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Direito Processual Penal- aula 2

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INTENSIVO I 
Renato Brasileiro 
Direito Processual Penal 
Aula 2 
 
 
ROTEIRO DE AULA 
 
 
Noções introdutórias II 
 
4. Princípio do “Nemo Tenetur se Detegere” (continuação) 
 
4.5. Nemo tenetur se detegere e a prática de outros ilícitos 
Apesar de ninguém ser obrigado a produzir provas contra si mesmo, nenhum direito pode ser usado como escudo 
protetor para a realização de atividades ilícitas, pois não há nenhum direito com valor absoluto. 
Exemplo 1: crime de fraude processual, previsto no art. 347, CP. 
 
CP, art. 147. “Inovar artificiosamente, na pendência de processo civil ou administrativo, o estado de lugar, de coisa ou 
de pessoa, com o fim de induzir a erro o juiz ou o perito: 
Pena - detenção, de três meses a dois anos, e multa. 
Parágrafo único - Se a inovação se destina a produzir efeito em processo penal, ainda que não iniciado, as penas 
aplicam-se em dobro” 
 
O professor cita o caso do casal Nardoni, o qual foi acusado e condenado por fraude processual. A defesa, no caso deste 
crime específico (alteração da cena do crime), alegou o princípio do nemo tenetur se detegere, afirmando que ninguém 
é obrigado a produzir provas contra si mesmo. Entretanto, tal princípio não dá direito à pessoa de cometer outras 
infrações para se eximir da anterior. 
 
➢ O Superior Tribunal de Justiça assim se pronunciou no habeas corpus impetrado em favor de A. N. e A. C. J, 
denunciados pelo homicídio triplamente qualificado de Isabela Nardoni, e também por fraude processual, em 
decorrência da alteração do local do crime: “(...) O direito à não auto-incriminação não abrange a possibilidade 
 
 
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de os acusados alterarem a cena do crime, inovando o estado de lugar, de coisa ou de pessoa, para, criando 
artificiosamente outra realidade, levar peritos ou o próprio Juiz a erro de avaliação relevante (...)”. (STJ, 5ª 
Turma, HC 137.206/SP, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, j. 01/12/2009, DJe 01/02/2010). 
 
Exemplo 2: crime de falsa identidade (art. 307, CP). 
 
CP, art. 307. “Atribuir-se ou atribuir a terceiro falsa identidade para obter vantagem, em proveito próprio ou alheio, ou 
para causar dano a outrem: 
Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa, se o fato não constitui elemento de crime mais grave.” 
 
É muito comum que o acusado por qualquer delito e que esteja foragido, ao ser preso, falseie a sua identidade. Os 
Tribunais Superiores entendem que, neste caso, também não é possível alegar o princípio do nemo tenetur se detegere, 
pois o princípio não dá o direito de a pessoa falsear a sua própria identidade. Esse entendimento foi sumulado pelo STJ 
(Súmula 522): 
 
Súmula 522 do STJ: “A conduta de atribuir-se falsa identidade perante autoridade policial é típica, ainda que em 
situação de alegada autodefesa”. Terceira Seção, aprovada em 25/3/2015, DJe 6/4/2015. 
 
Exemplo 3: art. 305, CTB (Lei 9.503/97). 
 
CTB, art. 305. “Art. 305. Afastar-se o condutor do veículo do local do acidente, para fugir à responsabilidade penal ou 
civil que lhe possa ser atribuída: 
Penas - detenção, de seis meses a um ano, ou multa.” 
 
No caso de crimes de trânsito, o afastamento do condutor do local do acidente causa algumas polêmicas. Alguns 
doutrinadores consideram tal crime inconstitucional. 
Entretanto, no fim de 2018, o STF considerou este crime constitucional, afirmando que o condutor tem o dever de 
permanecer no local, mas não é obrigado a produzir provas contra si mesmo. 
 
➢ STF: “(...) “A regra que prevê o crime do art. 305 do CTB é constitucional posto não infirmar o princípio da não 
incriminação, garantido o direito ao silêncio e as hipóteses de exclusão de tipicidade e de antijuridicidade”. À 
semelhança do que já fora decidido pelo Supremo no julgamento do RE 640.139, quando se afirmou que o 
princípio constitucional da autoincriminação não alcança aquele que atribui falsa identidade perante autoridade 
policial com o intuito de ocultar maus antecedentes, prevaleceu o entendimento de que não há direitos 
absolutos e que, no sistema de ponderação de valores, há de ser admitida certa mitigação, até mesmo do 
princípio da não autoincriminação. Na visão da Corte, a exigência de permanência no local do acidente e de 
identificação perante a autoridade de trânsito não obriga o condutor a assumir expressamente sua 
 
 
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responsabilidade civil ou penal e tampouco enseja que seja aplicada contra ele qualquer penalidade caso assim 
não o proceda. Na verdade, a depender do caso concreto, a sua permanência no local pode até constituir um 
meio de autodefesa, na medida em que terá a oportunidade de esclarecer, de imediato, eventuais 
circunstâncias do acidente que lhe sejam favoráveis”. (STF, Pleno, RE 971.959/RS, Rel. Min. Luiz Fux, j. 
14/11/2018). 
 
5. Princípio do contraditório 
Tal princípio está previsto no art. 5º, LV, CF: 
 
CF, art. 5º. “(...) LV – aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o 
contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes.” 
 
Quando se fala em contraditório, deve-se entender que, em sua origem, este princípio era formado por um binômio: 
• Direito à informação; e 
• Direito de participação, ou seja, além de o acusado ter ciência das informações, ele deve ter direito de participar 
do processo. 
Assim, a partir do binômio acima apresentado, é possível conceitual o princípio do contraditório. 
 
5.1. Conceito 
Consiste na ciência bilateral dos atos ou termos do processo e a possibilidade de contrariá-los. Eis o motivo pelo qual se 
vale a doutrina da expressão “audiência bilateral”, consubstanciada pela expressão em latim audiatur et altera pars 
(seja ouvida também a parte adversa). 
 
