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Universidade Federal de Pelotas Disciplina de Microeconomia 1 Professor Rodrigo Nobre Fernandez Lista 1 - Soluções 1) Suponha que existam apenas dois bens e o governo resolve controlar os preços desses bens do seguinte modo: o preço é R$ 1,00 até 5 unidades adquiridas, e o preço é R$ 2,00 para unidades adicionais (acima das primeiras 5 unidades adquiridas). Suponha que João tem uma renda de R$ 10,00. a) Ilustre graficamente a reta orçamentária de João. S: O governo cobra R$ 2,00 apenas para as quantidades superiores a cinco unidades compradas de cada bem. Se o indivíduo decidir comprar 6 unidades de um dos bens, ele pagará R$ 1,00 pelas cinco primeiras unidades e R$ 2,00 pela sexta unidade adquirida. Portanto, a reta orçamentária é descrita pelo gráfico abaixo: b) Descreva a reta orçamentária em termos algébricos. S: Na reta orçamentária abaixo, o número 5 em cada equação é o valor das cinco primeiras unidades compradas por 1 real. Os termos 2(x2−5) e 2(x1−5) são as quantidades de x1e x2 que excedem 5 unidades, multiplicadas pelo preço nesse caso, igual a 2.{ x1 + 2(x2−5) + 5 = 10 ,se x2 > 5,0≤ x1 ≤ 5 x2 + 2(x1−5) + 5 = 10 ,se x1 > 5,0≤ x2 ≤ 5 2) Suponha uma economia com dois bens, denotados por x e y. A reta orçamentária de Maria é pMx x+pMy y =mM e a reta orçamentária de João é pJxx+pJy y =mJ , onde pMx /pMy 6= pJx/pJy . Ou seja, o custo de mercado entre x e y para Maria é diferente do custo de mercado para João. Maria e João decidem se casar e formar uma família onde a renda dos dois é gasta em conjunto, apesar de que os preços dos bens para cada um deles continuam os mesmos de antes. a) Defina a restrição orçamentária do casal. S: A restrição orçamentária do casal é pxx+ pyy = m , onde px = min { pMx ,p J x } e py = min { pMy ,p J y } e m=mM +mJ . b) Haverá especialização na compra dos bens? S: Sim. Quem comprará um determinado bem é quem tem acesso ao menor preço deste bem. Por exemplo, se px = pMx e py = pJx , ou seja, se Maria tem acesso a um preço mais barato para o bem x e João tem acesso a um preço mais barato para o bem y, Maria se especializa na compra do bem x e João se especializa na compra do bem y. 1 3) Suponha um consumidor que tenha preferências definidas entre cestas compostas por dois bens do seguinte modo: se (x1,x2) > (y1,y2) (ou seja, x1 > y1 e x2 > y2), então x � y . Se (x1,x2) < (y1,y2)(ou seja, x1 < y1e x2 < y2), então y � x. Finalmente, se (x1,x2) = (y1,y2), então x ∼ y. Essas preferências são (justifique sua resposta): a) Completas? S: Não. Duas cestas tais como (x1,x2) e (y1,y2) com x1 >y1 e x2 <y2 não são comparáveis , para o sistema de preferências considerado (por exemplo, (1,2) e (2,1) não são comparáveis: não podemos dizer qual cesta é melhor ou se são indiferentes). b) Transitivas? S: Sim. Temos que mostrar que se a cesta x é preferível à cesta y e a cesta y é preferível à cesta z, então a cesta x é preferível a cesta z. Note que se x� y então (x1,x2)≥ (y1,y2) e se y � z (y1,y2)≥ (z1,z2). Portanto, (x1,x2)≥ (z1,z2) e então x� z. Ou seja, essas preferências são transitivas. c) Monotônicas? S: Sim, por definição (“quanto mais, melhor”). d) Convexas? S: Sim, pois se x e y são duas cestas de bens tais x∼ y, então (x1,x2) = (y1,y2), e portanto λx+(1−λ)y = x,∀λ ∈ [0,1], o que por sua vez significa λx+ (1−λ)y � x,∀λ ∈ [0,1]. 