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Estatuto da Criança e do Adolescente Material Teórico Responsável pelo Conteúdo: Prof. Dr. Reinaldo Zychan de Moraes Revisão Textual: Prof.ª Dr.ª Alessandra Fabiana Cavalcanti Criança e Adolescente no Ordenamento Jurídico Nacional e Internacional • A Criança e o Adolescente na Constituição Federal; • Instrumentos Internacionais de Proteção; • Estatuto da Criança e do Adolescente; • Disposições Preliminares; • Direitos Fundamentais. · Apresentar os passos iniciais de nossa disciplina, em especial, abor- dando a forma como as crianças e os adolescentes são protegidas pelo Direito Interno de nosso país e pelo Direito Internacional. OBJETIVO DE APRENDIZADO Criança e Adolescente no Ordenamento Jurídico Nacional e Internacional Orientações de estudo Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem aproveitado e haja maior aplicabilidade na sua formação acadêmica e atuação profissional, siga algumas recomendações básicas: Assim: Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e horário fixos como seu “momento do estudo”; Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar; lembre-se de que uma alimentação saudável pode proporcionar melhor aproveitamento do estudo; No material de cada Unidade, há leituras indicadas e, entre elas, artigos científicos, livros, vídeos e sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você também encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão sua interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados; Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discus- são, pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e de aprendizagem. Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte Mantenha o foco! Evite se distrair com as redes sociais. Mantenha o foco! Evite se distrair com as redes sociais. Determine um horário fixo para estudar. Aproveite as indicações de Material Complementar. Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar; lembre-se de que uma Não se esqueça de se alimentar e de se manter hidratado. Aproveite as Conserve seu material e local de estudos sempre organizados. Procure manter contato com seus colegas e tutores para trocar ideias! Isso amplia a aprendizagem. Seja original! Nunca plagie trabalhos. UNIDADE Criança e Adolescente no Ordenamento Jurídico Nacional e Internacional A Criança e o Adolescente na Constituição Federal Em nosso sistema jurídico, a Constituição Federal desempenha um destacado papel, em razão do Princípio da Supremacia Constitucional. Segundo esse princípio, todas as normas do sistema jurídico somente podem ser consideradas válidas se guardarem compatibilidade com as disposições constitucio- nais. Assim, é o texto de nossa Carta Magna que estrutura todo o sistema norma- tivo. Isso faz com que todos os seus preceitos tenham uma destacada importância, pois sinalizam como determinados assuntos devem ser tratados pelas demais nor- mas que detalham as suas prescrições. Nesse contexto, podemos verificar que em nossa Constituição Federal, o trata- mento das questões que diretamente afeta a criança e o adolescente está especifi- camente inserido no Capítulo VII (Da família, da criança, do adolescente, do jovem e do idoso) de seu Título VIII (Da Ordem Social). Falaremos sobre os diversos pre- ceitos no decorrer de nossas aulas; contudo, precisamos destacar nesse momento algumas normas estabelecidas em nossa Lei Maior. Dever dos pais em relação aos seus filhos Há um complexo de deveres e de direitos que ligam pais e filhos, chamado de poder familiar, sendo que uma de suas faces mais importantes está atrelada ao dever de assistir, criar e educar seus filhos menores (art. 229, “caput”, da Constituição Federal). Constituição Federal Art. 229. Os pais têm o dever de assistir, criar e educar os filhos me- nores [...]. O exercício desse poder familiar se dá em igualdade de condições pelos pais e mães, não havendo proeminência de um sobre o outro, em nada importando o estado civil deles (se são casado, se vivem em união estável, etc.), sendo assegurado a qualquer deles o direito de, em caso de discordância, recorrer à autoridade judiciária competente para a solução da divergência. Abuso, violência e exploração de criança e de adolescente Como nossos constituintes tiveram uma especial preocupação em reconhecer o frágil papel da criança e do adolescente em nossa sociedade, foi por eles indicada a necessidade de que a nossa legislação tivesse uma maior severidade na apuração de casos de abuso, violência e exploração sexual. 8 9 Constituição Federal Art. 227 [...] § 4º - A lei punirá severamente o abuso, a violência e a exploração sexual da criança e do adolescente. Inimputabilidade penal dos menores de dezoito anos Outro assunto que também foi objeto de expressa estipulação constitucional se refere à inimputabilidade dos menores de dezoito anos, ou seja, crianças e adolescentes não estão sujeitas às normas do Código Penal (ou da legislação penal como um todo), quando da prática de condutas que possam se caracterizar como crimes ou contravenções penais. Constituição Federal Art. 228. São penalmente inimputáveis os menores de dezoito anos, sujeitos às normas da legislação especial. Nessas situações deve ser aplicada a legislação especial, ou seja, o Estatuto da Criança e do Adolescente. Igualdade entre os fi lhos Nossa Constituição Federal trouxe a plena igualdade entre os filhos, não sendo relevante se eles foram havidos ou não da relação do casamento, qual é o estado civil de seus pais (se são casados ou solteiros) ou se o filho é adotivo. Todos eles possuem os mesmos direitos, sendo que qualquer designação dis- criminatória nesse sentido deve ser abandonada em nossa legislação e nas ques- tões cotidianas. Constituição Federal Art. 227 [...] § 6º - Os filhos, havidos ou não da relação do casamento, ou por adoção, terão os mesmos direitos e qualificações, proibidas quaisquer designações discriminatórias relativas à filiação. Instrumentos Internacionais de Proteção Além de preceitos internos (leis, decretos, etc.), há diversos instrumentos inter- nacionais que, dentre vários assuntos, apresentam disposições que buscam reco- nhecer direitos das crianças e dos adolescentes, dentre eles, pode ser mencionado o Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos (adotado pela XXI Sessão da 9 UNIDADE Criança e Adolescente no Ordenamento Jurídico Nacional e Internacional Assembleia-Geral das Nações Unidas, em 16 de dezembro de 1966 e internaliza- do pelo Decreto n.º 592, de 6 de julho de 1992). Essa convenção internacional e outras foram criadas com o objetivo de reconhecer direitos humanos de todas as pessoas, sendo aplicável, inclusive, para crianças e adolescentes. Há nessas nor- mas poucas menções específicas para direitos de criança e de adolescentes, pois elas não buscam a proteção específica de certos grupos sociais. Há, contudo, alguns desses instrumentos que foram especificamente cunhados para tratar somente dos direitos das crianças e dos adolescentes, sendo que podemos destacar os seguintes: a Convenção Sobre os Direitos da Criança, Convenção Relativa à Proteção das Crianças e à Cooperação em Matéria de Adoção Internacional e a Convenção Sobre os Aspectos Civis do Sequestro Internacional de Crianças. Convenção Sobre os Direitos da Criança Essa convenção internacional foi adotada pela Assembleia Geral das Nações Unidas em 20 de novembro de 1989, sendo ratificada pelo Brasil em 24 de setembro de 1990, e internalizada por intermédio do Decreto n.º 99.710, de 21 de novembro de 1990. Por meio do Decreto n.º 5.007, de 8 de março de 2004, foi internalizado o ProtocoloFacultativo à Convenção, que se refere à venda de crianças, à prostituição e à pornografia infantil. Como um dos reflexos da adesão de nosso país a essa convenção foi estabelecida a Lei n.º 13.431/17, que estabelece um sistema de garantia de direitos da criança e do adolescente vítima ou testemunha de violência. Convenção Relativa à Proteção das Crianças e à Cooperação em Matéria de Adoção Internacional Essa convenção foi concluída em Haia, em 29 de maio de 1993, entrando em vigor, no âmbito internacional, em 1º de maio de 1995. Nosso país ratificou esse instrumento em 10 de março de 1999, sendo internalizada pelo Decreto n.º 3.087, de 21 de junho de 1999. Em razão desse instrumento internacional foi realizada uma grande alteração no Estatuto da Criança e do Adolescente, por intermédio da Lei n.º 12.010/09. Por meio do Decreto n.º 3.174, de 16 de setembro de 1999, foram designadas as Autoridades Centrais encarregadas de dar cumprimento a essa Convenção. O Decreto n.º 5.491, de 18 de julho de 2005, realizou, no âmbito de nosso país, a regulamentação de organismos estrangeiros e nacionais de adoção internacional. 10 11 Convenção sobre os Aspectos Civis do Sequestro Internacional de Crianças Esse instrumento foi concluído em 25 de outubro de 1980, em Haia, passando a ter vigência internacional em 1º de dezembro de 1983. Nosso país ratificou essa convenção em 19 de outubro de 1999, sendo interna- lizada pelo Decreto n.º 3.413, de 14 de abril de 2000. Por meio do Decreto n.º 3.951, de 4 de outubro de 2001, foi designada a Autoridade Central para dar cumprimento a essa Convenção. Estatuto da Criança e do Adolescente O Estatuto da Criança e do Adolescente foi criado pela Lei n.º 8.069, de 13 de julho de 1990, sendo fruto de muitos debates e da estruturação dada pelas diversas normas anteriormente mencionadas, ou seja, de nossa Constituição Federal e de diversas convenções internacionais que nosso país aderiu. Como pode ser observado, algumas dessas convenções são posteriores à elabo- ração da Lei n.