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TransTorno do EspEcTro auTisTa - TEa curso sobre Ler Ebook eTAPA 1 QueM sÃo os AuTIsTAs? AsPecTos TeÓrIcos AuTor: MArcelo MArTIns orgAnIzAçÃo: AnA clArIsse AlencAr bArbosA APoIo: nuAP - núcleo de APoIo PsIcoPedAgÓgIco, nIA - núcleo de InclusÃo e AcessIbIlIdAde e gruPo de APoIo educAcIonAl AuTIsMos Continue Lendo Continue Lendo 2 coMprEEnsÕEs do concEiTo auTisMo rEFErÊncias MaTEriais coMpLEMEnTarEs 1 inTroduÇÃo 3 3 caracTErÍsTicas HisTÓricas da noMEncLaTura E dEFiniÇÕEs dE auTisMo 1 InTroduçÃo Olá, estudante! Estamos iniciando o curso livre “Transtorno do Espectro Autista – TEA”. Neste primeiro momento queremos que você possa familiarizar-se com uma compreensão melhor a respeito do conceito que envolve o TEA, e também com as características históricas da nomenclatura e definições do termo autismo. Ainda que esta etapa inicial seja mais teórica, ela é extremamente importante e nos facilitará na compreensão de muitos aspectos do TEA. Assim, convidamos você a trilhar este caminho na compreensão do Autismo. Vamos lá! Continue Lendo 4 2 coMprEEnsÕEs do concEiTo auTisMo rEFErÊncias 1 inTroduÇÃo 3 caracTErÍsTicas HisTÓricas da noMEncLaTura E dEFiniÇÕEs dE auTisMo MaTEriais coMpLEMEnTarEs 2 coMPreensÕes do conceITo AuTIsMo Autismo é um dos problemas atuais que mais tem levantado questiona- mentos e intrigado famílias, pesquisadores, médicos, educadores e o mundo de uma forma geral. Mas, afinal, o que é autismo? Para Ana Elizabeth Cavalcanti, nada mais difícil de conceituar que o autis- mo. Enquanto a neurologia o descreve como uma síndrome, enfatizando o déficit da capacidade afetiva, da comunicação e da linguagem, insistindo em sua deter- minação puramente orgânica, a psiquiatria divide-se entre as tendências a con- siderá-lo um distúrbio psicoafetivo ou uma doença geneticamente determinada (CAVALCANTI, 2007). Conforme Eliana Rodrigues Boralli Lopes, autismo é considerado uma síndrome comportamental com etiologias múltiplas e distúrbio de desenvolvimento, algumas vezes combinado com dificuldades de linguagem e alterações de comportamento. O autismo é caracterizado por um déficit na interação social que se demonstra através da dificuldade de relacionar-se com outras pessoas (LOPES, 1997). Continue Lendo 5 2 coMprEEnsÕEs do concEiTo auTisMo rEFErÊncias 1 inTroduÇÃo 3 caracTErÍsTicas HisTÓricas da noMEncLaTura E dEFiniÇÕEs dE auTisMo MaTEriais coMpLEMEnTarEs O Transtorno do Espectro Autista trata-se de uma síndrome intrigante, com- plexa e que, apesar de enormes avanços alcançados por meio de estudos, pesqui- sas, descobertas etc. ainda carece de algumas respostas. Por isso, pode ser com- parado a um grande quebra-cabeça. FIGURA 1 - QUEBRA-CABEÇA FONTE: <http://bit.ly/2YLDBKp>. Acesso em: 18 jan. 2019 Continue Lendo 6 2 coMprEEnsÕEs do concEiTo auTisMo rEFErÊncias 1 inTroduÇÃo 3 caracTErÍsTicas HisTÓricas da noMEncLaTura E dEFiniÇÕEs dE auTisMo MaTEriais coMpLEMEnTarEs DI CA Quebra-cabeça é um dos símbolos do Autis- mo por causa da sua complexidade. A cor símbolo do Autismo é azul, por causa do fato de a incidência ser maior em meninos do que meninas (uma proporção de uma menina para quatro meninos). Pesquisas apontam que o TEA afeta mais meninos que meninas. Ou seja, uma proporção de uma menina para quatro meninos. Conforme Carlo Schmidt, há maior severidade dos sintomas de autismo e deficiência mental em mulheres, ocorrendo em 36% destas, em comparação a 30% no caso dos homens (BLACHER; KASARI, 2016 apud SCHMIDT, 2017). Continue Lendo 7 2 coMprEEnsÕEs do concEiTo auTisMo rEFErÊncias 1 inTroduÇÃo 3 caracTErÍsTicas HisTÓricas da noMEncLaTura E dEFiniÇÕEs dE auTisMo MaTEriais coMpLEMEnTarEs FIGURA 2 – PROPORÇÃO DE MENINAS E MENINOS FONTE: Grupo Autismos, 2018. Acesso em 22.01.2018. Quando vamos verificar a construção da palavra autismo, descobrimos que esta palavra deriva da junção