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CARREIRA JURÍDICA 2014 
ECA 
Luciano Rossato 
1 
ANOTAÇÕES 
DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE 
 
 
Professor Luciano Alves Rossato 
Complexo de Ensino Renato Saraiva. 
 
Bibliografia Indicada: 
ROSSATO, Luciano Alves. LÉPORE, Paulo Eduardo. CUNHA, Rogério Sanches. Estatuto da Criança e do 
Adolescente Comentado. São Paulo: RT. 
ROSSATO, Luciano Alves. Tutela Coletiva dos Direitos Fundamentais da Criança e do Adolescente. São 
Paulo: Verbatim. 
CUNHA, Rogério Sanches. ROSSATO, Luciano Alves. (coord.). REVISAÇO – Defensoria Pública. 
Salvador: Juspodivm. 
 
MATÉRIA ISOLADA – COMPLEXO DE ENSINO RENATO SARAIVA – Direito da Criança e do 
Adolescente. Professor Luciano Alves Rossato. www.renatosaraiva.com.br 
 
 
 
Em 1898 circulava em São Paulo uma revista chamada Álbum das Meninas, que procurava iniciar as 
jovens leitoras no universo da arte, literatura e boa educação, com orientação para o ingresso na vida 
adulta. Na época, foi publicado um soneto, de autoria de Amélia Rodrigues, intitulado “O vagabundo”, que 
tratava uma preocupação das cidades: o grande número de “menores” que causavam intranqüilidade nas 
famílias paulistanas. 
 
O vagabundo 
O dia inteiro pelas ruas anda 
Enxovalhando, rosto indiferente: 
Mãos aos bolsos olhar impertinente, 
Um machucado chapeuzinho a banda. 
 
Cigarro à boca, modos de quem manda, 
Um dandy de misérias alegremente, 
A preocupar ocasião somente 
Em que as tendências bélicas expanda 
 
E tem doze anos só! Um corola 
De flor mal desabrochada! Ao desditoso 
Quem faz a grande, e peregrina esmola 
 
De arranca-lo a esse trilho perigoso, 
De atira-lo p’ra os bancos de uma escola?! 
Do vagabundo faz-se o criminoso!... 
 
 
Como pensamos a infância? 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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CARREIRA JURÍDICA 2014 
ECA 
Luciano Rossato 
2 
 
PARADIGMAS LEGISLATIVOS EM MATÉRIA DE INFÂNCIA E JUVENTUDE. 
 
O ECA representa um verdadeiro divisor de águas no que se refere ao trato da matéria 
relacionada à infância e juventude. Amparado na Constituição Federal, o Estatuto modificou 
completamente o tratamento legal da matéria, substituindo a ultrapassada Doutrina da Situação Irregular 
pela Doutrina da Proteção Integral. 
 
Houve, portanto, uma mudança de paradigma amparada no texto constitucional e, este, por sua 
vez, em textos internacionais de proteção aos direitos da criança, representados pela Doutrina das Nações 
Unidas de Direitos da Criança. 
 
Estabeleceu-se um rompimento com os procedimentos anteriores, com a introdução no sistema 
dos conceitos jurídicos de criança e adolescente, em substituição à expressão menor, superando-se o 
paradigma de incapacidade para o reconhecimento das crianças e adolescentes como sujeitos em 
condição peculiar de desenvolvimento (art. 6º do ECA). 
 
Pela Doutrina da Situação Irregular havia duas infâncias no Brasil: uma relativa aos menores, 
pessoas em situação irregular, e outra relativa a crianças e adolescentes e, a quem os direitos eram 
assegurados. 
 
Com a Doutrina da Proteção Integral, foi concebida uma única infância, no sentido de 
que todas as crianças e adolescentes são tidas como sujeitos de direitos, pessoas em peculiar 
condição de desenvolvimento, com a introdução de conceitos que permitem abordar essa questão 
sob a ótica dos direitos humanos. 
 
2.A criança e o adolescente na normativa internacional. 
 
Na segunda metade do século XX, principalmente em razão das barbáries ocorridas em virtude 
dos horrores da Segunda Guerra Mundial, o mundo presenciou a chamada internacionalização dos direitos 
humanos, pela qual o monopólio do direito de punir deixou de ser exclusivamente de cada nação para se 
estender a toda comunidade internacional, importando, necessariamente, num processo de relativização 
da soberania nacional. 
 
E esse processo de internacionalização englobou os direitos humanos em suas várias 
ramificações, quer de modo geral, quer de modo específico. Neste particular, a intervenção do Estado 
frente a interesses de crianças passou a sofrer certos limites pela comunidade internacional. 
 
Os ordenamentos jurídicos internos, nesse passo, passaram a ter a necessidade de se 
adequarem aos novos rumos e princípios internacionalmente reconhecidos. 
 
Como já sabido, a proteção internacional dos direitos humanos engloba notadamente dois 
sistemas, um universal, e outro regional. 
 
No âmbito universal, o principal autor é a Organização das Nações Unidas – ONU – cuja 
autoridade é planetária. No âmbito regional, destacam-se a Organização dos Estados Americanos e o 
Conselho da Europa. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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ECA 
Luciano Rossato 
3 
A proteção dos direitos da criança constitui uma preocupação antiga da ONU, tanto que criou o 
Fundo das Nações Unidas para a Infância (FISE/UNICEF). Porém, a preocupação da comunidade 
internacional com a questão da criança antecede mesmo a criação da ONU, remontando a 1924. A seguir, 
um quadro dos documentos internacionais que trataram do assunto, partindo da Declaração de Genebra. 
 
a) Declaração de Genebra: adotada pela Liga das Nações em 1924, constituindo a 
primeira declaração de direitos humanos adotada por uma organização intergovernamental; 
b) Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948): a DUDH representa o ponto de 
partida da internacionalização dos direitos humanos, estabelecendo que a infância tem direito a cuidados e 
assistências especiais; 
c) Como se sabe, com a finalidade de garantir a obrigatoriedade da DUDH, foi necessária 
a adoção de outros dois documentos, o Pacto Internacional relativo aos Direitos Civis e Políticos e o 
Pacto Internacional sobre Direitos Econômicos, Sociais e Culturais. Esses dois documentos 
ressaltam a importância de se reconhecer as necessidades especiais das crianças, bem como consagram 
a proteção contra a sua exploração. Verifica-se, até aqui, que a proteção internacional global restringia-se 
a um documento específico e a outros documentos gerais de proteção de direitos humanos; 
d) Nesse passo, foi aprovado um documento específico sobre os direitos da criança, qual 
seja: a Declaração Universal dos Direitos da Criança de 1959, quando a necessidade de uma proteção 
e de cuidados específicos à infância reaparece como conseqüência do reconhecimento de sua 
vulnerabilidade. Não obstante, tanto quanto o texto de 1924, limitou-se a emitir mera declaração, mera 
enunciação de princípios gerais, sem prever obrigações específicas de cada Estado. Sentia-se, em razão 
disso, necessidade de uma Convenção que desse o caráter de obrigatoriedade e que previsse meios de 
controle à atuação estatal. 
e) A Convenção Internacional sobre os Direitos da Criança: 1989. Conclui todo um 
processo de positivação dos direitos da criança na esfera internacional universal. A idéia de proteção 
continua existindo, mas a criança abandona o simples papel passivo para assumir um papel ativo e 
transformar-se num sujeito de direito, de modo que “o interesse superior da criança” passa a ser a viga 
mestra, o princípio basilar das decisões. Ver artigo 3° da convenção. O artigo 40 consagra o direito ao 
devido processo legal. Paralelamente à Convenção, existem outros textos internacionais que consagram, 
dentre os direitos da criança, proteção relacionada a tema específico, como, por exemplo, a criminalidade 
juvenil e a adoção, e que abaixo serão estudados. 
f) Regras de Beijing – Regras Mínimas das Nações Unidas para a Administração da 
Justiça da Infância e da Juventude – 1985: 
g) Diretrizes das Nações Unidas para a Prevenção da Delinqüência Juvenil – 
Diretrizes de Riad – de 1990; 
h) Regras Mínimas das Nações Unidas para a Proteção dos Jovens Privados de 
Liberdade– Regras de Tóquio – 1990. 
i) Convenção de Haia – Adoção Internacional e Seqüestro de Crianças. 
 
“Quanto à questão da infância e de sua delinqüência, os Estados devem, em primeiro 
lugar, aplicar medidas visando a sua prevenção (Diretrizes de Riad). Em seguida, quando uma 
infração penal é cometida, a reação do Estado e da sociedade deve seguir as orientações dos 
tratados gerais de proteção dos direitos humanos e principalmente as orientações contidas nas 
Regras de Beijing e na CIDC. Finalmente, se a intervenção deve inevitavelmente resultar na 
aplicação de uma medida privativa de liberdade, as Regras de Tóquio devem ser observadas”. 
Textos Reunidos. ILANUD. MARTIN-CHENUT, Kathia Regina. Pg. 79, Revista n° 24. 
Estes documentos, somados à Convenção sobre os Direitos da Criança, compõe a 
chamada Doutrina das Nações de Proteção Integral à Criança, a qual tem força de lei interna para 
os seus países signatários, dentre os quais o Brasil. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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3.Os direitos da criança e do adolescente na Constituição Federal. 
 
A proteção à infância, no seu sentido lato, é direito social amparado pelo art. 6º da Constituição 
Federal. A Constituição atribuiu à infância e a juventude um momento especial na vida do ser humano e, 
por isso, conferiu-lhe no seu artigo 227 uma proteção jurídica específica, assegurando: o status de 
pessoas em situação peculiar de desenvolvimento, a titularidade de direitos fundamentais e determinou ao 
Estado que estes direitos sociais fossem promovidos por meio de políticas públicas. 
 
Vejamos o tratamento constitucional a vários pontos relacionados à infância e à juventude: 
 
a) Competência legislativa da União e dos Estados. 
 