º 8.069/90, razão pela qual acabaram por determinar importantes modificação do Estatuto, colocando-o sempre em sintonia com a evolução dos direitos internacionalmente reconhecidos das crianças e dos adolescentes. Considerando todo esse contexto, podemos afirmar que os direitos das crian- ças e dos adolescentes em nosso sistema jurídico podem ser representados da seguinte forma: ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOSLECENTE DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE CONVENÇÕES INTERNACIONAIS OUTRAS NORMAS LEGAIS NORMAS CONSTITUCIONAIS Figura 1 11 UNIDADE Criança e Adolescente no Ordenamento Jurídico Nacional e Internacional Ou seja, há uma somatória de normas constitucionais, com normas oriundas de convenções internacionais a que nosso país aderiu (e foram internalizados), com o texto do Estatuto e outras normas legais. Dentre essas outras normas legais podemos destacar, por exemplo, o Código Civil (Lei n.º 10.406/02), que, dentre vários assuntos, regula uma série de questões relacionadas aos direitos de crianças e adolescentes. É preciso destacar que estamos falando de normas específicas que incidem sobre os direitos da criança e do adolescente, contudo, há normas gerais que são aplicadas para todos, inclusive para esses destinatários. Por fim, com a criação do Estatuto da Criança e do Adolescente foi revogado o antigo Código de Menores, Lei n.º 6.697/79, que até então era o principal diploma reitor desse assunto. Disposições Preliminares O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) se inicia um título chamado de Disposições Preliminares que apresenta alguns importantes conceitos que são extremamente importantes para a compreensão de suas disposições. Conceito de criança e de adolescente O conceito de criança e de adolescente é apresentado pelo ECA em seu artigo 2º, cuja redação é a seguinte: ECA Art. 2º Considera-se criança, para os efeitos desta Lei, a pessoa até doze anos de idade incompletos, e adolescente aquela entre doze e dezoito anos de idade. Parágrafo único. Nos casos expressos em lei, aplica-se excepcionalmente este Estatuto às pessoas entre dezoito e vinte e um anos de idade. Temos assim que: • Criança: do nascimento até o dia da véspera de completar 12 anos de idade; • Adolescente: do dia do aniversário de 12 anos até a véspera de completar 18 anos. Para aquele que completou 18 anos não haverá a aplicação do ECA, salvo em situações excepcionais, conforme consta do parágrafo único de seu artigo 2º. Nes- ses casos essa aplicação somente poderá ocorrer até que a pessoa atinja 21 anos. Essas hipóteses excepcionais são as seguintes: • O artigo 121, § 5º, do ECA estabelece, no caso de aplicação da internação, a liberação compulsória aos 21 anos de idade, ou seja, esse é um dos limites máximos para a aplicação dessa medida socioeducativa. 12 13 • O artigo 40 do ECA prescreve que o adotado deve ter, no máximo 18 anos, salvo se já estiver sob a guarda ou tutela dos adotantes antes dessa idade. Nesse caso, entende-se que a efetivação da adoção poderá ocorrer, no máximo, se o adotado possuir 21 anos de idade. • A Lei n.º 13.431/17 criou um sistema de garantia de direitos da criança e do adolescente vítima ou testemunha de violência, que, dessa forma é aplicado para pessoa com até 18 anos, contudo, o parágrafo único do artigo 3º dessa norma firma que esse tratamento diferenciado pode, de forma facultativa, ser aplicado para pessoas com idades entre os 18 e os 21 anos. Um conceito mais recentemente incorporado ao sistema protetivo é o de pri- meira infância, sendo que ele é estabelecido pela Lei n.º 13.257/16, abrangendo os seis anos completos ou os setenta e dois primeiros meses de vida da crian- ça, sendo que essa norma estabelece a necessidade de serem criados planos, políticas, programas e serviços que objetivem atender às especificidades dessa faixa etária. Sistema de Proteção Integral O Estatuto estabeleceu o chamado Sistema de Proteção Integral de proteção de crianças e adolescentes, ou seja, cabe à família, à sociedade e ao Estado zelar pelo pleno respeito dos direitos desses destinatários. Constituição Federal Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão. [...] Dessa forma, mesmo que haja, por exemplo, negligência dos pais em relação aos direitos dos filhos (crianças ou adolescentes), a sociedade e o Estado devem possuir instrumentos que sejam aptos para superar essa situação. Seguindo a orientação constitucional, que estabelece o dever de todos no zelo dos direitos de crianças e adolescentes, estabelece o artigo 13 da Lei n.º 13.431/17 o seguinte: Lei 13.431/17 Art. 13. Qualquer pessoa que tenha conhecimento ou presencie ação ou omissão, praticada em local público ou privado, que constitua violência contra criança ou adolescente tem o dever de comunicar o fato imediata- mente ao serviço de recebimento e monitoramento de denúncias, ao con- selho tutelar ou à autoridade policial, os quais, por sua vez, cientificarão imediatamente o Ministério Público. [...] 13 UNIDADE Criança e Adolescente no Ordenamento Jurídico Nacional e Internacional Contudo, não basta que existam normas estabelecendo o dever de proteção des- ses direitos, é necessário que eles, efetivamente, sejam utilizados para fazer cessar esse desrespeito. Além disso, estabelece esse sistema de proteção a priorização de atendimento, dessa forma, as práticas e as políticas públicas devem buscar maior agilidade para o trato de questões diretamente afetas às necessidades das crianças e dos adolescentes. Direitos Fundamentais Direitos fundamentais são aqueles direitoshumanos básicos reconhecidos pelo Estado, sendo seu dever respeitá-los e propiciar condições para que sejam plena- mente gozados. Como foi acima frisado, podemos destacar duas perspectivas desses direitos: • aqueles afetos a todos, inclusive crianças e adolescentes; • aqueles especificamente criados para atender à peculiar situação da criança e do adolescente. Vamos destacar em nosso estudo aqueles direitos fundamentais próprios para a especial situação das crianças e adolescentes. Direito à vida e à saúde O Estatuto em relação a esses dois importantes bens jurídicos, vida e saúde, es- tabelece uma série de diretrizes indicativas de medidas que devem ser desenvolvidas até mesmo antes do nascimento, fazendo com que a legislação se preocupe com a gestante, com os atos que cercam o nascimento, com a prevenção de doenças e males que afligem os primeiros anos de vida da criança, com o aleitamento mater- no, dentre outros assuntos relacionados. ECA Art. 7º A criança e o adolescente têm direito à proteção à vida e à saúde, mediante a efetivação de políticas sociais públicas que permitam o nas- cimento e o desenvolvimento sadio e harmonioso, em condições dignas de existência. Sobre a gestante, a parturiente e a nutriz deve ser destacado que o ECA prescreve que: • O Sistema Único de Saúde deve proporcionar um adequado atendimento pré e perinatal. • A parturiente, sempre que possível, deverá ser atendida pelo mesmo médico que a acompanhou na fase pré-natal. 14 15 • O Poder Público deve, sempre que necessário, propiciar apoio alimentar à gestante e à nutriz que dele necessitem. • O Poder Público deve ser proporcionar assistência psicológica à gestante e à mãe, inclusive para aquelas que manifestem interesse em entregar seus filhos para adoção (sendo que estas mães devem ser encaminhadas à Justiça da Infância e da Juventude). • Devem ser asseguradas condições adequadas ao aleitamento materno, inclusi- ve aos filhos de mães submetidas à medida privativa de liberdade. Particularmente em relação ao parto e aos atos que dele se seguem, estabe- lece o Estatuto que os hospitais e os estabelecimentos de saúde: • Devem manter prontuários individuais e registros das atividades desenvolvidas, os quais devem ser preservados por, pelo menos, 18 anos. • Devem identificar o recém-nascido mediante o registro de sua impressão plan- tar, bem como pela impressão digital da mãe, sem prejuízo de outras formas de identificação que possam ser estabelecidas. • Devem realizar exames para o diagnóstico e o tratamento de anormalidades no metabolismo do recém-nascido (“teste do pezinho”). • Devem fornecer a declaração de nascimento, com eventuais intercorrências do parto e do desenvolvimento do neonato. • Devem manter o alojamento conjunto, de forma que o neonato permaneça junto à sua mãe. • Devem permanecer na unidade hospitalar e orientar sobre o processo de ama- mentação, inclusive no que se refere à técnica mais adequada para realizá-la. A criança e o adolescente têm direito a um integral atendimento à sua saúde no Sistema Único de Saúde, devendo ser destacado: • A criança e o adolescente portadores de deficiência devem ter atendimento especializado. Esse atendimento deve abranger, dentre outros aspectos a sua habilitação e reabilitação, conforme estabelece o Estatuto da Pessoa com Deficiência (Lei n.º 13.146/15). Estatuto da Pessoa com Deficiência Art. 14. O processo de habilitação e de reabilitação é um direito da pessoa com deficiência. Parágrafo único. O processo de habilitação e de reabilitação tem por ob- jetivo o desenvolvimento de potencialidades, talentos, habilidades e apti- dões físicas, cognitivas, sensoriais, psicossociais, atitudinais, profissionais e artísticas que contribuam para a conquista da autonomia da pessoa com deficiência e de sua participação social em igualdade de condições e de oportunidades com as demais pessoas. 