de dois radicais gregos: “autos” e “ismo” (PEREIRA, 1969). Se traduzido literalmente, a formação da palavra, com base na língua grega, em si, quer dizer “orientação para si mesmo, ou situação voltada para si mesmo”. O Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea define autismo como “fenômeno patológico mental, caraterizado pela tendência para o alheamento da realidade exterior e uma constante introspecção” (DICIONÁRIO, 2001, p. 37). Continue Lendo 8 2 coMprEEnsÕEs do concEiTo auTisMo rEFErÊncias 1 inTroduÇÃo 3 caracTErÍsTicas HisTÓricas da noMEncLaTura E dEFiniÇÕEs dE auTisMo MaTEriais coMpLEMEnTarEs Outros dicionários da língua portuguesa, como o de Antônio Houaiss, seguem na mesma direção. Sendo assim, se aplicarmos estritamente o sentido da palavra na língua portuguesa, pode-se dizer que a pessoa com autismo é aquela pessoa que tem grande dificuldade de distinguir sua própria identidade e, de forma similar, a daqueles que estão ao seu redor. Abrindo mais o leque e consultando alguns autores e pesquisadores que estudam e escrevem sobre autismo, podemos observar alguns conceitos que cooperam para o nosso início de compreensão. Conforme Steiner (1998, p. 14), autismo é: Uma deficiência incurável que afeta a maneira como a pessoa se comunica e relaciona com quem está à sua volta. As crianças com autismo têm dificuldades em se relacionar com os outros de forma significativa. A sua capacidade de desenvolver amizades geralmente é limitada, bem como sua capacidade de compreender as expressões emocionais de outras pessoas. Algumas crianças, mas não todas, também apresentam dificuldades de aprendizagem. Todas as crianças com autismo têm dificuldades com a interação social, comunicação social e imaginação. Estas dificuldades são conhecidas como a ‘tríade de dificuldades´. Continue Lendo 9 2 coMprEEnsÕEs do concEiTo auTisMo rEFErÊncias 1 inTroduÇÃo 3 caracTErÍsTicas HisTÓricas da noMEncLaTura E dEFiniÇÕEs dE auTisMo MaTEriais coMpLEMEnTarEs A autora Adriana Yudit Chadarevian afirma que autismo é um transtorno de desenvolvimento em que se produzem alterações de diferentes gravidades em áreas como a linguagem e a comunicação, e no campo da convivência social e na capacidade de imaginação (CHADAREVIAN, 2009, p. 17). Christian Gauderer (1997, p. 3) destaca alguns aspectos que vão além do conceito e que apresentam de forma mais clara alguns dos “sintomas” do autismo. Segundo o autor, alguns destes “sintomas” são: 1. Distúrbios no ritmo de aparecimentos de habilidades físicas, sociais e linguísticas. 2. Reações anormais às sensações. As funções ou áreas mais afetadas são: visão, audição, tato, dor, equilíbrio, olfato, gustação e maneira de manter o corpo. 3. Fala e linguagem ausentes ou atrasadas. Certas áreas específicas do pensar, presentes ou não. Ritmo imaturo da fala, restrita compreensão de ideias. Uso de palavras sem associação com o significado. 4. Relacionamento anormal com os objetos, eventos e pessoas. Respostas não apropriadas a adultos ou crianças. Objetos e brinquedos não usados de maneira devida. Na perspectiva de Gilberg, pode-se considerar que o autismo é uma sín- drome comportamental com múltiplas etiologias e com um distúrbio de desen- volvimento, caracterizado por um déficit na interação social, com perturbações de linguagem e alterações de comportamento (GILBERG, 1990). Continue Lendo 10 2 coMprEEnsÕEs do concEiTo auTisMo rEFErÊncias 1 inTroduÇÃo 3 caracTErÍsTicas HisTÓricas da noMEncLaTura E dEFiniÇÕEs dE auTisMo MaTEriais coMpLEMEnTarEsIM PO RT AN TE Autismo é um transtorno neurológico caracter- izado por comprometimento da INTERAÇÃO SOCIAL, comunicação VERBAL e NÃO VERBAL e pelo compor- tamento RESTRITO e REPETITIVO (GRUPO AUTISMOS, 2018, p. 2). A definição aceita pela National Society for Autistic Children e pela OMS é a seguinte: Autismo é uma síndrome presente desde o nascimento e se manifesta