A Constituição estabelece ser de competência exclusiva da União legislar sobre normas de 
direito civil (art. 22, I, ECA), e de competência concorrente entre esta e os Estados para legislar sobre a 
proteção à infância e juventude (art. 24, XV). 
 
Pois bem. Em dispositivos de natureza penal (atos infracionais) e de natureza civil (tutela, 
guarda, adoção, poder familiar etc), a competência da União é privativa. 
 
Não obstante, em razão do permissivo contido no parágrafo único do art. 22, poderá a União, 
por meio de lei complementar, autorizar os Estados a legislar sobre essas questões. 
 
De outro lado, tem-se a competência concorrente da União e dos Estados para legislar sobre 
proteção à infância e à juventude. 
 
Muito embora se curve à legislação federal e a estadual a respeito, ao Município compete papel 
de suplementar a proteção à infância e juventude, como, por exemplo, tratar do funcionamento dos 
Conselhos Tutelares, sem, é claro, colidir com as regras dos artigos 134 e seguintes do ECA. 
 
b) Princípio da prioridade absoluta. 
 
O artigo 227 da CF afirma o princípio da prioridade absoluta dos direitos da criança, do 
adolescente e do jovem, tendo como destinatários da norma a família, a sociedade e o Estado. Pretende, 
pois, que a família responsabilize-se pela manutenção da integridade física e psíquica; a sociedade pela 
convivência coletiva harmônica; e o Estado pelo constante incentivo à criação de políticas públicas. Trata-
se de uma responsabilidade que, para ser realizada, necessita de uma integração, de um conjunto 
devidamente articulado de políticas públicas. 
 
Essa competência difusa, que responsabiliza uma diversidade de agentes pela promoção da 
política de atendimento à criança e ao adolescente, tem por objetivo ampliar o próprio alcance da proteção 
dos direitos infanto-juvenis. 
 
Como se sabe, dentro da estrutura chamada ordem social, está englobada a chamada 
Seguridade Social, esta compreendida como um conjunto integrado de ações de iniciativas dos Poderes 
Públicos e da sociedade, destinadas a assegurar os direitos relativos à saúde, à previdência e à 
assistência social. 
 
E a assistência social, que será prestada independentemente de contribuição à seguridade 
social, tem, dentre os seus objetivos, a proteção e amparo à criança e ao adolescente, cabendo a 
coordenação e as normas gerais à esfera federal e a coordenação e a execução dos respectivos 
programas às esferas estadual e municipal. E o ECA é uma dessas normas gerais, pelo qual estabelece 
uma política de atendimento. 
 
 
 
 
 
 
 
 
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Essa política de atendimento deve ser, segundo o art. 204 da CF, descentralizada política e 
administrativamente (sendo dever dos Estados, Municípios e das entidades não governamentais de 
assistência social a coordenação e execução destes programas). Também impõe a participação popular, 
por meio de organizações representativas, para formulação de políticas públicas em todos os níveis. Já o 
§1º do artigo 227 determina que o Estado promova, admitida a participação da sociedade civil, programas 
de assistência integral à saúde da criança e do adolescente. 
 
A Constituição também faz menção à assistência integral à saúde da criança e do adolescente, 
estabelecendo que parte dos recursos públicos destinados à saúde será dirigida à assistência materno-
juvenil, cabendo-lhe, ainda, a criação de programas de prevenção e atendimento especializado para os 
portadores de deficiência física, sensorial ou mental. 
 
c) Garantia da inimputabilidade. 
 
O artigo 228 da CF estabelece a garantia da inimputabilidade aos menores de dezoito anos, 
assegurando ao adolescente o direito de ser submetido a um tribunal especial, regido por uma legislação 
especial e presidido por um juiz especial, o Juiz da Infância e da Juventude. 
 
Assim, por se tratar de direito fundamental, não pode ser alterado, nem mesmo por Emenda 
Constitucional, de modo que, em nosso sentir, faz-se impossível a redução da maioridade penal. 
 
VIDE, A PROPÓSITO, O SEGUINTE LINK SOBRE O ASSUNTO: 
http://www.youtube.com/watch?v=B46RiP5bDNQ 
 
 
d) Possibilidade de adoção por estrangeiros e assistência do poder público a qualquer 
tipo de adoção. 
 
Segundo a Lei Fundamental, a adoção por estrangeiros é permitida, nos termos da Lei 
Específica. É de se registrar que o Brasil é signatário da Convenção Relativa à Proteção das Crianças e à 
Cooperação em Matéria de Adoção Internacional. O Estatuto foi alterado pela Lei 12.010-2009, quando 
houve a inclusão das regras da aludida convenção ao texto do Estatuto. 
 
e) Isonomia entre os filhos. 
 
Por fim, estabelece a isonomia entre os filhos, independentemente da sua condição de havidos 
ou não da relação de casamento. 
 
f) Idade mínima para o trabalho. 
 
g) Competência da Justiça Federal para julgamento do crime de tráfico de crianças – art. 
109, V. 
 
 
4.O Estatuto da Criança e do Adolescente. 
 
O ECA incorporou em definitivo a Doutrina das Nações Unidas de Proteção Integral à Criança. 
Estrutura-se em dois livros, ou em duas partes: uma Parte Geral (art.1° a 85) e uma Parte Especial (art. 86 
a 258). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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Em sua primeira parte, é detalhado como o intérprete e o aplicador da lei haverão de entender 
a natureza e o alcance dos direitos elencados na norma constitucional. 
 
Já a parte especial contém as normas gerais a que se refere o art. 204 da CF, e que 
correspondem às políticas públicas dirigidas à infância e juventude. 
 
a) Disposições preliminares. 
 
Como já visto, o Eca, na esteira da nova ordem constitucional e em consonância com os 
textos internacionais que tratam da matéria, rompeu definitivamente com a doutrina da situação irregular 
(Código de Menores – Lei 6.697, de 10.10.79), e estabeleceu como diretriz básica a doutrina da proteçãointegral. 
 
Essa proteção se fundamenta no princípio do melhor interesse da criança. Trata-se da 
chamada regra de ouro do Direito da Criança e Adolescente, que considera superiores os seus interesses 
porque a família, a sociedade e o Estado, todos são compelidos a protegê-los. 
 
O Eca foi o responsável pela introdução de novos conceitos no ordenamento jurídico 
brasileiro, dentre os quais os de criança e de adolescente. É verdade que a Convenção sobre os Direitos 
da Criança, não faz tal separação. Porém, a solução adotada pela legislação especial tutelar brasileira foi 
diversa, estabelecendo que criança é aquela pessoa que tem até doze anos incompletos, e adolescente, 
aquele que tem entre doze e dezoito anos incompletos. 
 
É válido lembrar que se considera completada a maioridade a zero hora do dia em que o 
adolescente completa dezoito anos. A adolescência, assim, inicia-se a zero hora do dia em que a criança 
completa doze anos, não importando, em qualquer dos casos, a hora em que se deu o nascimento do 
indivíduo. 
 
A diferença entre criança e adolescente tem conseqüência direta no tema ato infracional, este 
um novo conceito introduzido. 
 
Como sabido, a resposta estatal frente à prática de uma conduta prevista na lei penal como 
infração penal varia de conformidade com a idade do agente. Se imputável, terá praticado um crime e será 
apenado; se inimputável em razão da idade, terá praticado um ato infracional e poderá estar sujeito a uma 
medida sócio-educativa e/ou medida de proteção, se adolescente, ou somente medida de proteção, se 
criança. Deve ser considerada a data do fato. 
 
De se ressaltar que o ECA, em uma situação excepcional, aplica-se àqueles que têm entre 18 
e 21 anos. É o caso da medida de internação, que pode ser prolongada até os vinte e um anos de idade. 
 
No artigo 3° inicia-se o elenco dos direitos assegurados aos sujeitos indicados no art. 2°, 
extraindo-se três princípios: a) crianças e adolescentes gozam de todos os direitos fundamentais 
assegurados a toda pessoa humana; b) eles têm direito, além disso, à proteção integral que é a eles é 
atribuída pelo Estatuto; c) a eles são garantidos também todos os instrumentos necessários para 
assegurar seu desenvolvimento físico, mental, moral e espiritual, em condições de liberdade e dignidade. 
 
Nesse passo, crianças e adolescentes, sujeitos de direitos que são, têm mais direitos que os 
outros cidadãos, pois têm direitos específicos indicados nos capítulos sucessivos da primeira parte, 
principalmente no art. 4º. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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O artigo 6º faz referência à interpretação do ECA, e repete praticamente o contido no art. 5º da 
Lei de Introdução ao Código Civil, com um alerta para o intérprete e aplicador do Direito, no sentido de se 
levar em consideração os “direitos e deveres individuais e coletivos, e a condição peculiar da criança e do 
adolescente como pessoas em desenvolvimento”, sobretudo no atinente à convivência familiar, à proteção 
da criança e adolescente e das medidas sócio-educativas. 
 
 
3.DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE 
 
 A Constituição Federal adotou um sistema especial de proteção dos direitos fundamentais de 
crianças e adolescentes, explicitados nos artigos 226/228, sendo dever da família, da sociedade, da 
comunidade e do Poder Público zelar, com absoluta prioridade, pela sua efetivação. 
 
 O caráter de absoluta prioridade deriva da Doutrina da Proteção Integral, sustentada pela 
Convenção de New York sobre os Direitos da Criança, de 1990. Refere-se a uma primazia, precedência e 
preferência no atendimento das necessidades das crianças e adolescentes. A CF/88 utilizou tal expressão 
apenas uma vez, ao tratar dos interesses daqueles no art. 227. Desse modo, tem-se um exemplo de 
prioridade das prioridades. 
 
 Além disso, atribuiu um caráter de especialidade a esses direitos, tanto sob o aspecto quantitativo, 
quanto no aspecto qualitativo. 
 
