duas delas merecem destaque: a Geografia Teorética-Quantitativa e a Geografia Crítica ou Radical.• A Geografia Teorética-Quantitativa destacou-se por fazer uso em larga escala de modelos matemático-estatísticos. Esta corrente rompeu com a Geografia Clássica e apresentou a Nova Geografia, trazendo grandes formulações nomotéticas que facilitavam o uso da estatística. Esta corrente, considerada revolucionária por não considerar as origens da Geografia, desenvolveu-se primeiramente na Suécia, Estados Unidos e na Grã-Bretanha, tendo fortes repercussões na União Soviética e na Polônia. Contudo, sofreu forte resistência na Alemanha e na França. • A Geografia Radical ou Crítica pode ser caracterizada pela conscientização e/ ou preocupação por parte de alguns geógrafos com a existência de problemas muitos graves na sociedade em que viviam. Nesta corrente, ocorreram algumas subdivisões do pensamento geográfico, ou seja, tivemos geógrafos não marxistas (mas comprometidos com as reformas sociais), geógrafos anarquistas (que criticavam a sociedade burguesa) e os geógrafos de formação marxistas (tinham suas concepções pautadas nas formulações de Karl Marx). No Brasil, a Geografia Crítica tem sua repercussão no final da década de 1970 com publicações criticando fortemente a experiência da Geografia teorética-quantitativa, bem como apresentando novos caminhos para o pensamento geográfico brasileiro. 41 1 Sobre a Geografia Clássica ou Tradicional, analise as afirmativas a seguir: I- A Geografia Clássica atendeu aos desafios da classe dominante no que tange à exploração dos recursos naturais e do povo. II- A Geografia enquanto ciência moderna teve sua gênese na existência de um estímulo social mais direto presente na particularidade histórica da Alemanha. III- A Geografia passa a ter uma grande importância para os franceses quando a França foi derrotada pela Alemanha em 1871. IV- A Geografia para os ingleses estava voltada principalmente ao domínio externo, bem como na utilização para organizar suas estruturas produtivas e controlar o crescimento demográfico e o forte crescimento urbano. V- A Geografia norte-americana foi estimulada a partir do desenvolvimento de estudos pautados na Geografia regional e na geomorfologia, respeitando os modelos germânicos. VI- A Geografia para os soviéticos estava pautada nos estudos do clima e do solo, devido às condições rigorosas do clima e às dificuldades no desenvolvimento da agricultura. Agora, assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) Estão corretas as afirmativas I, II, IV e V. b) ( ) Estão corretas as afirmativas II, III, V e VI. c) ( ) Estão corretas as afirmativas III, IV e V. d) ( ) Todas as afirmativas estão corretas. 2 Na Geografia Clássica ou Tradicional, as escolas geográficas visavam ao desenvolvimento de estudos que atendessem aos interesses de seus países na busca de soluções e orientações que justificassem as ações dos mesmos. Acerca destas escolas geográficas, relacione seus respectivos idealizadores, utilizando o código a seguir I- Escola alemã II- Escola francesa III- Escola britânica IV- Escola norte-americana ( ) Esta escola geográfica emergiu na primeira metade do século XX tendo como idealizador o francês Vidal de La Blache. ( ) Esta escola geográfica foi estimulada através da presença de dois geógrafos suíços, Arnold Guyote e Louis Agassiz, que passaram a desenvolver estudos pautados na Geografia regional e na geomorfologia respeitando os modelos germânicos. AUTOATIVIDADE 42 ( ) As concepções desta escola geográfica foram formuladas principalmente por três grandes geógrafos: Humboldt, Ritter e Ratzel. ( ) Nesta escola geográfica a Geopolítica passa a ter um importante papel com as concepções do geógrafo e parlamentar Helford J. Mackinder. Agora, assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA: a) ( ) III - IV - II - I. b) ( ) II - IV - I - III. c) ( ) I - IV - III - II. d) ( ) IV - III - II - I. 3 Estabeleça a diferença entre as concepções da Geografia Clássica ou Tradicional, da Geografia Teorética ou Quantitativa e da Geografia Crítica ou Radical. __________________________________________________________________ __________________________________________________________________ __________________________________________________________________ __________________________________________________________________ __________________________________________________________________ __________________________________________________________________ __________________________________________________________________ __________________________________________________________________ __________________________________________________________________ __________________________________________________________________ __________________________________________________________________ __________________________________________________________________ __________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ 43 TÓPICO 3 A GEOGRAFIA NO BRASIL UNIDADE 1 1 INTRODUÇÃO Nos tópicos anteriores, você verificou o surgimento da ciência geográfica, bem como a institucionalização desta ciência e algumas das correntes geográficas. Neste tópico, veremos a institucionalização da Geografia no Brasil, a contribuição do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), no que tange principalmente à formação do geógrafo e regionalização do Brasil. Você também terá a oportunidade de conhecer alguns dos ilustres geógrafos que contribuíram grandiosamente para o desenvolvimento da Geografia no Brasil, como por exemplo Aziz Ab’Saber e o maior geógrafo de todos, Milton Santos. A partir de agora, concentre-se e bom estudo! 2 A INSTITUCIONALIZAÇÃO DA GEOGRAFIA NO BRASIL No Brasil, o ensino da Geografia só se institucionalizou após a Revolução de 1930, quando a burguesia e a classe média urbana passaram a exercer maior influência sobre o governo, bem como a abrandar o poder da burguesia agrário- exportadora. (ANDRADE, 1987). Assim, foram criadas as Faculdades de Filosofia, Ciências e Letras na Universidade de São Paulo e na Universidade do Distrito Federal. Na década de 1930, também, foi criado, no Rio de Janeiro, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE. Este, por sua vez, foi o primeiro a admitir a existência de profissionais ligados à Geografia não voltada ao ensino propriamente, mas dedicados exclusivamente à pesquisa. Não podemos deixar de destacar que na década de 1930 também foi fundada a Associação dos Geógrafos Brasileiros – AGB, fundada pelo ilustre professor francês Pierre Deffontaines que sem dúvida contribuiu no desenvolvimento da Geografia no Brasil. Esta associação continua atuante nos dias de hoje, embora de forma menos intensa. De modo geral, a institucionalização da Geografia no Brasil foi influenciada pelo pensamento da escola clássica francesa até por volta de 1956 quando foi realizado em solo brasileiro (Rio de Janeiro) o XVIII Congresso Internacional de Geografia. A partir desse momento outras escolas geográficas passaram a influenciar os geógrafos brasileiros. UNIDADE 1 | A GEOGRAFIA COMO CIÊNCIA 44 Para Andrade (1987) o domínio do pensamento clássico, lablachiano (Vidal de la Blache) na Geografia Brasileira desde o início dos anos 30 até 1956, é responsável pela difusão e adaptação de três frentes de trabalho: as universidades, a AGB e o IBGE. Vejamos cada uma dessas frentes de trabalho responsáveis pela institucionalização da Geografia no Brasil 2.1 A CONTRIBUIÇÃO DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO - USP A Geografia enquanto ensino superior teve início em SãoPaulo a partir de 1934 e no Rio de Janeiro a partir de 1935. Quando a Universidade de São Paulo - USP foi montada, vários professores franceses foram convidados para atuar nesta universidade. Dentre eles, o já mencionado anteriormente o professor Pierre Deffontaines e o professor Pierre Mombeig. Na USP, o ensino da Geografia estava fortemente relacionado com o ensino da História e da Sociologia. Tanto Deffontaines quanto Mombeig privilegiavam o estudo da Geografia Humana e Regional. (ANDRADE, 1987). Na verdade os dois professores franceses demonstravam em seus trabalhos a aplicabilidade da doutrina lablachiana. Outro fato importante que precisa ser destacado é que a USP desmembrou a cadeira de Geografia em várias disciplinas. Estas foram confiadas a professores nacionais, incentivando a produção de teses de doutorado. Isto permitiu gradativamente a institucionalização de uma Geografia nacional. Andrade (1987) destaca alguns dos professores brasileiros que fizeram parte deste processo de institucionalização da Geografia. Vejamos: a professora Maria da Conceição Vicente de Carvalho que defendeu a primeira tese de doutorado em Geografia (1944) intitulada “Santos e a Geografia Urbana do Litoral Paulista”; Aroldo de Azevedo; João Dias da Silveira; Ary França; Dirceu Lino de Mattos; J. R. de Araújo Filho; Nice Lecocq Müller; Renato Silveira Mendes; Aziz N. Ab’Saber; Pasquale Petroni, dentre outros. Atualmente, nos livros didáticos é comum encontrarmos os estudos realizados principalmente por Aroldo de Azevedo e Aziz N. Ab’Saber. Este último, ainda hoje continua reformulando o pensamento geográfico brasileira, principalmente com estudos na Geografia Física focando sua análise para o meio ambiente. Podemos dizer que a USP contribuiu não apenas na institucionalização do ensino da Geografia, mas também foi responsável por formar bons professores para atuar no ensino médio. Ademais, esta universidade também contribuiu com o desenvolvimento da AGB, cuja sede era no próprio departamento de Geografia da USP. TÓPICO 3 | A GEOGRAFIA NO BRASIL 45 É evidente que gradativamente outras universidades brasileiras contribuíram no desenvolvimento do pensamento geográfico brasileiro, bem como na dissipação do ensino da Geografia. 2.2 A CONTRIBUIÇÃO DA ASSOCIAÇÃO DOS GEÓGRAFOS BRASILEIROS – AGB Como dissemos anteriormente, a AGB foi fundada em 1934 na cidade de São Paulo pelo francês Pierre Deffontaines. Apesar do nome, a AGB por muito tempo foi uma associação paulista, isso porque as discussões estavam pautadas, sobretudo na geografia de São Paulo. Dentre os intelectuais brasileiros que faziam parte desta associação merece destaque Caio Prado Junior, Luiz Fernando Morais Rego e Rubens Borba de Moraes. Segundo Andrade (1994, p. 71), “só em 1944 é que a AGB tornou-se verdadeiramente nacional, depois que os geógrafos de São Paulo se reuniram com os do Rio de Janeiro e iniciaram um trabalho de cooperação, a partir da Assembleia Geral reunida em Lorena”. Ainda conforme coloca Andrade (1994), a partir deste momento a AGB passou a realizar trabalhos notáveis em todo o país, promovendo em suas assembleias gerais, anuais, tanto o debate de trabalhos apresentados por seus associados como também trabalhos de pesquisa realizados nas cidades em que os encontros eram promovidos. UNI Caro(a) Acadêmico(a), para que você tenha uma maior compreensão do motivo de só a partir de 1944 a AGB se tornar verdadeiramente nacional, gostaríamos de destacar que antes deste período, devido a sua gênese ter sido profundamente aristocrática, estabeleceram-se dois tipos de sócios, os efetivos, com direito pleno e os cooperadores, formados por pessoas interessadas por temas geográficos, mas que não tinham qualquer tipo de publicação e/ou obra. A efetivação dos sócios efetivos era feito por um “clube fechado”, conforme pontua Andrade (1994, p. 71-72), essa dinâmica era feita por dois objetivos: “1º evitar que intelectuais não geógrafos chegassem a posições de controle e direção da sociedade, em nível nacional; 2º fazer uma espécie de patrulhamento científico, a fim de que a sociedade mantivesse, até certo ponto, uma linha uniforme de pensamento”. Contudo, o processo de democratização da AGB só começou a ser realizado efetivamente na década de 1960, quando os sócios efetivos não conseguiram mais conter a pressão dos estudantes e dos novos geógrafos interessados em participar das assembleias e da direção da sociedade. Assim, ocorreu uma reforma estatutária em 1970, em que [...] “os sócios efetivos foram substituídos pelos titulares, sendo UNIDADE 1 | A GEOGRAFIA COMO CIÊNCIA 46 esta categoria não mais privativa de um grupo fechado, mas estendida a todos os profissionais de Geografia, planejadores, pesquisadores e professores de ensino superior e médio”. (ANDRADE, 1994, p. 74). As assembleias gerais foram substituídas por encontros nacionais que passaram a contemplar centenas de geógrafos. Os encontros eram realizados em cidades que pudessem abarcar a grande demanda de participantes. Podemos dizer que a década de 1970 foi um período marcante e importante para a evolução do pensamento geográfico do ponto de vista epistemológico e metodológico. “Os geógrafos sentiam que o período de reconhecimento do território nacional e dos estudos monográficos urbanos e regionais, desligados de ideologias, estava ultrapassado e passaram a procurar novos paradigmas para as suas pesquisas”. (ANDRADE, 1994, p. 74). A busca por novos paradigmas em um momento de crise política e científica ocasionou diferentes posicionamentos por parte dos geógrafos. Conforme Andrade (1994), alguns grupos de geógrafos aderiram à metodologia anglo-saxônica com o uso da estatística, outros buscaram a formação filosófica e ideológica dialética com o uso da práxis (ligados a pensadores positivistas). O fato de a sociedade estar submetida sob o regime da ditadura, bem como o fato dos geógrafos estarem politicamente divididos fez com que as divergências se acentuassem cada vez mais. Na verdade foi um período de divergências epistemológicas, nem sempre de cunho científica, mas partidária. A Geografia Teorética-quantativista foi fortemente criticada neste período. Contudo, com o passar dos anos, numerosos geógrafos quantitativistas compreenderam que a metodologia adotada era insuficiente e que outros paradigmas deveriam ser utilizados, enquanto os seus opositores, passada a fase aguda da luta, perceberam que o uso da matemática e da estatística era inaceitável como fim, mas era de grande utilidade como meio, podendo ser utilizada sem os excessos anteriores. (SANTOS, 1978). No entanto, o choque decisivo das divergências deu-se em 1978 no Encontro Nacional de Fortaleza quando os estudantes na maioria não associados à AGB passaram a controlar o processo decisório. Em 1980, definitivamente, os grupos estudantis passaram a liderar a AGB e esta associação passou a ser um referencial político perdendo qualitativamente a sua cientificidade. Passada esta fase, gradativamente a AGB foi recuperando seu caráter científico e apesar das divergências dentro das universidades, hoje ela discute estas divergências com mais serenidade. Para Andrade (1994) o fato de hoje a AGB ser dirigida por pessoas despidas de dogmas e imposições fez com que a mesma se tornasse um centro de convergência de estudos e debates ligados à Geografia. Ele ainda coloca que este é o papel que ela tem a desempenhar com apoio de sua direção. TÓPICO 3 | A GEOGRAFIA NO BRASIL 47 DICAS Visite o site da AGB e conheça os vários trabalhos desenvolvidospor esta associação. Acesse: <http://www.agb.org.br/index.php?secao=&ver=&id=&pagina=>. Para facilitar o seu entendimento, o geógrafo é o profissional que fez na graduação o bacharelado, cujas atribuições estão definidas na Lei 6.664/79, que disciplina essa profissão. Já o professor de geografia cursou na graduação a licenciatura e será capaz de atuar nas séries finais do Ensino Fundamental e no Ensino Médio. 2.3 A CONTRIBUIÇÃO DO INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA – IBGE O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística foi fundado em 1937 quando as faculdades de formação de geógrafos iniciavam seus trabalhos. No que tange à contribuição do IBGE na Geografia podemos destacar sua participação na formação de geógrafos com a organização de duas publicações de maior relevância, o Boletim Geográfico (de 1947 a 1978) onde eram publicados artigos transcritos de outros periódicos nacionais e estrangeiros e a Revista Brasileira de Geografia, ainda atuante, em que são publicados artigos e resenhas de obras de interesse da Geografia. Nesta revista eram evidentes publicações que permeavam os interesses dominantes deste Instituto. Nas primeiras publicações, tinha-se uma grande preocupação com a geopolítica, principalmente visando à possibilidade de uma redivisão do território brasileiro, bem como estudos que abarcavam uma divisão de regiões geográficas denominadas em trabalhos posteriores de regiões naturais. Contudo, o IBGE não foi apenas uma espécie de escola de formação de geógrafos, mas também possibilitou aos mesmos uma maior segurança em seus trabalhos com a formação do Conselho Nacional de Cartografia que fez o levantamento cartográfico do país. Este levantamento resultou na publicação do Atlas do Brasil ao milionésimo, bem como deu maior consistência e uniformidade às estatísticas, realizando os recenseamentos populacionais e econômicos decenais (1940, 1950, 1960, 1970, 1980, 1990, 2000, 2010) e a publicação do Anuário Estatístico do Brasil. Para Andrade (1987, p. 91), “serviu de órgão técnico de consulta para o Poder Central e fez, no bom sentido, a política do poder, contribuindo, inclusive para a escolha do local em que se construiria a nova capital do país – Brasília”. Andrade (1987) ainda destaca que com o IBGE criou-se a carreira do profissional da Geografia no Brasil encaminhando os geógrafos para os trabalhos de planejamento, bem como era um ponto de apoio para os cursos de aperfeiçoamento ministrados, durante muito tempo, aos professores de ensino médio e superior de vários lugares do Brasil. UNIDADE 1 | A GEOGRAFIA COMO CIÊNCIA 48 O IBGE também foi responsável pela regionalização do nosso país. É importante destacar que os critérios adotados estavam primeiramente vinculados com a administração territorial e política, posteriormente o critério natural se tornou relevante para a elaboração da regionalização. E, finalmente, com a percepção de que não se poderia levar em conta apenas o critério natural, foram propostos outros critérios que abarcassem tanto os aspectos naturais, quanto econômicos e socioculturais. Desse modo, o Brasil passou por várias regionalizações ao longo das décadas (1945, 1950, 1960, 1970, 1980 e 1990), até chegarmos à configuração atual. Os mapas a seguir ilustraram as regionalizações ocorridas ao longo dessas décadas. Observe-os atentamente. FONTE: IBGE apud Castelar e Maestro (2006). FIGURA 11 – DIVISÃO REGIONAL DO BRASIL: 1945, 1950 e 1960 FIGURA 12 – DIVISÃO REGIONAL DO BRASIL: 1970, 1980 e 1990 FONTE: IBGE apud Castelar e Maestro (2006). Cabe ressaltar que a divisão atual (em cinco regiões: Sul, Sudeste, Nordeste, Centro-Oeste e Norte) considerada oficial do Brasil proposta pelo IBGE não é a única maneira de representar o país regionalmente. Em 1967, o geógrafo Pedro Pinchas Geiger propôs uma nova divisão regional apoiada nos critérios socioeconômicos, organizando o Brasil em três grandes complexos regionais: Centro-Sul, Nordeste e Amazônia (veja o mapa a seguir). TÓPICO 3 | A GEOGRAFIA NO BRASIL 49 FIGURA 13 – DIVISÃO REGIONAL GEOECONÔMICA FONTE: IBGE apud Castelar e Maestro (2006). Todavia, Milton Santos, em sua obra O Brasil: território e sociedade no início do século XXI, coloca em discussão uma nova divisão regional pautada na difusão diferencial do meio técnico-científico-informacional e nas heranças do passado. De modo geral, na visão de Milton Santos, o Brasil seria dividido em quatro regiões: Concentrada, Centro-Oeste, Nordeste e Amazônia. Veja essa nova proposta no mapa a seguir. 50 UNIDADE 1 | A GEOGRAFIA COMO CIÊNCIA FIGURA 14 – OUTRA PROPOSTA DE DIVISÃO REGIONAL FONTE: IBGE (apud CASTELAR; MAESTRO 2006). autoativida de Atualmente podemos considerar pelo menos duas divisões regionais: a do IBGE, com cinco regiões oficiais e a divisão geoeconômica, com três regiões. Como vimos, Milton Santos propõe uma terceira divisão regional. Em sua opinião, qual dessas três divisões regionais seria ideal para o Brasil? Justifique sua resposta. ______________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________ Atualmente, o IBGE exerce um papel fundamental no Brasil, não apenas pela sua atuação na formação de geógrafos, na realização dos censos, dentre outros, mas principalmente pela sua confiabilidade, credibilidade nas informações repassadas aos diferentes públicos brasileiros. TÓPICO 3 | A GEOGRAFIA NO BRASIL 51 DICAS Não deixe de visitar o site do IBGE: <http://www.ibge.gov.br/home/>. Neste site você terá acesso a informações sobre a população, economia, geociências etc. Outra dica interessante que você poderá trabalhar com seus futuros alunos é o site: <http://www.ibge. gov.br/ibgeteen/index.htm>,que traz várias informações de maneira bem interessante para as crianças. 3 A CONTRIBUIÇÃO DE ALGUNS DOS ILUSTRES GEÓGRAFOS BRASILEIROS Não poderíamos finalizar este tópico sem antes apresentar alguns ilustres geógrafos que contribuíram intensamente no desenvolvimento da Geografia no que concerne aos estudos voltados principalmente ao relevo do Brasil, bem como aos aspectos socioeconômicos e ambientais do nosso país. Assim, destacamos os geógrafos Aroldo de Azevedo, Aziz Ab’ Saber, Jurandyr Ross e Milton Santos 3.1 AROLDO AZEVEDO, AZIZ AB’ SABER E JURANDYR ROSS Aroldo de Azevedo, Aziz Ab’Saber e Jurandyr Ross fizeram importantes contribuições no estudo e na classificação do relevo brasileiro em períodos diferentes. Vejamos. A partir da década de 1940, o Brasil passou a adotar a classificação de Azevedo que classificou o relevo em planaltos e planícies, definindo essas unidades de acordo com as altitudes (altura). Para Azevedo as planícies correspondiam às áreas planas de até 200 (duzentos) metros de altitude, já os planaltos situavam-se acima dessa cota altimétrica e eram relativamente acidentados. No mapa que segue você terá uma noção dessa divisão do relevo segundo a classificação de Aroldo de Azevedo. 52 UNIDADE 1 | A GEOGRAFIA COMO CIÊNCIA FIGURA 15 – CLASSIFICAÇÃO DO RELEVO DE AROLDO DE AZEVEDO FONTE: Disponível em: <http://3.bp.blogspot.com/_hGJz9rvNVgc/SYpDafrVQhI/ AAAAAAAAADw/5lObHU9LIZ8/s400/Arldo+de+Azevedo+relevo.gif>. Acesso em: 10 out. 2010. Aziz Ab’Saber, na década de 1960, estabeleceu uma classificação do relevo, eu diria um pouco mais detalhada. Nessa classificação, além da altitude, ele procurou considerar os processos geológicos. Assim, os planaltoseram definidos como terrenos cujo processo de desgaste prevalecia em relação aos processos de sedimentação. Já as planícies constituíam os terrenos onde predominava a sedimentação. Observe no próximo mapa em que difere essa classificação da classificação de Azevedo. TÓPICO 3 | A GEOGRAFIA NO BRASIL 53 FIGURA 16 – CLASSIFICAÇÃO DE AZIZ AB’ SABER FONTE: Lucci et al., (2004). Não poderíamos deixar de destacar também que Aziz Ab’Saber exerce ainda hoje um papel fundamental na questão ambiental, mas precisamente na educação ambiental. Para ele, enquanto não resolvermos os problemas da base da pirâmide que é a pobreza, não conseguiremos resolver os problemas ambientais. Saiba mais sobre esse ilustre geógrafo efetuando a leitura complementar. Passadas 30 (trinta) décadas, Jurandyr Ross, a partir de 1995, (pesquisador do Departamento de Geografia da USP), estabeleceu uma nova classificação (bem detalhada) do relevo brasileiro, apoiado em levantamentos realizados pelos técnicos do Projeto Radambrasil. Você já ouviu falar sobre esse projeto? Não! Então não deixe de ler o próximo Uni. Na verdade, os levantamentos aerofotogramétricos realizados pelo Radambrasil possibilitaram o fornecimento de informações detalhadas utilizadas para fundamentar a nova classificação do relevo e de suas unidades. Isso porque, antes desse levantamento, os mapeamentos bem como a classificação do relevo baseavam-se praticamente em observações realizadas em terra. 54 UNIDADE 1 | A GEOGRAFIA COMO CIÊNCIA IMPORTANT E O Projeto Radambrasil (Radam = radar da Amazônia) foi realizado entre os anos de 1970 e 1985 e constituiu um extenso levantamento dos recursos naturais e geológicos da Amazônia. O projeto também possibilitou o mapeamento de todo o território brasileiro, realizado a partir do cruzamento de informações obtidas através de levantamentos de campo com as imagens obtidas por imagens de radar instalado em avião (método conhecido por aerofotogrametria). Ross, em sua classificação relaciona as informações altimétricas com os processos de erosão, sedimentação e formação do modelado terrestre, associando- os às estruturas geológicas nas quais ocorreram. Desse modo, o relevo brasileiro é então classificado em três principais formas: planaltos, planícies e depressões. A partir dessas três principais formas, Ross subdividiu o relevo em 28 (vinte e oito) unidades de relevo, conforme você pode observar no mapa a seguir. Essa classificação é a mais utilizada atualmente. FIGURA 17 – CLASSIFICAÇÃO DE JURANDYR ROSS FONTE: Lucci et al., (2004). TÓPICO 3 | A GEOGRAFIA NO BRASIL 55 autoativida de Você reparou que nas três classificações de relevo que acabamos de verificar não constam montanhas? Isso significa que o Brasil não tem montanhas? Embora não discutimos sobre isso nesta seção, propomos como autoatividade, que você pesquise porque nas principais obras sobre o relevo brasileiro não constam as montanhas. _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ 3.2 A CONTRIBUIÇÃO DE MILTON SANTOS É unânime entre os colegas de profissão afirmar que Milton Santos (1926- 2001) foi e ainda hoje é considerado o maior geógrafo brasileiro. Contribuiu no aspecto humano da geografia e criticou a globalização como sendo perversa. Para ele, a população pobre era o ator social capaz de promover outra globalização, que defendeu em livros e conferências pelo mundo. (AGUIAR, 2010). FIGURA 18 – IMAGEM DE MILTON SANTOS. Nasceu em Brotas de Macaúbas (BA) a 3/5/26 e faleceu em São Paulo a 24/6/01 FONTE: Disponível em: <http://www.nossosaopaulo.com.br/ Reg_SP/Educacao/MiltonSantos1.jpg>. Acesso em: 10 out. 2010. 56 UNIDADE 1 | A GEOGRAFIA COMO CIÊNCIA Milton Santos inseriu nas discussões geográficas a retomada de autores da geografia clássica, bem como foi um dos expoentes do movimento de renovação crítica da disciplina. Preocupou-se com a questão metodológica da Geografia, construiu conceitos, aprofundou o debate epistemológico e buscou na transdisciplinaridade uma visão totalizadora da sociedade. (AGUIAR, 2010). Em uma de suas célebres frases, Milton Santos, esquerdista convicto, diz: “não sou militante de coisa alguma, apenas de ideias”. O seu estilo independente revela a influência sartreana desse brasileiro que se celebrizou na França, onde obteve o doutorado e lecionou durante a ditadura. (AGUIAR, 2010). Milton Santos foi o único brasileiro a receber o mais alto prêmio internacional em geografia, o Prêmio Vautrin Lud, em 1994. Este prêmio é considerado praticamente o prêmio Nobel da Geografia. Apesar da complexidade de seu pensamento, a produção acadêmica desse ilustre geógrafo não permite modéstia. Isso porque foram aproximadamente 40 (quarenta) livros e mais de 300 artigos científicos. Segundo Aguiar (2010), Milton foi consultor da Organização das Nações Unidas (ONU), da UNESCO, da Organização Internacional do Trabalho (OIT) e da Organização dos Estados Americanos (OEA). Também foi consultor em várias áreas junto aos governos da Argélia, Guiné-Bissau e Venezuela. Possuía 13 títulos de doutor honoris causa, recebidos no Brasil, França, Argentina e Itália, entre outros. Foi membro do comitê de redação de revistas especializadas em geografia no Brasil e exterior. Fez pesquisas e conferências em mais de 20 países, dentre eles Japão, México, Índia, Tunísia, Benin, Gana, Espanha e Cuba. Recebeu em 1997 o prêmio Jabuti pelo melhor livro em ciências humanas: A natureza do espaço: técnica e tempo, razão e emoção. Em 1999 recebeu o Prêmio Chico Mendes por sua resistência. Foi condecorado Comendador da Ordem Nacional do Mérito Científico em 1995. Hoje, o geógrafo tantas vezes laureado (premiado) empresta seu nome ao Prêmio Milton Santos de Saúde e Ambiente, criado pela Fundação Oswaldo Cruz. Milton Santos nunca participou de movimentos negros, acreditava que deveriam conquistar reconhecimento em atitudes como, por exemplo, ingressar na universidade. "Minha vida de todos os dias é a de negro", declarou. "Mantenho com a sociedade uma relação de negro. No Brasil, ela não é das mais confortáveis". Como você pôde perceber, Milton Santos era o “cara”, ou melhor, foi e continua sendo o maior geógrafo que o Brasil já teve. Embora não esteja mais entre nós, suas obras e suas ideias são cada vez mais difundidas no meio acadêmico. TÓPICO 3 | A GEOGRAFIA NO BRASIL 57 DICAS Indicamos a leitura de uma das principais obras de Milton Santos, a já mencionada “A natureza do espaço: técnica e tempo, razão e emoção”. Outra interessante dica é a leitura do Atlas Nacional do Brasil Milton Santos. Essa obra foi lançada recentemente (dezembro de 2010) pelo IBGE e, foi dividida em quatro eixos: O Brasil no Mundo; Território e Meio Ambiente; Sociedade e Economia; e Redes Geográficas. Para você ter uma ideia, o atlas trata de temas como a inserção do Brasil no cenário mundial, a desigualdade social, o acesso a informações, as redes geográficas e as fontes energéticas. Vale a pena você conferir essa obra. O atlas pode ser adquirido na loja virtual do IBGE: <http://www.ibge.gov.br/lojavirtual/default. php> e nas livrarias consignadas <http://www.ibge.gov.br/lojavirtual/livrarias.php>. LEITURA COMPLEMENTAR ENTRE A GEOMORFOLOGIA E A POLÍTICA Pesquisas de Aziz Ab'Saber vão da natureza aos problemas sociais do Brasil Renata Ramalho O geomorfologista Aziz Ab'Saber é o responsável por diversas teoriase projetos inovadores na geografia brasileira. Em uma época em que a maioria dos professores ia a campo sem saber bem o que fazer, Ab'Saber passou a se dedicar ao estudo da geografia associada à natureza. Conhecido como um dos autores da teoria dos refúgios, esse paulista descendente de libanês estabeleceu os domínios da natureza no Brasil, foi o primeiro a identificar as faixas de transição entre eles e descobriu as core areas - núcleos de reprodução de vida. Seu trabalho permitiu conhecer melhor a história geoecológica do país e compreender a formação atual de nosso ecossistema. 58 UNIDADE 1 | A GEOGRAFIA COMO CIÊNCIA As pesquisas de Ab’Saber não se limitaram à geografia física. Patriota assumido, ele estudou a relação do homem com o meio ambiente em diversas regiões do país. Idealizou também o Projeto Floram, que previa um reflorestamento diferenciado levando em consideração as necessidades de cada área do Brasil. Travou então contato com os empresários que, segundo ele, mantinham-se afastados da universidade com medo que uma "esquerda festiva" combatesse suas propostas. O geógrafo sempre se preocupou em contribuir para a melhoria de vida da população. É politicamente atuante: filiado ao Partido dos Trabalhadores (PT), mantém-se informado sobre os projetos propostos pelo governo, que examina sob uma perspectiva crítica. Ab’Saber já não enfrenta mais a resistência que encontrava a seus trabalhos quando, ainda jovem, passou a propor ideias inovadoras. Hoje, ele é reconhecido e admirado no meio acadêmico brasileiro. Recebeu, por exemplo, o título de professor emérito da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (USP). Sempre produzindo, o professor continua frequentando o Instituto de Estudos Avançados (IEA/USP), onde é professor honorário. No ano 2000, escreveu na revista do IEA o Dossiê Nordeste seco, em que compilou seus conhecimentos sobre a região e apresentou propostas para seu desenvolvimento e preservação. Contrariando sua família, Ab'Saber trabalha sem cessar, e visita sua cidade natal menos do que gostaria. "Sou muito sentimental. Quando vou até lá, sinto muitas saudades da minha infância", justifica-se. A pequena São Luiz do Paraitinga, no interior de São Paulo, foi berço de outro grande cientista brasileiro - Oswaldo Cruz. O padrinho de Aziz tomava conta da casa da família de Cruz quando o geógrafo era pequeno. A bucólica cidadezinha certamente tem histórias para contar. FONTE: RAMALHO, Renata. Ciência Hoje/RJ. Disponível em: <http://www.ourinhos.unesp.br/ gedri/biblioteca/outros/artigos/ramalho_01.pdf>. Acesso em: 27 abr. 2011. 59 RESUMO DO TÓPICO 3 Neste tópico você estudou que: • No Brasil, o ensino da Geografia só se institucionalizou após a Revolução de 1930 quando a burguesia e a classe média urbana passaram a exercer maior influência sobre o governo, bem como a abrandar o poder da burguesia agrário- exportadora. • Na década de 1930, também foi criado no Rio de Janeiro o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE. Nesta mesma década, também foi fundada a Associação dos Geógrafos Brasileiros – AGB, fundada pelo ilustre professor francês Pierre Deffontaines que sem dúvida contribuiu no desenvolvimento da Geografia no Brasil. • A Geografia enquanto ensino superior teve início em São Paulo a partir de 1934 e no Rio de Janeiro a partir de 1935. A USP contribuiu não apenas na institucionalização do ensino da Geografia, mas também foi responsável por formar bons professores para atuar no ensino médio. • A contribuição do IBGE na Geografia pode ser destacada na formação de geógrafos, bem como possibilitou aos mesmos uma maior segurança em seus trabalhos com a formação do Conselho Nacional de Cartografia que fez o levantamento cartográfico do país. O IBGE também foi responsável pela regionalização do nosso país. • No que tange a contribuição de alguns geógrafos brasileiros destacamos Aroldo de Azevedo que, na década de 1940, classificou o relevo em planaltos e planícies, definindo essas unidades de acordo com as altitudes (altura). Na década de 1960 Aziz Ab’Saber classificou o relevo definindo os planaltos como terrenos cujo processo de desgaste prevalecia em relação aos processos de sedimentação e as planícies constituíam os terrenos onde predominava a sedimentação. • Jurandyr Ross, a partir de 1995, estabeleceu uma nova classificação do relevo brasileiro com o apoio do Projeto Radambrasil. Desse modo o relevo brasileiro é então classificado em três principais formas: planaltos, planícies e depressões. A partir dessas três principais formas, Ross subdividiu o relevo em 28 unidades. • Milton Santos foi e ainda hoje é considerado o maior geógrafo brasileiro. Contribuiu no aspecto humano da geografia e criticou a globalização como sendo perversa. Milton Santos foi o único brasileiro a receber o mais alto prêmio internacional em geografia, o Prêmio Vautrin Lud, em 1994, considerado praticamente o prêmio Nobel da Geografia. 60 1 Sobre a institucionalização da Geografia no Brasil, classifique V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas: a) ( ) O ensino da Geografia se institucionalizou somente após a Revolução de 1930, quando a burguesia e a classe média urbana passaram a desempenhar maior influência sobre o governo, bem como a abrandar o poder da burguesia agrário-exportadora. b) ( ) A institucionalização da Geografia no Brasil foi influenciada pelo pensamento da escola clássica alemã até por volta de 1956, quando foi realizado no Brasil o XVIII Congresso Internacional de Geografia. c) ( ) A USP contribuiu não apenas na institucionalização do ensino da Geografia, mas também foi responsável por formar bons professores para atuar no Ensino Médio. d) ( ) O domínio do pensamento clássico, lablachiano na Geografia Brasileira, desde o início dos anos 30 até 1956, é responsável pela difusão e adaptação de três frentes de trabalho: as universidades, a AGB e o IBGE. 2 Vimos que o IBGE foi responsável pela regionalização do nosso país. Embora você saiba que o Brasil atualmente é dividido em cinco regiões, vinte e seis estados e o Distrito Federal, resolvemos desafiá-lo no que concerne à localização dos estados brasileiros, bem como suas respectivas regiões. Assim, você terá que colocar no mapa a seguir as siglas dos estados brasileiros de acordo suas respectivas localizações. Terminada a localização, pinte cada região com uma cor diferente. Dica: primeiramente tente localizar os estados sem observar o mapa político do Brasil, pois é importante que saiba até onde vai o seu conhecimento sobre essa localização. Ou se você preferir teste seu conhecimento brincando no quebra-cabeça do Brasil disponível no site a seguir: <http://www. atividadeseducativas.com.br/index.php?lista=geografia&pagina=2>. Essa é uma ótima atividade para brincar com seus futuros alunos. AUTOATIVIDADE 61 62 63 TÓPICO 4 MAS AFINAL, QUAL É O OBJETO DE ESTUDO DA GEOGRAFIA? UNIDADE 1 1 INTRODUÇÃO No estudo do Tópico 1, dissemos que a palavra Geografia significa: Geo = Terra e grafia = escrita, descrição, e que o objeto de estudo desta ciência passou por diferentes concepções culturais e correntes epistemológicas. Mas, apesar do significado da palavra, será que é possível conceituar a ciência geográfica? Qual seria o objeto de estudo da Geografia? Será que essa ciência apresenta um caráter social? Afinal, para que serve a Geografia? Quais são as áreas de estudo dessa ciência?E, além de todos esses questionamentos qual a importância do ensino da Geografia? Pois bem, caro(a) acadêmico(a), você saberia responder a essas perguntas? Pense um pouco. Neste tópico procuraremos responder a todas estas perguntas. 