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ESTATUTO DO DESARMAMENTO, UMA DISCUSSÃO SOBRE A (DES)NECESSIDADE DE SUA REVOGAÇÃO

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1 
 
ESTATUTO DO DESARMAMENTO, UMA DISCUSSÃO SOBRE A 
(DES)NECESSIDADE DE SUA REVOGAÇÃO 
 
RESUMO 
 
O presente trabalho possui a finalidade de apresentar o estatuto do desarmamento, 
suas causas, efeitos, aspectos históricos e jurídicos. O tema mencionado acima fora 
escolhido por ter relação direta para com o jurista, por fazer parte do cotidiano da 
população brasileira e ser de grande importância no cenário jurídico nacional, 
ganhando maior atenção no último ano. O método utilizado para a obtenção dos 
dados foi dialético, e a pesquisa foi através de consulta bibliográfica, artigos de sites 
jurídicos, dos quais foram extraídos dados a fim de buscar informações pertinentes 
ao assunto a ser debatido neste trabalho. Os resultados obtidos revelam uma 
incoerência entre a relação de civis armados e o aumento da violência no país. 
Portanto, o presente estudo mostra o paradoxo entre as campanhas de 
desarmamento civil e comprova a inexistente relação direta entre a quantidade de 
armas em circulação nos meios civis e as taxas de morte por seu uso. 
Palavras-chave: Desarmamento. Criminalidade. Violência. 
 
 
 
ABSTRACT 
 
The present work has the purpose of presenting the disarmament statute, its causes, 
effects, historical and legal aspects. The theme mentioned above was chosen 
because it has a direct relationship with the jurist, because it is part of the daily life of 
the Brazilian population and is of great importance in the national legal scenario, 
gaining more attention in the last year. The method used to obtain the data was 
dialectical, and the research was through bibliographic consultation, articles of legal 
sites, from which data were extracted in order to seek information pertinent to the 
subject to be debated in this work. The results show an inconsistency between the 
2 
 
ratio of armed civilians and the increase of violence in the country. Therefore, the 
present study shows the paradox between civil disarmament campaigns and proves 
the non-existent direct relationship between the number of weapons circulating in 
civilian environments and the death rates from their use. 
Keywords: Disarmament. Crime. Violence. 
 
 
INTRODUÇÃO 
 
A preocupação com armas de fogo vem desde o início do século passado, 
mas no final da década de 80, surgiu no Brasil um problema que agravou muito a 
segurança pública em todo território nacional. Bandidos, e de todos os calibres, 
sentem-se com poder acima do Estado, cometendo a cada dia crimes mais ousados, 
até os dias atuais vem sendo discutido, qual seja, a quantidade desenfreada de 
armas de fogo nas mãos desses delinquentes. 
Anteriormente, os registros e controles de armas eram feitos pelas 
organizações policiais de cada estado sem nenhuma infraestrutura tecnológica que 
pudesse dar a integração entre esses sistemas, fazendo com que ocorresse uma 
grande dificuldade no controle de armas, chamando a atenção do governo que criou 
técnicas, a fim de regular e integrar o controle de armas no país. 
Nesse contexto, o presente trabalho analisa quais os meios que o Estado 
utilizou para tentar sanar o problema da segurança pública de nosso país, 
apontando dispositivos criados para o controle de armas de fogo e, tendo ainda 
como objetivo, descrever a evolução das leis relacionadas ao controle de armas e a 
falha do Estado no ato de aplicar as normas. 
Assim sendo, destaca-se a importância e relevância do assunto, que nos dias 
de hoje é lembrado e constantemente debatido, pois mesmo com o governo 
tomando medidas e criando diplomas legais para o controle de armas, ainda assim 
se tem um grande arsenal no poder de delinquentes. 
3 
 
O governo dos estados, juntamente com o governo federal, tem o dever de 
prestar segurança pública para toda a população brasileira. As armas de fogo estão 
intimamente ligadas à segurança pública, cabendo à União, por esse motivo, através 
do SINARM, instituído no Ministério da Justiça, não só autorizar e fiscalizar a sua 
produção e comércio, como também criar diplomas legais que possam regular e 
banir atos ilegais relacionados a esse assunto. 
Foi feita através de uma pesquisa exploratória, considerando o levantamento 
de dados por meio de uma revisão sistemática da literatura, visando a proporcionar 
maior familiaridade com a questão do controle de armas no Brasil. Foi definido 
utilizar arquivos publicados somente na língua portuguesa e sem tempo limite para 
publicação, podendo empregar artigos, leis, normas, dentre outros, publicados nos 
mais variados períodos. 
Foi vista, então, a importância de analisar o trabalho feito pelo Poder 
Legislativo, desde os anos noventa até os dias atuais, sendo que o referido Poder 
vem dando grande importância às questões do controle de armas de fogo. 
Assim, no primeiro capítulo será visto a evolução histórica das políticas de 
desarmamento do Brasil, tendo como indagação a questão: realmente todas as 
mudanças e criações de leis, até mesmo a que instituiu o Sistema Nacional de 
Armas no mais recente diploma de regência, Estatuto do Desarmamento, fizeram 
com que diminuísse o número de armas nas mãos da população e, 
consequentemente, reduzisse o percentual de homicídios ocasionados por esses 
artefatos? 
Para o segundo capítulo será analisado o efeito da política de desarmamento 
no Brasil através de duas correntes que analisam os efeitos da política de 
desarmamento no Brasil, onde a uma defende parcialmente a política de controle de 
armas de fogo adotada no país, enquanto a outra está a favor de toda essa política 
do desarmamento. 
No terceiro e ultimo capítulo será discutida a necessidade ou não da 
revogação do Estatuto do Desarmamento, pois, para algumas pessoas a arma é um 
instrumento que causa um mal à sociedade, podendo ser atualizada erroneamente 
em várias situações, nos mais variados contextos, como, por exemplo, no âmbito da 
4 
 
violência doméstica e familiar; e para outras que pensam em utilizá-la em sua 
própria defesa, como também na defesa de sua família ou de bens materiais quando 
estes encontrem-se ameaçados, esta última corrente de opinião se agarra ao 
pensamento de que não está tentando resolver o problema da criminalidade, mas 
em pessoas trabalhadores que desejam e tem expectativa de vida com maior 
segurança; para aqueles que tem sentimento de proteção, este refletido na 
possibilidade de se defender de forma justa, proporcional à ameaça. 
 
1 EVOLUÇÃO HISTÓRICA DAS POLÍTICAS DE 
DESARMAMENTO DO BRASIL 
 
Desde a conquista da América pelos espanhóis, por volta de 1500, o uso das 
armas de fogo avançou bastante. Segundo Cunha Neto (2008), nesse período 
surgiram os mosquetes, espingardas de mecha, rodete e pederneira. O propósito 
desse aumento era reduzir os riscos de ação ao soldado, que nessa época ainda 
eram extremamente elevados, e aumentar o desenvolvimento da potencialidade de 
fogo da arma. 
Cunha Neto (2008) afirma que no século XIX, com a invenção de um método 
conhecido do “raiamento do cano”, ou seja, da pólvora sem fumaça e do cartucho 
metálico, possibilitou o surgimento das armas de fogo atuais, com grande poder 
destrutivo, pois anteriormente ao “raiamento do cano” as armas eram carregadas 
pela boca, e não pela culatra, então, entupimentos eram um mal recorrente. 
O primeiro revólver apareceu em 1836, denominado Colt Paterson, 
patenteado por um americano chamado Samuel Colt, no entando, as pistolas semi-
automáticas, surgiram apenas no final do século XIX e início do século XX, Cunha 
Neto (2008). 
No período colonial, quando o Brasil passou a ser colônia de exploração de 
Portugal, dominando o país com mão de ferro, têm-se registros dasprimeiras 
políticas de desarmamento. Nessa época, quem fosse pego fabricando arma de fogo 
em território nacional estaria sujeito a três tipos de punições, a saber: ser preso, ser 
5 
 
condenado a pagar determinada quantia em dinheiro ou ser condenado, até mesmo, 
à morte, de acordo com Silvia (2015). 
Isso ocorreu segundo Tribuna (2016), com a chamada Ordenações Filipinas, 
que foi uma reforma feita por Felipe II da Espanha (Felipe I de Portugal), ao Código 
Manuelino, durante o período da União Ibérica. Continuando em vigor até a 
promulgação do primeiro Código Civil brasileiro, em 1916. Cunha Neto (2008) diz 
que as Ordenações Filipinas, no seu título LXXX traziam a seguinte disposição: 
Defendemos que pessoa alguma, não traga em qualquer parte 
dos nossos Reinos, péla de chumbo, nem de ferro, nem de 
pedra feitiça; e sendo achado com ella, seja preso, e stê na 
Cadêa hum mez, e pague quatro mil réis, e mais seja açoutado 
publicamente com baraço, e pregão pela Cidade, Villa, ou lugar 
onde for achado. (CUNHA NETO, 2008, pag. 26) 
O objetivo da restrição de Portugal as armas por da população civil conforme 
Silvia (2015) era impedir que revoltas populares armadas pudessem ameaçar o 
poder de Portugal, ou seja, que os colonos não lutassem pela independência. 
Em 1831 Dom Pedro I abdicou do trono deixando seu filho de apenas 5 anos 
de idade, Dom Pedro II, para assumir o trono. Não podendo assumir o poder pela 
pouca idade, Diogo Antônio Feijó passa a administras o Brasil até 1840, nesse 
período o país entra no período que ficou conhecido por Regencial. O Brasil já 
estava independente de Portugal, e as Ordenações Filipinas foram abolidas. 
No ano de 1835, Feijó começou a trabalhar pela dissolução das revoltas que 
rebelavam por motivo de abuso do poder imperial contra as classes menos 
favorecidas, e pela formação de uma Guarda Nacional. Feijó tinha como intento 
monopolizar o poder para proteger a Família Real, evitando-se uma desestabilização 
do governo imperial. Diferentemente dos Estados Unidos, com fundamento na 
Segunda Emenda de sua lei maior, seu povo poderia constituir grupos e se armarem 
para defenderem seu país de forças internas e externas contrárias a seu território, 
no Brasil, apesar de haver proibição de criação de milícias, os cidadãos livres eram 
autorizados a possuir armas individualmente por todo o Império, direito esse proibido 
a negros, na sua maioria escravos, e também a índios, com exceção dos capitães 
do mato, ainda conforme Silvia (2015) 
6 
 