 Sob o aspecto quantitativo, porque crianças e adolescentes gozam de uma maior gama de direitos 
fundamentais que os adultos. Em suma: gozam de toda a proteção estendida aos adultos, e de um plus, 
como, por exemplo, o direito à convivência familiar. 
 
 Sob o aspecto qualitativo, porque o ECA trata de forma mais especificada alguns dos direitos, 
encampando explicitamente o princípio da ABSOLUTA PRIORIDADE. 
 
 I-O direito à vida e à saúde: tais direitos são assegurados a todos, crianças, adolescentes e 
adultos. Porém, o ECA especifica algumas providências que entende pertinentes com a finalidade de 
assegurar maior eficácia a tais direitos. 
 
 Nesse sentido, tem-se uma extensão da proteção desse direito desde a concepção, quando à 
genitora é garantido, através do SUS, o atendimento pré e perinatal. À criança e ao adolescente também 
são garantidos atendimentos integrais pelo SUS. 
 
 Aos hospitais e demais estabelecimentos de atenção à saúde das gestantes também são 
obrigados a: manter registro das atividades desenvolvidas, pelo prazo de 18 anos; identificar o recém-
nascido mediante o registro de sua impressão plantar e digital (pé e dedo da mão), e impressão digital da 
mãe, proceder exames, fornecer declaração de nascido-vivo e manter alojamento conjunto. 
 
 II-Direito à liberdade, ao respeito e à dignidade: reconhece-se a condição de criança e 
adolescente como pessoas em processo de desenvolvimento, logo, sujeitos de direitos, devendo ser 
resguardada a sua integridade física, psíquica e moral. 
 
 III-Direito à convivência familiar e comunitária: o direito à convivência familiar e comunitária 
constitui direito essencial de crianças e adolescentes, um dos direitos da personalidade infanto-juvenil. 
Algo semelhante foi reconhecido aos idosos, inclusive com a cláusula de absoluta prioridade (art. 3º, 
caput, e parágrafo único, inciso V, da Lei nº 10.741/2003). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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De fato, a família é o lugar normal e natural de se educar a criança e o adolescente. Essa relação 
íntima existente somente poderá ser rompida em hipóteses excepcionais. 
 
 Mas, sob o ponto de vista jurídico, o que é a família? Poderia o legislador tipificá-las? 
 
 É verdade que a Constituição Federal de 1988 (art. 226) representou um verdadeiro divisor de 
águas, pois aduziu que a família não decorre exclusivamente do casamento. Nesse passo, reconheceu o 
Texto Fundamental não só a família casamentária (advinda do casamento), mas também a família 
proveniente de união estável entre pessoas de sexos diferentes e também a família monoparental, na qual 
não se leva em conta a orientação sexual adotada. 
 
 Não obstante, a Constituição Federal não excluiu a existência de outros tipos familiares. Pudera, 
porque não compete ao Constituinte dizer o que é família, mas sim, a “complexa dinâmica social, que tem 
na aproximação decorrente de afetividade mútua e desejo comum de convivência o tronco principal da 
composição familiar”. Pelo contrário, apenas exemplificou alguns tipos de entidades familiares, não 
excluindo outras possíveis, pois o caput do art. 226 encerra cláusula de proteção geral, e não de exclusão. 
Por esse motivo, cada vez mais o Judiciário vem reconhecendo efeito jurídico às uniões homoafetivas. 
 
 E, de acordo com o Estatuto, toda criança e adolescente tem o direito de ser criado e educado, 
ordinariamente, no seio de sua família natural e, excepcionalmente, em família substituta, “esta 
considerada como estruturação psíquica, em que as funções de filho e pais não têm de ser 
necessariamente fruto de uma relação biológica”1. 
 
 A família natural é aquela formada pelos pais ou qualquer deles e seus descendentes (art. 25 do 
ECA), cujo relacionamentocontínuo é tutelado pelo Estado, e rompimento somente poderá ocorrer em 
hipóteses excepcionais. Importante notar que a família formada pelos avós e netos, por exemplo, não 
constituirão família natural, mas sim, família substituta. 
 
 O Estatuto faz menção às formas de reconhecimento de paternidade, direito esse personalíssimo, 
indisponível e imprescritível, e que pode ser exercido contra os pais ou seus herdeiros, sem qualquer 
distinção. Segundo o Código Civil (art. 1.609), o reconhecimento dos filhos havidos fora do casamento é 
irrevogável e será feito: 
 
 -no próprio registro de nascimento: oportunidade em que tanto o pai, quanto a mãe, declaram o 
nascimento e assumem espontaneamente a paternidade e maternidade respectivamente; 
 
 -por escritura pública ou escrito particular: uma vez lavrado o registro de nascimento, constando 
nele somente os dados maternos, para que haja a respectiva indicação da paternidade, quando 
espontânea, mister a lavratura de escritura pública ou de escrito particular, na qual o pai reconhece a 
condição de filho do registrado, requerendo a sua competente averbação à margem do assento de 
nascimento (artigo 102, item 4º, da Lei dos Registros Públicos). De praxe, o expediente é autuado pelo 
Oficial do Registro Civil das Pessoas Naturais, sobre ele manifestar-se-á o Ministério Público e, 
posteriormente, o juiz determinará a requerida averbação. Recorde-se que antes da Lei n.º 8.560/92, o 
reconhecimento de paternidade exigia a lavratura de escritura pública, não sendo possível a sua 
realização por escrito particular; 
 
 -por testamento: poderá o testador, em qualquer tipo de testamento admitido, reconhecer a 
paternidade de pessoa; 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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-por manifestação expressa e direta ao juiz, ainda que o reconhecimento não haja sido o objeto 
único e principal do ato que o contém. Assim, por exemplo, em ação para apuração de ato infracional 
praticado por adolescente, este poderá manifestar-se perante o Juiz acerca do reconhecimento da 
paternidade, devendo o magistrado encaminhar tal expediente para a autoridade judiciária competente, 
que determinará a averbação no registro de nascimento. 
 
 Se acaso não houver o reconhecimento espontâneo, poderá ele decorrer de sentença judicial, que 
produzirá os mesmos efeitos jurídicos. 
 
 O poder familiar será exercido em igualdade de condições entre o pai e a mãe, competindo-lhes o 
sustento, a guarda e a educação dos filhos. Eventual carência de recursos materiais não constituirá motivo 
suficiente para a perda ou suspensão do poder familiar, quando então a família deve ser incluída em 
programas oficiais de auxílio. 
 
 A perda ou a suspensão do poder familiar decorrerão de sentença judicial. 
 
 A família EXTENSA é aquele que vai além da unidade pais e filhos, para encampar também outros 
parentes, com quem a criança mantenha vínculo de afinidade ou de afetividade. 
 
 Não sendo possível a manutenção da criança ou do adolescente nessa entidade familiar, a família 
natural dará lugar à substituta. Portanto, família substituta é aquela que, de forma excepcional e 
necessária, assumiu o lugar da original. 
 
É possibilitada através dos institutos jurídicos da guarda, tutela ou adoção, cada qual com suas 
características próprias e inconfundíveis, que não podem ser mescladas para formação de institutos 
diferenciados. É deferida, via de regra, a famílias nacionais, salvo no caso de adoção, em que é permitida 
a famílias estrangeiras excepcionalmente (princípio da excepcionalidade da adoção internacional – a 
adoção nacional é prioritária). 
 
 Para a apreciação do pedido, o juiz levará em conta o grau de parentesco e a relação de afinidade 
ou de afetividade, como meio de minorar as conseqüências da medida. 
 
A guarda: a guarda pode ser estudada sob exclusivamente o enfoque do Código Civil, nos casos 
de reconhecimento dos filhos havidos fora do casamento e quando da separação dos pais. Ou seja: a 
criança ou adolescente permanecerá, pelo menos, com um dos genitores, ou em razão da vontade por 
eles manifestada, seja em razão de decisão judicial. 
 
Sob o enfoque do ECA, porém, a criança ou adolescente será entregue a outra família para 
atendimento de uma situação excepcional: a impossibilidade de sua permanência junto à família natural. 
 
De qualquer forma, guarda é o instituto pelo qual se transfere ao guardião, a título precário, os 
atributos do art. 1634, I, II, VI e VII, do Código Civil. Obriga à assistência material, moral e educacional à 
criança ou adolescente. É necessário o procedimento contraditório quando houver discordância dos 
genitores (art. 166 ECA). Tem como característica a provisoriedade, de modo que pode ser revogada a 
qualquer tempo, mediante ato judicial fundamentado (art. 35). Tal regra é possível porque a decisão sobre 
a guarda não faz coisa julgada material ou substancial, mas tão somente formal. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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Pode ser concedida incidentalmente (nos casos de ação de tutela e adoção – art. 33, § 1º), como 
também pode ser o pedido principal da ação (§ 2º). Neste último caso, identificam-se duas hipóteses, 
previstas no § 2º do art. 33: a chamada guarda satisfativa, que atende a situações peculiares (exemplo – 
maus tratos dos pais); e a chamada guarda especial, destinada a suprir a ausência momentânea dos pais. 
 
 - PEDIDO INCIDENTALMENTE. 
 
GUARDA 
 SATISFATIVA 
 - PEDIDO PRINCIPAL 
 ESPECIAL. 
 
 É possível imaginar alguma situação de guarda compartilhada na família substituta? Sim, no caso 
de os adotantes, já iniciado o estágio de convivência, venham a se separar judicialmente. Nesse caso, é 
possível vislumbrar, já na concessão da adoção, a guarda compartilhada. Aliás, essa previsão já existe na 
Lei de Adoção que está sendo discutida no Congresso Nacional. 
 
Tutela constitui o conjunto de direitos e obrigações conferidas a um terceiro (tutor), para que 
proteja a pessoa de uma criança ou adolescente que não se acha sob o poder familiar. Poderá o tutor 
administrar os bens do tutelado, bem como representá-lo ou assisti-lo nos atos da vida civil. 
 