2 É POSSÍVEL CONCEITUAR A GEOGRAFIA? Como você conceituaria a Geografia? Na verdade, não é fácil definir com precisão o que é a Geografia. Esse problema é também comum às outras ciências sociais, isso porque não existem ciências estanques, com objetivos bem delimitados, mas conforme diria Andrade (1987), uma ciência única para facilitar o estudo de determinadas áreas, foi dividida (meio que arbitrariamente), em várias outras, compartimentando-se uma totalidade. Esta divisão da ciência em vários campos do conhecimento foi o resultado tanto do alargamento do conhecimento científico, tornando difícil a uma pessoa dominar todo o seu campo, como faziam os sábios da Grécia, como do domínio da filosofia positivista, cada vez mais proeminente com a expansão do capitalismo, visando formar especialistas que entendam o mais profundamente possível de áreas cada vez mais, a especialização e, em consequência, neutralizar ou reduzir a capacidade crítica dos estudiosos, sábios e pesquisadores. (ANDRADE, 1987, p. 11). A Geografia praticamente tornou-se uma ciência autônoma principalmente a partir do século XIX com os trabalhos realizados por Humboldt e Ritter. 64 UNIDADE 1 | A GEOGRAFIA COMO CIÊNCIA Em meados do século XIX, Humboldt definiu a Geografia como uma ciência sintetizadora que conectou o geral com o especial através do levantamento, do mapeamento e da ênfase no regional. Para ele, a Geografia se ocupa da influência que o meio físico exerce sobre o Homem e procura interligar o estudo da natureza física com o estudo da natureza moral para se chegar a uma visão harmonizante entre a sociedade e a natureza. (VESENTINI, 2010). Também em meados do século XIX, Ritter define que o objetivo da Geografia não é simplesmente reunir e elaborar informações sobre a Terra ou as regiões, como faziam seus predecessores, mas sim assinalar as 'leis gerais' que explicam a diversidade natural, mostrar a sua conexão com qualquer fato singular e indicar numa perspectiva histórica a perfeita unidade e harmonia que existe, por trás da aparente diversidade e capricho que prevalece no planeta, entre a natureza e o Homem. (VESENTINI, 2010). Retomando o estudo do Tópico 1, na Antiguidade e na Idade Média, a Geografia era utilizada apenas para desenhar os caminhos que seriam percorridos nas grandes viagens, para a exploração de recursos naturais, para avaliar as condições meteorológicas dentre outras. Nesse período, a Geografia estava muito ligada com a Cartografia e a Astronomia. Na Idade Moderna é que emergem explicações mais aprofundadas sobre as relações entre a Terra e os Astros, sobre as condições naturais e principalmente sobre as sociedades. Durante muito tempo, a Geografia foi definida como uma ciência que simplesmente fazia descrições da superfície da Terra. Essas descrições, embora muitas vezes arraigadas de fantasias (vimos no Tópico 1), deram origem no início do século XX, a uma multiplicidade de enfoques geográficos. Todavia, a evolução da Geografia acadêmica deu-se no final do século XIX e início do século XX, com a contribuição de inúmeras publicações de obras, o que inclusive levou Emanuel de Martonne a definir a Geografia como a ciência que estuda a distribuição dos fenômenos físicos, biológicos e humanos pela superfície da Terra. Se compararmos com a definição anterior, esta foi uma grande evolução. Contudo, esta definição foi se esvaindo com as grandes revoluções em que o conhecimento geográfico foi sendo submetido no pós-guerra. (Se necessário releia o Tópico 2). Atualmente, dado o avanço da ciência e a própria evolução da sociedade, as definições e os objetos da ciência geográfica são cada vez mais mutáveis. Eles vão sofrendo alterações conforme as modificações que atuam na sociedade (sejam elas ambientais, econômicas, culturais e políticas). Partindo desse pressuposto, muitos autores definem a Geografia como uma ciência que estuda as relações entre a sociedade e a natureza. Para este mesmo autor, é a forma como a sociedade organiza o espaço terrestre, visando melhor explorar e dispor dos recursos da natureza. É evidente que no processo de produção e transformação do espaço geográfico, cada formação socioeconômica vai organizar o espaço a sua maneira conforme suas necessidades e interesses, bem como das suas disponibilidades de técnica e de capital. TÓPICO 4 | MAS AFINAL, QUAL É O OBJETO DE ESTUDO DA GEOGRAFIA? 65 Na verdade, caro(a) acadêmico, não existe unanimidade entre os autores para definir a Geografia. Particularmente, considero a Geografia uma das ciências mais completas e ao mesmo tempo complexa, pois ela abarca aspectos sociais, econômicos, geopolíticos, culturais, ambientais e físicos do nosso planeta. A seguir veremos alguns objetos de estudo da ciência geográfica ao longo dos séculos 2.1 MAS AFINAL, QUAL É O OBJETO DE ESTUDO DA GEOGRAFIA? Não há consenso entre os autores sobre o objeto de estudo desta ciência. Alguns autores consideram a Geografia como o estudo da superfície terrestre, outros a definem como o estudo da paisagem. Ainda existem os que veem na Geografia o estudo do espaço geográfico, outros a individualidade dos lugares, ou ainda a diferenciação de áreas e o já mencionado estudo das relações entre a sociedade e a natureza. Vesentini (2010) em uma de suas publicações “O que é Geografia?” reuniu objetos de estudo da Geografia definidos por vários autores renomados em diferentes períodos. Selecionamos alguns deles de acordo com a referida publicação, vejamos: Segundo Vesentini (2010), o objeto de estudo da Geografia para: Estrabão (século I a. C.) → a Geografia é uma ciência como qualquer outra e interessa sobremaneira ao filósofo. Ela se ocupa do estudo ou descrição da Terra. A maior parte da Geografia satisfaz a necessidade dos Estados [...]. A Geografia em seu conjunto tem um vínculo com as atividades dos dirigentes. Os grandes generais são, sem exceção, homens capazes de governar por terra e por mar, de unir povos sob um governo ou uma administração pública [...]. Ptolomeu (150 d. C) → o propósito da Geografia é oferecer uma 'visão de conjunto' da Terra localizando e mapeando os lugares ou regiões. Bernard Varenius (século XVII) → a Geografia é uma descrição geral do mundo. Ela se divide em duas partes: uma geral e outra especial ou regional. A primeira estuda a Terra em seu conjunto, explicando as suas diversas partes e características. A segunda, respeitando os conceitos gerais, estuda as regiões concretas: suas localizações, divisões, limites e outros aspectos dignos de serem conhecidos. 66 UNIDADE 1 | A GEOGRAFIA COMO CIÊNCIA Emmanuel Kant (século XVIII) → a Geografia é uma disciplina sinóptica que procura sintetizar os achados de outras ciências por meio do conceito de área ou espaço. Ela pode ser dividida em geografia física e mais cinco modalidades. A geografia matemática, que estuda a forma, tamanho e movimentos da Terra, assim como as suas relações com o sistema solar. A geografia moral, que explica os diversos costumes e características dos povos de diferentes regiões. A geografia política, que relaciona a organização política de um Estado com a sua geografia física (seu território). A geografia comercial, que se ocupa dos intercâmbios mercantis. E a geografia teológica, que estuda as transformações dos princípios teológicos em virtude do terreno [...]. A História ea Geografia podem ser vistas como uma descrição, com a diferença que a primeira se ocupa do tempo e a segunda do espaço. A História estuda a relação dos acontecimentos no tempo e a Geografia estuda a relação dos fatos que se dão uns junto com os outros no espaço. Halforde J. Mackinder (1887) → a Geografia é uma ciência que se ocupa da interação entre o homem em sociedade e o seu meio ambiente. As comunidades humanas devem ser consideradas como unidades em luta pela existência, mais ou menos favorecidas pelo seu meio e as duas partes da Geografia se complementam, ou seja, a geografia física analisa os fatores do meio ambiente com as suas variações e a geografia política demonstra as relações que existem entre a sociedade e as variações locais do seu meio. Alfred Hettner (1905) → a Geografia enquanto um conhecimento da Terra seria uma ciência da Terra (geociência). A definição da Geografia como ciência da Terra não é consequente. A Geografia pode ser definida como o conhecimento do espaço terrestre, sendo ao mesmo tempo uma ciência concreta e corológica. Essa distinção entre ciências abstratas e concretas foi estabelecida por Comte. E foi Kant quem estabeleceu a distinção entre ciências sistemáticas (como a Física), cronológicas (como a História) e corológicas ou espaciais (como a Geografia). Ela procura compreender a diferenciação local dos elementos naturais e humanos. O geógrafo que não se preocupa com o conhecimento das regiões corre o perigo de ficar completamente desprovido de fundamento geográfico. O conhecimento das regiões, mesmo sem a geografia geral, continua sendo um conhecimento geográfico. Em contrapartida, a Geografia geral sem o conhecimento das regiões de maneira nenhuma pode cumprir o papel da Geografia e com frequência situa-se fora do âmbito desta disciplina. Paul Vidal de La Blache (1913) → a Geografia tem como missão investigar como as leis físicas ou biológicas que regem o globo se combinam e se modificam ao aplicarem-se às diversas partes da superfície terrestre. A geografia tem como missão especial estudar as expressões cambiantes que existem nos diversos lugares [...]. A Terra é o domínio do Homem. Mas é preciso que a humanidade conheça o seu domínio para dele desfrutar e para fazer-se valer. A Geografia tem com função ensinar isso. TÓPICO 4 | MAS AFINAL, QUAL É O OBJETO DE ESTUDO DA GEOGRAFIA? 67 Richard Hartshorne (1939) → a Geografia, tal como a História, é essencial para a compreensão total da realidade. Elas se assemelham na medida em que ambas são ciências integradoras e interessadas no estudo do mundo. Existe, portanto, uma relação universal e mútua entre elas, inclusive se suas bases de integração são num certo sentido opostas - a Geografia em função dos espaços terrestres e a História em função dos períodos de tempo - , a interpretação das configurações geográficas atuais requer certo conhecimento do desenvolvimento histórico. Da mesma maneira, a interpretação dos acontecimentos históricos requer certo conhecimento do seu contexto geográfico. A Geografia estuda as diferenciações entre as áreas da superfície terrestre e, por conseguinte seleciona os fenômenos a serem considerados em função do seu significado geográfico. Ao estudar a inter-relação entre esses fenômenos (físicos e humanos), a Geografia depende em primeiro lugar da comparação de mapas que representam a expressão regional dos fenômenos individuais, ou dos fenômenos inter-relacionados. Karl Troll (1950) → a Geografia encontrou um objeto próprio através do estudo das paisagens. É um objeto que relaciona as ciências naturais, as humanas e socioeconômicas. Na literatura geográfica alemã foi S. Passarge o primeiro que usou a denominação 'geografia da paisagem' e, desde 1913, propôs em várias obras o conceito de 'ciência da paisagem'. A palavra alemã 'Landschaft' (paisagem) existe há mais de mil anos e teve uma interessante evolução linguística. É um conceito presente na ciência e na arte. Na ciência, somente a geografia deu um uso a esse conceito e o transformou num objeto de estudos. A partir daí o movimento de proteção da natureza e o paisagismo cunharam os conceitos de proteção, conservação e criação da paisagem. Podemos distinguir o aspecto fisionômico (diz respeito ao espaço como uma totalidade) ou formal da paisagem do seu aspecto fisiológico (refere-se à interação entre todos os geofatores: os naturais, os econômicos e os culturais) ou funcional. Pierre George (1964) → a Geografia é uma ciência humana. O espaço terrestre é objeto de estudo geográfico na medida em que é, sob uma forma qualquer, um meio de vida ou uma fonte de vida, ou uma indispensável passagem para aceder a um meio de vida ou a uma fonte de vida. A Geografia aparece assim como uma ciência do espaço em função do que ele oferece ou fornece aos homens. Como ciência do espaço, ela é chamada a fazer balanços do que representa globalmente esse espaço para os homens que aí vivem. A Geografia compartilha com as ciências da Terra a característica de ciência do espaço, mas não tem os mesmos objetivos que elas. Para situar as coletividades humanas em seu quadro, empresta às ciências da Terra seus resultados, se necessário seus métodos. Mas é mais sintética que elas. A Geografia é o resultado e o prolongamento da História. O objetivo dos métodos geográficos é o conhecimento de 'situações'. Uma situação é a resultante num dado momento - que é por definição, em Geografia, o momento presente - de um conjunto 68 UNIDADE 1 | A GEOGRAFIA COMO CIÊNCIA de ações que se contrariam, se moderam ou se reforçam e sofrem os efeitos de acelerações, de freios ou de inibições por parte dos elementos duráveis do meio e das seqüelas das situações anteriores. O estudo de uma situação pode proceder de uma concepção contemplativa ou de uma concepção ativa [...] Assim definida, a Geografia se apresenta como uma imagem 'instantânea' do mundo. Yi-Fu Tuan (1974) → a Geografia é o estudo da Terra como morada da humanidade. A superfície terrestre é extremamente variada. Mesmo um conhecimento casual com sua geografia física e a abundância de formas de vida muito nos diz. Mas são mais variadas as maneiras como as pessoas percebem e avaliam essa superfície. Duas pessoas não veem a mesma realidade [...]. O termo topofilia associa sentimento com lugar. O estudo da percepção, as atitudes e dos valores do meio ambiente é extraordinariamente complexo. A cultura e o meio ambiente determinam em grande parte quais os sentidos são privilegiados. No mundo moderno tende-se a dar ênfase à visão em detrimento dos outros sentidos; o olfato e o tato, principalmente, por requererem proximidade e ritmo lento para funcionar e por despertarem emoções. A Geografia fornece necessariamente o conteúdo do sentimento topofílico. Os paraísos têm certa semelhança familiar porque os excessos da Geografia (muito quente ou muito frio, muito úmido ou muito seco) são removidos. Yves Lacoste (1976) → todo mundo acredita que a Geografia não passa de uma disciplina escolar e universitária maçante e simplória, cuja função seria fornecer elementos de uma descrição 'desinteressada' do mundo. A despeito das aparências cuidadosamente mantidas, os problemas da Geografia interessam a todos os cidadãos. Pois a Geografia serve, em princípio, para fazer a guerra. Isso não significa que ela sirva apenas para conduzir operações militares. Ela serve também para organizar territórios, para melhor controlar os homens sobre os quais o aparelho de Estado exerce a sua autoridade. A Geografiaé, desde o início, um saber estratégico estreitamento ligado a um conjunto de práticas políticas e militares [...] A fraqueza da análise marxista na Geografia não é surpreendente. Existe um silêncio, um 'branco' na obra de Marx no que diz respeito aos aspectos espaciais. Quanto mais Marx organiza o seu raciocínio com referência constante ao tempo e à história, mais ele se mostra indiferente aos problemas do espaço. Esse pouco interesse de Marx em relação aos problemas geográficos tem, ainda hoje, graves consequências. Para os marxistas o essencial da argumentação política se define em relação ao tempo, se expressa em termos históricos. Só raramente se faz referência ao espaço e, ainda assim, de uma forma muito alusiva e negligente. É, contudo o espaço o domínio estratégico por excelência, o terreno onde se defrontam as forças em presença e onde se travam as lutas. TÓPICO 4 | MAS AFINAL, QUAL É O OBJETO DE ESTUDO DA GEOGRAFIA? 69 Neste contexto, você pôde perceber que abarcamos pontos de vista clássicos (Estrabão, Ptolomeu, Verenius e Kant), pontos de vistas modernos (Humboldt, Ritter, Mackinder, Kropotkin, Hettner, La Blache, Hartshorne, Troll e George), pontos de vistas radicais, críticos ou humanistas (Tuan e Lacoste). É evidente que outros autores, inclusive personagens que não tinham domínio sobre Geografia expressaram seu pensamento sobre essa ciência, a exemplo de Napoleão Bonaparte com sua celebre frase “a política de um Estado depende da sua geografia". Definir o objeto de estudo da Geografia não é fácil, aliás, é uma questão que percorreu séculos e, ainda hoje a divergências sobre essa questão. Albert Einstein antes de optar pelo curso de física pensava em fazer Geografia, contudo, percebeu que era uma ciência complexa e difícil, o que levou a desistir de seu sonho de ser geógrafo. É importante destacar que a obra publicada por Yves Lacoste em 1976, “A Geografia - Isso Serve em Primeiro Lugar, para Fazer a Guerra”, apesar de ter sido muito criticada trouxe à tona a questão: a quem serve a Geografia? Isso porque, quando esteve no Vietnã, Lacoste publicou artigos sobre a geomorfologia das planícies aluviais de Hanói, bem como denunciou a estratégia dos americanos no que tange ao fato de bombardear os diques vietnamitas. ATENCAO autoativida de Dos autores apresentados, qual dos objetos de estudo da Geografia você considera o ideal para definir essa ciência? _________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________ 3 O CARÁTER SOCIAL DA CIÊNCIA GEOGRÁFICA Embora não tendo a definição exata da Geografia, podemos classificá-la como uma ciência social, pois há uma grande preocupação com a formação das sociedades bem como os tipos de intervenções realizadas por elas. Para muitos autores a sociedade é o sujeito e a natureza o objeto. O caráter social da Geografia pode ser entendido, ou melhor, tem merecido importância, pois cada sociedade 70 UNIDADE 1 | A GEOGRAFIA COMO CIÊNCIA gera uma forma diferente de relação espacial e/ou formação espacial. Isso porque é a sociedade quem determina onde, quando e como vai produzir ou transformar o seu espaço geográfico. É evidente que a natureza tem suas próprias vontades, contudo, a sociedade irá transformá-la ou destruí-la. Assim, compete à Geografia no que tange ao estudo das relações entre a sociedade e a natureza, examinar e analisar a forma de atuação da sociedade, sendo capaz de criticar e julgar os métodos utilizados bem como indicar formas que possibilitem o equilíbrio entre o social e o natural. Para isso teremos a contribuição das várias áreas da Geografia (política, econômica, regional, física, rural, urbana, cartográfica, cultural, dentre outras). No entanto, não é tão simples assim, pois a Geografia enquanto ciência social está diretamente implicada nas transformações que ocorrem nas sociedades principalmente nos dias de hoje, em que estas sociedades estão cada vez mais globalizadas, em que os avanços tecnológicos e a circulação de mercadorias são eminentes as desigualdades sociais são cada vez mais crescentes, as disputas por território perduram, dentre outros. Ou seja, a Geografia em seu caráter social precisa considerar todos os aspectos da relação homem/meio. Assim, a Geografia defronta-se com o grande desafio de entender o espaço geográfico em um contexto. Isto é bastante complexo. Você muito provavelmente já deve ter percebido a complexidade da ciência geográfica e também a sua importância não apenas social. Antes de efetuarmos a leitura da próxima seção gostaríamos que fizesse uma reflexão diante de todo o estudo já realizado até aqui analisando a importância do ensino da Geografia. Por que ensinar a Geografia? Aproveite o espaço que segue para tentar esboçar o seu ponto de vista. ________________________________________________________________ ________________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ 4 O ENSINO DA GEOGRAFIA E SUA IMPORTÂNCIA Antes de abarcarmos sobre a importância do ensino da Geografia, gostaríamos de elencar alguns pontos sobre ensino desta disciplina. Conforme destaca Cavalcanti (2005) se fizermos um balanço geral de renovação da Geografia (se necessário retome a leitura do Tópico 2) nas últimas décadas, duas questões precisam ser destacadas devido a sua importância: os modestos efeitos na prática de ensino dos professores de Geografia, comparados com questionamentos, análises e propostas “renovadas” feitos em nível teórico, e a reflexão dessa prática a partir de uma referência pedagógico-didática incipiente. TÓPICO 4 | MAS AFINAL, QUAL É O OBJETO DE ESTUDO DA GEOGRAFIA? 71 A primeira pode ser explicada (em parte) pelas condições precárias do trabalho nas escolas que dificultam o investimento dos professores no seu crescimento intelectual, além da fragilidade dos programas de formação continuada e/ou capacitação dos docentes. (CAVALCANTI, 2005). Quanto à segunda questão, das propostas de ensino de Geografia, persiste a crença de que para ensinar bem basta o conhecimento do conteúdo da matéria enfocado criticamente, ou seja, para que o ensino da Geografia contribua para a formação de cidadãos críticos e participativos na sociedade, bastaria o professor trabalhar em sala de aula trabalhar com conteúdos críticos. (CAVALCANTI, 2005). Apesar da Geografia ao longo principalmente das últimas décadas ter sofrido renovações epistemológicas, ao que parece no que tange ao seu ensino em sala de aula continua engessada num modelo didático-pedagógico tradicional. Numa nova proposta de ensino, precisamos ir além do ensino do conteúdo. Vesentini (1987, p. 78), coloca que o conhecimento acadêmico precisa ser “reatualizado, reelaborado em função da realidade do aluno e do seu meio [...] não se trata nem de partir do nada e nem de simplesmente aplicar no ensino o saber científico; deve haver uma relação dialética entre esse saber e a realidade do aluno”. Assim, o professor não seria um mero reprodutor, mas um criador. Essa é uma questão que há muitotempo se discute no ensino, não apenas na Geografia, mas também nas demais áreas. Cavalcanti (2005) pontua que cada vez mais os estudos sobre o ensino da Geografia vêm ampliando as reflexões feitas no campo da Pedagogia e da Didática. Para este mesmo autor (2005, p. 22), “se por um lado a transformação na prática de ensino não ocorre em função de nossas reflexões teóricas, com elas as possibilidades dessa transformação ficam potencializadas desde que sejam, efetivamente, reflexões coladas aos imperativos da prática”. Mas que tipo de Geografia é apropriada para o século XXI? É lógico que não é aquela tradicional baseada no modelo “A Terra e o Homem”, onde se memorizavam informações sobrepostas [...]. E também nos parece lógico que não é aquele outro modelo que procura “conscientizar” ou doutrinar os alunos, na perspectiva de que haveria um esquema já pronto de sociedade futura [...] pelo contrário, uma das razões do renovado interesse pelo ensino da Geografia é que, na época da globalização, a questão da natureza e os problemas ecológicos tornaram-se mundiais ou globais, adquiriram um novo significado. [...] O ensino da Geografia no século XXI, portanto, deve ensinar – ou melhor, deixar o aluno descobrir – o mundo em que vivemos, com especial atenção para a globalização e as escalas local e nacional, deve enfocar criticamente a questão ambiental e as relações sociedade; natureza [...], deve realizar constantemente estudos do meio [...] e deve levar os educandos a interpretar textos, fotos, mapas, paisagem. (VESENTINI, 1995, p. 15-16). Sim, caro acadêmico, precisamos permitir que o aluno conheça o mundo onde está inserido, compreenda e saiba interpretar o espaço geográfico. Na visão de Castrogiovanni e Goulard (1998) a Geografia, sobretudo, enquanto disciplina 72 UNIDADE 1 | A GEOGRAFIA COMO CIÊNCIA escolar deve levar o aluno a entender o espaço, entender como as sociedades historicamente transformam a base territorial a partir de seus interesses e contradições, entender como se apropriam dos recursos naturais que são desigualmente distribuídos, entender que a territorialidade implica a localização, orientação e representação dos elementos socioeconômicos e naturais. Mas, qual a importância de estudar a Geografia? A abordagem de Castrogiovanni e Goulard mencionada acima já seria suficiente para responder a esta pergunta. Contudo, cabe destacar ainda três razões que procuram responder a referida pergunta conforme pontua Callai (1999): para conhecer o mundo e obter informações; para analisar e tentar explicar o espaço produzido pelo homem e para complementar a formação do cidadão. Callai (1999) ainda destaca que o ensino da Geografia deve possibilitar que o aluno se perceba enquanto sujeito do espaço que estuda e também perceba os fenômenos que ali ocorrem são resultados da vida e do trabalho dos homens e estão inseridos num processo de desenvolvimento. O ensino da Geografia deve permitir que os alunos compreendam as inter-relações da sociedade com a natureza, bem como compreendam que suas ações individuais ou mesmo coletivas poderão gerar consequências não apenas para a sociedade, mas também para a natureza. Na verdade, um dos grandes desafios do ensino da Geografia é torná-la uma disciplina interessante, ou melhor, fascinante. Para isso o professor precisa primeiramente entender, conhecer melhor o que é a Geografia, os principais conceitos e sua função como disciplina escolar. O material didático e a metodologia sem dúvida precisam ser atrativos, dinâmicos e atualizados. Sabemos das dificuldades enfrentadas por grande parte dos professores do nosso país principalmente das escolas públicas, no que tange aos recursos didático-pedagógicos, dentre outros. Contudo, o professor precisa ser criativo, precisa levar em conta a importância do ensino da Geografia para que possamos formas futuros cidadãos comprometidos com a sociedade onde vivem comprometidos com o mundo. Independente da série ou mesma da disciplina a ser ministrada, você como futuro professor (caso ainda não seja) como atuaria, ou que método e/ou técnica utilizaria para tornar uma aula mais interessante? Reflita. UNI Nesta unidade, procuramos apresentar para você um pouco do universo da ciência geográfica, sua gênese e evolução. A partir da próxima unidade, que tal aprendermos e ensinarmos a Geografia? TÓPICO 4 | MAS AFINAL, QUAL É O OBJETO DE ESTUDO DA GEOGRAFIA? 73 LEITURA COMPLEMENTAR A GEOGRAFIA QUE SE ENSINA E A GEOGRAFIA NECESSÁRIA: PRESSUPOSTOS E DESEJOS Melo et al., (2010) Os acontecimentos sociais, científicos e tecnológicos dos últimos tempos têm transformado o espaço geográfico global e local. Apesar de esses acontecimentos incluírem significativos avanços para a humanidade, percebem-se, ainda, nesse início de século XXI, expressivas desigualdades sociais e econômicas, que promovem a exclusão de parcelas cada vez maiores das populações, quer pela imposição de restrições econômicas, quer pela discriminação cultural, em contraste com o enriquecimento e a elitização de minorias privilegiadas. Essas constatações têm exigido que os profissionais da educação repensem sua ação na escola, compreendida como lugar específico de formação das pessoas. A Geografia é uma ciência comprometida em tornar o mundo compreensível, explicável e passível de transformações pelas sociedades. O ensino da Geografia, por conseguinte, deve levar os alunos a compreender melhor a realidade na qual estão inseridos, possibilitando que nela interfiram de maneira consciente e propositiva. Ainda que esse seja um desejo expresso pela maioria dos professores de Geografia no sistema escolar da Prefeitura Municipal de Vitória, as dificuldades geradas pelas deficiências da formação inicial e continuada; as falhas presentes na infraestrutura escolar e as condições vividas pelos alunos, nem sempre propícias à aprendizagem, ainda provocam fragilidades no ensino de Geografia. Assim, a Geografia professada nem sempre é aquela vivida na sala de aula. O uso do livro didático, como recurso proeminente na metodologia de ensino, propicia a cristalização de atividades de reprodução de definições de processos da dinâmica da natureza e da sociedade, como se essa apropriação de informações, por si só, se constituísse em construção de conhecimento geográfico. A utilização das novas tecnologias da informação como meras fornecedoras de dados e de informações acaba por produzir procedimentos desvinculados do raciocínio geográfico e muito próximos da modernidade competitiva, frouxa de ética e de criticidade. Trabalhos de pesquisa com uso da rede de informática acabam se reduzindo à antiga prática de compilação de textos (de outrem) de livros e de enciclopédias. As vantagens do uso do computador, disponível na escola ou, às vezes, na casa dos alunos, se esvaem na manipulação da máquina ou no domínio de seus recursos, perdendo-se as possibilidades de aprendizagens integradas entre a tecnologia e a Geografia, na leitura e na intervenção sobre o mundo. 74 UNIDADE 1 | A GEOGRAFIA COMO CIÊNCIA As representações dos saberes geográficos por meio dos mapas, gráficos, tabelas e desenhos, entre outras expressões da linguagem geográfica, perdem seu valor de ensino/aprendizagem quando considerados apenas para ilustração, reprodução e identificação de dados, sem a correspondente análise e utilização crítica e operatória. Nesse aspecto, o livro didático e o computador contribuem como aparatos que fornecem o material informativo, mas precisam ser trabalhados de maneira criativa, crítica e interativa. É possível observar que as práticas, às vezes, se afastam do discurso dosprofessores, caracterizando a fragmentação entre a teoria estudada e a prática vivida. Outras vezes as práticas se tornam reflexivas e produzem conquistas de novos momentos de aprendizagem e, consequentemente, de novas sistematizações teóricas do saber pedagógico. Na distinção entre as práticas docentes reconhecidas como passíveis de superação e aquelas consideradas desejáveis, o grupo de Geografia concorda com Cavalcanti (2003, p. 195) que: para haver um ensino de Geografia com bases críticas, é necessário que haja um professor que exerça o papel de mediador desse processo, com um determinado tipo de mediação – que requer domínio de conteúdos, pensamento autônomo para formular sua proposta de trabalho, sensibilidade para dirigir o processo em todas as etapas e nos diferentes momentos para o aluno. Praticando a mediação assim descrita, o professor oportunizará o estreitamento das relações das especificidades da Geografia escolar com aquelas produzidas pelas outras áreas de saber, ampliando e aprofundando condições de aproximação entre o cotidiano do aluno e a sistematização de suas aprendizagens. Para que o professor deste sistema de ensino possa aprimorar essas suas características, torna-se imprescindível a sistematização da formação continuada e o atendimento de outras demandas da categoria. A concepção de professor na atualidade inclui exigir desse profissional habilidade e capacidade de pensar o espaço a partir do seu lugar de vivência, mas ampliando o seu olhar investigativo para além do horizonte, para descobrir o mundo. Sua mediação entre o conhecimento, o espaço vivido e o ser aprendente exige dele uma metodologia de trabalho que permita ao aluno construir e exercer sua cidadania. Para garantir a construção de uma prática pedagógica voltada para a formação global do educando, o grupo apoiou-se em uma filosofia sócio-histórica, concebendo o aluno como sujeito possuidor de uma história de vida. Por isso, considera-se importante que os conhecimentos prévios dos alunos sejam resgatados para que suas aprendizagens sejam contextualizadas, permitindo- lhes não apenas perceber as questões socioculturais e a dinâmica da natureza, mas TÓPICO 4 | MAS AFINAL, QUAL É O OBJETO DE ESTUDO DA GEOGRAFIA? 75 também compreendê-las, sabendo efetuar uma forma singular de pensar sobre a proposta de ações coletivas das sociedades em relação ao espaço geográfico. Cabe ao professor de Geografia selecionar as abordagens metodológicas para o ensino mais adequadas para os alunos em relação à sua faixa etária, ao momento da escolaridade em que se encontram e às capacidades consideradas desejáveis para que eles desenvolvam. As condições de vivência do aluno precisam ser consideradas para valorização dos saberes que ele traz de suas experiências na Geografia de sua comunidade. O aluno dos tempos atuais difere daquele projetado nos cursos de formação de professores e, até mesmo, daquele que um dia cada professor foi em sua história de vida. O aluno de hoje se insere numa sociedade eivada por impactantes processos de informação e comunicação, que trabalham com linguagens rápidas, segmentos curtos de ideias e interações superficiais. Em contraste com as práticas docentes usuais, que são exigentes em atenção e em silêncio, favorecendo a inatividade e a reprodução, o aluno se sente entediado, disperso e resistente. A Geografia escolar, quando baseada no modelo teórico-positivista, promove nos alunos habilidades de reprodução, de localização e de identificação com intenções acríticas e descontextualizadas, o que não se coaduna com as expectativas de aprendizagens dos jovens de hoje. Não deveria causar espanto, portanto, o desinteresse e a apatia ou as manifestações de insatisfação que eles apresentam em resposta a ações docentes nessa perspectiva. Considerando, assim, a Geografia, professada e desejada pelos professores da área, os pressupostos metodológicos que norteiam essa proposta apontam para: a) a vivência escolar voltada para o desenvolvimento da cidadania; b) a valorização do espírito crítico e questionador do aluno; c) o aproveitamento do conhecimento prévio do aluno na organização espacial do local de seu cotidiano; d) o trabalho de construção de conceitos básicos sobre o meio ambiente, estimulando a compreensão da produção social em consonância com a sustentabilidade do planeta Terra; e) o desenvolvimento do respeito e da convivência com as diferenças existentes, desconstruindo quaisquer tipos de discriminação entre as pessoas, favorecendo o exercício do multiculturalismo e a inserção de educandos com necessidades educacionais especiais no meio escolar; f) a pesquisa e a prática de diferentes formas de ação docente que possibilitem a concretização de uma sociedade mais justa e democrática. Esses pressupostos devem estar presentes em todas as etapas da escolaridade, objetivando mostrar ao aluno que cidadania é também o sentimento de pertencer a uma realidade na qual as relações entre a sociedade e a natureza formam um todo integrado – constantemente em transformação, produzindo-se e (re)produzindo-se. 76 UNIDADE 1 | A GEOGRAFIA COMO CIÊNCIA No dizer de Santos (1987, p. 75), essa intencionalidade de ensino é expressa no conceito de espaço geográfico, visto por ele como um conjunto indissociável de sistema de objetos (redes técnicas, prédios, ruas) e de sistemas de ações (organização do trabalho, produção, circulação, consumo de mercadorias, relações familiares cotidianas) que procura revelar as práticas sociais dos diferentes grupos que nele produzem, lutam, sonham, vivem e fazem a vida caminhar. No ensino da Geografia, portanto, professores e alunos deverão procurar trabalhar com o entendimento de que sociedade e natureza constituem a base material ou física com a qual o espaço geográfico é construído e organizado, com desigualdades e contradições, a partir das relações sociais e das relações de produção. Dessa forma, o aluno-cidadão em formação deverá perceber-se como integrante de uma sociedade, (re)construída ao longo das gerações, compreendendo processos da dinâmica espacial, reconhecendo-se como agente social capaz de agir e intervir na Geografia do seu lugar de vivência, cujas consequências podem fazer diferença no contexto global. FONTE: MELO, E. C. L. de et al. Geografia. Disponível em: <http://www.vitoria.es.gov.br/ arquivos/20100218_ens_fund_dir_geografia.pdf>. Acesso em: 24 nov. 2010. 