15 UNIDADE Criança e Adolescente no Ordenamento Jurídico Nacional e Internacional • Os medicamentos, as próteses e os outros recursos relativos ao tratamento, à habilitação ou à reabilitação devem ser fornecidos gratuitamente àqueles que necessitarem. • Os estabelecimentos de atendimento à saúde, inclusive as unidades neonatais, de terapia intensiva e de cuidados intermediários, deverão proporcionar con- dições para a permanência em tempo integral de um dos pais ou do responsá- vel, nos casos de internação de criança ou adolescente. • A vacinação das crianças é obrigatória nos casos recomendados pelas autori- dades sanitárias. Os casos de suspeita ou de confirmação de maus-tratos contra criança ou adolescente devem, obrigatoriamente, ser comunicados ao Conselho Tutelar da respectiva localidade, o que não exclui outras providências cabíveis ao caso. Por fim, deve ser destacado que o Artigo nº. 227 da Constituição Federal esta- belece a necessidade de que sejam criadas políticas públicas específicas para pro- mover a saúde de crianças e adolescentes, devendo ser destinadas verbas orça- mentárias para o seu desenvolvimento. Essa determinação abrange uma especial preocupação com aqueles que possuem necessidades especiais, bem como para o tratamento daqueles que estejam sob a dependência de drogas. Constituição Federal Art. 227 [...] § 1º O Estado promoverá programas de assistência integral à saúde da criança, do adolescente e do jovem, admitida a participação de entidades não governamentais, mediante políticas específicas e obedecendo aos seguintes preceitos: I - aplicação de percentual dos recursos públicos destinados à saúde na assistência materno-infantil; II - criação de programas de prevenção e de atendimento especializado para as pessoas portadoras de deficiência física, sensorial ou mental, bem como de integração social do adolescente e do jovem portador de deficiência, mediante o treinamento para o trabalho e a convivência, e a facilitação do acesso aos bens e serviços coletivos, com a eliminação de obstáculos arquitetônicos e todas as formas de discriminação. [...] § 3º - O direito à proteção especial abrangerá os seguintes aspectos: [...] VII - programas de prevenção e de atendimento especializado à criança, ao adolescente e ao jovem dependente de entorpecentes e drogas afins. 16 17 Direito à liberdade, ao respeito e à dignidade A criança e o adolescente têm direito à liberdade, ao respeito e à dignidade, sendo necessário sempre considerar sua especial situação, ou seja, que são pessoas em processo de desenvolvimento. Essa liberdade abrange, em especial, os seguintes aspectos: • Direito de ir, vir e estar nos logradouros públicos e espaços comunitários, ressalvadas as restrições legais. • Direito de expressão e de opinião. • Direito de ter respeitada a sua crença e seus cultos religiosos. • Direito de brincar, praticar esportes e divertir-se. Esses direitos, como não poderia deixar de ser, abrangem o respeito à invio- labilidade da integridade física, psíquica e moral, especialmente no que se refere à preservação de sua imagem e identidade, sendo obrigação de todos velar pela dignidade da criança e do adolescente, para que não estejam sujeitos a qualquer tratamento desumano, violento, aterrorizante, vexatório ou constrangedor. Essa preservação da dignidade de criança e adolescente abrange o direito de ser educados e cuidados sem o uso de castigo físico ou de tratamento cruel ou degra- dante, como formas de correção, disciplina, educação ou qualquer outro pretexto. Assim, não podem os pais, os integrantes da família ampliada, os responsáveis, os agentes públicos executores de medidas socioeducativas ou qualquer pessoa encar- regada de prestar-lhes cuidado, utilizar-se desses meios. Objetivando dar menor subjetividade, o Estatuto apresenta a conceituação de: Estatuto da Criança e do Adolescente Art. 18 – A [...] Parágrafo único: [...] I - castigo físico: ação de natureza disciplinar ou punitiva aplicada com o uso da força física sobre a criança ou o adolescente que resulteem: a) sofrimento físico; ou b) lesão; II - tratamento cruel ou degradante: conduta ou forma cruel de tratamento em relação à criança ou ao adolescente que: a) humilhe; ou b) ameace gravemente; ou c) ridicularize. 17 UNIDADE Criança e Adolescente no Ordenamento Jurídico Nacional e Internacional A utilização desses meios, além de poderem caracterizar a prática de crimes, faz com que os responsáveis por essas práticas estejam sujeitos a medidas que são aplicadas pelo Conselho Tutelar, sendo as seguintes: • encaminhamento à programa oficial ou comunitário de proteção à família; • encaminhamento à tratamento psicológico ou psiquiátrico; • encaminhamento a cursos ou programas de orientação; • obrigação de encaminhar a criança à tratamento especializado; • advertência. Buscando aumentar os níveis de proteção de crianças e adolescentes contra atos de violência, a Lei n.º 13.431/17 estabeleceu um sistema de garantia de seus direitos. Dentre várias medidas, essa norma apresentou uma detalhada defi- nição das mais variadas formas de violência a que crianças e adolescentes podem estar submetidos. Lei n.º 13.431/17 Art. 4º Para os efeitos desta Lei, sem prejuízo da tipificação das condutas criminosas, são formas de violência: I - violência física, entendida como a ação infligida à criança ou ao adolescente que ofenda sua integridade ou saúde corporal ou que lhe cause sofrimento físico; II - violência psicológica: a) qualquer conduta de discriminação, depreciação ou desrespeito em re- lação à criança ou ao adolescente mediante ameaça, constrangimento, humilhação, manipulação, isolamento, agressão verbal e xingamento, ridi- cularização, indiferença, exploração ou intimidação sistemática (bullying) que possa comprometer seu desenvolvimento psíquico ou emocional; b) ato de alienação parental, assim entendido como a interferência na formação psicológica da criança ou do adolescente, promovida ou in- duzida por um dos genitores, pelos avós ou por quem os tenha sob sua autoridade, guarda ou vigilância, que leve ao repúdio de genitor ou que cause prejuízo ao estabelecimento ou à manutenção de vínculo com este; c) qualquer conduta que exponha a criança ou o adolescente, direta ou indiretamente, a crime violento contra membro de sua família ou de sua rede de apoio, independentemente do ambiente em que cometido, particularmente quando isto a torna testemunha; III - violência sexual, entendida como qualquer conduta que constranja a criança ou o adolescente a praticar ou a presenciar conjunção carnal ou qualquer outro ato libidinoso, inclusive exposição do corpo em foto ou em vídeo por meio eletrônico ou não, que compreenda: a) abuso sexual, entendido como toda ação que se utiliza da criança ou do adolescente para fins sexuais, seja conjunção carnal ou outro ato libidinoso, realizado de modo presencial ou por meio eletrônico, para a estimulação sexual do agente ou de terceiro; 18 19 b) exploração sexual comercial, entendida como o uso da criança ou do adolescente em atividade sexual em troca de remuneração ou qualquer outra forma de compensação, de forma independente ou sob patro- cínio, apoio ou incentivo de terceiro, seja de modo presencial ou por meio eletrônico; c) tráfico de pessoas, entendido como o recrutamento, o transporte, a transferência, o alojamento ou o acolhimento da criança ou do adoles- cente, dentro do território nacional ou para o estrangeiro, com o fim de exploração sexual, mediante ameaça, uso de força ou outra forma de coação, rapto, fraude, engano, abuso de autoridade, aproveitamento de situação de vulnerabilidade ou entrega ou aceitação de pagamento, entre os casos previstos na legislação; IV - violência institucional, entendida como a praticada por instituição pública ou conveniada, inclusive quando gerar revitimização. Dentre as diversas formas de violência apresentadas por essa norma devem ser destacadas duas delas, as quais têm sido alvo de muitas discussões em nossa sociedade: o “bullying” e a alienação parental. Direito à convivência familiar e comunitária A criança e o adolescente têm direito de ser criada em sua família natural e, excepcionalmente, em uma família substituta, além disso, tem direito de participar da vida na comunidade onde reside. Os pais, em razão do poder familiar, exercem em igualdade de condições os deveres de sustento, guarda e educação dos filhos menores (crianças ou adolescentes), sendo que eventual descumprimento pode acarretar medidas judiciais aplicadas pelo Juiz da Infância e da Juventude. Em casos mais extremos pode ocorrer a suspensão ou a perda desse poder, o que possibilita a colocação da criança ou do adolescente em uma família substituta. Deve ser frisado que todas essas situações somente podem ocorrer em processo judicial em que se possibilite aos pais o pleno exercício do contraditório. Se o descumprimento desses deveres decorrer, exclusivamente, da falta ou da carência de recursos materiais não é possível a decretação da suspensão ou a perda do poder familiar, sendo que essa família deverá ser inscrita em programa oficial de auxílio. ECA Art. 23. A falta ou a carência de recursos materiais não constitui motivo suficiente para a perda ou a suspensão do poder familiar. § 1.º Não existindo outro motivo que por si só autorize a decretação da medida, a criança ou o adolescente será mantido em sua família de origem, a qual deverá obrigatoriamente ser incluída em serviços e em programas oficiais de proteção, apoio e promoção. [...] 