invariavelmente antes dos 30 meses de idade. Caracteriza-se por respostas anormais a estímulos auditivos ou visuais, e por problemas graves quanto à compreensão da linguagem falada. A fala custa a aparecer, e, quando isto acontece, nota-se ecolalia, uso inadequado dos pronomes, estruturas gramaticais imaturas, inabilidade de usar termos abstratos. Há também, em geral, uma incapacidade na utilização social, tanto da linguagem verbal como da corpórea. Ocorrem problemas muito graves de relacionamento social antes dos cinco anos de idade, como incapacidade de desenvolver contato olho a olho, ligação social e jogos em grupo. O comportamento é usualmente ritualístico e pode incluir rotinas de vida anormais, resistência a mudanças, ligação a objetos estranhos, e um padrão de brincar estereotipado. A capacidade para pensamento abstrato-simbólico ou para jogos imaginativos fica diminuída. A inteligência varia de muito subnormal, anormal ou acima. A performance é com frequência em tarefas que requerem memória simples ou habilidade visuoespacial, comparando-se com aquelas que requerem capacidade simbólica ou linguística (CAMPELO, 2016, p. 3). Continue Lendo 11 2 coMprEEnsÕEs do concEiTo auTisMo rEFErÊncias 1 inTroduÇÃo 3 caracTErÍsTicas HisTÓricas da noMEncLaTura E dEFiniÇÕEs dE auTisMo MaTEriais coMpLEMEnTarEs No ano de 1994 (data da publicação do DSM-IV, Manual Estatístico e Diagnóstico de Transtornos Mentais), Salomão Schwartzman destacou algumas características importantes na compreensão das crianças com autismo: Bastante comum encontrarmos, entre crianças autistas, movimentos repetitivos tais como flapping das mãos (movimentos de bater as asas); balanceio do corpo; girar em torno do seu eixo; ficar olhando para as mãos enquanto se movimentando; movimentos estereotipados dos dedos; hábito de morder as mãos ou de ficar puxando os cabelos. Estas crianças tentam impor rotinas a todas as atividades de vida diária e reagem, de forma muito veemente, a alterações (por vezes sutis) no ambiente. Uma simples alteração num percurso habitual, uma modificação na forma como os móveis são arranjados ou a modificação da disposição de alguns brinquedos podem desencadear uma reação intensa, aparentemente imotivada. Sua forma de brincar demonstra falta de criatividade, e utilizam-se dos brinquedos de forma peculiar e, às vezes, bizarra. É bastante frequente que explorem os objetos e brinquedos cheirando-os, levando-os à boca etc. Podem entreter- se durante horas seguidas passando a mão sobre uma superfície qualquer ou repetindo a mesma tarefa, como montar um mesmo quebra-cabeças, ouvir uma mesma música ou assistir a um mesmo filme (SHWARTZMAN, 1994, p. 27). A figura na sequência exemplifica essas características comportamentais. Continue Lendo 12 2 coMprEEnsÕEs do concEiTo auTisMo rEFErÊncias 1 inTroduÇÃo 3 caracTErÍsTicas HisTÓricas da noMEncLaTura E dEFiniÇÕEs dE auTisMo MaTEriais coMpLEMEnTarEs FIGURA 3 – CARACTERÍSTICAS COMPORTAMENTAIS FONTE: <http://bit.ly/2TWCRhM>. Acesso em: 16 jan. 2018. Continue Lendo 13 2 coMprEEnsÕEs do concEiTo auTisMo rEFErÊncias 1 inTroduÇÃo 3 caracTErÍsTicas HisTÓricas da noMEncLaTura E dEFiniÇÕEs dE auTisMo MaTEriais coMpLEMEnTarEs O DSM-5 (versão mais atual do Manual Estatístico e Diagnóstico de Transtornos Mentais) descreve autismo da seguinte forma: O transtorno do espectro autista caracteriza-se por déficits persistentes na comunicação social e na interação social em múltiplos contextos, incluindo déficits na reciprocidade social, em comportamentos não verbais de comunicação usados para interação social e em habilidades para desenvolver, manter e compreender relacionamentos. Além dos déficits na comunicação social, o diagnóstico do transtorno do espectro autista requer a presença de padrões restritos e repetitivos de comportamento, interesses ou atividades. Considerando que os sintomas mudam com o desenvolvimento, podendo