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Direitos Humanos


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Direitos Humanos.
A evolução histórica dos direitos humanos é pautada na constante renovação, desde o início das civilizações até os dias de hoje. Por tal razão, costuma-se denominar e classificar os direitos humanos.
	Para Oliveira (2016) a definição de direitos humanos torna-se bastante dificultosa pelo fato de aceitar diversos pontos de vista interpretativos, como filosófico, jurídico, sociológico, histórico, político e até linguístico. No entanto, o autor destaca aspectos presentes na maioria das definições admitidas, citando o relacionamento com a dignidade da pessoa humana e a afirmação histórica do poder estatal, em que pese reconhecer, atualmente, proteção nas esferas públicas ou privada.
	Porém, sintetizando essas diferenças, conceitua-o como sendo direitos decorrentes de processo histórico de afirmação da dignidade da pessoa humana, encartando valores de liberdade, igualdade e solidariedade, relacionando-se em uma noção integral e interdependente (OLIVEIRA, 2016). 
	Há grande confusão quando se trata de diferenciação conceitual de direitos humanos e de direitos fundamentais. Aquele primeiro diz respeito aos direitos encorpados em documentos internacionais, caracterizados em um sistema global de direitos humanos ou em sistemas regionais, como europeu, sul-americano e africano (OLIVEIRA, 2016).
	No que diz respeito aos direitos fundamentais, percebe-se que estes são decorrentes dos próprios direitos humanos, quando se refere ao ponto de vista histórico. Portanto, os direitos fundamentais são direitos humanos positivados no âmbito interno do Estado (OLIVEIRA, 2016). 
 
Dimensões ou Gerações de Direitos Humanos.
É de extrema importância entender a origem de determinados direitos, tais quais os previstos na nossa constituição, como direitos individuais e sociais. Pois esses não surgiram de forma instantânea e simultânea, mas decorreram de um longo processo e atenderam à demanda de cada época, e, por tal razão, costuma-se dividir os direitos humanos em gerações (DIÓGENES JÚNIOR, 2012).
A classificação dos direitos humanos em dimensões ou gerações se relaciona fortemente com seu aspecto de historicidade. Esse aspecto reconhece que os direitos humanos, em determinado momento, seriam fruto de um longo processo histórico, filosófico e sociológico de avanços e retrocessos ao seu reconhecimento e proteção (OLIVEIRA, 2016). Dessa forma, ao longo da história humana, os direitos foram adquirindo novos sentidos e acepções, alterando suas características e alcançando mais pessoas ou grupos, os quais não eram destinatários (MAZZUOLI, 2017). 
O surgimento da classificação dos direitos humanos se deu pela inspiração nas ideais da revolução francesa, nos ideais de liberdade, igualdade e fraternidade, pelo jurista Karel Yasak, e difundida por Norberto Bobbio (OLIVEIRA, 2016). Dessa forma, os direitos de liberdade seriam relacionados aos de primeira geração, os de igualdade, aos direitos de segunda geração, e os de terceira, pautados na fraternidade, relacionar-se-iam aos direitos de terceira geração, seguindo a triangulação dos preceitos da revolução francesa (MAZZUOLI, 2017).
No entanto, atualmente tem-se os direitos de quarta e quinta dimensões, os quais não foram concebidos por Karel Vasak, envolvendo-se a novos paradigmas e discussões na modernidade (MAZZUOLI, 2017).
Apesar de haver costume na classificação dos direitos humanos de forma geracional, é assente, também, diversas críticas. Oliveira (2016) elenca e sintetiza tais críticas: condução a uma falsa ideia de substituição gradativa de uma geração por outra geração de direitos; compartimentalização dos direitos humanos, com uma geração em detrimento da outra; e, que se trata de uma teoria de interpretação lógico-argumentativa infundada.
Nessa toada, prefere-se à expressão “Dimensão” em detrimento da expressão “Geração”, pelas mesmas razões acima mencionadas. Assim, uma dimensão de direitos não substitui outra, mas são complementares (OLIVEIRA, 2016).
Em que pese tal discussão doutrinária, o STF tem aplicado a nomenclatura “Gerações” em seus julgamentos, como exemplo do julgamento da Medida Cautelar na ADI 3540/DF em que reconheceu que o meio ambiente ecologicamente equilibrado se tratava de um típico direito de terceira geração (MAZZUOLI, 2017).