Tais normas perduraram por todo o Período Imperial e República Velha, entre 
os anos de 1889 a 1930, quando, em seguida, Getúlio Vargas ingressa no poder do 
País e firma oficialmente a primeira campanha em prol do desarmamento. 
Getúlio Vargas sancionou a lei Decreto 24.602 de 1934 que determinava em 
seu artigo 1º, após a Revolução de 32, que dizia: “Art. 1º Fica proibida a instalação, 
no país, de fábricas civis destinadas ao fabrico de armas e munições de guerra.” 
BRASIL (1934). 
Em 1938, Alcântara Machado, atuando como deputado federal, criou um 
projeto que dava ao porte de armas a natureza de delito, na redação original de seu 
Projeto do Código Penal, que foi a base para a legislação criminal ainda hoje em 
vigor. No artigo 251 do inciso I ao III dizia: 
Art. 251 Fabricar, importar, exportar, conservar em depósito ou 
vender, sem permissão da autoridade, munição ou arma, que 
não seja objeto de arte ou antiguidade. 
Pena: detenção por 3 meses a 1 ano, ou multa de 1 a 5:000$, 
ou ambas, cumulativamente. 
Parágrafo único: Na pena de multa de 200$000 a 2:000$000 
incorrerá aquele que: 
I- Tendo em seu poder arma ou munição, não fizer 
comunicação ou entregar á autoridade, quando a lei o 
determine; 
II- Fora de sua casa ou dependência, trouxer consigo 
arma ofensiva, sem licença da autoridade ou sem motivo justo; 
III- Permitir que a tragam consigo alienado, ou menor de 
14 anos, ou pessoa inexperiente a manejá-la. (MACHADO, 
1938, pag. 388) 
Em 3 de outubro de 1941 foi criado o decreto-lei 3.688, Lei das 
Contravenções Penais, que, em seu artigo 19 traz a seguinte redação: 
Art. 19. Trazer consigo arma fora de casa ou de dependência 
desta, sem licença da autoridade: 
Pena – prisão simples, de quinze dias a seis meses, ou multa, 
de duzentos mil réis a três contos de réis, ou ambas 
cumulativamente 
§ 1º A pena é aumentada de um terço até metade, se o agente 
já foi condenado, em sentença irrecorrível, por violência contra 
pessoa 
§ 2º Incorre na pena de prisão simples, de quinze dias a três 
meses, ou multa, de duzentos mil réis a um conto de réis, 
quem, possuindo arma ou munição: 
a) deixa de fazer comunicação ou entrega à autoridade, 
quando a lei o determina; 
b) permitir que alienado menor de 18 anos ou pessoa 
inexperiente no manejo de arma a tenha consigo; 
7 
 
c) omite as cautelas necessárias para impedir que dela se 
apodere facilmente alienado, menor de 18 anos ou pessoa 
inexperiente em manejá-la (BRASIL, 1941, pag. 04). 
Esse regulamento sofreu varias criticas, por não parecer lógico que a Lei 
confira o mesmo tratamento às armas de fogo e às armas brancas, dado a 
desigualdade de seu potencial. Erra também ao ponto de não identificar qual o tipo 
de armas permitidas para uso restrito, a classificação que distingue o princípio da 
proporcionalidade das penas. 
O artigo 19 da Lei das Contravenções Penais, conforme Cunha Neto (2008), 
“encontra-se atualmente revogado pelo Estado do Desarmamento no tocante às 
armas de fogo, mas ainda possui vigência em relação às armas brancas” (pag. 30). 
No mesmo decreto-lei 3.688 de 3 de outubro de 1941, Lei das Contravenções 
Penais, seu artigo 18 traz a seguinte redação sobre a fabricação ou comércio de 
armas e munições: 
Art. 18. Fabricar, importar, exportar, ter em depósito, ou 
vender, sem permissão da autoridade, arma ou munição: 
Pena - prisão simples, de 03 (três) meses a 01 (um) ano, ou 
multa, ou ambas cumulativamente, se o fato não constitui crime 
contra a ordem política ou social (BRASIL, 1941, pag. 03). 
No artigo 18 da Lei das Contravenções Penais, acha-se um ponto de vista 
mais lógico que a posterior, a 9.437/97. As ações relacionadas no artigo 18 têm 
maior relevância penal, diferentemente do artigo 19, merecendo mais repreensão 
mais elevada em respeito ao principio da proporcionalidade. 
Tributo (2018), diz que no Regime Militar foi sancionado pelo presidente 
Castelo Branco, o Decreto de lei nº 55.649, em 28 de janeiro de 1965 que endurecia 
ainda mais o R105 (Regulamento para a fiscalização de produtos controlados pelo 
exército brasileiro). 
Enquanto em 1997 a legislação sobre o porte de armas sofreu uma nova 
regulamentação em função do IX Congresso das Nações Unidas sobre Prevenção 
do Crime e tratamento do Delinquente, realizado no Cairo, Egito, em 1995, SILVA 
(2015). 
Ainda segundo Silva (20015), nesse Congresso, a ONU (Organização das 
Nações Unidas) afirmou categoricamente que a falta de regulamentação e controle 
8 
 
do porte de armas de fogo era o principal responsável pelo aumento da 
criminalidade. Foi quando o Presidente da República, Fernando Henrique Cardoso e 
seu Ministro da Justiça iniciaram um processo de conscientização do Congresso 
Nacional com a intenção de modernizar a legislação criminal referente às armas de 
fogo para ir ao encontro das ideias das Nações Unidas. 
Isso foi feito exatamente como afirma Silva (2015) apud Damásio de Jesus 
(2007) em seu livro Direito Penal do Desarmamento: 
Realmente, o Governo Federal, em 1997, no sentido de reduzir 
a delinqüência urbana, a chamada “criminalidade de massa”, 
fez entrar em vigor a Lei n. 9437, de 20 de Fevereiro, hoje 
revogada, criando o Sistema Nacionalde Armas de Fogo 
(SINARM), transformando a contravenção de porte ilegal de 
arma de fogo em crime, regulando sua aquisição e posse e 
introduzindo outras providências, medidas que reclamávamos 
desde 1995, (SILVA apud JESUS, 2015, pag. 15). 
A Lei a 9.437/97 de 20 de fevereiro ficou conhecida como “Lei das Armas de 
fogo”, visto posteriormente que nela continham vários erros, substituída em seguida 
pela Lei 10.826 de 22 de dezembro de 2003. O atual estatuto veio para estruturar 
novamente sobre registro, porte e comercialização de armas de fogo, definindo 
direitos e disciplinando o Sistema Nacional de Armas (SINARM). Tornando-as 
também mais rígidas com relação ao acesso às armas para população civil. 
A nova Lei trouxe diversas exigências para a concessão do 
porte de arma de fogo, o que é, até certo limite, totalmente 
aceitável e elogiável. Somente pessoas idôneas, tecnicamente 
capacitadas e com o devido equilíbrio emocional deveriam 
poder andar armadas. Assim, o interessado deveria comprovar 
sua idoneidade, com a apresentação de certidões de 
antecedentes criminais, fornecidas pela Justiça Federal, 
Estadual, Militar e Eleitoral, bem como documento 
comprobatório de comportamento social produtivo. Além disso, 
deveriam ser devidamente comprovadas a real necessidade, 
sua capacidade técnica para manuseio de arma de fogo e sua 
aptidão psicológica. 
Ao contrário do que possa parecer numa análise precipitada, a 
nova lei não unificou a emissão do registro e da autorização de 
porte de armas. Ainda havia a possibilidade dos Estados 
emitirem certificados com abrangência em seu território, por 
meio de suas Polícias Civis. O art. 7º, § 1º, da 9.437/97, 
permitia ainda que Estados limítrofes firmassem convênios 
para a recíproca validade dos portes de arma por eles emitidos. 
Nesse passo, a disciplina da lei de 1997 é melhor do que a do 
Estatuto do Desarmamento de 2003. (CUNHA NETO, 2008, 
pag. 32 e 33) 
9 
 
