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A Síndrome da Adolescência Normal Prof. Esp. Wellington Faijão • A puberdade é um período de rápido desenvolvimento físico e maturação sexual que marca o término da infância e o início da adolescência. • A puberdade é caracterizada pelas mudanças biológicas (de caráter somático e genético universal) que se manifestam na adolescência, e representam, para o ser humano, o início da capacidade reprodutiva (desenvolvimento das características sexuais primárias e secundárias). • A adolescência caracteriza o desenvolvimento psicossocial que ocorre na transição da puberdade para a idade adulta. • A adolescência é um período crítico do desenvolvimento do eu e da personalidade do indivíduo. • As representações da adolescência são influenciadas por fatores sócio-histórico e culturais. • A “identidade” não é um fenômeno próprio apenas do “adulto”, mas a cada momento do desenvolvimento o indivíduo tem uma identidade própria, que é fruto das identificações e experiências vitais (interação mundo interno - mundo externo) ocorridas até então. • Reformulação do autoconceito, abandono e luto pela autoimagem infantil, identificação e projeção da vida adulta. Três “perdas” ou lutos fundamentais da adolescência 1) A perda do corpo infantil; 2) A perda dos pais da infância; 3) A perda da identidade e papel sócio-familiar infantil Maurício Knobel • Nascido na Argentina, formou-se em medicina pela Faculdade de Medicina da Universidade Nacional de Buenos Aires, em 1950. Fez especialização em psiquiatria infantil pela Associação Norte-Americana de Clínicas Psiquiátricas para Crianças e residência em psiquiatria na Greater Kansas City Mental Foundation, ambas nos Estados Unidos. • Maurício Knobel observa que o adolescente vivencia “desequilíbrios e instabilidades extremas” com expressões psicopatológicas de conduta, mas que podem ser analisadas como aceitáveis para o seu momento evolutivo, pois constituem vivências necessárias para se atingir a maturidade. Reúne sob a denominação de “síndrome normal da adolescência” ou “normal anormalidade da adolescência” ao conjunto de sinais e sintomas que caracterizam esta fase da vida A SÍNDROME NORMAL DA ADOLESCENCIA • Principais sintomas: 1) Busca de si mesmo e da identidade 2) Tendência grupal; 3) Necessidade de intelectualizar e fantasiar; 4) Crises religiosas, 5) Deslocalização temporal; 6) Evolução sexual manifesta; 7) Atitude social reivindicatória; 8) Contradições sucessivas em todas manifestações da conduta; 9) Separação progressiva dos pais; 10) Constantes flutuações do humor e do estado de ânimo. A BUSCA DE SI MESMO E DA IDENTIDADE • Desenvolvimento do senso de self (autoconceito). • Desenvolvimento da noção de ego (eu): – Para Erikson o problema-chave da identidade consiste na capacidade do ego de manter esta semelhança e continuidade frente a um destino mutável. – A identidade é a criação de um sentimento interno da semelhança e continuidade, uma unidade da personalidade sentida pelo indivíduo e reconhecida por outro. • Processos de identificação e uniformização: – Identidade negativa real –Grupos sociais – Identidades transitórias, ocasionais e circunstanciais • A estranheza e a despersonalização. A busca de si mesmo e da identidade • Luto pelo corpo infantil: corpo e esquema corporal • Desenvolvimento do corpo: – Ativação dos hormônios gonadotróficos da hipófise anterior produz o estimulo fisiológico necessário para a modificação sexual; – Produção de óvulos e espermatozoides maduros e também o aumento da secreção de hormônios adrenocorticais como resultado da estimulação do hormônio adrenocorticotrófico. – Desenvolvimento das características sexuais primárias e secundárias A busca de si mesmo e da identidade • O esquema corporal é uma resultante intrapsíquica da realidade do sujeito, sendo a representação mental que o sujeito tem de seu próprio corpo. • A perda da “bissexualidade” (psicológica). • O Luto pelos