Em regra, o contraditório sempre deverá ser exercido. Há também o contraditório diferido/postergado, o qual será 
estudado posteriormente. 
Com o passar dos anos, a doutrina foi substituindo a “possibilidade” de contrariar os atos ou termos do processo por 
uma reação efetiva e concreta. Assim, principalmente em âmbito penal, é necessário assegurar que a pessoa possa 
exercer uma reação efetiva, sob pena de ser condenada indevidamente. 
 
5.2. Elementos. 
a) direito à informação; 
b) direito de participação. 
O contraditório seria, assim, a necessária informação às partes e a possível reação a atos desfavoráveis. 
Ressaltando, novamente, que a “possível reação a atos desfavoráveis” fazia parte do conceito originário do 
contraditório. Hoje, é necessário garantir um contraditório efetivo e equilibrado. 
 
 
 
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5.3. Contraditório efetivo e equilibrado. 
A atual concepção do contraditório existe para não admitir que bens de natureza indisponível sejam desprezados, seja 
pela acusação, seja pela defesa. 
Uma súmula importante em relação à matéria é a Sumula 707, STF: 
 
Súmula 707 do Supremo Tribunal Federal: “Constitui nulidade a falta de intimação do denunciado para oferecer 
contrarrazões ao recurso interposto da rejeição da denúncia, não a suprindo a nomeação de defensor dativo.” 
 
Exemplificando a questão tratada na súmula: 
O MP ofereceu denúncia e ela foi levada à apreciação judicial. O magistrado rejeitou a denúncia com base em uma das 
hipóteses do art. 395, CPP. Em seguida, o MP interpôs um RESE (Recurso em Sentido Estrito) com base no art. 581, I, 
CPP, contra a rejeição da peça acusatória. 
Antes, este RESE subia diretamente para o TJ ou para o TRF, sem que o acusado pudesse se pronunciar. 
Hoje, a partir do entendimento do STF, o juiz deve intimar o acusado para que seja constituído um defensore, assim, 
este possa apresentar contrarrazões ao recurso interposto pelo MP. Apresentadas as contrarrazões, o RESE sobe para o 
tribunal competente. 
Atenção: Muitos juízes nomeiam, de plano, um defensor dativo, mas isso não é correto. Deve-se respeitar o direito de o 
acusado constituir um defensor de sua confiança. Por esse motivo, o denunciado deve ser intimado antes de possível 
nomeação de defensor dativo. 
 
5.4. Contraditório para a prova (contraditório real) e contraditório sobre a prova (diferido). 
A regra é o contraditório real, que é aquele no qual as partes atuam na própria formação do elemento de prova. Assim, 
a produção das provas se dá na presença do juiz e na presença das partes. 
Ex: oitiva de testemunhas em audiência com a presença de juiz e das partes. 
 
Entretanto, em algumas situações, o contraditório poderá ser diferido/postergado. Neste caso, o contraditório será 
exercido após a formação da prova. 
Ex: interceptação telefônica. 
Somente após a interceptação, junta-se a mídia aos autos e o acusado poderá questionar e contraditar as provas 
obtidas por tal meio. 
Outro exemplo de contraditório diferido é o exame de corpo de delito. Após a realização do exame, junta-se o laudo ao 
processo e, após isso, há a realização do contraditório. 
 
6. Princípio da ampla defesa 
Este princípio também está previsto no art. 5º, LV, CF: 
 
 
 
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CF, art. 5º. “(...) LV – aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o 
contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes.” 
 
Quando se fala em ampla defesa, a doutrina a subdivide em duas: 
 
• Defesa técnica (também chamada de processual ou específica); e 
• Autodefesa (também chamada de material ou genérica). 
 
6.1. Defesa técnica (processual ou específica). 
É aquela exercida por um profissional da advocacia. 
Exemplo 1: o professor Renato Brasileiro é Promotor da Justiça Militar e, se cometer um crime, será julgado pelo TRF. 
Mesmo sendo promotor e professor de Direito Processual Penal, ele, em eventual processo, não poderia exercer sua 
defesa técnica, pois, ao passar no concurso para promotor, retirou-se dos quadros da OAB. 
 
✓ A defesa técnica é obrigatória e irrenunciável. Sobre o assunto, tem-se o disposto no art. 261, CPP: 
 
CPP, art. 261. “Nenhum acusado, ainda que ausente ou foragido, será processado ou julgado sem defensor. 
Parágrafo único. A defesa técnica, quando realizada por defensor público ou dativo, será sempre exercida através de 
manifestação fundamentada. (Incluído pela Lei nº 10.792, de 1º.12.2003)” 
 
Súmula 523 do STF: “No processo penal, a falta da defesa constitui nulidade absoluta, mas a sua deficiência só o anulará 
se houver prova de prejuízo para o réu”. 
 
A Súmula 523, STF, permite concluir que a falta de defesa é motivo para a nulidade absoluta do processo. Se, todavia, a 
defesa for deficiente, há nulidade relativa se ficar comprovado prejuízo ao réu. 
 
Atenção: a defesa técnica tem caráter irrenunciável. 
O professor chama atenção para o fato de que o art. 8º, item 2, “d”, Convenção Americana de Direitos Humanos, utiliza 
a conjunção alternativa “ou”. O uso dessa conjunção pode dar a ideia de que a defesa técnica é opcional. Bastaria, neste 
caso, exercer a autodefesa. Entretanto, no Brasil, a defesa técnica é obrigatória e, portanto, indisponível. 
 
CADH 
“Art. 8º (...) 
2.Toda pessoa acusada de delito tem direito a que se presuma sua inocência enquanto não se comprove legalmente sua 
culpa. Durante o processo, toda pessoa tem direito, em plena igualdade, às seguintes garantias mínimas: 
(...) 
 
 
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d. direito do acusado de defender-se pessoalmente ou de ser assistido por um defensor de sua escolha e de comunicar-se, 
livremente e em particular, com seu defensor; (...)” 
 
 
Súmula n. 708 do Supremo: “É nulo o julgamento da apelação se, após a manifestação nos autos da renúncia do único 
defensor, o réu não foi previamente intimado para constituir outro”. 
 