19 UNIDADE Criança e Adolescente no Ordenamento Jurídico Nacional e Internacional Outra questão relevante que deve ser analisada com muito cuidado se relaciona às situações em que o pai ou a mãe sofrem uma condenação criminal. Nesse caso, não há uma presunção de que se faz necessária a suspensão ou a destituição do poder familiar. Contudo, se algum deles praticar crime doloso, sujeito à pena de reclusão, contra o próprio filho ou filha, essa medida se fará necessária. Família Natural O § 4º do artigo 226 da Constituição Federal apresenta um conceito de entidade familiar, cuja redação é a seguinte: Constituição Federal Art. 226 [...] § 4º - Entende-se, também, como entidade familiar a comunidade formada por qualquer dos pais e seus descendentes. Esse conceito influenciou na formulação do conceito de família natural, cons- tante do “caput” do artigo 25 do ECA. ECA Art. 25. Entende-se por família natural a comunidade formada pelos pais ou qualquer deles e seus descendentes. O ECA também estabelece um conceito relacionado ao da família natural, a que ele denomina de família extensa ou ampliada, englobando outros parentes próximos com quem a criança ou o adolescente mantém convivência e vínculos de afinidade e de afetividade. ECA Art. 25 [...] Parágrafo único. Entende-se por família extensa ou ampliada aquela que se estende para além da unidade pais e filhos ou da unidade do casal, formada por parentes próximos com os quais a criança ou o adolescente convive e mantém vínculos de afinidade e de afetividade. Reconhecimento do estado de filiação O reconhecimento do estado de filiação é um dos direitos de personalidade mais importantes de nossa legislação, pois desse reconhecimento decorrem importantes efeitos para a pessoa natural. Em razão dessas características, esse direito: • não pode ser transmitido; • é irrenunciável; 20 21 • não pode sofrer qualquer limitação voluntária; e • não está sujeito à prescrição. Ele pode ser exercido a qualquer tempo, contra os pais ou outros herdeiros, sendo que o processo corre em segredo de Justiça. Essas características estão expressamente indicadas no artigo 11 do Código Civil e no artigo 27 do ECA. Código Civil Art. 11. Com exceção dos casos previstos em lei, os direitos da persona- lidade são intransmissíveis e irrenunciáveis, não podendo o seu exercício sofrer limitação voluntária. ECA Art. 27. O reconhecimento do estado de filiação é direito personalíssimo,indisponível e imprescritível, podendo ser exercitado contra os pais ou seus herdeiros, sem qualquer restrição, observado o segredo de Justiça. O reconhecimento de filhos havidos fora do casamento pode ocorrer de forma conjunta ou separadamente pelos pais, sendo que ele pode ser formalizado de várias formas, conforme estabelece o Artigo no. 1.609 do Código Civil e o Artigo 26 do ECA: • no registro do nascimento; • por escritura pública ou escrito particular, que deve ser arquivado no cartório onde se procedeu ao registro; • por testamento, ainda que incidentalmente manifestado; • por manifestação direta e expressa perante o juiz, ainda que o reconhecimento não haja sido o objeto único e principal do ato que o contém. O reconhecimento, em qualquer dessas formas, não está sujeito a qualquer forma de revogação. Ele pode preceder o nascimento do filho ou ser posterior ao seu falecimento, contudo, neste último caso, somente poderá ocorrer se ele deixar descendentes – isso impossibilita que os pais reconheçam os filhos já falecidos somente com a intenção de participarem da sucessão de seus bens. Família Substituta Não havendo a possibilidade de manutenção da criança ou do adolescente em sua família natural, ou mesmo na extensa, ele poderá ser inserido em uma família substituta. Essa é uma medida excepcional, pois todos os esforços devem ser realizados para que ela não ocorra. 21 UNIDADE Criança e Adolescente no Ordenamento Jurídico Nacional e Internacional No ECA as três formas de colocação em família substituta decorrem: • da guarda; • da tutela; • da adoção. Essas três possibilidades serão detidamente estudadas em outra unidade. Direito à educação, à cultura, ao esporte e ao lazer O direito à educação é também tratado pelo ECA, devendo ser destacados os seguintes preceitos: • Deve ser garantido o acesso à escola pública e gratuita nas proximidades da residência da criança e do adolescente. Esse é um direito público subjetivo, ou seja, pode ser exigido judicialmente em caso de descumprimento por parte do Poder Público, além de poder acarretar a responsabilização da autoridade pública que não ofertou vagas suficientes. • Deve ser obrigatório o ensino fundamental, inclusive para aqueles que não tiveram acesso a ele na idade própria. • Têm direito ao atendimento em creche e pré-escola, crianças de zero a cinco anos de idade. • Deve ocorrer o atendimento educacional especializado aos portadores de ne- cessidades especiais, preferencialmente na rede regular de ensino. Para isso, se faz necessário que haja um aprimoramento do sistema educacional para que se estabeleçam condições de acesso, permanência, participação e aprendizagem. Estatuto da Pessoa com Deficiência Art. 28. Incumbe ao poder público assegurar, criar, desenvolver, imple- mentar, incentivar, acompanhar e avaliar: I - sistema educacional inclusivo em todos os níveis e modalidades, bem como o aprendizado ao longo de toda a vida; II - aprimoramento dos sistemas educacionais, visando a garantir condi- ções de acesso, permanência, participação e aprendizagem, por meio da oferta de serviços e de recursos de acessibilidade que eliminem as barrei- ras e promovam a inclusão plena; [...] • Deve haver a oferta de ensino noturno regular, adequado às condições do adolescente trabalhador. 22 23 • Devem ser criados programas suplementares de material didático-escolar, transporte, alimentação e assistência à saúde, para o ensino fundamental. O Estatuto, ao se referir ao ensino médio, estabelece que deveria haver uma gra- dual e progressiva extensão da sua obrigatoriedade, contudo, a Lei n.º 12.796/13, ao modificar a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (Lei n.º 9.394/96), estabele- ceu que o ensino médio é parte integrantes do ensino básico obrigatório (Art. 4º, inciso I da LDB), assim os preceitos do ECA, nesse particular, se encontram superados pela nova forma como a nossa legislação trata do assunto. Os pais ou o responsável têm a obrigação de matricular seus filhos ou pupilos na rede regular de ensino, sendo que a falta de observância desse preceito pode, inclusive, acarretar a caracterização da infração penal prevista no Artigo 246 do Código Penal – “Abandono intelectual”. Estabelece o Artigo 56 do ECA o dever dos dirigentes dos estabelecimentos de ensino fundamental de comunicar ao Conselho Tutelar os casos de: ECA Art. 56 [...] I - maus-tratos envolvendo seus alunos; II - reiteração de faltas injustificadas e de evasão escolar, esgotados os recursos escolares; III - elevados níveis de repetência. Direito à profi ssionalização e à proteção ao trabalho O adolescente tem direito à profissionalização e à proteção no trabalho, sempre se observando o respeito à sua peculiar condição de pessoa em desenvolvimento, devendo haver esforços do Poder Público e da sociedade para que haja a sua capacitação profissional adequada ao mercado de trabalho. Uma questão que deve ser observada com atenção se refere à idade em que o adolescente pode ingressar no mercado de trabalho, pois, na redação original da Constituição Federal de 1988 havia a indicação de uma idade mínima em dois lugares (inciso XXXIII do artigo 7º e inciso I do §3º do Artigo 227). Essa indicação foi repetida pelo ECA (Artigo 60). Ocorre, contudo, que o inciso XXXIII do Artigo 7º do texto constitucional foi alterado pela Emenda Constitucional n.º 20/98, mas essa mudança não ocorreu nem no outro dispositivo de nossa Carta Magna, nem no ECA, o que pode gerar alguma confusão para um leitor mais desavisado dessas normas. 23 UNIDADE Criança e Adolescente no Ordenamento Jurídico Nacional e Internacional Observe o esquema abaixo que indica essa situação: Situação Anterior Art. 7º, XXXIII, CF Art. 227, §3º, I, CF Art. 60 ECA PROIBIÇÃO DO TRABALHO PARA O MENOR DE 14 ANOS, SALVO NA CONDIÇÃO DE APRENDIZ EMENDA CONSTITUCIONAL N.º 20/98 Art. 7º, XXXIII, CF Art. 227, §3º, I, CF Art. 60 ECA PROIBIÇÃO DO TRABALHO PARA O MENOR DE 16 ANOS, SALVO NA CONDIÇÃO DE APRENDIZ PROIBIÇÃO DO TRABALHO PARA O MENOR DE 14 ANOS, SALVO NA CONDIÇÃO DE APRENDIZ REVOGAÇÃO TÁCITA DAS DISPOSIÇÕES ANTERIORES Figura 2 Portanto, hoje a disposição que possui vigência é a seguinte: Constituição Federal Art. 7º [...] XXXIII - proibição de trabalho noturno, perigoso ou insalubre a menores de dezoito e de qualquer trabalho a menores de dezesseis anos, salvo na condição de aprendiz, a partir de quatorze anos; 24 25 O ECA estabelece alguns padrões sobre a formação técnico-profissional e a aprendizagem, as quais são detalhadas na legislação trabalhista. ECA Art. 62. Considera-se aprendizagem a formação técnico-profissional minis- trada segundo as diretrizes e as bases da legislação de educação em vigor. Art. 63. A formação técnico-profissional obedecerá aos seguintes princípios: I - garantia de acesso e frequência obrigatória ao ensino regular; II - atividade compatível com o desenvolvimento do adolescente; III - horário especial para o exercício das atividades. Art. 64. Ao adolescente até quatorze anos de idade é assegurada bolsa de aprendizagem. [...] Art. 66. Ao adolescente portador de deficiência é assegurado trabalho protegido. Muito embora o adolescente maior de 16 anos possa trabalhar, o Artigo 67 do ECA estipula uma série de restrições, as quais são estabelecidas em razão de sua peculiar situação de pessoa em formação. ECA Art. 67. Ao adolescente empregado, aprendiz, em regime familiar de trabalho, aluno de escola técnica, assistido em entidade governamental ou não-governamental, é vedado trabalho: I - noturno, realizado entre as vinte e duas horas de um dia e as cinco horas do dia seguinte; II - perigoso, insalubre ou penoso; III - realizado em locais prejudiciais à sua formação e ao seu desenvolvi- mento físico, psíquico, moral e social; IV - realizado em horários e em locais que não permitam a frequência à escola. 