É fato que na Lei 9.437/97 o legislador utilizou-se de maneira indiscriminada 
de parágrafos e incisos, misturando conceitos e não revelando uma preocupação 
técnica em oferecer um desenho legislativo ao resto do sistema penal, esquecendo-
se de que isso poderia influenciar na maneira como seriam interpretados. 
Art. 10 Possuir, deter, portar, fabricar, adquirir, vender, alugar, 
expor à venda ou fornecer, receber, ter em depósito, 
transportar, ceder, ainda que gratuitamente, emprestar, 
remeter, empregar, manter sob guarda ou ocultar arma de 
fogo, de uso permitido, sem a autorização e em desacordo com 
determinação legal ou regulamentar. Pena: detenção de 1 a 2 
anos e multa. 
§ 1º: Nas mesmas penas incorre quem: 
I- omitir as cautelas necessárias para impedir que menor de 18 
anos ou deficiente mental se apodere de arma de fogo que 
esteja sob sua posse ou que seja de sua propriedade, exceto 
para a prática do desporto quando o menor estiver 
acompanhado de menor ou instrutor; 
II- utilizar arma de brinquedo, simulacro de arma capaz 
de atemorizar outrem, para o fim de cometer crimes; 
III- disparar arma de fogo ou acionar munição em lugar 
habitado ou em suas adjacências, em via pública ou em 
direção a ela, desde que o fato não constitua crime mais grave. 
§ 2º: A pena é de reclusão de dois a quatro anos e multa, na 
hipótese deste artigo, sem prejuízo da pena por eventual crime 
de contrabando ou descaminho, se a arma de fogo ou 
acessórios forem de uso proibido ou restrito. 
§ 3º: Nas mesmas penas do parágrafo anterior incorre quem: 
I- suprimir ou alterar marca, numeração ou qualquer sinal de 
identificação de arma de fogo ou artefato; 
II- modificar as características da arma de fogo, de forma 
a torná-la equivalente a arma de fogo de uso proibido 
ou restrito; 
III- possuir, deter, fabricar ou empregar artefato e/ou 
incendiário sem autorização; 
IV- possuir condenação anterior por crime contra a pessoa, 
contra o patrimônio e por tráfico ilícito de entorpecentes 
e drogas afins. (BRASIL, 1997, pag. 04) 
É notória a combinação da mesma pena para posse, transporte, porte, 
fabricação e disparo de arma de fogo. Essa conduta fere o princípio da 
proporcionalidade, o bem jurídico tutelado e a identidade pública de maneira distinta. 
No entanto, se o objetivo da lei 9.537/97 foi tornar o porte legal de armas mais rígido 
e desestimular eventuais interessados, de início seu intuito foi alcançado. 
Estatisticamente Cunha Neto (2008) apud, segundo os dados de Teixeira 
(2001) afirma que em 1994, foram emitidas 69.136 permissões para o porte de 
armas no Estado de São Paulo. Um ano após a promulgação da lei, esse número foi 
drasticamente reduzido para 2.115, chegando a apenas 1.167 em 1999. A venda de 
10 
 
novas armas sofreu uma redução de 59% com a lei, de 22.025 em 1996 para 8.094 
em 1997. 
Surge num momento de apelo social em relação ao Estatuto do 
Desarmamento, através de dramáticas pressões de vítimas da violência, apontando 
o desarmamento legal como solução para o combate à violência. O medo foi 
disseminado pelo país, levando a sociedade a genuinamente exigir e apoiar a edição 
de leis penais mais rigorosas, como se a aprovação de uma nova Lei tivesse a 
capacidade de acabar com o crime. 
Foi nesse ambiente de medo, insegurança, revolta e dor das vítimas e 
parentes de vítimas da violência urbana que o Congresso Nacional aprovou no dia 
22 de dezembro de 2003 a Lei 10.826, como o um “remédio” capaz de acabar de 
uma vez por todas com a violência urbana. 
Para Cunha Neto (2008) apud Gomes e Oliveira (2002) a inexperiência da 
Administração Pública em lidar com o problema da violência dá oportunidade ao 
surgimento de políticas criminais simbólicas, pouco efetivas, fundada no movimento 
da “lei e da ordem” (o que significa aumento de penas, novos tipos penais, 
endurecimento da execução, quebra de direitos e garantias fundamentais etc.), 
como se a lei fosse isoladamente a solução. 
O Estatuto do Desarmamento foi uma resposta imediatista dada pelo 
Congresso Nacional à violência que assolava e assola até hoje o País. Embora a Lei 
10.826/03 seja duramente criticada por suas graves falhas, em pelo menos um 
aspecto ela merece um elogio, por ser um avanço condizente com as premissas do 
moderno Direito Penal. 
Esse aspecto é justamente a separação dos crimes em diversos tipos, com 
suas penas graduadas (ainda que de modo arbitrário) conforme a perda de valor de 
cada ação. 
Assim, o novo diploma é muito mais coerente ao princípio da 
proporcionalidade do que a revogada Lei 9.437/97. As práticas de possuir, portar, 
disparar, omitir cautelas para evitar que um incapaz se aposse da arma, fabricar, 
11 
 
comercializar e importar ou exportar armas de fogo são objeto, cada uma, de um tipo 
específico, por constituírem infrações com grau de ofensividade distinta. 
Após muito tempo de ditadura, essa foi à primeira lei que refletia uma grande 
preocupação do Governo brasileiro em atualizar a legislação do País, que até então 
se mostrava ultrapassada no âmbito civil, adequando-se às pretensões de 
segurança pública, no intuito de diminuir a insegurança e a criminalidade que 
ocorriam em grande quantidade com o uso de arma de fogo, Lottermann (2012) 
apud Jesus (2007). 
Essa lei foi de grande importância, pois tinha o intuito de criar um sistema 
único para o cadastro dessas armas, tendo em vista compensar as falhas existentes 
no controle de armas no Brasil. Como por exemplo, a criação do SINARM (sistema 
nacional de Armas), um setor da polícia federal que deveria congregar todas as 
informações sobre armas de civis. Neste setor, quem tivesse o interesse em ter 
autorização para comprar arma deveria requerê-la à autoridade policial de seu 
estado, que consultaria o sistema nacional de Armas paradepois deferir ou indeferir 
o pedido. (FACCIOLLI, 2006). 
Infelizmente, segundo Facciolli (2006), “esse projeto mal saiu do papel” (pag. 
50). O que se sabe é que não se criou um projeto distanciado, mas sim inovador, 
com o intuído de controlar, fiscalizar e regulamentar a posse e o uso de arma de 
fogo no Brasil. 
A intenção da regulamentação do porte ilegal de armas era tentar controlar a 
proliferação de “arma em mãos de delinquentes e de pessoas não autorizadas, o 
comércio ilegal, controlar o comércio legal, limitar as fontes do tráfico irregular, 
impossibilitar a reutilização ilegal da arma apreendida, incrementar os critérios de 
concessões do porte” Caldi e Lopes (2014, pag. 07). 
Apesar de serem claros os objetivos em diminuir a violência e o número de 
mortes causadas por armas de fogo, essa lei deixou algumas limitações. Em partes 
da sociedade se apresentou um sentimento de haver no país um sistema confiável 
para o controle de armas, fazendo com que vários projetos tramitassem no 
Congresso Nacional, a fim de aperfeiçoar a Lei 9.437, criando a Lei nº 10.826, de 22 
de dezembro de 2003. Nunes (2005). 
12 
 
Facciolli (2006) acredita que o país acreditou na “ilusão de que a proibição da 
venda e da restrição ao porte de armas de fogo poderia acabar com a violência que 
domina os grandes centros urbanos” (pag. 15), pois a grande maioria dos brasileiros 
tem o que se pode chamar de „aversão a armar‟. A prática indevida de armamentos 
gera violência, contribuindo para complicar o insucesso institucional do Estado 
diante da criminalidade. Facciolli (2006) acrescenta ainda que essa lei de política de 
controle de arma de fogo se baseia também no “controle de oferta, na demanda e 
nos estoques circulantes. Esquecendo-se assim da corrupção, do contrabando e 
outras formas de condutas tidas como ilícitas.” (pag. 15) 
Apenas nove dos trinta e sete artigos do Estatuto do Desarmamento, 
puderam ser aplicados imediatamente após ser sancionado, sendo que esses 
artigos dispõem sobre os crimes e as penas que, para muitos estudiosos de direito 
criminal, tornou rigoroso por demais as penas cominadas a crimes com armas, 
Fernandes (2005). Um deles é o Artigo 35, parágrafos 1º e 2º, onde previa em seu 
conteúdo uma autorização a ser feita em outubro de 2005, fazendo nele um 
questionamento à população relacionada ao comércio de armas de fogo e munição 
a ser proibido no Brasil. 
Art. 35. É proibida a comercialização de arma de fogo e 
munição em todo território nacional, salvo para as entidades 
previstas no art. 6º desta lei. 
§1º Este dispositivo. Para entrar em vigor, dependerá de 
aprovação mediante referendo popular, a ser realizado em 
outubro de 2005. 
§2º Em caso de aprovação do referendo popular, o disposto 
neste artigo entrará em vigor na data de publicação de seu 
resultado pelo Tribunal Superior Eleitoral. (BRASIL, 2003, pag. 
11) 
Para Facciolli (2006) esse novo estatuto apenas aperfeiçoou alguns pontos 
que eram dados como falhos, dentro dessa nova política nacional, tentando 
centralizar grande parte das informações pertinentes a armas de uso permitido, 
como por exemplo, a gestão do Sistema Nacional de Armas, foi escolhido para 
atividade o Departamento de Polícia Federal que além de todas as suas atribuições 
constitucionais que lhe é de dever, também teria que como seu encargo. 
Ainda conforme Facciolli (2006), esse regulamento, se aplicado de forma 
correta, poderia ser visto de uma forma astuciosa, tendo em vista que, nas palavras 
do autor: 
13 
 
