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PROCESSO CONSTITUCIONAL PROFESSOR LEONARDO FRANCO DE LIMA ___________________________________________________________________ 1 V – CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE. ASPECTOS INTRODUTÓRIOS. 1. Controle de Constitucionalidade É o modelo de controle estatal que tem o objetivo de verificar a compatibilidade entre as normas infraconstitucionais e a Constituição. Decorre do modelo de constituição rígida, da existência de um órgão de controle e, da supremacia das normas constitucionais no ordenamento jurídico. 2. Espécies de Inconstitucionalidade Quanto à causa do vício: (a) Inconstitucionalidade por Ação: decorre da prática de atos (administrativos, legislativos e privados) em desacordo com o texto constitucional, pressupondo uma incompatibilidade entre a norma infraconstitucional e a norma constitucional. “O desrespeito à Constituição tanto pode ocorrer mediante ação estatal quanto mediante inércia governamental. A situação de inconstitucionalidade pode derivar de um comportamento ativo do Poder Público, que age ou edita normas em desacordo com o que dispõe a Constituição, ofendendo-lhe, assim, os preceitos e os princípios que nela se acham consignados. Essa conduta estatal, que importa em um facere (atuação positiva), gera a inconstitucionalidade por ação. Se o Estado deixar de adotar as medidas necessárias à realização concreta dos preceitos da Constituição, em ordem a torná-los efetivos, operantes e exequíveis, abstendo-se, em consequência, de cumprir o dever de prestação que a Constituição lhe impôs, incidirá em violação negativa do texto constitucional. Desse non facere ou non praestare, resultará a inconstitucionalidade por omissão, que pode ser total, quando é nenhuma a providência adotada, ou parcial, quando é insuficiente a medida efetivada pelo Poder Público.” (ADI 1.458-MC, rel. min. Celso de Mello, julgamento em 23-5-1996, Plenário, DJ de 29-9-1996.) PROCESSO CONSTITUCIONAL PROFESSOR LEONARDO FRANCO DE LIMA ___________________________________________________________________ 2 (b) Inconstitucionalidade por Omissão: decorre da falta de regulamentação das normas constitucionais de eficácia limitada (normas que dependem de um ato legislativo posterior). Também se verifica nos casos em que haja regulamentação insuficiente para atender aos propósitos da norma constitucional regulamentada. A inconstitucionalidade por omissão pode ser combatida por mecanismos processuais específicos previstos na CF/88, como, por exemplo, a ação direta de inconstitucionalidade por omissão ou através do controle difuso, por meio de mandado de injunção. "Ação direta de inconstitucionalidade por omissão. Inatividade do legislador quanto ao dever de elaborar a lei complementar a que se refere o § 4º do art. 18 da CF, na redação dada pela EC 15/1996. Ação julgada procedente. A EC 15, que alterou a redação do § 4º do art. 18 da Constituição, foi publicada no dia 13-9-1996. Passados mais de dez anos, não foi editada a lei complementar federal definidora do período dentro do qual poderão tramitar os procedimentos tendentes à criação, incorporação, desmembramento e fusão de municípios. Existência de notório lapso temporal a demonstrar a inatividade do legislador em relação ao cumprimento de inequívoco dever constitucional de legislar, decorrente do comando do art. 18, § 4º, da Constituição. Apesar de existirem no Congresso Nacional diversos projetos de lei apresentados visando à regulamentação do art. 18, § 4º, da Constituição, é possível constatar a omissão inconstitucional quanto à efetiva deliberação e aprovação da lei complementar em referência. As peculiaridades da atividade parlamentar que afetam, inexoravelmente, o processo legislativo, não justificam uma conduta manifestamente negligente ou desidiosa das Casas Legislativas, conduta esta que pode pôr em risco a própria ordem constitucional. A inertia deliberandi das Casas Legislativas pode ser objeto da ação direta de inconstitucionalidade por omissão. A omissão legislativa em relação à regulamentação do art. 18, § 4º, da Constituição, acabou dando ensejo à conformação e à consolidação de estados de inconstitucionalidade que não podem ser ignorados pelo legislador na elaboração da lei complementar federal. Ação julgada procedente para declarar o estado de mora em que se encontra o Congresso Nacional, a fim de que, em prazo razoável de dezoito meses, adote ele todas as providências legislativas necessárias ao cumprimento do dever constitucional imposto pelo art. 18, § 4º, da Constituição, devendo ser contempladas as situações imperfeitas decorrentes do estado de inconstitucionalidade gerado pela omissão. Não se trata de impor um prazo para a atuação legislativa do Congresso Nacional, mas PROCESSO CONSTITUCIONAL PROFESSOR LEONARDO FRANCO DE LIMA ___________________________________________________________________ 3 apenas da fixação de um parâmetro temporal razoável, tendo em vista o prazo de 24 meses determinado pelo Tribunal nas ADI 2.240, 3.316, 3.489 e 3.689 para que as leis estaduais que criam municípios ou alteram seus limites territoriais continuem vigendo, até que a lei complementar federal seja promulgada contemplando as realidades desses municípios." (ADI 3.682, rel. min. Gilmar Mendes, julgamento em 9-5-2007, Plenário, DJ de 6-9- 2007.) Em observância aos ditames da segurança jurídica e à evolução jurisprudencial na interpretação da omissão legislativa sobre o direito de greve dos servidores públicos civis, fixação do prazo de sessenta dias para que o