4) Suponha que uma pessoa esteja consumindo uma cesta de bens tal que a sua utilidade marginal de consumir o bem A é 12 e a sua utilidade marginal de consumir o bem B é 2. Suponha também que os preços dos bens A e B são R$2 e R$1, respectivamente e que as preferências desse consumidor são estritamente convexas. a) Essa pessoa está escolhendo quantidades ótimas dos bens A e B? Caso não esteja, qual bem ela deveria consumir relativamente mais (não se preocupe com a restrição orçamentária nesse item)? S: Denote a cesta de bens que essa pessoa consome por x. Para essas quantidades de bens, temos que: ∂u(x) ∂xA ∂u(x) ∂xB = 6 6= 2 = pA pB A TMS entre A e B é maior do que a relação de preços entre A e B. Nesse caso, o consumidor pode aumentar sua utilidade se consumir mais do bem A e menos do bem B, pois no mercado ele pode trocar 2 unidades de B por uma unidade de A e tal troca vai aumentar sua utilidade em uma razão de seis vezes. b) A sua resposta para o item a) depende do valor da utilidade marginal? Explique S: Não, depende apenas da relação entre as utilidades marginais, que permanece a mesma qualquer que seja a função de utilidade usada para representar as preferências. 5) Suponha que Ana consome apenas pão e circo, e suas preferências são estritamente convexas. Um certo dia o preço do pão aumenta e o preço do circo diminui. Ana continua tão feliz quanto antes da mudança de preços (a renda de Ana não mudou). a) Ana consume mais ou menos pães após a mudança de preços? b) Ana consegue agora comprar a cesta que comprava antes? S: (a e b juntos) Nesse caso, pão se torna mais caro relativamente ao circo. A reta orçamentária se torna mais inclinada. Essa mudança na reta orçamentária é tal que o indivíduo alcança o mesmo nível de utilidade de antes (ou seja, a nova reta orçamentária tangenciará a mesma curva de indiferença que a reta orçamentária original tangenciava.). O gráfico abaixo mostra que Ana consome menos pães do que antes (equilíbrio muda de E para Eˆ) e que cesta que ela consumia antes (E) não é mais possível de ser adquirida aos novos preços. 2 6) Considere a utilidade u(x1,x2) = √ ax1 + bx2. a) Calcule a TMS entre os dois bens. Desenhe o mapa de indiferença dessa utilidade. S: Uma curva de indiferença em particular pode ser encontrada fazendo-se u(x1,x2) = u , ou seja, u =√ ax1 + bx2, logo ax1 +bx2 = u2. Isto quer dizer que o mapa de indiferença dessa utilidade tem a mesma forma do que o mapa de indiferença para a utilidade u˜(x1,x2) = ax1+bx2. Portanto, esta utilidade também representa bens substitutos perfeitos. A curva de indiferença é: Observe que a TMS de u, é igual a TMS de u˜: TMSu12 (x1,x2) =− 0.5(ax1 + bx2)−0.5 a 0.5(ax1 + bx2)−0.5 b =−a b = TMSu˜12 (x1,x2) b) Encontre as funções de demandas ótimas para o consumidor. S: O problema do consumidor é atingir o nível mais alto de utilidade, dada a restrição orçamentária. Como os bens são perfeitamente substitutos, o consumidor comprará