Prévia do material em texto
Independência do Timor Leste Timor Leste, colonizado pelos portugueses desde o século 16, deveria ficar independente em 1975, com o apoio de Lisboa. Mas não houve acordo sobre quem governaria o país, o que resultou na guerra civil. Nesse quadro confuso, a Indonésia invadiu o Timor e depois o anexou em 1976. Nos últimos 24 anos, o uso do português sofreu restrições e os separatistas foram perseguidos pelo governo ou por milícias pró-Indonésia. Está em jogo mais que a independência da ex-colônia portuguesa. Ao prometer que respeitaria o resultado do plebiscito, o presidente da Indonésia, Jusuf Habi0e, acabou colocando em risco a já precária estabilidade de um país formado por mais de 13 mil ilhas e 200 milhões de habitantes - que só não se dissolveu graças às duras medidas de uma das mais brutais ditaduras asiáticas da segunda metade do século, comandada pelo general Suharto. Administrador da herança da ditadura, o presidente Habibie depende da paciência e da colaboração dos militares para introduzir reformas democráticas, reforçar o Legislativo e, ao mesmo tempo, manter a população tranqüila depois da pior crise econômica das últimas décadas. Os militares indonésios parecem um pouco os colegas brasileiros na fase final da abertura política no Brasil: são árbitros e ao mesmo tempo participantes centrais do processo, detestam críticas de fora e têm dificuldade em manter a disciplina de elementos mais radicais. Eles se opuseram claramente à política de Habibie de garantir a independência do Timor, temendo que o exemplo seja seguido por outras regiões da Indonésia, especialmente em Aceh, onde uma guerrilha islâmica luta há mais de uma década contra o governo central. À testa das Forças Armadas está uma figura enigmática, a do general Wiranto. Ao contrário dos colegas de Estado-Maior, é um dos poucos que não foram treinados nos Estados Unidos, na Grã-Bretanha ou na Austrália. Serviu duas vezes no Timor Leste e avançou de coronel para general de quatro estrelas em apenas cinco anos - uma carreira espetacular, facilitada pela proteção do antigo ditador Suharto. Foi o general Wiranto, contudo, quem garantiu a posse de Habibie, um civil que ainda por cima não é de Java, a ilha de onde provém a elite do país. Agora não se sabe se o sempre sorridente general está desobedecendo às ordens de Habibie para restaurar a paz no Timor ou se está enfrentando a insubordinação dos inferiores, preocupados com a perda de prestígio dos militares. A segunda coluna da qual depende a estabilidade do país, depois dos militares, é a da ajuda financeira dos países ocidentais. Mais populoso dos tigres asiáticos, a Indonésia depende diretamente do FMI para recuperar a economia. No começo da semana, o Fundo fizera ameaças veladas de tornar a ajuda dependente da situação no Timor. O efeito foi uma corrida contra a rupia, a moeda indonésia. A Austrália foi mais específica, ameaçando cancelar sua participação de US$ 1 bilhão no pacote internacional de ajuda se prosseguir a violência. O presidente americano, Bill Clinton, interrompeu a cooperação militar com a Indonésia e ameaça com "duras conseqüências econômicas". As ameaças de corte na ajuda e retaliações econômicas, no entanto, empurram boa parte da população indonésia para o outro lado: uma onda de ódio anti-Ocidente. A grande maioria dos indonésios nunca se preocupou muito com o Timor Leste - um território para eles mesmos muito distante e pequeno. Em poucos dias, virou a questão nacional.