Congresso Nacional legisle sobre a matéria. Mandado de injunção deferido para determinar a aplicação das Leis 7.701/1988 e 7.783/1989. Sinais de evolução da garantia fundamental do mandado de injunção na jurisprudência do STF. No julgamento do MI 107/DF, Rel. Min. Moreira Alves, DJ de 21-9-1990, o Plenário do STF consolidou entendimento que conferiu ao mandado de injunção os seguintes elementos operacionais: i) os direitos constitucionalmente garantidos por meio de mandado de injunção apresentam-se como direitos à expedição de um ato normativo, os quais, via de regra, não poderiam ser diretamente satisfeitos por meio de provimento jurisdicional do STF; ii) a decisão judicial que declara a existência de uma omissão inconstitucional constata, igualmente, a mora do órgão ou poder legiferante, insta-o a editar a norma requerida; iii) a omissão inconstitucional tanto pode referir-se a uma omissão total do legislador quanto a uma omissão parcial; v) a decisão proferida em sede do controle abstrato de normas acerca da existência, ou não, de omissão é dotada de eficácia erga omnes, e não apresenta diferença significativa em relação a atos decisórios proferidos no contexto de mandado de injunção; iv) o STF possui competência constitucional para, na ação de mandado de injunção, determinar a suspensão de processos administrativos ou judiciais, com o intuito de assegurar ao interessado a possibilidade de ser contemplado por norma mais benéfica, ou que lhe assegure o direito constitucional invocado; vi) por fim, esse plexo de poderes institucionais legitima que o STF determine a edição de outras medidas que garantam a posição do impetrante até a oportuna expedição de normas pelo legislador. Apesar dos avanços proporcionados por essa construção jurisprudencial inicial, o STF flexibilizou a interpretação constitucional primeiramente fixada para conferir uma compreensão mais abrangente à garantia fundamental do mandado de injunção. A partir de uma série de precedentes, o Tribunal passou a admitir soluções "normativas" para a decisão judicial como alternativalegítima de tornar a proteção judicial efetiva (CF, art. 5º, XXXV). Precedentes: MI 283, Rel. Min. Sepúlveda Pertence, DJ de 14-11- 1991; MI 232/RJ, Rel. Min. Moreira Alves, DJ de 27-3-1992; MI PROCESSO CONSTITUCIONAL PROFESSOR LEONARDO FRANCO DE LIMA ___________________________________________________________________ 4 284, Rel. Min. Marco Aurélio, Rel. p/ o ac. Min. Celso de Mello, DJ de 26-6-1992; MI 543/DF, Rel. Min. Octavio Gallotti, DJ de 24-5-2002; MI 679/DF, Rel. Min. Celso de Mello, DJ de 17-12- 2002; e MI 562/DF, Rel. Min. Ellen Gracie, DJ de 20-6-2003. (...) Em razão da evolução jurisprudencial sobre o tema da interpretação da omissão legislativa do direito de greve dos servidores públicos civis e em respeito aos ditames de segurança jurídica, fixa-se o prazo de 60 (sessenta) dias para que o Congresso Nacional legisle sobre a matéria. Mandado de injunção conhecido e, no mérito, deferido para, nos termos acima especificados, determinar a aplicação das Leis 7.701/1988 e 7.783/1989 aos conflitos e às ações judiciais que envolvam a interpretação do direito de greve dos servidores públicos civis. [MI 708, rel. min. Gilmar Mendes, j. 25-10-2007, P, DJE de 31-10-2008.] = MI 670, rel. p/ o ac. min. Gilmar Mendes, e MI 712, rel. min. Eros Grau, j. 25-10-2007, P, DJE de 31-10-2008. Quanto à origem do vício: (a) Inconstitucionalidade Material: é aquela que está no conteúdo da norma e pode ser total ou parcial, dependendo da extensão do vício, isto é, por todo o texto ou apenas parte dele. “Responsabilidade tributária. (...) Sócios de sociedade limitada. (...) O art. 13 da Lei 8.620/1993 (...) se reveste de inconstitucionalidade material, porquanto não é dado ao legislador estabelecer confusão entre os patrimônios das pessoas física e jurídica, o que, além de impor desconsideração ex lege e objetiva da personalidade jurídica, descaracterizando as sociedades limitadas, implica irrazoabilidade e inibe a iniciativa privada, afrontando os arts. 5º, XIII, e 170, parágrafo único, da Constituição.” (RE 562.276, rel. min. Ellen Gracie, julgamento em 3-11-2010, Plenário, DJE de 10-2-2011, com repercussão geral.) (b) Inconstitucionalidade Formal: é aquela em que o vício está no processo legislativo da lei ou do ato normativo, seja na própria iniciativa ou nas demais etapas desse processo, como, por exemplo, uma lei que deveria ter sido aprovada por maioria absoluta, mas foi aprovada por maioria simples. Ainda que o conteúdo dessa lei esteja de acordo com a Constituição teremos uma inconstitucionalidade formal, ou seja, uma norma inválida. Quando o vício encontra-se no procedimento tem-se a inconstitucionalidade formal propriamente dita. PROCESSO CONSTITUCIONAL PROFESSOR LEONARDO FRANCO DE LIMA ___________________________________________________________________ 5 "Lei 781, de 2003, do Estado do Amapá, que, em seus arts. 4º, 5º e 6º, estabelece obrigações para o Poder Executivo instituir e organizar sistema de avaliação de satisfação dos usuários de serviços públicos. Inconstitucionalidade formal, em virtude de a lei ter-se originado de iniciativa da Assembleia Legislativa. Processo legislativo que deveria ter sido inaugurado por iniciativa do governador do Estado (CF, art. 61, § 1º, II, e)." (ADI 3.180, rel. min. Joaquim Barbosa, julgamento em 17-5-2007, Plenário, DJ de 15-6-2007.) Ao passo que, a inconstitucionalidade formal orgânica refere-se à inobservância da regra de competência para a edição do ato. Exemplo: Se a Assembleia Legislativa de