A tutela pressupõe a extinção do poder familiar, o que pode ocorrer em virtude da morte dos pais 
ou a decretação de sua perda (art. 1638 do CC) ou suspensão (art. 1637 do CC), em razão de sentença 
judicial proferida em procedimento próprio. 
 
A adoção implicará no desligamento dos vínculos familiares existentes. Quer seja a adoção de 
crianças e de adolescentes, quer seja a de adultos, o regramento legal aplicado é o Estatuto da Criança e 
do Adolescente, dependendo ambas de SENTENÇA judicial, muito embora o STJ admita a adoção por 
escritura pública nas restritas hipóteses em que, à época da lavratura do ato, era vigente o CC de 1916. 
Só nesta situação. 
 
Por adoção unilateral – geralmente requerida pelo marido ou companheiro da genitora da criança 
– entende-se aquela em que o adotando mantém os vínculos com o pai ou mãe biológicos. Opõe-se à 
adoção bilateral, em que há o total rompimento dos vínculos biológicos, quer em relação ao pai, quer em 
relação à mãe biológicos. 
 
A adoção unilateral poderá ocorrer em três hipóteses, quais sejam: a) quando no registro de 
nascimento constar tão somente o nome do pai ou da mãe; b) quando no registro de nascimento constar 
também o nome do outro pai ou mãe; e, c) adoção pelo cônjuge ou companheiro, quando o pai/mãe for 
falecido. 
 
No primeiro caso – registro de nascimento conste somente o nome do pai ou da mãe – faz-se 
necessária tão somente a concordância do pai ou mãe indicado no registro. 
 
Já nosegundo, além dessa concordância, necessária também a comprovação de que houve 
descumprimento das obrigações decorrentes do poder familiar. 
 
No terceiro caso, por sua vez, como houve a morte do genitor e, conseqüentemente, a extinção do 
poder familiar, há necessidade apenas do consentimento do genitor sobrevivente. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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Podem adotar os maiores de dezoito anos – segundo o novo Código – havendo a necessidade de 
que entre o adotante e adotado haja diferença mínima de dezesseis anos. Ninguém poderá ser adotado 
por duas pessoas, salvo se marido e mulher ou se viverem em união estável. 
 
Os divorciados e os separados poderão adotar conjuntamente, desde que, concordes com relação 
à guarda e regime de visitas, tenham iniciado o estágio de convivência na constância da sociedade 
conjugal. 
 
A adoção depende do consentimento dos pais ou do representante legal do adotando, dispensado, 
porém, em relação à criança ou adolescente cujos pais sejam desconhecidos ou tenham sido destituídos 
do poder familiar. 
 
Com efeito, o art. 152 do ECA autoriza a aplicação subsidiária das normas processuais, sendo 
possível a cumulação de pedidos compatíveis, de competência do mesmo juízo e com o mesmo tipo de 
procedimento (ver artigo 292, § 1º, I a III, do CPC). 
 
Os efeitos da decisão começam a partir do trânsito em julgado da decisão, salvo se o adotante vier 
a falecer no curso do processo, quando ocorrerá a adoção nuncupativa ou post mortem, sendo que os 
efeitos da sentença retroagirão à data do óbito do adotante. 
 
Em todos os casos, a opinião do adolescente deve ser levada em conta. 
 
Não poderão adotar os ascendentes e os irmãos do adotando. 
undo. 
 
Em resumo - REQUISITOS PARA A ADOÇÃO: 
 
a) IDADE MÍNIMA DO ADOTANTE; 
b) DIFERENÇA DE IDADE ENTRE ADOTANTE E ADOTADO; 
c) ESTABILIDADE FAMILIAR; 
d) ADOTANTES NÃO REVELAREM INCOMPATIBILIDADE COM A MEDIDA; 
e) PEDIDO SE FUNDE EM MOTIVOS LEGÍTIMOS; 
f) QUE A ADOÇÃO REPRESENTE REAL VANTAGEM PARA O ADOTADO; 
g) NÃO SER O ADOTANTE IRMÃO OU ASCENDENTE DO ADOTADO; 
h) CONSENTIMENTO DOS PAIS E DO ADOTADO (MAIOR DE DOZE ANOS), SENDO AQUELE 
DISPENSADO NO CASO DE PAIS DESCONHECIDOS OU DESTITUÍDOS DO PODER 
FAMILIAR. 
i) CADASTRO JUNTO À VARA DA INFÂNCIA E JUVENTUDE . 
j) ESTÁGIO DE CONVIVÊNCIA. 
 
A adoção por estrangeiros – ou adoção internacional, ou ainda intercultural – é medida 
excepcional, devendo ser dada preferência em favor dos nacionais (excepcionalidade da 
excepcionalidade). 
 
Tratando-se de estrangeiro residente no país, como detentor dos mesmos direitos e garantias que 
os nacionais, salvo as exceções constitucionais, a adoção não será considerada internacional, mas 
seguirá as regras comuns da adoção nacional. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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IV-direito à educação, à cultura, ao esporte e ao lazer: a criança e o adolescente tem direito à 
educação, visando ao pleno desenvolvimento de sua pessoa, preparo para o exercício da cidadania e 
qualificação para o trabalho. Vide, de forma indispensável, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação 
Nacional (vide recente alteração sobre o tema, relativo à obrigatoriedade dos pais matricularem 
seus filhos na escola a partir dos 04 anos – Lei 12.696/2013: 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2013/Lei/L12796.htm 
 
V-direito à profissionalização e à proteção ao trabalho: art. 7º, XXXIII, CF/88 – é proibido o trabalho 
noturno (entre vinte e duas horas de um dia e cinco horas do dia seguinte). Podem trabalhar os maiores de 
16 anos, salvo na condição de aprendiz, com idade de catorze anos. 
 
VIDE O LIVRO: DIREITOS TRABALHISTAS DE CRIANÇAS, ADOLESCENTES E JOVENS, 
PELA EDITORA REVISTA DOS TRIBUNAIS. 
 
PREVENÇÃO: 
 
 A criança e o adolescente – pessoas em desenvolvimento – fazem jus a uma tutela especial do 
Estado, da sociedade e da família, de modo que qualquer possibilidade de violação ou de ameaça a seus 
direitos fundamentais deve ser prontamente afastada por meio de políticas gerais (corrigindo os malefícios 
advindos de fatores sociais negativos), ou de políticas dirigidas a uma parcela com necessidades 
semelhantes, ou, ainda, de políticas específicas a prevenir o ilícito infracional. Daí, a doutrina classificar 
essa prevenção em geral, detectada ou específica. 
 
 
 O ECA faz referência a disposições de ordem geral e à prevenção especial. Esta, por sua vez, faz 
referência: a) às condições para freqüência em espetáculos públicos; b) as crianças de dez anos somente 
poderão permanecer nos locais de exibição quando acompanhadas de seus pais; c)proibição de venda à 
criança ou ao adolescente de armas, munições e explosivos, bebidas alcoólicas e produtos que possam 
causar dependência, fogos de estampido e artifício, salvo se ineficazes de ocasionar dano físico; revistas e 
publicações indevidas; e, bilhetes lotéricos e equivalentes; proibição de hospedagem em hotel etc, sem 
autorização. 
 
 Reconhecendo a situação da criança e do adolescente como pessoas em situação peculiar de 
desenvolvimento, entendeu o legislador traçar certas diretrizes para a locomoção dessas pessoas em 
território nacional ou estrangeiro, quando estiverem desacompanhadas de seus pais ou responsável. 
 
 Para tanto, exigiu, em certas ocasiões, também que a viagem estará condicionada à autorização 
pelo Juízo da Vara da Infância e da Juventude, ao qual caberá analisar se, de fato, a locomoção atende ao 
superior interesse dessas pessoas. 
 
 Tratando-se de viagem em território nacional, a autorização será exigida quando, A CRIANÇA, que 
for viajar para local que não seja comarca contínua à sua residência, se do mesmo Estado, ou incluída na 
mesma região metropolitana, não estiver acompanhada de qualquer um de seus pais ou responsável, ou 
expressamente autorizada por estes, ou mesmo de ascendente ou colateral até o terceiro grau. 
 
 A contrario sensu, a autorização judicial NÃO será exigida, em viagens nacionais: a) para 
adolescentes; b) para crianças quando a locomoção se der em comarca contígua à sua residência, se do 
mesmo Estado, ou incluída na mesma região metropolitana, sendo desnecessária a autorização dos pais; 
c) para crianças acompanhadas de ascendente (p.e.: avô) ou colateral maior (por exemplo: tio), até o 
terceiro grau, sendo o parentesco comprovado documentalmente; e, d) para crianças acompanhadas de 
pessoas maiores, desde que expressamente autorizadas pelo pai, mãe ou responsável. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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Portanto, que fique claro: O ADOLESCENTE NÃO NECESSITA DE AUTORIZAÇÃO DE VIAGEM 
PARA LOCOMOÇÃO DESACOMPANHADA DOS PAIS EM TERRITÓRIO NACIONAL! Somente as 
crianças, em certas hipóteses, é que necessitam de tal autorização. 
 
 Porém, tratando-se de viagem ao exterior, o ECA não fez distinção em relação à criança e ao 
adolescente, abordando essas pessoas de forma semelhante. Não obstante, o artigo 84 do ECA, que trata 
do assunto, é interpretado de duas maneiras diferentes: uma primeira interpretação sustenta que o 
adolescente desacompanhado dos pais ou responsável, mesmo que por eles autorizado, depende da 
autorização judicial para viajar. Uma segunda interpretação sustenta que, estando o adolescente 
autorizado pelos pais ou responsável, desnecessária será a autorização judicial. 
 