✓ O acusado tem direito de escolher o defensor. 
Algumas peças no processo penal são obrigatórias (ex. memoriais). Assim, se um advogado constituído não apresenta 
esta peça, o juiz deve, antes de enviar o processo para a Defensoria Pública (ou nomear defensor dativo), intimar o 
acusado para que constitua novo defensor no prazo de 10 dias, sob pena de, a partir do término do prazo, ser-lhe 
nomeado defensor dativo. 
 
Sobre o direito de o acusado escolher o próprio defensor, a jurisprudência do STJ é bastante didática: 
 
➢ STJ: “(...) A escolha de defensor, de fato, é um direito inafastável do réu, porquanto deve haver uma relação de 
confiança entre ele e o seu patrono. Assim, é de rigor que uma vez verificada a ausência de defesa técnica a 
amparar o acusado, por qualquer motivo que se tenha dado, deve-se conceder prazo para que o réu indique 
outro profissional de sua confiança, ainda que revel, para só então, caso permaneça inerte, nomear-lhe 
defensor dativo. Habeas Corpus concedido, nos termos do parecer ministerial, para anular o feito a partir da 
decisão que nomeou o defensor dativo, a fim de que seja oportunizado ao réu a indicação de advogado de sua 
confiança, mantido paciente na situação processual em que se encontra”. (STJ, 5ª Turma, HC 162.785/AC, Rel. 
Min. Napoleão Nunes Maia Filho, j. 13/04/2010, DJe 03/05/2010). Na mesma linha: STJ, 5ª Turma, HC 
132.108/PA, Rel. Min. Laurita Vaz, j. 16/12/2010, DJe 07/02/2011. 
 
✓ Possibilidade de o acusado exercer a sua própria defesa técnica; 
É possível que o acusado exerça sua própria defesa, desde que seja profissional da advocacia. O professor destaca, 
entretanto, que isso não é recomendado, pois o envolvimento emocional pode prejudicar a tecnicidade da atuação 
processual. 
 
➢ STF: “(...)Nas ações penais originárias, a defesa preliminar (L. 8.038/90, art. 4º), é atividade privativa dos 
advogados. Os membros do Ministério Público estão impedidos de exercer advocacia, mesmo em causa própria. 
São atividades incompatíveis (L. 8.906/94, art. 28). Nulidade decretada”. (STF, 2ª Turma, HC 76.671/RJ, Rel. Min. 
Nelson Jobim, j. 09/06/1998, DJ 10/08/2000). 
 
✓ Patrocínio da defesa técnica de dois ou mais acusados pelo mesmo defensor. 
 
 
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É possível que um mesmo advogado realize a defesa técnica de dois ou mais acusados, desde que as teses defensivas 
não sejam colidentes. 
Um mesmo advogado não pode defender dois ou mais acusados se as teses forem colidentes, pois isso prejudicaria os 
acusados. Assim, em um caso concreto em que isso possa ocorrer, o juiz precisa intervir para evitar que, 
posteriormente, um possível mau profissional que esteja agindo de má-fé alegue a nulidade do processo (“nulidade de 
algibeira”). 
 
➢ STJ: “(...) Hipótese em que o paciente e seu filho foram acusados de tráfico de drogas, sendo que o filho 
imputava a responsabilidade penal a seu pai e ambos foram patrocinados pelo mesmo advogado. O defensor 
apresentou alegações finais defendendo apenas o filho e acusando o pai. Havendo teses defensivas conflitantes, 
fica clara a impossibilidade de que pai e filho fossem patrocinados pelo mesmo advogado. É evidente, assim, o 
conflito de interesses e a colidência de defesa, que provocou prejuízo ao paciente, haja vista a condenação à 
reprimenda de 12 (doze) anos de reclusão. Ordem concedida para anular o feito, apenas com relação ao 
paciente, a partir das alegação (sic) preliminares, inclusive”. (STJ, 6ª Turma, HC 86.392/PA, Rel. Min. Maria 
Thereza de Assis Moura, j. 25/05/2010, Dje 21/06/2010). 
 
6.2. Autodefesa (material ou genérica)É aquela exercida pelo próprio acusado. Neste caso, o acusado pode optar pelo não exercício desse direito. 
Segundo a doutrina e a jurisprudência, a autodefesa desdobra-se em três: 
• Direito de audiência; 
• Direito de presença; e 
• Capacidade postulatória autônoma do acusado. 
 
a) Direito de audiência: é o direito que o acusado tem de ser ouvido pelo juiz. É nesse momento que o acusado tem a 
oportunidade de se aproximar do seu julgador e, quem sabe, poder influenciar no seu julgamento. 
Muitos doutrinadores, ao serem questionados sobre a natureza jurídica do interrogatório, posicionam-se a favor de ser 
ele meio de defesa. 
 
➢ STF: “(...) O INTERROGATÓRIO JUDICIAL COMO MEIO DE DEFESA DO RÉU. Em sede de persecução penal, o 
interrogatório judicial, notadamente após o advento da Lei nº 10.792/2003, qualifica-se como ato de defesa do 
réu, que, além de não ser obrigado a responder a qualquer indagação feita pelo magistrado processante, 
também não pode sofrer qualquer restrição em sua esfera jurídica em virtude do exercício, sempre legítimo, 
dessa especial prerrogativa (...)” (STF, 2ª Turma, HC 94.016/SP, Rel. Min. Celso de Mello, j. 16/09/2008, Dje 38 
26/02/2009). 
 
b) Direito de presença: é o direito de acompanhar os atos da instrução probatória ao lado de seu defensor. 
 
 
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No processo criminal, quando há a realização de ato probatório, tanto o defensor quanto o acusado devem ser 
intimados. 
 