algum Estado-membro editar lei em matéria penal ou direito civil incorrerá em inconstitucionalidade por violação de competência da União. A definição dos crimes de responsabilidade e o estabelecimento das respectivas normas de processo e julgamento são da competência legislativa privativa da União. [Súmula Vinculante 46.] A definição de regras de competência, na medida em que estabelece limites e organiza a prestação da atividade jurisdicional pelo Estado, é um dos componentes básicos do ramo processual da ciência jurídica, cuja competência legislativa foi atribuída, pela CF de 1988, privativamente à União (Art. 22, I, CF/88). (...) A fixação da competência dos juizados especiais cíveis e criminais é matéria eminentemente processual, de competência privativa da União, não se confundindo com matéria procedimental em matéria processual, essa, sim, de competência concorrente dos estados-membros. [ADI 1.807, rel. min. Dias Toffoli, j. 30-10-2014, P, DJE de 9-2-2015.] Criação, por lei estadual, de varas especializadas em delitos praticados por organizações criminosas. (...) O conceito de "crime organizado" é matéria reservada à competência legislativa da União, tema interditado à lei estadual, à luz da repartição constitucional (art. 22, I, da CRFB). À lei estadual não é lícito, a pretexto de definir a competência da vara especializada, imiscuir- se na esfera privativa da União para legislar sobre regras de prevalência entre juízos (arts. 78 e 79 do CPP), matéria de caráter processual (art. 22, I, da CRFB). [ADI 4.414, rel. min. Luiz Fux, j. 31-5-2012, P, DJE de 17-6-2013.] PROCESSO CONSTITUCIONAL PROFESSOR LEONARDO FRANCO DE LIMA ___________________________________________________________________ 6 O mais comum é encontramos o fenômeno da inconstitucionalidade formal total, mas é possível identificar a inconstitucionalidade formal parcial, como no caso de uma lei ordinária que, em apenas alguns de seus dispositivos, tenha invadido campo reservado à lei complementar. SÚMULA VINCULANTE 8 São inconstitucionais o parágrafo único do artigo 5º do Decreto- Lei nº 1.569/1977 e os artigos 45 e 46 da Lei nº 8.212/1991, que tratam de prescrição e decadência de crédito tributário. No caso da Súmula vinculante nº 8, somente lei complementar poderia tratar de decadência e prescrição de crédito tributário, mas a Lei nº 8.212/91 invadiu a competência de lei complementar. Quanto à extensão: (a) Inconstitucionalidade total: toda a norma produzida é afetada pelo vício da inconstitucionalidade, como nos casos em que a norma tenha sido produzida por órgão incompetente ou através de procedimento inadequado. Resolução administrativa do TRT 3ª Região. Natureza normativa da resolução. Atribuição do Congresso Nacional para ato normativo que aumenta vencimentos de servidor. Inconstitucionalidade da resolução configurada. Precedentes do STF. [ADI 1.614, rel. p/ o ac. min. Nelson Jobim, j. 18-12-1998, P, DJ de 6-8-1999.] = ADI 2.104, rel. min. Eros Grau, j. 21-11-2007, P, DJE de 22-2-2008. Obs.: No julgado acima a Resolução administrativa da TRT – 3ª Região foi declarada inconstitucional na íntegra, portanto, verificada a inconstitucionalidade total. (b) Inconstitucionalidade parcial: apenas parcela da norma é atingida pelo vício da inconstitucionalidade, sendo possível que o vício fique limitado à parte do artigo, inciso, parágrafo e alínea, mantendo o restante da norma incólume. PROCESSO CONSTITUCIONAL PROFESSOR LEONARDO FRANCO DE LIMA ___________________________________________________________________ 7 O reconhecimento da inconstitucionalidade da progressividade do IPTU não afasta a cobrança total do tributo, que deverá ser realizada pela forma menos gravosa prevista em lei. Trata-se, no caso, de inconstitucionalidade parcial que atinge apenas a parte incompatível com o texto constitucional e permite seu pagamento com base na alíquota mínima. No caso dos autos, a legislação anterior também traz progressividadede forma incompatível com o texto da Constituição então vigente, o que reforça a necessidade de adoção da inconstitucionalidade parcial.[RE 378.221 AgR, RE 381.843 AgR e RE 390.926 AgR, rel. min. Ricardo Lewandowski, j. 25-8-2009, 1ª T, DJE de 18-9-2009.]= RE 602.347, rel. min. Edson Fachin, j. 4-11-2015, P, DJE de 12-4-2016, com repercussão geral = RE 422.715 ED, rel. min. Joaquim Barbosa, j. 31-8-2010, 2ª T, DJE de 16-11-2010. Vide RE 390.694 AgR, rel. min. Eros Grau, j. 24-10-2006, 2ª T, DJ de 1º-12-2006 Quanto à ocasião do vício: (a) Inconstitucionalidade originária: verificada no momento da norma submetida ao controle de constitucionalidade. (b) Inconstitucionalidade superveniente: a norma é constitucional em sua origem, mas em decorrência de mutação constitucional ou de reforma constitucional passa a ser incompatível com a nova ordem. Nesse ponto vale destacar as lições de Guilherme Peña: “Malgrado a jurisprudência predominante do Supremo Tribunal Federal seja firmada no sentido contrário, a doutrina prevalecente salienta a tendência de considerar a inconstitucionalidade superveniente como efeito da incompatibilidade entre uma norma infraconstitucional e outra norma constitucional superveniente, prescrita por nova Constituição ou reforma constitucional, à luz do art. 1º, parágrafo único, inc. I, da Lei nº 9.882/99”. Quanto ao momento lógico da configuração do vício: (a) Inconstitucionalidade antecedente: refere-se à incompatibilidade de uma norma infraconstitucional (material ou formal, originária ou PROCESSO CONSTITUCIONAL PROFESSOR LEONARDO FRANCO DE LIMA ___________________________________________________________________ 8 superveniente, total ou parcial, comissiva ou omissiva) em relação à norma constitucional. (b) Inconstitucionalidade consequente: refere-se ao vício verificado em uma norma infraconstitucional a qual buscava seu fundamento de validade em outra declarada inconstitucional. Obs.: Não confundir com a inconstitucionalidade reflexa ou derivada. Nesse caso, uma lei seria declarada inconstitucional por afrontar diretamente a Constituição e, por consequência, os atos regulamentares dessa lei também padeceriam de inconstitucionalidade, já que um ato regulamentar não subsiste sem a lei. Outras espécies de inconstitucionalidades são identificadas pela doutrina: (a) Inconstitucionalidade direta: é a hipótese em que a lei ou um ato normativo violar frontalmente o texto constitucional. (b) Inconstitucionalidade reflexa ou oblíqua: trata-se da hipótese em que um ato regulamentar contraria uma lei e por isso a Constituição é atingida de modo reflexo. Na prática trata-se do fenômeno da ilegalidade, portanto, o STF tem entendido que não pode ser proposta ação direta de inconstitucionalidade para discutir a inconstitucionalidade reflexa. "Se a interpretação administrativa da lei, que vier a consubstanciar-se em decreto executivo, divergir do sentido e do conteúdo da norma legal que o ato secundário pretendeu regulamentar, quer porque tenha este se projetado ultra legem, quer porque tenha permanecido citra legem, quer, ainda, porque tenha investido contra legem, a questão caracterizara, sempre, típica crise de legalidade, e não de inconstitucionalidade, a inviabilizar, em consequência, a utilização do mecanismo processual da fiscalização normativa abstrata. O eventual extravasamento, pelo ato regulamentar, dos limites a que materialmente deve estar adstrito poderá configurar insubordinação executiva aos comandos da lei. Mesmo que, a partir desse vício jurídico, se possa vislumbrar, num PROCESSO CONSTITUCIONAL PROFESSOR LEONARDO FRANCO DE LIMA ___________________________________________________________________ 9 desdobramento ulterior, uma potencial violação da Carta Magna, ainda assim estar-se-á em face de uma situação de inconstitucionalidade reflexa ou oblíqua, cuja apreciação não se revela possível em sede jurisdicional concentrada." (ADI 996-MC, rel. min. Celso de Mello, julgamento em 11-3-1994, Plenário, DJ de 6-5-1994.) No mesmo sentido: ADI 4.176-AgR, rel. min. Cármen Lúcia, julgamento em 20-6-2012, Plenário, DJE de 1º-8-2012. (c) Inconstitucionalidade progressiva: é a hipótese em que, enquanto as normas de uma Constituição não são plenamente implementadas, é possível admitir a disciplina de uma determinada matéria pela legislação anterior sobre o mesmo assunto, ainda que, em princípio, contrária à nova Constituição. Isso ocorreria até o surgimento da nova disciplina. O STF reconheceu esse fenômeno num caso envolvendo a Defensoria Pública. Segundo essa Corte, o art. 68 do CPP (o MP tem legitimidade para propositura de ações a favor de pessoas carentes) tem sua vigência assegurada até o momento em que todos os Estados instalassem a instituição que recebeu da Constituição Federal essa incumbência (Defensoria Pública). Trata-se de lei em trânsito para a inconstitucionalidade. "Ministério Público: legitimação para promoção, no juízo cível, do ressarcimento do dano resultante de crime, pobre o titular do direito à reparação: CPP, art. 68, ainda constitucional (cf. RE 135.328): processo de inconstitucionalização das leis. A alternativa radical da jurisdição constitucional ortodoxa entre a constitucionalidade plena e a declaração de inconstitucionalidade ou revogação por inconstitucionalidade da lei com fulminante eficácia ex tunc faz abstração da evidência de que a implementação de uma nova ordem constitucional não é um fato instantâneo, mas um processo, no qual a possibilidade de realização da norma da Constituição – ainda quando teoricamente não se cuide de preceito de eficácia limitada – subordina-se muitas vezes a alterações da realidade fáctica que a viabilizem. No contexto da Constituição de 1988, a atribuição anteriormente dada ao Ministério Público pelo art. 68 CPP – constituindo modalidade de assistência judiciária – deve reputar-se transferida para a Defensoria Pública: essa, porém, para esse fim, só se pode considerar existente, onde e quando organizada, de direito e de fato, nos moldes do art. 134 da própria Constituição e da lei complementar por ela ordenada: até que – na União ou em cada Estado considerado –, se implemente essa condição de PROCESSO CONSTITUCIONAL PROFESSOR LEONARDO FRANCO DE LIMA ___________________________________________________________________ 10 viabilização da cogitada transferência constitucional de atribuições, o art. 68 do CPP será considerado ainda vigente: é o caso do Estado de São Paulo, como decidiu o Plenário no RE 135.328." (RE 147.776, rel. min. Sepúlveda Pertence, julgamento em 19-5-1998, Primeira Turma, DJ de 19-6-1998.) No mesmo sentido: RE 341.717-AgR, rel. min. Celso de Mello, julgamento em 5- 8-2003, Segunda Turma, DJE de 5-3-2010. (d) Inconstitucionalidade por arrastamento: se dá quando apenas uma parte da norma é incompatível com a Constituição, o que atrairá o resto da norma e toda sua regulamentação para a inconstitucionalidade. Em outras palavras, em muitos casos, uma norma legal sofre de inconstitucionalidade em um de seus dispositivos, mas em face desse vício os demais perdem o sentido e, portanto, também são inconstitucionais, é o que a doutrina e STF denominam de inconstitucionalidade por