Houve uniformização da interpretação. Vide Resolução 131, CNJ: 
http://www.cnj.jus.br/atos-administrativos/atos-da-presidencia/resolucoespresidencia/14609-resolucao-n-
131-de-26-de-maio-de-2011 
 
4.A política de atendimento. 
 
 A política de atendimento voltada às crianças e aos adolescentes, quetem seu fundamento 
constitucional nos artigos 204 e 227 do Texto Fundamental, parte de dois princípios básicos: o da 
participação e o da exigibilidade, por meio dos quais o cidadão tem o poder de exigir o seu efetivo 
cumprimento. 
 
 A sua execução será feita através de um conjunto articulado de ações, quer seja governamentais 
(englobando as esferas federal, estadual e municipal), quer seja não governamentais. 
 
 O ECA traçou as linhas de ação dessa política, as quais estão englobadas em três grandes grupos: 
a) políticas voltadas à garantia dos direitos fundamentais de qualquer pessoa, independentemente de sua 
condição tutelar (p.exemplo: saúde), ditas políticas sociais básicas; b) políticas assistenciais voltadas a um 
grupo em razão de sua vulnerabilidade reconhecida (p.exemplo: alimentação), ditas políticas assistenciais 
ou compensatórias; e, c) políticas voltadas a crianças e adolescentes em risco pessoal, aos quais devem 
ser dirigidas ações especializadas de encaminhamento e atendimento, ditas políticas de proteção especial. 
 
Como diretriz central dessa política, foi adotado o princípio da municipalização do atendimento, 
segundo o qual o Município assume poderes que, antes, eram de outras instâncias da Federação. 
 
Também foi adotada como diretriz a criação de conselhos municipais, estaduais (e nacional 
(CONANDA) dos direitos da criança e do adolescente, órgãos deliberativos e controladores de ações. 
Esses conselhos representam a forma de participação da população na política de atendimento. 
 
Os Conselhos de Direitos encampam três princípios básicos: a) princípio da deliberação – pelo 
qual se delibera acerca da aplicação do art. 227 da Constituição Federal; b) princípio do controle da ação 
entre governo e sociedade; e, c) princípio da paridade, uma vez que serão representados nos conselhos, 
por meio de conselheiros, tanto a esfera governamental, quanto a sociedade de um modo em geral. Os 
conselheiros exercerão função de interesse público e não remunerada. 
 
Os Conselhos devem existir em cada uma das esferas administrativas (União, Estados, Distrito 
Federal e Municípios). No âmbito federal, existe o Conselho Nacional dos Direitos da Criança – 
CONANDA, cujos atos são concentrados, principalmente, nas Resoluções. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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São várias as resoluções importantíssimas para a defesa dos direitos da criança e do 
adolescente. Dentre elas, destaca-se a de nº 113, posteriormente alterada pela de nº 116, cujo objetivo foi 
institucionalizar e fortalecer o Sistema de Garantia dos Direitos da Criança e do Adolescente (vide 
Resolução no anexo). 
 
O Sistema de Garantia dos Direitos da Criança e do Adolescente é baseado em três eixos, 
denominados eixos do Sistema de Garantia: defesa, promoção e controle da efetivação dos direitos 
humanos de crianças e adolescentes. 
 
 Ora, a proteção dos direitos humanos de crianças e adolescentes é baseada numa vertente, 
denominada Proteção Integral, que exige uma ação articulada das esferas governamental e não 
governamental. Essa ação integrada, no âmbito interno, carecia de uma sistematização. 
 
O eixo de defesa dos direitos humanos da criança e do adolescente caracteriza-se pela 
garantia do acesso à justiça, para assegurar a exigibilidade desses direitos, o que fica a cargo, dentre 
outros, das Defensorias Públicas (vide artigo 7º). 
 
O eixo de promoção dos direitos humanos da criança e do adolescente operacionaliza-se 
através da articulação das políticas públicas direcionadas, que se desenvolve de maneira transversal e 
intersetorial. 
 
Essas políticas públicas operacionalizam-se através de três tipos de programas: I-serviços e 
programas das políticas públicas, especialmente das políticas sociais, afetos aos fins da política de 
atendimento dos direitos humanos de crianças e adolescentes; II- serviços e programas de execução de 
medidas de proteção de direitos humanos, estruturados sob a forma de um Sistema Nacional de Proteção 
de Direitos Humanos de Crianças e Adolescentes; III – serviços e programas de execução de medidas 
socioeducativas e assemelhadas (estruturados sob a forma de um Sistema Nacional de Atendimento 
Socioeducativo – SINASE). 
 
O controle das políticas públicas será feito através das instâncias públicas colegiadas próprias 
– Conselhos de Direitos, Conselhos Setoriais e órgãos de controle interno e externo (exemplo: Tribunal de 
Contas). 
 
Esses são apenas alguns aspectos envolvendo o Sistema de Garantia. A leitura da Resolução 
n.º 113, alterada pela 116 (infra), é indispensável! Então, mãos à obra!!!!! 
 
Cada um desses conselhos estará vinculado a um fundo específico, denominado Fundo da 
Infância e da Adolescente – FIA, que constituirá, dentre outras, fonte de manutenção da assistência social 
(artigos 195 c.c. 204, ambos da CF/88). 
 
É diretriz de atendimento, ainda, a integração operacional dos órgãos do Judiciário, Ministério 
Público, Defensoria Pública e Assistência Social, preferencialmente no mesmo local, para efeito de 
atendimento a adolescente a quem se atribua a prática de ato infracional (exemplo do que ocorre em São 
Paulo, capital, onde no Fórum das Varas da Infância e Juventude localizam-se todos os setores de 
atendimento aos adolescentes). 
 
4.1.Entidades de atendimento 
 
São entidades responsáveis pelo planejamento e execução de programas de proteção e 
socioeducativos, indicados no art. 90 do Estatuto da Criança e do Adolescente. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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Tais programas devem se harmonizar com as diretrizes da política de atendimento traçadas 
pelos Conselhos de Direitos, bem como ser inscritos no Conselho Municipal de Direitos da Criança e do 
Adolescente, o qual, por sua vez, comunicará o Conselho Tutelar e a autoridade judiciária. 
 
As entidades não-governamentais somente poderão funcionar depois de registradas no 
Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente. 
 
4.2.Das medidas de proteção 
 
Sempre que os direitos da criança e do adolescente forem violados ou ameaçados, levando-
se em conta as necessidades pedagógicas existentes, estará aberta a possibilidade de aplicação das 
chamadas medidas de proteção – ou medidas de cunho assistencial – elencadas no artigo 101 do ECA, 
bem como outras previstas no Estatuto, como, por exemplo, o aconselhamento aos pais ou responsável, 
pela autoridade competente. 
 
E a autoridade competente de que se fala é o Conselho Tutelar e também o Juiz (sendo as 
medidas previstas nos incisos I a VI de competência comum do Conselho e do Juiz). 
 
Nesse passo, a ação ou omissão da sociedade e do Estado enseja a atuação ou dos 
Conselhos Tutelares, ou do Juiz, no sentido de ser aplicada qualquer uma das medidas protetivas. 
 
No mesmo sentido, pode haver a intervenção estatal no âmbito das relações familiares, 
quando da falta, omissão ou abuso dos pais ou responsável. 
 
 
4.3.Das Medidas Pertinentes aos Pais ou responsáveis. 
 
Como foi visto, diante da ofensa aos direitos da criança e do adolescente, poderão ser 
aplicadas as chamadas medidas de proteção, bem como também medidas pertinentes aos pais ou 
responsável. Dentre estas, pode-se identificar medidas de cunho assistencial à família, bem como 
obrigações pertinentes aos pais ou responsável e sanções civis que estes podem estar sujeitos. 
 
São competentes para a aplicação das medidas previstas no artigo 129: 
 
a) Conselho Tutelar medidas assistenciais e obrigacionais dos incisos I a VI e a sanção do 
inciso VII; 
b) Juiz  as sanções previstas nos incisos VIII a X, e terá também o poder de revisão das 
decisões emanadas do Conselho.Verificada a hipótese de maus-tratos, opressão ou abuso sexual impostos pelos pais ou 
responsável, a autoridade judiciária poderá determinar o afastamento cautelar do agressor da moradia 
comum. Trata-se de medida de natureza processual e cautelar, que o Juiz poderá determinar em ação 
cautelar ou na pendência de ação principal, liminar ou incidentalmente. 
 
5.Da Vara da Infância e da Juventude. 
 
O ECA substituiu o Juizado de Menores pela Justiça da Infância e da Juventude, cuja 
competência em razão da matéria está delimitada no art. 148 e territorial no artigo 147. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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Em razão da matéria, a competência da justiça da infância e da juventude pode ser exclusiva, 
quando compete tão somente a ela o julgamento de determinadas ações, como pode ser concorrente, 
quando, para que esse Juiz seja competente, necessário se faz que a criança ou o adolescente se 
encontre em situação de risco, consubstanciada em uma das hipóteses do art. 98 do ECA. 
 
A competência exclusiva está indicada nos incisos do caput do art. 148; a competência 
concorrente está prevista no parágrafo único do mesmo artigo. 
 
Nestas duas situações – tanto exclusiva quanto concorrente – a competência será contenciosa, 
em contraposição à competência administrativa prevista no art. 149 do ECA. 
 
No que se refere à competência territorial, o Eca faz referência à competência do domicílio dos 
pais ou responsável, ou, na sua falta, do lugar onde se encontre a criança. Tratando-se de ato infracional, 
será competente o lugar da ação ou omissão, observadas as regras de conexão, continência e prevenção. 
PRINCÍPIO DO JUÍZO IMEDIATO!! Adotado no art. 147 – sobrepõe-se a regras de direito processual, 
como a perpetuatio jurisdicionis. 
 
Como sabido, a conexão e a continência não são causas determinantes da fixação da 
competência, mas motivos que determinam a sua alteração, atraindo para a atribuição de um juiz ou juízo 
o ato infracional que seria da atribuição de outro. São aplicáveis os artigos 76/82 do CPP. 
 