ser mascarados por mecanismos compensatórios, os critérios diagnósticos podem ser preenchidos com base em informações retrospectivas, embora a apresentação atual deva causar prejuízo significativo (DSM-5, 2013, p. 31). Conforme estudos e pesquisas, o TEA pode se manifestar já nos primeiros meses de vida ou se apresentar após o período inicial de desenvolvimento apa- rentemente normal seguido por regressão do desenvolvimento (autismo regres- sivo), o que ocorre em cerca de 30% dos casos diagnosticados (CAMINHA, 2016). O tal hoje chamado de “Espectro” dos autismos ampliou-se tanto que a quantidade de sujeitos supostamente afetados multiplicou-se por dez em apenas 20 anos, até atingir a frequência de uma criança em cada 100. Se incluirmos nesse espectro aqueles ditos “não especificados”, esse número cresce ainda mais. Em dez anos, o número de crianças que entraram em categorias psicopatológicas aumentou 35 vezes! Mas é no campo do autismo que o ritmo é mais intenso. Continue Lendo 14 2 coMprEEnsÕEs do concEiTo auTisMo rEFErÊncias 1 inTroduÇÃo 3 caracTErÍsTicas HisTÓricas da noMEncLaTura E dEFiniÇÕEs dE auTisMo MaTEriais coMpLEMEnTarEs A OMS através do CID divulga que hoje a incidência é de 1 autista para cada 100 neurotípicos. Alguns outros órgãos chegam a colocar a porcentagem para 1 a cada 80 crianças, e outros ainda uma porcentagem menor. A última pesquisa foi realizada em 11 estados daquele país e organizada pelo Autism and Developmental Disabilities Monitoring (ADDM), utilizando registros da avaliação de crianças até oito anos de idade com diagnóstico de autismo, Asperger ou TGD-SOE (U.S. Department of Health and Human Services, 2014). O resultado confirmou que a cada mil nascidos, 14,7 crianças apresentam autismo, ou seja, uma pessoa com autismo a cada 68 (CHRISTENSEN et al., 2016 apud SCHMIDT, 2017). A dificuldade de precisão se estabelece por causa de diversos fatores, por exemplo: quem se enquadra exatamente dentro deste espectro. É importante lembrar que os casos de autismo têm sido relatados em todos os grupos étnicos, raciais e socioeconômicos. Continue Lendo 15 2 coMprEEnsÕEs do concEiTo auTisMo rEFErÊncias 1 inTroduÇÃo 3 caracTErÍsTicas HisTÓricas da noMEncLaTura E dEFiniÇÕEs dE auTisMo MaTEriais coMpLEMEnTarEs DI CA FIGURA 4 – Autism Society Nome original é Sociedade Nacional para Crianças Autis- tas; o nome foi mudado para enfatizar que as crianças com autis- mo crescem. FONTE: <http://bit.ly/2TUYGyn>. Acesso em: 28 jan. 2019. FIGURA 5 – OMS FONTE <http://bit.ly/2G09Yh4>. Acesso em: 28 jan. 2019. Organização Mundial da Saúde é uma agência especializada em saúde, fundada em 7 de abril de 1948 e subordinada à Organi- zação das Nações Unidas. FONTE: <http://bit.ly/2FZswyb>. Acesso em: 28 jan. 2019. Continue Lendo 16 2 coMprEEnsÕEs do concEiTo auTisMo rEFErÊncias MaTEriais coMpLEMEnTarEs 1 inTroduÇÃo 3 caracTErÍsTicas HisTÓricas da noMEncLaTura E dEFiniÇÕEs dE auTisMo 3 cArAcTerÍsTIcAs HIsTÓrIcAs dA noMenclATurA e deFInIçÕes de AuTIsMo Visitando a história, descobre-se que a primeira vez que a palavra autismo aparece na literatura foi em 1906. Ela foi usada por Plouller ao introduzir o adjetivo autista na literatura psiquiátrica quando estudava pacientes que tinham diagnósticode demência precoce. Depois, em 1911, o psiquiatra Bleuler definiu o termo autismo como perda de contato com a realidade, causada pela impossibilidade ou grande dificuldade na comunicação interpessoal (CAMARGOS JUNIOR et al., 2005). No ano de 1943, um austríaco naturalizado americano chamado Léo Kanner, que naquele momento era psiquiatra infantil da John Hopkins University (E.U.A.), fez um trabalho que posteriormente se tornaria muito conhecido e relevante, denominado de: “Autistic Disturbance of Affective Contact” (“Distúrbio autístico de contato afetivo”). Nesse trabalho Kanner usou o termo autismo, empregado por Plouller, para descrever