✓ Natureza relativa do direito de presença. 
Atenção: o direito de presença pode sofrer restrições. Exemplo disso é quando a presença do acusado representa um 
constrangimento à testemunha. Neste caso, o acusado sai, mas o seu defensor permanece. 
O assunto foi disciplinado no art. 217, CPP: 
 
CPP, art. 217. “Se o juiz verificar que a presença do réu poderá causar humilhação, temor, ou sério constrangimento à 
testemunha ou ao ofendido, de modo que prejudique a verdade do depoimento, fará a inquirição por videoconferência 
e, somente na impossibilidade dessa forma, determinará a retirada do réu, prosseguindo na inquirição, com a presença 
do seu defensor. (Redação dada pela Lei nº 11.690, de 2008) 
Parágrafo único. A adoção de qualquer das medidas previstas no caput deste artigo deverá constar do termo, assim 
como os motivos que a determinaram. (Incluído pela Lei nº 11.690, de 2008)” 
 
Atenção: caso o juiz tenha que tomar medidas para evitar que a testemunha ou o ofendido sejam humilhados ou 
constrangidos, essas medidas deverão constar em termo, devendo, necessariamente, ser justificadas, conforme 
preceitua o § único do art. 217, CPP. 
 
➢ STF: “(...) Revela-se lícita a retirada dos acusados da sala de audiências, se as testemunhas de acusação 
demonstram temor e receio em depor na presença dos réus. Se o patrono do paciente não apresentou 
nenhuma irresignação quanto aos termos da assentada, havendo assinado e concordado com seu conteúdo, 
resulta preclusa a argüição de qualquer vício a macular o ato de ouvida das testemunhas de acusação. Ordem 
denegada”. (STF, 1ª Turma, HC 86.572/PE, Rel. Min. Carlos Britto, j. 06/12/2005, DJ 30/03/2008). 
 
 
✓ (Des) necessidade de deslocamento de acusado preso para oitiva de testemunhas perante o juízo deprecado 
Os Tribunais Superiores entendem que o direito de presença deve ser respeitado, mas pode ser realizado de maneira 
remota (videoconferência). 
Além disso, há entendimento de que se esse direito não for respeitado, a nulidade é relativa, ou seja, deve haver a 
prova de prejuízo. 
 
➢ STF: “(...) A alegação de necessidade da presença do réu em audiências deprecadas, estando ele preso, 
configura nulidade relativa, devendo-se, comprovar a oportuna requisição e também a presença de efetivo 
prejuízo à defesa. O pedido, no caso, foi indeferido motivadamente pelo juiz de primeiro grau, diante das 
peculiaridades do caso concreto, em especial diante da periculosidade do réu, e da ausência de efetivo prejuízo. 
 
 
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Ordem denegada”. (STF, 1ª Turma, HC 100.382/PR, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, j. 08/06/2010, Dje 164 
02/09/2010). 
 
c) Capacidade postulatória autônoma do acusado. 
Defere-se ao acusado a possibilidade de praticar certos atos postulatórios, mesmo não sendo profissional da advocacia. 
Os atos postulatórios que podem ser praticados pelo acusado de forma autônoma são: 
• Impetrar habeas corpus; 
• Interpor recursos em 1ª instância; e 
• Provocar incidentes da execução penal. 
 
6.3. Ampla defesa no processo administrativo disciplinar 
• É possível exercer a ampla defesa em processo administrativo disciplinar? 
Sim, ela é obrigatória. 
Como exemplo, tem-se o RE 434.059. O STF entende que, no processo administrativo disciplinar, o acusado tem direito 
à ampla defesa e ela se manifesta pelo direito à informação, direito à reação e direito de apreciação de suas razões pelo 
julgador. 
 
➢ “EMENTA: Recurso extraordinário. 2. Processo Administrativo Disciplinar. 3. Cerceamento de defesa. Princípios 
do contraditório e da ampla defesa. Ausência de defesa técnica por advogado. 4. A falta de defesa técnica por 
advogado no processo administrativo disciplinar não ofende a Constituição. 5. Recursos extraordinários 
conhecidos e providos. (STF – RE 434.059, DF, Relator: Gilmar Mendes, Data do julgamento: 07/05/08, Tribunal 
Pleno, data de publicação DJe-172 12/09/08).” 
 
• Há necessidade de advogado no processo administrativo disciplinar? 
Sobre o assunto, é necessário ter cuidado com a Súmula 343, STJ, que preceitua: 
Súmula n. 343 do STJ: “É obrigatória a assistência de advogado em todas as fases do processo administrativo disciplinar, 
de forma a assegurar a garantia constitucional do contraditório”. 
 
Entretanto, a posição do STF não é a mesma da Súmula 343, STJ. A Súmula Vinculante 5 diz: 
Súmula vinculante nº 5: “A falta de defesa técnica por advogado no processo administrativo disciplinar não ofende a 
constituição”. 
 
6.4. Ampla defesa na execução penal 
Na execução penal, a ampla defesa e a presença de defensor são obrigatórias. 
 
 
 
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Súmula n. 533 do STJ: “Para o reconhecimento da prática de falta disciplinar no âmbito da execução penal, é 
imprescindível a instauração de procedimento administrativo pelo diretor do estabelecimento prisional, assegurado o 
direito de defesa, a ser realizado por advogado constituído ou defensor público nomeado”. 
 
7. Princípio do juiz natural 
Juiz natural é o direito que o cidadão possui de, antecipadamente, conhecer quem irá julgá-lo caso venha a praticar um 
delito. 
Este princípio visa a assegurar a imparcialidade do julgador. 
 
7.1. Conceito: 
Consiste no direito que cada cidadão possui de conhecer antecipadamente a autoridade jurisdicional que irá processar e 
julgá-lo caso venha a praticar um fato delituoso. 
 
7.2. Previsão constitucional: 
Segundo a doutrina, este princípio pode ser extraído de, pelo menos, dois incisos da CF (art. 5º, XXXVII e art. 5º, LIII). 
O art. 5º, XXXVII, trata da impossibilidade de haver juiz de exceção, ou seja, não é permitido que se crie um tribunal 
após a prática do fato, especificadamente para o seu julgamento. Tais tribunais de exceção eram muito comuns no 
âmbito internacional (exemplo: Tribunal de Nuremberg). 
Obs.: Justiça Eleitoral e Justiça Militar não constituem tribunais de exceção, isso porque ambas têm previsão na própria 
CF. 
 
CF, art. 5º (...) “XXXVII - não haverá juízo ou tribunal de exceção; 
(...) 
LIII - ninguém será processado nem sentenciado senão pela autoridade competente; 
(...)” 
 