o bem que for relativamente mais barato: o bem que tiver menor preço dividido pelo coeficiente da utilidade. As funções de demanda: xM1 (p1,p2,m) = { m/p1, se p1/a < p2/b 0 se p1/a > p2/b xM2 (p1,p2,m) = { m/p2, se p1/a > p2/b 0 se p1/a < p2/b 3 No caso em que p2/b= p1/a, o consumidor é indiferente entre qual dos bens comprar, pois a TMS é sempre igual à relação de preços dos bens. Nesse caso, o consumidor comprará qualquer quantidade de x∗1 e x∗2tal que satisfaça a sua reta orçamentária p1x∗1 +p2x∗2 =m. c) Agora suponha que a=b=1 e p1 = 1, p2 = 2 e m = 100. Ilustre graficamente a solução neste caso. Qual a TMS na cesta ótima? Para este caso, vale a condição de igualdade de TMS e relação de preços? Discuta intuitivamente sua resposta. S: O gráfico abaixo ilustra a solução neste caso. Na cesta ótima, x∗1 = 100 e x∗2 = 0, não é válida a igualdade entre TMS e relação de preços (TMS = −1 6= 0.5 = −p1/p2). Isto ocorre porque estamos em uma solução de canto: apenas o bem 1 é consumido. Se fosse possível, o indivíduo continuaria a trocar o bem 2 pelo bem 1, mas ele já está no limite, sem mais nenhuma quantidade do bem 2 para trocar pelo bem 1. A igualdade entre as TMS e a relação de preços é válida para soluções interiores, ou seja, cestas tais que as quantidades dos bens são todas positivas (estritamente maiores do que zero). 7) Considere a utilidade u(x1,x2) = (min{ax1, bx2})2. a) Calcule a TMS entre os dois bens. Desenhe o mapa de indiferença dessa utilidade. S: Procedemos como na questão anterior: uma curvade indiferença em particular pode ser encontrada fazendo-se u(x1,x2) =u , ou seja, u= (min{ax1, bx2})2, logo √ u=min{ax1, bx2}. Isto quer dizer que o mapa de indiferença desta utilidade tem o mesmo formato do que o mapa de indiferença da utilidade u˜=min{ax1, bx2}. Portanto, esta utilidade também representa bens complementares perfeitos. A curva de indiferença é ilustrada na figura abaixo. A TMS entre os dois bens não está bem definida, pois a utilidade não é diferenciável. Porém, podemos dizer que ela será igual a zero ou a infinito, dependendo da cesta em que for calculada. Se a cesta (x1,x2) for tal que x1 < x2 , então TMS12 (x1,x2) = 0, pois neste caso o consumidor não está disposto a trocar o bem 1 pelo bem 2. Se a cesta (x1,x2) for tal que x1 > x2, então TMS12 (x1,x2) = +∞, pois neste caso o consumidor está disposto a trocar o bem 1 pelo bem 2 qualquer que seja a taxa de troca ( a TMS é uma medida local, vale apenas para uma vizinhança da cesta em questão.) . Finalmente, se a cesta (x1,x2) for tal que x1 = x2, então TMS12 (x1,x2) não está definida. 4 b) Encontre as funções de demandas ótimas para o consumidor. S: Como podemos observar no gráfico acima, essa curva toca a reta orçamentária no ponto E. No caso geral, a 6= b , o consumidor iguala os argumentos da função de mínimo: ax1 = bx2. Portanto, abx1 = x2 . O consumidor compra mais do bem que tiver o coeficiente a ou b menor: para este bem, ele precisa de uma quantidade maior para cada unidade do outro bem. Substituindo abx1 = x2 na restrição orçamentária encontramos as funções de demanda: xM1 (p1,p2,m) = m p1 + ( a b ) p2 e xM2 (p1,p2,m) = (a