a qualidade de relacionamento daquelas crianças. A contribuição principal do trabalho de Kanner foi em diferenciar o autismo de outras psicoses graves na infância. Continue Lendo 17 2 coMprEEnsÕEs do concEiTo auTisMo rEFErÊncias MaTEriais coMpLEMEnTarEs 1 inTroduÇÃo 3 caracTErÍsTicas HisTÓricas da noMEncLaTura E dEFiniÇÕEs dE auTisMo FIGURA 6 – LÉO KANNER FONTE: <http://bit.ly/2CWO7W1>. Acesso em: 10 jan. 2019. Tamanha foi a importância do trabalho de Kanner e todos os desdobramentos que vieram após ele, que o autor Gauderer salienta que, Em um período de dois anos, Kanner criou o substantivo e passou a falar em autismo primário (aquele que ocorre desde o nascimento) e secundário (aquele que se manifesta após alguns anos). Durante algum tempo chegou-se inclusive a chamar essa entidade de síndrome de Kanner, em sua homenagem, ressaltando-se sua seriedade, honestidade e, principalmente, flexibilidade. Ele considerou, a princípio, a causa dessa entidade como física, depois psicológica e, posteriormente, novamente física, sempre deixando bem claro que isto era resultado de teorias e que, como tal, pode mudar (GAUDERER, 1997, p. 06). Continue Lendo 18 2 coMprEEnsÕEs do concEiTo auTisMo rEFErÊncias MaTEriais coMpLEMEnTarEs 1 inTroduÇÃo 3 caracTErÍsTicas HisTÓricas da noMEncLaTura E dEFiniÇÕEs dE auTisMo Marion Leboyer ressalta também que A primeira definição de autismo foi dada por Leo Kanner em 1943 no artigo intitulado “Distúrbios autísticos do contato afetivo” (Autistic disturbances of affective contact). São chamadas autistas as crianças que têm inaptidão para estabelecer relações normais com o outro; um atraso na aquisição da linguagem e, quando ela se desenvolve, uma incapacidade de lhe dar um valor de comunicação. Essas crianças apresentam igualmente estereotipias gestuais, uma necessidade imperiosa de manter imutável seu ambiente material, ainda que deem provas de uma memória frequentemente notável. Contrastando com esse quadro, elas têm, a julgar por seu aspecto exterior, um rosto inteligente, e uma aparência física normal (LEBOYER, 1985, p. 9). Kanner descreveu o Autismo como “um distúrbio autista inato do contato afetivo”, tendo como aspecto relevante uma anormalidade social. Deu ênfase que este distúrbio se apresentava nos primeiros estágios do desenvolvimento (ROSENBERG, 2003). A partir deste momento na história houve diversas revisões do termo, baseadas nos resultados de numerosas investigações. O próprio Kanner revisou seu conceito várias vezes, mas sempre enquadrou o Autismo Infantil (AI) dentro do grupo de psicoses infantis. Mas, segundo alguns autores, além de uma síndrome, Kanner acabou criando um campo de controvérsias (CAVALCANTI, 2007). Continue Lendo 19 2 coMprEEnsÕEs do concEiTo auTisMo rEFErÊncias MaTEriais coMpLEMEnTarEs 1 inTroduÇÃo 3 caracTErÍsTicas HisTÓricas da noMEncLaTura E dEFiniÇÕEs dE auTisMo Foi Kanner também quem desenvolveu o pensamento de que o problema advinha de um relacionamento entre mãe e filho. Este pensamento ficou conheci- do como “mãe-geladeira”, ou uma “relação gélida”. Segundo Kanner, essas “carac- terísticas” dos pais vão permanecer por muito tempo como um traço a ser levado em conta para o diagnóstico do “Autismo infantil precoce”. De acordo com Kanner, por mais de 30 anos estabeleceram-se ligações entre essa patologia e “pais in- telectuais”, tanto em neuropsiquiatria como em psicanálise (CAVALCANTI, 2007). Entretanto, esta ideia tem sido descartada pela grande maioria dos estudiosos e pesquisadores da área. Tratando desta questão, o neuropediatra Fernando Gustavo Stelzer afirma: Cabe finalizar esta seção destacando que não se defende mais ideias de que o autismo tenha qualquer origem psicogênica, como se acreditava no passado. Desta forma, as teorias psicogênicas, das “mães-geladeira” ou outras, que tinham por base a rejeição dos pais, especialmente da mãe, em relação à