77 RESUMO DO TÓPICO 4 Neste tópico você estudou que: • Definir a Geografia não fácil, pois assim como as demais ciências sociais, não há ciências estanques, com objetivos bem delimitados. • Para Humboldt, a Geografia é uma ciência sintetizadora, que conecta o geral com o especial através do levantamento, do mapeamento e da ênfase no regional. Para ele, a Geografia se ocupa da influência que o meio físico exerce sobre o Homem e procura interligar o estudo da natureza física com o estudo da natureza moral, para se chegar a uma visão harmonizante entre a sociedade e a natureza. • Para Ritter, a Geografia não é simplesmente reunir e elaborar informações sobre a Terra ou as regiões, como faziam seus predecessores, mas sim assinalar as “leis gerais” que explicam a diversidade natural, mostrar a sua conexão com qualquer fato singular e indicar numa perspectiva histórica a perfeita unidade e harmonia que existe, por trás da aparente diversidade e capricho que prevalece no planeta, entre a natureza e o homem. • Durante muito tempo a Geografia foi definida como uma ciência que simplesmente fazia descrições da superfície da Terra. • No final do século XIX e iníciodo século XX, Emanuel de Martonne define a Geografia como a ciência que estuda a distribuição dos fenômenos físicos, biológicos e humanos pela superfície da Terra. • Muitos autores definem a Geografia como uma ciência que estuda as relações entre a sociedade e a natureza. • Não há consenso entre os autores sobre o objeto de estudo da ciência geográfica. Alguns autores consideram a Geografia como o estudo da superfície terrestre, outros a definem como o estudo da paisagem, tem os que veem na Geografia o estudo do espaço geográfico, outros a individualidade dos lugares ou ainda a diferenciação de áreas e o estudo das relações entre a sociedade e a natureza. • Embora não temos a definição exata da Geografia, podemos classificá-la como uma ciência social, pois há uma grande preocupação com a formação das sociedades bem como os tipos de intervenções realizadas por elas. Para muitos autores a sociedade é o sujeito e a natureza, o objeto. • A Geografia enquanto ciência social está diretamente implicada nas transformações que ocorrem nas sociedades, principalmente, nos dias de hoje, que as sociedades estão cada vez mais globalizadas, os avanços tecnológicos e 78 a circulação de mercadorias são eminentes, as desigualdades sociais são cada vez mais crescentes, as disputas por território perduram, dentre outros. • Apesar de a Geografia ao longo principalmente das últimas décadas ter sofrido renovações epistemológicas, ao que parece, no que tange ao seu ensino em sala de aula, continua engessada num modelo didático-pedagógico tradicional. O ensino da Geografia precisa ir além do ensino do conteúdo. • A Geografia, sobretudo, enquanto disciplina escolar, deve levar o aluno a entender o espaço, entender como as sociedades historicamente transformam a base territorial a partir de seus interesses e contradições, entender como se apropriam dos recursos naturais que são desigualmente distribuídos, entender que a territorialidade implica a localização, orientação e representação dos elementos socioeconômicos e naturais. • O ensino da Geografia deve permitir que os alunos compreendam as inter- relações da sociedade com a natureza, bem como compreendam que suas ações individuais ou mesmo coletivas poderão gerar consequências não apenas para a sociedade, mas também para a natureza. • Um dos grandes desafios do ensino da Geografia é torná-la uma disciplina interessante, ou melhor, fascinante. Para isso o professor precisa primeiramente entender, conhecer melhor o que é a Geografia, os principais conceitos e sua função como disciplina escolar. O material didático e a metodologia sem dúvida precisam ser atrativos, dinâmicos e atualizados. O professor precisa ser criativo, precisa levar em conta a importância do ensino da Geografia para que possamos formas futuros cidadãos comprometidos com a sociedade onde vivem comprometidos com o mundo. 79 AUTOATIVIDADE 1 Observe a charge a seguir: FIGURA 19 – CHARGE FONTE: ELIACHAR, Leon. O homem ao meio. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1979, p. 189. A seu ver, existe relação entre a mensagem da charge com a Geografia? Justifique sua resposta. __________________________________________________________________ __________________________________________________________________ __________________________________________________________________ __________________________________________________________________ __________________________________________________________________ __________________________________________________________________ __________________________________________________________________ 2 Como autoatividade você deverá preparar uma aula sobre um tema à sua escolha relacionado à disciplina de Geografia e socializar com a turma. Procure preparar uma aula bem criativa. Sabemos que você consegue. No Material de Apoio desta disciplina, você encontrará um modelo de Plano de Aula. 81 UNIDADE 2 APRENDER E ENSINAR GEOGRAFIA OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS A partir desta unidade, você será capaz de: • relembrar alguns aspectos gerais de formação, composição e estrutura do nosso planeta; • compreender o processo da alfabetização cartográfica, bem como sua importância no contexto de ensino aprendizagem; • aplicar no ensino da Geografia as noções espaciais para que o indivíduo aprenda a se localizar e saiba localizar um determinado ponto ou lugar da superfície terrestre; • interpretar e saber efetuar a leitura dos mapas nas suas diferentes linguagens cartográficas; • compreender que as diferentes paisagens são resultado da vida em sociedade; • entender que o lugar onde vivemos é o espaço repleto de significações, é a nossa identidade espacial; • verificar o território como um espaço definido e delimitado por e a partir de relações de poder, e que existem diferentes tipos de territórios; • compreender que o espaço geográfico traduz a relação entre o ser humano e seu meio; • possibilitar por meio do ensino da Geografia que a criança compreenda o mundo em que vive Esta unidade está organizada em três tópicos, sendo que em cada um deles, você encontrará atividades para uma maior compreensão das informações apresentadas. TÓPICO 1 – APRENDENDO A LER O MUNDO TÓPICO 2 – OS CAMINHOS E DESCAMINHOS DO ENSINO DA GEOGRA- FIA: A BUSCA POR UMA NOVA GEOGRAFIA TÓPICO 3 – O ENSINO DA GEOGRAFIA SEGUNDO OS PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS – PCN 82 83 TÓPICO 1 APRENDENDO A LER O MUNDO UNIDADE 2 1 INTRODUÇÃO No estudo da Unidade anterior, você pôde conhecer o contexto histórico da ciência geográfica e sua evolução ao longo dos séculos. No último tópico, discutimos sobre o objeto de estudo da Geografia, apesar de não termos uma definição exata, destacamos a importância desta ciência, sobretudo no contexto escolar. Neste tópico, vamos aprender e/ou esclarecer alguns dos conceitos básicos da Geografia para que possamos ensinar com clareza nossos alunos e mais do que isso para que os alunos realmente compreendam o verdadeiro sentido desta ciência. Nosso desejo é fazer com que os alunos consigam aprender a ler o mundo através desta fascinante disciplina que é a Geografia. Essa leitura de mundo já pode ser compreendida no início da escolarização das nossas crianças. Uma maneira de efetuar isso é através da leitura do espaço que de modo geral representa a história da humanidade. Nesse sentido, a leitura da cartografia é fundamental para entender as representações e formações territoriais. Contudo, a leitura de mundo não pode ser resumida apenas na leitura dos mapas, mas sim da leitura do nosso planeta no que tange à compreensão de suas transformações e/ou produções dos lugares, das paisagens, dos territórios, à compreensão das relações entre a sociedade e a natureza, e à compreensão de que as nossas atitudes cotidianas exercem influência no nosso planeta. “É no cotidiano da própria vivência que as coisas vão acontecendo e, assim, configurando o espaço, dando feição ao lugar”. (CALLAI, 2005, p. 234). Como diria Santos (2000, p. 114), um lugar que “não é apenas um quadro de vida, mas um espaço vivido, isto é, de experiência sempre renovada, o que permite, ao mesmo tempo, a reavaliação das heranças e a indagação sobre o presente e o futuro. A existência naquele espaço exerce um papel revelador sobre o mundo”. Assim, pensar o papel do ensino da Geografia na Educação Básica é fundamental para que as crianças possam compreender o mundo onde vivem. Você concorda? Concentre-se e bom estudo! UNIDADE 2 | APRENDER E ENSINAR GEOGRAFIA 84 2 O PLANETA TERRA Você realmente conhece o seu planeta? Saberia dizera idade aproximada da Terra, qual a sua forma, seu tamanho, seu peso, sua estrutura? Se a resposta for sim, parabéns! Do contrário, precisamos esclarecer esses questionamentos, pois “nossas crianças” são muito curiosas e certamente vão lhe fazer estas e muitas outras perguntas. Por isso decidimos fazer algumas considerações gerais sobre os aspectos físicos do planeta Terra. Atualmente, sabemos que a Terra tem aproximadamente 4,5 e 4,6 bilhões de anos, mas a busca pela origem do Universo e de nosso próprio planeta ainda é um mistério. A explicação científica mais aceita é a teoria do Big Bang (grande explosão), que considera o início do Universo entre 13 a 14 bilhões de anos a partir de uma explosão cósmica. Desde aquele instante da explosão, o Universo expandiu-se e diluiu-se para formar galáxias e estrelas. Contudo, ainda pairam muitas dúvidas sobre a origem do universo. O que se sabe é que desde a origem até o seu estágio atual a Terra passou por inúmeras transformações que hoje podem ser analisadas e interpretadas a partir da disposição das camadas de rochas e dos fósseis nelas encontradas. Estas, por sua vez, representam registros importantes dos diversos acontecimentos que ocorreram ao longo da idade geológica da Terra. Para melhor compreender os principais acontecimentos que marcaram a história da Terra, alguns geólogos determinaram sua sequência cronológica e, a partir desta sequência, organizaram a escala do tempo geológico que está dividida em quatro grandes categorias hierárquicas de unidade de tempo: éons, eras, períodos, épocas e idade. Aproveitando o ensejo, em que Era geológica e período nós estamos? Você está em dúvida? Observe a figura a seguir. TÓPICO 1 | APRENDENDO A LER O MUNDO 85 FIGURA 20 – ERAS GEOLÓGICAS FONTE: Disponível em: <http://fossil.uc.pt/imags/Historia_Terra.jpg>. Acesso em: 10 nov. 2010. E então, quais seriam as respostas? DICAS No site indicado, você poderá entender melhor ou mesmo trabalhar com seus futuros alunos a escala do tempo geológico numa conversão de 24 horas. Essa conversão é bem interessante. Acesse: <http://www.passeiweb.com/na_ponta_lingua/sala_de_aula/geografia/geografia_geral/ formacao_da_terra/eras_geologicas>. O filme Era do Gelo é uma ótima dica para trabalhar esta temática com as crianças. Trabalhar as eras geológicas com as crianças é muito importante para que elas compreendam que o nosso planeta é cíclico, isso significa dizer que de tempos em tempos ele vai sofrendo modificações sem necessariamente ter sido influenciado pelo ser humano. É um processo natural, a exemplo do tectonismo, vulcanismo, das eras glaciais, dentre outros. É evidente que a partir do momento em que o ser humano passou a interferir na natureza transformando-a e, ele pode ter contribuído na ocorrência de determinados fenômenos seguidos de danos (ambientais econômicos e humanos). UNIDADE 2 | APRENDER E ENSINAR GEOGRAFIA 86 Quanto à forma da Terra precisamos fazer algumas considerações. Vejamos. Em função de a superfície terrestre ser totalmente irregular, não existem, até o presente momento, definições matemáticas concretas capazes de representá- la sem deformá-la. O modelo que mais se aproxima da forma real da Terra, e que pode ser determinado através de medidas gravimétricas, é o Geoidal e/ou Geoide (veja a figura que segue). Neste modelo, a superfície terrestre é definida por uma superfície fictícia determinada pelo prolongamento do nível médio dos mares estendendo-se em direção aos continentes. FIGURA 21 – COMPARAÇÃO ENTRE OS TRÊS MODELOS DE REPRESENTAÇÃO DA SUPERFÍCIE TERRESTRE FONTE: A Forma da Terra. Disponível em: <http://www.mundovestibular.com.br/articles/4258/1/ A-FORMA-DA-TERRA/Paacutegina1.html>. Acesso em: 10 maio 2009. Contudo, é importante destacar que como o Geoide é uma figura de características físicas complexas, os cartógrafos criaram uma figura geométrica que mais se assemelha à forma da Terra, o Elipsoide (observe na figura anterior), cujo raio equatorial é de aproximadamente 21 km maior do que o polar (observe na próxima figura), em virtude do movimento de rotação, ou seja, há um leve achatamento nos polos. (SOUZA; MÜLLER, 2009). Ademais, esta forma permite a realização dos cálculos necessários para a representação cartográfica do nosso planeta. A aceleração da gravidade varia de ponto para ponto sobre a superfície terrestre. A Terra é achatada nos polos e executa o movimento de rotação, portanto, a aceleração da gravidade em dado local resulta da soma vetorial das acelerações gravitacional ag e da centrífuga ac (ERNESTO; MARQUES, 2001). A direção da aceleração da gravidade g não é radial e sua intensidade atinge valores máximos nos polos e mínimos na região do Equador. (ERNESTO; MARQUES, 2001). Observe atentamente a figura a seguir. TÓPICO 1 | APRENDENDO A LER O MUNDO 87 FIGURA 22 – RAIO POLAR E EQUATORIAL DA TERRA FONTE: Ernesto; Marques (2001). No quadro a seguir, você encontrará várias informações e/ou curiosidades sobre o planeta Terra, inclusive respostas para aquelas perguntas que ainda não foram respondidas. Na verdade, nosso planeta é cheio de curiosidade e precisaríamos de pelo menos mais um Caderno de Estudos para abarcar todas as curiosidades. No Material de Apoio desta disciplina, você, também, encontrará muitas curiosidades sobre o nosso planeta. QUADRO 1 – ALGUNS DADOS GERAIS SOBRE O PLANETA TERRA ALGUNS DADOS GERAIS SOBRE O PLANETA TERRA Diâmetro equatorial: 12.756,28 km. Circunferência da Terra nos trópicos: 36.784 km Diâmetro polar: 12.713,5 km Circunferência da Terra nos círculos polares: 15.992 km Densidade: 5,52 Circunferência da Terra nos meridianos: 40.003 km Satélites: 1 (Lua) Velocidade orbital média: 29,79 km/segundo UNIDADE 2 | APRENDER E ENSINAR GEOGRAFIA 88 Distância ao Sol: Em torno de 150 milhões km Atmosfera: Formada basicamente de Nitrogênio 78,084%, Oxigênio 20,946%, Argônio 0,934%, Outros gases 0,036% Área total do planeta: 510,3 milhões km2 Principais movimentos da Terra: Rotação; Revolução (ou Translação); Precessão; Excentricidade da órbita; Deslocamento do Periélio; Variação da Obliquidade; Nutação; Perturbações planetárias; Movimento do Centro de Massa Terra-Lua; Movimento de marés. Área das terras emersas: 149,67 milhões km2 Glaciações: a Terra já passou, pelo menos, por 3 grandes períodos glaciais. Área dos mares e oceanos: 360,63 milhões km2 Volume das águas do planeta: 1,59 bilhões km³ Área do Oceano Pacífico: 179,25 milhões km2 Estações do ano no hemisfério sul: Verão (21/dez a 21/mar); Outono (21/mar a 21/jun); Inverno (21/jun a 23/set); Primavera (23/set a 21/dez). Área do Oceano Atlântico: 106,46 milhões km2 Pontos mais altos do planeta: Na Ásia: Everest, no Nepal/China; Na América do Sul: Aconcágua (6959 m Argentina/Chile); Na América do Norte: McKinley (6194 m Alasca); Na África: Kilimanjaro (5895 m Tanzânia); Na Europa: Monte Elbrus (5642 m Rússia). Área do Oceano Índico: 74,92 milhões km2 Extremos geográficos: Local mais chuvoso: monte Waialeale (Hawai, EUA) 11.680 mm anuais; Local mais seco: Deserto de Atacama, no Chile; Local mais quente: El Azizia, na Líbia, com 58°C; Local mais frio: Estação Vostok, na Antártica, com -89,2°C. Profundidade média dos oceanos: 3.795 m Circunferência da Terra no equador: 40.075 km FONTE: Adaptado de: DUARTE, P. A. Alguns Dados Sobre o Planeta Terra. Disponível em: <http://www.cfh.ufsc.br/~planetar/textos/terrabege.htm>. Acesso em: 10 nov. 2010. TÓPICO 1 | APRENDENDO A LER O MUNDO 89 UNI A massa ou peso da Terra é calculada mediante a lei da gravitação de Newton.Com um par de escalas sensíveis e a balança de Eätvos, os físicos podem comparar a atração da Terra à de uma bola de chumbo ou de quartzo de peso previamente conhecido. O peso da Terra por este método é de aproximadamente 5,6 sextilhões (ou 5,6 x 1021 toneladas). (POP, 2004). A densidade, conhecidos o volume e a massa, é determinada dividindo-se o peso pelo volume. Este cálculo indica uma densidade de 5,52, ou seja, 5,5 vezes mais pesada que a água. Visto que as rochas que ocorrem na superfície têm uma densidade média entre 2,7 e 3,0, o interior da Terra deve ser bem mais denso. (POP, 2004). Não poderíamos deixar de destacar a estrutura interna da Terra, pois o seu conhecimento é fundamental para que possa entender alguns fenômenos que se manifestam em sua superfície, a exemplo dos terremotos e dos vulcões responsáveis por modificações na modelada superfície terrestre. Atividades econômicas, como a mineração, também dependem do conhecimento da estrutura interna da Terra. A Terra é composta basicamente por três camadas: a crosta ou também chamada crusta terrestre corresponde à parte externa sólida da Terra (espessura aproximada de 30 a 80 km) e pode ser dividida em duas porções distintas: a crosta continental e a crosta oceânica; o manto é a camada intermediária que se localiza logo abaixo da crosta terrestre. Pode ser dividido em duas partes: manto superior e manto inferior. O núcleo constitui a zona central do planeta Terra. Com base nas propriedades físicas, é possível distinguir duas zonas: núcleo interno (sólido) e núcleo externo (líquido). Observe a figura a seguir. UNIDADE 2 | APRENDER E ENSINAR GEOGRAFIA 90 FIGURA 23 – ESTRUTURA INTERNA DA TERRA FONTE: Disponível em: <http://e-geo.ineti.pt/bds/lexico_geologico/imagens. aspx?Logo=%C2%A9%20e-Geo&SizeLogo=15&Name=figuras/estrutura_terra.png>. Acesso em: 20 nov. 2010. Agora que você conhece um pouco mais sobre o nosso planeta, precisamos conhecer alguns aspectos importantes sobre a alfabetização cartográfica. 3 A ALFABETIZAÇÃO CARTOGRÁFICA Qual o seu entendimento sobre a Cartografia? Para a Associação Cartográfica Internacional a cartografia compreende o conjunto dos estudos e das operações científicas, artísticas e técnicas que intervêm a partir dos resultados de observações diretas ou de exploração de uma documentação, em vista da elaboração e do estabelecimento de mapas, planos e outros modos de expressão, assim como de sua utilização. Ou seja, ela engloba as atividades que vão desde o levantamento de campo e da pesquisa bibliográfica até a impressão e publicação do mapa propriamente dito. Assim, muitos autores a consideram uma ciência e ao mesmo tempo uma arte e uma técnica. TÓPICO 1 | APRENDENDO A LER O MUNDO 91 A cartografia pode ser considerada como uma linguagem uma vez que a linguagem exprime, através do emprego de um sistema de signos, um pensamento e um desejo de comunicação com outrem. (JOLY, 2007). Este mesmo autor, ainda destaca que a cartografia é uma linguagem universal, no sentido em que utiliza uma gama de símbolos compreensíveis por todos, com um mínimo de iniciação. Essa iniciação deve ser iniciada nas séries iniciais do Ensino Fundamental. É onde deve ocorrer a alfabetização cartográfica. Para Simielli (2007), nas séries iniciais do Ensino Fundamental, o professor deveria trabalhar basicamente com a alfabetização cartográfica, pois esta é a fase em que a criança precisa iniciar-se nos elementos da representação gráfica para que possa posteriormente trabalhar a representação cartográfica. O professor precisa desenvolver na criança a visão cartográfica, considerando seu interesse pelas imagens, o que certamente contribuirá na alfabetização cartográfica. Assim, compete ao professor proporcionar à criança materiais como gráficos, tabelas, imagens de satélite, mapas, fotos, figuras e principalmente trabalhar de maneira lúdica, bem como explorar a linguagem visual. Todavia, é importante destacar que antes da criança entender a linguagem cartográfica (ser um leitor ou um decodificador dos signos existentes em um mapa), ela precisa ter noção de espaço e direção, precisa entender como mapear o seu espaço, precisa localizar a sua casa, o entorno de sua escola ou o caminho de sua residência até a escola. Essa iniciação a partir do espaço conhecido é fundamental na alfabetização cartográfica para que posteriormente a criança amplie seu entendimento para outros espaços (cidade, estado, país, continente). Dessa maneira, estaríamos utilizando o método indutivo (do particular para o geral). No desenvolvimento da alfabetização cartográfica, o primeiro passo importantíssimo é trabalhar a noção espacial. Mas para isso, precisamos ampliar a nossa noção de espaço. Precisamos proporcionar a nossas crianças uma maior noção de espaço. 3.1 A ALFABETIZAÇÃO ESPACIAL Segundo Callai (2005), a noção de espaço é construída socialmente e a criança vai ampliando e complexificando o seu espaço vivido concretamente. A capacidade de percepção e a possibilidade de sua representação é um desafio que motiva a criança a desencadear a procura, a aprender a ser curiosa, para entender o que acontece ao seu redor, e não ser simplesmente espectadora da vida. (CALLAI, 2005). UNIDADE 2 | APRENDER E ENSINAR GEOGRAFIA 92 Contudo, a criança já nos seus primeiros anos de vida tem certa noção do seu espaço vivido (espaço físico), vivenciado pelos seus movimentos e/ou deslocamentos através do rastejar, engatinhar, andar, procurar, dentre outros. (CASTROGIOVANNI, 2000). A criança aprende seu espaço através da maneira como o circunda e das brincadeiras que realiza. Mas é na escola que deve ocorrer a aprendizagem espacial voltada para a compreensão das formas pelas quais a sociedade organiza seu espaço. Segundo Almeida e Passini (2008), o espaço percebido não precisa mais ser experimentado fisicamente quando a criança da escola primária é capaz de lembrar perfeitamente do percurso de sua casa à escola, o que não se dava antes, pois era necessário percorrê-lo para identificar os edifícios, logradouros e ruas. Podemos dizer que a partir deste momento inicia-se o processo de compreensão da Geografia. Por isso, caro acadêmico, nas séries iniciais, o professor precisa ter a preocupação de proporcionar atividades capazes de desenvolver conceitos e noções espaciais. Aos 11-12 anos, o aluno passa a compreender o espaço concebido, sendo possível estabelecer relações espaciais entre elementos apenas através de sua representação, ou seja, é capaz de raciocinar sobre uma determinada área retratada em um mapa, sem tê-la visto antes. (ALMEIDA; PASSINI, 2008) Neste contexto, você percebeu que a criança passa por três etapas, o espaço vivido, o espaço percebido e o espaço concebido. Nascimento (2010) elaborou um quadro explicativo destacando o desenvolvimento das crianças referentes às noções espaciais acompanhando seu desenvolvimento sociocognitivo. Vejamos. TÓPICO 1 | APRENDENDO A LER O MUNDO 93 FIGURA 24 – DESENVOLVIMENTO DAS CRIANÇAS REFERENTE ÀS NOÇÕES ESPACIAIS ACOMPANHANDO SEU DESENVOLVIMENTO SOCIOCOGNITIVO FONTE: Nascimento (2010). Contudo, as etapas de desenvolvimento da criança são muito complexas e a noção de espaço pode variar de uma criança para outra. Almeida e Passini (2008, p. 28) destacam algumas características correspondentes à compreensão da noção de espaço vivido, percebido e concebido. Vejamos: • Consciência do Espaço Corporal → no processo de conscientização do espaço ocupado pelo próprio corpo, já a partir do nascimento, há dois aspectos essenciais: o esquema corporal e lateralidade. O esquema corporal é a basecognitiva sobre a qual se delineia a exploração do espaço que depende tanto das funções motoras, quanto da percepção do espaço imediato. • Relações Espaciais Topológicas Elementares → são as relações espaciais que se estabelecem no espaço próximo, usando referenciais elementares tais como: dentro, fora, ao lado, na frente, atrás, perto, longe, dentre outros. São as primeiras relações espaciais que a criança estabelece. • Relações Espaciais Projetivas e Euclidianas → na primeira, quando a criança muda sua perspectiva sobre os objetos observados (a distância – mais perto, mais longe - dos estabelecimentos de uma rua, por exemplo) passa a conservar a posição dos objetos e a alterar o ponto de vista até atingir as relações espaciais projetivas. Estas ocorem juntamente com o surgimento da noção de coordenadas que situam os objetos uns em relação aos outros e englobam o lugar do objeto e seu deslocamento em uma mesma estrutura. Isso é o que chamamos de relações espaciais euclidianas. UNIDADE 2 | APRENDER E ENSINAR GEOGRAFIA 94 E, é neste processo evolutivo de construção da noção de espaço que o professor exerce um papel fundamental. O professor deve exercer um trabalho no sentido da estruturação do espaço, pois a criança tem uma visão sincrética do mundo. Para ela os objetos e o espaço que eles ocupam são indissociáveis. A posição de cada objeto é dada em função do todo no qual ele se insere. E a criança percebe esse todo e não cada parte distintamente. Por esse motivo para crianças pequenas (até aproximadamente 6 anos), a localização e o deslocamento de elementos são definidos a partir de referencias dela, quer dizer, de sua própria posição. Essa sua percepção do espaço dificulta a distinção de categorias de localização espacial (como perto de, abaixo, no limite de etc.), tanto para situar-se como para situar os elementos de forma objetiva. Cabe ao professor ajudar o aluno a estabelecer e aclarar essas categorias para chegar a estruturas de organização espacial. (ALMEIDA; PASSINI, 2008 p. 27). O professor deve levar o aluno a ampliar os conceitos obtidos sobre o espaço, localizando-se e localizando elementos em espaços cada vez mais distantes, espaços desconhecidos. Todavia, para aprender esses espaços é preciso representá-los graficamente e, é onde entra o papel da cartografia, é o momento em que a criança começa a conhecer a linguagem cartográfica. Para isso, conforme destacam Almeida e Passini (2008), o professor precisa introduzir essa linguagem através de trabalhos pedagógicos, levando o aluno a obter cada vez mais uma estruturação e extensão do espaço em nível de sua concepção e representação. Muitas atividades poderão ser utilizadas no desenvolvimento de noções espaciais. Na Educação Infantil, por exemplo, o professor poderá aproveitar a brincadeira da “amarelinha” para que a criança tenha noção do espaço ocupado por seu corpo. Outra atividade que poderá ser utilizada nas séries iniciais é o “mapear o eu”, ou seja, mapear o seu próprio corpo com o auxílio de um colega de classe. Elaborar uma maquete da sala de aula é outra atividade muito interessante para desenvolver noções de espaço, ou até mesmo da própria escola. O professor poderá ainda percorrer com os alunos o quarteirão da escola no intuito de reconhecer o nome das ruas e suas direções, as casas, o comércio e serviço, a dimensão do terreno ocupado pela escola, dentre outros. Representar o caminho de casa até a escola também é uma atividade interessante. A caça ao tesouro é uma atividade muito legal. Como você pode perceber, existem inúmeras atividades que podem ser desenvolvidas com os alunos de forma atrativa, estimulante e interessante. No Material de Apoio desta disciplina, você encontrará detalhes de como aplicar em sala de aula as sugestões indicadas, bem como encontrará outros exemplos de atividades. Para Kozel (1996, p. 38), “na Educação Infantil e nas Séries Iniciais do Ensino Fundamental, o trabalho com o espaço acontece através de atividades envolvendo esquema corporal, brincadeiras e jogos que levam a criança a explorar o espaço e tudo o que ele contém.” TÓPICO 1 | APRENDENDO A LER O MUNDO 95 Gostaríamos de ressaltar ainda que os espaços não podem ser vistos de maneira estanque, isso é muito comum acontecer quando o professor trabalha com seus alunos na 1ª série, o bairro; na 2ª, o município; na 3ª, o Estado e na 4ª, o Brasil, por exemplo. Essa fragmentação não pode acontecer, pois são espaços que dependem entre si e se integram. Na visão de Almeida e Passini (2008, p. 46), “a interligação e a integração surgem quando se realiza a leitura do espaço humanizado e organizado pelo homem.” O que queremos dizer é que não é possível entender o espaço local sem considerar todos os outros espaços. O professor ao estudar com seus alunos o espaço local, o espaço vivido, por exemplo, deve compará-lo com os outros espaços. O estudo fragmentado dos espaços nas Séries Iniciais, bem como a ausência de atividades cognitivas, que promovam este estudo dificultam a compreensão das crianças no que concerne muitas vezes à própria noção de espaço, o localizar- se, o orientar-se e a interpretar a linguagem cartográfica. E, quando as crianças chegam às Series Finais, o professor de Geografia se depara com um grande problema, noção de espaço. Isso realmente acontece, daí a importância do professor da Educação Infantil e das séries iniciais trabalhar bem a noção de espaço com as crianças. Você, como futuro professor destas séries tem um grande desafio pela frente. Procure trabalhar muito a lateralidade das crianças para que elas consigam observar o que existe a sua volta e consequentemente começam a descentralizar a percepção de seu próprio espaço. E, como está sua noção de espaço? DICAS Um livro muito interessante e de fácil leitura que seria importante você ter acesso para saber mais sobre o que estávamos discutindo é a obra de Almeida e Passini intitulada “O Espaço Geográfico: ensino e representação”. Esta obra aborda a importância da leitura de mapas, o domínio espacial no contexto escolar e propostas de atividades. UNIDADE 2 | APRENDER E ENSINAR GEOGRAFIA 96 3.2 OS PONTOS DE ORIENTAÇÃO Trabalhar a noção de espaço é fundamental para que o aluno consiga se orientar (encontrar o rumo, a direção) e localizar (verificar o ponto onde está ou aonde ocorreu determinado fenômeno, por exemplo). Do mesmo modo, trabalhar a orientação é fundamental no processo de desenvolvimento da alfabetização cartográfica. Você sabe se orientar? Se a resposta for sim, de que maneira você se orienta? Caso você não consegue, fique tranquilo, pois existem várias maneiras de se orientar. Pode ser através da bússola, do Sol, da Lua e das estrelas. Para você ter uma ideia, a orientação através dos astros já era utilizada pelos povos antigos. Foi a partir do nascente e poente do Sol que se determinou a direção Leste e Oeste e considerando os polos Norte e Sul, foram estabelecidos os pontos cardeais. 3.2.1 Orientando-se por meio do Sol, da Lua e do Cruzeiro do Sul A direção onde o Sol nasce ou o nascente é o Leste e a direção onde o Sol de põe ou o poente é o Oeste. É evidente que o Sol não nasce nem se põe. O dia e a noite é uma consequência do movimento de rotação da Terra que leva 24 horas para dar uma volta completa ao redor de seu próprio eixo. Quando você trabalhar com as crianças, seja na Educação Infantil ou nas Séries Iniciais, é importante destacar isso. Agora você já sabe onde é o Leste e o Oeste. E como saber onde é o Norte e Sul? Estenda seubraço direito onde o Sol “nasce” (Leste), o seu braço esquerdo onde o Sol se põe (Oeste), a sua frente será o Norte e as suas costas, o Sul. A partir daí, já é possível identificar os quatro pontos cardeais (Norte, Sul, Leste e Oeste). O professor poderá levar as crianças no pátio da escola para fazer essa identificação, inclusive, seria interessante que eles traçassem no chão os pontos cardeais e a partir daí poderão dar a orientação de vários elementos presentes no pátio da escola, uma árvore, um carro, uma bicicleta, um vaso, a bandeira, dentre outros. É importante que essa atividade seja desenvolvida em outros espaços para que as crianças consigam se orientar em qualquer lugar. TÓPICO 1 | APRENDENDO A LER O MUNDO 97 FONTE: Disponível em: <http://www.eb23-cmdt-conceicao-silva.rcts.pt/sev/hgp/1.orientacao_ sol.jpg>. Acesso em: 20 nov. 2010. FIGURA 25 – PONTOS CARDEAIS E à noite é possível se orientar sem a ajuda de equipamentos? Sim, através da Lua ou do Cruzeiro do Sul. A Lua aparece e desaparece de maneira semelhante ao do Sol (na verdade está relacionado ao seu movimento de rotação, ou seja, surge no Leste e se põe no Oeste. A mesma técnica utilizada através do Sol pode ser utilizada através da Lua e do Cruzeiro do Sul. Contudo, ao se orientar pelo Cruzeiro do Sul deve-se ficar de costas para essa constelação, que será o Sul, à frente será o Norte, à direita o Leste e à esquerda será o Oeste. 3.2.2 Orientando-se por meio da bússola A bússola foi criada pelos chineses no século X e levada para Portugal por volta do século XIII. No período das grandes navegações marinhas, o uso da bússola permitiu a localização, em alto-mar das regiões Norte, Sul, Leste e Oeste. UNIDADE 2 | APRENDER E ENSINAR GEOGRAFIA 98 FIGURA 26 – BÚSSOLA FONTE: Disponível em: <http://faladeus.files.wordpress.com/2009/05/ bussola.jpg>. Acesso em: 15 nov. 2010. A bússola possui uma agulha magnetizada ou imantada apontando sempre em direção ao polo magnético (norte) da Terra. Isso ocorre porque a Terra funciona como um imenso ímã e como a bússola é feita de material imantado faz com que a ponta da agulha seja atraída pelo magnetismo da Terra. DICAS Você muito provavelmente não deve ter uma bússola e nem precisará comprá-la, poderá confeccioná-la. Ademais confeccionar uma bússola é uma prática legal que pode ser feita com as crianças. O procedimento é simples. Confira no site: <http://acienciavaiaescola. wordpress.com/2010/03/07/construcao-de-uma-bussola/>. 3.3 A ROSA-DOS-VENTOS Até agora vimos os quatro pontos cardeais (Leste, Oeste, Norte e Sul) e como podemos localizá-los. Você já ouviu falar nos pontos colaterais e subcolaterais? Saberia dizer quais são eles ou como são representados? Vejamos: TÓPICO 1 | APRENDENDO A LER O MUNDO 99 Pontos Cardeais: Leste = L ou E, ou ainda Oriental; Oeste = O ou W, ou ainda Ocidental; Norte = N, ou Setentrional ou ainda Boreal; Sul = S, ou Meridional ou ainda Austral. Pontos Colaterais: NE = Nordeste; NO = Noroeste; SE = Sudeste; SO = Sudoeste Pontos Subcolaterais: N-NO = Norte Noroeste; N-NE = Norte Nordeste; L-NE ou E = Leste Nordeste; L-SE ou E-SE= Leste Sudeste; S-SE = Sul Sudeste; S-SO = Sul Sudoeste; O-SO ou W-SO = Oeste Sudoeste; O=NO ou W-NO = Oeste Noroeste. A junção desses 16 (dezesseis) pontos de orientação vai formar a belíssima rosa-dos-ventos. Observe atentamente a posição de todos os pontos de orientação. FIGURA 27 – ROSA-DOS-VENTOS FONTE: Disponível em: <http://www.marcospaiva.com.br/images/ Rosa%20dos%20Ventos%2004.jpg>. Acesso em: 13 nov. 2010. autoativida de Agora que você já conhece todos os pontos de orientação, propomos um desafio. Observe a figura a seguir. FIGURA 28 – DESAFIO: QUAL É A LOCALIZAÇÃO? UNIDADE 2 | APRENDER E ENSINAR GEOGRAFIA 100 FONTE: A autora. Após ter observado a figura responda: a) Qual a localização (direção) do coqueiro? b) A paisagem retrata o entardecer ou o amanhecer? c) O automóvel está seguindo no sentido _______ e _______. d) A árvore está na direção ____________. e) A pessoa está indo no sentido _______ e _______. Está é uma das atividades que pode ser trabalhada com as crianças em sala de aula. A brincadeira da caça ao tesouro é uma ótima atividade para exercitar os pontos de orientação, independente da idade escolar. Conhecer e saber identificar os pontos de orientação é fundamental para que o aluno consiga compreender as coordenadas geográficas. 