arrastamento. “Não cabe ao Estado, por qualquer dos seus órgãos, definir previamente o que pode ou o que não pode ser dito por indivíduos e jornalistas. Dever de omissão que inclui a própria atividade legislativa, pois é vedado à lei dispor sobre o núcleo duro das atividades jornalísticas, assim entendidasas coordenadas de tempo e de conteúdo da manifestação do pensamento, da informação e da criação lato sensu. Vale dizer: não há liberdade de imprensa pela metade ou sob as tenazes da censura prévia, pouco importando o poder estatal de que ela provenha. Isso porque a liberdade de imprensa não é uma bolha normativa ou uma fórmula prescritiva oca. Tem conteúdo, e esse conteúdo é formado pelo rol de liberdades que se lê a partir da cabeça do art. 220 da CF: liberdade de ‘manifestação do pensamento’, liberdade de ‘criação’, liberdade de ‘expressão’, liberdade de ‘informação’. Liberdades constitutivas de verdadeiros bens de personalidade, porquanto correspondentes aos seguintes direitos que o art. 5º da nossa Constituição intitula de ‘Fundamentais’: ‘livre manifestação do pensamento’ (inciso IV); ‘livre (...) expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação’ (inciso IX); ‘acesso a informação’ (inciso XIV). (...) Programas humorísticos, charges e modo caricatural de pôr em circulação ideias, opiniões, frases e quadros espirituosos compõem as atividades de ‘imprensa’, sinônimo perfeito de ‘informação jornalística’ (§ 1º do art. 220). Nessa medida, gozam da plenitude de liberdade que é assegurada pela Constituição à imprensa. (...) A liberdade de imprensa assim abrangentemente livre não é de sofrer constrições em período eleitoral. Ela é plena em todo o tempo, lugar e circunstâncias. (...) Suspensão de eficácia do inciso II do art. 45 PROCESSO CONSTITUCIONAL PROFESSOR LEONARDO FRANCO DE LIMA ___________________________________________________________________ 11 da Lei 9.504/1997 e, por arrastamento, dos § 4º e § 5º do mesmo artigo, incluídos pela Lei 12.034/2009. Os dispositivos legais não se voltam, propriamente, para aquilo que o TSE vê como imperativo de imparcialidade das emissoras de rádio e televisão. Visa a coibir um estilo peculiar de fazer imprensa: aquele que se utiliza da trucagem, da montagem ou de outros recursos de áudio e vídeo como técnicas de expressão da crítica jornalística, em especial os programas humorísticos. Suspensão de eficácia da expressão ‘ou difundir opinião favorável ou contrária a candidato, partido, coligação, a seus órgãos ou representantes’, contida no inciso III do art. 45 da Lei 9.504/1997. Apenas se estará diante de uma conduta vedada quando a crítica ou a matéria jornalísticas venham a descambar para a propaganda política, passando nitidamente a favorecer uma das partes na disputa eleitoral. Hipótese a ser avaliada em cada caso concreto.” (ADI 4.451-MC- REF, rel. min. Ayres Britto, julgamento em 2-9-2010, Plenário, DJE de 24-8-2012.) Vide: ADPF 130, rel. min. Ayres Britto, julgamento em 30-4-2009, Plenário, DJE de 6-11-2009. Finalmente, importante destacar que antes de declarar a inconstitucionalidade de uma norma o STF tenta preservar a sua constitucionalidade, verificando se determinada lei admite mais de uma interpretação. Se for possível encontrar uma interpretação que for compatível com o ordenamento constitucional, o STF promove um julgamento para reconhecer que determinada lei somente será válida/constitucional com aquela determinada interpretação. É o que se denomina de interpretação conforme a Constituição. "Estatuto da Ordem dos Advogados do Brasil – OAB. (...) O art. 21 e seu parágrafo único da Lei 8.906/1994 devem ser interpretados no sentido da preservação da liberdade contratual quanto à destinação dos honorários de sucumbência fixados judicialmente. Pela interpretação conforme conferida ao art. 21 e seu parágrafo único, declara-se inconstitucional o § 3º do art. 24 da Lei 8.906/1994, segundo o qual ‘é nula qualquer disposição, cláusula, regulamento ou convenção individual ou coletiva que retire do advogado o direito ao recebimento dos honorários de sucumbência’." (ADI 1.194, rel. p/ o ac. min. Cármen Lúcia, julgamento em 20-5-2009, Plenário, DJE de 11-9-2009.) "Ação direta de inconstitucionalidade. Juizados especiais federais. Lei 10.259/2001, art. 10. Dispensabilidade de advogado nas causas cíveis. Imprescindibilidade da presença de advogado nas causas criminais. Aplicação subsidiária da Lei 9.099/1995. PROCESSO CONSTITUCIONAL PROFESSOR LEONARDO FRANCO DE LIMA ___________________________________________________________________ 12 Interpretação conforme a Constituição. (...) Interpretação conforme, para excluir do âmbito de incidência do art. 10 da Lei 10.259/2001 os feitos de competência dos juizados especiais criminais da Justiça Federal." (ADI 3.168, rel. min. Joaquim Barbosa, julgamento em 8-6-2006, Plenário, DJ de 3-8-2007.) No mesmo sentido: AI 461.490-ED, rel. min. Ellen Gracie, julgamento em 23-6-2009, Segunda Turma, DJE de 7-8-2009. Esse método só pode ser aplicado se a interpretação não afrontar a finalidade da lei que é traçada pelo legislador e não pode ser alterada por meio de interpretação. Em face dos diversos tipos possíveis de se violar o texto constitucional é que existe a figura do Controle de Constitucionalidade, pressupondo o poder de banir do mundo jurídico tudo aquilo que contrariar a Constituição. 