7.3. Observações pontuais quanto aos Tribunais de Exceção: 
Principais características dosTribunais de exceção: criação ex post factum, fora das estruturas normais do Poder 
Judiciário, com poderes específicos para julgar um caso já ocorrido; atribuição de sua competência com base em fatores 
específicos e, normalmente, segundo critérios discriminatórios (raça, religião, ideologia, etc.); duração limitada no 
tempo; procedimento célere e, normalmente, não sujeito a recurso; escolha dos integrantes sem observância dos 
critérios gerais para investidura dos magistrados e sem assegurar-lhes a necessária independência. Também é tribunal 
de exceção aquele criado ad personam, isto é, com vistas ao julgamento específico de uma determinada pessoa ou 
grupo de pessoas, mesmo que para fatos futuros. 
 
Justiças “Especiais”: não podem ser consideradas “Tribunais de Exceção”. Isso porque os Tribunais ou Juízos Especiais 
são criados antes da prática dos fatos que irão julgar, e têm competência determinada por regras gerais e abstratas, 
 
 
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com base em critérios objetivos, e não para um caso particular ou individualmente considerado, escolhido segundo 
critérios discriminatórios. 
 
Foro por prerrogativa de função: também não constituem juízo ou tribunal de exceção. Não se trata de um privilégio 
pessoal, mas de uma decorrência ou prerrogativa inerente ao exercício de determinado cargo ou função. De um lado, o 
foro por prerrogativa de função protege os detentores dos cargos de persecuções indevidas, muitas vezes por 
motivações políticas. Por outro lado, também protegem os julgadores de eventuais pressões que, mais facilmente, 
poderiam ser exercidas sobre órgãos jurisdicionais de primeiro grau. Trata-se, pois, a um só tempo, de garantia para o 
acusado e de garantia para a Justiça. 
 
7.4. Regras de Proteção que Derivam do Juiz Natural: 
Do princípio do juiz natural derivam, ao menos, três regras importantes: 
• Só podem exercer jurisdição os órgãos instituídos pela Constituição; 
• Ninguém pode ser julgado por órgão instituído após o fato; 
• Entre os Juízos pré-constituídos vigora uma ordem taxativa de competências que exclui qualquer alternativa 
deferida à discricionariedade de quem quer que seja. 
No caso da terceira regra citada, é importante destacar que a competência sempre deve ser fixada com base em 
critérios objetivos, pois isso afasta a discricionariedade e, consequentemente, o subjetivismo. 
O professor cita que, antigamente, a distribuição nas varas era feita pelo critério de “número par e número ímpar”, mas 
esse critério permitia a discricionariedade, pois era possível, de certo modo, escolher o juiz que iria julgar o caso. Hoje, a 
distribuição é feita de modo aleatório. 
 
7.5. Lei modificadora da competência e sua possível aplicação imediata aos processos em andamento. 
Imagine a seguinte situação: 
Há um processo-crime tramitando na justiça estadual. Surge, então, uma lei posterior à prática do ato delituoso e 
desloca a competência daquele crime para a Justiça Militar. Essa nova lei terá aplicação imediata a todos os processos 
que estavam em tramitação ou será aplicada apenas aos próximos fatos? 
• 1ª corrente: entende que a competência deve ser fixada à época do delito. Assim, se a competência estadual era 
a que regia o crime na época do fato, ela será mantida. Essa é a posição do professor Gustavo Henrique Badaró 
e da professora Ada Pellegrini Grinover. 
 
➢ Doutrina: “A garantia do juiz natural deve ser considerada como ‘norma substancial’, que confere um caráter 
reforçado do princípio da legalidade e prescreve para o legislador o dever de regular a competência do juiz, sem 
poder fazer retroagir a disciplina da nova lei a fatos ocorridos antes do início de vigência da lei que modifique a 
distribuição de competência. Há, pois, do lado do legislador, uma obrigação de estabelecer a competência do 
juiz pro futuro”. (BADARÓ, Gustavo Henrique. Juiz natural no processo penal. São Paulo: Editora Revista dos 
 
 
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Tribunais, 2014. p. 158). Portanto, para as normas sobre competência, a regra de direito intertemporal não seria 
tempus regit actum, mas sim tempus criminis regit iudicem. Enfim, juiz natural é o juiz competente segundo as 
regras vigentes no dies comissi delicti. 
 
• 2ª corrente: nos Tribunais Superiores há o entendimento de que é perfeitamente possível a mudança da 
competência, inclusive para os processos que já estavam em andamento. A mudança da competência, nesse 
caso, não fere o princípio do juiz natural, pois, no exemplo dado, tanto a justiça estadual quanto a justiça 
federal já estavam previstas na CF. 
Assim, na visão dos Tribunais Superiores, norma que altera competência tem aplicação imediata aos processos 
em andamento, salvo se já tiver sido proferida decisão de 1ª instância. O motivo dessa exceção é para que não 
haja violação à competência recursal. 
 
➢ STF: “(...) Com a promulgação da Lei 9.299/96, os crimes dolosos contra a vida praticados por militar ou policial 
militar, contra civil, passaram a ser da competência da Justiça comum. (...) Hipótese em que já tendo sido 
proferida sentença de primeiro grau e estando pendente de julgamento a apelação dos réus, não há falar em 
novo julgamento, pelo Tribunal do Júri, em razão da promulgação da Lei 9.299/96. A controvérsia ficou restrita, 
no caso, à competência para o julgamento do recurso. HC indeferido”. (STF, 2ª Turma, HC 76.510/SP, Rel. Min. 
Carlos Velloso, DJ 15/05/1988). 
 
Exemplo 1: Lei 9.299/96 
Antes dessa lei, todos os crimes dolosos cometidos por militares contra civil, em um dos contextos do art. 9º do CPM, 
eram crimes militares. A partir dessa lei, passaram a ser crimes comuns. 
 