O § 2º determina que o Juiz poderá delegar a execução da medida sócio-educativa, como, por 
exemplo, quando a medida de internação é cumprida em comarca diversa da do juiz sentenciante. 
 
O artigo 149 faz referência à competência administrativa, quando o Juiz da Infância e 
Juventude, atento às peculiaridades locais, disciplina determinadas matérias. Por força do disposto no 
artigo 199, o recurso cabível dessas decisões será o de apelação, embora seja discutível o seu cabimento, 
conforme várias decisões. 
 
A leitura atenta do art. 149 é indispensável. Apenas para reforço: para certame de beleza, 
participação em peças etc., faz-se necessária a prévia autorização judicial, mesmo que a criança ou 
adolescente esteja acompanhado de seu pai ou responsável. 
 
6.Prática de ato infracional, medidas socioeducativas e ação socioeducativa. 
 
A Constituição Federal – em razão da idade do agente – oferece tratamento diferenciado 
quando da prática de uma conduta prevista como crime ou contravenção penal. 
 
Se um imputável vier a praticar uma conduta considerada típica e antijurídica, surge para o 
Estado o chamado jus puniendi, ou direito de punir, por meio do qual, após o devido processo legal, será 
aplicado ao chamado réu uma pena, previamente prevista pela lei penal (não há crime sem lei anterior que 
o defina, nem pena sem prévia cominação legal). 
 
De outro lado, sendo a mesma conduta praticada por um inimputável em razão da idade (assim 
considerado quando do fato), considerando a sua especial condição de pessoa em desenvolvimento, a 
Constituição sujeita esse indivíduo a uma legislação tutelar especial, assegurando-lhe o direito de ser 
submetido a um tribunal especial e presidido por um juiz especial. A resposta estatal, neste caso, não será 
punitiva, mas sim pedagógica, no sentido de proporcionar a ressocialização do indivíduo (não há ato 
infracional sem lei anterior que defina a conduta como crime ou contravenção penal, nem medida sócio-
educativa que não prevista no ECA). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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E, mesmo em relação a esses inimputáveis em razão da idade, assim considerados 
constitucionalmente, o tratamento estatal é diferenciado. Se a conduta for praticada por uma criança, esta 
estará sujeita tão somente às medidas protetivas (art. 105), a serem aplicadas pelo Conselho Tutelar; se 
for praticada por um adolescente, este estará sujeito, se o caso, além das medidas protetivas, também às 
medidas sócio-educativas. 
 
Desse modo, vê-se que a conduta ilícita será apurada tão somente em relação aos 
adolescentes, uma vez que contra estes as providências jurisdicionais importarão no estabelecimento de 
deveres, os quais deverão ser compulsoriamente cumpridos, sob a fiscalização de entes específicos e do 
Juiz da Infância e da Juventude. 
 
O ECA traz uma série de expressões de aplicação específica à infância e juventude. Dentre 
eles, preferiu adotar a nomenclatura ato infracional em vez de crime ou contravenção penal. 
 
Assim, considera-se ato infracional aquela conduta prevista como crime ou contravenção penal 
(art. 103), de modo que a estrutura destes deve ser respeitada: a) conduta humana, dolosa ou culposa; b) 
resultado, quando for o caso; c) nexo de causalidade; d) tipicidade – aqui, a tipicidade delegada, 
observando-se o princípio da legalidade. 
 
Havendo indícios da prática de ato infracional por parte de adolescente, surge para o Estado o 
direito de ver apurada a conduta e, se o caso, de ser o adolescente inserido em uma das medidas sócio-
educativas previstas na lei, o que o fará através de uma ação própria, qual seja, a ação sócio-educativa. 
 
Portanto, a ação sócio-educativa (ou ação sócio-educativa pública) é a ação pela qual tutela-se 
o direito de se ver apurada a ocorrência e a autoria de um ato infracional e aplica-se, se o caso, a medida 
sócio-educativa pertinente. A tutela pretendida é exclusivamente sócio-educativa e não punitiva. 
 
Autor, Réu e Juiz dessa ação são, respectivamente, o Ministério Público, o adolescente e o Juiz 
da Infância e da Juventude. 
 
A ação sócio-educativa sempre será pública e nunca privada, de modo que inconcebível que o 
particular a promova. Por isso, alguns a chamam de ação sócio-educativa pública. Trata-se de legitimidade 
exclusiva do Ministério Público, a quem competirá providências, quer administrativas ou pré-processuais, 
como processuais. 
 
Do outro lado da relação processual, tem-se o adolescente, pessoa em peculiar condição de 
desenvolvimento, com idade entre doze e dezoito anos incompletos, que detém garantias processuais 
genéricas e específicas, lembrando-se que face às crianças não se promoverá a ação sócio-educativa. 
 
Entre as partes e acima delas encontra-se o Juiz da Infância e Juventude, competente para a 
apuração do ato infracional e a aplicação da medida sócio-educativa, independentemente da natureza 
daquele e da competência para o julgamento do crime ou contravenção competente, quer seja do Júri, 
quer seja da Justiça Federal, do Juizado Especial Criminal Estadual ou Federal etc. Tratando-se de um ato 
infracional, em razão da inimputabilidade constitucional, surge para o adolescente o direito de ser 
demandado perante o Juiz da Infância e da Juventude. 
 
Cabe ao julgador observar os direitos individuais consagrados no ECA e das garantias 
processuais, quer genéricas, quer específicas. 
 
Por garantia dita genérica tem-se a necessidade do devido processo legal, segundo o qual a 
ação observará o ECA e a lei processual pertinente (processo penal ou civil). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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O art. 111 enumera seis garantias processuais específicas. 
 
A primeira delas é a garantia do pleno e formal conhecimento da atribuição do ato infracional 
para que possa, em juízo, exercer a sua plena defesa e o contraditório. Para tanto, a lei indica a citação ou 
meio equivalente, como, por exemplo e costumeiramente, a notificação. As Regras de Beijing e a 
Convenção sobre os Direitos da Criança já previam esse direito. 
 
Tem também direito à igualdade na relação processual, podendo contraditar as provas 
apresentadas. 
 
A defesa técnica por advogado também é garantida, e é direcionada, ora ao ato infracional em 
si, ora à medida sócio-educativa proposta. A presença do Advogado em todos os atos processuais é 
obrigatória, sob pena de nulidade absoluta, como reiteradamente vêm decidindo os Tribunais, 
especialmente o E.Tribunal de Justiça de São Paulo. 
 
A assistência judiciária gratuita e integral também é uma garantia processual, somando-se à 
isenção de custas de quaisquer ações que tramitam na Vara da Infância e Juventude. 
 
Tem o adolescente o direito de ser ouvido pessoalmente pela autoridade competente. Tal 
autoridade não é apenas o Juiz, mas também o Promotor de Justiça, o Defensor e a autoridade policial 
pertinente. Ao Juiz ele apresenta a sua versão sobre os fatos; ao Promotor, oferece elementos 
necessários e que, eventualmente, podem implicar até no arquivamento dos autos; ao defensor, por óbvio, 
para propiciar meios para a defesa; e, por fim, à autoridade policial quando de sua apreensão. 
 
Aqui se faz conveniente a alusão à Súmula 265 do STJ. 
 
Por fim, tem o adolescente o direito de solicitar a presença de seus pais ou responsável em 
qualquer fase do processo. 
 
Na ação sócio-educativa, após verificada, por meio de sentença, a prática de ato infracional, o 
Juiz poderá aplicar ao adolescente as seguintes medidas sócio-educativas: advertência, obrigação de 
reparar o dano, prestação de serviços à comunidade, liberdade assistida, inserção em semiliberdade ou 
internação, além de qualquer medida protetiva. Tem-se, de um lado, as medidas em meio-aberto, e, de 
outro, as medidas restritivas de liberdade (semiliberdade e internação). 
 
Para tanto, vê-se que é necessário o reconhecimento, na ação específica, da comprovação da 
autoria e da materialidade do ato infracional. Excetua-se a medida de advertência, que, segundo a lei, 
pode ser aplicada com apenas indícios de autoria. 
 
O ECA não enumera taxativamente as situações em que deverão ser aplicadas cada uma das 
medida sócio-educativas (salvo no caso de internação). Diferentemente, indica que para a eleição de cada 
uma delas o juiz levará em conta a capacidade do adolescente em cumpri-la, as circunstâncias e a 
gravidade da infração. Além disso, indica as principais diretrizes das medidas, considerando, 
principalmente, o seu alcance pedagógico. 
 
Assim, a advertência consistirá em uma admoestação, que constará para efeitos de registro. 
 
A obrigação de reparar o dano refere-se às infrações com reflexos patrimoniais, em que o Juiz, 
havendo possibilidade física e financeira, determina o ressarcimento do dano pelo adolescente à vítima. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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A prestação de serviços à comunidade consiste na realização de tarefas junto à comunidade, 
não podendo exceder a sua duração o período de seis meses, com jornada não superior a oito horas 
semanais. 
 
A liberdade assistida, por sua vez, durará no mínimo seis meses, podendo ser prorrogada, e 
pressupõe a continuidade do adolescente junto à sua família. Será designado um orientador, pessoa 
capacitada para o auxiliar e acompanhar o adolescente. 
 
A semiliberdade importa em limitação da liberdade do adolescente, podendo ser aplicada, ora 
desde o início, ora como forma de transição da internação para a total liberdade. Não comporta prazo 
determinado. Tem por fundamento a possibilidade de realização de atividades externas, 
INDEPENDENTEMENTE DE AUTORIZAÇÃO JUDICIAL (portanto, tais atividades não podem ser vedadas 
pelo juiz). 
 
Quanto à internação, a lei faz expressa referência às hipóteses em que é permitida a sua 
aplicação, conforme se vê do art. 122 do ECA. 
 
