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Bioquímica Doping Genético 1

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Centro Universitário Claretiano
Curso de Graduação em Educação Física
Bioquímica 
CARLA LOVERBECK WALTER PEIRETTI – RA 1141861
Campo Grande - MS
2015
Centro Universitário Claretiano
Curso de Graduação em Educação Física
Bioquímica
Trabalho apresentado a Disciplina de Bioquímica, Docente Especialista Marcel Frizza Pisa, no curso de Graduação em Educação Física, para obtenção da nota em participação de atividades.
Campo Grande – MS
2015
				Doping Genético
	Na busca de cada vez mais superar os próprios limites e de conseguir melhores resultados no esporte de alta performance muitos atletas, infelizmente, utilizam-se de métodos ilícitos que auxiliam na amplificação da performance física. Atualmente há muita discussão sobre a possibilidade de uso da terapia genética como uma forma de se obter uma melhora de performance em atletas de alto rendimento (doping genético).
	De acordo com a definição de 2004 da World Anti-Doping Agency (WADA), doping genético é o uso não terapêutico de células, genes e elementos gênicos, ou a modulação da expressão gênica, que tenham a capacidade de aumentar o desempenho esportivo. Logo o doping genético é uma consequência da terapia gênica, pois ao invés de injetar DNA em uma pessoa com um gene danificado ou em falta, o doping envolve uma inserção de DNA com o objetivo de melhorar o desempenho atlético.
	Atualmente existem muitos genes identificados que se relacionam ao fitness e a performance esportiva, portanto potencialmente candidatos ao doping genético. De maneira geral, estes genes alvos de doping são aqueles que, de alguma forma, proporcionem melhora na captação de oxigênio, otimização do metabolismo energético, ganho de massa muscular e perda de peso. Entre estes genes destacam-seatualmente: a eritropoietina (EPO); fator de crescimento semelhante à insulina tipo 1 (IGF-1); fator de crescimento endoterial vascular (VEGF); bloqueadores da miostatina (GDF-8); hormônio do crescimento (GH); receptor ativado por proliferador de peroxissomo delta (PPAR-δ); fosfoenolpirovato-carboxiquinase (PEPCK-C); fator induzido por hipóxia 1α (HIF-1α); leptina (LEP) e os genes codificadores da endorfina e encefalina.
	A EPO é uma proteína produzida nos rins que tem como ação principal estimular a hematopoese (aumento da produção de hemácias), com consequente melhora na capacidade de transporte de oxigênio para os tecidos. A IGF-1 é uma proteína responsável por um aumento na síntese proteica na musculatura esquelética, podendo potencializar as respostas musculares ao treinamento físico, principalmente em treinamento de força. O VEGF é uma proteína que favorece o crescimento do endotélio vascular na angiogenese e na vasculogenese, portanto poderia potencialmente melhorar a oxigenação e nutrição dos tecidos. O GDF-8 (gene da miostatina) atua como um regulador negativo evitando o crescimento descontrolado do músculo esquelético, acredita-se então que o bloqueio de sua expressão promova um aumento considerável no ganho de massa muscular. O GH exerce papel de destaque no crescimento ósseo e dos tecidos moles, sendo suas ações em grande parte medianas pela produção do IGF-1, portanto seus efeitos são semelhantes aos produzidos pelo IGF-1. O PPAR-δ é uma proteína que atua como reguladora no processo de oxidação dos lipídios e sua ação leva a uma diminuição na quantidade de tecido adiposo, com redução do peso corporal e aumento da termogênese. O PEPCK-C é um regulador chave da gliconeogenese que pode potencialmente melhorar a capacidade física e a resistência. HIF-1α é uma proteína que em situações de hipóxia ativa a eritropoietina com consequente aumento no número de hemácias, o que leva a uma melhora no suprimento de oxigênio e no desempenho aeróbico. A LEP é um hormônio produzido no tecido adiposo que promove a sensação de saciedade com redução de o consumo alimentar e consequente perda de peso. As endorfinas e encefalinas são peptídeos com ação analgésica e poderiam levar a um melhor desempenho pela diminuição da sensação de dor pelos atletas.