3.4 AS COORDENADAS GEOGRÁFICAS Eratóstenes de Cirene, no século III a. C, aperfeiçoou o sistema de coordenadas desenvolvido pelos gregos Anaximandro e Hecateu vários século antes. Eratóstenes também calculou as dimensões da Terra, bem como estabeleceu a primeira medida de sua circunferência (em relação às medidas atuais teve um erro de cálculo de 14%). Ele também confeccionou um mapa representando o mundo habitado. Na visão de Eratóstenes, a Terra tinha dois eixos perpendiculares: norte-sul e leste-oeste. Os trabalhos de Eratóstenes e do matemático e astrônomo Hiparco serviram de base para Ptolomeu desenvolver o sistema de localização, ampliando a precisão de graus e minutos (representados respectivamente por º e ‘. Posteriormente, foi ampliado TÓPICO 1 | APRENDENDO A LER O MUNDO 101 também para segundos, representado por ”). Assim surgiram as coordenadas geográficas, que nada mais são do que um sistema ou conjunto, baseado na rede geográfica (coordenadas cartesianas) formado a partir do traçado de linhas imaginárias horizontais representadas pelos paralelos e linhas imaginárias representadas pelos meridianos. Esse sistema permite a localização precisa de um determinado ponto ou lugar da superfície terrestre. Os paralelos foram traçados a partir do equador, que divide a Terra em duas partes: Hemisfério Norte e Hemisfério Sul. Alguns paralelos são denominados de Círculo Polar Ártico, Círculo Polar Antártico, Trópico de Câncer e Trópico de Capricórnio. Os paralelos correspondem às latitudes. Os meridianos foram traçados a partir do meridiano principal que é o de Greenwich, que divide a Terra em duas partes: Hemisfério Leste ou Oriental e Hemisfério Oeste ou Ocidental. Os meridianos correspondem às longitudes. Mas o que são as latitudes e longitudes? Você sabe? Vejamos. Latitude é a distância linear medida em graus (minutos e segundos) que se estende da Linha do Equador (0º) até 90º tanto para o polo norte quanto para o polo sul. Longitude é a distância linear medida em graus (minutos e segundos) que se estende do meridiano de Greenwich (0º) até 180º tanto para leste quanto para oeste. FIGURA 29 – OS HEMISFÉRIOS FONTE: Disponível em: <http://websmed.portoalegre.rs.gov.br/escolas/marcirio/coordenadas_ geograficas/imagens/meridianos2.jpg>. Acesso em: 10 nov. 2010. UNIDADE 2 | APRENDER E ENSINAR GEOGRAFIA 102 Mas, como é possível determinar as coordenadas geográficas? Para determinar um lugar qualquer na superfície terrestre por meio dos mapas você precisa verificar as coordenadas (Lat. N ou Lat. S e Long. L ou Long. O) definidas nos mesmos. Para isso, é preciso ter clareza do que é latitude e longitude. O jogo da batalha naval (determina linha e coluna para encontrar o alvo) é semelhante, contudo menos complexo. Alias é uma ótima dica para iniciar o estudo das coordenadas geográficas, no que tange à localização de um determinado ponto na superfície terrestre com os alunos. autoativida de Vejamos um exemplo. Observe na figura a seguir as coordenadas geográficas (neste caso somente em graus) e as letras destacadas. FIGURA 30 – DANDO AS COORDENADAS GEOGRÁFICAS UNI Você deve ter ficado curioso por que a escolha do nome de Greenwich como meridiano principal. Em 1794, foi criadoo Observatório de Greenwich (nome de uma cidade próxima a Londres) que dentre outras atividades se dedicava a calcular a longitude dos lugares em relação a ele. Em 1985, quando foi realizado o Congresso Internacional de Cartografia de Londres, resolveu-se convencionar que o meridiano de origem seria o do observatório. É evidente que o fato da Grã-Bretanha, na época, ser maior potencia mundial influenciou nesta escolha. FONTE: Disponível em: <http://4.bp.blogspot.com/_eMvdTkJQxOk/TCprrePaJAI/ AAAAAAAAHgA/WTrWCgpbFdA/s1600/imagem2.jpg>. Acesso em: 15 nov. 2010. TÓPICO 1 | APRENDENDO A LER O MUNDO 103 Agora vamos determinar as coordenadas geográficas do ponto A. Observe que ele está no Hemisfério Norte, ou seja, na Latitude Norte, bem como está situado no Hemisfério Oeste, ou na Latitude Oeste. Assim, suas coordenadas geográficas serão: 50º Latitude Norte e 100º Longitude Oeste. Chegou a sua vez de tentar. Dê as coordenadas geográficas dos pontos B, C e D. B _____________ e _____________ C _____________ e ______________ D_____________ e ______________ Da mesma forma você irá determinar as coordenadas geográficas nos mapas. Inclusive, pode ser trabalhado com os alunos o inverso, preestabelecer as coordenadas e pedir para identificar qual é o ponto ou lugar correspondente aquela determinada coordenada. Na 4ª série do Ensino Fundamental, já pode ser trabalhado a determinação das coordenadas geográficas. Contudo, a explicação dos paralelos e meridianos (linhas imaginárias) já pode ser feito antes, para que a criança entenda o porquê dos traçados nos mapas. E, para finalizarmos esta seção, a título de curiosidade, gostaríamos de destacar que além do sistema de coordenadas geográficas (medida em graus, minutos e segundos) existe também o sistema UTM - Projeção Universal Transversal de Mercator, cuja localização é determinada em metros. Este sistema é pouco utilizado. 4 A LEITURA DOS MAPAS NA SALA DE AULA A palavra mapa vem do latim mappa que significa toalhinha, guardanapo. Você deve se perguntar, qual é a relação com os mapas que conhecemos. Ao que tudo indica, na Antiguidade, os mapas teriam se tornado populares na medida em que os comerciantes e viajantes rabiscavam em toalhas de papel, ou seja, nos guardanapos, os percursos a serem percorridos. O mapa é considerado uma das linguagens mais antigas. Os homens das cavernas utilizavam mapas para registrar seus deslocamentos principalmente ao que se referiam as possibilidades de caça, as dificuldades com o terreno, a localização dos rios, dentre outros. Em seus mapas desenhados nas paredes das cavernas eram utilizados símbolos iconográficos sem nenhum cuidado com projeções, com escalas, com legendas, usavam sua própria linguagem (iconográfica). Quanto à representação da superfície terrestre, os mais antigos mapas conhecidos foram feitos em tábuas de argila, aproximadamente 4.000 anos pelos babilônicos e egípcios, que se baseavam na descrição dos viajantes. Observe-o. UNIDADE 2 | APRENDER E ENSINAR GEOGRAFIA 104 FIGURA 31 – MAPA BABILÔNICO – APROXIMADAMENTE 4.000 ANOS FONTE: Disponível em: <http://www.biblioteca.templodeapolo.net/ imagens/imagens/Cidades-0039-www.templodeapolo.net---Mapa- babil%C3%B4nio-do-mundo-conhecido.jpg>. Acesso em: 10 abr. 2011. O mapa corresponde a uma representação codificada e reduzida de um determinado espaço real. A informação obtida no mapa é transmitida através de uma linguagem cartográfica composta de três elementos principais: símbolos, escala e projeção. Contudo, ao ler um mapa não podemos deixar de considerar também o título (sintetiza o que está sendo representado), a orientação (a maioria indica o N), a legenda (traduz o significado dos símbolos) e as coordenadas geográficas. 4.1 SÍMBOLOS Conforme destaca Joly (2007, p. 17), “os objetos cartografados, materiais ou conceituais, são transcritos através de grafismos ou símbolos, que resultam de uma convenção proposta ao leitor pelo redator, e que é lembrada num quadro de sinais ou legenda do mapa”. Os símbolos podem ser divididos em várias categorias: sinais convencionais, sinais simbólicos, pictogramas, ideograma, símbolo regular e símbolo proporcional. Observe-os na figura a seguir. TÓPICO 1 | APRENDENDO A LER O MUNDO 105 FIGURA 32 – SÍMBOLOS CARTOGRÁFICOS FONTE: (JOLY 2007) Para representar determinados elementos nos mapas, os cartógrafos utilizam certas cores, por exemplo: a cor azul para representar a hidrografia; verde para a vegetação; marrom-castanho para relevo e solo; preto ou vermelho para representar as rodovias, ferrovias e aeroportos. Na sala de aula, é importante incentivar os alunos a utilizarem essas cores quando forem representar esses elementos na confecção de um mapa. É importante destacar também que os símbolos utilizados no mapa precisam ser legíveis e devem ser explicados na legenda para não ocorrerem erros de interpretação. 4.2 ESCALA Representar o nosso planeta (ou os seus componentes), em seu tamanho real no papel, é impossível. Para isso, precisamos reduzir o seu tamanho. Essa redução é possível através da escala. A escala de um mapa “é a relação constante que existe entre as distâncias lineares medidas sobre o mapa e as distâncias lineares correspondentes, medidas sobre o terreno”. (JOLY, 2007, p. 20). Ou seja, é a proporção entre o real e sua representação gráfica. Para você ter uma ideia, foi somente no século XVII (início das medições geodésicas) que os mapas passaram a ser representados com escalas. Na confecção de um mapa poderão ser utilizados dois tipos de escalas: a escala numérica e a escala gráfica UNIDADE 2 | APRENDER E ENSINAR GEOGRAFIA 106 4.2.1 Escala numérica Este tipo de escala é representada por uma fração cujo numerador é a medida no mapa (sempre igual a 1) e o denominador a medida correspondente ao terreno. Por exemplo: em uma escala numérica de 1:500.000 ou 1/500.000 (lê-se 1 por 500.000 ou 1 para 500.000), significa que cada centímetro do mapa (distância gráfica) equivale a 500.000 centímetros da distância real. 4.2.2 Escala gráfica Este tipo de escala representa as distâncias do terreno com uma linha reta graduada. Veja um exemplo de escala gráfica. O que isso significa na leitura de um mapa? Significa que cada centímetro do mapa equivale a 5 quilômetros de distância real (1cm=5km). É importante destacar que nas relações matemáticas estabelecidas na fórmula da escala, são observadas três propriedades básicas: pequenas, médias e grandes escalas. As escalas acima de 1:250.000 são consideradas pequenas, pois permitem poucos detalhes no mapa; as escalas entre 1:250.000 até 1:25.000 são consideradas escalas médias, muito utilizadas nos mapas topográficos e temáticos; as escalas de 1:20.000, 1:5.000, 1:500 (até a menor) são consideradas escalas grandes, pois apresentam pouca redução e muitos detalhes e, são utilizadas para representar plantas urbanas, arquitetônicas, dentre outros. ATENCAO 4.2.3 Calculando as escalas Matematicamente existem fórmulas para calcular o quanto as medidas foram reduzidas para representar uma determinada área (região, estado, país etc.), bem como para calcular a distância real de um determinado lugar. Contudo, vamos expor de maneira bem simplificada, para facilitar seu entendimento. TÓPICO 1 | APRENDENDO A LER O MUNDO 107 Se um mapa apresentar escala numérica, você saberá quantas mil vezes ele foi reduzido para representar uma determinada área. Contudo, não saberá a distância real. Do contrário, se um mapa apresentar escala gráfica, você saberá a distância real, mas não quantas vezes foi reduzido. Para resolvereste problema faça o seguinte: Digamos que você queira saber qual a distância real, cuja escala é 1:700.000. É simples, transforme a escala numérica em gráfica. Como? A escala numérica está em cm converta em km. Logo você terá 1cm = 7km, ou seja, a cada 1cm do mapa corresponde a 7km de distância real. E, se a escala for gráfica (normalmente está em km) e você quer saber quantas vezes o mapa foi reduzido, faça a conversão em cm. É possível você encontrar uma escala gráfica em metros (m). Caso não se lembre de como fazer esta conversão, consulte a escala métrica decimal disponível no Material de Apoio desta disciplina. Agora, se você quiser saber a distância real em linha reta, entre duas cidades e/ou pontos, meça com a régua a distância gráfica entre as duas cidades desejadas e multiplique pela escala. Caso a escala for numérica é melhor transformá-la em gráfica (km). Você está confuso? Vejamos um exemplo. Digamos que a distância gráfica entre duas cidades hipotéticas seja de 2cm, cuja mapa apresenta uma escala de 1:5.000.000 (1cm=50km). Qual é a distância real em linha reta? Será de 100 km (50 x 2). Tente fazer o próximo exemplo. Em um mapa cuja escala é de 1:30.000.000 e a distância gráfica entre a cidade A e a cidade B é de 1cm, qual é a distância real entre estes dois pontos? Você consegue. Se sua resposta foi 300 km, parabéns, acertou. 4.2.4 O Ensino da escala A compreensão da escala é simples, contudo exige um trabalho gradativo com as crianças. O professor ao iniciar sua conversa sobre a escala, ou o que vem a ser uma redução, poderá utilizar exemplos do cotidiano de uma criança, como os próprios brinquedos. Exemplificar a redução fazendo um comparativo com um carrinho que nada mais é do que a representação de um automóvel real, ou mesmo com uma boneca (Barby, Suzi, Polly, dentre outras) que representa uma mulher adulta é uma ótima dica para iniciar este tema. Outro bom exemplo é o globo terrestre que representa a Terra. Nesta etapa de alfabetização cartográfica, é melhor iniciar com o emprego da escala gráfica. Uma atividade lúdica para trabalhar esta temática com as crianças é uso da fotografia, ou seja, irão fotografar os espaços da sala de aula ou da escola com uma câmara confeccionada por elas mesmas (envolver a disciplina de Artes). O intuito desta atividade é fazer com que as crianças compreendam o que é uma escala cartográfica, pois ao fotografar o espaço desejado e desenhar a sua fotografia, perceberá que quando fotografa de perto registra mais detalhes e à UNIDADE 2 | APRENDER E ENSINAR GEOGRAFIA 108 medida que se afasta amplia seu campo de visão, contudo não consegue registrar os detalhes. Assim, entenderá que quanto maior a escala, maiores serão os detalhes representados nos mapas e, quanto menor for a escala menos serão os detalhes. Outra atividade interessante para introduzir o ensino da escala com as crianças é a representação gráfica de sua sala de aula e posteriormente confeccionar a maquete para que entendam a representação do espaço. Aliás, esse espaço representado por uma maquete irá possibilitar uma melhor compreensão por que ele é tridimensional, assim como o nosso planeta. Existem inúmeras atividades que poderão ser desenvolvidas para trabalhar a representação do espaço. Mas, sem dúvida, além da atividade que será desenvolvida, o professor precisa estimular a curiosidade e interesse das crianças para ter êxito neste processo de aprendizagem. 4.3 PROJEÇÕES CARTOGRÁFICAS Nenhum mapa é cem por cento correto, pois é praticamente impossível representar a Terra (em sua forma de geoide) em um planisfério. O plano distorce todas as propriedades (distância, direção, área e forma) utilizadas para representar os lugares. Não é possível elaborar um mapa preservando todas as propriedades. Assim, na hora da elaboração dos mapas, os cartógrafos terão que decidir quais das propriedades irão preservar e quais e quantas ficarão distorcidas. Por isso, a maneira mais correta de representar a Terra é o globo. Você pode fazer uma experiência com uma laranja. Desenhe na laranja os continentes e os oceanos, depois a descasque e tente organizá-la da mesma forma que a desenhou. Você irá perceber que isso não será mais possível. O mesmo acontece ao representar a superfície terrestre em uma forma plana (mapa), independente da projeção ou da escala utilizada. Na verdade, todas as projeções cartográficas apresentam deformações, em função de serem representações bidimensionais de uma figura tridimensional (Terra). Mas o que realmente são as projeções cartográficas? Correspondem às reduções da esfera terrestre em uma superfície plana. 4.3.1 Os tipos de projeções cartográficas Existem vários tipos de projeções cartográficas. A opção pelo tipo de projeção depende da finalidade do que se quer representar. Veremos a seguir alguns tipos de projeções e aplicações de acordo com Nascimento (2010). • Projeção Cilíndrica → para representar a Terra, utiliza-se um cilindro que pode ser colocado em diversas posições, sendo equatorial, transversal e oblíqua ou horizontal. TÓPICO 1 | APRENDENDO A LER O MUNDO 109 • Projeção de Mercator → elaborada pelo cartógrafo Gerardus Mercator Rupelmundanus em 1569, que revolucionou a cartografia ao representar a Terra em um retângulo plano. Nesta projeção, a distorção está nos polos. • Projeção de Peters → é uma projeção cilíndrica tangente aos polos. Elaborada por Arno Peters em 1973 e, que gerou muita polêmica na época. Peters não se preocupou com a equivalência das distâncias. Ele procurou valorizar os países considerados de terceiro mundo (pobres). • Projeções Cônicas → utiliza-se um cone como superfície de projeção, podendo ser colocado em várias posições (normal, transversal e oblíqua) em relação à esfera da Terra. • Projeção Planas ou Azimutais → para essa representação, é utilizado um plano de referência podendo ser usadas três posições (polar, equatorial e oblíqua. • Projeções Azimutais Equidistante Polar → a representação é realizada sobre um círculo plano, sendo uma projeção mais adequada para os polos. As projeções também podem ser classificadas em: equivalente; conforme e equidistante. Apresente às crianças as diferentes projeções cartográficas ilustrando mapas. Faça com que elas percebam a diferença entre eles, as deformações que ocorrem em cada projeção (ver Material de Apoio). FIGURA 33 – PROJEÇÕES CARTOGRÁFICAS FONTE: Disponível em: <http://sergiogeo.com/wp-content/uploads/2010/05/projcilindrica2. gif>. e <http://www.curso-objetivo.br/vestibular/roteiro_estudos/imagens/re_projecoes_1.gif>. Acesso em: 20 nov. 2010. UNIDADE 2 | APRENDER E ENSINAR GEOGRAFIA 110 FIGURA 34 – PROJEÇÕES CARTOGRÁFICAS FONTE: Disponível em: <http://4.bp.blogspot.com/_3AbigmxuZw0/S5RKdazUXbI/AAAAAAAAAdg/ FcBAJnT8xwU/s320/proje%C3%A7%C3%A3o+conica.jpg>. Acesso em: 20 nov. 2010. 4.4 A LEITURA DOS MAPAS: CONSIDERAÇÕES FINAIS Efetuar a leitura dos mapas não é apenas localizar uma cidade, uma rodovia, um estado, dentre outros. Ler os mapas significa “dominar esse sistema semiótico, essa linguagem cartográfica. E preparar o aluno para essa leitura deve passar por preocupações metodológicas tão sérias quanto a de se ensinar a ler e escrever, contar e fazer cálculos”. (ALMEIDA; PASSINI, 2008, p. 15). É importante deixar claro que o ensino da cartografia nas séries inicias não pode se resumir no colorir mapas ou efetuar o contorno dos mesmos. No caso da leitura dos mapas, o professor pode iniciar essa leitura questionando qual o significado do título, ou seja, a que o mapa se refere. O próximo passo é observar os símbolos utilizados e a decodificaçãodos mesmos através da leitura da legenda (esse entendimento é fundamental). Observar no mapa qual a escala foi utilizado, se é grande, média ou pequena. Explorar os detalhes. Verificar que tipo de projeção foi utilizado na confecção do mapa e se há a orientação. É preciso fazer com que as crianças aprendam a interpretá-los e a decodificá-los. Se o professor conseguir estimular nas crianças a análise criteriosa do mapa, estará proporcionando um passo fundamental na compreensão da linguagem cartográfica. A criança ao finalizar a 4ª série (ou o 5º ano) do Ensino Fundamental deverá ter essa compreensão da linguagem cartográfica. Esse é o sonho de todo o professor de Geografia. autoativida de Diante do que foi exposto, para testar o seu conhecimento, gostaríamos que você observasse (título, legenda, escala, orientação, projeção) o mapa a seguir. Feito isso, escreva um pequeno texto, interpretando-o, ou seja, o que o mapa está dizendo? Disponibilizamos o mapa também no material de apoio desta disciplina. TÓPICO 1 | APRENDENDO A LER O MUNDO 111 FIGURA 35 – REGIÕES METROPOLITANAS (EM 2000) FONTE: IBGE, Atlas Geográfico Escolar. Rio de Janeiro: IBGE, 2002. IMPORTANT E Caro(a) acadêmico(a)! Com o avanço das tecnologias, no caso da Geografia, as geotecnologias (Cartografia Digital, Aerofotogrametria, Sensoriamento Remoto, Sistema de Informação Geográfica – SIG, Sistema de Posicionamento Global – GPS, Geodésia, dentre outros), o ensino da Geografia, em especial o da cartografia, tem se tornado cada vez mais popular e, ao mesmo tempo, interessante. Essas geotecnologias servem de ferramentas de apoio para o professor ensinar a Geografia, principalmente a Cartografia, possibilitam efetuar várias correlações espaciais de informações geográficas, a exemplo do Google maps e do Google earth. Para isso, o professor precisa fazer uso da informática. UNIDADE 2 | APRENDER E ENSINAR GEOGRAFIA 112 5 A LEITURA DA PAISAGEM Conforme destaca Callai (2005, p. 228), “ler o mundo da vida, ler o espaço e compreender que as paisagens que podemos ver são resultado da vida em sociedade, dos homens na busca da sua sobrevivência e da satisfação das suas necessidades [...] em linhas gerais, esse é o papel da geografia na escola”. O estudo da paisagem nas Séries Iniciais do Ensino Fundamental é muito importante, pois permite que as crianças compreendam a relação do homem com a natureza e a produção do espaço geográfico. Mas o que se entende por paisagem? Como você definiria paisagem? A paisagem é a imagem, a representação do espaço em um determinado momento. Não é o espaço em si, é a fotografia do espaço que tem em si as relações sociais e, como tal, expressa tudo o que existe por detrás dela. Quer dizer, tem uma história, um movimento que é resultado do jogo de forças dos homens entre si e estes com a natureza. (CALLAI, 1998, p. 69). Para Santos (1988, p. 62), a paisagem não é formada apenas de volumes, mas também de cores, movimentos, odores, sons etc. “[...] e a percepção é sempre um processo seletivo de apreensão”. Ou seja, a paisagem não é estática, ela é composta por elementos naturais ou humanizados (culturais), ou ainda a junção dos dois. Assim, ao ensinar a paisagem é importante destacar os dois tipos: a paisagem natural (que não sofreu a intervenção do ser humano) e a paisagem cultural ou humanizada (resultante das intervenções do ser humano). Contudo, ao estudar a paisagem o foco principal é compreender as relações entre a sociedade e a natureza. É compreender que cada indivíduo exerce influência na produção e/ ou alteração da paisagem. E, cada paisagem traduz a sociedade que a produziu. Ao ensinar a criança o conceito de paisagem não basta dizer o que é, bem como estabelecer a diferença entre a paisagem natural e cultura. O professor precisa estimular a criança a observar a paisagem que a cerca (trajeto da escola, do seu bairro, rua, dentre outros) mais do que isso fazer análises sobre o que realmente existe por trás de cada paisagem. O que isso significa dizer? Que a criança ao observar ou descrever a paisagem do seu bairro, por exemplo, não veja apenas um conjunto de casas, prédios, comércios, ruas etc., precisa compreender como ocorreu a organização espacial desses elementos (por exemplo, por que uma rua é asfaltada, outra não). Ou seja, compreender os fatores que levaram a organização de seu bairro, perceber que este espaço (bairro) não é estático, sofreu e vem sofrendo constantes transformações. Essa análise poderá ser feita com outros espaços e/ou paisagens. É evidente que para entender a construção e/ou organização do espaço desejado (bairro, rua, cidade etc.), o professor deverá estimular a pesquisa de informações em livros, jornais, revistas, internet, entrevistas, saída de campo. O professor juntamente com a criança e os próprios pais e avós farão um resgate histórico da formação e organização espacial (paisagem cultural) do bairro, cidade, TÓPICO 1 | APRENDENDO A LER O MUNDO 113 ou rua, por exemplo. E, nesta pesquisa poderão ser trabalhados vários temas, como as migrações, as questões ambientais, as classes sociais, o desemprego e geração de emprego, êxodo rural, atividades econômicas, urbanização, avanço tecnológico, globalização, meios de transportes, dentre outros. Você percebeu que a partir do conceito de paisagem é perfeitamente possível ampliar a discussão sobre outros temas (sociais, econômicos, políticos, ambientais, dentre outros) com as crianças para que elas realmente compreendam o seu espaço ou sejam capazes de fazer a leitura da paisagem no que tange à compreensão da realidade, sob o ponto de vista da produção e/ou organização espacial. 6 O ESTUDO DO LUGAR Como você definiria o lugar? A resposta é fácil e comum a todos nós. Mas, vejamos como alguns autores definem lugar. Para Santos (1995, p. 3) “o lugar é onde estão os homens juntos, sentindo, vivendo, pensando, emocionando-se”. Na visão de Durán (1998, p. 58) “[...] lugar é o espaço vivido, é o horizonte cotidiano, que tem sentido de identidade. É o lugar de cada um de nós. Em consequência, para que o espaço seja lugar, deve transformar- se em algo fundamental para as pessoas [...]”. Segundo Carlos (1996, p. 20), o lugar “é a porção do espaço apropriado para a vida – apropriado através do corpo – dos sentidos – dos passos de seus moradores, é o bairro, é a praça, é a rua [...]”. A partir desses conceitos, podemos dizer que o lugar é o espaço onde vivemos repleto de significações, é a nossa identidade espacial. Por isso, é importante no ensino da Geografia nas Séries Iniciais do Ensino Fundamental partir da identidade espacial da criança. Contudo, não podemos deixar de destacar o cuidado que se deve ter ao trabalhar o lugar com as crianças, pois ele não pode ser visto como algo estático, isolado, fragmentado do resto do mundo. A criança precisa entender que a partir do lugar é perfeitamente possível estabelecer outras relações espaciais com outros lugares e que a junção desses lugares vai formar um imenso espaço geográfico. A partir do estudo do lugar, a criança compreenderá a paisagem que a cerca. E, ao trabalhar o lugar (a rua, o bairro, a quadra, a cidade etc.), automaticamente, o professor poderá explorar outros temas que permitirão a compreensão das relações espaciais local-regional-global-local. Para que a criança entenda que os lugares estão interligados, uma atividade interessante é estimular a sua curiosidade no que tange, por exemplo, à origem dos produtos que são consumidos na sua casa (onde são fabricados), da matéria-prima utilizada na construção e/ou reforma ou decoração da casa, dentre outros. Como dissemos anteriormente, a partir do estudo do lugar, poderãoser trabalhados diversos temas, inclusive de outras disciplinas. UNIDADE 2 | APRENDER E ENSINAR GEOGRAFIA 114 7 A QUESTÃO DO TERRITÓRIO A Geografia enquanto ciência social também se preocupa com as relações sociais estabelecidas entre si e com o meio natural. Assim, a compreensão do território é fundamental para entender que essas relações estabelecidas nem sempre são pacíficas, estão repletas de conflitos oriundos em espaços e tempos diferentes. A organização, ou a identidade socioespacial assistida hoje nem sempre foi assim, cada território está impregnado de histórias, marcadas por conflitos, por disputas de poder. Mas, o que é território? Para Souza (1995, p. 78) o território “é fundamentalmente um espaço definido e delimitado por e a partir de relações de poder”. Na visão de Balbim (2001, p. 16), o território “se forma a partir de uma relação espaço/tempo; ao se apropriar de um espaço em determinado tempo e com todas as perspectivas de possibilidades acarretadas, o ator territorializa o espaço”. Ou seja, a formação territorial está relacionada às relações de poder. O território pode ser considerado um país, estado, município, uma península, dentre outros, pode estar associado a um sentimento patriótico, ao governo, as guerras. Contudo, não podemos restringir o território somente sob esta análise, como algo definido administrativamente e politicamente. Isso porque existem vários tipos de territórios. Existem os territórios construídos, reconstruídos, bem como os territórios destruídos em diferentes escalas. Por exemplo, o local ocupado pelas prostitutas à noite, é um tipo de território. As favelas nos grandes centros urbanos é outro tipo de território, geralmente controladas pelos traficantes. O espaço marinho, também é considerado território. Neste, por exemplo, pode ocorrer a disputa pela exploração de petróleo, atividades pesqueiras, dentre outras. Em todos os exemplos citados, vão existir as relações de poder. Mas como trabalhar o conceito de território com as crianças da Educação Infantil e Séries Iniciais? A conversa sobre território pode ser iniciada com alguns questionamentos em sala de aula, sobre o local onde a criança está sentada, os objetos que a pertencem e estão em sua mesinha, se os colegas poderão se apropriar do seu lugar e de seus objetos. Esses questionamentos farão com que a criança perceba que durante o horário de aula, o espaço onde ela está sentada é seu território, é sua área de domínio. A partir daí poderão ser analisados outros espaços, como por exemplo, o pátio da escola (onde os meninos e meninas costumam ficar. O ideal é que essa análise leve uma semana ou mais). E, à medida que o professor perceber na criança o avanço na compreensão do conceito de território poderá ampliar a discussão para a formação territorial do seu município, estado, país e internacionalmente. Neste último, principalmente quando a criança assiste na televisão ou ouve no rádio uma notícia sobre os conflitos no Oriente Médio, por exemplo, é um momento importante para se trabalhar a questão do território. TÓPICO 1 | APRENDENDO A LER O MUNDO 115 Neste contexto de territorialidade é importante pontuar também que os territórios podem não durar para sempre, ou melhor, eles têm um “tempo de vida”, podendo perdurar dias, décadas, séculos, milhares de anos. A durabilidade do território vai depender das relações de poder estabelecidas. 8 O ESPAÇO GEOGRÁFICO Por muitas vezes no estudo deste tópico mencionamos o espaço geográfico. Para finalizar o nosso estudo sobre a leitura do mundo, gostaríamos de fazer algumas considerações sobre este espaço. Para Santos (1985, p. 1) o espaço “não pode ser apenas formado pelas coisas, os objetos geográficos, naturais e artificiais, cujo conjunto nos dá a natureza. O espaço é tudo isso e mais a sociedade: cada fração da natureza abriga uma fração da sociedade atual”. Isso significa dizer que o espaço é ao mesmo tempo a natureza e a sociedade. E, nesta perspectiva, um influencia o outro. Assim, podemos dizer que o espaço geográfico traduz a relação entre o ser humano e seu meio. É um espaço impregnado de características da sociedade que o produziu ao longo de sua história. Desse modo, é importante deixar claro que a produção do espaço geográfico ao longo da evolução do ser humano e das sociedades não ocorreu da mesma maneira em todos os lugares, ocorreu de forma diferenciada. Por isso, existem espaços geográficos diferenciados. Cada um contendo sua própria história de produção e/ou transformação. Na educação Infantil e Séries Iniciais, a Geografia vislumbra a “leitura do mundo”, a compreensão do mundo através do estudo da formação e organização socioespacial. Mas, para que essa compreensão seja efetivada, é preciso ter clareza em alguns conceitos considerados fundamentais, tais como: espaço, paisagem, lugar e território. Ao se apropriar dessa linguagem, a criança desencadeará um processo de leitura do mundo, com o “olhar espacial”. Essa linguagem será incorporada pelo aluno à medida que ele consiga operar racionalmente com os conceitos próprios da geografia. Ao ler o espaço, desencadeia-se o processo de conhecimento da realidade que é vivida cotidianamente. Constrói-se o conceito, que é uma abstração da realidade, formado a partir da realidade em si, a partir da compreensão do lugar concreto, de onde se extraem elementos para pensar o mundo (ao construir a nossa história e o nosso espaço). Nesse caminho, ao observar o lugar específico e confrontá-lo com outros lugares, tem início um processo de abstração que se assenta entre o real aparente, visível, perceptível e o concreto pensado na elaboração do que está sendo vivido. (CALLAI, 1998, p. 241). UNIDADE 2 | APRENDER E ENSINAR GEOGRAFIA 116 IMPORTANT E Ao finalizar o estudo deste tópico, gostaríamos de ressaltar a você a importância de trabalhar estes temas com as crianças para que elas consigam compreender o mundo onde vivem. E, neste contexto, e/ou nessa compreensão, o professor deverá estimular o interesse, a curiosidade das crianças desenvolvendo atividades criativas, interessantes e lúdicas. O entendimento do ensino da Geografia na Educação Infantil e Séries Iniciais dependerão da compreensão de mundo do professor. Daí, a sua importância. 117 RESUMO DO TÓPICO 1 Neste tópico você viu que: • A Terra tem aproximadamente 4,5 a 4,6 bilhões de anos e passou por inúmeras transformações que hoje podem ser analisadas e interpretadas a partir da disposição das camadas de rochas e dos fósseis nelas encontradas. • Para melhor compreender os principais acontecimentos que marcaram a história da Terra, alguns geólogos determinaram sua sequência cronológica e, a partir desta sequência, organizaram a escala do tempo geológico, que está dividida em quatro grandes categorias hierárquicas de unidade de tempo: éons, eras, períodos, épocas e idade. • Em função de a superfície terrestre ser totalmente irregular, não existem, até o presente momento, definições matemáticas concretas capazes de representá- la sem deformá-la. O modelo que mais se aproxima da forma real da Terra, e que pode ser determinado através de medidas gravimétricas, é o Geoidal e/ou Geoide. • A Terra é composta basicamente por três camadas: a crosta ou também chamada crusta terrestre e pode ser dividida em duas porções distintas: a crosta continental e a crosta oceânica; o manto e o núcleo. • A cartografia pode ser considerada como uma linguagem, uma vez que uma linguagem exprime, atravésdo emprego de um sistema de signos, um pensamento e um desejo de comunicação com outrem. Antes de a criança entender a linguagem cartográfica, ela precisa ter noção de espaço e direção, precisa entender como mapear o seu espaço, precisa localizar a sua casa, o entorno de sua escola ou o caminho de sua residência até a escola. No desenvolvimento da alfabetização cartográfica, o primeiro passo importantíssimo é trabalhar a noção espacial. • A noção de espaço é construída socialmente e a criança vai ampliando e complexificando o seu espaço vivido concretamente. Assim, ela passa por três etapas: o espaço vivido, o espaço percebido e o espaço concebido. O trabalho com o espaço acontece através de atividades envolvendo esquema corporal, brincadeiras e jogos, que levam a criança a explorar o espaço e tudo que contém. • Trabalhar a orientação é fundamental no processo de desenvolvimento da alfabetização cartográfica. Existem várias maneiras de se orientar. Pode ser através da bússola, do Sol, da Lua e das estrelas. • As coordenadas geográficas são um sistema ou conjunto baseado na rede geográfica formado a partir do traçado de linhas imaginárias horizontais 118 representadas pelos paralelos e linhas imaginárias representadas pelos meridianos. Esse sistema permite a localização precisa de um determinado ponto ou lugar da superfície terrestre. • O mapa é considerado uma das linguagens mais antigas. O mapa corresponde a uma representação codificada e reduzida de um determinado espaço real. A informação obtida no mapa é transmitida através de uma linguagem cartográfica composta de três elementos principais: símbolos, escala e projeção. • Nenhum mapa é cem por cento correto, pois é praticamente impossível representar a Terra (em sua forma de geoide) em um planisfério. O plano distorce todas as propriedades (distância, direção, área e forma) utilizadas para representar os lugares. Todas as projeções cartográficas apresentam deformações, em função de serem representações bidimensionais de uma figura tridimensional (Terra). As projeções cartográficas correspondem às reduções da esfera terrestre em uma superfície plana. • Efetuar a leitura dos mapas não é apenas localizar uma cidade, uma rodovia, um estado, dentre outros. Ler os mapas significa dominar esse sistema semiótico, essa linguagem cartográfica. • O estudo da paisagem nas Séries Iniciais do Ensino Fundamental é muito importante, pois permite que as crianças compreendam a relação do homem com a natureza e a produção do espaço geográfico. • O lugar é o espaço onde vivemos repleto de significações, é a nossa identidade espacial. Por isso, é importante no ensino da Geografia nas Séries Iniciais do Ensino Fundamental partir da identidade espacial da criança. Contudo, deve- se ter cuidado ao trabalhar o lugar com as crianças, pois ele não pode ser visto como algo estático, isolado, fragmentado do resto do mundo. • O território é fundamentalmente um espaço definido e delimitado por e a partir de relações de poder. • O espaço geográfico traduz a relação entre o ser humano e seu meio. É um espaço impregnado de características da sociedade que o produziu ao longo de sua história. 119 AUTOATIVIDADE 1 Identifique e escreva na Rosa-dos-Ventos os pontos cardeais, colaterais e subcolaterais. Tente identificá-los sem o auxílio do Caderno de Estudos. 2 Em um mapa cuja escala é 1:1.300.000, duas cidades estão separadas, em linha reta, por uma distância gráfica de 6 centímetros. Assim, a distância real (no terreno) entre essas duas cidades é de: ( ) a) 78 km ( ) b) 130 km ( ) c) 780 km ( ) d) 1.300 km 3 Dê as coordenadas geográficas dos pontos a e b destacados na figura a seguir. 