Embora o nome SINARM sugira a gestão unificada do 
produto „arma‟, no Brasil, atualmente, não existe um sistema 
único de gerenciamento, cadastramento, registro, controle e 
concessão de porte. A atividade sempre foi executada de 
forma descentralizada – polarizada – onde as diversas 
“competências” foram originalmente repartidas entre as 
esferas: municipal, estadual e federal. (FACCIOLLI, 2006, 
pag. 20) 
A Lei nº 10.826, de 22 de dezembro de 2003 que determina o Sistema 
Nacional de Armas para Fernandes (2005), é um grande banco de dados instalado 
no Departamento da Polícia Federal, que recebeu algumas funções a mais do que já 
eram de sua responsabilidade, todas elas estão descritas nos incisos do Artigo 2º, 
da Lei 10.826/03, são elas: 
I – identificar as características e a propriedade de armas de 
fogo, mediante cadastro; 
II – cadastrar as armas de fogo produzidas, importadas e 
vendidas no País; 
III – cadastrar as autorizações de porte de arma de fogo e as 
renovações expedidas pela Polícia Federal; 
IV – cadastrar as transferências de propriedade, extravio, 
furto, roubo e outras ocorrências suscetíveis de alterar os 
dados cadastrais, inclusive as decorrentes de fechamento de 
empresas de segurança privada e de transporte de valores; 
V – identificar as modificações que alterem as características 
ou o funcionamento de arma de fogo; 
VI – integrar no cadastro os acervos policiais já existentes; 
VII – cadastrar as apreensões de armas de fogo, inclusive as 
vinculadas a procedimentos policiais e judiciais; 
VIII – cadastrar os armeiros em atividade no País, bem como 
conceder licença para exercer a atividade; 
IX – cadastrar mediante registro os produtores, atacadistas, 
varejistas, exportadores e importadores autorizados de armas 
de fogo, acessórios e munições; 
X – cadastrar a identificação do cano da arma, as 
características das impressões de raiamento e de 
microestriamento de projétil disparado, conforme marcação e 
testes obrigatoriamente realizados pelo fabricante; 
XI – informar às Secretarias de Segurança Pública dos 
Estados e do Distrito Federal os registros e autorizações de 
porte de armas de fogo nos respectivos territórios, bem como 
manter o cadastro atualizado para consulta. (BRASIL, 2003, 
pag. 01) 
Neste caso, conforme o parágrafo único do artigo 2º que diz que “as 
disposições deste artigo não alcançam as armas de fogo das Forças Armadas e 
Auxiliares, bem como as demais que constem dos seus registros próprios” (pag. 01). 
Conhecido também como sistema de gerenciamento militar de armas, este 
sistema é instituído no Ministério da Defesa, subordinado ao Comando do Exército e 
tem como objetivo ter o cadastro de todas as armas de uso particular dos militares 
14 
 
das Forças Armadas, policiais militares, bombeiros militares, colecionadores, 
atiradores, caçadores, magistrados e membros do Ministério Público Federal e 
Estadual e outras categorias autorizadas a adquirir armas de uso restrito. Bem como 
registrar Produtos Controlados. Facciolli (2006) diz “que em função do tamanho de 
banco de dados e da sua complexidade, foi necessário fazer uma divisão nesse 
sistema, com o intuito de facilitar o trabalho e tornar-lo eficiente (pag. 26). 
Nesse contexto, Coelho (1998) acredita que “crime de perigo é a aquele que, 
sem destruir ou diminuir o bem de interesse penalmente protegido, representa, 
todavia, uma ponderável ameaça ou turbação à existência ou segurança dos ditos 
bens ou interesses, com relevante probabilidade de dano” (pag. 99), ou seja, basta o 
agente ter uma conduta que coloque em algum momento o bem juridicamente 
protegido em perigo. 
Enquanto Reale Júnior (1997) “na construção do modelo típico dos crimes de 
perigo abstrato, o legislador, adstrito à realidade e à experiência, torna punível 
condutas que, necessariamente, atendida a natureza das coisas, trazem um perigo 
ao bem objeto de tutela.” (pag. 66) 
Para o individuo que quer ter a posse de uma arma de fogo a Lei 10.826/03 
trás exigências e terão que ser cumpridas, ou seja, a justificativa da punição desse 
cidadão não resulta do dano potencial que a arma poderá produzir, dano potencial 
este que apenas justifica maiores parâmetrosde penas de acordo com a 
potencialidade lesiva, mas sim, de um ato de transgressão da norma penal imposta 
pelo Estatuto. 
 
 
2 EFEITO DA POLÍTICA DE DESARMAMENTO NO BRASIL 
 
Existem duas correntes que analisam os efeitos da política de desarmamento 
no Brasil. A primeira defende parcialmente a política de controle de armas de fogo 
adotada no país, enquanto a segunda está a favor de toda essa política do 
15 
 
desarmamento, nos remetendo ao pensamento de quanto menos armas nas mãos 
de civis, menores serão os riscos de crimes a serem cometidos. 
A primeira corrente afirma que em 2003, após a vigência do Estatuto do 
Desarmamento e as várias campanhas de entrega de armas de fogo, houve uma 
queda do número de crimes resultantes desses artefatos, porém, não é admitida a 
atitude de impedir que o cidadão de bem tenha uma arma para autodefesa. 
LOTTERMANN (2012). 
Porque, ainda, segundo Lottermann (2012), 
“Ao proibirem o indivíduo do uso de uma arma de fogo, se 
alcança exatamente o resultado proposto, qual seja: retirar do 
cidadão o meio de agir em legítima defesa. Por outro lado, a 
situação dos criminosos continuará inalterada, ou melhor, 
incrementada, pois além de não se desfazerem de suas 
armas, ainda lucrarão por saberem que suas vítimas 
encontram-se desarmadas e potencialmente indefesas.” 
(LOTTERMANN 2012, pag. 31). 
Nesse período, mesmo através de uma das poucas atitudes do Estado para 
coibir a violência urbana, não se obteve os resultados esperados com a campanha 
do desarmamento, na qual, de forma voluntária, o cidadão entregava sua arma em 
troca de determinada quantia em dinheiro. 
Segundo os dados de Ribeiro, em seu artigo publicado para a revista Jurídica 
Consulex de 2011, estima-se que para cada arma entregue, outras tantas são 
vendidas e que após a aprovação para as campanhas de desarmamento realizadas 
foram recolhidas aproximadamente 459 mil armas. Entre os períodos de 2005 a 
março de 2011 houve um aumento de 81,2% na venda legal de armas em todo País, 
totalizando o comércio de 635.251 unidades de armas. 
Podendo assim ser observado que o Estatuto realmente não acabaria com a 
violência nem resolveria o problema da segurança pública no Brasil, mas apenas 
contribuiria para a redução dos índices de criminalidade ou crimes provocados por 
motivos fúteis, crimes esses, nos quais a vítima conhece seu executor e tem como 
maior causador o cidadão comum e como instrumento e ação a arma de fogo. 
16 
 
Também através de um artigo publicado para a revista Jurídica Consulex de 
(2011), o delegado de Polícia Civil do Estado do Espírito Santo, Líberio Penello de 
Carvalho Filho, afirma que: 
“Qualquer iniciativa no sentido de desarmar as pessoas é 
louvável, pois é inegável que, quanto menos armas existirem 
em circulação, menor será a probabilidade de crimes 
envolvendo seu uso [...] Com efeito o problema está sendo 
tratado como se a produção, comercialização e circulação de 
armas de fogo fossem etapas de um ciclo fechado, 
internalizado no território brasileiro. E é sabido e notório que 
não é assim.” (CARVALHO FILHO, 2011, pag. 33) 
Assim, o autor verificou que não é tão simples resolver esses problemas, pois 
acredita que essas medidas do governo federal são vistas com bons olhos, porém, o 
problema advém das armas que entram de forma irregular no país, através de 
nossas fronteiras, que até hoje são mal fiscalizadas. 
Segundo um artigo publicado por Luzinete Marques, para a revista Phoenix 
em abril de 2004, são muitas as pesquisas que comprovam que grande parte das 
armas apreendidas no Brasil e que estão em circulação são produtos de 
contrabando. Margues (pag. 36, 2004) explana ainda sobre um estudo publicado no 
site da Federação Nacional de Policiais Federais que diz concluir que “66% do 
material bélico contrabandeado para o Brasil vem do Paraguai” e “o principal 
corredor de armas é o Paraguai, não há dúvidas”, acrescentando que “de cada 100 
armas em posse de criminosos brasileiros, 71 chegaram por contrabando”. 
Sabe-se que uma arma que é fabricada no Brasil, sendo exportada de forma 
legal e retornada ao território nacional via contrabando, tornando-se assim ilegal, 
fazendo com que o país seja o líder mundial de uso de armas de fogo ilegais, pois 
as informações vistas na a Lei 10.826/2003 trazem apenas normas reguladoras a 
respeito das armas de fogo de origem legal no país, esquecendo das que são 
adquiridas e entram no país ilegalmente. 
As principais armas de fogo comercializadas ilegalmente são as 
comercializadas por pessoas do crime organizado, milícias, delinquentes comuns, 
empresas de seguranças privada irregular e alguns proprietários individuais 
informais. Rene Barbosa em seu artigo publicado para a revista Phoenix em junho 
de 2011 descreve que em uma das pesquisas realizada pela ONG carioca Viva Rio, 
17 
 