Identificam-se três tipos de internação: a internação provisória (art. 108); internação com prazo 
indeterminado (art. 122, I e II); e a chamada internação-sanção – com prazo determinado (art. 122, III). 
 
A internação provisória pode ser decretada pelo juiz de conhecimento no transcorrer da ação 
sócio-educativa pública, equivalendo-se à prisão cautelar no processo criminal. Para que isso seja 
possível, deverá ser proferida decisão fundamentada, baseada em indícios suficientes de autoria e 
materialidade, demonstrada a necessidade imperiosa de tal medida. Tem prazo limitado a 45 dias, nos 
quais o adolescente deverá permanecer em entidade de atendimento adequada, vedada a permanência 
em estabelecimento prisional. 
 
No entanto, se não existir na comarca entidade com essas características e impossível a 
transferência para cidade dotada de tal aparelhamento, o adolescente poderá permanecer em repartição 
policial por até cinco dias, período em que deverá ser providenciada a sua transferência. A inobservância 
dessas disposições caracteriza conduta criminosa. 
 
Antes da análise da internação possível nas hipóteses contidas nos incisos do art. 122, do 
ECA, conveniente lembrar que as medidas restritivas de liberdade são condicionadas constitucionalmente 
aos princípios da excepcionalidade, brevidade e condição especial de pessoa em desenvolvimento. 
 
Segundo o princípio da brevidade, a internação deve durar o menor tempo possível, segundo 
as necessidades pedagógicas do adolescente. 
 
O princípio da excepcionalidade impõe que a medida de internação seja aplicada 
exclusivamente quando outra não for adequada a suprir as necessidades pedagógicas existentes, 
além de a situação enquadrar-se numa das hipóteses taxativamente previstas pela lei. 
 
A primeira hipótese do art. 122 faz referência ao ato infracional praticado mediante violência ou 
grave ameaça à pessoa, que deve fazer parte integrante do tipo penal. Por exemplo: roubo, homicídio, 
estupro, lesão corporal dolosa. 
 
Muitos delitos não se enquadram nesse perfil, tais como o furto, a receptação, o estelionato e 
mesmo o tráfico ilícito de entorpecentes, conforme reiteradamente decidido pelo Colendo Superior Tribunal 
de Justiça. SÚMULA 492, STJ! 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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A segunda hipótese faz referência à reiteração no cometimento de infrações graves. Para a sua 
incidência, portanto, necessário analisar-se dois elementos: reiteração e infração grave, o que será feito 
sob aspecto da doutrina e jurisprudência, consignando-se, desde já, a divergência existente sobre o 
assunto. 
 
Segundo um entendimento ortodoxo, a reiteração diz respeito à prática de um segundo ato 
infracional, enquanto atos graves seriam aqueles para que a lei penal prevê a pena de reclusão. 
 
Segundo essa linha doutrinária e jurisprudencial, o ECA introduziu novas expressões no 
ordenamento, em substituição àquelas existentes no direito penal e processual penal. Assim, denomina 
ato infracional ao invés de crime; denomina representação ao invés de denúncia; e, também, denomina 
reiteração ao invés de reincidência. Desse modo, reiteração e reincidência seriam quase a mesma coisa, 
com a única diferença que aquela não estaria a exigir o trânsito em julgado da decisão anterior. 
 
Já a corrente adotada pelo STJ, a reiteração exige a prática de, no mínimo, dois atos 
infracionais, sendo que a gravidadedo ato deve ser analisada no caso em concreto. 
 
De se ressaltar que as hipóteses previstas nos incisos I e II do ECA fazem referência à 
internação com prazo indeterminado, com prazo máximo de três anos. 
 
O inciso III do ECA faz referência à internação com prazo determinado em razão da reiteração 
no descumprimento de medida anteriormente imposta. 
 
Ao proferir a sentença que aplica a medida sócio-educativa, encerra-se a fase de conhecimento 
e inicia-se a fase executiva, pelo qual haverá a fiscalização do cumprimento da medida imposta. 
 
Assim, identifica-se um processo de conhecimento para aplicação da medida, e um processo 
de execução, para fiscalização de seu cumprimento. 
 
Se, durante a fiscalização, for constatado o seu descumprimento de forma injustificada e 
reiterada, pode o Juiz impor internação com prazo determinado a noventa dias (internação-sanção). 
 
Portanto, em caso de descumprimento reiterado e injustificado de medida sócio-educativa, a lei 
prevê a possibilidade da imposição da internação com prazo limitado a noventa dias, devendo, para tanto, 
oferecer ampla oportunidade para que o adolescente se justifique (SÚMULA 265 DO STJ). 
 
São características da medida de internação, ainda: 
 
 É PERMITIDA A REALIZAÇÃO DE ATIVIDADES EXTERNAS, A CRITÉRIO DA EQUIPE 
TÉCNICA DA ENTIDADE, SALVO EXPRESSA DETERMINAÇÃO JUDICIAL EM 
CONTRÁRIO. Muito embora o adolescente permaneça contido no interior de uma entidade de 
atendimento, o ECA autoriza que ele participe de atividades externas, tais como apresentações 
musicais, campeonatos esportivos etc. Ocorre que, em tais oportunidades, a sua saída será 
supervisionada diretamente pelos técnicos da entidade, os quais deverão tomar todas as 
providências no sentido de que o adolescente não empreenda em fuga. Tal direito, no entanto, 
pode ser restrito pelo juiz. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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NESSE PONTO, A SEMILIBERDADE E A INTERNAÇÃO TAMBÉM SE DIFERENCIAM. 
ENQUANTO NA PRIMEIRA AS ATIVIDADES EXTERNAS SÃO DA NATUREZA DA 
MEDIDA, NÃO PODENDO SER RESTRITAS PELO JUIZ, NA SEGUNDA, MUITO EMBORA 
SEJAM GARANTIDAS, PODEM SER OBJETO DE RESTRIÇÃO JUDICIAL. 
 
 
 A MEDIDA, VIA DE REGRA, NÃO COMPORTA PRAZO DETERMINADO, SALVO NA 
HIPÓTESE DO INCISO III, DEVENDO SER REAVALIADA, NO MÁXIMO, A CADA SEIS 
MESES. Nas hipóteses dos incisos I e II, a medida será aplicada com prazo indeterminado, 
limitado, porém, a três anos. Nesses casos, a entidade de atendimento deverá proceder a 
estudo social e pessoal do caso, encaminhando relatórios à autoridade judiciária. Com base 
nesses relatórios, deverá a autoridade decidir se mantém ou não internação. A periodicidade 
de tal análise será de, no máximo, seis meses. 
 TERMINADO O PRAZO MÁXIMO DE TRÊS ANOS, O ADOLESCENTE DEVERÁ SER 
LIBERADO, INSERIDO EM SEMILIBERDADE OU EM LIBERDADE ASSISTIDA. SE, 
DURANTE ESSE PRAZO, O EX-ADOLESCENTE COMPLETAR VINTE E UM ANOS, 
HAVERÁ LIBERAÇÃO COMPULSÓRIA. 
 A DESINTERNAÇÃO, EM QUALQUER CASO, SERÁ PRECEDIDA DE AUTORIZAÇÃO 
JUDICIAL, OUVIDO SEMPRE O MINISTÉRIO PÚBLICO. 
 
 
 
A ação apropriada para a apuração do ato infracional e a aplicação da medida sócio-educativa 
cabível é a chamada ação sócio-educativa (ou também ação sócio-educativa pública), promovida 
exclusivamente pelo Ministério Público. Está disciplinada nos artigos 171 a 190, com aplicação subsidiária 
das regras do processo penal por força do disposto no art. 152. 
 
Identifica-se presente uma fase pré-processual, que vai desde a apreensão pela prática de ato 
infracional até o oferecimento de representação, se o caso. 
 
Apreendido em flagrante pela prática de ato infracional, o adolescente será apresentado 
imediatamente à autoridade policial, observando-se, em tudo, o seguinte: 
 
A) FORMALIDADES: deverá a autoridade observar as formalidades exigidas pelo artigo 173 
do ECA: dar conhecimento ao adolescente dos responsáveis pela apreensão; informá-lo 
sobre seus direitos; lavrar o respectivo auto de apreensão, ouvidos testemunhas e 
adolescente, salvo no caso de ato infracional praticado sem violência ou grave ameaça a 
pessoa, quando poderá lavrar simples boletim de ocorrência; apreender o produto e os 
instrumentos da infração; e, por fim, requisitar os exames ou perícias necessários à 
comprovação da materialidade e autoria da infração. 
 
B) LIBERAÇÃO DO ADOLESCENTE: comparecendo os pais ou responsáveis, deverá o 
adolescente ser imediatamente liberado, sob o compromisso de apresentação ao 
representante do Ministério Público no mesmo dia, ou no primeiro dia útil imediato. Caberá 
à autoridade policial encaminhar ao representante do Ministério Público cópia do boletim de 
ocorrência ou do auto de apreensão. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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C) APRESENTAÇÃO AO MINISTÉRIO PÚBLICO: no entanto, mesmo comparecendo os pais 
ou responsáveis, em razão da gravidade do ato infracional e de sua repercussão social, 
poderá a autoridade policial deixar de liberar o adolescente e encaminhá-lo, desde logo, ao 
Ministério Público. 
Se, no entanto, tal apresentação não puder ser feita de forma imediata, a autoridade policial 
encaminhará o adolescente a entidade de atendimento competente, que, por sua vez, fará a 
apresentação em 24 horas. 
No entanto, inexistindo entidade de atendimento na localidade, o adolescente aguardará na 
repartição policial, devendo a apresentação ser feita no prazo de vinte e quatro horas. 
 
D) apresentado o adolescente à autoridade policial, deverá esta lavrar o respectivo boletim de 
ocorrência, dando-lhe sendo direito do apreendido o conhecimento dos responsáveis pela 
apreensão, bem como de ser informado sobre seus direitos. 
 