25 UNIDADE Criança e Adolescente no Ordenamento JurídicoNacional e Internacional Material Complementar Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade: Leitura Constituição Federal https://goo.gl/zaRrL Estatuto da Criança e do Adolescente https://goo.gl/1NtGKk Convenção sobre os Direitos da Criança https://goo.gl/LPU4JW Convenção Relativa à Proteção das Crianças e à Cooperação em Matéria de Adoção Internacional https://goo.gl/qcGTBt Convenção sobre os Aspectos Civis do Sequestro Internacional de Crianças https://goo.gl/RFJgKY 26 27 Referências CUNHA, Rogério Sanches; LÉPORE, Paulo Eduardo; ROSSATO, Luciano Alves. Estatuto da criança e do adolescente comentado. 4. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2012. ISHIDA, Valter Kenji. Estatuto da criança e do adolescente. 14. ed. São Paulo: Atlas, 2013. MORAES, Alexandre de. Direito constitucional. 29. ed. São Paulo: Atlas, 2013. PIOVESAN, Flávia. Direitos humanos e o direito constitucional internacional. 14. ed. São Paulo: Saraiva, 2013. 27 Estatuto da Criança e do Adolescente Material Teórico Responsável pelo Conteúdo: Prof. Dr. Reinaldo Zychan de Moraes Revisão Textual: Prof. Esp. Claudio Pereira do Nascimento A Colocação em Família Substituta • Direito à Convivência Familiar; • Família Substituta. · Compreender de que forma o Estatuto da Criança e do Adolescente, ao disciplinar as relações familiares, estabelece a priorização de manutenção da criança e do adolescente em sua família natural, ou de que forma este propõe uma família substituta. OBJETIVO DE APRENDIZADO A Colocação em Família Substituta Orientações de estudo Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem aproveitado e haja maior aplicabilidade na sua formação acadêmica e atuação profissional, siga algumas recomendações básicas: Assim: Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e horário fixos como seu “momento do estudo”; Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar; lembre-se de que uma alimentação saudável pode proporcionar melhor aproveitamento do estudo; No material de cada Unidade, há leituras indicadas e, entre elas, artigos científicos, livros, vídeos e sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você também encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão sua interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados; Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discus- são, pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e de aprendizagem. Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte Mantenha o foco! Evite se distrair com as redes sociais. Mantenha o foco! Evite se distrair com as redes sociais. Determine um horário fixo para estudar. Aproveite as indicações de Material Complementar. Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar; lembre-se de que uma Não se esqueça de se alimentar e de se manter hidratado. Aproveite as Conserve seu material e local de estudos sempre organizados. Procure manter contato com seus colegas e tutores para trocar ideias! Isso amplia a aprendizagem. Seja original! Nunca plagie trabalhos. UNIDADE A Colocação em Família Substituta Direito à Convivência Familiar Considerações Iniciais Como vimos em nossa aula anterior, o Estatuto da Criança e do Adolescente estabeleceu em seu Título II os diversos Direitos Fundamentais reconhecidos pelo Estado brasileiro para as crianças e adolescente, sendo que, dentre eles está o Di- reito à Convivência Familiar e Comunitária (Capítulo III). Mais do que apreciar meramente questões formais ou de conveniências, o legis- lador apontou uma clara direção que deve ser seguida, ou seja, a criança e o adoles- cente, como pessoas em formação, necessitam estar inseridos na vida comunitária dela participando ativamente, contudo, isso não se compara à importância que a família representa. ECA Art. 19. Toda criança ou adolescente tem direito a ser criado e educado no seio da sua família e, excepcionalmente, em família substituta, assegurada a convivência familiar e comunitária, em ambiente livre da presença de pessoas dependentes de substâncias entorpecentes. Para que haja uma maior clareza de linguagem, o legislador buscou definir as várias formas que a família pode apresentar. Na Constituição Federal está a definição de entidade familiar. Constituição Federal Art. 226 [...] § 4º - Entende-se, também, como entidade familiar a comunidade formada por qualquer dos pais e seus descendentes. Essa definição, como vimos na aula passada, em muito influenciou os conceitos apresentados no ECA, sobretudo o conceito de família natural. Antes de retornarmos a esses conceitos, vamos falar sobre poder familiar. Poder familiar O poder familiar é um complexo de direitos e deveres que liga os pais, em igual- dade de condições, aos seus filhos. ECA Art. 21. O poder familiar será exercido, em igualdade de condições, pelo pai e pela mãe, na forma do que dispuser a legislação civil, assegurado a qualquer deles o direito de, em caso de discordância, recorrer à autoridade judiciária competente para a solução da divergência. O poder familiar anteriormente recebia o nome do “pátrio poder”, contudo, essa denominação foi abandonada pelo Código Civil (Lei n.º 10.406/02) e, 8 9 posteriormente, todas as menções a essa nomenclatura foram alteradas no ECA pela Lei n.º 12.010/09. Como está claramente disposto no ECA, o poder familiar é exercido de forma conjunta pelos pais, em igualdade de condições, sendo que eventuais divergências devem ser objeto de decisão judicial. Em decorrência desse poder, aos pais incumbe o sustento, guarda e educação dos filhos, além da obrigação de cumprir decisões judiciais eventualmente prolatadas para regular alguma questão que, direta ou indiretamente, possa influenciar nos direitos da criança ou do adolescente. ECA Art. 22. Aos pais incumbe o dever de sustento, guarda e educação dos filhos menores, cabendo-lhes ainda, no interesse destes, a obrigação de cumprir e fazer cumprir as determinações judiciais. Parágrafo único. A mãe e o pai, ou os responsáveis, têm direitos iguais e deveres e responsabilidades compartilhados no cuidado e na educação da criança, devendo ser resguardado o direito de transmissão familiar de suas crenças e culturas, assegurados os direitos da criança estabelecidos nesta Lei. Quando os pais não cumprem com os deveres inerentes ao poder familiar ou, de qualquer outra forma, colocam os filhos menores em condições que afetem seus di- reitos básicos, ocorre uma conduta irregular que poderá acarretar a suspensão ou a perda desse poder. Contudo, se a família está sujeita a condições de miserabilidade e não há outra razão para o descumprimento desses deveres, não poderá o juiz de- terminar essa medida tão drástica, devendo determinar que o Poder Público a insira em um programa assistencial para que os direitos das crianças sejam respeitados. ECA Art. 23. A falta ou a carência de recursos materiais não constitui motivo suficiente para a perda ou a suspensão do poder familiar. § 1º Não existindo outro motivo que por si só autorize a decretação da medida, a criança ou o adolescente será mantido em sua família de origem, a qual deverá obrigatoriamente ser incluída em serviços e programas oficiais de proteção, apoio e promoção. [...] O ECA estabelece que essa drástica medida de suspensão ou perda do poder familiar somente pode ocorrer em razão de decisão judicial, em processo em que se permita aos pais exercer o contraditório. ECA Art. 24. A perda e a suspensão do poder familiar serão decretadas judicialmente, em procedimento contraditório, nos casos previstos na legislação civil, bem como na hipótese de descumprimentoinjustificado dos deveres e obrigações a que alude o art. 22. 9 UNIDADE A Colocação em Família Substituta Família natural O conceito de família natural é bastante restrito, abrangendo somente os pais, ou qualquer um deles (ante a falta do outro) e seus descendentes. ECA Art. 25. Entende-se por família natural a comunidade formada pelos pais ou qualquer deles e seus descendentes. Quando o filho nasce (ou é concebido) na constância do casamento, a legislação presume o estado de filiação, ou seja, presume que as pessoas casadas são o pai e a mãe da criança. Nesse sentido, podemos observar que o artigo 1.597 do Código Civil estabelece uma série de situações em que essa presunção encontra arrimo. Código Civil Art. 1.597. Presumem-se concebidos na constância do casamento os filhos: I - nascidos cento e oitenta dias, pelo menos, depois de estabelecida a convivência conjugal; II - nascidos nos trezentos dias subsequentes à dissolução da sociedade conjugal, por morte, separação judicial, nulidade e anulação do casamento; III - havidos por fecundação artificial homóloga, mesmo que falecido o marido; IV - havidos, a qualquer tempo, quando se tratar de embriões excedentários, decorrentes de concepção artificial homóloga; V - havidos por inseminação artificial heteróloga, desde que tenha prévia autorização do marido. Observe que essa presunção abrange situações decorrentes da relação conjugal – incisos I e II – que se ligam ao provável período de convivência dos pais, bem como situações que envolvem de concepção artificial homóloga (com material genético do pai e da mãe) ou heteróloga (com material genético somente da mãe ou do pai), contudo, neste último caso, com clara autorização do marido. Há, contudo, situações outras em que se faz necessário o reconhecimento desse estado de filiação. Isso ocorre, normalmente, pela realização de declaração dos pais quando da lavratura do termo de nascimento (também conhecido como “registro de nascimento”). Além disso, também é admitido esse reconhecimento por outras formas não contenciosas (como vimos em nossa aula anterior). ECA Art. 26. Os filhos havidos fora do casamento poderão ser reconhecidos pelos pais, conjunta ou separadamente, no próprio termo de nascimento, por testamento, mediante escritura ou outro documento público, qualquer que seja a origem da filiação. Parágrafo único. O reconhecimento pode preceder o nascimento do filho ou suceder-lhe ao falecimento, se deixar descendentes. 