Feitas essas considerações sobre os direitos humanos, necessário se torna tecer maiores apontamentos sobre as classificações em suas dimensões propriamente ditas, função exercida pelos tópicos que seguem.
 
 Direitos de primeira dimensão
Historicamente, os direitos denominados de segunda dimensão surgiram, sobretudo, com as revoluções liberais do século XVIII, cita-se as declarações norte-americanas, como a do Bom Povo da Virgínia e a declaração de independência dos EUA em 1776, e a declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, proveniente da revolução francesa em 1789 (OLIVEIRA, 2016). Pautaram-se nos direitos liberais clássicos.
Dessa forma, destacam-se os direitos de liberdade, valor que pode ser exemplificado pela liberdade de comércio, de expressão, de consciência, de crença e religião. Em razão disso, figura o direito à liberdade como uma proteção do indivíduo perante o Estado, podendo ser explicitado como direitos de cunho negativo pelo fato de ser uma limitação à atuação estatal (OLIVEIRA, 2016). Possuem, então, natureza negativa ou de abstenção do Estado, podendo ser exigidos imediatamente daquele, a quem cabe a sua garantia. Dessa forma, sintetiza-se na obrigação do Estado proteger a pessoa de abusos de outra pessoa ou de si mesmo (LEITE, 2014).
Tem como corolários os direitos civis e políticos que possuem fundamento na liberdade, segurança integridade da pessoa humana, e assegura aos cidadãos a participação nas decisões políticas do Estado (LEITE, 2014). Civis podem ser exemplificados como direito à vida, à propriedade privada, à igualdade formal, bem como a própria liberdade, sendo assim, são direitos pertinentes à própria pessoa individualmente considerada (OLIVEIRA, 2016). Por outro lado, os direitos políticos dão a possibilidade de participação nos destinos políticos de determinado Estado, exemplificando-se nos direitos de votar e de ser votado (OLIVEIRA, 2016).
O primeiro dos grandes marcos históricos dos direitos de segunda dimensão decorreu das declarações de direito dos EUA no século XVIII. Inicialmente, tem-se a independência das colônias britânicas da América do Norte, em 1776, as quais se confederaram em Estado Federal em 1787, com uma combinação de representação popular e regime constitucional, limitando o poder dos governantes e impondo respeito aos direitos humanos (COMPARATO, 2019).
O sentimento daqueles que imigraram para a Inglaterra naquela época era de apulso em relação à monarquia, reivindicavam seus direitos à terra e à produção dela decorrente, foi um documento importante, então, pelo fato de reconhecer o direito à liberdade, independentemente de qualquer diferença, e também a igualdade perante a lei (COMPARATO, 2019)..
Não muito diferente é a Declaração da Virgínia, reconhecendo direitos inerentes de toda pessoa humana, não podendo ser reprimidos perante uma decisão política arbitrária, reconhecendo também que o poder emana do povo e os governantes estão a ele subordinados podendo até substituí-los ou radicalmente mudar a forma de governo caso a organização estatal se mostre ineficaz para realizar os fins da sociedade (COMPARATO, 2019).
Já na Europa, tem-se a revolução francesa, grande movimento surgido em 1789 para renovar completamente as estruturas sociopolíticas, que também tinha a intenção de de libertar-se da tirania monárquica (COMPARATO, 2019). E muito além, diferentemente das declarações dos EUA, que se interessavam na própria independência e regime político, a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, de 1789 buscava a universalização dos preceitos da liberdade, igualdade e fraternidade. (LEITE, 2014).
Leite (2014) destaca que, além da importância da declaração francesa para os direitos humanos, ela foi, na sua essência, um instrumentopara retirar privilégios dos nobres à época e beneficiar a burguesia que começava a exigir direitos civis e políticos. Por esta razão, o autor considera que não houve, de fato, a implantação de igualdade material ou de fraternidade. O autor ainda ressalta que, na época, apenas cidadãos do sexo masculino, de cor branca e proprietários passaram a desfrutar do novo regime, excluindo-se mulheres, negros, operários e grupos sociais vulneráveis.