criança autista, não merecem qualquer menção como causa do autismo, por serem equivocadas e terem sido completamente abandonadas. Assim como estas hipóteses foram derrubadas, foi também o tratamento psicoterápico do autismo. Infelizmente, deve-se mencionar estas ideias neste texto, com a esperança de que não se repita mais este triste capítulo da história do autismo (STELZER, 2010, p. 25). Continue Lendo 20 2 coMprEEnsÕEs do concEiTo auTisMo rEFErÊncias MaTEriais coMpLEMEnTarEs 1 inTroduÇÃo 3 caracTErÍsTicas HisTÓricas da noMEncLaTura E dEFiniÇÕEs dE auTisMo Colabora com este pensamento o psicanalista Éric Laurent, ao afirmar que “fazemos parte de uma geração de psicanalistas que já se livrou há um bom tempo da absurda hipótese de que o autismo seria culpa dos pais, especialmente das mães” (LAURENT, 2014). Schwartzman lembra que, graças a esta hipótese psicogênica, os pais de crianças autistas passaram a carregar a culpa pelo quadro da criança, e toda uma série de tratamentos foi e continua sendo utilizada partindo- se desta hipótese etiológica que nunca chegou a ser claramente demonstrada (SCHWARTZMAN, 1994, p. 25). Segundo ele, nas últimas décadas esta visão tem sido rechaçada por grande parte dos autores que estudam autismo. Paralelamente aos estudos e pesquisas de Kanner, havia um outro estudioso austríaco que era médico psiquiatra e professor, chamado Hans Asperger (1906-1980), que também se debruçava na busca por um entendimento melhor das crianças que apresentavam estes problemas. Ele divergia de Kanner em alguns aspectos, mas trouxe grandes contribuições também na questão do TEA. Conforme Schmidt (2017, p. 222), assume- se que as diferenças entre as descrições realizadas por Hans Asperger diferem daquelas explicitadas no artigo de Kanner apenas por intensidade e frequência dos mesmos sintomas, sendo pertencentes predominantemente às mesmas áreas: sociocomunicativa e comportamental. Continue Lendo 21 2 coMprEEnsÕEs do concEiTo auTisMo rEFErÊncias MaTEriais coMpLEMEnTarEs 1 inTroduÇÃo 3 caracTErÍsTicas HisTÓricas da noMEncLaTura E dEFiniÇÕEs dE auTisMo FIGURA 7– HANS ASPERGER FONTE: <http://bit.ly/2UhIBIe>. Acesso em: 28 jan. 2018. Em 1967, baseado na escola inglesa, O’Gorman organizou determinados critérios para um possível diagnóstico de autismo caracterizado por: Continue Lendo 22 2 coMprEEnsÕEs do concEiTo auTisMo rEFErÊncias MaTEriais coMpLEMEnTarEs 1 inTroduÇÃo 3 caracTErÍsTicas HisTÓricas da noMEncLaTura E dEFiniÇÕEs dE auTisMo Dificuldades em relacionar-se com as pessoas; complicado retardo mental; dificuldades no desenvolvimento da linguagem ou na manutenção da fala já aprendida; respostas diferenciadas a sons; maneirismos (exagero) ou distúrbios do movimento; grande resistência psicológica a mudanças (BIHR, 2003, p. 07). No ano de 1977, a “Board of Directors of the National Society Autistic Children”, também denominada de ASA, dos USA, deu a seguinte declaração resumida sobre autismo:O autismo é uma inadequacidade no desenvolvimento que se manifesta de maneira grave, por toda a vida. É incapacitante, e aparece tipicamente nos três primeiros anos de vida. Acomete cerca de 20 entre cada dez mil nascidos e é quatro vezes mais comum no sexo masculino do que no feminino. É encontrada em todo o mundo e em famílias de qualquer configuração racial, étnica e social. Não se conseguiu provar até agora qualquer causa psicológica no meio ambiente dessas crianças que possa causar autismo (GAUDERER, 1997, p. 22). O interesse e pesquisa em torno do tema autismo despertaram diversas eixos e áreas de estudos para conhecer melhor a temática. De acordo com Rosenberg, o autismo no início da década de cinquenta tornou-se objeto de investigação de diversas disciplinas (psicanálise, psiquiatria, neurociências, educação, psicologia) e até 1978 já haviam sido publicados 75 livros e 1.281 artigos sobre o assunto (ROSENBERG, 2007). Continue