10 11 Também devemos acrescentar que esse reconhecimento também pode decorrer de processo judicial contencioso, promovido contra os pais (ou qualquer um deles), ou ainda contra seus herdeiros. ECA Art. 27. O reconhecimento do estado de filiação é direito personalíssimo, indisponível e imprescritível, podendo ser exercitado contra os pais ou seus herdeiros, sem qualquer restrição, observado o segredo de Justiça. Família extensa ou ampliada Outro importante conceito é o de família extensa ou ampliada, que, sem excluir o conceito de família natural, o aumenta ao inserir outros parentes ligados à criança ou ao adolescente com os quais há convivência e laços de afinidade e afetividade. ECA Art. 25 [...] Parágrafo único. Entende-se por família extensa ou ampliada aquela que se estende para além da unidade pais e filhos ou da unidade do casal, formada por parentes próximos com os quais a criança ou adolescente convive e mantém vínculos de afinidade e afetividade. Acolhimento familiar ou institucional Em razão de diversas situações, tais como abandono e suspensão do poder familiar, que podem colocar a criança ou o adolescente em uma situação pessoal e jurídica de risco, deve ocorrer a sua colocação em um programa de acolhimento. A colocação em acolhimento se dá por decisão do Juiz da Infância e Juventude, contudo, em caráter excepcional e de urgência, essas entidades podem acolher crianças e adolescentes sem prévia determinação do magistrado, havendo, contudo, a obrigação de comunicar o ocorrido ao juiz da infância e da juventude no prazo de 24 horas. Esse programa pode ser familiar ou institucional, sendo que nele se objetivará, sempre que isso for possível, a sua reinserção em sua família natural ou extensa. O ECA parte do pressuposto que é a família (natural ou extensa) o melhor lugar para que a criança ou o adolescente se desenvolva e alcance a maior idade. Durante o período de acolhimento, deve o Poder Público acompanhar, por in- termédio de uma equipe interprofissional ou multidisciplinar, as medidas que são realizadas para se buscar atingir essa reinserção, sendo que, pelo menos a cada três meses, deve o juiz reavaliar a situação da criança ou do adolescente. Nessa reavaliação, poderá o juiz, em razão das provas existentes e do parecer da equipe interprofissional ou multidisciplinar, decidir pela possibilidade de reintegração familiar ou pela colocação em família substituta, em quaisquer de suas modalidades – guarda, tutela ou adoção. 11 UNIDADE A Colocação em Família Substituta O acolhimento institucional da criança ou adolescente não pode se prolongar por mais de dezoito meses, exceto se houver comprovada necessidade que atenda ao seu interesse, devendo essa situação ser sempre decidida de forma fundamentada pelo Juiz da Infância e Juventude. Apadrinhamento O apadrinhamento foi criado pela Lei n.º 13.509/17 e busca estabelecer e proporcionar à criança e ao adolescente que se encontram em acolhimento vínculos externos à instituição para fins de convivência familiar e comunitária e colaboração com o seu desenvolvimento nos aspectos social, moral, físico, cognitivo, educacional e financeiro. Para viabilizar a aplicação desse instituto, devem ser criados programas de apa- drinhamento, onde devem ser estabelecidos, dentre outros elementos, os seguintes: • Requisitos e perfis das pessoas que podem participar do programa; • Perfil das crianças e adolescentes que serão beneficiados pelo programa, de- vendo ter preferência aquelas que possuem remota possibilidade de reinserção familiar ou colocação em família adotiva. Os padrinhos e madrinhas devem ser pessoas maiores de dezoito anos, que não estejam inscritas nos cadastros de adoção, desde que cumpram os requisitos exigidos pelo programa de apadrinhamento de que fazem parte. As pessoas jurídicas podem fazer parte desses programas realizando o apadri- nhamento de crianças e adolescentes. Os programas ou serviços de apadrinhamento devem ser apoiados pela Justiça da Infância e da Juventude e podem ser executados por órgãos públicos ou por or- ganizações da sociedade civil. Família Substituta Características da medida O ECA somente admite três formas de colocação da criança e do adolescente em uma família substituta, ou seja, a guarda, a tutela e a adoção. ECA Art. 28. A colocação em família substituta far-se-á mediante guarda, tutela ou adoção, independentemente da situação jurídica da criança ou adolescente, nos termos desta Lei. 12 13 Em razão da severidade dessa medida, sempre se faz necessária que essa colo- cação ocorra por decisão judicial, devendo ser observado que: • A criança ou o adolescente será sempre ouvido por uma equipe multiprofissional e considerada a sua opinião. Naturalmente, deve ser levado em conta o seu grau de desenvolvimento e de compreensão sobre essa medida. • No caso de adolescente, será necessário seu consentimento, que será colhido em audiência. • Em sua decisão o juiz deve levar em conta o grau de parentesco e a relação de afinidade ou de afetividade, buscando evitar ou minorar as consequências decorrentes da medida. • Quando essa medida recair sobre grupos de irmãos, deve haver o cuidado de que todos eles sejam colocados sob adoção, tutela ou guarda da mesma família substituta, salvo se comprovada a possibilidade de risco de abuso ou outra situação que justifique plenamente a excepcionalidade de solução diversa. Nessas situações extremas, deve-se procurar evitar o rompimento definitivodos vínculos fraternais. • A colocação em família substituta deve ser precedida de preparação gradativa e acompanhamento posterior. Quem recebe a criança ou o adolescente em família substituta, não pode transferi-lo a qualquer outra pessoa ou entidade, salvo se houver expressa determinação judicial. O ECA é expresso em determinar que não deferirá colocação em família subs- tituta a pessoa que revele: • incompatibilidade com a natureza da medida; • não ofereça ambiente familiar adequado. Por fim, estabelece o ECA que estrangeiros não podem receber a guarda ou a tutela de crianças e adolescentes, sendo somente admissível a adoção, contudo, essa medida deve sempre ser considerada excepcional (artigo 31 do ECA). Guarda A guarda é a forma mais simples de colocação em família substituta, podendo ser usada: • Para a regularização de situações de fato; • Como forma inicial ou incidental durante o processo de adoção ou tutela, salvo se os adotantes forem estrangeiros; • Para suprir a falta eventual dos pais; • Em outras situações peculiares. 13 UNIDADE A Colocação em Família Substituta O guardião deve prestar assistência material, moral e educacional à criança ou adolescente, tendo o direito de se opor a terceiros, inclusive aos pais, sendo que estes continuam com o dever de prestar alimentos. Ao estabelecer a guarda, o juiz regulará o direito de visita dos pais, porém esse direito não será reconhecido quando: • houver fato grave que justifique a medida, situação em que o juiz deverá ex- pressamente proibir as visitas; • a colocação em guarda ocorrer como uma medida preparatória em um pro- cesso de adoção. Entre o guardião e a criança ou adolescente submetido à medida não se estabelece uma relação de parentesco, mas de dependência, para todos os fins e efeitos de direito, inclusive previdenciários. A guarda pode ser revogada a qualquer tempo, mediante ato judicial fundamen- tado, ouvido o Ministério Público. Tutela A tutela é uma forma de colocação em família substituta que tem como carac- terística a atual ausência do poder familiar, seja em razão do falecimento dos pais ou a prévia perda ou suspensão desse poder, sendo que o tutor passa a cuidar da pessoa do tutelado (criança ou adolescente implicado com essa medida), bem como de seus bens. Como vimos, essa forma de colocação em família substituta somente pode ser deferida por decisão judicial, contudo, há uma segunda possibilidade, ou seja, os pais podem nomear o tutor em testamento ou outro documento autêntico, contudo, neste último caso, é necessário que esse tutor, no prazo de trinta dias após a abertura da sucessão, ingresse com pedido destinado ao controle judicial do ato. Nesse controle da tutela testamentária, o juiz somente irá deferir a medida se restar comprovado que ela é vantajosa ao tutelado e que não existe outra pessoa em melhores condições de assumi-la. Da mesma forma que a guarda, a tutela poderá ser revogada por decisão judicial, ouvido o Ministério Público. Adoção Das formas de colocação da criança ou do adolescente em uma família substituta, a adoção é a mais complexa e a que causa maiores implicações legais e pessoais a todas as pessoas envolvidas – adotante e adotado. Como vimos, o ECA tem como pressuposto básico que a criança ou o adolescente deve permanecer junto à sua família natural, sendo que todos os esforços da família, da sociedade e do Estado devem estar voltados para esse objetivo. 