120 A ____________ e ____________ B ____________ e ____________ 4 Observe atentamente o mapa a seguir. Para facilitar a visualização, ele está disponível no material de apoio desta disciplina. FIGURA 36 – DENSIDADE DEMOGRÁFICA FONTE: IBGE Atlas Geográfico Escolar. Rio de Janeiro: IBGE, 2002. Responda: a) Que tipo de escala o mapa apresenta? b) De que trata o mapa? c) Qual a distância real, em linha reta, entre Porto Alegre e Florianópolis? 121 5 Relacione os itens utilizando o código a seguir: I- Lugar. II- Espaço geográfico. III- Paisagem. IV- Território. ( ) É fundamentalmente um espaço definido e delimitado por e a partir de relações de poder. ( ) É um espaço impregnado de características da sociedade que o produziu ao longo de sua história. Traduz a relação entre o ser humano e seu meio. ( ) É o espaço onde vivemos repleto de significações, é a nossa identidade espacial. ( ) É a imagem, a representação do espaço em um determinado momento. Não é estática, é composta por elementos naturais ou humanizados ou ainda a junção dos dois. 122 123 TÓPICO 2 OS CAMINHOS E DESCAMINHOS DO ENSINO DA GEOGRAFIA: A BUSCA POR UMA NOVA GEOGRAFIA UNIDADE 2 1 INTRODUÇÃO As profundas e constantes transformações vividas e percebidas no mundo atual refletem em todas as áreas científicas, sobretudo nas áreas ligadas às ciências sociais. A revolução técnico-científica tem proporcionado mudanças vertiginosas na dinâmica social, econômica, ambiental e espacial. Estamos diante de uma sociedade pautada em novas relações, produções, transformações e organizações socioespaciais. Diante dessas mudanças, a Geografia tem sentido algumas implicações. Conforme destaca Cavalcanti, (2010, p. 16): a Geografia defronta-se, assim, com a tarefa de entender o espaço geográfico num contexto bastante complexo. O avanço das técnicas, a maior e menor circulação de mercadorias, homens e ideias distanciam os homens do tempo e da natureza e provocam certo “encolhimento” do espaço de relação entre eles. Na sociedade moderna, baseada em princípios de circulação e racionalidade, há um domínio do tempo e do espaço, mecanizados e padronizados, que se tornaram a fonte de poder material e social numa sociedade que se constitui à base do industrialismo e do capitalismo. O controle do tempo e do espaço liga- se estreitamente ao processo produtivo e à vida social. [...] O espaço foi perdendo, assim, sua significação absoluta no lugar para ganhá-la na lógica do poder, da expansão capitalista. Da mesma forma, o tempo tomado como linear e progressivo foi sendo substituído por um tempo cíclico e instável, em função de que seu sentido passou a ser ligado ao próprio processo produtivo. Instalou-se assim, uma compreensão e uma vivência de espaço e de tempo relativos. Na verdade, a Geografia, enquanto ciência social está diretamente ligada a essas transformações. O que temos é um processo de racionalização de um espaço e de um tempo planejados que vão se tornando globais e simultaneamente individuais. (CAVALCANTI, 2010). Ainda conforme Cavalcanti (2010), em termos de espaço e tempo, o que temos hoje é a concretização da “desterritorialização”, “desencaixe” ou da “compressão” que segundo Ianni (1992, p. 93) “manisfesta- se na esfera da economia, da política, da cultura, implicando a acentuação e generalização de novas possibilidades de ser, agir, sentir, pensar, imaginar na medida em que “liberta horizontes”. É o fenômeno da chamada globalização.” UNIDADE 2 | APRENDER E ENSINAR GEOGRAFIA 124 E, é neste contexto que emerge a necessidade de novas reflexões, análises, novos conceitos, novas metodologias, novas perspectivas para o ensino da Geografia. A Geografia, na sua perspectiva metodológica, precisa definitivamente assumir o seu papel, asua importância na sociedade como parte integrante, precisa repensar velhas e novas formas de ver o mundo. Diante do exposto, o professor em sala precisa estar atento a sua prática pedagógica, precisa repensar a sua maneira de ver o mundo, precisa se inserir no novo contexto de sociedade informatizada, globalizada e inclusiva. Neste tópico, propomos algumas discussões sobre os descaminhos e caminhos do ensino da Geografia para este início de século nas Séries Iniciais. 2 O CONTEXTO HISTÓRICO DO ENSINO DA GEOGRAFIA NAS SÉRIES INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL Nos tópicos 3 e 4 da Unidade 1, estudamos que a Geografia enquanto disciplina escolar teve início no século XIX, com o objetivo de contribuir na formação de cidadãos patrióticos. Foi, indiscutivelmente, sua presença significativa nas escolas primárias e secundárias da Europa do século XIX que a institucionalizou como ciência, dado o caráter nacionalista de sua proposta pedagógica, em franca sintonia com os interesses políticos e econômicos dos vários Estados-nações. Em seu interior, havia premência de se situar cada cidadão como patriota, e o ensino da Geografia contribuiu decisivamente neste sentido, privilegiando a descrição do seu quadro natural. (VLACH, 1990, p. 45). Conforme destaca Cavalcanti (2010), sua função ideológica reaparece tempos depois quando o objetivo desta disciplina se caracteriza pela transmissão de dados e informações gerais sobre os territórios do mundo e dos países em particular. É a partir dessa conotação que a ciência geográfica passa por reformulações de suas bases teóricas e metodológicas com repercussão significativas no ensino da Geografia. O movimento do ensino de Geografia, dentro do movimento mais amplo de renovação, teve, pois como interlocutoras as “geografias” vigentes no momento, ou seja, a Geografia Tradicional e a Geografia Quantitativa. Fazendo a crítica dessas correntes da Geografia e de suas implicações no ensino surgiram propostas de incorporar as reflexões da concepção dialética no ensino, o que possibilitou a emergência da chamada Geografia Crítica (ou Geografias Críticas, já que são muitas propostas. (CAVALCANTI, 2010, p. 20). Vimos também que no Brasil a renovação do ensino de Geografia se deu nos últimos 30 anos. Mas como foi o processo de institucionalização do ensino de Geografia nas Séries Iniciais do Ensino Fundamental? Antes mesmo de TÓPICO 2 | OS CAMINHOS E DESCAMINHOS DO ENSINO DA GEOGRAFIA: A BUSCA POR UMA NOVA GEOGRAFIA 125 verificarmos as perspectivas para o ensino da Geografia, gostaríamos de elencar algumas considerações sobre o seu processo histórico de implantação nas Séries Inicias. Vejamos. Foi a partir da promulgação da Lei Orgânica do Ensino Primário e a Lei Orgânica do Ensino Normal em 1946, conhecida como Reforma Capanema que o ensino de Geografia passou a fazer parte do currículo oficial das Séries Iniciais do Ensino Fundamental. Você deve se perguntar como a Geografia era ensinada antes deste período? O ensino da Geografia, se é que podemos chamá-lo de ensino, era feito de maneira indireta. Conforme destaca Marques (2008, p. 203), os conteúdos geográficos “eram estudados em textos dos livros didáticos que os professores selecionavam. Os dados geográficos eram apresentados de forma descritiva, com a predominância do enciclopedismo e da descontextualização.” Com a Reforma Capanema, a escola tinha a função de não mais ensinar somente o aluno a ler e escrever, mas também proporcionar o desenvolvimento geral, no que tange assimilar conhecimentos importantes para a sua vida em sociedade. Contudo, com a promulgação da Lei nº 4.024/61, de 1961, o sistema educacional passou a se adequar aos planos do estado capitalista militar, com o intuito de uma educação voltada à ideologia do “desenvolvimento com segurança”. (MARQUES 2008). Como a promulgação da lei em 1961 era bem flexível comparada a de 1946, segundo destaca Marques (2008, p. 201), “o currículo real de cada estado passou a ser organizado de acordo com as suas peculiaridades e necessidades”. E, como a Geografia não era vista como parte integrante da sociedade, não iria contribuir na realização dos objetivos políticos e ideológicos daquele momento, o governo Jânio Quadros instituiu a Educação Moral e Cívica (EMC) em todos os “graus” da rede de ensino. (MARQUES, 2008). Assim, a nova lei permitiu que cada órgão Estadual de Educação passasse a organizar a disciplina de EMC de acordo com seus recursos humanos sob a égide de Deus e da pátria, envolvendo num leque maior a família e a comunidade. Os professores ao ministrarem essa disciplina passaram a perceber a proximidade com a Geografia ao se trabalhar a família, a comunidade e a nação. Passados dez anos, em 1971, ocorreu a reformulação da LDB (Lei nº 5.692/71) que introduziu a disciplina de Estudos Sociais nas Séries Iniciais no lugar das disciplinas de Geografia e História. Na verdade, tanto a disciplina de EMC quanto Estudos Sociais geraram problemas no ensino destas disciplinas. No ensino da Geografia, um dos principais problemas foi a vinculação do ensino a partir de “Círculos Concêntricos, (se baseava no nível de desenvolvimento psicológico do aluno, que deveria ir do concreto ao abstrato vencendo etapas de acordo com seu nível de desenvolvimento) e também vinculada ao civismo e às datas comemorativas”. (MARQUES, 2008, p. 205). Isso fez com que ocorresse uma perda de conteúdos essenciais para o ensino da Geografia e também da História. Não que o conteúdo fosse mais importante, mas era fundamental, no caso da Geografia, para a compreensão do UNIDADE 2 | APRENDER E ENSINAR GEOGRAFIA 126 mundo onde vivemos no que tange à produção, transformação e organização do espaço (relação homem/meio). Lamentavelmente, ainda hoje em muitas escolas a Geografia e a História são trabalhadas como Estudos Sociais nas Séries Iniciais do Ensino Fundamental. Com a intensificação dos movimentos sociais para restabelecer a democracia no Brasil, aproximadamente na metade da década de 1970 e a ampliação das discussões voltadas à educação, sobretudo a Geografia, os conhecimentos escolares foram fortemente questionados, bem como as lutas de profissionais de sala de aula de todos os níveis educacionais ganharam maior expressão. (MARQUES, 2008). E, neste período, como os movimentos de renovação da Geografia estavam em processo às críticas ganharam impulso tanto na Geografia quanto na Pedagogia. Diante das discussões e reivindicações, o Conselho Federal de Educação em 1979 decidiu pela separação das disciplinas de Geografia e História nas Séries Finais do Ensino Fundamental (oficialmente reintroduzidas em 1980). Nas Séries Iniciais, isso só iria acontecer em 1996 com a nova LDB (Lei nº 9394/96). A partir da nova LDB de 1996 o ensino da Geografia nas Séries Iniciais do Ensino Fundamental passou por um processo, digamos de revitalização que ainda precisa ser repensado, discutido e reestruturado. Isso porque, nestas séries o ensino da Geografia é secundário. Para Straforini (2002, p. 96): [...] nos primeiros ciclos do Ensino Fundamental as aulas de Geografia, assim como das outras disciplinas que não sejam Português e Matemática, ocupam um papel secundário, muitas vezes irrelevante no cotidiano da escola. Sabemos que isso decorre da falta de discussões teóricas, metodológicas e epistemológicas, bem como do grande problema na formação dos professores das séries iniciais, que assumem as suas dificuldades perante a discussãoteórica das referidas disciplinas. Assim, o ensino da Geografia e também da História só passaram a fazer parte do currículo oficial das Séries Iniciais do Ensino Fundamental com a publicação dos Parâmetros Curriculares Nacionais - PCN (estudaremos no próximo tópico). Contudo, essa oficialização a meu ver ainda não foi suficiente para dar a devida importância ao ensino da Geografia nas Séries Iniciais. 3 QUAL É O LUGAR DA GEOGRAFIA NAS SÉRIES INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL? transformações socioespaciais acontecendo, essa é uma pergunta que nós professores e geógrafos fizemos constantemente. Qual o lugar da Geografia, principalmente em se tratar das Séries Iniciais? TÓPICO 2 | OS CAMINHOS E DESCAMINHOS DO ENSINO DA GEOGRAFIA: A BUSCA POR UMA NOVA GEOGRAFIA 127 Para ampliar a nossa discussão selecionamos parte da obra de Callai (2005, p. 230-232) a seguir: Aquela geografia chamada tradicional, caracterizada pela enumeração de dados geográficos e que trabalha espaços fragmentados, em geral opera com questões desconexas, isolando-as no interior de si mesmas, em vez de considerá-las no contexto de um espaço geográfico complexo, que é o mundo da vida. Uma prática tradicional na Escola Fundamental, adotada nas aulas de estudos sociais, mas desenvolvida não apenas sob sua égide, é o estudo do meio considerando que se deve partir do próprio sujeito, estudando a criança particularmente, a sua vida, a sua família, a escola, a rua, o bairro, a cidade, e, assim, ir sucessivamente ampliando, espacialmente, aquilo que é o conteúdo a ser trabalhado. São os Círculos Concêntricos, que se sucedem numa sequência linear, do mais simples e próximo ao mais distante. Na realidade, esse procedimento constitui mais um problema do que uma solução, pois o mundo é extremamente complexo e, em sua dinamicidade, não acolhe os sujeitos em círculos que se ampliam sucessivamente do mais próximo para o mais distante. Num mundo em que a informação é veloz e atinge a todos, em todos os lugares, no mesmo instante, não se pode fechar as possibilidades em um estudo a partir de círculos hierarquizados. Ainda com relação à velocidade da informação, deve-se considerar que não é a distância o que vai impedir ou retardar o acesso à informação, mas condições econômicas e/ou culturais, inscritas num processo social que exclui algumas (ou muitas) pessoas. A superação dessa lógica de que a criança aprende por níveis hierarquizados – no caso do espaço, por níveis espaciais que vão se ampliando sucessivamente – requer o estabelecimento, pelo menos, de uma clareza de termos. Não estamos considerando que o estudo do meio é inócuo e desligado da realidade. Pelo contrário, ele pode constituir uma interessante possibilidade de ensino e aprendizagem. O que se está questionando é uma postura teórica que dá a referência, a forma de encaminhamento, postura que considera um espaço fragmentado e circular, o qual se amplia sucessivamente. Partindo do “eu”, da família, cria-se uma proposição antropocêntrica – ou melhor, egocêntrica – ao redor do “eu”. O problema não é partir do “eu”, mas sim fragmentar os espaços que se sucedem e que passam a ser considerados isoladamente, como se tudo se explicasse naquele e por aquele lugar mesmo. A dinâmica do mundo é dada por outros fatores. E o desafio é compreender o “eu” no mundo, considerando a sua complexidade atual. A referência teórica é buscada tanto na Geografia – a qual considera que o espaço é socialmente construído pelo trabalho e pelas formas de vida dos homens – como na Pedagogia – a qual considera que a aprendizagem é social e acontece na interlocução dos sujeitos (estejam eles presentes fisicamente, UNIDADE 2 | APRENDER E ENSINAR GEOGRAFIA 128 ocupando um espaço próximo, estejam eles distantes, mantendo contatos virtuais, ou sob a hegemonia de determinada condução política, econômica). Como superar o positivismo da Geografia e da educação, em um mundo que está mudado e continua mudando aceleradamente? O que seria possível fazer para engendrar uma nova forma de “ensinar o mundo”? Se os estudos do meio, considerados a partir do princípio dos círculos concêntricos, não se mostram apropriados para fazer a leitura do espaço – que deveria conter a possibilidade de perceber o movimento, perceber a cotidianidade da vida dos vários sujeitos e a sua expressão por meio dos grupos de que participam, construindo o seu espaço – quais as alternativas possíveis? Quais os referenciais teóricos que nos permitiriam construir métodos de análise do espaço geográfico capazes de permitir que os alunos se reconheçam no interior desse espaço? E que se sintam efetivamente produzindo esse espaço? E, nesse sentido, quais as práticas sociais (em especial as escolares) que se apresentariam como eficazes? Para romper com a prática tradicional da sala de aula, não adianta apenas a vontade do professor. É preciso que haja concepções teórico metodológicas capazes de permitir o reconhecimento do saber do outro, a capacidade de ler o mundo da vida e reconhecer a sua dinamicidade, superando o que está posto como verdade absoluta. É preciso trabalhar com a possibilidade de encontrar formas de compreender o mundo, produzindo um conhecimento que é legítimo. O professor, as suas concepções de educação e de Geografia, é que podem fazer a diferença. [...] A clareza teórico-metodológica é fundamental para que o professor possa contextualizar os seus saberes, os dos seus alunos, e os de todo o mundo à sua volta. E, no nível de ensino em que a criança está processando a sua alfabetização, o ideal seria que houvesse uma unidade em que se supere a fragmentação das disciplinas e das responsabilidades, em práticas orientadas por e para linhas e eixos temáticos e conceituais interdisciplinares, não apenas uma justaposição de disciplinas enclausuradas em si mesmas, mas de uma maneira que, em cada uma se impliquem as demais regiões do saber. (MARQUES, 1993). Nesse caminho em que tudo leva a aprender a ler e a escrever, acreditamos que seja fundamental a interligação de todos os componentes curriculares, se somando na busca do objetivo. Mas numa trajetória em que o conteúdo seja, em especial, o mundo da vida dos sujeitos envolvidos, reconhecendo a história de cada um e a história do grupo, combinando “a cadeia dos conceitos e categorias de análise com a trama das experiências e da cultura mesma do grupo envolvido”. (MARQUES, 1993, p. 111). TÓPICO 2 | OS CAMINHOS E DESCAMINHOS DO ENSINO DA GEOGRAFIA: A BUSCA POR UMA NOVA GEOGRAFIA 129 É nesse contexto que a “possibilidade desse cruzamento entre Geografia e educação torna-se sobremodo importante num mundo em crise, crise expressa, entre outros modos, nas concretudes do espaço vivido através dos quais as relações sociais se geografizam”. (REGO, 2000, p. 8). Nos demais níveis de ensino, a questão de entrelaçar geografia e educação pode não aparecer com tamanha relevância, mas, nos anos iniciais, é impossível ela não ser considerada. E se, no exercício de pensar e procurar caminhos da geografia para as crianças, fosse encontrada a chave para desvendar as possibilidades de construção de uma geografia escolar mais consequente? Seria uma reflexão interessante. Como fazer, então, para superar um ensino tradicional, e um professor igualmente tradicional, trabalhando com conteúdos alheios ao mundo da vida? Como trabalhar com a realidade sem seguir de forma linear as escalas, mas superpondo-as, interligando-as, para conseguir dar conta da complexidade do mundo? Como olhar o local com os olhos do mundo, como ver o lugar do/no mundo?Partindo dos pressupostos teóricos que balizam nossas concepções de educação e de Geografia, como proceder para ensinar Geografia nas Séries Iniciais passa a ser o desafio. E, sendo fiéis a esses referenciais, a busca deve estar centrada no pressuposto básico de que, para além da leitura da palavra, é fundamental que a criança consiga fazer a leitura do mundo. Como você já deve ter percebido, essa discussão iniciou-se no tópico anterior, no estudo da alfabetização cartográfica, no estudo da paisagem (a criança precisa ver além do aparente), no estudo do lugar (o cuidado de não fragmentá-lo). Quando a autora se refere à leitura do mundo está se referindo à compreensão do mundo em que vivemos através do ensino da Geografia. É essa fantástica disciplina que possibilita a compreensão do mundo, que permite a leitura do mundo. E, antes de qualquer coisa, para que isso aconteça efetivamente, o professor deve ter clareza no referencial teórico-metodológico para que possa então promover a leitura do mundo com as crianças. O professor precisa ter a compreensão do mundo, precisa ter o domínio da Geografia, sobretudo os conceitos elementares (lugar, paisagem, território, região, natureza, sociedade). Qual o seu ponto de vista diante do que foi exposto? Reflita! 4 O ENSINO DE GEOGRAFIA EM TEMPOS DE GLOBALIZAÇÃO Dizíamos anteriormente que o professor em sala de aula precisa se inserir no novo contexto de sociedade informatizada, globalizada e inclusiva. No que tange à sociedade globalizada não podemos fingir que isso não nos afeta, muito pelo contrário, estamos inseridos neste contexto. E, embora a globalização é discutida com maior ênfase nas Séries Finais do Ensino Fundamental e Ensino Médio, é no Ensino Fundamental que essa discussão precisa ser iniciada. Isso porque as nossas crianças estão cada vez mais interligadas com o que acontece UNIDADE 2 | APRENDER E ENSINAR GEOGRAFIA 130 no Brasil e no mundo, estão cada vez mais conectadas com as novas tecnologias. Afinal de contas estamos na era da telemática (telecomunicação e informática). Contudo, o fato de obter rapidamente as informações, bem como o acesso às novas tecnologias não significa que as crianças compreendam a inter-relação e/ou a conexão que existe entre essas e o caráter social, econômico, político e ambiental. Desse modo, para fazer com que as crianças compreendam a dinâmica do mundo atual é fundamental que elas entendam que o mundo está interligado, que vivemos em uma era globalizada. E, que a produção do espaço geográfico atual é reflexo do processo de globalização entre os lugares e as pessoas. É evidente que o acesso às informações e às novas tecnologias não é uma realidade de todas as nossas crianças. De qualquer maneira, nesses casos, o ensino da Geografia tem um papel ainda maior, o de inserir essas crianças no contexto da globalização. Mas como ensinar a Geografia nas Séries Iniciais em tempos de globalização? É simples, mas primeiro você precisa compreender o que é a chamada globalização. A globalização emerge principalmente a partir das décadas de 1970 e 1980 e pode ser compreendida como um conjunto de mudanças no processo de produção de riquezas, nas relações de trabalho, na atuação do Estado, nas formas de dominação social e cultural. A acirrada disputa econômica entre países e empresas na busca pelo mercado mundial, possibilitou a livre circulação do capital de um país para outro, para a venda de produtos, instalação de empresas e também aplicações financeiras. Isso proporcionou uma grande difusão de hábitos de consumo, bem como, o modo de vida dos países desenvolvidos, fortalecendo assim suas marcas mundialmente conhecidas, como as redes de fast food, supermercados, dentre outros. Neste contexto, a Coca-Cola, o Mac Donald, a Nike são exemplos clássicos. Para vários intelectuais a globalização se refere a uma nova etapa histórica econômica mundial e que se constitui em um processo irreversível, que criou um sistema econômico fortemente integrado de caráter supranacional, capaz de romper as fronteiras nacionais. (ESPÍNDOLA; MÜLLER, 2010). Milton Santos (1994), em sua obra “Técnica, Espaço, Tempo: Globalização e meio Técnico-Científico Informacional” ressalta que o processo de globalização acentua uma tendência onde as forças hegemônicas (são, sobretudo, globais, internacional e nacional) da política, economia e da cultura, escolhem os lugares que consideram favoráveis a sua realização plena. Ainda conforme destaca Santos (1994), a globalização não é semelhante aos períodos anteriores do colonialismo, imperialismo e neocolonialismo, isso porque as condições técnicas de sua realização são radicalmente diferentes. Hoje a humanidade pode contar com técnicas avançadas que são constantemente aprimoradas por alguns estados e por algumas empresas, ocasionando assim a criação das desigualdades. TÓPICO 2 | OS CAMINHOS E DESCAMINHOS DO ENSINO DA GEOGRAFIA: A BUSCA POR UMA NOVA GEOGRAFIA 131 (SANTOS, 1994). Milton Santos chama a globalização de perversa, pois está vinculada aos interesses do sistema capitalista. Na verdade, a globalização emergiu com o intuito de atender e ampliar as necessidades do sistema capitalista, principalmente dos países desenvolvidos, nos quais o consumo interno já estava saturado. Na visão do geógrafo Milton Santos (1997, apud LUCCI et al., 2004, p. 39) “a globalização leva a afirmação de um novo meio geográfico cuja produção é deliberada e que é tanto mais produtiva quanto for maior o seu conteúdo em ciência, tecnologia e informação”. Ele conclui que esse meio técnico-científico- informacional ocorre em vários lugares de maneira extensa e contínua (EUA, Europa, Japão e parte da América Latina), enquanto em outros (África, Ásia e parte da América Latina) apenas se manifesta como manchas e/ou pontos. O acesso a internet, considerada um dos grandes símbolos da globalização é um exemplo do que Milton Santos destacou. E, atualmente embora tenha aumentado consideradamente o número de internatos no mundo, iremos encontrar inúmeros lugares onde as pessoas se quer conhecem um computador. Isso significa que o acesso aos recursos da Internet continua acontecendo para a minoria da população mundial, principalmente com aqueles que possuem um poder aquisitivo maior. E você, o que pensa sobre o processo de globalização? Você concorda com o geógrafo Milton Santos quando diz que a globalização é perversa? Observe a charge a seguir e reflita FIGURA 37 – FESTA DA GLOBALIZAÇÃO FONTE: Disponível em: <http://4.bp.blogspot.com/_S6NiUDwOpQU/TP63SRlgoBI/ AAAAAAAAFoo/PcsFfFh5ygw/s1600/globalizacao.jpg>. Acesso em: 10 fev. 2011. UNIDADE 2 | APRENDER E ENSINAR GEOGRAFIA 132 Ao observar a charge a que conclusão você chegou? Para ampliar a nossa discussão sobre o ensino da Geografia nos tempos de globalização destacamos o território, que segundo Oliva (2007, p. 47) “é a base da vida material e o conteúdo das relações sociais de todo o tipo e que passa a ter nova significação dentro do mundo que sofre a globalização”. Assim, mudam as relações entre as pessoas, entre os lugares, as paisagens, tornando-os cada vez mais globais. Essa mudança dá outra significação ao território, bem como transforma o indivíduo sem precisar sair do seu lugar. Ao trabalhar com as crianças, o lugar, a paisagem, o território, a sociedade, o professor pode perfeitamente trabalhar o processo de globalização e seus efeitos local, regional, nacional e global. Poderá destacar que o que estamos vivenciando hoje na política, economia, sociedade e no meio ambiente é reflexoda globalização, seja ela perversa ou não. Assim, a criança irá compreender, por exemplo, que os dramáticos movimentos migratórios a que assistimos no mundo e no Brasil está atrelado, na maioria das vezes, ao fenômeno da globalização, onde um trabalhador qualificado do dia para noite se torna desqualificado e precisa migrar em busca de emprego. Esse é apenas um exemplo dos efeitos da chamada globalização. Podemos destacar ainda os problemas ambientais, as crises econômicas, como a que ocorreu nos Estados Unidos no final de 2008 e 2009 e de que ainda hoje estão se recuperando, bem como a crise política do Egito e a questão nuclear do Irã. É claro que precisamos ter o cuidado de não tornar complexa a informação, pois assim a criança não irá entender. O professor precisa ter a clareza de compreender a informação, bem como relacioná-la com o que está sendo trabalhado. Para isso o professor precisa estar atualizado, acompanhar os noticiários, estar atento com o que acontece no Brasil e no mundo. E, embora como já destacamos anteriormente, o acesso às informações e às novas tecnologias não é igual para todas as crianças, nós professores precisamos estar preparados às várias perguntas e/ou curiosidades que envolvem o nosso planeta. Trabalhar com as crianças questões atuais e conseguir relacioná-las com o seu cotidiano é fundamental para que elas realmente compreendam que o mundo está interligado, e que, não importa onde elas estejam sempre serão parte integrante de uma rede global. É caro(a) acadêmico(a), pensar as relações do espaço geográfico, da sociedade local e global na contemporaneidade é indispensável para que tenhamos uma Geografia que não seja meramente descritiva ou de localização, como a maioria pensa. Neste início do século XXI, diante das novas transformações técnico-científicas-culturais o ensino da Geografia definitivamente precisa assumir o seu papel, a sua importância na sociedade como uma ciência que permite a compreensão do mundo em que vivemos. Esse é o grande desafio para o ensino da Geografia. Você concorda? TÓPICO 2 | OS CAMINHOS E DESCAMINHOS DO ENSINO DA GEOGRAFIA: A BUSCA POR UMA NOVA GEOGRAFIA 133 5 POR UMA GEOGRAFIA INCLUSIVA Pensar o ensino da Geografia neste contexto de grandes e velozes transformações técnico-científicas-culturais que estamos vivenciando e não pensar no ensino de uma Geografia inclusiva seria um tanto quanto contraditório, muito embora, saibamos das dificuldades e/ou realidade que a maioria das escolas, sobretudo as públicas enfrentam, quando se trata da Educação Inclusiva. Mas por que pensar em uma Geografia inclusiva? Um dos papéis do ensino da Geografia é a construção da cidadania, é formar cidadãos críticos capazes de compreender e interpretar o mundo em que vivem. E, como a Geografia é uma ciência social, é também inclusiva. Para pensarmos numa escola inclusiva, todo o corpo docente deve repensar como acontece o processo de aprendizagem e a concepção de educação escolar. Mantoan (2003, p. 35) nos diz o seguinte: Superar o sistema tradicional de ensinar é um propósito que temos de efetivar com toda a urgência. Essa superação refere-se ao “que” ensinamos aos nossos alunos e ao “como” ensinamos, para que eles cresçam e se desenvolvam, sendo seres éticos, justos, pessoas que terão de reverter uma situação que não conseguimos resolver inteiramente: mudar o mundo e torná-lo mais humano. Recriar esse modelo tem a ver com o que entendemos como qualidade de ensino. Construir uma escola para todos ou inclusiva, não é uma tarefa simples, pois precisamos rever nossos conceitos de educação e a escola precisa adaptar-se para receber os novos alunos. Reconstruir saberes que estão impregnados desde a escola de nossos avós e pais, é como se estivéssemos desrespeitando sua cultura e valores. Mas com certeza não é desta forma que o professor e a escola como um todo devem interpretar esta mudança, mas sim como a busca por um ensinar, mais igualitário, que respeite a particularidade de cada um e ao mesmo tempo aprenda com as diferenças. Como você bem sabe, as políticas nacionais de inclusão escolar são geridas através da Lei de Diretrizes de Bases da Educação no Brasil – LDB, Lei nº 9.394/96. Esta define a Educação Especial como modalidade escolar para alunos portadores de necessidades especiais, sobretudo, na Educação Básica. Conforme destaca Silva e Aranha (2011, p. 377) “a escola se torna inclusiva à medida que reconhece a diversidade que constitui seu alunado e a ela responde com eficiência pedagógica”. As necessidades educacionais de cada aluno devem ser adequadas de acordo com os diferentes elementos curriculares, de maneira a atender às peculiaridades de cada um e de todos os alunos. (SILVA; ARANHA, 2011). Portanto, a escola e o professor devem refletir e compreender que as mudanças na prática pedagógica são fundamentais para que o ensino da geografia alcance todos os alunos. Ao se depararem com toda a diversidade escolar, o corpo docente deve rever seus conceitos, ou seja, reavaliar seu planejamento, métodos de aprendizagem e perceber que a inclusão escolar é para todos. UNIDADE 2 | APRENDER E ENSINAR GEOGRAFIA 134 Trabalhar o ensino de Geografia com alunos com necessidades educacionais especiais, ainda é um grande desafio, pois a maioria dos professores não estão preparados, bem como não são todas as escolas que dispõem de profissionais qualificados para trabalhar com esses alunos. Segundo Campos (2002, p. 43), “para desenvolver uma competência tão criativa e complexa não basta uma formação acadêmica, é necessária também uma formação profissional”. Ou seja, o professor deve estar sempre se atualizando, buscando novos conhecimentos, para que assim ele possa atender às necessidades educacionais dos seus alunos e as suas necessidades educacionais, aprender com os novos avanços da educação, tanto em recursos pedagógicos, como em novas estratégias de ensinar uma geração de alunos tão diversificada. Neste sentido, é imprescindível que o professor compreenda que a tarefa de ensinar nos dias atuais, vai além de um ensino transmissivo, que o professor é o dono do saber e o aluno é o único que precisa aprender, mas sim para um ensino inclusivo, onde o professor também percebe suas limitações e aprende com as diferenças. 