Lei 9.299/96, art. 9º. 
“Art. 1º O art. 9° do Decreto-lei n° 1.001, de 21 de outubro de 1969 - Código Penal Militar, passa a vigorar com as 
seguintes alterações: 
(...) 
Parágrafo único. Os crimes de que trata este artigo, quando dolosos contra a vida e cometidos contra civil, serão da 
competência da justiça comum. 
Obs: posteriormente, o parágrafo único do art. 9º do CPM foi alterado pela Lei n. 12.432/11.” O artigo 9º também foi 
alterado pela Lei 13.491/2017. 
 
Exemplo 2: tráfico internacional de drogas cometido em comarca onde não há vara federal. 
Até o advento da Lei 11.343/2006, se fosse cometido o crime de tráfico internacional em uma cidade fronteiriça onde 
não há vara da justiça federal, o referido crime era julgado pela justiça estadual. Um eventual recurso seria julgado no 
TRF. 
 
 
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Essa previsão está, inclusive, no art. 109, §3º, CF: 
 
“Art. 109. (...) 
(...) 
§ 3º Serão processadas e julgadas na justiça estadual, no foro do domicílio dos segurados ou beneficiários, as causas em 
que forem parte instituição de previdência social e segurado, sempre que a comarca não seja sede de vara do juízo 
federal, e, se verificada essa condição, a lei poderá permitir que outras causas sejam também processadas e julgadas 
pela justiça estadual.” 
 
A revogada Lei 6.368/76 previa: 
 
Lei 6.368/76 (REVOGADA) 
“Art. 27. O processo e o julgamento do crime de tráfico com exterior caberão à justiça estadual com interveniência do 
Mistério Público respectivo, se o lugar em que tiver sido praticado, for município que não seja sede de vara da Justiça 
Federal, com recurso para o Tribunal Federal de Recursos.” 
 
Cuidado: a Lei 6.368/76 foi revogada e o art. 27 desta lei não foi reproduzido na atual Lei de Drogas, a qual preceitua 
que, se o crime for cometido em cidade que não possui vara federal, ele será julgado na vara federal a que o município 
está subordinado (art. 70, § único, Lei 11.343/2006). 
 
Lei 11.343/2006 
“Art. 70. O processo e o julgamento dos crimes previstosnos arts. 33 a 37 desta Lei, se caracterizado ilícito 
transnacional, são da competência da Justiça Federal. 
Parágrafo único. Os crimes praticados nos Municípios que não sejam sede de vara federal serão processados e julgados 
na vara federal da circunscrição respectiva.” 
 
Exemplo 3: Lei 13.491/2017 – É outra lei que também ampliou a competência da Justiça Militar, trazendo para justiça 
castrense o julgamento de crimes previstos na legislação penal. 
 
7.6. Convocação de juízes de 1º grau para substituir desembargadores. 
Questões importantes: 
• Existe previsão legal para a convocação de juízes de 1º grau para substituir desembargadores? 
• Qual é o critério para a convocação desses juízes? 
• Pode uma turma ser formada majoritária ou exclusivamente por juízes convocados? 
 
a) Previsão legal: 
 
 
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Há previsão legal e ela está na Lei Orgânica da Magistratura (LC 35/79). 
LC 35/79 
“Art. 118. Em caso de vaga ou afastamento, por prazo superior a 30 (trinta) dias, de membro dos Tribunais Superiores, 
dos Tribunais Regionais, dos Tribunais de Justiça e dos Tribunais de Alçada, (Vetado) poderão ser convocados Juízes, em 
Substituição (Vetado) escolhidos (Vetado) por decisão da maioria absoluta do Tribunal respectivo, ou, se houver, de seu 
Órgão Especial: (Redação dada pela Lei Complementar nº 54, de 22.12.1986)” 
 
No mesmo sentido, a Lei 9.788/99 prevê a mesma convocação no âmbito dos Tribunais Regionais Federais. 
 
Lei 9.788/99 
“Art. 4° Os Tribunais Regionais Federais poderão, em caráter excepcional e quando o acúmulo de serviço o exigir, 
convocar Juízes Federais ou Juízes Federais Substitutos, em número equivalente ao de Juízes de cada Tribunal, para 
auxiliar em Segundo Grau, nos termos de resolução a ser editada pelo Conselho da Justiça Federal.” 
 
b) Critério para convocação dos juízes: 
O critério deve ter natureza objetiva para não haver favorecimento de determinados juízes. 
 
➢ STF: “(...) Os Regimentos Internos dos Tribunais de Justiça podem dispor a respeito da convocação de juízes para 
substituição de desembargadores, em caso de vaga ou afastamento, por prazo superior a trinta dias, observado 
o disposto no art. 118 da LOMAN, Lei Complementar 35/79, redação da Lei Complementar 54/86. Norma 
regimental que estabelece que o substituído indicará o substituto: inconstitucionalidade. ADI julgada 
procedente, em parte”. (STF, Pleno, ADI 1.481/ES, Rel. Min. Carlos Velloso, DJ 04/06/2004). 
 
O critério deve ser o previsto no art. 118 da LOMAN. 
 
➢ STJ: “(...) Não ofende o princípio do juiz natural a convocação de juízes de primeiro grau para, nos casos de 
afastamento eventual do desembargador titular, compor o órgão julgador do respectivo Tribunal, desde que 
observadas as diretrizes legais federais ou estaduais, conforme o caso. Precedentes do STF e do STJ. Na hipótese 
em tela, o Tribunal de Justiça paulista procedeu a convocações de juízes de primeiro grau para formação de 
Câmaras Julgadoras, valendo-se de um sistema de voluntariado, sem a observância da regra legal instituída (Lei 
Complementar n.º 646/90 do Estado de São Paulo), qual seja, a de realização de concurso de remoção, 
tornando nula a atuação do magistrado de primeiro grau convocado nessas circunstâncias. Ordem concedida 
para anular o julgamento do recurso de apelação, determinando a sua renovação por Turma Julgadora, com a 
observância da lei de regência. (STJ, 5ª Turma, HC 111.919/SP, Rel. Min. Laurita Vaz, j. 18/11/2008, Dje 
02/02/2009). 
 
c) Julgamento por turma (ou câmara) composta, em sua maioria ou exclusivamente, por juízes convocados: 
 
 
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O STF entendeu que o fato de um julgamento ser realizado por turma composta majoritariamente por juízes 
convocados não viola a CF. 
 