Apesar desses documentos surgidos em terras americanas e europeias no século XVIII, é notável relembrar da Magna Carta de 1215, no período da Europa feudal. A carta Magna é considerada um dos primeiros marcos dos direitos Humanos, pois, em decorrência dele, limitou-se a atuação irrestrita do rei, concebendo-se certos direitos, como de propriedade e liberdade. Não obstante sua importância à época, é notável que a sua existência deu passo inicial para outros documentos que surgiriam nos séculos seguintes no sentido de limitar ainda mais a atuação dos governantes até o início das monarquias constitucionais e, também, na concretização de direitos individuais (CASTLHO, 2018). Ela pode ser considerada como marco inicial para o que se reforçaria nos próximos séculos.
Posteriormente à magna carta, mas também de tamanha importância e decorrente daquela primeira, cita-se a Petition of Rights de 1678, o Habeas Corpus Act de 1679 e o Bill of Rights de 1689. Aquele primeiro também visou a limitação do poder, podendo ser citado a impossibilidade de se cobrar impostos se a autorização do parlamento, dentre outros direitos básicos como a propriedade, a impossibilidade de detenção arbitrária e a existência de sentenças ilegais. O Habeas Corpus Act pautou-se na proteção de direitos humanos de liberdade e na formalização de atos processuais. E por fim, o Bill of Rights buscou enfraquecer o absolutismo, decorrente da revolução gloriosa.
Dentro da Constituição Federal de 1988, pode-se citar diversos direitos relacionados à primeira dimensão, como o direito à vida, à integridade física, proibição de tortura, à liberdade, proibição da escravidão e da detenção ilegal, à igualdade perante a lei como aspecto formal da igualdade, à liberdade de expressão, ao respeito da vida privada, ao acesso à informação, à livre circulação, à nacionalidade, ao direito de eleger e ser eleito, à liberdade de reunião e associação (LEITE, 2014).
Direitos de Segunda dimensão.
.212 e 196
A Constituição de 1891 teve espírito liberal. Sua elaboração sofreu bastante influência da Constituição norte-americana e da Constituição argentina, mas vários dos direitos individuais foram suprimidos por causa de pressões dos grandes latifundiários.
O marco para o surgimento da noção de direitos humanos de segunda di-mensão foi a Revolução Industrial. O mundo ocidental implantava métodos e procedimentos baseados na me-cânica e na produção em série. Entretanto, as riquezas geradas pelo desenvolvi-mento do capitalismo a partir do século XVIII não se estenderam a todas as classes sociais. Pelo contrário, o sistema capitalista encetou em seus diversos ci-clos a produção de um número cada vez maior de excluídos da sociedade. Com isso, a recém-formada classe dos trabalhadores passou a exigir direitos sociais que consolidassem o respeito à dignidade. Costuma-se afirmar, portanto, que o reconhecimento dos direitos aqui men-cionados deu-se, principalmente, graças às reivindicações dos movimentos socia-listas iniciadas na primeira metade do século XIX.
Mas, em verdade, essa segunda dimensão ou geração é, em parte, conse-quência das limitações da primeira. Isto porque mesmo todos os direitos de liber-dade são insuficientes à proteção do ser humano em uma sociedade desigual. O liberalismo, em sua acepção clássica, simplesmente ignora as particularidades de cada indivíduo para afirmar que a todos deve ser assegurada a igualdade perante a lei – uma igualdade tão somente formal.
Essa segunda dimensão de direitos fundamentais visa, então, a assegurar a igualdade real entre os seres humanos. Falamos aqui da chamada igualdade ma-terial. Sendo essa a finalidade, isso implica, necessariamente, uma alteração es-sencial na postura do Estado perante os indivíduos. Passa-se a exigir que ele abandone a sua condição de inércia (antes exigida pelo pensamento iluminista) para assumir uma atuação direta no sentido de diminuir as desigualdades existen-tes e, também, de fomentar condições para que todos tenham as mesmas oportu-nidades e vivam com dignidade.
Podemos citar, como exemplos de direitos atinentes a esta dimensão, os direitos à saúde, à assistência social, à educação, à moradia, direito ao transporte, ao trabalho, entre outros. Nesse sentido, os direitos de segunda dimensão, justamente por possuírem uma conotação nitidamente positiva ou prestacional, são completamente distintos dos direitos de primeira dimensão – que constituem uma espécie de salvaguarda, um óbice à intromissão do Estado na esfera individual; em outras palavras, impli-cam uma omissão estatal.