5.1 RECURSOS E ADAPTAÇÕES NO ENSINO DA GEOGRAFIA INCLUSIVA Estudar a geografia requer noções importantes de como entender o espaço geográfico que vivemos, para tanto, é relevante que o professor fique atento para a realidade de vida de cada aluno, observe os elementos trazidos por ele, contribuindo para que o conteúdo de geografia se torne mais concreto e prazeroso. Assim, o computador é uma ótima ferramenta de apoio ao professor, bem como a utilização da televisão. O uso de CD-ROM ilustrativos que acompanham os livros didáticos de Geografia também é uma ótima ferramenta. A utilização de mapas em relevo, maquetes e materiais recicláveis dentre outros também podem auxiliar o professor no processo de ensino e aprendizagem da Geografia. O uso e elaboração da maquete pode ser um importante instrumento para todos os alunos, pois permite compreender o espaço e suas multidimensões, bem como codificar e elaborar representações espaciais, materializando certa realidade, possibilitando a reflexão sobre o espaço produzido por ele mesmo. Trabalhar com o toque é essencial, para que os alunos sintam a textura dos objetos, o formato e a composição dos mesmos e consigam fazer a conexão do abstrato com o real. Daí a importância no ensino da Geografia de trabalhar com a maquete, o globo, mapas em 3D, dentreoutros. A criatividade do professor de Geografia pode ir além da sala de aula. O professor pode fazer uma aula de campo, com o intuito de fazer o aluno sentir o ar que respira, a água que bebe, o solo que pisa, os campos, a mata, as rochas, a rua, dentre outros. Isso irá possibilitar a percepção e a compreensão do seu mundo, do seu espaço geográfico. Ao trabalhar com alunos com necessidades educacionais especiais, o professor precisa estar atento às diferentes possibilidades de ensinar e aprender. É evidente que em ambos os casos destacados as atividades lúdicas também são ótimas opções para ensinar e aprender a Geografia. TÓPICO 2 | OS CAMINHOS E DESCAMINHOS DO ENSINO DA GEOGRAFIA: A BUSCA POR UMA NOVA GEOGRAFIA 135 DICAS No material de apoio desta disciplina, você encontrará textos interessantes sobre o ensino da Geografia inclusiva, inclusive exemplos de experiências e/ou projetos que deram certo. Aproveite para consultar os demais materiais disponibilizados. Boa Leitura! LEITURA COMPLEMENTAR REFLEXÕES SOBRE METODOLOGIA DO ENSINO DE GEOGRAFIA: UMA CONTRIBUIÇÃO PARA OS PROFESSORES-GEÓGRAFOS DO ENSINO BÁSICO Márcio Balbino Cavalcanti A discussão sobre a metodologia de ensino, hoje, assume novas formas em vista da compreensão que se tem da relação conteúdo-forma no cotidiano da sala de aula e do entendimento do que instrumentaliza o professor. Nesse sentido é preciso advertir que as metodologias não são meras formas neutras nas quais se depositam conteúdos. Os conteúdos em suas especificidades pedem coerência nas suas formas de produção/transmissão/produção. As metodologias são evidentemente formuladas mediante concepção de homem, de mundo e de educação e, portanto, veiculam teoria. É, então, podemos afirmar que a metodologia não deve ser vista como mero instrumento que leva ao conhecimento, mas sim, como conhecimento que é instrumento do professor no seu cotidiano. Instrumento de quê? No caso da Geografia, é um instrumento na construção da compreensão da produção/organização do espaço geográfico, junto aos alunos, com vistas, a partir do entendimento das mediações espaciais, estudarem a sociedade. Para fazê-los se entenderem como determinados e determinantes do/no espaço, os professores precisam também se comprometer como determinados/determinantes no espaço social e, particularmente, no espaço da escola. O método é algo ligado, de modo inextricável, à epistemologia, sendo impossível separar metodologia da teoria do conhecimento. Portanto, quando nos referimos à metodologia do ensino de geografia, precisamos posicionar de que Geografia nós estamos falando. Se estamos falando de uma Geografia que tem seus estatutos epistemológicos ainda fundados na concepção denominada hoje de tradicional nos círculos geográficos, que ainda vemos ensinada em muitos lugares, por muitos professores e presente num grande número de livros didáticos, UNIDADE 2 | APRENDER E ENSINAR GEOGRAFIA 136 não causa nenhum espanto se a metodologia desenvolvida por estes professores estiver calcada na pura e simples descrição dos fenômenos físicos e humanos. Neste sentido, é fundamental para a compreensão da questão do método/ metodologia de Geografia o entendimento/leitura/relação com a epistemologia da Geografia. Mas se a Geografia Tradicional, saber fragmentado e de discurso pedagógico enciclopédico (Lacoste, 1989), no rigor de sua epistemologia e no desenvolvimento de suas metodologias tem se mantido acrítica e a-histórica, ainda é muito recorrente nas escolas de ensino fundamental e médio, não se diferencia em quase nada de sua origem no século XIX. Rocha (1996, p.178), afirma ser mais do que urgente a compreensão e crítica desse processo a fim de superá-lo. É importante também pautar nessa discussão a Geografia que se ensina e que, pelo menos em tese, rompeu com a Geografia Tradicional. A Geografia gestada a partir do movimento epistemológico, teórico-metodológico e político de ruptura realizado na Geografia brasileira nos anos 70 e 80. O movimento de Renovação e que teve como principais atores/interlocutores professores de 1º e 2º graus, estudantes e professores universitários, e que teve na Associação dos Geógrafos Brasileiros (AGB) um dos mais importantes veículos de difusão potencializou a chamada Geografia Crítica. Será que o rompimento que se deu com a Geografia Tradicional chegou de fato às escolas de ensino fundamental e médio? Será que a Geografia Crítica consolidou possibilidades metodológicas de ensino capazes de propor a construção coletiva do conhecimento? Essas são perguntas de respostas difíceis. Mas a constatação dos problemas já é um bom começo. “A Geografia é uma dessas coisas chatas que inventaram para ser a palmatória intelectual das crianças”. Este fragmento do texto “Das coisas sem serventia uma delas é a geografia”, de Sousa Neto (1996, p. 5), talvez indique o caminho da primeira constatação a ser efetuada. Que Geografia está sendo ensinada? E de que forma está se dando? A primeira pergunta remete à epistemologia da Geografia e a segunda à metodologia, par inseparável. A Geografia era uma espécie de remédio ruim, considerava as crianças como folhas em branco, recipientes vazios, objetos nos quais se devia gravar as coisas que eram verdades. Assim as crianças só podiam memorizar o que viam, mas não aprendiam a pensar o espaço geográfico imediatamente vivido e relacioná-los a outros espaços geográficos. Essa prática educativa se apresentava dissociada da realidade, negando o aluno, fazendo com que ele não se visse, não se reconhecesse. A escola e a Geografia ensinam, assim, um espaço que não é o do aluno. Prática essa presente e reforçada pelos livros didáticos (com suas orientações cosmopolitas) e pelos Parâmetros Curriculares Nacionais, que prenhes de fragilidades teóricas, parecem caminhar ao encontro de um velho passado, que nas palavras de Pereira (1999, p. 46) “objetivam fixar normas sobre o ensino de Geografia”. TÓPICO 2 | OS CAMINHOS E DESCAMINHOS DO ENSINO DA GEOGRAFIA: A BUSCA POR UMA NOVA GEOGRAFIA 137 Desse modo, os conceitos geográficos já vinham prontos, eram coisas definidas, acabadas. Logo não havia diálogo porque se pagava certo imposto conceitual aos livros didáticos – as crianças não sabiam, nem eram capazes de criar, nada – o que era certo estava nos livros para ser memorizado. Por muito tempo esse tipo de Geografia impediu ou deseducou as pessoas para a prática da cidadania. O homem era visto/entendido como mais um elemento da paisagem para ser descrito. A forma ganha mais importância que o homem, a forma mais importante que o processo; a aparência constituída que se descreve sem importar sua essência. Como afirma Moreira (1987, p. 23), “a opacidade sensorial implica, então, grave consequência gnoseológica: discurso do imediato, a Geografia é uma ciência sem trânsito entre a paisagem (aparência) e o seu próprio âmago (essência). Então, se nossa intenção for, como professores de Geografia, a de ajudar a formar cidadãos, é preciso que as crianças aprendam a pensar seus espaços geográficos desde cedo. Para isso é fundamental entrar em contato com as experiências sociais tecidas no seu fazer cotidiano. Tentando considerar como é que meninos e meninas veem as coisas onde suas vidas são vividas, como se relacionam com os grupos sociais nos locais por onde circulam, quais são as representações sociais que têm desses lugares. Enfim, considerar a realidade em que as crianças estão inseridas, levando em conta as informações que já possuem e as experiênciasvivenciadas. Contextualizar o ensino de Geografia é perceber o mundo, considerar o saber que retrata a realidade e entender a educação como forma de intervenção no mundo, comprometida com a condição de educador e com a realidade social dos alunos. E assim, muito mais do que respostas que não levam a lugar nenhum, é aconselhável um diálogo acerca dos conceitos. Esta, nos parece, é a melhor maneira: partir do universo conceitual das crianças, do senso comum (que é o nível de compreensão inicial para construir, junto com elas, os conceitos científicos. O conhecimento disciplinar deve ser dinâmico para poder gerar novos conhecimentos. Para reforçar a importância da construção conceitual estabelecemos um diálogo com Callai (1999) que nos ensina que: ao construir conceitos, o aluno realmente aprende, por exemplo, a entender um mapa, a compreender o relevo, o que é região, nação, município. Ao conhecer, analisar e buscar explicações para compreender a realidade que está sendo vivenciada no seu cotidiano, ao extrapolar para outras informações e ao exercitar a crítica sobre essa realidade, ele poderá abstrair essa realidade concreta, ir teorizando sobre ela e ir construindo o seu conhecimento. Ao construir conceitos, o aluno aprende e não fica apenas na memorização. A construção de conceitos é, assim, uma habilidade fundamental para a vida cotidiana, uma vez que possibilita às pessoas organizar a realidade, estabelecer classes de objeto, trocar experiências com o outro, construir conhecimento. Os instrumentos conceituais são importantes porque ajudam as UNIDADE 2 | APRENDER E ENSINAR GEOGRAFIA 138 pessoas a caracterizar o real, a classificá-lo, a fazer generalizações. “Os conceitos são importantes mediadores da relação das pessoas com a realidade; ele nos liberta da escravidão do particular”. (COLL, 1997 apud CALLARI , 1999). A ideia é partir do concreto, daquilo que está à mão, diante dos olhos – aquilo que pode ser sentido – para construir então abstrações que nos façam entender melhor o mundo por nós percebido na instância do concreto. Dessa forma, aprender a pensar o espaço, construir e difundir outra representação do mundo e perceber e compreender as estratégias de organização do espaço, estabelecendo relações existentes entre os alunos, o espaço que ocupam, as condições de vida, saúde, escolaridade e entendendo o homem como um ser social que constrói seus conhecimentos através de suas experiências de vida. No dizer de Cavalcanti (1998, p. 88), “seja como ciência, seja como matéria de ensino, a Geografia desenvolveu uma linguagem, um corpo conceitual que acabou por contituir- se numa linguagem geográfica. Esta linguagem está permeada por conceitos que são requisitos para a análise dos fenômenos do ponto de vista geográfico”. Callai (1999) destaca que as representações sociais dos alunos são importante recurso na formação dos conceitos, porque expressam o conhecimento cotidiano do aluno, ou seja, o que ele conhece e que já é compartilhado socialmente, ajudam na superação do relativismo e do subjetivismo no ensino. Essa ideia implica preocupar-se menos com os conteúdos e suas quantidades e mais com a qualidade da construção do pensamento geográfico das crianças, imaginando que se as crianças são capazes de aprender a se situar e se orientar onde quer que estejam, fazem isso à medida que aprendem a observar, descrever, construir explicações e relacionar lugares, pessoas e fenômenos. Conteúdos, conceitos, objetivos remetem inevitavelmente à discussão acerca do currículo, a construção de um currículo em uma abordagem democrática onde a produção do conhecimento pode e deve fazer-se rigorosa, porém solidária e fundamentalmente comprometida com os valores legítimos da sociedade brasileira. Currículo consiste numa realidade histórica específica que expressa um modo particular de relação entre os homens. Currículo, não é, como muitas vezes fomos levados a pensar, coisa estática e imutável, realizado apenas como desdobramento de programas e normas preestabelecidas. Currículo é também expressão de movimento, diferença, controvérsia, luta, história, processo, relação. A construção do currículo deve pautar-se pelo resgate da cultura de que o aluno é portador. Nesse sentido, compreender que o saber geográfico da sala de aula é diferente do saber geográfico científico. Na sala de aula gesta-se um novo, um outro. Metodologicamente implica ver os estudantes como construtores do conhecimento, responsáveis pela elaboração de um saber novo e, portanto, autores e não somente atores. Entendemos ser o ponto de partida a prática social de alunos e professores enquanto indivíduos histórica e socialmente situados, onde, a partir de atividades desafiadoras de amplo questionamento sobre o conteúdo em foco para compreensão do fenômeno, podemos construir o conhecimento TÓPICO 2 | OS CAMINHOS E DESCAMINHOS DO ENSINO DA GEOGRAFIA: A BUSCA POR UMA NOVA GEOGRAFIA 139 numa perspectiva coletiva, crítica e que tenha incluído os agentes como autores de produção do saber. A partir daí, obter informações e estabelecer relações necessárias ao entendimento dessa realidade numa dimensão de totalidade (conceito fundamental para apreensão do espaço geográfico), e elaboradar uma nova forma de entendimento das práticas sociais, da reelaboração, da recontextualização lógica que funda o conhecimento escolar. Retornamos a discussão que inicia este texto, as metodologias não são formas nas quais se depositam conteúdos, são conhecimentos que instrumentalizam o professor, e é nesta perspectiva que visualizamos a proposição. Concluímos a argumentação acerca da metodologia do ensino de Geografia afirmando uma das prerrogativas do ensino da ciência geográfica a partir das palavras de Freire (1998, p. 29) “o ato de estudar implica sempre o de ler, mesmo que neste não se esgote. De ler o mundo, de ler a palavra e assim ler a leitura do mundo anteriormente feita”. FONTE: CAVALCANTI, M. B. Reflexões sobre Metodologia do Ensino de Geografia: uma contribuição para os professores-geógrafos do Ensino Básico. Disponível em: <http://www. psicopedagogia.com.br/artigos/artigo.asp?entrID=1076>. Acesso em: 9 maio 2011. UNI A partir dessa leitura, que reflexões você faz em relação à Metodologia do Ensino de Geografia? Reflita sobre isso. 140 RESUMO DO TÓPICO 2 Neste tópico você viu que: • Foi a partir da promulgação da Lei Orgânica do Ensino Primário e a Lei Orgânica do Ensino Normal em 1946, conhecida como Reforma Capanema, que o ensino de Geografia passou a fazer parte do currículo oficial das Séries Iniciais do Ensino Fundamental. • A partir da nova LDB de 1996 o ensino da Geografia nas Séries Iniciais do Ensino Fundamental passou por um processo de revitalização. Contudo, o ensino da Geografia só passou a fazer parte do currículo oficial das Séries Iniciais do Ensino Fundamental com a publicação dos Parâmetros Curriculares Nacionais – PCN. Todavia, essa oficialização não foi suficiente para dar a devida importância ao ensino da Geografia nas Séries Iniciais. • Para romper com a prática tradicional da sala de aula, não adianta apenas a vontade do professor. É preciso que haja concepções teórico-metodológicas capazes de permitir o reconhecimento do saber do outro, a capacidade de ler o mundo da vida e reconhecer a sua dinamicidade, superando o que está posto como verdade absoluta. É preciso trabalhar com a possibilidade de encontrar formas de compreender o mundo, produzindo um conhecimento que é legítimo. • Emboraa globalização seja discutida com maior ênfase nas Séries Finais do Ensino Fundamental e Ensino Médio, é nas Séries Iniciais do Ensino Fundamental que essa discussão precisa ser iniciada. Isso porque as nossas crianças estão cada vez mais interligadas com o que acontece no Brasil e no mundo, estão cada vez mais conectadas com as novas tecnologias. Ao trabalhar com as crianças o lugar, a paisagem, o território, a sociedade, o professor pode perfeitamente trabalhar o processo de globalização e seus efeitos local, regional, nacional e global. • Atualmente, trabalhar com as crianças questões atuais e conseguir relacioná- las com o seu cotidiano é fundamental para que elas realmente compreendam que o mundo está interligado e que, não importa onde elas estejam, sempre serão parte integrante de uma rede global. • Trabalhar o ensino de Geografia com as crianças portadoras de necessidades especiais ainda é um grande desafio, pois a maioria dos professores não está preparada, bem como não são todas as escolas que dispõe de profissionais qualificados para trabalhar exclusivamente com essas crianças. • O professor, ao trabalhar com alunos com necessidades especiais, precisa estar atento às diferentes possibilidades de ensinar e aprender. O uso da tecnologia e a criatividade do professor poderão fazer a diferença no processo de ensino/aprendizagem. 141 AUTOATIVIDADE 1 Como você vê o ensino da Geografia neste início de século XXI? Teça um pequeno texto sobre essa temática. ________________________________________________________________ ________________________________________________________________ ________________________________________________________________ _______________________________________________________________ ________________________________________________________________ _______________________________________________________________ ________________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ 2 Você acredita numa geografia inclusiva? Qual o seu entendimento a respeito do assunto? _____________________________________________________________ _____________________________________________________________ _____________________________________________________________ _____________________________________________________________ _____________________________________________________________ _____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ 3 Observe o slogan a seguir: 142 FIGURA 38 – EDUCAÇÃO INCLUSIVA FONTE: Disponível em: <http://www.imprensaoficial.com.br/PortalIO/ images/projetossociais/educacao_inclusiva_g.jpg>. Acesso em: 15 abr. 2011. Reflita e tente responder a esta pergunta. 143 TÓPICO 3 O ENSINO DA GEOGRAFIA SEGUNDO OS PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS – PCN UNIDADE 2 1 INTRODUÇÃO Ao iniciarmos nosso estudo sobre os PCN (Parâmetros Curriculares Nacionais), gostaríamos de lhe perguntar: o que você sabe sobre os PCN? Você tem conhecimento sobre os principais objetivos do ensino da Geografia discutidos nos PCN? Se a resposta for não, o estudo deste tópico é uma ótima oportunidade para conhecê-lo. E, se a resposta for sim, é um bom momento para rever alguns pontos importantes do ensino de Geografia nos PCN. A elaboração dos PCN contou com a participação de muitos educadores do Brasil que contribuíram com suas experiências e estudos possibilitando assim uma proposta teórico-metodológica pautada na realidade educacional de cada região do país. O intuito do Ministério da Educação e Desporto, ao consolidar os PCN, é apontar metas de qualidade que possam auxiliar o aluno a enfrentar o mundo atual como cidadão participativo, reflexivo e autônomo, conhecedor de seus direitos e deveres. (BRASIL, 1997). Neste tópico, procuramos elencar algumas considerações sobre o ensino da Geografia segundo os PCN (Parâmetros Curriculares Nacionais). Nosso intuito é possibilitar a você, caro acadêmico, a compreensão sobre esta temática. Ademais poderá contribuir de alguma maneira para as suas práticas pedagógicas de Geografia, apesar das controvérsias. Vamos ao estudo dos PCN? 2 A PROPOSTA TEÓRICO-METODOLÓGICA DOS PARÂMETROS CURRICULARES Para você ter uma ideia do processo de elaboração dos PCN, inicialmente, os documentos foram elaborados em versões preliminares, com o intuito de serem analisados, debatidos por professores que atuavam em diferentes graus de ensino, bem como por especialistas da educação e/ou de outras áreas e instituições governamentais e não governamentais. 144 UNIDADE 2 | APRENDER E ENSINAR GEOGRAFIA Na elaboração dos PCN procurou-se respeitar as diversidades regionais, culturais e políticas existentes no nosso país. Outro propósito era considerar a necessidade de construir e/ou adequar referências nacionais comuns ao processo educativo em todas as regiões do Brasil. Assim, criaram-se condições nas escolas, que possibilitaram aos alunos o acesso aos conhecimentos socialmente elaborados e reconhecidos considerados necessários ao exercício da cidadania. Embora, houvesse controvérsias a esse respeito. Os PCN objetivam o apoio às discussões e ao desenvolvimento de projetos educativos das escolas, a reflexão sobre a prática pedagógica, ao planejamento das aulas, a análise e seleção de materiais didáticos e de recursos tecnológicos e, em especial, que possam contribuir para a formação e atualização profissional. (BRASIL, 1997). E como ficou o ensino da Geografia neste contexto? Como vimos em estudos anteriores, as concepções do ensino da Geografia passaram por diferentes momentos no que tange aos objetos e métodos do fazer geográfico. A partir de agora vamos conhecer o papel da Geografia no Ensino Fundamental de acordo com os PCN. Começaremos pelos objetivos gerais do ensino de Geografia para o Ensino Fundamental. 2.1 OBJETIVOS GERAIS DO ENSINO DE GEOGRAFIA PARA O ENSINO FUNDAMENTAL Os objetivos que serão elencados a seguir estão dispostos nos PCN (BRASIL, 1997, p. 121 e 122) de Geografia que visam à construção por parte dos alunos de um conjunto de conhecimentos correspondentes aos conceitos, procedimentos e atitudes relacionadas à ciência geográfica. O intuito é que ao final de Ensino Fundamental os alunos sejam capazes de: • conhecer a organização do espaço geográfico e o funcionamento da natureza em suas múltiplas relações, de modo a compreender o papel das sociedades em sua construção e na produção do território, da paisagem e do lugar; • identificar e avaliar as ações dos homens em sociedade e suas consequências em diferentes espaços e tempos, de modo a construir referenciais que possibilitem uma participação propositiva e reativa nas questões socioambientais locais; • compreender a espacialidade e temporalidade dos fenômenos geográficos estudados em suas dinâmicas e interações; • compreender que as melhorias nas condições de vida, os direitos políticos, os avanços técnicos e tecnológicos e as transformações socioculturais são conquistas decorrentes de conflitos e acordos, que ainda não são usufruídas por todos os seres humanos e, dentro de suas possibilidades,empenhar-se em democratizá-las; • conhecer e saber utilizar procedimentos de pesquisa da Geografia para compreender o espaço, a paisagem, o território e o lugar, seus processos de construção, identificando suas relações, problemas e contradições; TÓPICO 3 | O ENSINO DA GEOGRAFIA SEGUNDO OS PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS – PCN 145 • fazer leituras de imagens, de dados e de documentos de diferentes fontes de informação, de modo a interpretar, analisar e relacionar informações sobre o espaço geográfico e as diferentes paisagens; • saber utilizar a linguagem cartográfica para obter informações e representar a espacialidade dos fenômenos geográficos; • valorizar o patrimônio sociocultural e respeitar a sociodiversidade, reconhecendo-a como um direito dos povos e indivíduos e um elemento de fortalecimento da democracia. O que você achou desses objetivos? Será que realmente todos eles são possíveis de serem alcançados ao final do Ensino Fundamental? A seu ver, o que precisa ser feito para que isso aconteça? Qual o nosso papel neste contexto? Sem dúvida, a atuação dos professores é essencial para que esses objetivos sejam alcançados e, inclusive, melhorados. E, principalmente a sua atuação fará a diferença no processo de compreensão do fazer geográfico. Daí a importância de você se interar da ciência geográfica, dominar conceitos, traçar estratégias e/ ou práticas educativas, trocar ideias com os professores de Geografia das Séries Finais, selecionar e organizar os conteúdos a serem trabalhados, dentre outros. No que tange à seleção e organização dos conteúdos de Geografia, vejamos o que dizem os PCNs. 2.2 SELEÇÃO E ORGANIZAÇÃO DOS CONTEÚDOS DE GEOGRAFIA- PCN Adquirir conhecimentos básicos de Geografia é algo importante para a vida em sociedade, em particular para o desempenho das funções de cidadania: cada cidadão, ao conhecer as características sociais, culturais e naturais do lugar onde vive, bem como as de outros lugares, pode comparar, explicar, compreender e espacializar as múltiplas relações que diferentes sociedades em épocas variadas estabeleceram e estabelecem com a natureza na construção de seu espaço geográfico. A aquisição desses conhecimentos permite uma maior consciência dos limites e responsabilidades da ação individual e coletiva com relação ao seu lugar e a contextos mais amplos, de escala nacional e mundial. (BRASIL, 1997, p. 123). Assim, no Ensino Fundamental, a escolha de conteúdos de Geografia precisa contemplar temáticas de relevância social, cuja compreensão, por parte dos alunos, se mostra essencial para sua formação como cidadão, sendo capaz de desenvolver hábitos e construir valores importantes para sua vida em sociedade. (BRASIL, 1997). A seleção dos conteúdos deve possibilitar; 146 UNIDADE 2 | APRENDER E ENSINAR GEOGRAFIA o pleno desenvolvimento do papel de cada um na construção de uma identidade com o lugar onde vive e, em sentido mais abrangente, com a nação brasileira, valorizando os aspectos socioambientais que caracterizam seu patrimônio cultural e ambiental. Devem permitir também o desenvolvimento da consciência de que o território nacional é constituído por múltiplas e variadas culturas, que definem grupos sociais, povos e etnias distintos em suas percepções e relações com o espaço, e de atitudes de respeito às diferenças socioculturais que marcam a sociedade brasileira. (BRASIL, 1997, p. 123). Indubitavelmente outro critério importante na seleção de conteúdos são alguns elementos e/ou categorias essenciais da Geografia, tais como: espaço geográfico, paisagem, território e lugar. Estes sintetizam aspectos da organização espacial, possibilitam a interpretação dos fenômenos que a constituem em múltiplos espaços e tempos, bem como permitem identificar a singularidade do saber geográfico, ou seja, a realidade como uma totalidade de processos sociais e naturais numa dimensão histórica e cultural. (BRASIL, 1997). Os conteúdos trabalhados precisam promover nos alunos a compreensão de como as diferentes sociedades estabeleceram relações sociais, políticas e culturais que resultaram numa apropriação histórica da natureza pela sociedade, por meio das diferentes formas de organização do trabalho, de perceber e sentir a natureza, de nela intervir e transformá-la. (BRASIL, 1997). O desenvolvimento das capacidades cognitivas dos alunos no que concerne as noções de espaço e tempo também são critérios importantes que precisam ser contemplados no Ensino da Geografia. A Geografia trabalha com a espacialidade dos fenômenos em sua temporalidade, porém é importante estudar a extensão de uma paisagem e o papel histórico de sua posição geográfica, não apenas sua localização. Tais noções - espacialidade e temporalidade -, passíveis de serem ampliadas a partir do conhecimento geográfico, podem ser trabalhadas mediante interface com outras áreas, tais como a Matemática, a Arte e a Educação Física, entre outras. (BRASIL, 1997, p. 124). Na seleção e organização de conteúdos de Geografia foram também destacados procedimentos de análise do próprio saber geográfico, tais como: a observação, descrição, o registro e a documentação, a representação, a analogia, a explicação e a síntese. Esses procedimentos devem ser trabalhados ao longo de toda a escolaridade, isso porque podem auxiliar os alunos na leitura e interpretação das informações que recebem e também na compreensão do ponto de vista geográfico. (BRASIL, 1997). Mas afinal, quais são os conteúdos de Geografia trabalhados nas Séries Iniciais do Ensino Fundamental? Vejamos na próxima seção. TÓPICO 3 | O ENSINO DA GEOGRAFIA SEGUNDO OS PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS – PCN 147 3 O ENSINO DA GEOGRAFIA NO PRIMEIRO E SEGUNDO CICLO - PCN Como vimos no tópico 1 desta Unidade, a leitura de mundo já pode ser compreendida no início da escolarização das nossas crianças, ou seja, no primeiro e segundo ciclo. Assim, o ensino da Geografia é fundamental para consolidar essa leitura. Caso você não saiba ou não se recorde, o primeiro ciclo corresponde à 1ª e 2º séries. Nesta fase, geralmente, os alunos estão com uma faixa etária de 7 a 8 anos. Já o segundo ciclo corresponde à 3ª e 4ª série, cuja faixa etária permeia entre 9 e 10 anos. Contudo, é importante destacar que de acordo com a Lei Federal nº 11.274/06, art. 32. “O Ensino Fundamental obrigatório, com duração de 9 (nove) anos, gratuito na escola pública, iniciando-se aos 6 (seis) anos de idade, terá por objetivo a formação básica do cidadão”. Isso significa que o Ensino Fundamental terá a duração de 9 (nove) anos, com início aos 6 (seis). Assim, as Séries Iniciais do Ensino Fundamental abarcam do 1º ao 5º ano e as Séries Finais Ensino Fundamental do 6º ao 9º ano. Nesta nova dinâmica, o primeiro ciclo corresponde da 1ª à 3ª série (6 a 8 anos) e o segundo ciclo à 4ª e 5ª série (9 a 10 anos). Veja como fica a nova organização nos sistemas educacionais. QUADRO 2 – NOVA ORGANIZAÇÃO NOS SISTEMAS EDUCACIONAIS FONTE: Disponível em: <http://www.slideshare.net/janinedepine/ensino-fundamental-9-anos>. Acesso em: 10 abr. 2011. 148 UNIDADE 2 | APRENDER E ENSINAR GEOGRAFIA IMPORTANT E Caro(a) acadêmico(a)! Para você saber mais sobre o Ensino Fundamental de 9 (nove) anos, sugerimos o acesso ao site da Revista Nova Escola, que apresenta algumas respostas para vários questionamentos a respeito dessa temática. Acesse: <http:// revistaescola.abril.com.br/ensino-fundamental-9-anos/>. A partir de agora, veremos como deve ser o estudo da Geografia no primeiro esegundo ciclo, conforme os PCN. 3.1 ENSINO E APRENDIZAGEM DE GEOGRAFIA NO PRIMEIRO CICLO O estudo da Geografia, nesta fase da criança, deve explorar, sobretudo, temas voltados à natureza e sua relação com a sociedade no que tange à produção e transformação do espaço geográfico. O ponto de partida para essa compreensão é o estudo da paisagem local. Neste estudo é importante analisar as transformações dessa paisagem em função das atividades econômicas, culturais e políticas inseridas no próprio contexto de vivencia dos alunos, ou seja, partindo da realidade do meio em que vivem. Conforme as orientações destacadas no PCN de História e Geografia é preciso estimular os diversos olhares nos diferentes tipos de paisagens. Assim, no final do primeiro ciclo os alunos serão capazes de (BRASIL, 1997, p. 130-131): • reconhecer, na paisagem local e no lugar em que se encontram inseridas as diferentes manifestações da natureza e a apropriação e transformação dela pela ação de sua coletividade, de seu grupo social; • conhecer e comparar a presença da natureza, expressa na paisagem local, com as manifestações da natureza presentes em outras paisagens; • reconhecer semelhanças e diferenças nos modos que diferentes grupos sociais se apropriam da natureza e a transformam, identificando suas determinações nas relações de trabalho, nos hábitos cotidianos, nas formas de se expressar e no lazer; • conhecer e começar a utilizar fontes de informação escritas e imagéticas utilizando, para tanto, alguns procedimentos básicos; • saber utilizar a observação e a descrição na leitura direta ou indireta da paisagem, sobretudo por meio de ilustrações e da linguagem oral; • reconhecer, no seu cotidiano, os referenciais espaciais de localização, orientação e distância de modo a deslocar-se com autonomia e representar os lugares onde vivem e se relacionam; TÓPICO 3 | O ENSINO DA GEOGRAFIA SEGUNDO OS PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS – PCN 149 • reconhecer a importância de uma atitude responsável de cuidado com o meio em que vivem, evitando o desperdício e percebendo os cuidados que se deve ter na preservação e na manutenção da natureza. Conforme os PCN (1997), esses são objetivos do estudo da Geografia no primeiro ciclo. Mas, quais são critérios de avaliação neste ciclo? Vejamos. 3.1.1 Os critérios para Avaliação no Primeiro Ciclo – PCN A avaliação precisa ser bem planejada. Assim, foram estabelecidos alguns critérios, tais como (BRASIL, 1997, p. 136-137): • Reconhecer algumas das manifestações da relação entre sociedade e natureza presentes na sua vida cotidiana e na paisagem local. • Reconhecer e localizar as características da paisagem local e compará-las com as de outras paisagens. • Ler, interpretar e representar o espaço por meio de mapas simples. No primeiro critério, o intuito é verificar o quanto o aluno se apropriou do conhecimento sobre a interdependência entre a sociedade e a natureza, e também a relação dessa com a paisagem local e o lugar onde está inserido. O segundo critério procura avaliar a capacidade do aluno distinguir os diferentes aspectos naturais e culturais da paisagem, por meio da observação e descrição, percebendo assim, a multiplicidade de tempos e espaços que a compõe. Já o terceiro critério, explora o conhecimento do aluno no que concerne o uso da linguagem cartográfica. O que você achou desses critérios? 3.2 ENSINO E APRENDIZAGEM DE GEOGRAFIA NO SEGUNDO CICLO Nesta fase, os alunos já têm o domínio do espaço vivido e percebido. Assim, o estudo da Geografia no segundo ciclo está focado nas “diferentes relações entre as cidades e o campo em suas dimensões sociais, culturais e ambientais e considerando o papel do trabalho, das tecnologias, da informação, da comunicação e do transporte”. (BRASIL, 1997, p. 139). Desse modo, o principal intuito é que os alunos compreendam a produção e transformação ao longo do tempo, tanto da paisagem rural quanto urbana, bem como os múltiplos espaços geográficos. Contudo, conforme as orientações destacadas no PCN de História e Geografia, os objetivos de Geografia para o segundo ciclo são (BRASIL, 1997, p. 143-145): • reconhecer e comparar o papel da sociedade e da natureza na construção de diferentes paisagens urbanas e rurais brasileiras; 150 UNIDADE 2 | APRENDER E ENSINAR GEOGRAFIA • reconhecer semelhanças e diferenças entre os modos de vida das cidades e do campo, relativas ao trabalho, às construções e moradias, aos hábitos cotidianos, às expressões de lazer e de cultura; • reconhecer, no lugar onde se encontram inseridas as relações existentes entre o mundo urbano e o mundo rural, bem como as relações que sua coletividade estabelece com coletividades de outros lugares e regiões, focando tanto o presente como o passado; • conhecer e compreender algumas das consequências das transformações da natureza causadas pelas ações humanas, presentes na paisagem local e em paisagens urbanas e rurais; • reconhecer o papel das tecnologias, da informação, da comunicação e dos transportes na configuração de paisagens urbanas e rurais e na estruturação da vida em sociedade; • saber utilizar os procedimentos básicos de observação, descrição, registro, comparação, análise e síntese na coleta e tratamento da informação, seja mediante fontes escritas ou imagéticas; • utilizar a linguagem cartográfica para representar e interpretar informações em linguagem cartográfica, observando a necessidade de indicações de direção, distância, orientação e proporção para garantir a legibilidade da informação; • valorizar o uso refletido da técnica e da tecnologia em prol da preservação e conservação do meio ambiente e da manutenção da qualidade de vida; • adotar uma atitude responsável em relação ao meio ambiente, reivindicando, quando possível, o direito de todos a uma vida plena num ambiente preservado e saudável; • conhecer e valorizar os modos de vida de diferentes grupos sociais, como se relacionam e constituem o espaço e a paisagem em que se encontram inseridos. 3.2.1 Os critérios para avaliação no Segundo Ciclo – PCN Assim como no primeiro ciclo, a avaliação também precisa ser planejada na perspectiva de dar continuidade aos estudos posteriores dos alunos. Para isso torna-se necessário estabelecer alguns critérios. São eles (BRASIL, 1997, p. 150-151): • Reconhecer e comparar os elementos sociais e naturais que compõem paisagens urbanas e rurais brasileiras, explicando alguns dos processos de interação existentes entre elas. • Reconhecer semelhanças e diferenças entre os modos de vida das cidades e do campo. • Reconhecer o papel das tecnologias, da informação, da comunicação e dos transportes na configuração de paisagens urbanas e rurais e na estruturação da vida em sociedade. • Estabelecer algumas relações entre as ações da sociedade e suas consequências para o ambiente. • Representar e interpretar informações sobre diferentes paisagens utilizando procedimentos convencionais da linguagem cartográfica. • Observar, descrever, explicar, comparar e representar paisagens urbanas e rurais. TÓPICO 3 | O ENSINO DA GEOGRAFIA SEGUNDO OS PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS – PCN 151 autoativida de Qual dos critérios apresentados você considera mais significativo? Por quê? Em sua opinião qual a importância de se estabelecer critérios no processo avaliativo? Reflita. 4 ALGUMAS CONSIDERAÇÕES FINAIS SOBRE O ENSINO DE GEOGRAFIA SEGUNDO OS PCN Neste tópico, elencamos para você o ensino da Geografia segundo os PCN, sobretudo, nas Séries Iniciais do Ensino Fundamental. Essa abordagem é necessária, pois, comovimos no Tópico 2 desta Unidade, foi com a publicação dos PNC que o ensino de Geografia passou a fazer parte do currículo oficial das Séries Iniciais do Ensino Fundamental. Ademais, é importante que você conheça as orientações trazidas nos PCN, neste caso, o de Geografia, que de alguma maneira poderão auxiliá-lo na execução do seu trabalho em sala de aula. No entanto, não podemos deixar de destacar as controvérsias em relação aos PCN, a começar pela elaboração. Vejamos. A elaboração dos PCN tem uma base nacional comum que muitos autores os consideram documentos superficiais, pois não há esforços para que mudanças estruturais ocorram e isso fica claro quando é analisada a forma como eles foram elaborados, ou seja, de maneira não democrática. (MARQUES, 2008). Apesar desses documentos terão sido elaborados com a participação de vários profissionais da educação e outras áreas de estudo, eles foram praticamente impostos as instituições de ensino. Conforme destaca Marques (2008), outra questão problemática é a ideia de que para se promover o ensino de Geografia nas Séries Iniciais as crianças precisam estar alfabetizadas, dominando os códigos linguísticos. A ausência de orientações que encaminhem o seu aprendizado por meio da oralidade, de dramatizações, músicas ou brincadeiras vai reforçar a ideia de que o ensino de Geografia nas Séries Iniciais do Ensino Fundamental só deve ser ministrado de fato quando a criança já estiver letrada ou sabendo ler e escrever. (MARQUES, 2008). De fato, o ensino da Geografia já é perfeitamente possível na Educação Infantil, como vimos no Tópico 1 desta unidade. Ainda segundo a mesma autora, além desses problemas, o documento em alguns trechos reforça a separação entre a natureza e a sociedade, consequentemente a divisão entre a Geografia Física, Humana e Econômica. Este é um problema que, inclusive, permeia muitas universidades do nosso país. 152 UNIDADE 2 | APRENDER E ENSINAR GEOGRAFIA Como você pode perceber há controvérsias em relação à elaboração e algumas orientações destacadas nos PCN de Geografia. Essa discussão não é recente, mas sem dúvida merece uma atenção especial, sobretudo, o verdadeiro papel da Geografia nas Séries Iniciais. No entanto, independente dos aspectos positivos e negativos dos PCN, para que realmente o ensino e aprendizagem de Geografia ocorram de maneira eficaz, a atuação e criatividade do professor farão toda a diferença neste contexto. Como já destacamos em tópicos anteriores, é esse profissional, no caso você, enquanto futuro pedagogo que será o grande responsável para que o aluno dê os primeiros passos na compreensão do mundo e se sinta parte integrante como cidadão consciente, crítico e conhecedor do seu meio e da relação deste com os demais espaços geográficos. Esse seja talvez o período mais importante e determinante na vida escolar de um aluno. Esse será o seu grande desafio. Você está preparado para isso? Reflita. Para ajudá-lo(a) a vencer esse desafio, na Unidade 3 deste Caderno de Estudos, procuramos trazer práticas pedagógicas e dicas que certamente farão a diferença em sala de aula no que concerne ao ensino da Geografia. Até a próxima unidade! DICAS Caro(a) acadêmico(a)! No Material de Apoio desta disciplina, disponibilizamos os PCNs de Geografia para que você os conheça na íntegra, principalmente os blocos temáticos e conteúdos estudados em cada um dos ciclos, bem como detalhes dos critérios de avaliação e também orientações didáticas. Vale a pena efetuar essa leitura. Aproveite para consultar os demais materiais postados. Convidamos você, a participar também do fórum e da enquete preparados especialmente para você e os demais acadêmicos que estão realizando esta disciplina. Esperamos a sua participação. 