➢ STF: “(...) Esta Corte já firmou entendimento no sentido da constitucionalidade da Lei Complementar 646/1990, 
do Estado de São Paulo, que disciplinou a convocação de juízes de primeiro grau para substituição de 
desembargadores do TJ/SP. Da mesma forma, não viola o postulado constitucional do juiz natural o julgamento 
de apelação por órgão composto majoritariamente por juízes convocados na forma de edital publicado na 
imprensa oficial. Colegiados constituídos por magistrados togados, que os integram mediante inscrição 
voluntária e a quem a distribuição de processos é feita aleatoriamente. Julgamentos realizados com estrita 
observância do princípio da publicidade, bem como do direito ao devido processo legal, à ampla defesa e ao 
contraditório. Ordem denegada”. (STF, Pleno, HC 96.821/SP, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, j. 08/04/2010). 
 
d) Julgamento de causas originárias dos tribunais por juízes convocados: 
Quando há foro por prerrogativa de função, a própria Lei Orgânica e os próprios regimentos internos exigem um 
número mínimo de desembargadores. 
 
➢ STJ: “(...) É pacífico o entendimento deste Superior Tribunal de Justiça e do Supremo Tribunal Federal no sentido 
de ser perfeitamente possível a convocação de juízes de primeiro grau para substituírem desembargadores nos 
Tribunais, quando, em conformidade com a legislação de regência, não há qualquer ofensa à Constituição 
Federal. O caso em apreço não se amolda à hipótese acima, tendo em vista tratar-se de ação penal originária, 
porquanto, em última análise, refere-se às prerrogativas dos membros do Ministério Público que, por expressa 
previsão constitucional (art. 96, inciso III), possuem foro privilegiado por prerrogativa de função. Prevendo o 
Regimento Interno do Tribunal de Justiça Estadual, vigente à época do julgamento do paciente, de que era 
necessária a presença de pelo menos dois terços de seus membros na sessão de julgamento, viola o princípio do 
juiz natural quando o referido quórum é completado com juízes de primeiro grau convocados”. (STJ, 6ª Turma, 
HC 88.739/BA, Rel. Min. Haroldo Rodrigues, j. 15/06/2010). 
 
7.7. Especialização para o julgamento de crimes de lavagem de capitais. 
As observações feitas neste tópico não são específicas da lavagem de capitais e podem ser estendidas a outros crimes. 
Questões importantes: 
• É possível especializar uma vara já existente? 
• Ao especializar a vara, não há violação ao princípio do juiz natural? 
• A especialização dessa vara necessita de lei ordinária? 
 
O tema trabalhado nesse tópico, especificamente quanto à lavagem de capitais, surgiu por meio da Resolução 314, CJF. 
 
 
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Resolução n. 314 do Conselho da Justiça Federal (12/05/2003): os TRF’s deveriam especializar, no prazo de 60 dias a 
contar da Resolução, varas federais criminais com competência exclusiva ou concorrente para processar e julgar crimes 
contra o sistema financeiro nacional e de lavagem de capitais; 
 
A partir da resolução supracitada, os TRFs começaram a especializar as varas federais e, para tal, valeram-se da Lei 
5.010/1966 (Lei de Organização Judiciária da Justiça Federal), em especial, do art. 12: 
 
Lei 5.010/66 
“Art. 12. Nas Seções Judiciárias em que houver mais de uma Vara, poderá o Conselho da Justiça Federal fixar-lhes sede 
em cidade diversa da Capital, especializar Varas e atribuir competência por natureza de feitos a determinados Juízes.” 
 
Obs.: o art. 12, Lei 5.010/66, fala que o Conselho da Justiça Federal poderá especializar as varas federais, dentre outras 
atribuições. Na época da promulgação dessa lei, o CJF tinha jurisdição. Entretanto, com o advento da CF/1988, o CJF 
passou a ser órgão de natureza administrativa e, portanto, sem competência jurisdicional. Assim, a correta leitura do 
referido artigo deve ser feita substituindo o termo “Conselho da Justiça Federal” por “Tribunal Regional Federal”.Os TRFs podem fazer a especialização de uma vara federal por meio de resolução/provimento. 
O STF analisou a matéria e decidiu que a especialização de varas não está submetida ao princípio da reserva legal em 
sentido estrito. 
 
➢ STF: “(...) Especializar varas e atribuir competência por natureza de feitos não é matéria alcançada pela reserva 
da lei em sentido estrito, porém apenas pelo princípio da legalidade afirmado no artigo 5º, II da Constituição do 
Brasil, ou seja, pela reserva da norma. (...) Se há matérias que não podem ser reguladas senão pela lei --- v.g.: 
não haverá crime ou pena, nem tributo, nem exigência de órgão público para o exercício de atividade 
econômica sem lei, aqui entendida como tipo específico de ato legislativo, que os estabeleça --- das excluídas a 
essa exigência podem tratar, sobre elas dispondo, o Poder Executivo e o Judiciário, em regulamentos e 
regimentos. (...)”. (STF, 1ª Turma, HC 85.060/PR, Rel. Min. Eros Grau, j. 23/09/2008, Dje 30 12/02/2009). 
 
8. Princípio da publicidade. 
A publicidade é o direito de acesso ao processo judicial. 
É necessário ter cuidado pois a doutrina costuma se referir ao princípio da publicidade como uma espécie de “garantia 
de segundo grau ou garantia de garantia” (Ferrajoli). Esta concepção ocorre porque, ao garantir acesso dos atos 
processuais para o cidadão, é possível que qualquer pessoa verifique se os demais princípios e garantias foram 
observados no decorrer do processo. É a publicidade que possibilita a aferição de outras garantias. 
 
8.1. Previsão constitucional, convencional e legal. 
 
 
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O princípio da publicidade está previsto no art. 93, IX, CF, o qual afirma que todos os processos serão públicos. Já o art. 
5º, LX, CF, preceitua que a lei só poderá restringir a publicidade de atos processuais em razão da defesa da intimidade 
ou interesse social. 
 