3. Sistemas de Controle de Constitucionalidade Refere-se aos órgãos estatais competentes (encarregados) para se realizar o controle de constitucionalidade. Isso depende do sistema adotado por cada país, existindo várias classificações doutrinárias, uma delas é aquela em que divide o controle de constitucionalidade em Judicial, Político e Misto: (a) Controle de Constitucionalidade Judicial: é aquele exercido pelo Poder Judiciário. A origem deste controle se deu nos EUA (século XIX), no momento em que sua Suprema Corte apreciou o famoso caso Marbury x Madison – 1803 - (reconheceu o poder do Judiciário em declarar a inconstitucionalidade dos atos dos demais poderes). Esse julgamento influenciou diversos países, dentre os quais, o Brasil, que adotou o sistema de controle judicial de constitucionalidade com o advento da República (1889). (b) Controle de Constitucionalidade Político: é aquele que se manifesta a partir da I Guerra Mundial em razão do surgimento das diversas Constituições em que o controle de constitucionalidade é exercido por órgão PROCESSO CONSTITUCIONAL PROFESSOR LEONARDO FRANCO DE LIMA ___________________________________________________________________ 13 que não integra o Poder Judiciário. Esse modelo de controle político foi concebido por Kelsen e adotado na Constituição da Áustria de 1920; Tchecoslováquia, 1920; Espanha Republicana, 1931; Turquia, 1961; Guatemala, 1965; Chile, 1925. Nesse sistema, é defeso ao Poder Judiciário apreciar a validade da lei infraconstitucional regularmente publicada. Se, num caso concreto, o tribunal deduzir alguma objeção em relação a alguma lei e/ou regulamento deverá suspender o julgamento do feito e requerer a cassação da lei supostamente inválida pela Alta Corte Constitucional, a qual não pertence ao Judiciário, ou seja, uma Corte Constitucional encarregada de exercer essa tarefa, tanto através de um controle abstrato ou concreto, com efeito erga omnes. (c) Controle de Constitucionalidade Misto: nesse sistema o controle de determinadas normas constitucionais cabe ao Judiciário, enquanto que o controle de outras compete a Tribunal Constitucional não integrante do Judiciário. A Suíça adota esse sistema. 4. Momentos do Controle de Constitucionalidade Controle de Constitucionalidade pode se dar de forma preventiva (a priori ou priorístico) e de forma repressiva (a posteriori, posterior ou sucessivo), (a) Controle de Constitucionalidade Preventivo: é exercidodurante o processo legislativo, com o objetivo de evitar o surgimento de norma inconstitucional. No Brasil esse controle pode ser exercido pelo Legislativo (ao apreciar os projetos de lei, emendas, etc. deve examinar a sua constitucionalidade ou não), como, por exemplo, os exames feitos pelas Comissões de Constituição e Justiça. O controle preventivo ainda pode ser realizado pelo Executivo (art. 66, da CF/88) através do veto, com fundamento na inconstitucionalidade do projeto, é o veto por razão de ordem jurídica. O Judiciário também poderá exercer o controle preventivo sempre que durante o processo de apreciação dos projetos for praticado ato que contrarie PROCESSO CONSTITUCIONAL PROFESSOR LEONARDO FRANCO DE LIMA ___________________________________________________________________ 14 diretamente norma constitucional sobre processo legislativo. Neste caso, qualquer parlamentar tem o direito público subjetivo de propor ação judicial perante o STF a fim de provocar o controle de constitucionalidade preventiva. Na prática tem-se utilizado da impetração de mandado de segurança. Se a questão tratar apenas de divergência de interpretação dos regimentos legislativos não será exercido o controle judicial, por se tratar de questão interna corporis. Portanto, o controle de constitucionalidade preventivo pode ser realizado pelos três poderes. (b) Controle de Constitucionalidade Repressivo: é exercido após o término do processo legislativo. A finalidade não é mais evitar, mas reprimi- la. No Brasil, o Congresso Nacional poderá exercer esse controle (art. 49, V, da CF) que contempla duas hipóteses: (i) sustar os atos do Executivo que extrapolem seu poder regulamentar; (ii) sustar os atos do Executivo que extrapolem os limites da delegação legislativa, isto é, para sustar um lei delegada. A CF/88 admite ainda, em seu art. 62, outra hipótese de controle repressivo pelo Congresso Nacional, quando este órgão poderá rejeitar medida provisória em razão de inconstitucionalidade. No mais, cabe ao Poder Judiciário o controle repressivo de constitucionalidade. Em algumas situações apenas o STF pode exercer o controle de constitucionalidade, é o denominado controle concentrado, que no Brasil será sempre abstrato, também conhecido como direto, principal, objetivo ou fechado. Em outras situações, o controle de constitucionalidade não é exclusividade do STF, podendo ser exercido pelo STF, como por qualquer juiz ou Tribunal, é o chamado controle difuso, no qual há uma discussão concreta acerca da inconstitucionalidade, também chamado de controle concreto, incidental, aberto, indireto ou subjetivo. PROCESSO CONSTITUCIONAL PROFESSOR LEONARDO FRANCO DE LIMA ___________________________________________________________________ 15 Portanto, o Brasil conjuga o controle de constitucionalidade concentrado e o difuso. 