pais infantis e pelo papel de criança: – Luta pela independência – As figuras parentais internalizadas adequadamente enriqueceram o ego, reforçam seus mecanismos defensivos úteis e estruturaram o superego. “A busca incessante de saber qual a identidade adulta que se vai constituir é angustiante, e as forças necessárias para superar esses microlutos e os lutos ainda maiores da vida diária obtêm-se das primeiras figuras introjetadas, que formam a base do ego e do superego desse mundo interno do ser.” (Aberastury e Knobel, 1989, p. 35). A TENDÊNCIA GRUPAL • O recurso ao grupo e à busca de uniformidade como comportamento defensivo, que pode proporcionar segurança, estima pessoal, reforço da identidade para um período de características esquizo-paranóides. • Identidade do grupo (identificações) diferente da identidade da família. • Transferência da dependência da família para o grupo. • No grupo, o indivíduo adolescente encontra um reforço muito necessário para os aspectos mutáveis do ego que se produzem neste período da vida. • Busca por um líder. NECESSIDADE DE INTELECTUALIZAR E FANTASIAR • O diversos lutos são vivenciados pelo adolescente como fracasso e impotência, o que o leva a recorrer ao fantasiar e ao intelectualizar como mecanismos defensivos para compensar as perdas que ocorrem dentro de si mesmo e que não pode evitar. • A intelectualização e a fantasia funcionam como uma fuga (refúgio) para o interior, uma espécie de reajuste emocional, que leva à preocupação por princípios éticos, filosóficos, sociais e políticos, e estimula a reflexão acerca de grandes reformas que podem acontecer no mundo exterior. ("as ideias de salvar a humanidade“) • Surge então a produção artísticas, criativa e intelectual do adolescente. AS CRISES RELIGIOSAS • Atitudes extremas , como manifestações fervorosas de ateísmo ou de misticismo. • O mesmo adolescente pode passar por períodos de místicismo e de ateísmo. • É um fase importante para a construção de uma ideologia, assim como de valores éticos ou morais, para a construção de novas e verdadeiras ideologias de vida. • As oscilações são “tentativas de soluções da angústia que vive o ego na sua busca de identificações positivas e do confronto com o fenômeno da morte definitiva de uma parte do seu ego corporal. • Além disso, começa a enfrentar a separação definitiva dos pais e a aceitação da possível morte deles” (1989, p. 40). A DESLOCAÇÃO TEMPORAL • O tempo é vivido como em processo primário (prazer imediato) sendo as urgências enormes e as postergações irracionais. • É durante a adolescência que a dimensão temporal vai deixando de ser apenas o tempo vivencial ou experimental e passa a adquirir lentamente características discriminativas, conceituais e lógicas. • Dificuldade em diferenciar externo e interno, como também passado, presente e futuro. • Os momentos de solidão costumam ser necessários para que se possa manejar o passado, o futuro e o presente. • "A verdadeira capacidade de estar só é um sinal de maturidade que somente se consegue depois destas experiências de solidão, às vezes angustiantes, da adolescência“. A EVOLUÇÃO SEXUAL DESDE O AUTOEROTISMO ATÉ A HETEROSEXUALIDADE • Oscilar permanente entre a atividade de caráter masturbatório, a atividade lúdica e os começos do exercício genital; • Há mais um contato genital de caráter exploratório e preparatório do que a verdadeira genitalidade procriativa; • Experiência do amor apaixonado (platônico , fugaz); são poucos os casosde uma verdadeira e consciente atividade genital responsável e com amor. • Os desejos são vivenciados intensamente e às vezes com culpa. • Curiosidade sexual, exibicionismo e o voyeurismo. ATITUDE SOCIAL REIVINDICATÓRIA • Atitudes combativas, delinquência juvenil, ritos de iniciação e atitudes reivindicatórias e de reforma social. • Ambivalência dual: conflito pais – filhos. • A adolescência é recebida predominantemente de maneira hostil pelo mundo dos adultos. • É toda a sociedade