	A terapia genética pode, além do doping genético, ter uma ação benéfica aos atletas auxiliando a recuperação de vários tipos de lesões sofridas pelos mesmos, principalmente as de origem osteo-músculo-articulares que poderiam ter sua recuperação potencializada através da transferência de genes que codificam fatores de crescimento, que poderia em muitos casos dispensar a necessidade de procedimentos cirúrgicos.
	O uso da terapia genética como doping é um campo ainda de caráter experimental não sendo possível, a luz de a ciência atual, estabelecer adequados padrões de segurança ou de risco para seu uso. Atletas que eventualmente venham se submeter a esse tipo de artifício em busca de um melhor rendimento estão servindo de cobaias humanas uma vez que além dos efeitos desejados muitos outros podem vir a ocorrer, até mesmo prejudicando a performance do atleta. Entre os possíveis prejuízos ao organismo que o doping genético pode acarretar podemos citar os associados ao vetor que transmite o gene modificado, pois atualmente os principais vetores utilizados em pesquisas são vírus geneticamente modificados, podendo, portanto, provocar respostas inflamatórias, reações imunológicas além da potencial capacidade de mutação e replicação que o vírus pode ter principalmente se houver falhas em sua preparação. Outros efeitos indesejáveis podem ser decorrentes da falha de controle sobre a expressão do gene inserido como, por exemplo,aumento da viscosidade sanguínea pela eritropoietina, aumento do risco de desenvolvimento de câncer pela super-expressão de fatores de crescimento, entre outros.
	Acredito que os fatores que levam muitos atletas a se submeter ao uso de doping genético sejam os mesmos fatores que levam alguns atletas a utilizar qualquer outro tipo de substância proibida, que são as buscas por melhores performances e consequentemente melhores resultados em competições de alto rendimento, mesmo muitas vezes cientes dos potenciais riscos a saúde que essa prática pode acarretar.
	Muitas discussões existem no que se refere à ética no uso de terapia genética em atletas, pois até que ponto um indivíduo que possua uma doença que tenha seu tratamento baseado nesta terapia poderia se tornar um atleta e, talvez, obter alguma vantagem pelo tratamento de sua doença. Seria lícito impedir a participação desses indivíduos em competições esportivas? Este tipo de questionamento ainda deve ser o objetivo de muitos debates. O que eticamente já estaria estabelecido é que os usos de engenharia genética para melhoria do desempenho em atividades competitivas levariam a uma condição de superioridade com um desempenho inautêntico e uma vantagem injusta devendo portanto ser esta prática condenada. Infelizmente os comitês esportivos anti-doping ainda não dispõe de técnicas confiáveis para detecção do doping genético sendo esta deficiência alvo de inúmeras pesquisas. Portanto, até o presente momento, a principal forma de coibir o doping genético seria a realização de programas educacionais envolvendo técnicos, preparadores físicos, atletas e suas famílias, demonstrando claramente todos os riscos associado à utilização do doping genético.
	De acordo com o foi exposto podemos concluir que à medida que os avanços científicos ocorrem com o objetivo de promover melhores opções de tratamentos para muitas doenças, esses mesmos avanços podem se tornar alvo de uso indevido por alguns atletas na busca por melhores performance. É o que estamos vendo atualmente com o desenvolvimento da terapia genética, que pode proporcionar o surgimento do doping genético onde um atleta utiliza-se de forma não terapêutica, de genes, elementos genéticos ou células que potencialize o desempenho atlético.
	Essas técnicas de manipulação genética são alvo de muitas pesquisas e seus potenciais riscos ainda não foram devidamente estabelecidos bem como as formas para detecção de atletas que venham a fazer uso dessetipo de doping ainda não são precisos. Por isso, cabe ao profissional de educação física estar sempre atualizado para poder esclarecer os atletas e familiares sobre os inúmeros riscos associados ao doping genético ou qualquer outra forma de doping.
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA:
NARDI, N. B.; VENTURA, A. M. Terapia Gênica. In: Mir, L. Genômica. Atheneu, Rio de Janeiro, 2005, págs 625-642.
ARTIOLI, Guilherme G.; HIRATA, Rosário D. C.; LANCHA JUNIOR, Antonio Herbert. Terapia gênica, doping genético e esporte: fundamentação e implicações para o futuro. Revista Brasileira de Medicina do Esporte, Niterói, v.13, n.5, out. 2007.

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