Pode-se apontar, como natureza jurídica dos direitos sociais e econômicos, portanto, a de direito subjetivo de exigir uma prestação concreta por parte do Esta-do, o qual, via de consequência, deverá instituir os serviços públicos respectivos. Também fazem parte dessa geração, ou dimensão, as chamadas “liberdades sociais”, como o direito de greve e a liberdade de sindicalização, entre outros di-reitos dos trabalhadores (direito de férias, de descanso semanal remunerado etc.). Como se vê, ainda que a conotação positiva ou prestacional seja a nota característica dos direitos dessa dimensão, nem todos eles a possuem – o que evidencia, uma vez mais, tratar-se de categorização eminentemente didática.
Três marcos fundamentais para o estabelecimento dos direitos humanos de segunda geração foram a Revolução Mexicana de 1917, a Revolução Russa de 1917 e a Constituição da República de Weimar, em 1919.
A Constituição Mexicana de 1917 resultou da Revolução Mexicana, inicia-da em 20 de novembro de 1910. Foi, como já dissemos, uma Constituição moder-na para a época, pela abordagem que faz de temas sociais, religiosos e educacio-nais. Foi a primeira a contemplar a reforma agrária e um elenco de direitos do trabalhador. Entre suas inúmeras normas fundamentais, destacam-se a proibição da escravidão, a liberdade de trabalho, um sistema de defesa da classe trabalha-dora, bem como outros importantes direitos, como a liberdade de imprensa, a li-berdade de crença, além de garantias de direitos individuais de todos os tipos de pessoas, sem discriminação de classe social ou categoria econômica.
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Alguns consideram ser este documento o marco inicial da nova dimensão dos direitos fundamentais. Sem dúvidas, o documento é inovador. Entretanto, tendo em vista o panorama mundial da época (recém encerrada a Primeira Guerra Mundial e a Rússia em plena revolução), o documento não alcançou grande reper-cussão. Nem mesmo a América Latina parece ter tomado ciência da importância do documento, salvo muitas décadas depois.
Já quanto à Revolução Russa de 1917, conforme afirmamos, é considerada tão importante para o século XX, no tocante aos direitos humanos, como a Revo-lução Francesa foi para o século XVIII.
As ideias de Karl Marx e Friedrich Engels, no Manifesto Comunista, publi-cado em 1848, apresentavam sugestões econômicas e políticas para uma nova configuração da sociedade. Em breve resumo: eliminar as classes sociais e tratar a todos com igualdade.
Consideravam que o capitalismo não era o sistema ideal, pois se baseava na
concentração de renda nas mãos de proprietários, do mesmo modo que os siste-mas medievais. Por isso, pregavam a necessidade de implantação do que chama-ram de “ditadura do proletariado”.
Para chegar ao controle, o proletariado deveria gradualmente aumentar a participação na sociedade capitalista, por meio de sindicatos e de partidos operá-rios, até chegar ao ponto de assumir o poder por meio da revolução.
Marx e Engels defendiam o fim do capital e ofim do lucro – a produção coletiva seria distribuída para todos os cidadãos, pelo Estado Socialista. As bases do pensamento marxista foram detalhadas mais tarde no livro O capital. O czar Nicolau II assumiu o trono em 1894, quando o socialismo atraía os operários, decepcionados com a exploração a que estavam submetidos. Depois dediversos conflitos sangrentos, finalmente, a 25 de outubro de 1917, o povo foi às ruas e proclamou um conselho de governo chamado Comissariado, chefiado por Lênin. Este criou o Partido Comunista, assumiu o governo e suspendeu a partici-pação das tropas russas na Primeira Guerra Mundial.
No dia 17 de janeiro de 1918 foi promulgada a primeira Constituição sovié-tica, que acabava com a propriedade privada e determinava a intervenção do Es-tado em todas as esferas.
Como introdução à Constituição, foi promulgada a Declaração Russa de
Direitos do Povo Trabalhador e Explorado. Enunciava uma série de princípios (e não, propriamente, de direitos), como a não participação dos “exploradores” no poder político, a expropriação das propriedades burguesas, a abolição da proprie-dade privada das terras etc.
Assim como a Declaração Mexicana de 1917, foi um documento inovador, mas que também não logrou grande repercussão no âmbito internacional.