5. Efeitos das Decisões Judiciais Os efeitos das decisões de inconstitucionalidade proferidas no bojo do controle difuso atingem apenas as partes litigantes (inter partes), ressalvada a hipótese de o Senado Federal, através da promulgação de Resolução (art. 52, X, da CF/88), suspender os efeitos da norma declarada inválida, quando os efeitos da decisão são ampliados para erga omnes. “Embora a Lei n. 9.868, de 10 de novembro de 1999, tenha autorizado o Supremo Tribunal Federal a declarar a inconstitucionalidade com efeitos limitados, é lícito indagar sobre a admissibilidade do uso dessa técnica de decisão no âmbito do controle difuso. Ressalte-se que não se está a discutir a constitucionalidade do art. 27 da Lei n. 9.868, de 1999. Cuida-se aqui, tão-somente, de examinar a possibilidade de aplicação da orientação nele contida no controle incidental de constitucionalidade. (…) assinale-se que, antes do advento da Lei n. 9.868, de 1999, talvez fosse o STF, muito provavelmente, o único órgão importante de jurisdição constitucional a não fazer uso, de modo expresso, da limitação de efeitos na declaração de inconstitucionalidade. (…) No que interessa para a discussão da questão em apreço, ressalte-se que o modelo difuso não se mostra incompatível com a doutrina da limitação dos efeitos." (AC 189- MC-QO, voto do Min. Gilmar Mendes, julgamento em 9-6-04, DJ de 27-8-04). Conforme o disposto no art. 102, § 2º, da CF/88, “as decisões definitivas de mérito, proferidas pelo Supremo Tribunal Federal, nas ações diretas de inconstitucionalidade e nas ações declaratórias de constitucionalidade produzirão eficácia contra todos e efeito vinculante, relativamente aos demais órgãos do Poder Judiciário e à administração pública direta e indireta, nas esferas federal, estadual e municipal.” Nesse mesmo sentido é o que dispõe o art. 10, § 3º, da Lei nº 9.822/99, quando disciplina os efeitos da decisão proferida na arguição de descumprimento de PROCESSO CONSTITUCIONAL PROFESSOR LEONARDO FRANCO DE LIMA ___________________________________________________________________ 16 preceito fundamental. Por conseguinte, as decisões tomadas no âmbito do controle concentrado de constitucionalidade têm efeito erga omnes. Ressalta-se que essas decisões devem ser tomadas pela maioria absoluta do Plenário ou do Órgão Especial do Tribunal (art. 97 c/c art. 93, IX, da CF/88), é a chamada Reserva de Plenário. 6. Modulação dos Efeitos Temporais O STF só poderá declarar a inconstitucionalidade da norma questionada pelo voto da maioria absoluta de seus membros, portanto, 6 votos (o STF é composto por 11 Ministros). Essa regra decorre do art. 97 da CF/88 e por previsão na Lei nº 9.868/99. A decisão do STF que declara a inconstitucionalidade de uma norma no controle concentrado, em regra, tem eficácia erga omnes, atingindo toda a sociedade, já que inválida a norma declarada inconstitucional. Em regra, o alcance no tempo dessa decisão é ex tunc (efeito retroativo), ou seja, é declarada a nulidade da lei desde a sua origem, mas se o STF entender que por razões de segurança jurídica ou em face de excepcional interesse social há a necessidade de modulação dos efeitos (mitigação dos efeitos) da decisão, poderá adotar efeito diverso, restringindo o alcance de sua decisão e atribuir efeitos ex nunc (não retroativo) - é a anulação da norma -, ou ainda estabelecer qualquer outro momento para eficácia de sua decisão, como, por exemplo, efeito pro futuro. Para modulação dos efeitos deverá ser observado o quorum de 2/3 de seus membros (8 Ministros), já que é exceção. O STF também tem reconhecido que a decisão que declara a inconstitucionalidade de uma norma no controle difuso que, em regra, tem efeito inter partes e retroativo (ex tunc), excepcionalmente, por razões de segurança jurídica ou em situações excepcionais de relevância social, poderá ser aplicada efeito diverso, ou seja, é o reconhecimento da possibilidade da modulação dos efeitos da decisão no controle difuso, algo que, expressamente, em texto normativo, só consta na Lei nº 9.868/99, que PROCESSO CONSTITUCIONAL PROFESSOR LEONARDO FRANCO DE LIMA ___________________________________________________________________ 17 disciplina o controle concentrado (ação de direta de inconstitucionalidade e a ação declaratória de constitucionalidade), mas o STF reconheceu a possibilidade de aplicação de efeito não retroativo (ex nunc) no controle difuso. “Modulação dos efeitos da decisão que declarou a inconstitucionalidade da cobrança da taxa de matrícula nas universidades públicas a partir da edição da Súmula Vinculante 12, ressalvado o direito daqueles que já haviam ajuizado açõescom o mesmo objeto jurídico.” (RE 500.171-ED, rel. min. Ricardo Lewandowski, julgamento em 16-3-2011, Primeira Turma, DJE de 3-6-2011, com repercussão geral.) "A proposição nuclear, em sede de fiscalização de constitucionalidade, é a da nulidade das leis e demais atos do poder público, eventualmente contrários à normatividade constitucional. Todavia, situações há que demandam uma decisão judicial excepcional ou de efeitos limitados ou restritos, porque somente assim é que se preservam princípios constitucionais outros, também revestidos de superlativa importância sistêmica. Quando, no julgamento de mérito dessa ou daquela controvérsia, o STF deixa de se pronunciar acerca da eficácia temporal do julgado, é de se presumir que o Tribunal deu pela ausência de razões de segurança jurídica ou de interesse social. Presunção, porém, que apenas se torna absoluta com o trânsito em julgado da ação direta. O STF, ao tomar conhecimento, em sede de embargos de declaração (antes, portanto, do trânsito em julgado de sua decisão), de razões de segurança jurídica ou de excepcional interesse social que justifiquem a modulação de efeitos da declaração de inconstitucionalidade, não deve considerar a mera presunção (ainda relativa) obstáculo intransponível para a preservação da própria unidade material da Constituição. Os embargos de declaração constituem a última fronteira processual apta a impedir que a decisão