153 RESUMO DO TÓPICO 3 Neste tópico você estudou que: • A elaboração dos PCN contou com a participação de muitos educadores do Brasil, que contribuíram com suas experiências e estudos, possibilitando assim uma proposta teórico-metodológica pautada na realidade educacional de cada região do país. Na elaboração dos PCN, procurou-se respeitar as diversidades regionais, culturais e políticas existentes no nosso país. Outro propósito era considerar a necessidade de construir e/ou adequar referências nacionais comuns ao processo educativo em todas as regiões do Brasil. • Os objetivos nos PCN de Geografia visam à construção por parte dos alunos de um conjunto de conhecimentos correspondentes aos conceitos, procedimentos e atitudes relacionadas à ciência geográfica. • No primeiro ciclo, o estudo da Geografia deve explorar, sobretudo, temas voltados à natureza e sua relação com a sociedade no que tange à produção e transformação do espaço geográfico. O ponto de partida para essa compreensão é o estudo da paisagem local. Neste estudo é importante analisar as transformações dessa paisagem em função das atividades econômicas, culturais e políticas inseridas no próprio contexto de vivência dos alunos, ou seja, partindo da realidade do meio em que vivem. • No segundo ciclo, os alunos já têm o domínio do espaço vivido e percebido. Assim, o estudo da Geografia está focado nas diferentes relações entre as cidades e o campo em suas dimensões sociais, culturais e ambientais. Desse modo, o principal intuito é que os alunos compreendam a produção e transformação ao longo do tempo, tanto da paisagem rural quanto urbana, bem como os múltiplos espaços geográficos. • Há controvérsias sobre a elaboração e algumas orientações no PCN, neste caso, o de Geografia. Dentre elas, podemos destacar: a ideia de que, para se promover o ensino de Geografia nas Séries Iniciais as crianças precisam estar alfabetizadas, dominando os códigos linguísticos; o documento em alguns trechos reforça a separação entre a natureza e a sociedade, consequentemente a divisão entre a Geografia Física, Humana e Econômica. • Independente dos aspectos positivos e negativos dos PCN, para que realmente o ensino e aprendizagem de Geografia ocorra de maneira eficaz, a atuação comprometida e criativa do professor fará toda a diferença neste contexto. 154 Diante do exposto neste tópico, propomos como autoatividade a realização de um plano de aula. Elabore-o a partir de um dos objetivos destacados no primeiro ou no segundo ciclo conforme os PCN. Ouse de sua criatividade. AUTOATIVIDADE PLANO DE AULA ESCOLA SÉRIE DATA TEMPO PREVISTO TEMA REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS OBJETIVO METODOLOGIA RECURSOS DIDÁTICOS CRITÉRIOS DE AVALIAÇÃO 155 UNIDADE 3 PRÁTICAS EDUCATIVAS PARA O ENSINO DE GEOGRAFIA: INTERAGINDO COM A GEOGRAFIA OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS A partir desta unidade, você será capaz de: • verificar e compreender como os tipos de mídias podem ser utilizadas no processo de ensino aprendizagem; • identificar a importância de abarcar as novas tecnologias em benefício da educação; • conhecer e mensurar as práticas educomunicativas como uma maneira de trabalhar com a mídia e pela mídia no intuito de formar cidadãos mais críticos frente à atuação dos meios de comunicação; • compreender que o ensino da Geografia ou de outras áreas pode ser mais eficaz com o uso da ludicidade; • conhecer e analisar os diferentes tipos de jogos e/ou atividades lúdicas que podem ser utilizadas no contexto escolar; • relacionar e conhecer as diferentes atividades práticas como instrumento didático pedagógico no ensino da Geografia; • identificar a importância da maquete na representação do espaço geográfico e demais elementos voltados à Geografia. Esta unidade estáorganizada em três tópicos. Em cada um deles, você encontrará atividades para uma maior compreensão das informações apresentadas. TÓPICO 1 – A UTILIZAÇÃO DE PRÁTICAS DUCOMUNICATIVAS NO ENSINO DE GEOGRAFIA TÓPICO 2 – GEOGRAFIA DIVERTIDA TÓPICO 3 – O USO DE MAQUETES: CONSTRUINDO O CONHECIMENTO GEOGRÁFICO 156 157 TÓPICO 1 A UTILIZAÇÃO DE PRÁTICAS EDUCOMUNICATIVAS NO ENSINO DE GEOGRAFIA UNIDADE 3 1 INTRODUÇÃO Como havíamos combinado, a partir desta unidade, a começar por este tópico, vamos elencar algumas práticas pedagógicas que irão auxiliá-lo no trabalho em sala de aula no que tange ao ensino de Geografia. Neste início de conversa, gostaríamos de retomar o que dissemos no Tópico 2, da unidade anterior, sobre a necessidade de novas reflexões, novas metodologias e novas perspectivas para o ensino da Geografia. E mais, que o professor em sala de aula, precisa estar atento a sua prática pedagógica, precisa se inserir no novo contexto de sociedade informatizada, globalizada e inclusiva. Você está lembrado desta fala? Pois bem, no hodierno, não podemos ignorar a nova realidade em que vivemos e/ou estamos inseridos. O mesmo vale para a educação. Não podemos ensinar (cobrar dos) os nossos alunos da mesma maneira que fomos ensinados (cobrados). São fases (realidade, cultura, técnicas, informação, economias, dentre outras) diferentes e precisam ser levadas em conta. É evidente que precisamos sempre considerar a realidade do nosso público alvo (nossos alunos). Assim, neste contexto, o professor exerce um papel fundamental, o de ousar de sua criatividade e criticidade na hora de ensinar, em especial a Geografia. E, a utilização de práticas educomunicativas pode ser uma excelente ideia para começarmos o nosso estudo. Ademais não podemos deixar de destacar que é uma maneira da escola lidar com o imenso desafio do uso consciente e reflexivo das TIC (Tecnologias da Informação e Comunicação) cujo impacto sobre as “instituições” sociais tem sido muito forte, embora percebido de modos diversos e estudado a partir de diferentes abordagens. Neste sentido, conforme destaca Belloni (2009, p. 7): [...] do cinema mudo às redes telemáticas, as principais instituições sociais foram sendo transformadas por estas tecnologias que, nos dias de hoje, estão compreendidas na expressão tecnologias de informação e comunicação (TIC): as famílias, cujo cotidiano foi sendo invadido pela programação televisiva; as igrejas que tiveram que render-se aos apelos da TV e do espetáculo; as escolas particulares, que por pressão do mercado utilizam a informática como um fim em si. Hoje, temos Internet para muitos usos, e jogos com realidade virtual estarão em breve disponíveis no mercado. UNIDADE 3 | PRÁTICAS EDUCATIVAS PARA O ENSINO DE GEOGRAFIA: INTERAGINDO COM A GEOGRAFIA 158 Sem dúvida, com as TIC, cada vez mais presentes no nosso dia a dia, são imensos os desafios no campo da educação, tanto do ponto de vista da intervenção como também da reflexão, ou seja, da construção de conhecimento apropriado a partir das TIC com fins educativos. Neste contexto, Belloni (2009) levanta duas perguntas importantíssimas: como poderá a escola contribuir para que todas as nossas crianças se tornem usuárias criativas e críticas destas novas ferramentas e não meras consumidoras compulsivas de representações novas de velhos clichês? Como pode a escola pública assegurar a inclusão de todos na sociedade do conhecimento e não contribuir para a exclusão de futuros “ciberanalfabetos”? Caro(a) acadêmico(a)! No decorrer do estudo deste tópico, tentaremos responder a estas perguntas. 2 ALGUMAS CONSIDERAÇÕES SOBRE A EDUCOMUNICAÇÃO Você certamente está se perguntando o que são práticas educomunicativas? Então, vamos procurar primeiramente entender o que significa o termo educomunicação. Aliás, é um termo pouco conhecido. Educomunicação é a inter-relação entre a comunicação e a educação. Tem por objetivo promover uma educação: com a mídia; pela mídia e sobre a mídia. Podemos encontrar duas vertentes de educomunicação: l Apropriação dos meios, que visa à produção de conteúdo (vídeos, programas, rádio, televisão, revistas, dentre outros). l Leitura crítica da mídia. Para Soares (2011), a educomunicação é um conjunto de atividades voltadas para o conhecimento do uso dos meios de comunicação numa perspectiva de prática da cidadania. Embora a palavra educomunicação seja pouco conhecida, o conceito tem aproximadamente 15 anos, isso porque já era usado com o intuito de identificar uma área chamada Educação para a Comunicação, ou seja, a educação para a formação do senso crítico frente à midia, sobretudo à televisão. (SOARES, 2011). Tempos depois, já tínhamos meios de comunicação preocupados com a educação, especiamente nas questões ambientais, já que estes, mesmo de maneira infomal, a influenciavam. TÓPICO 1 | A UTILIZAÇÃO DE PRÁTICAS EDUCOMUNICATIVAS NO ENSINO DE GEOGRAFIA 159 Na verdade, Ismar de Oliveira Soares é considerado por muitos estudiosos o grande precursor do uso do termo educomunicação no Brasil. Mas quem é Ismar de Oliveira Soares? É jornalista, educomunicador, professor doutor da USP e, atualmente, coordena o Núcleo de Comunicação e Educação desta mesma Universidade. ATENCAO 3 O USO DA MÍDIA NA ESCOLA A importância dos meios de comunicação, bem como das tecnologias da informação nas sociedades contemporâneas, sem dúvida, são cada vez maiores em todas as esferas da vida social, com consequências culturais, comunicacionais e educacionais. (BELLONI, 2009). Ainda conforme destaca Belloni (2009, p. 32), “certos setores da sociedade integram mais facilmente que outros as novas técnicas de produção, estocagem e transmissão de mensagens ou mesmo o meio mais frequentado pela maioria das pessoas em muitos países, a televisão.” Assim, neste contexto, cada vez mais a escola se encontra como instituição social e os meios de comunicação como protagonistas. O caminho não é competir e sim fazer aliança estratégica: servir-se dos meios e dar conta de questioná- los sobre a aprendizagem que proporcionam às crianças e, para ser realmente relevante, fazê-lo de modo que todos os estudantes se formem de maneira mais completa, autônoma e crítica. Na escola, a integração da mídia deve ser realizada em dois níveis, conforme destaca Belloni (1991, p. 41): “enquanto objeto de estudo, fornecendo às crianças e aos adolescentes os meios de dominar esta nova linguagem; e enquanto instrumento pedagógico, fornecendo aos professores suportes altamente eficazes para a melhoria da qualidade do ensino.” Essa relação entre a comunicação e a educação estimula crianças, adolescentes e educadores a utilizarem a mídia como instrumento de mobilização e crítica social, bem como auxilia no ensino aprendizagem. Neste contexto, Len Masterman (1993 apud BELLONI, 2009), destaca sete razões do motivo de ensinar as mídias: • O consumo elevado das mídias e a saturação à qual chegamos. • A importância ideológica das mídias, por meio da publicidade. • A aparição de uma gestão da informação nas empresas. • A penetração crescente das mídias nos processos democráticos. • A importância crescente da comunicação visual e da informação em todos os campos. UNIDADE 3 | PRÁTICAS EDUCATIVAS PARA O ENSINO DE GEOGRAFIA: INTERAGINDO COM A GEOGRAFIA 160 • A expectativa dos jovens a serem formados para compreender sua época. • O crescimento nacional e internacional das privatizações de todas as tecnologias da informação. Contudo, talvez uma razão ainda mais importante mereça ser destacada conforme pontua Belloni (2009). A escola precisa integrar as tecnologiasda informação e comunicação porque elas já fazem parte, bem como estão presentes e influentes em todas as esferas da vida social, cabendo à escola especialmente à escola pública, atuar no sentido de compensar as terríveis desigualdades sociais e regionais que o acesso desigual a estas máquinas está gerando. A noção de educação para as mídias abrange todas as maneiras de estudar, de aprender e de ensinar em todos os níveis [...] e em todas as circunstâncias, a história, a criação, a utilização e a avaliação das mídias enquanto artes práticas e técnicas, bem como o lugar que elas ocupam na sociedade, seu impacto social, as implicações da comunicação mediatizada, a participação e a modificação do modo de percepção que elas engendram, o papel do trabalho criador e o acesso às mídias. (UNESCO, 1984 apud BELLONI, 2009, p. 12). Mas como a escola vai vencer este desafio? Integrando as tecnologias de informação e comunicação ao cotidiano da escola, na sala de aula, de modo criativo, crítico, competente. Isto exige investimentos significativos e transformações profundas e radicais em: formação de professores; pesquisa voltada para metodologias de ensino; nos modos de seleção, aquisição e acessibilidade de equipamentos; materiais didáticos e pedagógicos, além de muita, muita criatividade. (BELLONI, 2009, p. 10). Neste sentido, conhecer as características de cada mídia nos ajuda a analisar de forma crítica o conteúdo difundido por elas, assim como permite explorar de maneira mais ampla e criativa os seus recursos tecnológicos. No caso, sobretudo do ensino da Geografia, o uso da mídia pode ser um ótimo recurso pedagógico. FIGURA 39 – A INFLUÊNCIA DA MÍDIA FONTE: Disponível em: <http://3.bp.blogspot.com/_hoglXqjcKFc/ TMSpQUNsNdI/AAAAAAAAADk/WyYa1wpUpR0/s400/midia.jpg>. Acesso em: 12 abr. 2011. TÓPICO 1 | A UTILIZAÇÃO DE PRÁTICAS EDUCOMUNICATIVAS NO ENSINO DE GEOGRAFIA 161 3.1 OS TIPOS DE MÍDIA Quando falamos mídia, o que vem a sua mente? Você pensou na televisão e na internet? Sim, você acertou, contudo, estas não são os únicos meios de comunicação. De modo geral, a mídia corresponde a todos os meios de comunicação. Podemos destacar ainda, o rádio, o jornal e as revistas, dentre outros. Vejamos agora algumas considerações sobre cada uma dessas mídias. 3.1.1 Televisão A televisão ocupa um papel importante no processo de socialização na medida em que fornece “mitos”, “símbolos” e “representações”, preenchendo o universo simbólico das crianças com imagens irreais. (BELLONI, 2009). Ademais, a televisão também transmite o saber acumulado e informações sobre o que acontece no mundo, bem como, apresenta as normas da integração social, evidentes nas telenovelas e nos desenhos animados, cuja moral da história é muitas vezes explícita e recorrente. As crianças apropriam-se e reelaboram as significações transmitidas pela televisão a partir de suas experiências e integram- se ao mundo vivido no decorrer de novas experiências. (BELLONI, 2009). Para você ter uma ideia, de acordo com o Painel Nacional de Televisores do Ibope (2007, apud INSTITUTO ALANA, 2011), a criança brasileira, entre 4 e 11 anos, passa, em média, 4 horas, 50 minutos e 11 segundos por dia em frente à telinha. Em média, 85,50% das crianças entre 6 e 12 anos assistem à tevê diariamente, segundo a pesquisa da Kiddo's Brasil (2006, apud INSTITUTO ALANA, 2011). Dessas, 90% dizem que gostam muito de assistir à programação televisiva, e 77% afirmam que ficam o tempo que desejam em frente aos televisores. Como você pôde perceber, a televisão faz parte do cotidiano de nossas crianças, assim não podemos desconsiderá-la no processo de ensino-aprendizagem. A ideia fundamental [...] é a necessidade de integrar os meios de comunicação à escola, do ponto de vista dos novos modos de expressão que eles introduzem no universo infantil – a “linguagem televisual” -, não apenas como instrumento pedagógico, mas, sobretudo, como um novo objeto de estudo. A mídia representa um campo autônomo do conhecimento que deve ser estudado e ensinado às crianças da mesma forma que estudamos e ensinamos a literatura, por exemplo. A integração da mídia à escola tem necessariamente que ser realizada nestes dois níveis: enquanto objeto de estudo, fornecendo às crianças e adolescentes os meios de dominar esta linguagem; e enquanto instrumento pedagógico, fornecendo aos professores suporte altamente eficazes para a melhoria da qualidade do ensino, porque adaptados ao universo infantil. (BELLONI, 1991, p. 41). Mas como fazer uso ou dominar este tipo de mídia? UNIDADE 3 | PRÁTICAS EDUCATIVAS PARA O ENSINO DE GEOGRAFIA: INTERAGINDO COM A GEOGRAFIA 162 Em algumas escolas públicas de Brasília, Rio de Janeiro e Florianópolis, há propostas do Programa de Formação do Telespectador que desde 1993 vem desenvolvendo trabalhos com alunos das séries iniciais do Ensino Fundamental. Este programa corresponde a um kit de materiais pedagógicos que retratam de maneira irreverente e bem humorada, diversos temas sobre a televisão e seus programas. O intuito é levar os alunos a refletir a respeito de suas relações com a televisão, desenvolvendo o senso crítico, bem como a consciência à tomada de atitudes ativas frente à televisão. O Programa de Formação do Telespectador “é uma experiência de educação para a mídia, com o objetivo de formar crianças e adolescentes para o uso ativo e criativo da televisão, através da iniciação do o público jovem para a percepção consciente e a discussão crítica das mensagens televisivas”. (BELLONI, 2009, p. 71). Para que ocorra a integração das tecnologias de TV e vídeo no processo de ensino- aprendizagem é preciso que o professor desempenhe o papel de protagonista, ou seja, ele precisa estar preparado para mediar a cultura televisiva, bem como as necessidades de desenvolvimento cognitivas, sociais e emocionais dos alunos. Na verdade, a incorporação da TV e o vídeo na sala de aula introduzem outro tipo de linguagem no processo de ensino aprendizagem. A utilização do vídeo pode proporcionar informações de determinados conteúdos, ilustrando e motivando a aprendizagem. Contudo, vai depender do professor fazer uso dessa ferramenta e ter a televisão como aliada neste contexto de ensino-aprendizagem. No caso do ensino da Geografia, existem vídeos excelentes que irão auxiliá-los do desenvolvimento das atividades em sala de aula. DICAS Conhecer os programas televisivos favoritos dos alunos poderá auxiliar o professor no desenvolvimento de atividades, bem como mediar as informações para a promoção do senso crítico. Ademais, alguns programas poderão auxiliar na abordagem de determinados conteúdos, assim como, manter-se atualizado com o que acontece no Brasil e no mundo. No caso dos vídeos, uma ótima dica para ensinar determinados conteúdos são os vídeos educativos da TV Escola. Recomendamos o acesso à página indicada preparada pela TV Escola, que selecionou os principais vídeos relacionados à disciplina de Geografia. Neste site, você poderá assistir a esses vídeos. Na verdade é a “videoteca especial de Geografia”. Não deixe de acessar. Irá ajudá-lo muito. <http://tvescola.mec.gov.br/index.php?option=com_zoo&view=item&item_id=5300>. Agora, se você quiser ver a videoteca de outras disciplinas, acesse o site a seguir. Vale a pena. <http://tvescola.mec.gov.br/index.php?Itemid=98&layout=category&option=com_ zoo&view=category>. TÓPICO 1 | A UTILIZAÇÃO DE PRÁTICAS EDUCOMUNICATIVAS NO ENSINO DE GEOGRAFIA 163 3.1.2 Jornal Atualmente, segundo dados da Associação Nacional dos Jornais ANJ (2009), circulam no Brasil aproximadamente125 jornais diários. Diariamente, são vendidos aproximadamente 6.972.000 exemplares, número muito abaixo comparado aos de países considerados desenvolvidos. Mas, qual a finalidade do jornal na sala de aula e/ou na escola? O uso do jornal na sala de aula é uma ferramenta pedagógica que possibilita ao aluno, um novo pensar e agir por meio da leitura, além de mantê-los informados. Conforme destaca Hamze (2011), o uso frequente do jornal em sala de aula enriquece a capacidade de entendimento dos alunos, principalmente no que tange ao acréscimo e ampliação do vocabulário e compreensão de textos, proporciona também a qualidade das intervenções verbais, amplia as informações do educando sobre o mundo, bem como, sobre a comunidade onde vive. Como ferramenta pedagógica, o jornal traz uma visão aberta e atualizada, um espaço de divulgação de ideias, de comunicação, de opinião e interesses e tem contorno multidisciplinar e interdisciplinar. (HAMZE, 2011). Ademais, ainda de acordo com a mesma autora, o uso do jornal em seus mais variados temas, reflete valores, ética e cidadania. Assim, podemos dizer que o jornal atende à proposta dos PCN, pois os temas discutidos podem servir de base para o desenvolvimento dos temas transversais. O uso do jornal na sala de aula, pode ser um dos caminhos para proporcionar um ensino significativo. Contudo, o professor precisa dar o direcionamento correto do seu uso. Isso permitirá que o jornal seja um grande potencial a ser explorado, “[...] com temas atuais, históricos e científicos, dentre muitos outros, que podem ser fontes de inspiração para uma pesquisa mais aprofundada, objetivo de uma educação inovadora e que realmente proporcione ao aluno a sua emancipação”. (PAROLI; ALMEIDA JUNIOR, 2011, p. 7). Levar os jornais ou mesmo as revistas para a sala de aula é alternativa para discutir o que está acontecendo no Brasil e no mundo, apesar do enfoque ideológico do jornalismo. Na visão de Faria (2001), o uso de jornal na sala de aula pode ser encarado da seguinte maneira: • Como uma fonte primária de informação, pois, com um aprofundamento e busca de novas informações, um conhecimento inovador pode ser gerado a partir do jornal. • Como formador do cidadão, auxiliando a desvendar o que ocorre no dia a dia, revelando situações que ajudam a formação integral, com informações sobre os direitos e deveres dos cidadãos. • Com o propósito de auxiliar na formação geral do estudante, como um apoio ao conteúdo, que pode estar mais atualizado do que no livro didático. UNIDADE 3 | PRÁTICAS EDUCATIVAS PARA O ENSINO DE GEOGRAFIA: INTERAGINDO COM A GEOGRAFIA 164 • Como um exercício de padrão de idioma, já que é utilizada uma linguagem coloquial, que pode ser bem aproveitada no cotidiano. • Como texto autêntico, lê-se diretamente do escritor, sem haver outra pessoa traduzindo ou comentando o que foi publicado. • Como registro da história corrente, pois os acontecimentos ficam perpetuados com a publicação no jornal. DICAS Para você saber como usar o jornal na sala de aula, indicamos uma excelente bibliografia. Vale a pena adquiri-la. FARIA, Maria Alice. Como usar o jornal na sala de aula. 4.ed. São Paulo: Contexto, 2001. No Portal do Professor, você encontrará dicas de como introduzir o uso do jornal na sala de aula. Vale a pena conferir no site a seguir. Acesse: <http://portaldoprofessor.mec.gov.br/ fichaTecnicaAula.html?aula=23175>. Sem dúvida, o jornal pode contribuir, e muito, no processo de ensino aprendizagem. Mas, será que a partir do uso do jornal em sala de aula outras atividades poderão ser desenvolvidas? Você já ouviu falar e/ou já viu um jornal escolar? O que é um jornal escolar? Qual a finalidade do jornal escolar na sala de aula e/ou na escola? Observe a figura a seguir: FIGURA 40 – UTILIDADES DO JORNAL ESCOLAR FONTE: Disponível em: <http://jornalescolar.org.br/wp-content/ uploads/2010/03/cartaz_jornalescolar.jpg>. Acesso em: 8 fev. 2011. TÓPICO 1 | A UTILIZAÇÃO DE PRÁTICAS EDUCOMUNICATIVAS NO ENSINO DE GEOGRAFIA 165 Sim, caro(a) acadêmico(a), o jornal escolar é uma ferramenta com muitas utilidades. Pode estimular a escrita, a leitura e revisão dos textos; valorizar a pesquisa de informações; dinamizar os trabalhos em sala de aula, bem como em equipe; permitir ao aluno expressar sua opinião e sua cidadania; destacar o trabalho do professor; levar conhecimento à comunidade escolar. O jornal escolar é também uma prática educomunicativa utilizada em muitas escolas, cujo resultado é muito positivo e, que você juntamente com a comunidade escolar em que vai atuar ou já atua, poderá desenvolver. Trata-se da produção de um jornal escolar. Mas como produzir um jornal escolar? No intuito de responder a esta pergunta, trouxemos um exemplo de projeto. Vejamos: QUADRO 3 – COMO PRODUZIR UM JORNAL ESCOLAR Como produzir um jornal escolar Objetivo geral Criar um veículo por meio do qual a escola possa divulgar seu projeto educativo. Objetivos específicos Para a direção - Garantir a estrutura e o material necessários ao andamento do projeto. Para os alunos - Participar da produção das edições e ter contato com os gêneros jornalísticos. Para a coordenação pedagógica - Formar os professores para o trabalho com jornal. Para os professores - Aplicar com as turmas o planejamento elaborado na formação. Para os funcionários e a comunidade -Participar com sugestões de pauta e opiniões sobre as reportagens e ser fontes de informações. Conteúdos de Gestão Escolar Aprendizagem - Promoção de situações reais de confecção de textos jornalísticos. Equipe - Articulação entre docentes, gestores e demais funcionários da escola. Comunidade - Melhoria da comunicação com os pais e busca de parcerias. Materiais - Disponibilização de jornais que sirvam de referência para o trabalho. Anos 1º ao 9º ano. Tempo estimado Dois meses por edição. Material necessário Calendário de eventos escolares e comunitários, jornais impressos (locais, nacionais e, se possível, institucionais), câmera fotográfica, computadores, gravadores e blocos de anotação. UNIDADE 3 | PRÁTICAS EDUCATIVAS PARA O ENSINO DE GEOGRAFIA: INTERAGINDO COM A GEOGRAFIA 166 Desenvolvimento 1ª etapa - Formação docente. O coordenador deve prever reuniões pedagógicas para o estudo sobre os conteúdos de leitura e escrita de textos jornalísticos. A complexidade do que será lido, ensinado e produzido depende das expectativas de aprendizagem para o ano escolar - os anos iniciais podem começar com os classificados e os mais velhos serem desafiados com a produção de reportagens maiores. O professor, como modelo de leitor, precisa ler e propiciar aos alunos contato frequente com os diversos gêneros usados por periódicos. 2ª etapa - Apresentação para a comunidade. Por meio de reuniões e avisos nos murais, avise os pais sobre o projeto. Eles poderão participar dando sugestões de pauta, servindo de fonte para os alunos, dando palestras (caso haja profissionais que trabalhem com jornal) e doando exemplares ou assinaturas para a biblioteca da escola. 3ª e tapa - Criação do conselho edi tor ia l . Convide alunos, pais e professores para fazer parte do conselho editorial. Eles podem ser escolhidos por seus pares ou se oferecer voluntariamente. Gestores devem ter representantes nesse grupo, que discutirá o cronograma, a periodicidade, as seções, as responsabilidades de cada um, a divisão de tarefas entre as turmas, a circulação e a distribuição - além de dar a palavra final sobre os temas e os textos. É interessante que aformação dessa equipe mude periodicamente. 4 ª e t a p a - O r g a n i z a ç ã o e e s c r i t a . Com base no planejamento feito com o coordenador, os professores real izarão as at ividades de produção de textos com as turmas. Cada sala fica responsável por uma seção (esportes, cultura etc.). É recomendável que o coordenador observe as aulas e verifique a aplicação do que foi estudado. 5 ª e t a p a - Ch e c a g em e d i s t r i b u i ç ã o . O material precisa passar por uma revisão, a ser feita pelo diretor e pelo coordenador pedagógico. A intenção é verificar se os textos condizem com os valores e os objetivos previstos no PPP. Cumprida a tarefa, encaminhe os arquivos à gráfica (que também pode ser uma parceira da escola). Por fim, todos devem ajudar na distribuição. Avaliação Reúna-se periodicamente com representantes de diferentes segmentos do público leitor a fim de ouvir as opiniões. Uma seção de cartas, com os contatos da escola, auxilia esse levantamento. FONTE: Disponível em: <http://revistaescola.abril.com.br/gestao-escolar/diretor/como-produzir- jornal-escolar-comunicacao-619495.shtml>. Acesso em: 10 fev. 2011. TÓPICO 1 | A UTILIZAÇÃO DE PRÁTICAS EDUCOMUNICATIVAS NO ENSINO DE GEOGRAFIA 167 Trouxemos um exemplo de Jornal Escolar produzido na Escola Municipal Maurício Germer em Timbó – SC. Observe-o. Para melhor visualizá-lo disponibilizamos também no material de Apoio desta disciplina. FONTE: Escola Municipal Maurício Germer. FIGURA 41 – JORNAL ESCOLAR Ainda nesta seção, destacamos o uso de revistas na sala de aula que também poderão ser utilizadas como uma ferramenta pedagógica no processo de ensino- aprendizagem, não só da Geografia, mas de todas as disciplinas. Através do uso das revistas, os alunos terão a possibilidade de perceber as diferentes funções sociais que as elas possuem, tornando-as como um perfil de leitores mais críticos frente à sociedade em geral. É possível também construir uma revista escolar. Você poderá utilizar o projeto “Como fazer um jornal Escolar”. Aliás, você poderá produzir com seus alunos e/ou futuros alunos uma Revista Geográfica, ou um Jornal Geográfico. Pense nisso. No final deste tópico, voltaremos a falar sobre isso. 3.1.3 Rádio Antes de falarmos das potencialidades do uso do rádio na escola, queremos de chamar sua atenção para um breve resgate da história do rádio no Brasil. Aliás, esse resgate histórico renderia um ótimo trabalho com os alunos. UNIDADE 3 | PRÁTICAS EDUCATIVAS PARA O ENSINO DE GEOGRAFIA: INTERAGINDO COM A GEOGRAFIA 168 O rádio foi criado em meados do século XIX e chegou ao Brasil oficialmente em 1922. Em nosso país, atuam aproximadamente, 6.218 rádios, que o coloca no segundo lugar em emissoras de rádio no mundo, perdendo apenas para os Estados Unidos que têm cerca de 12.000 rádios. (FILHO; PATROCÍNIO, 2011). Segundo os mesmos autores, das 6.218 rádios no Brasil, 45% são comandadas por políticos, 35% por grupos religiosos e apenas 20% não pertencem a esses grupos. Mas será que o rádio ainda tem espaço diante das novas TICs? Você pode não acreditar, mas no Brasil, o rádio é o meio de comunicação social que atinge o maior número de pessoas e, embora a televisão contemple, ao mesmo tempo e com a mesma mensagem. É o rádio que abarca o maior número de pessoas com sua mensagem simples e direta. (FILHO; PATROCÍNIO, 2011). Desse modo, o rádio é considerado o meio de comunicação de massa mais popular. As escolas, percebendo a potencialidade do rádio, passaram a utilizá-lo como ferramenta pedagógica. Na verdade, um dos primeiros usos concebidos para o rádio no Brasil, tinha um cunho educativo. Segundo Filho e Patrocínio (2011), para o carioca Edgard Roquette-Pinho, o rádio enquanto inovação tecnológica, deveria ser empregado prioritariamente para levar a educação e cultura a todas as partes do país. Contudo, na época, o grande obstáculo era o fato de que poucas pessoas tinham recursos para obter o novo meio de comunicação. Para você ter uma ideia, na época, a programação de rádio era mantida por alguns grupos de voluntários que investiam na produção. Nas décadas de 1950 e 1960, com o intuito de resgatar as ideias de Edgard Roquette-Pinho, o Movimento de Educação Base (MEB) desenvolveu um projeto que consistia em utilizar a metodologia de Paulo Freire no intuito de alfabetizar agricultores das regiões Norte e Nordeste. (FILHO; PATROCÍNIO, 2011). Contudo, o projeto foi interrompido em 1964, devido à ditadura militar no Brasil. Como você bem sabe, neste período, os meios de comunicação foram os principais alvos do regime militar (durou quase trinta anos). Porém, o governo interessado na ideia do uso do rádio como ferramenta educativa propôs o Projeto Minerva. Este constituía um programa obrigatório, passado em cadeia nacional em média cinco horas por semana que culminou em seu término no início de 1980 devido à falta de resultados concretos. Durante essa década o governo brasileiro praticamente perdeu o interesse em usar o rádio na educação. Todavia, a partir da década de 1990, o seu uso consolidou-se por meio de associações civis sem fins lucrativos assumindo as funções previstas pelo Estado, tais como a complementação da educação básica e a democratização das práticas comunicativas. (FILHO; PATROCÍNIO, 2011). No hodierno, como já destacamos anteriormente, o rádio é o tipo de mídia mais utilizada pelos brasileiros. E, a escola, não pode desconsiderar esse fato. A escola ao utilizar o rádio como uma ferramenta pedagógica, amplia sua capacidade de traçar estratégias criativas para uma educação qualitativa. O uso do rádio no espaço escolar é uma ferramenta educomunicativa que proporciona a autoestima e a autovalorização dos sujeitos envolvidos, permitindo TÓPICO 1 | A UTILIZAÇÃO DE PRÁTICAS EDUCOMUNICATIVAS NO ENSINO DE GEOGRAFIA 169 sua expressão através de sua voz, tornando-os agentes e produtores culturais. De acordo com Gonçalves e Azevedo (2011), o rádio na escola reforça um modelo educacional democrático e participativo na medida em que seus agentes de transformação são os sujeitos. É na prática interativa e coparticipativa do diálogo que o rádio ocupa espaço na comunidade escolar, mais importante que a produção que se faz a partir do uso dos meios são as relações que os sujeito/atores sociais estabelecem nesse processo de construção. (GONÇALVES; AZEVEDO, 2011). Segundo as mesmas autoras, o diálogo, o comunicar, a expressão livre das ideias, as formas de participação, a inclusão dos elementos e a valorização das identidades e culturas são elementos significativos e expressivos neste processo. Podemos dizer que a construção da cidadania inicia pelo respeito a diversidades de opiniões, o saber ouvir e saber decidir coletivamente são, sem dúvida, condições de participação. A construção coletiva e dialógica da pauta é o elemento fundamental nas rádios escolares. O diálogo, a comunicação, o estar em contato com os outros, o desenvolvimento do espírito de criticidade é o que concede ao ser sua condição de existir. (GONÇALVES; AZEVEDO, 2011). É evidente que neste processo de educação, as crianças envolvidas para e pelo o meio não têm a devida consciência do que é a cidadania, todavia desenvolvem a partir de exercícios, uma intensa visão de justiça social e de sua participação e importância na sociedade. O uso do rádio na escola é uma ótima ferramenta de ensino e aprendizagem. Ademais, é também uma ótima oportunidade das crianças, jovens e adultos mostrarem seus talentos, bem como expressar suas ideias, interagir com o público escolar e participar do processo dedisseminação de informação e conhecimento. Sem falar, que o rádio escolar, permite prazerosamente, o processo de pesquisa, a produção textual, o trabalho em equipe, a oralidade, a desenvoltura dos sujeitos envolvidos. Vejamos a seguir uma produção de programa de rádio. PRODUÇÃO DE PROGRAMAS DE RÁDIO A produção de um Programa de Rádio Escolar é um processo que requer participação, colaboração, organização e pesquisa de todos os envolvidos nas equipes. Da concepção do programa, passando pela produção até a apresentação é preciso cumprir várias etapas: 1. REUNIÃO DE PAUTA 2. PESQUISA E EDIÇÃO DO CONTEÚDO COLHIDO 3. DIVISÃO DE TAREFAS 4. APRESENTAÇÃO DO PROGRAMA UNIDADE 3 | PRÁTICAS EDUCATIVAS PARA O ENSINO DE GEOGRAFIA: INTERAGINDO COM A GEOGRAFIA 170 A escola poderá organizar uma GRADE DE PROGRAMAÇÃO apresentado a comunidade escolar os horários de apresentação das equipes e o(s) dia(s) de apresentações isto quando o programa for ao ar nos intervalos. Para programas produzidos para Internet, ou seja, para serem baixados em sites PODCAST o ouvinte tem flexibilidade para escolher o horário e o programa que deseja ouvir. A duração do programa é invariável, depende do objetivo do programa. As equipes podem optar por um ou mais GÊNEROS que possam dar uma identidade ao programa. Os GÊNEROS de programa mais comuns são: • JORNALÍSTICOS • MUSICAL • HUMORÍSTICO • RADIONOVELA • DE VARIEDADES • DE ENTREVISTAS • MUSICAL / INFORMATIVO Programação Os programas de Rádio Escolar produzidos para o intervalo contribuem proporcionando informação e entretenimento. Neste sentido, para que o conteúdo do programa cative a audiência dos alunos, principalmente durante os intervalos, é preciso balancear o tempo destinado à LOCUÇÃO e às inserções musicais. Uma sugestão é utilizar 1/3 do tempo de duração do programa com informes, abertura, entrevistas, dicas culturais e de lazer e despedida. Através da LAUDA de apresentação é possível otimizar o tempo. O que se pretende com este espaço de tempo é objetividade na divulgação de informações até porque se o programa ficar carregado de muitas informações, os alunos não vão querer escutar e além disso o intervalo perderá o sentido de descontração. Através das música é possível criar um ambiente de descontração e ao mesmo tempo informar ao ouvinte enquanto cumpre seu papel de prestação de serviço. Como a programação musical irá tomar um tempo maior dentro do programa, é preciso estar atendo ao gosto de todos. Portanto, o ideal é mesclar gêneros musicais para atender a todos os gostos musicais. A seguir está uma sugestão de tempo para cada fase do programa: ABERTURA 0:30 segundos MÚSICA 3:00 minutos BREAK INFORMATIVO 1:00 minuto ENTREVISTA 1:00 minuto ENCERRAMENTO 0:30 segundos TÓPICO 1 | A UTILIZAÇÃO DE PRÁTICAS EDUCOMUNICATIVAS NO ENSINO DE GEOGRAFIA 171 EQUIPE Desenvolver atividades de produções radiofônicas é trabalho de equipe. Cada componente deverá realizar uma atividade específica. A equipe de rádio é formada por locutores, operador de som ou sonoplasta, repórteres e produtor. FONTE: Disponível em: <http://portalsme.prefeitura.sp.gov.br/Documentos/educom/ ProducaoRadio.pdf>. Acesso em: 10 fev. 2011. DICAS Conheça o projeto RÁDIO-ESCOLA. É um projeto que integra o Programa de Educomunicação do GENS, destinado especialmente para escolas. Vale a pena conferir no site indicado. Acesse: <http://www.portalgens.com.br/radio-escola/um.htm>. 