no país circula aproximadamente 16 milhões de armas de fogo, sendo que a metade 
desses artefatos é ilegal e que, embora algumas ONGs e o Governo Federal 
insistam em publicar, de diversas formas, que a política adotada no país tenha sido 
eficiente e contribuído para a redução do número de homicídios, tal afirmação se 
mostra invalida ao se analisar de forma fria os números oficiais. 
É facilmente perceptível que entre os anos de 2003 e 2004 houve uma queda 
nas taxas de homicídios por armas de fogo. Apesar disso, os índices de homicídios 
seguiram uma tendência de estabilidade muito embora as campanhas de 
desarmamento tenham recolhidas uma quantidade significativa de armas de fogo. 
Em 2011, Fabricio Rebelo publicou em seu artigo sobre „Desarmamento: 
ineficácia em números‟, informando que 
 “[...] em 2005 ocorreram no Brasil 47.578 homicídios. No ano 
seguinte, já sem a circulação de mais de meio milhão de 
armas entre a sociedade, este número simplesmente 
aumentou, alcançando o montante de 49.145. Logo, já numa 
primeira e breve análise fria dos números, frise-se, adotados 
oficialmente pelo próprio Governo, se prova cabalmente que a 
realização daquela campanha de desarmamento, a maior já 
implementada e com números muito significativos, não 
promoveu absolutamente nenhuma redução nos índices de 
homicídios no País. (REBELO, 2011, pag. 01) 
As taxas de homicídios originários de armas de fogo até 2003 vinham 
ganhando, a cada ano que se passava, números mais altos, sendo interrompidos 
pelo Estado com políticas para o controle de armas de fogo. Porém, nos anos 
seguintes ocorreram quedas nessas taxas que não foram de tanta relevância, se 
mantendo, ainda assim, em um patamar muito alto, segundo as pesquisas dos 
Estudos Técnicos dos Homicídios por armas de fogo no Brasil de 2010 “ainda 
beirando países em guerra”. 
Os números de 2008 apontam uma média de 95 homicídios por arma de fogo 
por dia. Como se pode ver na tabela abaixo. 
Tabela 1: Proporção (%) de uso de armas de fogo no total de homicídios (1996 a 2008) 
Ano Totais Armas de fogo % Uso de Arma 
de Fogo 
1996 38.894 22.976 59,1% 
1997 40.507 24.445 60,3% 
1998 41.950 25.674 61,2% 
18 
 
1999 42.914 26.902 62,7% 
2000 45.360 30.865 68,0% 
2001 47.943 33.401 69,7% 
2002 49.695 34.160 68,7% 
2003 51.043 36.115 70,8% 
2004 48.374 34187 70,7% 
2005 47.578 33419 70,2% 
2006 49.145 34921 71,1% 
2007 47.707 34147 71,6% 
2008 48.610 34678 71,3% 
Total 599.720 405.890 67,7% 
Fonte 1: Brasil (pag. 07, 2010) apud SIM/SVS/MS (elaboração CNM). 
O desarmamento no País não diminuiu de forma significativamente o índice 
de criminalidade, pois seu aparato policial não tem capacidade de garantir a 
segurança do cidadão. Assim, o Estado deveria promover mecanismos que 
proporcionem às pessoas o direito à autodefesa, ou seja, desarmamentoé válido, 
porém como etapa de um processo, e não como o processo em si, segundo 
Carvalho Filho (2011). 
Percebe-se então que, somente um investimento significativo do Governo 
Federal, em recursos humanos e matérias, poderão ser capazes de garantir de fato 
a segurança da sociedade, visto que a respeito das causas que influenciam os 
índices de homicídios por armas de fogo no Brasil dá muito mais por questões de 
ordem sócio-econômicas, do que por falta de uma legislação abrangente e rígida. 
Ocorre também pela falta de fiscalização adequada das fronteiras; pelo desemprego 
alarmante que aflige a maior parte da população; pelo descaso com os jovens, seja 
pela inépcia do sistema educacional ou pela falta de assistência; e pelas possíveis 
falas da persecução penal. Esses são alguns dos fatores que influenciam de forma 
muito mais crucial os índices de homicídio no país. (MAZO, 2004) 
A corrente que está a favor de toda essa política do desarmamento remete ao 
pensamento de que quanto menos armas houver nas mãos de civis, menores serão 
os riscos de crimes a serem cometidos. 
Em um artigo publicado para a revista Jurídica Consulex, junho de 2011, 
Wadih Damous, relata sua posição a esse respeito dizendo, 
[...] uma sociedade desarmada é mais segura. Quem deve 
prover a segurança dos cidadãos é o Estado, por meio de 
policiais qualificados, bem treinados, bem remunerados e 
19 
 
adequadamente armados. A proliferação de armas nas mãos 
de cidadãos, mesmo que honestos e bem intencionados, só 
torna a convivência mais insegura e violenta. Esta posição é 
referendada pelos mais variados estudos. (DAMOUS, 2011, 
pag. 31) 
Estudos tanto nacionais como internacionais apontam que a posse de armas 
de fogo para a uma “eventual” proteção, faz com que os cidadãos se tornem vítima 
de seu agressor, pois, este tem vantagens, como a surpresa e a iniciativa, pois a 
segurança pública é falha, o que impede o bom cidadão de se auto defender. 
(MISSE, 2005). 
No trabalho de Lottermann (2012) apud Greenhalgh (2004), Greenhalgh 
justifica que: 
As pessoas falavam que iria desarmar o homem de bem, 
enquanto o bandido permaneceria armado. Nos seis meses 
de vigência do Estatuto, as estatísticas demonstram 
exatamente o contrário: 82% das pessoas que foram presas 
depois de 22 de dezembro (quando a lei entrou em vigor), 
estavam com armas ilegais, tinham antecedentes criminais ou 
algum tipo de enrosco com o poder judiciário. Veja só: de 
cada 100 pessoas presas no Estatuto do Desarmamento com 
armas ilegais, 82 eram marginais. Caiu por terra esse 
argumento [...] (LOTTERMAN, 2012, pag. 28) 
Lottermann (2012) aponta uma pesquisa publicada na revista Veja mostra 
alguns números que trouxe onde dizem que “no primeiro ano de campanha do 
desarmamento foram entregues pela população 443.000 mil armas de fogo, 
correspondendo assim a uma queda de 8,2% no número de mortes provocadas por 
armas de fogo, segundo o Ministério da Saúde” (pag. 28). No entanto, ainda 
conforme o Ministro da Justiça, Paulo Barreto, concedeu uma entrevista ao portal 
G1, em 28 de setembro de 2010 no qual ele afirmou que, “entre 2003 e 2009, 
quando aconteceram duas campanhas de desarmamento, houve uma redução de 
11% na quantidade de homicídios.” (pag. 28). 
Segundo Lottermann (2012) as observações apresentadas para comprovar a 
eficácia do desarmamento são incontáveis, autor descreve que o economista Daniel 
Cerqueira apresentou um estudo na qual ele demonstra em números o sucesso do 
desarmamento, onde “para cada 1% a mais de armas, os homicídios aumentam 2%. 
E, para cada 18 armas apreendidas, uma vida é salva. Concluindo ao final ele 
salienta uma coisa já dita, quanto menos armas, menos mortes.” (pag. 28). 
20 
 
O Ministério da Saúde, de acordo com Lottermann (2012), divulgou números 
onde ficou comprovado que a criação do estatuto do desarmamento e as 
campanhas de recolhimento de armas fizeram com que o ocorre-se uma redução 
significativa nos homicídios relacionados com armas de fogo. 
De 2003 a 2006, a cada semestre observamos uma redução 
significativa no número de mortos por arma de fogo. Em 2003, 
morreram 39.325 pessoas por armas de fogo. Em 2004, foram 
37.113 óbitos por arma de fogo, em 2005, foram 36.060, e em 
2006, foram 34.648. Assim, observamos uma queda de 4.677 
óbitos entre 2003 e 2006, ou seja, 12% considerando números 
absolutos. (LOTTERMAN, 2012, pag. 29) 
Lottermann (2012) apresenta que “a maior parte dos estados que, apesar de 
terem obtido uma melhora nos seus números de mortes ocasionadas por armas de 
fogo, tiveram também um baixo número de armas recolhidas nas campanhas.” (pag. 
29) 
Baseada nos dados no trabalho fornecidos por Lottermann (2012) foi 
observado uma variação negativa nos números de óbitos por armas de fogo, 
fazendo com que os defensores do Estatuto do Desarmamento e das campanhas de 
recolhimento de armas de fogo dêem a esses projetos do Governo Federal os 
créditos por essa redução. 
Os dados do Exército e do Ministério da Saúde traçam um paralelo entre o 
estado que mais comprou armas com o que tem a maior taxa de mortalidade (sexo 
masculino) por armas de fogo, tanto em 2003, quando não havia o Estatuto, como 
em 2006, já com a Lei em vigência e feito o referendo, como pode ser observado na 
tabela abaixo. 
Tabela 2: Taxa de mortalidade e Número de armas vendidas por UF referente a 2003. 
Estado Número de armas 
vendidas 
Taxa de Mortalidade 
Rio Grande do Sul 34.294,00 30,8% 
Rio de Janeiro 4.165,00 90,1% 
Fonte 2: CGIAE/DASIS-SVS; SIOFA (Sistema de controle fabril do Exercito) 
Pode-se observa através da análise da tabela que mesmo o Rio Grande do 
Sul tendo comprado muito mais armas de fogo que o Rio de Janeiro em 2003, a taxa 
de homicídios no Rio é absurdamente superior ao dos gaúchos. No entanto, esses 
21 
 