de inconstitucionalidade com efeito retroativo rasgue nos horizontes do direito panoramas caóticos, do ângulo dos fatos e relações sociais. Panoramas em que a não salvaguarda do protovalor da segurança jurídica implica ofensa à Constituição ainda maior do que aquela declarada na ação direta." (ADI 2.797-ED, rel. p/ o ac. min. Ayres Britto, julgamento em 16-5- 2012, Plenário, DJE de 28-2-2013.) PROCESSO CONSTITUCIONAL PROFESSOR LEONARDO FRANCO DE LIMA ___________________________________________________________________ 18 7. Súmula Vinculante Para conter a multiplicação de processos sobre questão idêntica, a previsão constitucional (art. 52, X, CF/88) de edição de Resolução pelo Senado para suspender a eficácia de norma declarada inconstitucional em controle difuso de constitucionalidade mostrou-se insuficiente, portanto, a EC nº 45 criou a Súmula Vinculante (art. 103-A, da CF/88). Isto significa que, depois de reiteradas decisões sobre matéria constitucional, o STF poderá, através do voto de 2/3 de seus membros, atribuir efeito vinculante a determinada súmula, o que obrigará todos os demais órgãos do Judiciário e da Administração Pública em todas as esferas. A iniciativa da Súmula Vinculante pode partir do STF ou daqueles que têm legitimidade para propor ação direta de inconstitucionalidade (art. 103, I a IX, da CF/88), mas a lei também poderá atribuir a outros legitimados para tanto. Esses legitimados também poderão pedir a revisão e o cancelamento das súmulas vinculantes. Seguem algumas súmulas vinculantes a título exemplificativo: SÚMULA VINCULANTE 11 Só é lícito o uso de algemas em casos de resistência e de fundado receio de fuga ou de perigo à integridade física própria ou alheia, por parte do preso ou de terceiros, justificada a excepcionalidade por escrito, sob pena de responsabilidade disciplinar, civil e penal do agente ou da autoridade e de nulidade da prisão ou do ato processual a que se refere, sem prejuízo da responsabilidade civil do Estado. SÚMULA VINCULANTE 12 A cobrança de taxa de matrícula nas universidades públicas viola o disposto no art. 206, IV, da Constituição Federal. SÚMULA VINCULANTE 14 É direito do defensor, no interesse do representado, ter acesso amplo aos elementos de prova que, já documentados em procedimento investigatório realizado por órgão com competência de polícia judiciária, digam respeito ao exercício do direito de defesa. O descumprimento da súmula vinculante possibilita aos interessados a apresentação da Reclamação Constitucional junto ao STF que, ao julgar a PROCESSO CONSTITUCIONAL PROFESSOR LEONARDO FRANCO DE LIMA ___________________________________________________________________ 19 reclamação anulará o ato da Administração ou cassará a decisão judicial que violou a súmula vinculante. A natureza jurídica da reclamação não é a de um recurso, de uma ação e nem de um incidente processual. Situa-se ela no âmbito do direito constitucional de petição previsto no art. 5º, XXXIV, da CF. [ADI 2.212, rel. min. Ellen Gracie, j. 2-10-2003, P, DJ de 14- 11-2003.] Questionário: (1) Fazer a distinção entre a inconstitucionalidade material e a inconstitucionalidade formal. (2) A Lei nº 781/2003 do Estado do Amapá estabelece obrigações para o Poder Executivo instituir e organizar sistema de avaliação de satisfação dos usuários de serviços públicos. Ocorre que essa norma é produto de projeto de lei de iniciativa da Assembleia Legislativa daquele Estado. Inconformado, o Governador do Amapá ingressou com ação direta de inconstitucionalidade apontando afronta ao art. 61, § 1º, II, e, da CF/88, haja vista que a ele competia a iniciativa de lei sobre essa matéria. No caso, houve alguma inconstitucionalidade? Em caso afirmativo, qual a espécie dessa inconstitucionalidade? (3) Explique o que se entende por inconstitucionalidade reflexa ou oblíqua? É cabível o ajuizamento de ação direta de inconstitucionalidade contra norma que viole a Constituição da República de forma reflexa/oblíqua? (4) Distinguir os sistemas de controle de constitucionalidade Judicial, Político e Misto. (5) Quando se dá o controle preventivo de constitucionalidade previsto no ordenamento jurídico brasileiro? Quais os órgãos que podem exercer esse controle? Explique. PROCESSO CONSTITUCIONAL PROFESSOR LEONARDO FRANCO DE LIMA ___________________________________________________________________ 20 (6) De que forma pode se manifestar o controle repressivo de constitucionalidade no Brasil? Quais os órgãos que podem exercer esse controle? Explique. (7) Quais os efeitos das decisões judiciais proferidas em sede de controle de constitucionalidade difuso? Existe a possibilidade de estender os efeitos da decisão proferida no controle difuso de constitucionalidade para terceiros? Em caso afirmativo, qual a hipótese? (8) Em regra, quais os efeitos das decisões judiciais proferidas em sede de controle concentrado de constitucionalidade? Existe a possibilidade da modulação dos efeitos temporais dessa decisão? Em caso afirmativo, em quais situações? Explique. (9) De acordo com a jurisprudência, existe a possibilidade de modulação dos efeitos temporais das decisões proferidas em sede de controle difuso de constitucionalidade? Explique. (10) O que consiste a “cláusula de reserva de plenário” prevista no artigo 97 da Constituição da República? (11) Quais os requisitos para que o Supremo Tribunal Federal edite uma súmula vinculante? Qual o seu efeito? Qual o instrumento processual apto a coibir eventual violação ao enunciado da súmula vinculante?
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