Tracemos agora breve histórico acerca da famosa República de Weimar. Em 1890, o rei Guilherme II da Prússia colocou em marcha um plano para equiparar a Alemanha às grandes potências europeias. Estabeleceu colônias em Togo e Ca-marões, que passaram a chamar-se África Oriental Alemã. Com isso, obteve recur-sos e a Alemanha consolidou o sistema bancário, desenvolveu a indústria, im-plantou importante malha ferroviária e tornou-se centro de comércio exportador. Os trabalhadores se organizaram em sindicatos e ganharam força, passando a exigir do rei Guilherme II que transformasse a Alemanha em potência mundial. O rei apostou no desenvolvimento e na produção de equipamentos militares e, com isso, atraiu a Áustria para a sua esfera de poder. Estava criada a República de Wei-mar, em honra à cidade da Saxônia, onde foi elaborada e assinada a Constituição.
Em que pese o significativo avanço que o texto representa, a Constituição de Weimar teve vida curta (até 1933), tendo em vista o advento da Segunda Guer-ra Mundial. De fato, após o fim da Primeira Grande Guerra, a Alemanha, responsabili-zada pelo conflito, foi forçada a assinar o afamado Tratado de Versalhes, em 28 de junho de 1919.
Em que pesem todos os esforços empreendidos para a reconstrução do país, esse tratado foi tão severo com a Alemanha que gerou profunda desestabilização política e econômica. Tal panorama acabou por criar as condições necessárias à
ascensão ao governo do partido nazista de Adolf Hitler e à consequente deflagra-ção da Segunda Guerra Mundial, em 1939.
É desnecessário lembrar os horrores causados pelo radicalismo dos nazistas, mas fique registrado que foi com o final da Segunda Guerra Mundial que ocorreu o fenômeno da multiplicação e da universalização dos direitos do homem, conso-lidados na Declaração Universal proclamada pela ONU em 1948.
(CASTILHO, 2018).
 
Malheiro, Emerson
Curso de direitos humanos / Emerson Malheiro. – 3. ed. rev., atual. e ampl. – São Paulo: Atlas, 2016.
São direitos de igualdade.
Trata-se dos direitos econômicos, sociais e culturais, que são relativos às relações de produção e trabalho, à previdência, à educação, à cultura, à alimentação, à saúde, à moradia etc.
A evidenciação de direitos sociais, culturais e econômicos, correspondendo aos direitos de igualdade, sob o prisma substancial, real e material, e não meramente formal, mostra-se marcante nos documentos pertencentes ao que se convencionou classificar como segunda dimensão dos direitos humanos.
Existe divergência doutrinária sobre o instante histórico exato de seu surgimento.
No entanto, a orientação mais correta se encontra no sentido de que a sua gênese se concebeu na Revolução Industrial, no século XIX, em face das lamentáveis condições laborais que ali se apresentavam e os movimentos sociais em defesa dos trabalhadores, bem como o apoio ao desenvolvimento e harmonização de legislação trabalhista para a melhoria nas relações de trabalho.
Apesar disso, é incontestável que o fim da cruenta Primeira Guerra Mundial (28 de julho de 1914 a 11 de novembro de 1918), que ceifou milhares de vidas em razão de preitesias desmesuradas, e a elaboração do Tratado de Versalhes (1919) em muito contribuíram para estabelecer melhorias nas condições sociais dos trabalhadores.
O Tratado de Versalhes, além de fazer curvar a Alemanha, levá-la praticamente à bancarrota e ser o embrião da Segunda Guerra Mundial (1o de setembro de 1939 a 2 de setembro de 1945), criou a Liga das Nações, que originou a atual Organização das Nações Unidas (ONU) e também a Organização Internacional do Trabalho (OIT).
A concepção de uma legislação trabalhista nas relações exteriores originou-se como consequência de especulações éticas e econômicas sobre o custo humano da Revolução Industrial.
A Constituição mexicana (1917) foi historicamente bastante importante por conter em seu bojo direitos de segunda dimensão.
Outrossim, é importante lembrar que os direitos humanos de segunda dimensão ganham ainda mais relevo com a Constituição alemã (1919), que foi o marco do movimento constitucionalista que consagrou direitos sociais e econômicos e reorganizou o Estado em função da sociedade e não mais do indivíduo.
Observam-se aqui direitos de aplicabilidade progressiva, que infligem o dever de fazer do Estado. Denotam uma natureza positiva.