números não são decorrência de serem anteriores ao Estatuto, como será visto na 
tabela abaixo com o ano de 2006, com os menos dados: 
Tabela 3: Taxa de mortalidade e Número de armas vendidas por UF referente a 2006 
Estado Número de armas 
vendidas 
Taxa de Mortalidade 
Rio Grande do Sul 15.835,00 30,4% 
Rio de Janeiro 2.638,00 69,9% 
Fonte 3: CGIAE/DASIS-SVS; SIOFA (Sistema de controle fabril do Exercito) 
Dado que, mesmo após a lei estar vigorando a mais ou menos 3 anos, já ter 
ocorrido a campanha do desarmamento e o referendo de 2005, não há como negar 
que houve uma queda tanto na compra de armas de fogo com na taxa de 
mortalidade, no entanto, ainda persiste a diferença entre esses dois estados. O 
motivo para isso já que a lei é a mesma todos os cidadãos dessas duas Unidades da 
Federação é a taxa de homicídios por arma de fogo do Rio grande do Sul que se 
manteve praticamente a mesma de 3 anos atrás, mesmo ele sendo superior na 
compre de armas. 
Não de pode negar é que após o Estatuto houve uma queda na compra de 
armas nesse Estado e em 2011 foi líder na campanha de entrega de armas em 
2011, “sendo recolhidas 36.834 armas, fazendo com que o Rio Grande do Sul 
ficasse em primeiro lugar com a taxa de 43 armas a cada 100mil habitantes.” 
Lottermann (pag. 32, 2012). 
Para todos os estados do país pode-se observar através da seguinte tabela: 
Tabela 4: Número de armas vendidas por UF 
Ano Nº de armas vendidas 
2001 566.232,00 
2002 313.213,00 
2003 115.927,00 
2004 63.674,00 
2005 67.534,00 
2006 80.827,00 
2007 71.253,00 
2008 120.453,00 
2009 124.082,00 
2010 155.834,00 
2011 93.334,00 
Total 1.772.363,00 
Fonte 4: SIOFA (Sistema de controle fabril do Exercito) 
22 
 
Lottermann (2012) afirma que fica evidente ao observar esses números que 
Em termos percentuais, a venda de armas no país aumentou,isso se deve aos policiais, caçadores, atiradores esportivos e 
colecionadores, além das empresas de vigilância e guardas 
municipais. Porém somando-se os números de armas 
vendidas no período de 2005 à 2009, desse total, 222 mil 
foram para civis, voltando assim a cresce o número de armas 
no Brasil. (LOTTERMAN, 2012, pag. 32). 
De 2010 a 2015, a cada semestre foi observado uma redução significativa no 
número de mortos por arma de fogo. Segundo Teixeira e Ribeiro (2017), em 2010, 
morreram 39.325 pessoas por armas de fogo; em 2014, foram 37.113 óbitos por 
arma de fogo, e em 2015, foram 36.060. Assim, foi observada uma queda de 4.677 
óbitos entre 2003 e 2006, ou seja, 12% considerando números absolutos. 
Os autores indicam ainda que “grande parte dos estados, além de terem 
reduzido os números de homicídios provocados por armas de fogo, obtiveram 
também uma redução no número de armas recolhidas em campanhas de 
desarmamento” (pag. 784). 
Para Misse (2015), “os argumentos a favor do desarmamento são racionais e 
de bom-senso, os argumentos contrários são facilmente contestáveis sem que 
apelam para o sentimento de insegurança da população. O direito de cada um se 
armar não é uma boa política nem para os cidadãos, nem para nações”. (pag. 30) 
Em relação às fábricas de armas e munição, há um problema relacionado ao 
sistema político dentro da lei do desarmamento, dado que há uma parte que 
algumas responsabilidades para esses fabricantes, uma delas, por exemplo, seria a 
de ter que dar o primeiro tiro, pois toda arma de fogo tem uma espécie de digital em 
seu cano, sendo esta única para cada arma no mundo. O que significa que, caso um 
projétil tenha saído de uma arma “x”, poderá se concluir com absoluta certeza de 
que ele foi disparado dessa arma, Lottermann (2012). 
No entanto, conforme Ribeiro (2011), com o intuito de tornar os preços de 
suas mercadorias ainda viável e afim de não ter prejuízo, esses fabricantes “se 
recusam a fazer o teste do primeiro tiro, e até mesmo a gravar o número da arma em 
baixo relevo, fazendo de uma forma diversa que possibilita a sua raspagem e essa 
23 
 
numeração que deveria ser gravada em pelo menos 3 lugares diferentes da arma de 
fogo, assim como nos carros, o que dificultaria sua falsificação.” (pag. 25) 
Lottermann (2012) apud Greenhalgh (2004) diz que de certa forma existem 
representantes no congresso Nacional, que apóiam esse tipo de comportamento 
dessas indústrias. 
Logo que a gente começou a trabalhar, houve muita 
oposição, mesmo na Comissão Mista [...] No Congresso 
Nacional há senadores e deputados que são eleitos nos 
lugares onde se fabricam armas de fogo ou munições. [...] E 
há deputados e senadores que são financiados, nas suas 
campanhas eleitorais, por empresas de armas e munições. 
Este conjunto de pessoas estabeleceu uma oposição 
sistemática [...]. (LOTTERMANN apud GREENHALGH, 2012, 
pag.34) 
Segundo Lottermann (2012) o Promotor de Justiça Dilaulas Costa Ribeiro, fez 
uma crítica em seu artigo, que se encaixa perfeitamente nesse problema, 
As campanhas de desarmamento, mesmo reconhecendo a 
boafé dos que as promovem, atendem mais aos interesses de 
fabricantes e comerciantes de armas. Nuca se fez um 
levantamento para apurar, nem mesmo por curiosidade, se 
quem entregou uma arma adquiriu outra. Mesmo com a 
entrega voluntária, milhares de armas são vendidas todos os 
anos, não havendo crise de consumo para indústria bélica. 
(LOTTERMAN, 2012, pag. 34) 
Ribeiro (2011) expressa seu pensamente dizendo que há que se pensar muito 
a respeito disso, pois às vezes nem tudo que nos parece esta sendo feito com a 
intenção verdadeira de acabar com a violência, visto que, no fim acaba-se por 
mascar uma indústria muito poderosa, “mesmo se mostrando favorável a repressão 
do porte de arma ilegal, esta mais interessa é na reposição das armas apreendidas 
ou entregue de forma voluntária.” (pag. 25) 
 
 
3 A NECESSIDADE OU NÃO DE REVOGAÇÃO DO ESTATUTO 
DO DESARMAMENTO 
 
Nos últimos anos, diante do alarmante número de mortes causadas por arma 
de fogo em nosso país, decorrentes principalmente de roubos, homicídios mediante 
24 
 
paga ou promessa de recompensa ou motivo fútil, disputa de território para 
consolidar o tráfico de drogas por parte das facções criminosas, milícias etc., surgiu 
uma grande discussão, de proporção nacional, sobre necessidade ou não de que a 
atual lei de regência das armas seja revogada. 
Em 2005 a Unesco realizou um estudo revelando que entre 1993 e 2003 a 
taxa de homicídios por armas de fogo em nosso país já era mais alta que a de vários 
conflitos armados no mundo afora. Os números continuaram crescendo, conforme a 
tabela abaixo, mesmo na vigência da Lei de regência sobre armas, tendo o ano de 
2017 batido o recorde, pois foi registrado o maior número de mortes violentas 
ocorridas por arma de fogo no Brasil, desde a vigência do Estatuto do 
Desarmamento, somando mais de sessenta e três mil (63000) homicídios, divulgado 
pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública. Ainda, de acordo com este, foram 
cento e setenta e cinco assassinatos por dia, 
Figura 1: Mortes por armas de fogo no Brasim - 1980-2012 
 
Fonte 5: Mapa da violência 2015 UNESCO 
25 
 
Figura 2: Registro no Brasil de maior número e pessoas assassinadas da hostória em 2017 
 
Fonte 6: Fórum Brasileiro de Segurança Pública; Infográfico elaborado em 09/08/2018 
26 
 