que intervém muito ativamente na situação conflitiva do adolescente. A sociedade impõe restrições ao adolescente. • Descarrega contra a sociedade e contra os seus pais seu ódio e inveja podendo vir a desenvolver atitudes destrutivas em relação aos mesmos. • O jovem, normal e adequado a seu processo evolutivo, deve contestar e reivindicar um mundo, uma sociedade, uma humanidade melhor, mais justa e mais cheia de amor. • A sociedade técnica e burocratizada dificulta o processo de identificação do adolescente. CONTRADIÇÕES SUCESSIVAS EM TODAS AS MANIFESTAÇÃO DA CONDUTA • A conduta do adolescente está dominada pela ação. • Personalidade não rígida, e sim permeável, esponjosa e instável. • Isto faz com que não possa ter uma linha de conduta determinada, o que já indicaria uma alteração da personalidade do adolescente. No adolescente, um indício de normalidade se observa na fragilidade da sua organização defensiva. • Fixar-se numa só conduta, não corresponde a um comportamento normal, nem ajuda a aprender a experiência. • As contradições, com a variada utilização de defesas, facilitam a elaboração dos lutos SEPARAÇÃO PROGRESSIVA DOS PAIS • Para atingir a maturidade é necessário ter individualidade e independência reais. • Fenômeno da ambivalência dual: muitos pais em nossa cultura se angustiam frente ao crescimento dos filhos e chegam até negá-lo. • O conflito de gerações é uma realidade necessária para o desenvolvimento sadio, tanto dos filhos adolescentes como o de seus pais. • A presença internalizada de boas imagens parentais, papéis bem definidos permitirá uma boa separação dos pais, facilitará a passagem para a maturidade e o exercício da genitalidade em um plano adulto. CONSTANTES FLUTUAÇÕES DO HUMOR E DO ESTADO DE ÂNIMO • Fenômenos de ansiedade, depressão e luto que acompanham o processo identificatório da adolescência. • Uma conquista, por mínima que seja entusiasma e alegra. Uma frustração aborrece e deixa triste. Isto acontece milhares de vezes ao dia. • No processo de flutuações dolorosas permanentes, a realidade nem sempre satisfaz as aspirações do indivíduo, o que leva ao "retorno a si mesmo autista“, sentimento de solidão, frustração, aborrecimento e desalento. • As mudanças de humor são típicas da adolescência e é preciso entendê-las sobre a base dos mecanismos de projeção e de luto pela perda de objetos. • Podem aparecer como micro-crises maníaco-depressivas. Granville Stanley Hall • Granville Stanley Hall (1844-1924) • Stanley Hall trouxe a curiosidade de Darwin e a visão naturalística para um novo estudo do comportamento humano conhecido como psicologia. • Acreditava Hall que para se entender o desenvolvimento humano era necessário desvendar os segredos da vida humana. • O conceito de adolescência foi por ele criado em 1904 • Como um leal Darwinista, Hall acreditava que a adolescência poderia ser a ponte entre as pessoas em seus presentes estados e os "superandroídes" com os quais eles se envolveriam. Corretamente identificado o idealismo como uma característica peculiar da adolescência, Hull erroneamente pressupôs que as crenças idealistas seriam transmitidas automaticamente em atos idealistas. Ele também acreditava que a sexualidade e o crescimento físico eram mais importantes do que o crescimento cognitivo. Hall descreveu a adolescência como um período de tempestade e stress, e este estereótipo da adolescência como um período de rompimento e extremismo vive ainda hoje. A TEORIA DO DESENVOLVIMENTO HUMANO DE STANLEY HALL • Embasada nas teses evolucionistas de Darwin; • Estabelece, que na infância a evolução social do homem simplesmente se repete, ou seja, no indivíduo, em seu desenvolvimento pessoal, processam-se os mesmos procedimentos evolutivos ocorridos com sua própria espécie; • A infância é, portanto, predeterminada por estes condicionantes hereditários inscritos na espécie humana. Este período da vida humana seria marcado pela ênfase no fator biológico. • O comportamento