3.1.4 Internet A rede mundial de computadores é capaz de interligar pessoas em qualquer lugar do mundo com baixo custo e alta velocidade. A internet permite os seguintes serviços: blog; Msn; Twitter; Orkut; Fotolog; Sites de Pesquisa; E-mail, Facebook, dentre outros. FIGURA 42 – O MUNDO INTERLIGADO NA INTERNET FONTE: Disponível em: <http://2.bp.blogspot.com/_ohSopVRdrI0/ TLy3b8YcAhI/AAAAAAAAAX4/uZ09rLI8LHM/s1600/internet_1.jpg>. Acesso em: 10 abr. 2010. UNIDADE 3 | PRÁTICAS EDUCATIVAS PARA O ENSINO DE GEOGRAFIA: INTERAGINDO COM A GEOGRAFIA 172 Você sabe quando surgiu a internet e qual sua finalidade inicialmente? Pois bem, a internet emergiu na década de 1960 durante o período da Guerra Fria (disputa entre dois blocos ideológicos e politicamente opostos, Estados Unidos [capitalismo] e a antiga União Socialista Soviética [socialismo]), a partir de projetos e pesquisas militares desenvolvidas pelo departamento de defesa dos Estados Unidos. Neste período, essas duas superpotências exerciam enorme controle e influência no mundo, e qualquer que fosse a construção e inovação tecnológica, poderia contribuir nessa disputa. Durante o período da Guerra Fria (após a Segunda Guerra Mundial até 1989), surgiram várias inovações tecnológicas. E, sem dúvida a eficácia e necessidade dos meios de comunicação eram fundamentais para os progressos desta disputa. Aos poucos, o que era de uso restrito militar, a internet tornou-se uma ferramenta de uso mundial. No Brasil, ela surgiu em 1988 e inicialmente estava relacionada às universidades do país e às instituições nos Estados Unidos. Hoje, a internet virou uma “febre” mundial e, claro, a escola não poderia ficar de fora dessa verdadeira revolução digital. A escola, neste contexto, tem o papel de ensinar o uso correto dessa e outras ferramentas tecnológicas. Para isso, os professores precisam ficar atentos no que tange ao conhecer e ao saber usar as novas ferramentas tecnológicas. Tarefa difícil se imaginarmos a realidade de muitas escolas brasileiras, que de um lado estão os alunos já habituados com a banda larga, por exemplo, e de outro, professores ainda utilizando o mimeógrafo ou o vídeo cassete. Deparamo-nos também com certa resistência dos professores e/ou escola em fazer uso da internet, por exemplo. Talvez, uma das grandes preocupações seja a veracidade das informações encontradas na rede, bem como, conteúdos inapropriados. Pensando nisso, alguns portais já trazem conteúdos elaborados por pedagogos e especialistas, justamente direcionados a professores. São portais que oferecem conteúdos interativos para incrementar as aulas, bem como, trabalhos e pesquisas além da sala de aula. DICAS Indicamos a você alguns portais que certamente o auxiliarão nas suas aulas. Planeta Educação <www.planetaeducacao.com.br>. Informações e conteúdo sobre educação, vestibulares e atualidades. Tem simulado de provas, seção de cinema e literatura. Aprende Brasil <www.aprendebrasil.com.br>. Este portal está voltado às escolas públicas. Traz jogos educativos e uma biblioteca digital. Tem áreas de acesso livre e outras para assinantes. Educarede <www.educarede.org.br>. Com notícias e links sobre educação, este portal é voltado para alunos e professores. Conta com um beabá da internet, que ensina desde a configurar seu computador até a criar um blog. Portal Educacional <www.educacional.com.br>. Este portal oferece aos professores e alunos materiais para aulas e trabalhos, além de contar com ferramentas para a construção de blogs, fóruns e uma central de projetos. TÓPICO 1 | A UTILIZAÇÃO DE PRÁTICAS EDUCOMUNICATIVAS NO ENSINO DE GEOGRAFIA 173 Mas, qual é a melhor maneira de utilizar a internet para auxiliar o professor e os alunos? Como potencializar o uso desse recurso na educação? Reflita a respeito. Talvez a melhor maneira de utilizar a internet e potencializar o uso desse recurso é utilizando com frequência. Parece óbvio, mas o fato é que existem excelentes sites de pesquisa, jogos educativos e interativos, dentre outros, que o professor, poderá direcionar o aluno para acessá-los, justificando a confiabilidade das informações. O professor poderá fazer um comparativodas informações entre um site confiável e outro não confiável. Os alunos precisam ser orientados ao uso da internet e para isso a prática diária é uma ótima dica. Na verdade, o uso da internet é uma excelente ferramenta no processo de ensino e aprendizagem, pois além de estimular o aluno à pesquisa dirigida e autônoma, o professor poderá usufruir de conteúdos dinâmicos e interativos, bem como jogos educativos, já disponibilizados na rede. Além disso, o professor poderá construir com os seus alunos um blog da turma ou da disciplina. E, este blog poderá ser muito mais instrutivo e educativo que as próprias aulas em si. É fato que para os alunos será uma aula muito mais interessante e as chances de ocorrer a aprendizagem vai ser muito maior. O uso das novas tecnologias, apesar das precauções que precisamos ter, só irá favorecer o processo educativo. Caberá à escola, mas especificamente ao professor estar aberto a encarar esse desafio, a quebrar o paradigma de uma educação engessada no tradicionalismo. No Brasil, há o Programa Nacional de Informática em Educação (PRONFO) da Secretaria de Educação a Distância (SEED) do MEC, que prioriza o uso do computador na sala de aula com o intuito de inovar as práticas pedagógicas e consequentemente o uso da internet no Ensino Fundamental. Refere-se a um exercício de aprendizagem em que os alunos são orientados pelo professor sobre a tecnologia de busca de informação e de gestão desta informação, a exemplo da internet e bases eletrônicas de dados. Porém, o professor precisará incorporar na sua proposta de trabalho os eixos temáticos e atividades que serão trabalhadas nas aulas, permitindo assim uma associação rápida dos aspectos pedagógicos a serem estudados e pesquisados. DICAS Estamos indicando uma ótima bibliografia que apresenta de maneira sucinta e prática como o computador e a internet podem ser utilizados em sala de aula com os alunos. Vale a pena efetuar essa leitura. Tarja, S. F. Internet na Educação: o professor na era digital. São Paulo: Érica, 2002. UNIDADE 3 | PRÁTICAS EDUCATIVAS PARA O ENSINO DE GEOGRAFIA: INTERAGINDO COM A GEOGRAFIA 174 3.1.4.1 O Uso da internet no ensino da Geografia O uso da internet, sem dúvida, poderá contribuir muito no ensino da Geografia. Existem vários sites educativos como enciclopédias, Atlas, softwares que oferecem informações das mais variadas sobre a formação, composição e estrutura da Terra; imagens belíssimas sobre clima, vegetação, relevo, hidrografia, urbanização, áreas devastadas pelo homem, dentre outras. São vários os aplicativos educativos que possibilitam as crianças a pesquisarem diversas regiões, culturas, imagens, história local e global, museus dentre outros. Segundo destaca Dantas (2009), esta prática deveria ser mais presente nas escolas, visto que a utilização da informática nas práticas educativas escolares, especialmente no ensino de História e Geografia nos anos iniciais e finais do Ensino Fundamental, constitui uma alternativa de trabalhar com métodos transdisciplinares, possibilitando maior interatividade entre professor e aluno. Elencamos a seguir uma lista de sites confiáveis que poderão ser utilizados no desenvolvimento de atividades no que concerne ao ensino aprendizagem da Geografia na sala de aula. QUADRO 4 – SITES INTERESSANTES PARA O ENSINO DE GEOGRAFIA SITES INTERESSANTES PARA O ENSINO DE GEOGRAFIA http://www.sogeografia.com.br/ Temas ligados à Geografia http://www.sogeografia.com.br/Jogos/ Jogos educativos http://www.cambito.com.br Jogos educativos http://www.ibge.gov.br/home/ Pesquisas socioeconômicas http://www.infopedagogica.com.br/ Temas variados http://maps.google.com.br/ Localização http://www.colegioweb.com.br/geografia- infantil Temas ligados à Geografia http://www.ced.ufsc.br/links/geografia.html Temas ligados à Geografia http://www.wdl.org/pt/ Biblioteca Digital Virtual http://www.brasilchannel.com.br Temas ligados à Geografia http://zenite.nu/ Atividades de Astronomia http://www.ibge.gov.br/7a12/brincadeiras/default. php Atividades de Geografia http://www.ibge.gov.br/paisesat/main.php Localização de Países FONTE: A autora. TÓPICO 1 | A UTILIZAÇÃO DE PRÁTICAS EDUCOMUNICATIVAS NO ENSINO DE GEOGRAFIA 175 DICAS Principalmente, no caso do ensino de Geografia, a utilização do Google Earth é uma ótima ferramenta para analisar e contemplar o globo terrestre. Várias atividades podem ser desenvolvidas com o uso desse instrumento. O professor, por exemplo, poderá elaborar uma atividade com o intuito de localizar e explicar a riqueza geográfica dos continentes, ou seja, poderá localizar aspectos geográficos dos continentes, tais como: principais formas de relevo, rios, vegetação, metrópoles, pontos turísticos, principais portos, complexos industriais, áreas de ocorrência de vulcões e terremotos, áreas rurais e urbanas, dentre outros aspectos. Mas o que é Google Earth? É um programa desenvolvido e distribuído pelo Google cuja função é apresentar um modelo tridimensional do globo terrestre, permitindo a visualização de imagens reais capturadas por satélite de praticamente qualquer lugar do mundo. Observe-o na figura a seguir. FIGURA 43 – PROGRAMA GOOGLE EARTH FONTE: Disponível em: <http://rafaelnink.com/blog/wp- content/uploads/2008/02/google_ earth-thumb.jpg>. Acesso em: 15 abr. 2011. UNIDADE 3 | PRÁTICAS EDUCATIVAS PARA O ENSINO DE GEOGRAFIA: INTERAGINDO COM A GEOGRAFIA 176 Para baixar o Google Earth, visite a página <http://earth.google.com> e procure o link de download. Para a instalação do Google Earth, a configuração mínima exigida é a de um PC com processador Pentium III 500 MHz (ou equivalente), 128 MB de memória RAM, 400 MB de espaço em disco, placa de vídeo 3D com 16 MB e resolução de 1024 x 768, além de conexão à internet em banda larga. Sobre como usar o Google Earth visite o site: <http://www.infowester.com/tutgoogleearth.php>. DICAS Outra dica é a produção de um blog de Geografia, em que os próprios alunos serão os responsáveis pela produção e manutenção. O processo de construção é simples. Veja como criar um blog no site a seguir. Comece criando o seu próprio. Acesse: <http://www.criarumblog.com/pt/criar-seu-blog/>. Como você pôde perceber, o uso de práticas educomunicativas pode ser uma excelente maneira de proporcionar um ensino diferenciado pautado no diferente, no atraente e, mais do que isso, a oportunidade do aluno aprender a aprender. Neste tópico, apresentamos algumas possibilidades de práticas educativas que você poderá utilizar e readaptar na sua prática diária, enquanto futuro professor. Esperamos que você tenha gostado. 177 Neste tópico você viu que: • Educomunicação é a inter-relação entre a comunicação e a educação. Esta prática tem por objetivo promover uma educação com a mídia, pela mídia e sobre a mídia. Podem ser encontradas duas vertentes de educomunicação: apropriação dos meios, que visa à produção de conteúdo (vídeos, programas, rádio, televisão, revistas, dentre outros); leitura crítica da mídia. • A importância dos meios de comunicação, bem como das tecnologias da informação, nas sociedades contemporâneas, sem dúvida, são cada vez maiores em todas as esferas da vida social, com consequências culturais, comunicacionais e educacionais. • Na escola, a integração da mídia deve ser realizada em dois níveis: enquanto objeto de estudo, fornecendo às crianças e aos adolescentes os meios de dominar esta nova linguagem; e enquanto instrumento pedagógico, fornecendo aos professores suportes altamente eficazes para a melhoria da qualidade do ensino. Essa relação entre a comunicação e a educação estimula crianças, adolescentes e educadores a utilizarema mídia como instrumento de mobilização e crítica social, bem como auxilia no ensino e na aprendizagem. A mídia corresponde todos os meios de comunicação. Podemos destacar a televisão, a internet, o rádio, o jornal e as revistas, dentre outros. • A televisão ocupa um papel importante no processo de socialização na medida em que fornece “mitos”, “símbolos” e “representações”, preenchendo o universo simbólico das crianças com imagens irreais. A incorporação da TV e o vídeo na sala de aula introduzem outro tipo de linguagem no processo de ensino e de aprendizagem. A utilização do vídeo pode proporcionar informações de determinados conteúdos, ilustrando e motivando a aprendizagem. • O uso do jornal na sala de aula é uma ferramenta pedagógica que possibilita ao aluno um novo pensar e agir por meio da leitura, além de mantê-los informados. O jornal escolar é uma ferramenta que estimula a escrita, a leitura e revisão dos textos; valorizar a pesquisa de informações; dinamizar os trabalhos em sala de aula, bem como em equipe; permitir ao aluno expressar sua opinião e sua cidadania; destacar o trabalho do professor; levar conhecimento à comunidade escolar. • O uso do rádio no espaço escolar é uma ferramenta educomunicativa que proporciona a autoestima e a autovalorização dos sujeitos envolvidos, permitindo sua expressão através de sua voz, tornando-os agentes e produtores culturais. RESUMO DO TÓPICO 1 178 • O uso da internet é uma excelente ferramenta no processo de ensino e aprendizagem, pois, além de estimular o aluno à pesquisa dirigida e autônoma, o professor poderá usufruir de conteúdos dinâmicos e interativos, bem como jogos educativos, já disponibilizados na rede. • O uso das novas tecnologias, apesar das precauções que precisamos ter, só favorecerá o processo educativo. Caberá à escola, mais especificamente ao professor, estar aberto a encarar esse desafio, a quebrar o paradigma de uma educação engessada no tradicionalismo. • O uso de práticas educomunicativas pode ser uma excelente maneira de proporcionar um ensino diferenciado pautado no diferente, no atraente e, mais do que isso, na oportunidade do aluno aprender a aprender. 179 1 Observe a charge a seguir. AUTOATIVIDADE FIGURA 44 – CHARGE FONTE: Disponível em: <http://acertodecontas.blog.br/wp-content/uploads/2008/07/ midia.gif>. Acesso em: 10 abr. 2011. Qual sua reflexão? Como você avalia o uso da mídia? Você acredita que a mídia é um monstro? Justifique sua resposta. 2 Diante do exposto neste tópico, como você avalia o uso de práticas educomunicativas na sala de aula? Como potencializar o uso dessas práticas na educação? No Ambiente Virtual de Aprendizagem, postamos um fórum com essa temática. E, é neste fórum que você responderá a essas duas perguntas. Aguardamos a sua participação. 3 Em sua opinião, qual das práticas educomunicativas poderá auxiliar melhor o professor e aluno no processo de ensino-aprendizagem? a) ( ) O uso da televisão e vídeo. b) ( ) O uso do rádio. c) ( ) O uso do jornal. d) ( ) O uso da internet. Obs. Não responda aqui. Vá ao Ambiente Virtual de Aprendizagem, na opção ENQUETE, e vote na alternativa que você considera ideal. Aguardamos seu voto. 180 181 TÓPICO 2 GEOGRAFIA DIVERTIDA UNIDADE 3 1 INTRODUÇÃO É muito comum ouvirmos dos professores que seu grande objetivo é fazer com que os alunos aprendam. Pois bem, para que isso aconteça efetivamente, deve haver um grande esforço por parte dos professores no intuito de criar condições para promover essa desejada aprendizagem. No caso da Geografia, condições que promovam o saber e o fazer geográfico. Neste contexto, muitos professores ressaltam algumas dificuldades em motivar os alunos para o aprender a aprender, o fazer pensar geográfico. Posso afirmar, enquanto professora de Geografia, que essa tarefa não é fácil, requer um esforço muito grande, mas é perfeitamente possível. No Tópico 3 da unidade anterior, você pôde conferir algumas dicas de práticas educomunicativas que poderão auxiliá-lo no processo de ensino- aprendizagem, não só da Geografia, mas de outras áreas do conhecimento. Neste tópico, propomos condições lúdicas de ensinar a Geografia, por isso intitulamos esse tópico de Geografia Divertida. As práticas educomunicativas também podem ser consideradas atividades lúdicas. Se a grande dificuldade dos professores é motivar os alunos, que tal utilizarmos atividades que proporcionam diversão e ao mesmo tempo conhecimento. O resultado final, posso garantir, é muito positivo. Vale a pena conferir! Você pode adaptar as atividades apresentadas para as outras áreas do conhecimento. 2 A LUDICIDADE NO ENSINO DA GEOGRAFIA Você sabe o significado da palavra ludicidade? Essa palavra é de origem latina. Lúdico significa “ludus” que quer dizer jogo. Contudo, esse significado ao longo do tempo foi ganhando outras significações. Na verdade, o lúdico tornou- se um traço essencial na psicofisiologia do comportamento humano. Assim, o lúdico passou a ultrapassar os perímetros do brincar espontâneo. Segundo muitos especialistas, tornou-se uma necessidade básica da personalidade, do corpo e da mente. Tornou-se parte das atividades essenciais da dinâmica humana. Atualmente, podemos dizer que a ludicidade corresponde aos jogos pedagógicos, às brincadeiras, às dinâmicas de grupo, às dramatizações, aos exercícios físicos, às cantigas de roda, às atividades desenvolvidas nos computadores, dentre outras. 182 UNIDADE 3 | PRÁTICAS EDUCATIVAS PARA O ENSINO DE GEOGRAFIA: INTERAGINDO COM A GEOGRAFIA Na visão de Santos (1999), o lúdico é uma maneira que o indivíduo tem de expressar-se e integrar-se ao ambiente que o cerca. É uma maneira de o indivíduo assimilar valores, adquirir conhecimento em diferentes áreas, desenvolver o comportamento, bem como aprimorar as habilidades motoras. É importante destacar que as atividades lúdicas também auxiliam no aprender a assumir responsabilidades, possibilitam a socialização e a criticidade, sem falar do estímulo à motivação no aprender. De modo geral, esses são os objetivos das atividades lúdicas. Mas, vejamos como podem ser classificados os objetivos das atividades lúdicas de acordo com etapas de ensino. 2.1 OBJETIVOS DAS ATIVIDADES LÚDICAS Segundo Freitas e Salvi (2011), os objetivos das atividades lúdicas podem ser classificados da seguinte maneira. Na Educação Infantil: • visar ao desenvolvimento das áreas psicomotoras, perceptivas, de atenção, raciocínio e estimulação para o contato com os objetos; No Ensino Fundamental: • desenvolver no aluno as suas potencialidades intelectuais, físicas e criativas, permeadas pelo desenvolvimento social e interpessoal; No Ensino Médio: • visar à participação, à solidariedade, à cooperação, ao respeito do aluno a si mesmo e ao outro, à análise crítica, à reflexão, à motivação e à participação em sala de aula e ao prazer de aprender a aprender; Na educação de jovens e adultos (EJA): • visar a uma aprendizagem adequada à realidade do aluno e da sociedade em que está inserido; Na Terceira Idade: • promover o conhecimento e a convivência com diferentes colegas de maneira natural, espontânea e responsável. Sem dúvida, existem várias razões para a utilização da ludicidade como recurso no processo didático-pedagógico. Teixeira (1995) aponta algumas delas, vejamos: • os recursos lúdicos correspondem naturalmente a uma satisfação interior, pois o ser humano apresenta uma tendência lúdica; • o prazer e o esforço espontâneo são elementos fundamentais na constituição das atividades lúdicas; • as atividadeslúdicas mobilizam esquemas mentais, estimulando o pensamento e o senso crítico; TÓPICO 2 | GEOGRAFIA DIVERTIDA 183 • as atividades lúdicas integram e acionam as esferas motoras, cognitivas e a afetiva dos seres humanos. Como você pôde perceber, o desenvolvimento de atividades lúdicas é um recurso valioso no processo de ensino-aprendizagem. 2.2 OS TIPOS DE JOGOS E SEUS USOS Nesta seção, gostaríamos de destacar três tipos de jogos baseados nas concepções de Piaget (1975) e estabelecidos por Freitas e Salvi (2011, p. 8-10) em que destacam como a Geografia pode ser ensinada por meio destes. Jogos de exercício → Esse tipo de jogo pode ser utilizado durante toda a infância. Nesta categoria se encaixam os jogos que devem ser de ação, com esquemas simples e adoção de uma prática repetitiva. O objetivo é que o aprendiz possa interagir e conhecer melhor o espaço da ação, do cotidiano. A proposta é de que os jogos sejam atividades de movimentos simples como deslocamento e ordenamento, procurando observar questões como próximo/ longe, dentro/fora e em baixo/em cima. Dessa forma, essas atividades podem ser utilizadas com a finalidade de trabalhar posições geográficas, noções preliminares de distância e tamanho (pré-requisito para a noção de escala). Por exemplo, sobre as posições geográficas, depois de trabalhar os conceitos das rosas dos ventos é possível criar atividades de exercícios que envolvam esse conceito, como um jogo de handebol, uma caminhada orientada ou um jogo de orientação, onde os passos dados ou o caminho percorrido pela bola sejam feitos com a orientação dos pontos cardeais. Através deste tipo de jogo é possível então, o desenvolvimento de atividades que explorem com os alunos o domínio do espaço e as ações dentro deste espaço. Jogos simbólicos → essa categoria de jogos trabalha com símbolos, os quais representam a assimilação do mundo físico e social pelo aluno. Ou seja, o jogo possibilita a função de assimilação da realidade vivida e do cotidiano. Sendo assim, uma boa oportunidade para se trabalhar o espaço vivido, um espaço prático, no qual as questões ao nível da ação e do comportamento podem ser amplamente discutidas e exploradas. Têm como característica desenvolver e trabalhar a imaginação por parte do aluno através das representações que, no caso da Geografia podem ser as gráficas, cartográficas e artísticas, como: construções de mapas, do desenho, do croqui, do teatro, das histórias, entre outras. Um exemplo desse tipo de jogo seria a construção de vários reinos “fantasia”, por parte dos alunos. O professor pode solicitar que eles construam esse reino descrevendo algumas características físicas (elevações, rios, vegetação, fauna) e sociais e econômicas como grupos que aí vivem, principais atividades econômicas, forma de governo. Através destes tipos de jogos de “faz-de-conta” possibilitamos ao aluno a realização de atividades simuladas que os ajudam a expressar simbolicamente um espaço vivido, criando uma forma de se relacionar com a realidade. 184 UNIDADE 3 | PRÁTICAS EDUCATIVAS PARA O ENSINO DE GEOGRAFIA: INTERAGINDO COM A GEOGRAFIA Jogos de regras → os jogos para poderem se encaixar nesta categoria devem ter como característica principal a inclusão de regras fixas. Estas são importantes para que o aluno possa assimilar a necessidade do cumprimento das mesmas e, por conseguinte, possa vivenciar, criar, discutir, aceitar e adotar as normas da sociedade e da vida. Os alunos poderão encontrar as soluções para os problemas sugeridos e também poderão desenvolver estratégias de ação para resolução dos mesmos, seguindo as regras estabelecidas. O objetivo principal é desenvolver um raciocínio lógico, afetivo e social. Os jogos de regras sociais trabalham as relações sociais, buscando no aluno o estabelecimento de tomadas de decisões, a análise, a lida com as perdas e ganhos, a competitividade e a interação. Isso tudo para que o aluno se torne apto a relacionar-se com o mundo e com as transformações que o mesmo sofre constantemente. O ensino da Geografia pode ser realizado por meio de vários tipos de jogos, vai depender do esforço e criatividade do professor em desenvolvê-los e/ou utilizá-los. DICAS Caro(a) acadêmico(a)! Caso você se interesse em saber mais sobre a ludicidade, indicamos a leitura de excelentes bibliografias: ALMEIDA, Paulo Nunes de. Educação lúdica: técnicas e jogos pedagógicos. 6. ed. São Paulo: Loyola, 1990. ALMEIDA, Paulo Nunes de. Dinâmica lúdica: jogos pedagógicos para escolas 1. e 2. graus; projetos. 4. ed. São Paulo: Loyola, 1984. ANTUNES, Celso. Ludopedagogia. São Paulo: Ed Brasil, 1974. ANTUNES, Celso. Manual de técnicas de dinâmica de grupo de sensibilidade de ludopedagogia. 6. ed. Petrópolis: Vozes, 1993. AUFAVRE, Marie-Renee. Aprender a brincar aprender a viver: jogos e brinquedos para a criança deficiente: opção pedagógica e terapêutica. São Paulo: Manole, 1987. BASSESAS, Eulália. Aprender e ensinar na Educação Infantil. Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 1999. 2.3 EXEMPLOS DE PRÁTICAS LÚDICAS NO ENSINAR E APRENDER A GEOGRAFIA A partir de agora, apresentaremos alguns exemplos de atividades lúdicas que foram desenvolvidas por diferentes professores com o intuito de motivar a aprendizagem do saber e fazer o pensar geográfico. TÓPICO 2 | GEOGRAFIA DIVERTIDA 185 2.3.1 O jogo da corrida de automóveis Essa atividade tem o intuito de trabalhar com ponto de referência, direção (para frente e para trás), esquerda/direita. O professor precisa primeiramente trabalhar os conceitos necessários para dar condições ao aluno de entender a atividade proposta. Materiais utilizados: • dois dados e um copo para sacudi-los; • traçado de uma pista de corrida; • utilizar cores diferentes para os obstáculos; • fazer uma legenda e chamar a atenção para os pontos de referência: saída e chegada. Regras: • estabelecer critérios para: número de parti cipantes e quem irá iniciar o jogo; • quando um jogador cair em um obstá culo verde, poderá jogar mais uma vez. Quando cair no amarelo, deve permanecer parado e esperar a próxima jogada. Quando cair no espaço vermelho, é obri gado a jogar novamente e andar para trás. Importante. Os próprios alunos poderão criar este jogo (ver a imagem a seguir). As regras poderão ser modificadas. O tabuleiro poderá ser desenhado no chão da escola, com tinta, para se tornar um jogo per manente também para outros alunos. Poderá ser feito com outros materiais: madeira, papel cartão, papelão etc. FONTE: Atividade sugerida por Gilda Rizzo. Adaptado de: <http://pt.scribd.com/doc/35232637/ A-compreensao-leitora-ensino-aprendizagem-cartografia>. Acesso em: 20 fev. 2011. 2.3.2 Bingo das coordenadas geográficas O Bingo das Coordenadas Geográficas é uma ótima atividade para que os alunos compreendam o sistema de coordenadas geográficas 186 UNIDADE 3 | PRÁTICAS EDUCATIVAS PARA O ENSINO DE GEOGRAFIA: INTERAGINDO COM A GEOGRAFIA Como Funciona: Primeiramente faça as fichinhas das latitudes e das longitudes para serem utilizadas no sorteio. Veja o exemplo: LATITUDES Longitudes 10 º N De 10 º S 20 º O 20 º L 20 º N 20 º S 40 º O 40 º L 30 º N 30 º S 60 º O 60 º L 40 º N 40 º S O 80 º 80 º L 50 º N 50 º S 100 º O 100 º L 60 º N 60 º S 120 º O 120 º L 70 º N 70 º S 140 º O 140 º L 80 º N 80 º S 180 º O 180 º L 90 º N 90 º S Feito isso, peça para os alunos desenharem uma malha representativa do globo terrestre (Observe a seguir). Nessa malha, os alunos deverão marcar 20 pontos (coordenadas) em lugares aleatórios para iniciar o jogo. Você também pode entregar um mapa com as coordenadas, ou solicitar que tragam o atlas. Faça o sorteio das latitudes e longitudes. Os alunosirão marcando no mapa, ou na malha. Quem fizer mais pontos ganha! FONTE: Atividade sugerida por Aluisiane Kraisch. Adaptado de: <http://panoramageografico. blogspot.com/2010_03_01_archive.html>. Acesso em: 10 fev. 2011. TÓPICO 2 | GEOGRAFIA DIVERTIDA 187 2.3.3 Batalha naval geográfica Outro jogo interessante para ensinar as coordenadas geográficas é a Batalha Naval Geográfica. É importante destacar que antes da aplicação do jogo o professora precisa explicar o conteúdo para que as crianças tenham condições básicas para o desenvolvimento da brincadeira. Como Funciona: Para a realização da brincadeira é preciso ter duas pessoas, uma folha para cada uma com tabela quadriculada Depois faça a codificação de linhas e colunas, sendo a última constituída por letras e a primeira por números. Feito isso, os participantes inserem aleatoriamente as figuras (bolas, aviões, navios etc.) nos quadrados. A distribuição das figuras deve ser feitas em sigilo, ou seja, que nenhum dos dois saiba onde está localizado no tabuleiro o jogo do outro. Esse procedimento é para que os participantes tentem adivinhar onde estão as figuras do adversário. 188 UNIDADE 3 | PRÁTICAS EDUCATIVAS PARA O ENSINO DE GEOGRAFIA: INTERAGINDO COM A GEOGRAFIA O jogo consiste em deduzir onde estão as figuras do oponente, dizendo o endereço, exemplo, 2a, 9b e assim por diante. O término do jogo é quando um dos oponentes acerta todos os alvos do outro. A ligação entre o jogo e as coordenadas geográficas é que as linhas representam os paralelos e as colunas os meridianos. Os códigos comparam-se às coordenadas geográficas inseridas nos mapas (16° sul e 48° oeste). FONTE: Atividade sugerida por Eduardo de Freitas. Adaptado de: <http://educador.brasilescola. com/estrategias-ensino/aprender-coordenadas-geograficas-brincando.htm>. Acesso em: 10 mar. 2011. DICAS O Dominó Geográfico é uma atividade que pode ser trabalhada com diferentes temáticas da Geografia e de outras áreas. Você sabe como funciona o jogo do dominó? Se você souber, fica mais fácil desenvolver e/ou criar essa atividade. Ele deve ser composto por várias peças com desenhos e cores originais das bandeiras de cada país, ou estado, pode ser elaborado com as capitais, cidades, dentre outros bem como deve ter um mínimo de três e máximo de seis participantes. É indicado para crianças e estudantes de pré-escola e primeiro grau. Tem também o Supertrunfo Geográfico, que na verdade é uma adaptação do jogo popular Supertrunfo. Este se refere a um baralho com várias cartas com temas específicos (animais, árvores, carros, motos, países, dentre outros). Cada carta apresenta uma foto com características variadas relacionadas a foto. Cada participante recebe metade do baralho e, em seguida, cada um puxa uma de suas cartas para comparar com a do oponente. Ganha a carta o jogador que apresentar o valor maior da informação que está sendo comparada. No final quem tem o maior número de cartas ganha o jogo. Esse jogo pode ser adaptado para ensinar temas relacionadas a qualquer área do conhecimento, no nosso caso a Geografia. O professor pode lançar o desafio para as crianças montarem seu próprio Supertrunfo Geográfico. Que tal você montar o seu? Pense nisso! 3 EXEMPLOS DE SITES ELETRÔNICOS QUE PODEM SER UTILIZADOS NO ENSINO DE GEOGRAFIA Podemos encontrar vários sites com jogos eletrônicos e/ou atividades que poderão ser utilizados no ensino da Geografia. Apresentaremos algumas dicas de sites que dispõem de ótimos jogos eletrônicos e/ou atividades ligadas ao ensino da Geografia de maneira descontraída e que pode ser uma ferramenta didático pedagógica excelente. 3.1 PORTAL SÓ GEOGRAFIA No portal Só Geografia há uma seção que disponibiliza alguns jogos com o intuito de aprender a Geografia de maneira descontraída. Observe-os. TÓPICO 2 | GEOGRAFIA DIVERTIDA 189 FIGURA 45 – JOGOS DE GEOGRAFIA Jogo das bandeiras: o retângulo deverá atingir a posição central somente quando a bandeira corresponder ao país indicado na parte superior. Jogo das capitais: jogo onde você deve tentar adivinhar as capitais de diversos países. Colorindo a América: pinte os países da América do Sul com as cores indicadas. Pintando o Brasil: pinte várias regiões do Brasil conforme as instruções. Rosa-dos-ventos: posicione os pontos cardeais na rosa-dos- ventos. Jogo das populações: tente descobrir a população dos países. FONTE: Disponível em: <http://www.sogeografia.com.br/Jogos/>. Acesso em: 10 mar. 2011. 190 UNIDADE 3 | PRÁTICAS EDUCATIVAS PARA O ENSINO DE GEOGRAFIA: INTERAGINDO COM A GEOGRAFIA Neste portal, você também encontrará diversas informações e produtos ligados à Geografia. Vale apena conferir. 3.2 QUEBRA-CABEÇA MAPAS Atividades de quebra-cabeça são excelentes no desenvolvimento do raciocínio. No site indicado, na referência (fonte) da figura a seguir, você encontrará o quebra-cabeça mapas sobre o Brasil, América do Sul e do Mundo. Trata-se do site do IBGE que apresenta quebra-cabeça com diversos níveis de dificuldade, bem como diversão para todas as idades. Você vai adorar, imagine os alunos FIGURA 46 – QUEBRA-CABEÇA MAPAS FONTE: Disponível em: <http://www.ibge.gov.br/7a12/brincadeiras/default.php>. Acesso em: 21 mar. 2011. A seguir, você encontrará um ótimo quebra-cabeça do Brasil. TÓPICO 2 | GEOGRAFIA DIVERTIDA 191 FIGURA 47 – QUEBRA-CABEÇA DO BRASIL FONTE: Disponível em: <http://www.cambito.com.br/games/brasil.htm>. Acesso em: 10 abr. 2011. 3.3 JOGO DA MEMÓRIA – SISTEMA SOLAR Este jogo é muito interessante e requer atenção e memorização para assimilar os planetas. Você o encontrará no site indicado na referência (fonte) da figura. FIGURA 48 – JOGO DA MEMÓRIA – SISTEMA SOLAR FONTE: Disponível em: <http://www.smartkids.com.br/jogos-educativos/jogo-da- memoria-sistema-solar.html>. Acesso em: 12 abr. 2011. 192 UNIDADE 3 | PRÁTICAS EDUCATIVAS PARA O ENSINO DE GEOGRAFIA: INTERAGINDO COM A GEOGRAFIA Aproveite também para conferir o Quizsmartkids – Sistema Solar disponível no Portal Smartkids. Este portal tem sete anos e foi criado com o objetivo de oferecer conteúdos especializados para o público infantil. Atualmente é um dos portais mais acessados do país por professores e escolas. FIGURA 49 – QUIZSMARTKIDS – SISTEMA SOLAR FONTE: Disponível em: <http://smartkids.com.br/jogos-educativos/sistema-solar-quiz.html>. Acesso em: 12 abr. 2011. 3.4 OUTROS JOGOS EDUCATIVOS GEOGRÁFICOS Nos sites <http://geoeducar.no.sapo.pt/jogos/didacticos.htm> e <http:// edumed.no.sapo.pt/ jogaCooGeo.htm>, você terá a sua disposição jogos sobre: países e capitais da Europa, países da EU, continentes, planisférios, países do mundo, oceanos e mares, cidades do mundo, rios do mundo, montanhas, desertos, paisagens, populações, migrações, bandeiras, agricultura, recursos naturais, coordenadas geográficas, dentre outros. Além de ser um recurso para ensinar a Geografia aos alunos, é também uma maneira de você saber um pouco mais sobre esta maravilhosa ciência. Vale a pena conferir. Veja um exemplo: TÓPICO 2 | GEOGRAFIA DIVERTIDA 193 FIGURA 50 – JOGO DAS COORDENADAS GEOGRÁFICAS FONTE: Disponível em: <http://edumed.no.sapo.pt/Imagens/Geografia/JogoCooGeo.swf>. Acesso em: 12 abr. 2011. DICAS Saiba mais sobre os jogos educativos e escolares acessando o site: <http://www. emundy.com/jogos_online/jogos-educativos-escolares.php>. Neste site, você encontrará jogos relacionados ao ensino da Geografia e também ao da Matemática. 3.5 ANIMAÇÕES E VÍDEOS INTERATIVOS GEOGRÁFICOS Você sabe como se formam os ventos? Qual é o seu conhecimento sobre a atmosfera? Sobre o gás carbônico e a camada de ozônio? No site: <http://www.