De acordo com pesquisas e dados oficiais, o Brasil é um dos países com 
maior número de mortes por armas de fogo. Tais dados revelam que são cerca de 
vinte mortes por cem mil habitantes, o que chamou a atenção das autoridades 
nacionais e internacionais para discutir sobre a temática das armas de fogo no 
Brasil. 
Um debate sobre o quadro geral da segurança pública ocorrido no Senado 
abriu um parêntese à controvérsia sobre as armas e violência em nosso país, 
chegando a reconhecer a existência de grandes falhas na política de segurança 
pública. Atualmente há um projeto tramitando no Congresso Nacional com vistas a 
não revogar, mas sim flexibilizar dispositivos do estatuto das armas, tendo como um 
dos principais defensores o deputado Rogério Peninha Mendonça (PMDB-SC), que 
é seguro em dizer que o Estatuto do Desarmamento colocou a população brasileira 
numa situação de insegurança, numa posição indefesa contra bandidos armados. O 
referido projeto propõe algumas alterações, passando até mesmo a ser chamado de 
Estatuto de Controle das Armas de Fogo; a idade mínima para a compra de armas 
de fogo passa a ser de 21 anos; quem cumprir os requisitos mínimos exigidos em lei 
pode ter e portar armas; validade permanente e sem necessidade de renovação; o 
reaproveitamento ou a doação para as forças de segurança pública; e o aumento no 
rol dos agentes públicos que podem portar armas de fogo. 
As reflexões sobre a necessidade de armar ou não a população civil estão 
presentes também nas redes sociais, em jornais, escolas, nas universidades, em 
repartições públicas etc., com vários argumentos e correntes contra ou a favor da 
revogação da lei em comento. 
Podemos elencar como argumentos defensores do desarmamento: as armas 
são produzidas apenas para matar, países desarmados são mais seguros à 
instabilidade política e social, as armas dos criminosos vêm das mãos de cidadãos, 
o desarmamento tem diminuído a criminalidade, as pessoas continuam podendo 
possuir armas de fogo, entre outros, e é a partir destes que faremos, do nosso ponto 
de vista, contra-argumentos, a fim de desmistificar tais afirmações, para que o leitor 
não chegue a pecar pela ingenuidade, mal intenção ou até mesmo pela mera 
reprodução de discursos sem fundamentos. 
27A mentalidade daqueles que proferem frases no sentido de que as armas só 
servem para matar demonstra senão a falta de conhecimento sobre o assunto, ao 
menos um pensamento equivocado, pois, segundo os conceitos científicos, as 
armas são classificadas em próprias e impróprias. As armas próprias são 
instrumentos especificamente destinados ao ataque ou à defesa, enquanto que as 
armas impróprias são quaisquer objetos sem destinação de ataque ou defesa, 
porém podem eventualmente ser utilizadas para essas finalidades. Concordamos 
com a linha de pensamento do estudioso Bené Barbosa ao dizer que se as armas só 
serviriam para matar, então carros também só serviriam para atropelar. 
Acrescentamos ainda que realmente as armas sevem também para matar, mas 
muitas vezes, a morte pode ser em decorrência do exercício do direito à legítima 
defesa, este albergado pela Constituição Federal de 1988, também previsto no 
vigente Código penal, e antes mesmo, acima de tudo, um direito natural. 
Outro ponto que deve ser, a nosso ver, desmentido, é a opinião daqueles que 
acreditam piamente que países desarmados, que concentram as armas somente 
nas mãos das forças de defesa externa e interna, como poderio bélico, são mais 
seguros. Entendemos que há profunda incoerência, pois, países que proíbem 
armas, concentrando estas somente na esfera das forças armadas e auxiliares, 
demonstram característica de governo totalitário, que retira a incapacidade de 
reação contra um eventual governo tirano. Quanto maior for o totalitarismo de um 
governo, maiores serão as restrições do seu povo às armas. 
Dizer que as armas utilizadas nos homicídios são oriundas de cidadãos 
também demonstra falta de informação. Em qualquer fonte de pesquisa veremos 
claramente que a maior parte das armas utilizadas pelos criminosos são 
provenientes do mercado negro, comercio bastante lucrativo, que infelizmente 
ultrapassa as fiscalizações nas fronteiras, devendo ser perseguido todas as 
tecnologias de que dispõe o estado e com profundo rigor penal. 
A afirmação de que o Estatuto do Desarmamento diminuiu a criminalidade é 
inverídica. O que se sabe, de acordo com dados oficiais, é que o índice de 
criminalidade em nosso país só tem aumento de forma alarmante, mesmo com a 
vigência da lei em estudo. O mapa da violência revela que os indicadores da 
criminalidade, antes do Estatuto do desarmamento, eram bem menores em relação 
28 
 
aos verificados após a edição da lei restritiva das armas até os dias atuais. Prova 
disso sãos as 63880 mortes violentas no ano de 2017, enquanto que nos anos 
anteriores a 2003, o número de mortes era menos expressivo, conforme o gráfico 
abaixo: 
Figura 3: Taxa de homicídios por armas de fogo no Brasil, 1985-2003 
 
Fonte 7: Mapa da Violência 2015, Tabela 22 
Por fim, devemos destruir aqui a afirmação de que, mesmo com a atual 
política desarmamentista, cidadãos de bem podem exercitar seu direito, nos 
conformes da Lei 10826/2003, de possuir armas de fogo. 
Sabemos que a referida lei, nos moldes de seu art. 4º, traz uma série de 
requisitos para que o cidadão possa adquirir a arma de fogo, a saber: 
Art. 4º Para adquirir arma de fogo de uso permitido o 
interessado deverá, além de declarar a efetiva necessidade, 
atender aos seguintes requisitos: 
I - comprovação de idoneidade, com a apresentação de 
certidões negativas de antecedentes criminais fornecidas pela 
Justiça Federal, Estadual, Militar e Eleitoral e de não estar 
respondendo a inquérito policial ou a processo criminal, que 
poderão ser fornecidas por meios eletrônicos; (Redação dada 
pela Lei nº 11.706, de 2008) 
II – apresentação de documento comprobatório de ocupação 
lícita e de residência certa; 
III – comprovação de capacidade técnica e de aptidão 
psicológica para o manuseio de arma de fogo, atestadas na 
forma disposta no regulamento desta Lei. 
 III – comprovação de capacidade técnica e de aptidão 
psicológica para o manuseio de arma de fogo, atestadas na 
forma disposta no regulamento desta Lei. 
29 
 
§ 1º O Sinarm expedirá autorização de compra de arma de 
fogo após atendidos os requisitos anteriormente estabelecidos, 
em nome do requerente e para a arma indicada, sendo 
intransferível esta autorização. 
§ 2º A aquisição de munição somente poderá ser feita no 
calibre correspondente à arma registrada e na quantidade 
estabelecida no regulamento desta Lei. (Redação dada pela 
Lei nº 11.706, de 2008) 
§ 3º A empresa que comercializar arma de fogo em território 
nacional é obrigada a comunicar a venda à autoridade 
competente, como também a manter banco de dados com 
todas as características da arma e cópia dos documentos 
previstos neste artigo. 
§ 4º A empresa que comercializa armas de fogo, acessórios e 
munições responde legalmente por essas mercadorias, ficando 
registradas como de sua propriedade enquanto não forem 
vendidas. 
§ 5º A comercialização de armas de fogo, acessórios e 
munições entre pessoas físicas somente será efetivada 
mediante autorização do Sinarm. 
§ 6º A expedição da autorização a que se refere o § 1o será 
concedida, ou recusada com a devida fundamentação, no 
prazo de 30 (trinta) dias úteis, a contar da data do requerimento 
do interessado. 
§ 7º O registro precário a que se refere o § 4o prescinde do 
cumprimento dos requisitos dos incisos I, II e III deste artigo. 
§ 8º Estará dispensado das exigências constantes do inciso III 
do caput deste artigo, na forma do regulamento, o interessado 
em adquirir arma de fogo de uso permitido que comprove estar 
autorizado a portar arma com as mesmas características 
daquela a ser adquirida. (Incluído pela Lei nº 11.706, de 2008) 
Da leitura deste dispositivo, percebemos que há exaustivos critérios para 
adquirir uma arma de fogo, o que chega a tornar inviável a busca por esse direito, já 
que a burocracia para a aquisição torna desestimulante a tentativa de obter a arma 
de fogo. 
É certo que deve haver sim requisitos para que um cidadão possa adquirir 
arma de fogo, esses inseridos no contexto do controle de comércio e circulação 
legais das armas por parte do SINARM, mas, de forma mais flexível, como menor 
rigorismo burocrático na aquisição. 
A comprovação de necessidade talvez seja o maior problema, visto que essa 
expressão é vaga e imprecisa, cabendo subjetivismos por parte do Delegado de 
Polícia Federal, dificultando, em muitos casos, a aquisição de posse ou porte, pelo 
cidadão comum. 
Entendemos que deve sim existir maior rigor na autorização de porte do que 
no registro de posse, porque com ele o individuo tem o direito de levar a arma para 
30 
 