14 15 Dessa forma, a adoção constitui uma medida excepcional, que somente pode ser utilizada quando não houver condições de manutenção da criança ou do ado- lescente em sua família natural ou extensa. Outra característica da adoção é que ela é irrevogável, pois com ela se estabelece o parentesco entre o adotado e o adotante, bem como entre adotado e os demais parentes do adotante, sem a possibilidade de, pela vontade de quem quer que seja, se retornar à situação anterior. Requisitos • O adotando (criança ou adolescente submetida a essa medida) deve possuir, no máximo, dezoito anos à data do pedido, salvo se já estiver sob a guarda ou tutela dos adotantes. Neste caso, a efetivação da adoção deverá ocorrer, no máximo, aos vinte e um anos de idade do adotado. • O adotante deve ser maior de dezoito anos e ser, pelo menos, dezesseis anos mais velho do que o adotando. • O estado civil do adotante não é causa de impedimento para a adoção, sendo que: » Os adotantes, quando forem casados ou viverem em união estável, poderão adotar em conjunto, desde que comprovada a estabilidade da família. » Os divorciados, os judicialmente separados e os ex-companheiros podem adotar conjuntamente, porém: » Precisam estabelecer um acordo sobre a guarda e o regime de visitas. » O estágio de convivência deve ter sido iniciado na constância do período de convivência. » Deve ser comprovada a existência de vínculos de afinidade e afetividade com aquele não detentor da guarda, que justifiquem a excepcionalidade da concessão. • É possível que um dos cônjuges adote o filho do outro. • É vedada a adoção por ascendentes e por irmãos do adotando. A adoção pode ocorrer mesmo após a morte do adotante (adoção póstuma), desde que: • Ele ingresse com o processo de adoção. • O falecimento ocorra durante a tramitação do processo (antes de prolatada a sentença). • Antes do seu falecimento, o adotante tenha, de forma inequívoca, manifestado a sua vontade de adotar. Na adoção póstuma, os efeitos retroagem à data da morte do adotante. A adoção somente pode ser deferida quando apresentar reais vantagens para o adotando e fundar-se em motivos legítimos. 15 UNIDADE A Colocação em Família Substituta Características Com a adoção, diferentemente das outras formas de colocação de família subs- tituta, o adotado passa ser filho do adotante, com os mesmos direitos e deveres, inclusive sucessórios. Outra consequência é que há o rompimento do vínculo entre o adotado e sua famí- lia natural e demais parentes, salvo no que se refere aos impedimentos matrimoniais. Nem a morte dos adotantes pode restabelecer o poder familiar dos pais naturais. Consentimento para a adoção Para que ocorra a adoção é necessário que haja o consentimento dos pais ou do representante legal do adotando, contudo, esse consentimento é dispensado se os pais forem desconhecidos (tais como ocorre, com certa frequência, nos casos de abandono de crianças recém-nascidas) ou se eles forem destituídos do poder familiar. Quando o adotando for maior de doze anos de idade, será também necessário o seu consentimento. Registro civil do adotado O vínculo da adoção constitui-se por sentença judicial que será inscrita no regis- tro civil mediante mandado. A inscrição consignará o nome dos adotantes como pais, sendo que também constatará o nome dos seus ascendentes. Não se admite qualquer observação sobre a origem desse registro, ou seja, não há qualquer men- ção sobre a adoção. Com essa inscrição ocorrerá o cancelamento do registro original do adotado. Na sentença, o juiz especificará que o adotado passa a ter o nome do adotante e, a pedido de qualquer deles, poderá determinar a modificação do prenome. A adoção produz seus efeitos a partir do trânsito em julgado da sentença consti- tutiva, exceto na adoção póstuma, pois, como foi acima mencionado, seus efeitos retroagem à data do óbito do adotante. Conservação do processo de adoção O processo relativo à adoção, bem como outros a ele relacionados, deve ser mantido em arquivo, devendo ser garantida a sua conservação para consulta a qualquer tempo. Isso é particularmente importante, em razão do ECA garantir ao adotado o di- reito de conhecer sua origem biológica. Para tanto, após completar dezoito anos, o adotado pode obter acesso irrestrito ao seu processo de adoção. Há também a possibilidade de que esse acesso seja deferido ao adotado menor de dezoito anos, a seu pedido, assegurada orientação e assistência jurídica e psicológica. 16 17 Estágio de convivênciaO estágio de convivência é uma etapa importante do processo de adoção, sendo que realizado antes da decisão final, por prazo máximo de 90 dias, fixado pelo juiz, observada idade da criança ou adolescente e as peculiaridades do caso. Esse prazo poderá ser prorrogado por igual período pela autoridade judiciária, se houver razões que demonstrem a sua necessidade. Pode, contudo, esse estágio ser dispensado se o adotando já estiver sob a tutela ou guarda legal do adotante durante tempo suficiente para que seja possível avaliar a conveniência da constituição do vínculo. Deve, contudo, ser observado que a simples guarda de fato (aquela sem decisão judicial que a determine ou a regularize) não autoriza, por si só, a dispensa da realização do estágio de convivência. No caso de adoção por pessoa ou casal residente ou domiciliado fora do território nacional (adoção internacional), o estágio de convivência será de, no mínimo trinta dias e no máximo de quarenta e cinco dias (prorrogável somente uma vez por igual período). Nesse caso, seu cumprimento deve ocorrer, integralmente. ECA Art. 46 [...] § 5o O estágio de convivência será cumprido no território nacional, pre- ferencialmente na comarca de residência da criança ou adolescente, ou, a critério do juiz, em cidade limítrofe, respeitada, em qualquer hipótese, a competência do juízo da comarca de residência da criança. O estágio de convivência é um período de extrema importância para que o juiz possa verificar se a adoção, realmente, irá trazer verdadeiros benefícios para a criança ou o adolescente, sendo que haverá o acompanhamento por uma equipe interprofissional, que irá apresentar um relatório minucioso acerca da conveniência do deferimento da medida. Cadastro de crianças e adolescentes em condições de serem adotadas e de interessados Em cada comarca ou foro regional devem ser organizados dois tipos de registros: • das crianças e adolescentes em condições de serem adotados; • de pessoas interessadas na adoção. Esse registro é realizado após consulta aos órgãos técnicos do juízo, bem como da manifestação do Ministério Público. No caso das pessoas que postulam a adoção, o registro deve ser precedido de um período de preparação psicossocial e jurídica, onde o interessado receberá orientações da equipe técnica da Justiça da Infância e da Juventude. Sempre que presentes condições para que isso ocorra, essa preparação incluirá o contato com crianças e adolescentes em acolhimento familiar ou institucional em condições de serem adotados. 17 UNIDADE A Colocação em Família Substituta Esses cadastros locais devem estar interligados a cadastros estaduais e nacional, sendo que, em regra, não se defere a adoção a pessoa que não faça parte deles. Também deve ser criado um cadastro para pessoas ou casais residentes fora do País, que somente serão consultados na inexistência de postulantes nacionais habilitados nos cadastros estaduais e nacional. O Ministério Público é incumbido de realizar a fiscalização desses cadastros. Adoção internacional O regramento da adoção internacional no ECA sofreu uma grande modificação com a Lei n.º 12.010/09, que incorporou os preceitos da Convenção de Haia - Relativa à Proteção das Crianças e à Cooperação em Matéria de Adoção Internacional, de 29 de maio de 1993 (aprovada pelo Decreto Legislativo n.º 1, de 14 de janeiro de 1999, e promulgada pelo Decreto n.º 3.087, de 21 de junho de 1999). Em razão das disposições da mencionada Convenção, a definição de adoção internacional é a seguinte: ECA Art. 51. Considera-se adoção internacional aquela na qual o pretendente possui residência habitual em país-parte da Convenção de Haia, de 29 de maio de 1993, relativa à Proteção das Crianças e à Cooperação em Maté- ria de Adoção Internacional, promulgada pelo Decreto no 3.087, de 21 ju- nho de 1999, e deseja adotar criança em outro país-parte da Convenção. [...] Sobre essa diferenciada forma de adoção, precisamos destacar os seguintes elementos: • A adoção internacional somente poderá ocorrer se, após consulta ao cadastro de pessoas ou casais habilitados à adoção, mantido pela Justiça da Infância e da Juventude na comarca, bem como nos cadastros estaduais e nacional não forem encontrados interessados com residência permanente no Brasil. • Excepcionalmente, somente poderá ser deferida a adoção para pessoa não domiciliada em nosso país e que não esteja no cadastro de interessados. • Os brasileiros residentes no exterior terão preferência aos estrangeiros, nos casos de adoção internacional de criança ou adolescente brasileiro. • A pessoa ou casal estrangeiro interessado em adotar criança ou adolescente brasileiro deverá formular pedido de habilitação à adoção perante a Autoridade Central em matéria de adoção internacional no seu país de acolhida, ou seja, naquele de sua residência habitual. 18 19 • Se a Autoridade Central do país de acolhida considerar que os solicitantes estão habilitados e aptos para adotar, emitirá um relatório que será por aquela Autoridade remetido para a Autoridade Central Estadual Brasileira, com cópia para a Autoridade Central Federal Brasileira. • Os documentos em língua estrangeira devem ser devidamente autenticados pela autoridade consular, bem como devem estar acompanhados da respectiva tradução, por tradutor público juramentado. • Verificada a compatibilidade da legislação estrangeira com a nacional, além do preenchimento dos requisitos por parte dos postulantes, a Autoridade Central Estadual expedirá um laudo de habilitação à adoção internacional, que terá validade por, no máximo, um ano. • Com o laudo de habilitação, o interessado será autorizado a formalizar pedido de adoção perante o Juízo da Infância e da Juventude do local em que se encontra a criança ou adolescente. Como foi anteriormente mencionado, o estágio de convivência deve ser realiza- do, obrigatoriamente, em nosso território. Durante a tramitação do processo de adoção, a criança ou adolescente não po- derá sair do território nacional, sendo que, com a decisão transitada em julgado, o juiz expedirá alvará autorizando a expedição de passaporte para o adotando e, em seguida, autoriza a sua saída para o país de acolhida. A Autoridade Central Federal Brasileira poderá, a qualquer momento, solicitar informações sobre a situação das crianças e adolescentes adotados. Prazo do processo de adoção O processo de adoção deve ser encerrado no prazo de cento e vinte dias, somente se admitindo que haja uma prorrogação que não poderá ultrapassar esse período. ECA Art. 47 [...] § 10. O prazo máximo para conclusão da ação de adoção será de 120 (cento e vinte) dias, prorrogável uma única vez por igual período, mediante decisão fundamentada da autoridade judiciária. 