da criança seria entendido por Hall como mais instintivo que social. • Mecanismo de recapitulação, propondo que a mesma, neste caminhar qualitativo e quantitativo, repete, numa ação orgânica retrospectiva, o vivido pelos seres humanos que a antecederam em seus períodos de desenvolvimento. • Estabelece que a história experimental da espécie humana torna- se parte da estrutura genética de vida do indivíduo. • O organismo do indivíduo, durante um desenvolvimento, passa através de estágios correspondentes aos que ocorrem durante a história da humanidade, isto é, o indivíduo revive todo o desenvolvimento da espécie humana desde o estágio quase animal nas eras primitivas, num estado de selvageria, até os mais recentes modos civilizados de vida que caracterizam a humanidade. • O meio ambiente social não era uma variável interveniente nesse processo, o que foi fortemente rebatido pelos antropólogos e sociólogos de tendência culturalista. • Por não considerar o meio ambiente como variável determinante no processo de desenvolvimento do ser humano, Hall aconselha aos pais e educadores que fossem tolerantes com seus filhos nesta fase quando certos comportamentos se apresentarem frente a eles como inaceitáveis. Estágios • PRIMEIRA INFÂNCIA inclui os primeiros quatro anos de vida. Enquanto a criança está engatinhando ela está revivendo a fase animal da espécie humana, quando o homem caminhava sobre quatro pernas. Durante este período, o desenvolvimento sensorial é dominante: a criança adquire aquelas habilidades senso-motoras necessárias à autopreservação. • INFÂNCIA - que se estende de 4 a 8 anos- presumivelmente corresponde a época cultural, quando a caça e a pesca eram as principais atividades do homem. Esta é a época em que a criança brinca de "esconde-esconde", "bandido e mocinho" e faz uso de armas de brinquedo, etc. Ao contrário de cabanas e outros esconderijos, é paralela a cultura do homem das cavernas, da pré-história. • JUVENTUDE - 8 a 12 anos - inclui o período hoje conhecido como pré- adolescência, durante este estágio a criança revive a vida monótona dos selvagens de há muitos milênios. Este é um período de vida no qual a criança tem uma grande predisposição para agir e exercitar-se, quando o treinamento e exercício de hábitos são mais apropriados • Adolescência é o período que se estende desde a puberdade (aproximadamente aos 12-13 anos) até atingir o estado adulto pleno. • De acordo com Hall a adolescência termina comparativamente tarde, entre 22 e 25 anos de idade. ... nos termos da teoria da recapitulação, a adolescência corresponde a época em que a raça humana passava por um período de turbulência e transição. • Hall descreveu a adolescência como um renascimento, para que possam nascer características mais elevadas plenamente humanas. • O ser humano se encontra na adolescência terminal, em que o indivíduo recapitula o estágio do começo da civilização moderna.Encerra-se o processo de desenvolvimento, e o ser humano alcança a maturidade. • As forças internas é que dariam a direção ao desenvolvimento. Este direcionamento interno seria o potencial próprio da criança, seu próprio desenvolvimento. • Paciência e tolerância?!?!?! • A psicologia genética de Hall não via o ser humano como um produto final e acabado do processo de desenvolvimento; acena com a possibilidade de uma continuação indefinida do aperfeiçoamento humano • Para Hall adolescência seria uma experiência comparada a um segundo nascimento, em que o ser humano teria a oportunidade de repassar por todos os estágios anteriores e, obter, com isso, o ápice de seu desenvolvimento, além disso, essa seria uma fase caótica e difícil devido a velocidade com que se dão as transformações. Essa concepção foi reforçada na teoria psicanalista que a caracterizaram como uma etapa de confusões, estresse e luto também causados pelos impulsos sexuais que emergem nessa fase do desenvolvimento.
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