qualquer lugar, no entanto, esse rigor não pode ser ao ponto de inviabilizar ou 
dificultar em demasiado sua obtenção, como ocorre atualmente com o Estatuto do 
Desarmamento. 
Muitas são as pessoas que se posicionam contrariamente à liberação de 
armas para civis acreditando não ser essa a melhor saída para a diminuição da 
criminalidade, mas o cidadão civil que quer obter legalmente sua arma, na maioria 
das vezes, busca-a para proteção pessoal e de sua família. 
Ainda existe a cultura de que o brasileiro não tem preparo educacional para 
possuir uma arma de fogo, pensamento este baseado na hipótese de que, ao está 
com uma arma em mãos, sairá por aí fazendo loucura. O que está claro para a 
população brasileira, como questão principal, é que a autodefesa lhe está sendo 
retirada em consequência das restrições que Estatuto do Desarmamento impõe e, 
paralelo a isso, o bandido continua armado, cometendo crimes, ceifando vidas em 
posição vantajosa. 
Sabe-se, ainda, que, ao contrário do desejado, os latrocínios chegaram a 
níveis cada vez maiores e continuam aumentando ano após ano, o que preocupa 
por demais asociedade brasileira, que, como saída para se resguardar, evitam até 
mesmo saírem de suas casas, buscam outros meios de laser de forma menos 
exposta, evitam portar joias ou objetos que chamem a atenção dos assaltantes etc., 
e nem mesmo em suas casas não mais se sentem seguros. Os criminosos 
simplesmente não se intimidam com o “rigor da lei”, perderam o medo de invadir 
residências ou de atacar as pessoas nas ruas, passando a fazer todos os tipos de 
barbáries que bem desejar, pois pressupões que, como há restrição às armas de 
fogo, as vítimas estariam desarmadas, ficando numa posição de desvantagem. 
Na concepção do delinquente, o Estatuto do Desarmamento não lhe impediu 
absolutamente nada, uma vez que o mesmo já infringe a lei, com o mínimo de receio 
de punição, não sendo problema para ele adquirir uma arma ilegalmente no 
mercado negro que bate na sua porta. 
Algumas pessoas acreditam que, com uma maior facilidade para o civil 
adquirir uma arma de fogo, aumentará o número de homicídios, crimes violentos e 
que por qualquer banalidade as pessoas resolveriam suas diferenças com uso de 
31 
 
arma de fogo. Entretanto, elas esquecem que, se as pessoas estão buscando obter 
uma arma legalmente, o que já é bastante difícil, não há por que haver esse receio, 
uma vez que as armas e munições estarão em nome do proprietário, facilitando, e 
muito, a identificação de qualquer desvio de conduta dos que temem o rigor da lei. O 
cidadão de bem sã em sua integridade psicológica sabe bem o tamanho da 
responsabilidade de portar uma arma de fogo. 
Dados indicam que quem tem a índole assassina ou uma personalidade 
voltada à prática de delitos violentos, os praticarão tendo uma arma de fogo ou não, 
utilizando uma faca, um bastão, ou qualquer outro objeto, pois pessoas de bem 
nunca foi o problema da violência, mas sim os criminosos. Se um civil chegar a 
cometer um crime violento não há porque culpar a arma, a culpa é da pessoa, que 
deverá ser punida rigorosamente. Além do mais, não se pode colocar casos 
pontuais como regras, já que antes do Estatuto do Desarmamento armas eram 
livremente comercializadas, e não havia tantos homicídios como se tem hoje. 
Portanto, a relação de número armas por quantidade de homicídios parece bastante 
equivocada. 
O fato de a polícia não poder estar presente em todos os locais ao mesmo 
tempo é outro fator a ser debatido junto à política das armas, com vistas a prevenir o 
cometimento dos mais variados delitos, sendo considerado de suma importância não 
somente no Brasil, mas em qualquer país do mundo. Indistintamente e, na visão dos 
especialistas no assunto, com a flexibilização das restrições às armas, os crimes não 
param e qualquer um pode ser vítima, pois vem sendo um mal na sociedade, 
atingindo a todos, o que se espera é que diminuam os crimes violentos que resultem 
morte e, possivelmente, se o criminoso ainda assim insistir em praticar crimes, que 
estes sejam sem a presença da vítima, como, por exemplo, os furtos. 
O que se quer com a facilitação e permissão de compra de armas por um 
cidadão comum é a proteção, as armas de fogo não serão distribuídas em 
prateleiras de supermercados, acredita-se que deverá haver regras para obtenção, 
como testes psicológicos, comprovação de emprego fixo e residência certa, certidão 
negativa de antecedentes criminais, capacidade técnica para utilizar a arma, etc. 
32 
 
A arma é um instrumento que adquirido pelo cidadão que a use de forma 
adequada e deseja exercer o seu direito de autodefesa, traz sim a possibilidade da 
ocorrência de crimes, mas não por uma mente que desejava o crime e sim por um 
cidadão que age em sua própria defesa, como também a defesa, de sua família ou 
de um bem material quando estes bens encontrem-se ameaçados. 
Não se está tentando dizer que com a flexibilização na obtenção da posse e 
do porte, irá se resolver o problema da criminalidade é sabido que existem inúmeras 
outras providências a serem tomadas em conjunto pelo Poder Público, para que haja 
uma diminuição significativa, dentre elas a necessidade de investimentos maciços 
em segurança pública, principalmente para aumentar os índices de solução dos 
crimes; políticas públicas no combate à criminalidade; maior rigor nas leis penais, 
para que os criminosos realmente fiquem presos, combatendo-se assim a 
impunidade tão presente no cotidiano do brasileiro; retaguarda jurídica aos policiais; 
dentre outras medidas imprescindíveis, que com vontade política podem sim diminuir 
a criminalidade. 
 
 
CONCLUSÃO 
 
Portanto, diante de tudo até aqui exposto, entendemos que o Estatuto do 
Desarmamento é um ponto de início para incentivar a política de controle de armas 
de fogo no Brasil, mas não se faz por si só suficiente diante dos desafios 
enfrentados para chegar ao real controle da prática da violência com o uso das 
armas de fogo. Ainda, as campanhas de desarmamento não atingiram os objetivos 
propostos, prova disso são os números e dados confirmando essa informação, pois 
as taxas de homicídios aumentam constantemente e os casos de acidentes com 
armas de fogo são menores que os acidentes de trânsito. A explicação para tal 
ocorrido é que as leis que restringem o porte de arma e, consequentemente, 
desarmam apenas aqueles que cumprem os mandamentos da lei, e não as mentes 
criminosas que realmente deveriam estar desarmadas 
33 
 
O comércio ilegal de armas, grande empreitada lucrativa, contribui por demais 
para que essas taxas aumentem, e deve ser o principal fator a ser combatido na 
política de flexibilização das armas. O estado deve empreender todos os esforços 
possíveis para combater a venda ilegal de armas. Tal comércio impossibilita o 
controle por parte do SINARM e se torna também um ciclo vicioso, já que a compra 
e venda de armas ilegais torna fácil esse acesso do bandido com as armas, sendo 
que o cidadão de bem fica à mercê dos criminosos não possuindo instrumentos 
adequados que lhe propicie algo para se defender, retirando destes cidadãos um 
direito essencial, que é o direito a defesa. 
É necessário que haja uso do poder público para traçar metas de 
investimento para fiscalizar de forma intensa e efetiva as fronteiras brasileiras, que 
se tornaram portas largas que facilitam a entrada de armas no país por meios 
ilegais, sendo que essa ilegalidade ao longo do tempo foi prejudicial ao efeito local 
que ocorreu com a entrada em vigor da lei em questão. 
O poder público deve investir também na educação para a sociedade 
brasileira a fim de torná-la preparada para o armamento, no sentido de que a arma 
só poderia ser utilizada em último caso para exercer a legítima defesa própria ou de 
outrem. 
Diante do quadro de violência visto no Brasil, é inegável que o cidadão 
comum não só pode ter acesso legalmente autorizado à aquisição de arma de fogo 
para fazer jus ao seu direito de defesa, como também deve ter a facilidade na 
obtenção, no sentido de diminuir a desburocratização, desde que esteja plenamente 
em conformidade com os requisitos, como: curso de capacitação psicológica, 
preparação para o manuseio, e educação adequada para o uso deste artefato, pois, 
é inadmissível que o assassino, o psicopata, o infrator, o traficante etc. tenham a 
facilidade de uso de uma arma de fogo, enquanto o cidadão comum e de bem esteja 
completamente indefeso e refém da violência que se vive hoje no Brasil. 
Assim, o que deve ser feito não é a revogação da Lei Nº 10.826/2003, e sim 
uma alteração considerável de seus dispositivos no sentido de possibilitar o porte de 
arma de fogo ao cidadão, determinar que o poder público promova políticas públicas 
com vistas à educação e à conscientização do adequadouso das armas, o 
34 
 
endurecimento de penas mais sevaras para os que portem armas de fogo 
ilegalmente e, principalmente, para o comércio, a fabricação e o tráfico ilegal de 
armas de fogo. 
Se mais cidadãos de bem possuíssem armas legalizadas para a própria 
defesa e as leis estabelecessem um parâmetro mais rigoroso contra quem porta 
armas ilegais, talvez, as taxas de homicídios e o número de tragédias feitas por 
conta do mau uso das armas de fogo seriam menores. Neste contexto, somos firmes 
na conclusão de que, à medida que se proíbe o cidadão do uso de uma arma de 
fogo, automaticamente, com a falta de fiscalização, está sendo facilitado o uso 
daquela pelos infratores. Ademais, sabemos que a mera atitude de possibilitar o 
armamento não basta para que ocorra talvez não o fim da criminalidade, mas 
desejamos a redução significativa da violência praticada com o uso da arma de fogo, 
pois o ato de desarmar tem um efeito de vulnerabilidade social, ou seja, a sociedade 
torna-se vítima da ação de infratores, que por sua vez, estão convencidos de que 
suas vítimas estão desarmadas e indefesas, porque, de forma voluntária, 
entregaram suas armas e automaticamente transferiram sua confiança e sua 
segurança a um país que não oferece uma segurança eficaz, enquanto criminosos 
que jamais entregaram suas armas espontaneamente e continuam armados, 
cometendo as maiores atrocidades. 
 
 
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