Constituição Federal 
“Art. 93. (...) 
(...) 
IX - todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário serão públicos, e fundamentadas todas as decisões, sob pena 
de nulidade, podendo a lei limitar a presença, em determinados atos, às próprias partes e a seus advogados, ou 
somente a estes, em casos nos quais a preservação do direito à intimidade do interessado no sigilo não prejudique o 
interesse público à informação; ” 
 
“Art. 5º (...) 
(...) 
LX - a lei só poderá restringir a publicidade dos atos processuais quando a defesa da intimidade ou o interesse social o 
exigirem;” 
 
CADH 
Art. 8º (...) 
(...) 
5. o processo penal deve ser público, salvo no que for necessário para preservar os interesses da justiça; 
 
CPP 
Art. 792. As audiências, sessões e os atos processuais serão, em regra, públicos e se realizarão nas sedes dos juízos e 
tribunais, com assistência dos escrivães, do secretário, do oficial de justiça que servir de porteiro, em dia e hora certos, 
ou previamente designados. 
§1o Se da publicidade da audiência, da sessão ou do ato processual, puder resultar escândalo, inconveniente grave ou 
perigo de perturbação da ordem, o juiz, ou o tribunal, câmara, ou turma, poderá, de ofício ou a requerimento da parte 
ou do Ministério Público, determinar que o ato seja realizado a portas fechadas, limitando o número de pessoas que 
possam estar presentes. 
§2o As audiências, as sessões e os atos processuais, em caso de necessidade, poderão realizar-se na residência do juiz, 
ou em outra casa por ele especialmente designada. 
 
8.2. Divisão da publicidade. 
A doutrina trabalha com duas espécies de publicidade: 
 
a) Publicidade ampla (plena, absoluta, popular ou geral): 
 
 
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Na publicidade ampla, o acesso aos autos é assegurado às partes, aos representantes e à sociedade. 
A publicidade ampla é a regra. 
 
b) Publicidade restrita (segredo de justiça): 
A própria CF e o CPP autorizam que, em algumas situações, a publicidade seja restrita (art. 5º, LX, CF; art. 792, §1 ], CPP). 
A publicidade restrita é exceção. 
 
“Art. 5º (...) 
(...) 
LX - a lei só poderá restringir a publicidade dos atos processuais quando a defesa da intimidade ou o interesse social o 
exigirem;” 
 
CPP, art. 792. “As audiências, sessões e os atos processuais serão, em regra, públicos e se realizarão nas sedes dos juízos 
e tribunais, com assistência dos escrivães, do secretário, do oficial de justiça que servir de porteiro, em dia e hora 
certos, ou previamente designados. 
§ 1o Se da publicidade da audiência, da sessão ou do ato processual, puder resultar escândalo, inconveniente grave ou 
perigo de perturbação da ordem, o juiz, ou o tribunal, câmara, ou turma, poderá, de ofício ou a requerimento da parte 
ou do Ministério Público, determinar que o ato seja realizado a portas fechadas, limitando o número de pessoas que 
possam estar presentes.” 
 
Nos casos de publicidade restrita: 
• não haverá acesso do público aos atos processuais (exemplo: crimes sexuais). 
O art. 234-B afirma que os crimes contra a dignidade sexual correrão em segredo de justiça. 
 
CP, art. 234-B. “Os processos em que se apuram crimes definidos neste Título correrão em segredo de justiça.” 
 
• o próprio acusado pode não ter acesso a determinados atos. 
 
 
✓ Segredo de justiça e cláusula de reserva de jurisdição 
Um exemplo de segredo de justiça é a Lei 9.296/96 (interceptação telefônica). 
Nos casos de segredo de justiça, há a cláusula de reserva de jurisdição, ou seja, somente um juiz pode dar a ordem de 
quebra do segredo. 
 
➢ STF: “(...) Comissão Parlamentar de Inquérito não tem poder jurídico de, mediante requisição, a operadoras de 
telefonia, de cópias de decisão nem de mandado judicial de interceptação telefônica, quebrar sigilo imposto a 
 
 
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processo sujeito a segredo de justiça. Este é oponível a Comissão Parlamentar de Inquérito, representando 
expressiva limitação aos seus poderes constitucionais”. (STF, Tribunal Pleno, MS 27.483/DF, Rel. Min. Cezar 
Peluso, DJe 192 09/10/2008). 
 
(Outros princípios: ao longo do Intensivo I e Intensivo II.) 
 
9. Lei processual penal no tempo 
Esta matéria está relacionada ao direito intertemporal, o qual tem a sua importância nos casos em que há sucessão de 
leis no tempo. 
 
9.1. Normas de Direito Penal 
O critério do direito intertemporal no Direito Penal é o da irretroatividade da lex gravior. 
Ex: art. 24-A, Lei 11.340/06 (Lei Maria da Penha). 
O art. 24-A traz o único crime da Lei Maria da Penha, o qual foi inserido pela Lei 13.641/2018. 
 
Lei 11.340/06, art. 24-A. “Descumprir decisão judicial que defere medidas protetivas de urgência previstas nesta 
Lei: (Incluído pela Lei nº 13.641, de 2018) 
Pena – detenção, de 3 (três) meses a 2 (dois) anos. (Incluído pela Lei nº 13.641, de 2018) 
§ 1o A configuração do crime independe da competência civil ou criminal do juiz que deferiu as 
medidas. (Incluído pela Lei nº 13.641, de 2018) 
§ 2o Na hipótese de prisão em flagrante, apenas a autoridade judicial poderá conceder fiança. (Incluído pela Lei 
nº 13.641, de 2018) 
§ 3o O disposto neste artigo não exclui a aplicação de outras sanções cabíveis. (Incluído pela Lei nº 13.641, de 
2018)” 
 
A criação de uma nova figura delituosa é norma penal mais gravosa, portanto, jamais poderá retroagir. 
Assim, a lei penal mais gravosa não pode retroagir. Entretanto, a lei penal mais benéfica deve retroagir, sendo, por esse 
motivo, dotada de ultratividade. 
 
9.2. Normas de Direito Processual Penal. 
(Este tópico será trabalhado na aula 3 de Direito Processual Penal).

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