b ) m p1 + ( a b ) p2 c) Agora suponha que a=b=1 e p1 = 1, p2 = 2 e m = 100. Ilustre graficamente a solução neste caso. Su- ponha agora que os preços mudaram para suponha que a=b=1 e p1 = 2, p2 = 2 e a renda não se modificou. Calcule e ilustre graficamente a solução neste caso. Compare as duas soluções encontradas nesse item. Discuta intuitivamente sua resposta. S: Para o primeiro caso, temos que x∗1 = x∗2 = mp1+p2 = 100 3 . Para o segundo caso, temos que x∗1 = x∗2 = m p1+p2 = 100 3 . Portanto, a cesta ótima é a mesma em ambos. Isto ocorre porque, no caso de bens complementares perfeitos onde a=b, os dois bens devem sempre ser consumidos na proporção de um para um. Podemos dizer que o bem 1 e o bem 2 formam um único bem, cujo o preço é p1 +p2. Como nos dois casos, o preço deste “bem conjunto” não mudou, o consumo dele continua o mesmo. Veja o gráfico abaixo: 8) Encontre as demandas ótimas para os seguintes casos, onde α,β e ρ ∈]0,+∞[: 5 a) u(x1,x2) = αlnx1 +βlnx2 S: Vamos montar o Lagrangiano: L= αlnx1 +βlnx2 +λ [m−p1x1−p2x2] As CPOS são: Lx1 = α 1 x1 = λp1 (1) Lx2 = α 1 x2 = λp2 (2) Lλ =m= p1x1 +p2x2 (3) Dividindo (1) por (2) e isolando x2 teremos que: x∗2 = x1 ( β α )( p1 p2 ) (4) Substituindo (4) em (3) encontramos que: x∗1 = ( α α+β ) m p1 (5) Inserindo (5) em (4) temos que: x∗2 = ( β α+β ) m p2 (6) b) u(x1,x2) = x α α+β 1 x β α+β 2 S: Faça a seguinte transformação na função αα+β = Φ e β α+β = 1−Φ então teremos que u(x1,x2) = xΦ1 x1−Φ2 . Observe que a função de utilidade é igual a anterior (letra a) elevada a 1α+β o que constitui uma transformação crescente, pois α e β são maiores que zero. Portanto a função de utilidade u(x1,x2) = xΦ1 x1−Φ2 é uma versão loglinearizada de u(x1,x2) = xα1 x β 2 . O Lagrangiano é idêntico ao da letra a, bem como o método de resolução, e dessa forma você obterá as seguintes demandas: x∗1 = Φ m p1 = α α+β m p1 (7) x∗2 = (1−Φ) m p2 = β α+β m p2 (8) c)u(x1,x2) = (x1−a)α (x2− b)β S:Vamos montar o Lagrangiano: L= (x1−a)α (x2− b)β +λ [m−p1x1−p2x2] As CPOS são: Lx1 = α(x1−a)α−1 (x2− b)β = λp1 (9) Lx2 = β (x1−a)α (x2− b)β−1 = λp2 (10) 6 Lλ =m= p1x1 +p2x2 (11) Dividindo (9) por (10) e isolando x2 teremos que: x∗2 = 1 αp2 [p1β (x1−a) +αp2b] (12) Substituindo (12) em (11) encontramos que: x∗1 = 1 (α+β)p1 [α(m−p2b) +p1βa] (13) Inserindo (13) em (12) temos que: x∗2 = 1 (α+β)p2 [β (m−p1a) +αp2b] (14) d) u(x1,x2) = ( xρ1 +x ρ 2 )1/ρ S: L= ( xρ1 +x ρ 2 ) 1 ρ λ [m−p1x1−p2x2] As CPOs são: ( xρ1 +x ρ 2 ) 1−ρ ρ xρ−11 = λp1 (15) ( xρ1 +x ρ 2 ) 1 ρ−1xρ−12 = λp2 (16) Lλ =m= p1x1 +p2x2 (17) Dividindo (15) por (16) teremos que: x2 = x1 ( p1 p2 ) 1 ρ−1 (18) Substituindo na equação (17): x1 = mp 1 ρ−1 1 p ρ ρ−1 1 +p ρ ρ−1 1 (19) Inserindo (19) em (18) teremos: x2 = mp 1 ρ−1 2 p ρ ρ−1 1 +p ρ ρ−1 1 (20) e) u(x1,x2) = x0.51 +x0.52 S:Vamos montar o Lagrangiano: L= x0.51 +x0.52 +λ [m−p1x1−p2x2] As CPOS são: Lx1 = 0.5x −0.5 1 = λp1 (21) 7 Lx2 = 0.5x −0.5 2 = λp2 (22) Lλ =m= p1x1 +p2x2 (23) Dividindo (21) por (22) e isolando x2 teremos que: x∗2 = x1 ( p1 p2 )2 (24) Substituindo (22) em (23) encontramos que: x∗1 =m ( p2 p1p2 +p21 ) (25) Inserindo (25) em (24) temos que: x∗2 =m ( p1 p1p2 +p22 ) (26) 8