Lendo 23 2 coMprEEnsÕEs do concEiTo auTisMo rEFErÊncias MaTEriais coMpLEMEnTarEs 1 inTroduÇÃo 3 caracTErÍsTicas HisTÓricas da noMEncLaTura E dEFiniÇÕEs dE auTisMo Em 1979 houve um fato muito importante. Conforme o autor Ian Hacking, “o autismo estava associado à esquizofrenia infantil. Esses dois conceitos se separaram em 1979” (LAURENT, 2014). No ano de 1980, autismo foi considerado uma entidade clínica diferente e inserido na terceira edição do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM – III), quando foi revisado em 1987. Posteriormente, o DSM-IV-TR, publicado em 1994, enquadrou autismo na categoria de “Transtornos Globais do Desenvolvimento”, que se caracterizam por um comprometimento grave e global em diversas áreas do desenvolvimento: habilidades de interação social recíproca; habilidades de comunicação ou presença de estereotipias de comportamento, interesses e atividades (DSM-IV-TR, 2002). Conforme o DSM-IV-TR de 1994, o Transtorno Autista era assim caracterizado: As características essenciais do Transtorno Autista consistem na presença de um desenvolvimento comprometido ou acentuadamente anormal da interação social e da comunicação e um repertório muito restrito de atividades e interesses. As manifestações do transtorno variam imensamente, dependendo do nível do desenvolvimento e da idade cronológica do indivíduo. O Transtorno Autista é chamado, ocasionalmente, de autismo infantil precoce, autismo da infância ou autismo de Kanner (DSM-IV-TR, 2002, p. 99). Continue Lendo 24 2 coMprEEnsÕEs do concEiTo auTisMo rEFErÊncias MaTEriais coMpLEMEnTarEs 1 inTroduÇÃo 3 caracTErÍsTicas HisTÓricas da noMEncLaTura E dEFiniÇÕEs dE auTisMo Conforme já destacado, autismo se enquadrava dentro dos chamados TGD – Transtornos Globais do Desenvolvimento. O diagnóstico dos TGD era baseado em uma tríade de características na interação social, comunicação e comportamentos. Avançando na história, em 2013 foi publicado o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais - DMS-5 -, o mais atual. Nele, autismo é agora enquadrado dentro do chamado “Transtorno do Espectro Autista (ou do Autismo)” - TEA -, que por sua vez faz parte dos chamados “Transtornos do Neurodesenvolvimento”. Segundo o mesmo manual, o Transtorno do Espectro Autista somente é diagnosticado quando os déficits característicos de comunicação social são acompanhados por comportamentos excessivamente repetitivos, interesses restritos e insistência nas mesmas coisas (DSM-5, 2013, p. 31). Dessa forma, houve, nesta última edição do DSM-5, uma alteração na forma de compreensão destas características, conforme ressalta Caminha: Continue Lendo 25 2 coMprEEnsÕEs do concEiTo auTisMo rEFErÊncias MaTEriais coMpLEMEnTarEs 1 inTroduÇÃo 3 caracTErÍsTicas HisTÓricas da noMEncLaTura E dEFiniÇÕEs dE auTisMo Enquanto do DSM-IV-R (1994), os critérios diagnósticos incluíam prejuízos na interação social, comportamento e comunicação, na proposta atual são enfatizadas duas destas características, ou seja, as desordens da interação e do comportamento. No que se refere ao comprometimento da interação, enfatizam-se os prejuízos persistentes na comunicação e na interação social em vários contextos, e no que tange ao comportamento, citam-se padrões repetitivos e restritos dos comportamentos, interesses ou atividades. Como mencionado acima, há referências à hipo e hiperatividade a estímulos sensoriais ou a intenso interesse nos aspectos sensoriais do ambiente (Grifo nosso) (CAMINHA, 2016, p. 47). As dificuldades sociais recebem destaque nesse novo formato, em que todos os três critérios para comunicação social agora devem ser preenchidos, e não apenas a metade dos itens da comunicação e um quarto dos itens da interação, conforme propunha o DSM-IV (SCHMIDT, 2017). NO TA A versão mais atual do DSM-5 apresenta as características centrais do autismo como perten- centes a duas dimensões: a comunicação social e interação social e os comportamentos. Note que a comunicação e a interação social foram agrupadas. Continue Lendo 26 2 coMprEEnsÕEs do concEiTo auTisMo rEFErÊncias MaTEriais coMpLEMEnTarEs 1 inTroduÇÃo 3 caracTErÍsTicas HisTÓricas da noMEncLaTura E dEFiniÇÕEs dE auTisMo No DSM-5, o transtorno do espectro autista engloba transtornos antes chamados de Autismo infantil precoce, Autismo infantil, Autismo de Kanner, Autismo de alto funcionamento, Autismo atípico, transtorno global do desenvolvimento sem outra especificação, transtorno de Asperger (DSM-5, 2014, p. 50-53). Todos eles agora fazem parte do TEA. FIGURA 8 - ESPECTRO AUTISTA FONTE: disponível em: <http://bit.ly/2TVNIZi>. Acesso em 20.11. 2018. Continue Lendo 27 2 coMprEEnsÕEs do concEiTo auTisMo rEFErÊncias MaTEriais coMpLEMEnTarEs 1 inTroduÇÃo 3 caracTErÍsTicas HisTÓricas da noMEncLaTura E dEFiniÇÕEs dE auTisMo Os primeiros sinais do autismo, que anteriormente tinham seu aparecimento circunscrito até os três anos de idade, agora podem estar presentes ao longo do período da infância (SCHMIDT, 2017). Dentre as características relatadas no DSM-5, destaca-se uma delas que, apesar de ser descrita historicamente em diversas autobiografias e filmes sobre o autismo, apenas na última versão do manual é que passou a ser considerada como critério diagnóstico. Trata-se das alterações sensoriais que se manifestam como hiper ou hiporreatividade a estímulos do ambiente e que podem ocorrer em quaisquer modalidades dos sentidos, seja tátil, visual, olfativa ou auditiva (BARANEK et al., 2014 apud SCHMIDT, 2017). A figura na sequência faz uma comparação da antiga classificação do DSM-IV e o atual, o DSM-5, e compara também o CID-10, em vigência, com a projeção do CID-11 para 2022. Continue Lendo 28 2 coMprEEnsÕEs do concEiTo auTisMo rEFErÊncias MaTEriais coMpLEMEnTarEs 1 inTroduÇÃo 3 caracTErÍsTicas HisTÓricas da noMEncLaTura E dEFiniÇÕEs dE auTisMo FIGURA 9 – CLASSIFICAÇÃO DO AUTISMO FONTE: disponível em:<http://bit.ly/2Udyowp>. Acesso em 22. 01. 2019. Na próxima etapa do nosso curso você irá aprofundar seu conhecimento especificamente sobre o DSM-5. Continue Lendo 29 2 coMprEEnsÕEs do concEiTo auTisMo rEFErÊncias MaTEriais coMpLEMEnTarEs 1 inTroduÇÃo 3 caracTErÍsTicas HisTÓricas da noMEncLaTura E dEFiniÇÕEs dE auTisMo Percebe-se então que nos últimos 80 anos (especialmente nos últimos 50 anos) houve um grande avanço em vários aspectos do que hoje é denominado TEA. Desde uma compreensão melhor do conceito “autismo”, sua nomenclatura e definições, passando por um entendimentomelhor das possíveis causas, assim como do diagnóstico e tratamento, que serão mais explorados nas próximas etapas do curso. Continue Lendo 30 2 coMprEEnsÕEs do concEiTo auTisMo rEFErÊncias MaTEriais coMpLEMEnTarEs 1 inTroduÇÃo 3 caracTErÍsTicas HisTÓricas da noMEncLaTura E dEFiniÇÕEs dE auTisMo reFerÊncIAs BIHR, Cleide. A educação especial e o autismo infantil: um estudo de caso a partir de uma abordagem etnográfica. 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São Leopoldo: Editora Oikos, v. 2, Cadernos Pandorgas, 2010. 2 coMprEEnsÕEs do concEiTo auTisMo rEFErÊncias MaTEriais coMpLEMEnTarEs 1 inTroduÇÃo 34 3 caracTErÍsTicas HisTÓricas da noMEncLaTura E dEFiniÇÕEs dE auTisMo Clique aqui e assista ao vídeo complementar “Você sabe o que é Autismo?”. Clique aqui e assista Outro vídeo bem bacana é “Ensinando o que é Autismo”. Indicamos a você o site Autistologos.com que oferece várias dicas de livros, aplica- tivos, músicas, filmes e outros itens que buscam auxiliar o autista em seu dia a dia. Para acessar o site clique aqui. Como indicação de leitura para esta etapa, há o artigo intitulado Transtorno do Espectro autista: onde estamos e para onde vamos, do autor Carlo Schmidt. Clique aqui para ler o artigo. MATerIAIs coMPleMenTAres
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