A fonte ideológica da “Constituição Política dos Estados Uni-dos Mexicanos”, promulgada em 5 de fevereiro de 1917, foi a doutrina anarcossindicalista, difundida no último quartel do século XIX em toda a Europa, mas principalmente na Rússia, na Espanha e na Itália. O pensamento de Mikhail Bakunin muito influenciou Ricardo Flores Magón, líder do grupo Regeneración, que reunia jovens intelectuais contrários à ditadura de Porfirio Diaz. O grupo lançou clandestinamente, em 1906, um manifesto de ampla reper-cussão, no qual se apresentaram as propostas que viriam a ser as linhas-mestras do texto constitucional de 1917: proibição de reeleição do Presidente da República (Porfirio Diaz havia gover-nado mediante reeleições sucessivas, de 1876 a 1911), garantias para as liberdades individuais e políticas (sistematicamente negadas a todos os opositores do presidente-ditador), quebra do poderio da Igreja católica, expansão do sistema de educação pública, reforma agrária e proteção do trabalho assalariado. A transformação desse ideário em normas constitucionais, no entanto, produziu um efeito político exatamente contrário ao obje-tivo visado. Pela primeira vez, na movimentada história do caudilhis-mo mexicano, criou-se uma sólida estrutura estatal, independente da figura do chefe de Estado, ainda que a Constituição o tenha dotado de poderes incomensuravelmente maiores do que os que o texto 
constitucional norte-americano atribui ao Presidente da República. O ideal anarquista de destruição de todos os centros de poder en-gendrou contraditoriamente, a partir da fundação do Partido Revo-lucionário Institucional em 1929, uma estrutura monocrática nacio-nal em substituição à multiplicidade de caudilhos locais. Importância histórica A Carta Política mexicana de 1917 foi a primeira a atribuir aos direitos trabalhistas a qualidade de direitos fundamentais, jun-tamente com as liberdades individuais e os direitos políticos (arts. 5o e 123). A importância desse precedente histórico deve ser sa-lientada, pois na Europa a consciência de que os direitos humanos têm também uma dimensão social só veio a se afirmar após a grande guerra de 1914-1918, que encerrou de fato o “longo sé-culo XIX”; e nos Estados Unidos, a extensão dos direitos huma-nos ao campo socioeconômico ainda é largamente contestada. A Constituição de Weimar, em 1919, trilhou a mesma via da Carta mexicana, e todas as convençõesaprovadas pela então recém--criada Organização Internacional do Trabalho, na Conferência de Washington do mesmo ano de 1919, regularam matérias que já constavam da Constituição mexicana: a limitação da jornada de trabalho, o desemprego, a proteção da maternidade, a idade míni-ma de admissão de empregados nas fábricas e o trabalho noturno dos menores na indústria. Entre a Constituição mexicana e a Weimarer Verfassung, eclode a Revolução Russa, um acontecimento decisivo na evolução da humanidade no século XX. O III Congresso Pan-Russo dos So-vietes, de Deputados Operários, Soldados e Camponeses, reunido em Moscou, adotou, em 4 (17) de janeiro de 1918, portanto antes do término da Primeira Guerra Mundial, a Declaração dos Di-reitos do Povo Trabalhador e Explorado. Nesse documento são afirmadas e levadas às suas últimas consequências, agora com apoio na doutrina marxista, várias medidas constantes da Constituição mexicana, tanto no campo socioeconômico quanto no político.
Direitos de Terceira dimensão.
Direitos de quarta e quinta dimensão.
REFERÊNCIAS
Oliveira, Fabiano Melo Gonçalves de Direitos humanos / Fabiano Melo Gonçalves de Oliveira. – Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: MÉTODO: 2016.
Mazzuoli, Valerio de Oliveira, 1977- Curso de direitos humanos / Valerio de Oliveira Mazzuoli. 4. ed. rev., atual. e ampl. – Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: MÉTODO, 2017.
Comparato, Fábio Konder. A afirmação histórica dos direitos humanos / Fábio Konder Comparato. – 12. Ed. – São Paulo: Saraiva Educação, 2019.
DIÓGENES JÚNIOR, José Eliaci. Gerações ou dimensões dos direitos fundamentais. Âmbito Jurídico, Rio Grande, XV, n. 100, p. 571-572, 2012.
 
Leite, Carlos Henrique Bezerra Manual de direitos humanos / Carlos Henrique Bezerra Leite. – 3. ed. – São Paulo: Atlas, 2014.
Castilho, Ricardo Direitos humanos / Ricardo Castilho. – 5. ed. – São Paulo : Saraiva Educação, 2018.