19 UNIDADE A Colocação em Família Substituta Material Complementar Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade: Leitura Estatuto da Criança e do Adolescente https://goo.gl/9ULiJB Constituição Federal https://goo.gl/zaRrL Código Civil https://goo.gl/1k18iF Convenção de Haia Relativa à Proteção das Crianças e à Cooperação em Matéria de Adoção Internacional https://goo.gl/qcGTBt 20 21 Referências CUNHA, Rogério Sanches; LÉPORE, Paulo Eduardo; ROSSATO, Luciano Alves. Estatuto da criança e do adolescente comentado. 4. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2012. ISHIDA, Valter Kenji. Estatuto da criança e do adolescente. 14. ed. São Paulo: Atlas, 2013. MORAES, Alexandre de. Direito constitucional. 29. ed. São Paulo: Atlas, 2013. PIOVESAN, Flávia. Direitos humanos e o direito constitucional internacional. 14. ed. São Paulo: Saraiva, 2013. 21 Estatuto da Criança e do Adolescente Material Teórico Responsável pelo Conteúdo: Prof. Dr. Reinaldo Zychan de Moraes Revisão Textual: Prof.ª Dr.ª Selma Aparecida Cesarin Conselho Tutelar e Acesso à Justiça • Conselho Tutelar; • Acesso à Justiça. · Estudar as estruturas utilizadas pelo Estatuto da Criança edo Ado- lescente para tornar realidade os seus diversos preceitos. Não basta que a norma crie direitos e obrigações, é necessário que ela esta- beleça quais são as pessoas e os Órgãos Públicos que devem atuar para que os comandos da Lei façam parte de nosso dia a dia. Nesse contexto, o Estatuto da Criança e do Adolescente criou os Conselhos Tutelares e os Juizados da Infância e da Juventude, que são impor- tantes estruturas que atuam em várias situações em que os direitos das crianças e dos adolescentes estão em risco ou que, efetivamente, estão sendo lesados. Dentro do Sistema de Proteção Integral, tam- bém criado pelo Estatuto, faz-se necessário que a sociedade conheça essas estruturas e saiba qual é a missão delas, pois, assim, estaremos contribuindo para que a Lei se torne uma verdadeira realidade. OBJETIVO DE APRENDIZADO Conselho Tutelar e Acesso à Justiça Orientações de estudo Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem aproveitado e haja maior aplicabilidade na sua formação acadêmica e atuação profissional, siga algumas recomendações básicas: Assim: Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e horário fixos como seu “momento do estudo”; Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar; lembre-se de que uma alimentação saudável pode proporcionar melhor aproveitamento do estudo; No material de cada Unidade, há leituras indicadas e, entre elas, artigos científicos, livros, vídeos e sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você também encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão sua interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados; Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discus- são, pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e de aprendizagem. Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte Mantenha o foco! Evite se distrair com as redes sociais. Mantenha o foco! Evite se distrair com as redes sociais. Determine um horário fixo para estudar. Aproveite as indicações de Material Complementar. Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar; lembre-se de que uma Não se esqueça de se alimentar e de se manter hidratado. Aproveite as Conserve seu material e local de estudos sempre organizados. Procure manter contato com seus colegas e tutores para trocar ideias! Isso amplia a aprendizagem. Seja original! Nunca plagie trabalhos. UNIDADE Conselho Tutelar e Acesso à Justiça Conselho Tutelar Considerações Iniciais O Conselho Tutelar é um importante órgão criado pelo Estatuto da Criança e do Adolescente, pois participa ativamente do sistema de proteção integral criado por essa norma. O Estatuto apresenta esse Órgão em seu Artigo 131, cuja redação é a seguinte: Estatuto da Criança e do Adolescente Art. 131. O Conselho Tutelar é órgão permanente e autônomo, não jurisdicional, encarregado pela sociedade de zelar pelo cumprimento dos direitos da criança e do adolescente, definidos nesta Lei. Dessa definição, precisamos destacar os seguintes elementos: • Órgão permanente: significa que ele deve ser constituído formalmente e deve atuar de forma contínua; • Órgão autônomo: apesar de possuir ligações com o Poder Público Municipal e com a Vara da Infância e Juventude da Comarca, não está subordinado a eles; • Órgão não jurisdicional: significa que ele não está na estrutura do Poder Judiciário e que suas decisões não possuem características de decisões judiciais. A sociedade incumbiu os Conselhos Tutelares de zelar pelo efetivo respeito dos direitos das crianças e dos adolescentes. Lei municipal ou distrital deve dispor sobre o local, o dia e o horário de funcio- namento do Conselho Tutelar, bem como sobre a remuneração dos respectivos membros (Artigo 134 do ECA). Constituição dos Conselhos Tutelares Cada município e cada região administrativa do Distrito Federal devem ter, pelo menos, um Conselho Tutelar. Características desses Conselhos: • São formados por 5 membros; • Seus membros são escolhidos pela população local; • O mandato dos membros dos Conselhos é de 4 anos, sendo permitida uma única recondução, mediante novo processo de escolha: 8 9 Estatuto da Criança e do Adolescente Art. 132. Em cada Município e em cada Região Administrativa do Distrito Federal haverá, no mínimo, 1 (um) Conselho Tutelar como órgão integrante da administração pública local, composto de 5 (cinco) membros, escolhidos pela população local para mandato de 4 (quatro) anos, permitida 1 (uma) recondução, mediante novo processo de escolha. Para que alguém concorra a uma das vagas no Conselho Tutelar, deve atender aos seguintes requisitos: • Possuir reconhecida idoneidade moral; • Ter idade superior a 21 anos; • Residir no município em que pretende atuar: Estatuto da Criança e do Adolescente Art. 133. Para a candidatura a membro do Conselho Tutelar, serão exigidos os seguintes requisitos: I - reconhecida idoneidade moral; II - idade superior a vinte e um anos; III - residir no município. Além dos requisitos mencionados no Artigo 133, o pretendente a uma vaga do Conselho Tutelar não pode incidir em nenhum dos impedimentos apontados no Artigo 140 do Estatuto. Esses impedimentos são os seguintes: Não podem servir no mesmo Conselho: • Marido e mulher; • Ascendentes e descendentes; • Sogro e genro ou nora; • Irmãos; • Cunhados, durante o cunhadio; • Tio e sobrinho; • Padrasto ou madrasta e enteado. Também não pode o integrante do Conselho Tutelar possuir os tipos de parentesco citados, ou relação conjugal, com: • O juiz que atua na Vara da Infância e Juventude; • O promotor de justiça que atua junto à Vara da Infância e Juventude: 9 UNIDADE Conselho Tutelar e Acesso à Justiça Estatuto da Criança e do Adolescente Art. 140. São impedidos de servir no mesmo Conselho marido e mulher, ascendentes e descendentes, sogro e genro ou nora, irmãos, cunhados, durante o cunhadio, tio e sobrinho, padrasto ou madrasta e enteado. Parágrafo único. Estende-se o impedimento do conselheiro, na forma deste Artigo, em relação à autoridade judiciária e ao representante do Ministério Público com atuação na Justiça da Infância e da Juventude, em exercício na comarca, foro regional ou distrital. Processo de escolha – Artigo 139 O processo de escolha dos membros do Conselho Tutelar: • É estabelecido em Lei Municipal; • É realizado sob a responsabilidade do Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente, sendo fiscalizado pelo Ministério Público; • Esse processo de escolha ocorre a cada 4 anos, no primeiro domingo do mês de outubro do ano subsequente ao da eleição presidencial1; • O dia em que se desencadeia esse processo de escolha é unificado nacionalmente. No processo de escolha, o pretendente a uma vaga no Conselho Tutelar não pode doar, oferecer, prometer ou entregar ao eleitor bem ou vantagem pessoal de qualquer natureza, inclusive brindes de pequeno valor. Os conselheiros tomam posse no dia 10 de janeiro do ano subsequente ao do processo de escolha. Atribuições As principais atribuições do Conselho Tutelar estão descritas no Artigo 136 do ECA: Estatuto da Criança e do Adolescente Art. 136. São atribuições do Conselho Tutelar: I - atender as crianças e adolescentes nas hipóteses previstas nos arts. 98 e 105, aplicando as medidas previstas no art. 101, I a VII; II - atender e aconselhar os pais ou responsável, aplicando as medidas previstas no art. 129, I a VII; III - promover a execução de suas decisões, podendo, para tanto: a) requisitar serviços públicos nas áreas de saúde, educação, serviço social, previdência, trabalho e segurança; 1 Como as eleições para Presidente da República ocorrem a cada
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