Apresentado o adolescente ao Promotor de Justiça, este, à vista dos documentos previamente 
autuados pela Serventia Judicial, e com informações sobre os antecedentes, ouvirá informalmente o 
adolescente (oitiva informal), e, sendo possível, de seus responsáveis, vítima e testemunhas, e tomará 
uma das três providências: 
 
a) promoverá o arquivamento dos autos; 
b) proporá a concessão de remissão; 
c) oferecerá representação. 
 
A promoção do arquivamento será fundamentada na inexistência do ato infracional; inexistência 
da prova da participação do adolescente; presença de excludente da antijuridicidade ou de culpabilidade; 
inexistência de prova suficiente para a condenação. Estará condicionada à aceitação do Juiz, que poderá 
recusá-la, quando então o magistrado promoverá os autos ao Procurador Geral de Justiça para que, se o 
caso, designe outro Promotor de Justiça ou encampe o requerimento de arquivamento. 
 
Poderá a autoridade ministerial, ainda, propor a concessão de remissão. 
 
Identificam-se duas formas de remissão: a ministerial e a judicial. A primeira é concedida 
como forma de exclusão do processo e importa num perdão puro e simples quando não aplicada 
cumulativamente nenhuma medida sócio-educativa. A segunda é concedida pelo Juiz, após ouvido o 
Ministério Público, e importa, ora na suspensão do processo, ora na sua extinção. Pode ser concedida 
cumulativamente com aplicação de alguma das medidas sócio-educativas. 
 
A remissão não conta para efeitos de antecedentes e jamais poderá ser concedida 
cumulativamente com medidas privativas de liberdade. Não importa como reconhecimento da prática do 
ato infracional. 
 
Sustenta-se a inconstitucionalidade da cumulação de qualquer medida sócio-educativa com a 
remissão concedida como forma de exclusão do processo, uma vez que aquela importa necessariamente 
na obediência ao devido processo legal e à comprovação de culpa. 
 
Poderá o Ministério Público, ainda, inaugurar a ação sócio-educativa,oferecendo a respectiva 
representação, a qual não depende de prova pré-constituída da autoria e da materialidade. Nessa 
oportunidade, o parquet poderá requerer a internação provisória do adolescente, que será decretada pelo 
Juiz em decisão fundamentada, uma vez demonstrada a necessidade imperiosa da medida, e não 
ultrapassará o prazo de quarenta e cinco dias. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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Essa peça inicial será oferecida por escrito, que conterá o breve resumo dos fatos e a 
classificação do ato infracional. Nada impede, no entanto, que seja apresentada oralmente, em sessão 
diária instalada pela autoridade judiciária. 
 
O Juiz, então, receberá a representação e designará dia e hora para audiência de 
apresentação, oportunidade em que o adolescente será ouvido e poderá apresentar a sua versão sobre os 
fatos. Para tanto, será devidamente notificado. 
 
Se, para a notificação, o adolescente não for encontrado, a autoridade judiciária mandará 
expedir mandado de busca e apreensão, determinando o sobrestamento do feito, até a efetiva 
apresentação. 
 
No entanto, se o adolescente for encontrado e não comparecer à audiência, injustificadamente, 
será designada nova data, expedindo-se mandado de condução coercitiva. 
 
Na audiência de apresentação, poderá o Juiz conceder remissão judicial ou, se o caso, aplicar 
ao adolescente as medidas sócio-educativas em meio-aberto. Se o adolescente negar a prática do ato 
infracional, ou mesmo se confessando, for o caso de aplicação das medidas de semiliberdade ou de 
internação, designará o juiz audiência em continuação, quando então serão inquiridas as testemunhas 
arroladas pela acusação e pela defesa. Encerrada a instrução, na mesma audiência, as partes se 
manifestarão em debates orais e o juiz proferirá sentença. 
 
A sentença analisará a autoria e a materialidade da infração e, se de procedência, aplicará a 
medida sócio-educativa pertinente. 
 
Se aplicada medida sócio-educativa em meio aberto, o ECA autoriza a só intimação do 
Defensor. Tratando-se de medida restritiva de liberdade, deverá, além deste, ser intimado o adolescente 
(que se manifestará se deseja ou não recorrer) ou, na sua falta, os seus pais ou responsável 
 
7.DA EXECUÇÃO DAS MEDIDAS SOCIOEDUCATTIVAS. 
 
 A execução das medidas socioeducativas foi regulamentada pela Lei 12.594/2012. 
 
8.DOS RECURSOS. 
 
O Estatuto da Criança e do Adolescente adotou o sistema recursal previsto no Código de 
Processo Civil, com algumas alterações. Nesse passo, são cabíveis todos os recursos previstos pela lei 
processual civil, os quais independerão do recolhimento de preparo. Merece ser registrado quanto aos 
recursos: 
 
*terão preferência de julgamento e dispensarão revisor  princípio da prioridade absoluta; 
*Quanto aos efeitos, vide: 
 
* é possível o juízo de retratação quando interposta apelação; 
*prevalece a vontade do adolescente em recorrer; 
*os prazos para interpor e responder os recursos é de 10 dias, exceção feita aos embargos de declaração 
que deverão ser interpostos em cinco dias. Esses prazos serão contados em dobro para o Ministério 
Público e a Defensoria Pública (art. 5º, § 5º, da Lei 1060/50 ratificado pela LC 80/94); 
*o termo inicial para a contagem do prazo de apelação para a defesa, tratando-se de medidas de 
internação e semiliberdade, é contado a partir da última intimação, quer seja do defensor, quer seja do 
adolescente; 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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*as razões de apelação deverão ser apresentadas juntamente com a petição de interposição. 
 
 
9.DO CONSELHO TUTELAR 
 
 Sobre a nova sistemática dos Conselhos Tutelares, vide lei 12.692/2012. 
 
No dia 26 de julho de 2012 foi publicada a lei 12.696/12, que altera o Estatuto da Criança e do 
Adolescente estabelecendo novas regras para os conselhos tutelares. 
As novidades são: 
1. Mandato do Conselheiro Tutelar: foi ampliado para 4 (quatro) anos, não mais 3 (três) anos. 
A alteração é importante, pois possibilita a articulação das políticas de atendimento de longo prazo, 
que costuma ser prejudicada por constantes eleições e alterações na composição dos conselhos. 
Ademais, continua sendo possível a recondução, mediante novo processo eletivo. 
 
2. Direitos Trabalhistas do Conselheiro Tutelar. 
Passa a ser exigível que a Lei Municipal, que dispõe sobre o funcionamento dos conselhos 
tutelares, garanta remuneração, cobertura previdenciária, gozo de férias anuais remuneradas, 
acrescidas de 1/3 (um terço) do valor da remuneração mensal, licença-maternidade, licença-
paternidade e gratificação natalina. Antes da nova lei, os Municípios tinham a liberdade de garantir 
esses direitos aos conselheiros. Agora, existe a obrigação. 
 
3. Funcionamento dos Conselhos Tutelares. 
Deverá constar da lei orçamentária municipal e da do Distrito Federal previsão dos recursos 
necessários ao funcionamento do Conselho Tutelar e à remuneração e formação continuada dos 
conselheiros tutelares. 
A obrigação de se destinar verba à formação continuada dos conselheiros certamente trará 
benefícios para as crianças e adolescentes, pois o exercício da função de conselheiro por cidadãos 
mais bem preparados tende a incrementar a garantia de direitos para os infantes. 
Entretanto, ao contrário do que muitos agentes da rede de atendimento defendiam, o Estatuto 
continua não exigindo formação profissional do conselheiro, nem mesmo a demonstração de 
conhecimento específico quanto à defesa dos direitos das crianças e adolescentes. 
Mas, a exemplo do que já acontece em grande parte do território nacional, as leis municipais 
podem estabelecer exigências adicionais. 
 
4. Prerrogativas dos Conselheiros: o exercício efetivo da função de conselheiro continua 
constituindo serviço público relevante e estabelecendo presunção de idoneidade moral, mas não 
mais garante prisão especial até julgamento definitivo. 
A eliminação da prisão especial para os conselheiros tutelares está plenamente alinhada às últimas 
alterações legislativas do processo penal, que paulatinamente vem eliminando benefícios para o 
cumprimento de prisão cautelar. 
 
5. Eleições dos Conselhos Tutelares: continua sendo de responsabilidade dos Conselhos 
Municipais dos Direitos das Crianças. A novidade é que o processo de escolha dos membros do 
Conselho Tutelar ocorrerá em data unificada em todo o território nacional a cada 4 (quatro) anos, 
no primeiro domingo do mês de outubro do ano subsequente ao da eleição presidencial. Ademais, 
no processo de escolha dos membros do Conselho Tutelar, é vedado ao candidato doar, oferecer, 
prometer ou entregar ao eleitor bem ou vantagem pessoal de qualquer natureza, inclusive brindes 
de pequeno valor. Há ainda regra segundo a qual a posse dos conselheiros tutelares ocorrerá no 
dia 10 de janeiro do ano subsequente ao processo de escolha. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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A unificação das eleições vem em boa hora, pois permite melhor articulação das políticas de 
atendimento à infância em todos os níveis da federação. O regramento sobre a campanha eleitoral 
com vedação à doação, oferecimento, promessa ou entrega ao eleitor de bem ou vantagem pessoal 
de qualquer natureza, inclusive brindes de pequeno valor, tende a moralizar os processos 
eleitorais, que comumente acabam sendo conduzidos mediante trocas de favores, presentes, e 
promessas de benefícios e atendimento individualizado. 
 
6. Vigência das Alterações: as alterações entraram em vigor na data da publicação da lei, ou seja, no dia 
26 de julho de 2012. 
 
 
 
10.DOS PROCEDIMENTOS 
 
 O ECA previu procedimentos específicos para a perda e suspensão do poder

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